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Biossegurança, transgênicos e risco ambiental: os desafios da nova Lei de


Biossegurança

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Rubens Nodari
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Biossegurança, transgênicos e risco ambiental: os desafios da nova Lei de Biossegurança1

Rubens Onofre Nodari


Professor Titular da Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Agrárias, C.P.
476, Florianópolis, SC, 88040-900, nodari@cca.ufsc,br

Introdução

Após a obtenção e o domínio de metodologias de recombinação entre moléculas de DNA de


diferentes espécies em laboratório (Cohen et al., 1973), estava aberta a possibilidade para a
reprogramação da vida de todos os seres vivos, já que o homem consegue manipular ou alterar o
código genético da vida. Imediatamente duas grandes preocupações surgiram na comunidade
cientifica: de um lado as possíveis aplicações da tecnologia do DNA recombinante e, de outro
lado, os riscos biológicos (biorriscos) associados à manipulação ou aos produtos.
A perplexidade também atingiu a sociedade, pois com a nova tecnologia já se tornava
possível não só transferir genes entre indivíduos da mesma espécie sem a utilização de métodos
naturais de reprodução (ex: acasalamento) como também transferir genes de uma espécie para
outra. Esta metodologia de transferência de genes por técnicas de laboratório ficou conhecida
pelo nome de transformação genética ou transgenia. Ocorre que a expressão trans significa além
de e cria nas pessoas a sensação de algo desconhecido.
Embora, alguns autores admitem que estas novas competências se constituem na segunda
grande conquista tecnológica da espécie humana, depois do domínio do fogo, elas representam
sem dúvida, o domínio de uma competência sem precedente na história da humanidade (Nodari e
Guerra, 2003). Conforme menciona Jeremy Rifkin (1999), o homem transformou parte do mundo
inanimado da natureza em mundo de pura utilidade e o fogo permitiu ao homem ampliar sua base
alimentar, a confecção de ferramentas e utensílios, sistemas de defesa e foi a base para o
desenvolvimento industrial, cujo ápice estamos vivendo.
Com as primeiras aplicações comerciais da nova tecnologia (ex: produção de insulina com
genes humanos em bactérias), era necessário desvincular os produtos da moderna biotecnologia

1
In: Jose Rubens Morato Leite e Paulo Roney Avila Fagundez. (Org.). Biossegurança e novas tecnologias na sociedade de risco: aspectos juridicos, tecnicos e sociais. São Jose, SC:
Conceito Editorial, 2007, v. I, p. 17-44.
das expressões transgenia e biorrisco (biohazard) para assegurar a aceitação destes produtos pela
sociedade. Assim, governos, cientistas e o setor industrial produziram novas expressões:
organismos geneticamente modificados – OGM e biossegurança para substituir transgênicos e
biorrisco, respectivamente. A expressão biossegurança tem sido então utilizada nos últimos 20
anos em substituição a biorrisco, para dar a (falsa) idéia de que o produto é biosseguro. Contudo,
a expressão transgênico se popularizou e é utilizado como sinônimo de OGM.

O desenvolvimento do arcabouço legal no Brasil

A grande perplexidade inicial com os possíveis biorriscos associados aos transgênicos e a


