Você está na página 1de 19

A PSICOLOGIA

E O SAGRADO
Profissionais pesquisadores
da Psicologia falam sobre os
diversos aprofundamentos
dessa relação

DIALOGANDO EMPREENDEDORISMO artigo


GESTÃO É tempo de Diálogo AS ESCOLHAS PROFISSIONAIS E O Como o Sistema Conselhos
fecha um ano à frente do TRABALHO NO DESENVOLVIMENTO DA tem lidado com as práticas
CRP-PR IDENTIDADE emergentes na Psicologia
SUMÁRIO 3

SUMÁRIO WWW.CRPPR.ORG.BR

COLUNA POT ARTIGO ARTIGO


Entrevista com Cleila Escolha profissional, Planejamento

05 10 24
Elvira Lyra. trabalho e estratégico. Um modo
empreendedorismo. diferente de olhar a
profissão.

COF ORIENTA CAPA ARTIGO


Provimento nº 36 CNJ. A Psicologia e o Sagrado. O sistema Conselhos na

06 15 28
Convergências e divergências relação da Psicologia
entre ciência e fé. com as práticas
emergentes.

COLUNA ÉTICA MATÉRIA SINDYPSY-PR


COE Convida: Conheça Psicologia e O PL das 30 horas

08 20 35
e contribua com as Empreendedorismo. chega à reta final.
comissões de instrução. Reflexão e prática.

Diretoria Conselho Regional de Psicologia


Conselheira Presidente - Cleia Oliveira Cunha
Conselheiro Vice-Presidente - Guilherme Bertassoni da Silva 8ª Região (CRP-PR)
Conselheira Secretária - Liliane Ocalxuk
Conselheira Tesoureira - Maria Stella Aguiar Ribeiro

Conselheiros e Conselheiras
Ana Lígia Bragueto, Ana Paula Rossito Mantoan, André Luis Cyrillo, André Luiz Vendel, Anita de Castro Menezes Xavier, Bruno
Jardini Mäder, Cleia Oliveira Cunha, Denise Ribas Jamus, Fernanda Rossetto Prizibela, Guilherme Bertassoni da Silva, Juliano Del
Gobo, Liliane Ocalxuk, Luciana de Almeida Moraes, Luiz Antônio Mariotto Neto, Luiz Henrique Birck, Maria Stella Aguiar Ribeiro,
Mariana Daros de Amorim, Nayanne Costa Freire, Paula Matoski Butture, Renata Campos Mendonça, Rodrigo David Alves
de Medeiros, Rodrigo Soares Santos, Rosangela Maria Martins, Sandra Mara Passarelli Flores, Solange Maria Rodrigues Leite,
Vanessa Cristina Bonatto.

Produção
Contato: Informativo Bimestral do Conselho Regional de Psicologia 8ª Região (ISSN - 1808-2645) • Site: www.crppr.org.br
Avenida São José, 699 • CEP 80050-350 • Cristo Rei • Curitiba/PR • Fone/Fax: (41) 3013-5766 • E-mail: comunicacao08@
crppr.org.br

Tiragem: 14.000 exemplares • Impressão: Primagraf Indústria Gráfica. • Jornalista responsável: Priscilla Cesar (DRT 7828)
Comissão de Comunicação Social do CRP-PR: Bruno Jardini Mäder e Rodrigo David Alves de Medeiros

Projeto gráfico: RDO Brasil • Rua Mamoré, 479 • CEP 80510-362 • Mercês • Curitiba/PR • Fone/Fax: (41) 3338-7054
Site: www.rdobrasil.com.br • E-mail: atendimento@rdobrasil.com.br • Designer responsável: Leandro Roth

Preço da assinatura anual (6 edições): R$ 30,00

Os artigos são de responsabilidade de seus


autores não expressando necessariamente a
opinião do CRP-PR.
4 EDITORIAL COLUNA POT 5

EDITORIAL COLUNA POT


OPRESSÃO, VIOLÊNCIA E A ENTREVISTA
TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
vivendo em situação de rua tem representado, cada
vez mais, uma parcela expressiva do contingente

