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Por
Adonai S. Sant'Anna
Existem aqueles que se integram ao ambiente se entregando a ele. E
existem indivíduos que parecem ter uma aura cujo alcance e
magnitude são fortes o bastante para transformar o ambiente em
que vivem. O Professor Newton da Costa se enquadra na segunda
categoria.
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acadêmico incomensuravelmente superior em termos de qualidade e
relevância (a qual se avalia inicialmente por repercussão).
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profundas do que questões econômicas.
Diante desse quadro, talvez não seja tão surpreendente o fato de não
haver um único ganhador do Prêmio Nobel lecionando em qualquer
universidade brasileira.
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Foi professor, pesquisador ou conferencista em diversas instituições
brasileiras federais, estaduais e privadas, bem como de instituições
públicas e privadas de países da América do Sul, América do Norte,
Europa e Oceania. A minha tese é a de que essa diversidade
institucional e cultural sempre viabilizou uma permanente
revitalização profissional e até pessoal do Professor Newton. Onde
quer que ele estivesse, seu trabalho e carisma imediatamente
despertavam a atenção de jovens estudantes ou experientes
pesquisadores. E algumas dessas pessoas acabaram se tornando
colaboradores ou discípulos. Diversidade sempre foi um ingrediente
fundamental em processos evolutivos.
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como contestar fatos (apesar de alguns ainda tentarem).
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universidade brasileira. Isso porque, após a festa de despedida do
aposentado, todos imediatamente o esquecem. Os problemas do dia-
a-dia na universidade se sobrepõem a qualquer noção de
continuidade de uma obra. Uma universidade como a Estadual de
Campinas criou o Museu Newton da Costa. É uma forma de recordar
e homenagear, ainda que seja uma iniciativa de pouca dinâmica para
conseqüências relevantes no futuro. A Universidade Federal do
Paraná (citando outro exemplo) concedeu o título de Doutor Honoris
Causa. É outra forma de reconhecimento e lembrança.
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Reconheço que muitos nas universidades fazem o melhor que podem,
às vezes indo muito além. Não estou criticando pessoas ou instituições
específicas nos últimos parágrafos. Estou criticando a existência de
uma intrincada rede no seio social brasileiro que dificulta a
transformação do ambiente acadêmico em um lugar que realize
pesquisa de ponta e educação de qualidade. Talvez essa rede exista
por pura ignorância. É possível que nossos dirigentes simplesmente
não tenham a menor idéia de como administrar o ensino superior
brasileiro e sua inseparável pesquisa científica. E para o povo é
possível que baste um carro na garagem e uma casa na praia, ou
carnaval e futebol, para que se alcance a felicidade individual ou
qualquer noção arbitrária de justiça social.
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paraconsistentes, que uma importante rede de televisão brasileira
chegou a chamar de lógica paraconsciente, evidenciando mais uma
vez o insistente descaso com ciência e cultura. Apesar de sua pesquisa
ter motivações puramente matemáticas, a lógica paraconsistente
rendeu inúmeras aplicações em engenharia de produção, engenharia
aeronáutica, robótica, inteligência artificial e até medicina.
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França. O fato de ele ter sido eleito membro deste último por
unanimidade não foi por acaso. Sua prática de filosofar é no sentido
de ter e desenvolver uma linha própria de pensamento na qual ele
qualifica com grande rigor e originalidade o que é o conhecimento
científico. A filosofia do Professor Newton, se contrapondo às idéias
de autores como Karl Popper, se apóia em grande parte no conceito
de quase-verdade. Esta é uma generalização de idéias anteriormente
propostas pelo grande lógico polonês Alfred Tarski, que ele teve a
oportunidade e honra de conhecer pessoalmente.
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cumpram com propriedade seus papéis. Essas mesmas universidades
também não conseguem produzir pesquisadores que conquistem
prêmios como o Nobel ou a Medalha Fields. E foi neste difícil e
contraditório ambiente que um indivíduo como o Professor Newton
conseguiu se integrar sem se entregar. E ele não apenas se integrou,
como integrou jovens também.
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Lembro de certa vez em que um rapaz quis argumentar com o
Professor Newton: “Mas foi o senhor quem disse isso!” Ele
imediatamente respondeu ao rapaz que este deveria pensar por si só
e não depender das palavras de outros. O Professor Newton nunca
esteve interessado em provar se ele está certo ou errado. O que ele
sempre exigiu de seus alunos é argumentação, qualificação de
discurso, tirocínio crítico, honestidade intelectual, trabalho duro,
dedicação, paixão pelo que faz, garra.
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de real qualidade é fundamental. E enquanto não surgirem
programas sérios de valorização aos profissionais de ensino realmente
qualificados, seremos eternamente todos iguais entre nós e invisíveis
perante o resto do mundo.
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