falta de experiência e conhecimento sobre os seus efeitos provocou a elaboração de normas que
regulamentam as atividades de pesquisa, manipulação e comercialização desses produtos.
Surgidas como uma forma de proteger a sociedade, as normas também servem para proteger os
detentores das tecnologias, pois uma vez aprovados, contam com a chancela de um órgão
legalmente constituído pata tal.
Quando as aplicações comerciais das modernas biotecnologias tornaram-se mais
conspícuas, ocorreu uma outra revolução, agora nas formas de apropriação e uso dos recursos
genéticos e dos conhecimentos associados. Assim, novas leis de Propriedade Intelectual foram
implementadas em muitos países nos anos 90 como a Lei de Propriedade Industrial e a Lei de
Proteção de Cultivares.
No Brasil, a Lei nº 8974, de 05 de janeiro de 2005, chamada de Lei da Biossegurança (de
OGM) foi considerada apropriada e elogiada por praticamente todos os setores da sociedade.
Mas, a Lei também inicia uma fase bastante turbulenta para os transgênicos no país, marcada por
inúmeros e inesperados fatos. Quando sancionada, os artigos que criavam a Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança - CTNBio e definiam a autorização para liberação comercial do OGM
foram vetados, deixando enormes vácuos jurídicos. A regulamentação (Decreto nº 1.752, de
dezembro de 1995) ao incluir parte dos dispositivos vetados não resolveu o problema, pois a
criação da CTNBio não poderia ter sido feita por decreto. Assim, em 2000, uma Medida
Provisória (nº 2.191) teve que ser editada para sanar parcialmente os vetos de 1995.
A segunda grande turbulência foi criada em 1998 quando a CTNBio aprovou a liberação
comercial da soja RR (resistente ao herbicida Roundup, a base de glifosato) sem a realização de
um único estudo de impacto ambiental no país. A decisão passou por cima de todas as normas
ambientais e da expectativa da sociedade brasileira que depositou confiança naquela comissão. A
judicialização da decisão da CTNBio polarizou o país em dois blocos e encontra-se ainda em
tramitação.
Outra decisão judicial obrigou os órgãos de registro e fiscalização a normatizar e exigir o
Registro Especial Temporário (RET) para OGM que produziam agrotóxicos ou substâncias afins
a agrotóxicos. São os transgênicos obtidos com a introdução de genes que produzem toxinas (ex:
milho com genes da bactéria Bacillus thuringiensis, daí o nome Bt), que são como agrotóxicos,
pois são mortais a certas pragas. O fato acabou por inviabilizar os experimentos com esses OGM
durante três anos.
Por sua vez o contrabando e o plantio ilegal de soja RR no Rio Grande do Sul contribuiu
para a edição de três medidas provisórias, depois convertidas em lei, que especificamente
trataram de legalizar o plantio, a colheita e a comercialização de uma única variedade de soja
transgênica de propriedade da Monsanto.
No apagar das luzes sob a égide da Lei nº 8.974, a CTNBio toma uma decisão que autoriza
a importação de milho Bt para ração animal que posteriormente é reformada pelo Conselho
Nacional de Biossegurança em dois dispositivos: uma variedade transgênica teria sido autorizada
sem nenhuma análise de risco e o presidente da CTNBio transformou a autorização dada para a
importação de 400 mil toneladas em autorização definitiva para a importação de milho Bt ad
eternum ao dispensar novos pedidos formais à CTNBio para fins de importação (Comunicado da
CTNBio nº 530/2005, DOU 04 de abril de 2005).
Um Projeto de Lei, enviado ao Congresso Nacional pelo Poder Executivo em outubro de
2003 reformulando significativamente a Lei de Biossegurança, acabou sendo aprovado em 02 de
março e sancionado em 24 de março de 2005. Na fase final houve uma intensa participação da
comunidade cientifica pela aprovação da versão vitoriosa.

Os desafios da nova Lei de Biossegurança

Ao completar 10 anos a Lei nº 8974 foi substituída pela Lei nº 11.105, de 24 de março de
2005. A nova Lei de Biossegurança estabelece normas de segurança e mecanismos de
fiscalização de atividades com OGMs e derivados e tem como diretrizes a proteção à vida,
proteção à saúde humana, animal e vegetal e do meio ambiente, bem como a observância do
Princípio da Precaução. Mas a nova lei trouxe inúmeras novidades, muitas das quais se
transformam imediatamente em desafios.

Desafio 1 – Funcionamento do CNBS


Uma dentre as diversas novidades é a criação de nova instância deliberativa além da
CTNBio. Trata-se do Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, formado por 11 ministros,
uma espécie de instância recursal, a quem caberá: a responsabilidade pela Política Nacional de
Biossegurança; o estabelecimento de princípios e diretrizes e decidir em última instância. O
CNBS tem ainda a prerrogativa de decidir sobre a conveniência e oportunidade de um OGM ou
seus derivados.

Órgão Ministérios
CNBS MMA, MS, MAPA, SEAP, MDA, MD, MCT. MDIC, MRE, MJ, Casa
Civil
CTNBio MMA, MS, MAPA, SEAP, MDA, MD, MCT. MDIC, MRE
Órgãos de Registro e MMA, MS, MAPA, SEAP
Fiscalização

Desafio 2 – A CTNBio como órgão do Sisnama


Mudanças expressivas foram introduzidas nesta nova CTNBio em termos de composição e
em termos de competências. À CTNBio caberá, entre outros, estabelecer normas; emitir decisões
técnicas; analisar a avaliação de risco; autorizar a realização de pesquisas e decidir sobre a
necessidade de licenciamento ambiental. Portanto, dentre as novas competências duas são
relevantes: autorizar a realização de pesquisas e decidir se uma atividade ou projeto que envolva
OGM ou derivados é potencialmente causador de degradação do meio ambiente ou que possa
causar riscos à saúde humana.
Em relação ao meio ambiente, existe todo um arcabouço legal, estruturado no Sistema
Nacional de Meio Ambiente - Sisnama, cujos órgãos é quem deliberavam sobre licenças
ambientais. Agora a CTNBio também está revestida desta prerrogativa. Contudo, será que a
comissão tem estrutura e está preparada para esta nova atividade?
Desafio 3 – Harmonia entre as representações na CTNBio
São 27 membros que compõe a comissão, sendo 12 especialistas de notório saber científico
e técnico, em efetivo exercício profissional, escolhidos a partir de lista tríplice, elaborada com a
participação das sociedades científicas; nove representantes de ministérios, indicados pelos seus
titulares e seis especialistas em defesa do consumidor, saúde, meio ambiente, biotecnologia,
agricultura familiar e saúde do trabalhador, indicado pelos respectivos Ministros a partir de listas
tríplices elaboradas por organizações da sociedade civil.
Esta composição reflete a possibilidade de uma parceria efetiva entre comunidade
científica, governo e sociedade civil. Contudo, para que a parceria funcione em harmonia, há a
necessidade de que o ambiente de trabalho seja de fato pró-ativo, cooperativo, coletivo e não
discriminatório. Mas como construir este ambiente ideal a partir neste tema complexo, polêmico
e com muitos interesses?