T E
de indivíduos e grupos socialmente vulneráveis
odas as formas de opressão e violência devem ntrevista: Cleila Elvira Lyra – CRP a sua complexidade assim o exige. Nossos clientes têm
presente nas cidades brasileiras. Em 2005: Lei
ser fortemente combatidas, especialmente 08/00025. Psicóloga Mestre em Sociologia acesso a amplas informações e excelentes formações,
Orgânica da Assistência Social – LOAS (2003)
quando voltadas aos que tem menos proteção das Organizações, Coach e Consultora em assim sendo, para sermos reconhecidos e autorizados
estabelece a obrigatoriedade de criação de
social e encontram-se vulneráveis, não só Desenvolvimento Humano e Organizacional, por eles a apoiá-los, precisamos estar a altura. Isso
programas direcionados à população em situação
por suas condições de vida, mas especialmente pela Professora em pós-graduação na FAE e UPRA (Angola). significa muita profundidade no entendimento dos seres
de rua, no âmbito da organização dos serviços
representação social que possuem em nossa sociedade. humanos e amplitude de um pensamento sistêmico
de assistência social, numa perspectiva de ação CPOT: Como se dá a sua atuação em POT?
Dessa forma, o Conselho Regional de intersetorial. Sendo assim, esta gestão vocaliza a para compreender o contexto. Além disso, precisamos
Psicologia do Paraná, na perspectiva de favorecer necessidade de se tratar de maneira séria a realidade Cleila: No início da minha carreira fui gerente desenvolver a astúcia para discriminarmos as manobras
a construção de uma cultura de defesa dos direitos das pessoas em situação de rua, em nosso Estado, de Recrutamento e Seleção de Pessoal, na época era o realizadas com o intuito de nos testar e desestabilizar.
humanos, provocando uma reflexão ética sobre para o desenvolvimento de estratégias cada vez mais que mais fazíamos nas organizações. Por ser especialista Considerando essa complexidade, entendo que os
denúncias de violações, que agridem o cotidiano eficazes de proteção social e superação da condição em analisar e avaliar os candidatos mais promissores conhecimentos, habilidades e atitudes desenvolvidas
de sujeitos, traz novamente ao debate público um de risco social em que se encontra esse público. para as organizações, o Psicólogo conquistou um em processos de formação, terapia e coaching a que
fato ocorrido em junho deste ano, a saber, o ato de espaço respeitável. Além de ter essas competências, nós, profissionais Psicólogos nos submetemos, aportam
O ataque a essa pessoa em situação de rua
violência extrema contra um “morador de rua” na a maioria dos instrumentos utilizados era restrita à uma boa parte da competência necessária. No meu caso,
configura-se como uma violência não só a uma pessoa,
cidade de Curitiba. Situações como essa se repetem nossa categoria profissional. Com o passar dos tempos, ter o privilégio de atuar no campo da Saúde Mental e,
mas a todos que se encontram nesta situação e mais
em outras cidades brasileiras, trazendo a premência as fronteiras foram se alargando: os que não eram insisto, estudado Psicanálise, me possibilitou entender
ainda, a todos nós, afinal nos coloca frente a frente
de uma mudança necessária e urgente. Psicólogos também se tornaram competentes para e discriminar facilmente situações e casos que devem
com o fato de fazermos parte de uma sociedade por
atuar nesse campo da seleção, utilizando instrumentos ser endereçados para outros processos.
Uma cidade que ambicione o desenvolvimento vezes violenta e intolerante. É por ter convicção da
não exclusivos da Psicologia, como inventários de
social deve começar por repudiar qualquer tipo de nossa responsabilidade na necessária transformação CPOT: Quais são os benefícios dessa atuação para
social que o CRP-PR, Gestão Tempo de Diálogo, perfil profissional, dinâmicas de grupo e entrevistas.
violação dos direitos humanos e enquanto Psicólogos o público-alvo?
assina essas palavras. Da mesma maneira, os Psicólogos ampliaram suas
submetidos a um Código de Ética apoiado pelos valores
competências e entraram com muita segurança em Cleila: Para abordar somente a atividade de
promulgados na Declaração dos Direitos Humanos,
outros âmbitos, como: Treinamento e Desenvolvimento, coaching, essa condição se torna uma vantagem
trabalhadores da subjetividade e conhecedores da
importância da cultura e da história na formação Avaliação do Desempenho/Gestão por Competências, significativa. Mesmo atuando em Coaching Profissional,
individual, colocamo-nos ao lado daqueles que não Gestão em geral e Coaching. Minha atuação há alguns como é o meu caso, posso perfeitamente escutar e acolher
só esperam, como trabalham para uma sociedade anos tem sido em Desenvolvimento Humano, incluindo outras questões, de ordem pessoal, que precisam ser
mais justa e humana. desenvolvimento interpessoal, de equipes e de liderança/ trabalhadas, para que realmente ocorram transformações
gerencial. e não somente adaptações temporárias no campo
Esta gestão do CRP-PR, a qual tem o diálogo profissional. O ser humano é um só e o mesmo, quer
como símbolo e ferramenta primordial, repudia CPOT: Qual é a importância do Psicólogo nesses
esteja no ambiente de trabalho ou em casa. Teoricamente,
quaisquer atos de violência, humilhação e opressão contextos?
somente os muito neuróticos conseguiriam separar
do ser humano e se coloca junto aos que lutam Cleila: Reconheço que a formação em assim tão radicalmente um âmbito do outro, indo ao
pelo estabelecimento de uma sociedade mais Psicologia tem sido meu principal eixo de suporte em coach para tratar seus conflitos no trabalho e ao terapeuta
justa e igualitária, que inclua em sua perspectiva tudo o que vivo e faço. Porém, além da graduação, para tratar seus conflitos intrapsíquicos. Com efeito, o
aqueles que escapam às vistas da sociedade por sua participei de muitos outros processos e obtive outras coach não Psicólogo realmente não deve adentrar como
condição de “exclusão”. O desemprego e a pobreza formações, em Psicanálise principalmente, sempre guia nesse mundo Psi, já que não tem as credenciais
articulado à fragilidade das instituições públicas de
Daniel Caron/FAS