Desafio 4 – Observância ao Princípio da Precaução


A referência ao Principio da Precaução no primeiro artigo da nova lei é considerado um
avanço em termos legais, já que na prática, as normas ambientais, embora as vezes são
explicitem, já incorporaram tal principio. Agora, a Lei de Biossegurança está afinada com a
Declaração do Rio, de 1992, com Convenção sobre Diversidade Biológica - CDB, que referencia
o Principio da Precaução no preâmbulo e também com o Protocolo de Cartagena sobre
Biossegurança, que estabelece o referido principio em artigos operativos.
Como Princípio 15 da Declaração do Rio, o Principio da Precaução está assim estabelecido:
“Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente
observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos
graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão
para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.”
No preâmbulo da CDB, o Principio da Precaução assim é mencionado: Observando também
que quando exista ameaça de sensível redução ou perda de diversidade biológica, a falta de plena
certeza científica não deve ser usada como razão para postergar medidas para evitar ou minimizar
essa ameaça.
Já nos artigos 10 e 11 do Protocolo de Cartagena, o Principio da Precaução está
estabelecido como: “A ausência de certeza científica devida à insuficiência das informações e dos
conhecimentos científicos relevantes sobre a dimensão dos efeitos adversos potenciais de um
organismo vivo modificado na conservação e no uso sustentável da diversidade biológica na
Parte importadora, levando também em conta os riscos para a saúde humana, não impedirá esta
Parte, a fim de evitar ou minimizar esses efeitos adversos potenciais, de tomar uma decisão,
conforme o caso, sobre a importação do organismo vivo modificado em questão”. Ou seja, um
país pode utilizar o Principio da Precaução para tomar a decisão de não importar OGM, diante de
incertezas científicas sobre os possíveis efeitos adversos ao meio ambiente e a saúde humana.
O desafio maior agora é praticar a ciência precaucionária que deve levar em conta não só as
incertezas como também as alternativas para resolver um dado problema. Resumidamente, são
quatro os componentes do Principio da Precaução (Barrett e Raffensperger, 1999):
• A ação preventiva deve ser tomada antes da prova científica da relação causa/efeito.
• O ônus da prova da biossegurança cabe ao proponente da atividade ou empreendimento.
• Na presença de evidência de dano causado pela atividade, um número razoável de
alternativas deve ser considerado.
• Para que a tomada de decisão seja precaucionária, ela deve ser aberta, transparente,
democrática e ter envolvido a participação das partes afetadas.
A ciência praticada hoje, denominada de “sound science” é baseada no que se pode
quantificar sem considerar o que não se conhece ou o que não se pode medir. Na ciência
precaucionária, haverá a necessidade de comparação entre diferentes alternativas. A diferença
fundamental entre análise de risco baseado em “sound science” e o princípio da precaução não é
que um usa ciência e o outro não, mas simplesmente a maneira pela qual a evidência cientifica é
empregada para a tomada de decisão.

Perguntas feitas hoje Perguntas sob a Ciência precaucionária


Quão seguro é seguro? Quanta contaminação pode ser evitada
Qual o nível de risco aceitável? enquanto se mantém certos valores?
Quanto de contaminação pode o homem ou o Quais são as alternativas para a atividade?
ecossistema assimilar sem mostrar efeito Qual a necessidade e a pertinência da
adverso óbvio? atividade?
Fonte: Raffensperger e Tickner, 1999.

Assim, implementar uma nova lei que determina a observância ao Principio da Precaução se
constitui no maior desafio a ser vencido. Até então, utilizava-se o principio da familiaridade, que
recomenda a tomada de decisão até que os problemas apareçam.
Desafio 5 – Observância estrita dos conceitos ético-profissionais
Esta é também outra novidade da nova Lei de Biossegurança: os membros da CTNBio
devem pautar a sua atuação pela observância estrita dos conceitos ético-profissionais, sendo
vedado participar do julgamento de questões com as quais tenham algum envolvimento de ordem
profissional ou pessoal, sob pena de perda de mandato. Dispositivos neste sentido estão tanto na
Lei quanto no Decreto nº 5.591, de 22 de novembro de 2005, que regulamenta a Lei, como
também no Regimento Interno da CTNBio. O referido Decreto determina ainda que o membro da
CTNBio, ao ser empossado, assinará declaração de conduta, explicitando eventual conflito de
interesse, na forma do regimento interno.
Está posto, finalmente, a questão do conflito de interesses. É verdade que o problema
começa a ser enfrentado. Contudo, há muitas definições a serem tomadas, sendo a mais
importante delas, o que se entende por conflito de interesse de um membro da CTNBio em
relação à sua atuação naquela comissão.
O dispositivo legal a ser cumprido não foi muito bem recebido por vários membros da
CTNBio e passados seis meses desde a posse dos membros a matéria não foi discutida o
suficiente para o estabelecimento de um formulário especifico e procedimentos para verificação
da obrigatoriedade da observância estrita da determinação legal. A assinatura dos referidos
termos só foi feita depois do pedido do Ministério Público Federal.
Revistas científicas e os interesses das industrias
Houve a necessidade da inclusão deste dispositivo nas normas em razão do crescente
ocorrência desses conflitos em diferentes comitês, nas consultorias, na condução de pesquisas, na
publicação de artigos e na tomada de decisões. Segundo Glaci Zancan, “antigamente, era a busca
pelo conhecimento que motivava as mentes. Hoje, busca-se ainda a utilidade dos resultados e
com isso a pesquisa deixou de ser neutra para ser vinculada aos interesses dos financiadores. O
exemplo claro dessa nova visão está na área biológica, financiada por grandes corporações, seja
na obtenção de novos fármacos, seja no desenvolvimento de variedades vegetais transgênicas ou
no emprego de células-tronco na terapia celular” (Zancan, 2005). No caso de fármacos, um caso
ilustrativo é a conclusão a que chegou o Dr. Robert Smith, que foi durante 25 anos editor da
Revista British Medical Journal: por estratégias discretas, as empresas fazem seus remédios
parecerem muito melhores do que realmente são e atrelam as revistas a seus interesses,
comprando milhões em artigos reimpressos e distribuindo para médicos em todo o mundo
(Smith, 2005). Ele sugeriu o cancelamento de toda e qualquer publicação de testes clínicos de
medicamentos nos periódicos científicos.
A freqüência de ocorrência de conflitos de interesse se tornou tão evidente (estimada em um
terço nos colaboradores das agências norte americanas) que o governo está estudando formas de
enfrentar a situação.
Segundo Norman Ellstrand (2003) “os cientistas são pesquisadores, professores e cidadãos.
Como pesquisadores eles têm a responsabilidade pela ciência que sai dos seus laboratórios. Como
professores eles têm a responsabilidade de comunicar o que aprendem da ciência para a
sociedade que os mantém. E, como cidadãos eles têm a responsabilidade de ouvir o que o resto da
sociedade pensa sobre o que eles aprendem e ensinam.” Portanto, é preciso evitar que a
interferência do mercado nas atividades de pesquisa leve ao descrédito da ciência que sempre foi
regida por princípios éticos severos, o que lhe conferiu a credibilidade que hoje desfruta. Sempre
foi praxe da comunidade científica não opinar sobre projetos de sua própria instituição, mas agora
é preciso mais. É preciso evitar que interesses comerciais, pessoais ou institucionais se misturem
aos acadêmicos (Zancan, 2005).

Desafio 6 – Transparência x sigilo


A nova Lei de Biossegurança também criou o Sistema de Informação em Biossegurança –
SIB, que tem por finalidade a gestão das informações de biossegurança. Assim, os extratos
prévios, pareceres dos processos, agenda, processos em trâmite, relatórios anuais, atas das
reuniões, votos fundamentados de cada membro e demais informações sobre suas atividades,
excluídas as informações sigilosas, de interesse comercial, deverão se torna públicos por meio de
uma página na internet.
• A idéia é a adoção do principio da publicidade para dar a transparência necessária em
questões tão relevantes para o país e para cada cidadão brasileiro.
• Esta iniciativa vem de encontro ao que é também previsto no Protocolo de Cartagena sobre
Biossegurança. O Protocolo determina que cada Parte promoverá e facilitará a conscientização,
educação e participação públicas a respeito da transferência, da manipulação e do uso seguros dos
organismos vivos modificados em relação à conservação e ao uso sustentável da diversidade
biológica, levando também em conta os riscos para a saúde humana.
Esta novidade é sem dúvida um avanço significativo, pois anteriormente grande parte do
que será agora tornado público era considerado sigiloso ou confidencial. O antigo Regimento
Interno considerava sigiloso os assuntos tratados em reunião da Comissão. Com a transparência e
o cidadão estará melhor informado sobre os OGM e derivados no país.
Em 2004, a CTNBio aprovou parecer técnico favorável a comercialização de VAXXITEK
HVT + IBD, vacina de vírus vivo recombinante contra a doença de Gumboro e a doença de
Marek. Praticamente todos os estudos, feitos além de serem feitos fora do Brasil, foram
considerados confidenciais e poucos deles foram publicados. A referida vacina encontra-se
registrada no Ministério da Agricultura e em comercialização, conforme anúncio pelo fabricante
(http://br.merial.com/avicultores/produtos/vaxxitek/vaxxitek.asp). Assim como este, outros
estudos, documentos e partes de processos foram considerados sigilosos ou confidenciais, o que
impediu a análise por parte da comunidade científica e também de outros setores da saciedade
legitimamente interessados no assunto.
A novidade do Decreto nº 5.591, de 22 de novembro de 2005, que regulamenta a nova Lei
de Biossegurança prevê que a CTNBio adotará as providências necessárias para resguardar as
informações sigilosas, de interesse comercial, apontadas pelo proponente e assim por ela
consideradas, desde que sobre essas informações não recaiam interesses particulares ou coletivos
constitucionalmente garantidos. Assim, está garantido o acesso a praticamente todas as
informações, exceto as estritamente de interesses comerciais.

Desafio 7 – Avaliação de risco


Nossa capacidade de predizer os impactos ecológicos de espécies introduzidas, incluindo
OGMs, é imprecisa e os dados empregados para avaliar impactos ecológicos potenciais
apresentam limitações. Esta incapacidade de predizer com exatidão as conseqüências ecológicas,
especialmente no longo prazo, aumenta a incerteza associada à avaliação de riscos, exigindo
modificações nas estratégias de manejo destes riscos (Wolfenbarger e Phifer, 2000). Esta
conclusão de seis anos atrás continua válida, porque pouco ou quase nada foi avançado em
termos de avaliação de impacto ambiental de OGM. No caso do Brasil, nenhum estudo de
impacto ambiental da soja RR foi feito em ecossistemas brasileiros. A aprovação do algodão
Bollgard foi feita com base em 23 estudos ambientais, 15 deles não publicados e cinco deles
feitos no Brasil. Nem mesmo o monitoramento foi feito. Desta forma, como a civilização humana
ainda não é capaz de predizer o que vai acontecer, é necessário que os riscos sejam identificados
antes da tomada de decisão.
Análise de risco é a avaliação sistemática de riscos associados com as ameaças à saúde
humana e a segurança ambiental, decorrentes das atividades capazes de causar impactos,
contínuos ou acidentais, no meio ambiente (Gliddon, 1999). O risco por sua vez é a medida dos
efeitos (à saúde humana, ambientais, sociais, econômicos) de uma ocorrência em termos de
probabilidade e da magnitude de suas conseqüências.
A análise de risco é um processo que consiste em três componentes inter-relacionadas:
avaliação de riscos, gestão ou manejo dos riscos e comunicação dos riscos. Avaliação dos riscos é
um processo de base científica que consiste em quatro etapas fundamentais: identificação do
perigo, caracterização do perigo, avaliação da exposição e caracterização do risco. Gestão dos
riscos é um processo, diferente da avaliação dos riscos, de ponderar alternativas políticas, após
consulta aos interessados diretos, tendo em conta a avaliação dos riscos e outros fatores legítimos
e, se necessário, selecionando opções apropriadas de prevenção e controle. Comunicação dos
riscos consiste no intercâmbio interativo, durante todo o processo de análise dos riscos, de
informações e pareceres relativos a perigos e riscos, fatores relacionados com riscos e percepção
do risco, entre avaliadores e gestores dos riscos, consumidores, empresas do setor de
biotecnologia, comunidade científica e outros interessados diretos e indiretos, incluindo a
explicação de resultados de avaliações dos riscos e a base das decisões de gestão dos riscos
(Rubens Nodari e Silvio Valle, não publicado).
A análise de risco é sem dúvida outro grande desafio, por várias razões. O instrumento
fundamental para tomar decisões informadas sobre os organismos vivos modificados pelas
autoridades competentes é sem dúvida a avaliação de risco. O objetivo da avaliação de risco é o
de identificar e avaliar os efeitos adversos potenciais dos organismos vivos modificados para a
saúde humana e para o meio ambiente.
No Anexo III do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança, são mencionado quatro
princípios gerais da avaliação de risco:
• a avaliação de risco deverá realizar-se de maneira transparente e cientificamente sólida e
poderá levar em conta o assessoramento especializado de organizações internacionais
relevantes e diretrizes por elas elaboradas;
• a falta de conhecimentos científicos ou de consenso científico não será necessariamente
interpretada como indicativo de um nível determinado de risco, uma ausência de risco ou
de um risco aceitável;
• os riscos associados aos organismos vivos modificados ou aos produtos deles derivados, a
saber, materiais beneficiados que têm como origem um organismo vivo modificado,
contendo combinações novas detectáveis de material genético replicável obtido por meio
do uso de biotecnologia moderna, devem ser considerados no contexto dos riscos
apresentados pelos receptores não-modificados ou organismos parentais no provável meio
receptor e
• a avaliação de risco deverá realizar-se caso a caso. As informações requeridas podem
variar em natureza e nível de detalhe de caso a caso, dependendo do organismo vivo
modificado em questão, seu uso previsto e o provável meio receptor.

Desde 1989, parte da comunidade científica vem elaborando possíveis riscos ambientais das
plantas transgênicas. Os riscos previstos ainda em 1989, quando não havia plantas trangênicas em
cultivo, foram: criação de novas pragas e plantas daninhas; um aumento das pragas já existentes
por meio da recombinação gênica entre a planta transgênica e outras espécies filogeneticamente
relacionadas; a produção de substâncias que são ou poderiam ser tóxicas a organismos não-alvos;
o efeito disruptivo em comunidades bióticas seguido de contaminação de espécies nativas com
características originadas de parentes distantes ou de espécies não relacionadas; origem de
substâncias secundárias tóxicas após a degradação incompleta de químicos perigosos; efeito
adverso nos processos ecológicos e extravagância de recursos biológicos valorosos (Tiedje et al.
989). Passados 10 anos do cultivo de plantas transgênicas, praticamente todos os efeitos previstos
ocorreram.
A liberação de transgenes indesejáveis no meio ambiente pode ser considerado um
problema mais sério do que aquele representado pelos pesticidas. Por exemplo, uma molécula de
DDT permanece como molécula simples ou se degrada, contudo um simples alelo tem a
possibilidade de se multiplicar por meio da reprodução, o que pode frustrar as tentativas para seu
confinamento (Ellstrand, 2001).
No caso dos riscos ao meio ambiente, incertezas e indeterminações são frutos da
complexidade dos ecossistemas e raramente explicitadas. Falhas em reconhecê-las e levá-las em
consideração podem provocar severas conseqüências. A avaliação de risco feita em laboratório
pode ser adequada e simples. Contudo, quando as plantas vão para o meio ambiente em larga
escala, as dimensões sociais e ecológicas, além das agrícolas, devem ser levadas em
consideração, o que aumenta a complexidade das análises e a imprevisibilidade dos efeitos
(Peterson et al., 2000). A ciência pode, por exemplo, estimar as probabilidades de um dano
causado por um composto tóxico ao qual as pessoas estão expostas. Pode, da mesma forma,
estimar os benefícios humanos de uma nova droga que não era possível de ser criada no passado.
Contudo, as ciências naturais não podem estimar os custos econômicos e sociais associados à
presença de uma proteína nova na cadeia alimentar, a qual as pessoas não querem em sua comida
(Ellstrand, 2003).
Cautela com novas plantas transgênicas também foi a recomendação da Academia Nacional
de Ciências para o governo americano. A avaliação de plantas transgênicas deve ser feita de
maneira "mais rigorosa e transparente", com a participação de especialistas independentes e
maior envolvimento da população em geral foi a conclusão de um comitê especialmente formado
para analisar a situação da liberação comercial das plantas transgênicas. Além desta constatação,
os cientistas também condenaram o uso do termo “não há evidências” em suas avaliações
ambientais é ambíguo: pode indicar tanto a inexistência de provas que identifiquem impactos
ambientais, quanto a inexistência de estudos sobre o tema (NAS, 2002).
Mas as agências americanas, bem como a CTNBio, usam esta expressão por ocasião da
liberação comercial de OGM. Exemplo: no Parecer Técnico Conclusivo da CTNBio sobre a soja
RR em 1998 encontra-se: “...que não há evidências de risco ambiental ou de riscos à saúde
humana ou animal”. É legitimo (para a transgenia) inferir com base na ausência de evidência
contra uma teoria ou hipótese que é aceitável de acordo com a imparcialidade? (Lacey, 2005).
Segundo Traavik et al. (1999) este é um paradoxo científico, pois a ausência de evidência jamais
deve ser tomada como evidência da ausência.
Desafio 8 – Coexistência entre transgênicos e não transgênicos
A coexistência significa a possibilidade efetiva, para os agricultores, de escolherem entre o
modo de produção convencional ou biológico, ou ainda a produção de cultivos transgênicos, no
respeito das obrigações legais em matéria de rotulagem ou de normas de pureza (União Européia,
2003). Ou seja, só existe coexistência se não houver danos a terceiros pelo cultivo realizado. Mas
como prevenir a contaminação (fluxo gênico) de lavouras vizinhas a partir do pólen ou das
sementes produzidas numa propriedade? Se houver a contaminação, não só a produção das
lavouras contaminadas se torna um problema em si, mas também os produtos na cadeia
comercial, que, de acordo com a norma legal devem ser segregados e rotulados.
O fluxo gênico é sem dúvida o evento de extrema importância biológica, pois é o elo que
permite a troca de genes entre plantas da mesma espécie para que a espécie possa se perpetuar.
Portanto, o fluxo gênico é uma propriedade inerente das espécies como tal. Assim, ocorrendo o
fluxo gênico, o que é normal, ocorrerá a contaminação.
Contaminações são objeto de artigos em centenas de revistas científicas. Um dos trabalhos
que comprovou a situação real de comércio de sementes contaminadas foi feito por Mellon e
Rissler (2004) da Union of Concerned Scientists. A principal conclusão obtida pelos autores foi a
de que mais da metade das cultivares convencionais de soja, milho e canola vendida nos Estados
Unidos estavam contaminadas com graus variáveis de OGM. Posteriormente, foi verificado que
todas as variedades convencionais de algodão também estavam contaminadas com algodão
transgênico. Ou seja, as sementes convencionais que deveriam ter pureza genética, também já são
fonte de contaminação de transgênicos.
O Greenpeace mantém uma página na Internet na qual são registrados os casos de
contaminação ocorridos (http://www.gmcontaminationregister.org). Acessada em 03 abril de
2006, a referida página registrava 121 casos de contaminação envolvendo OGMs em 40 países:
43 em alimentos; 7 rações animais; 52 sementes, espécies nativas e selvagens; 2 de plantas
daninhas; 1 parental silvestre; 1 variedades crioulas e 14 outras. Até aquela data havia ocorrido
19 liberações ilegais. De todas as liberações, oito casos com efeitos agronômicos negativos. Nem
as variedades nativas do Centro de Origem do milho no México foram poupadas.
A contaminação por OGM pode provocar muitos efeitos. Dentre os efeitos biológicos dos
transgenes, os mais relevantes são: no valor adaptativo das espécies afins; na dinâmica de
populações; efeitos indiretos na comunidade (ecossistema); na diversidade genética de espécies
afins e efeitos na co-existência. Já os efeitos sócio-econômicos da contaminação são: (negativos)
no preço de produtos não OGMs; na segregação de produtos; nos procedimentos e custos da
identificação/rotulagem; na fiscalização e monitoramento; na coesão social (disputas pessoais,
coletivas, políticas, judiciais); no gerenciamento/governança da coexistência de diferentes
sistemas agrícolas e na reputação comercial.
Desafio 9 – O que as lições do passado ensinam
Existem muitas lições do passado, onde preocupações de pessoas ou cientistas não foram
levadas em consideração e que posteriormente vieram a causar de fato enormes danos à saúde
humana e ao meio ambiente. Uma dessas lições é relacionada aos agrotóxicos. Foi preciso morrer
muitas pessoas e ser constatado DDT nas gorduras dos ursos polares para que normas legais mais
estringentes fossem adotadas. Neste sentido é marcante o livro A primavera silenciosa, da Dra.
Raquel Carson, onde as questões relacionadas aos impactos de uma nova tecnologia eram
totalmente desprezados.
Os herbicidas mais utilizados em todo o mundo são a base de glifosato (Ex: Roundup),
liberado para uso comercial há mais de 20 anos. Contudo alguns estudos cruciais só foram feitos
recentemente. É relevante destacar dois estudos, uma da área da saúde humana e outro da área
ambiental. No primeiro caso, cientistas verificaram que tais herbicidas tem a capacidade de
interferir no sistema endócrino dos mamíferos, sendo considerados como “desregulador”
endócrino (Richard et al., 2005). Paralelamente, o Dr. Relyea (2005) verificou que esses
herbicidas podem afetar dramaticamente algumas espécies aquáticas, conseguindo eliminar certos
anfíbios.
E ao contrário do que intensamente propagandeado, a introdução da soja RR não diminui o
consumo de herbicidas no país. Ao contrário, pois no Rio grande do Sul, o consumo de
herbicidas a base de glifosato aumento mais de 5 vezes no período de 1998 a 2005.
O caso dramático da vaca louca proporciona mais uma incontestável lição. Em 1980 foram
introduzidas na dieta das vacas britânicas, farinha elaborada com carne e ossos de ovelhas. Cinco
anos depois, apareceram naquele país os primeiros casos de uma enfermidade desconhecida que
foi chamada de Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE) ou simplesmente “vaca louca”,
decorrente da falta de controle motor dos animais afetados.
Cientistas alertaram, já em 1989 sobre o risco de contágio ao homem e as coincidências
entre as doenças da cava louca e a doença em humanos, Creutzfeldt-Jakob (CJD). O mal de
Creutzfeld-Jakob, doença que a carne infectada provoca nos humanos, afeta o sistema nervoso,
levando a pessoa à demência Anos depois, foi detectado em humanos uma variação do CJD, o
vCJD. O mais intrigante desta história é que em 1990, a comissão de cientistas criada na Grã-
Bretanha para estudar essa relação (entre mal da vaca louca e vCJD) negou não só essa
possibilidade, como também que a enfermidade em bovinos não se constitui em risco para a
população. Em 1996 o governo inglês reconhece a possibilidade de relação entre as duas doenças.
Tarde demais, pois dezenas de pessoas já estavam mortas e centenas ou milhares contaminadas,
vitimas desta vCJD, suspeita de estar relacionada com o mal da vaca louca. O segundo aspecto
intrigante é a absoluta semelhança entre uma vaca sadia e uma normal. A única diferença entre
ambas é a conformação espacial de uma proteína.
Mas a lição não foi apreendida em todo o mundo. Nos anos 90, a equivalência substancia
foi suada como critério pelas nações desenvolvidas para promover um transgênico à fase
comercial. Atualmente, uma variedade transgênica é considerada equivalente a uma variedade
convencional se os valores de certos parâmetros (teor de amino ácidos, proteínas, cinzas, lipídios,
entre outros) se situam no intervalo de variação para os referidos parâmetros com 95% de
confiança. O caso da vaca louca demonstra inequivocamente que este critério não tem base
cientifica.
Este conceito de equivalência substancial tem sido alvo de críticas, entre outras, porque a
falta de critérios mais rigorosos pode ser útil à indústria, mas é inaceitável do ponto de vista do
consumidor e da saúde pública (Millstone et al., 1999). Esta estratégia baseada na equivalência
substancial foi introduzida para evitar que as indústrias tivessem custos maiores com testes de
longa duração. Quando se utiliza a equivalência substancial, nenhum teste de longa duração é
requerido. Este princípio da equivalência substancial é equivocado, carece de base científica e
deveria ser abandonado em favor de testes biológicos, toxicológicos e imunológicos mais
aprofundados e eficazes (Nodari e Guerra, 2001). Nos caso de OGM, o que importa é exatamente
os possíveis efeitos adversos das seqüências inseridas.

Conclusões

A nova Lei de Biossegurança traz consigo muitas novidades, a maioria deles acompanhado
desafios. Na verdade a biossegurança deveria ser entendida como biorrisco associado aos
produtos de novas tecnologias, em particular dos OGM. E a biossegurança (ou os biorriscos)
deixa de ser uma questão só para os cientistas e o governo. Passa sa ser também da sociedade,
que agora pode participar mais ativamente do processo de compreensão, conscientização e
tomada de decisão.
Diversas lições das “primeiras preocupações” com certas tecnologias nos ensinaram que é
preciso muita cautela na adoção de novas tecnologias. Estas lições nos ensinaram que a ciência
deve ser independente; ciência não é suficiente; incertezas e imprevisibilidade estão
inerentemente associadas às novas tecnologias; as dimensões social, econômica e ética deve ser
parte efetiva do processo decisório e que a participação pública deve ser efetiva.
Desta forma, o Principio da Precaução está adequadamente colocado. Alguns cientistas
naturais passaram a reconhecer que as tecnologias que emergem de suas pesquisas podem ter um
conjunto de impacto, bons e ruins. Em um editorial da Science, Donna Shalala, que foi secretária
do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, ponderou em 2005 que: “...Nós
devemos abrir essas portas cuidadosamente, nunca deixando nossa ciência ir adiante de nossa
ética. Ciência e tecnologia não são inerentemente morais; a responsabilidade de colocar moral
nelas pertence a nós”.
Esta postura é de fato relevante pois tecnologia é poder como ponderou, Hugo de Vries, um
dos redescobridores das Leis de Mendel, em 1907, portanto, a quase 100 anos atrás: “Numa
ciência aplicada como a genética agrícola, o econômico domina o científico e, além dos ganhos
financeiros, determina o que é cientificamente verdadeiro”. Hugo de Vries chegou a esta
conclusão quando a industria da semente começa a se estabelecer nos Estados Unidos. Será que
100 mais tarde é apenas uma coincidência?
Para concluir, uma recomendação de Albert Einstein: “Qualquer um que aspire ser um
autêntico cientista deve tirar, pelo menos, meia hora por dia para pensar o contrário de seus
colegas.”

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