com o mesmo foco: o ser humano em suas dimensões para tal. Por outro lado, o coach Psicólogo, como tem
proteção social no país têm impactado o contexto intrapsíquicas, nas suas relações e vínculos sociais, a seu favor sua formação, no meu entender, não só pode
social urbano nas últimas décadas e intensificado a nas suas produções. Gosto de observar o meu objeto/ como deve atuar no âmbito do ser, sendo designado
vulnerabilidade social. Nesse processo, a população foco de trabalho através de vários ângulos, até porque coaching ontológico.
6 COF ORIENTA COF ORIENTA 7

Jefferson Simomura (CRP-08/11521)


Psicólogo Orientador Fiscal

COF ORIENTA
A orientação do CRP-PR é de que as demandas destinados a permanente qualificação e
provenientes do Poder Judiciário, Delegacias e atualização funcional dos magistrados,
Ministério Público que se referem à elaboração de equipes técnicas e outros profissionais que
relatórios/laudos, estudo e pareceres sociais para atuam nas varas da infância e juventude.
compor os processos e subsidiar as decisões judiciais
Um dos pontos altos desse provimento é o Art 5º,
devem ser compreendidas como de competência dos
PROVIMENTO Nº 36 CNJ profissionais vinculados ao quadro de servidores do
que faz recomendação aos magistrados com competência
em matéria da Infância e Juventude, que deve estabelecer
Poder Judiciário.
atuação integrada com os órgãos de gestão das Políticas
Diante do exposto, esse provimento nº 36 pode de Assistência Social, Educação e Saúde, nos âmbitos
ser compreendido como um processo de aceleração da municipal e estadual, especialmente no que se refere
estruturação das equipes multidisciplinares que deverão à aplicação de medidas protetivas para crianças e
ser compostas de, ao menos, Psicólogo, Pedagogo e adolescentes e suas respectivas famílias por meio da

O
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), no uso de suas Assistente Social. As Presidências dos Tribunais terão oferta e reordenamento dos serviços de atendimento das
atribuições constitucionais e regimentais, publicou no dia 5 o prazo de 90 dias para realizar ações, tais como: áreas correspondentes e na cooperação entre os órgãos
de maio de 2014 um provimento que dispõe sobre a estrutura do Poder Executivo e o Poder Judiciário, para que evitem
• Encaminhar para o CNJ estudos
e procedimentos das Varas da Infância e Juventude. o uso de expressões admoestadoras, a exemplo de “sob
destinados a equipar comarcas e foros
pena de crime de desobediência” ou “prisão”.
A importância de conhecer esse documento é que o assunto se regionais que atendem 100.000 habitantes,
correlaciona diretamente aos serviços prestados pelos profissionais no com varas de competência exclusiva em Desse modo, finaliza recomendando que
âmbito das Políticas Públicas. matéria de infância e juventude; as equipes multidisciplinares do Poder Judiciário
envidem todos os esforços no sentido de dar a máxima
São frequentes os questionamentos sobre as atribuições do Psicólogo • Informar quais varas exclusivas da
celeridade na avaliação técnica nos processos de adoção,
que atua em áreas de interface com a justiça, principalmente no que se refere infância e juventude já foram criadas por
habilitação para adoção, destituição do poder familiar
à responsabilidade na realização de Avaliação Psicológica para auxílio lei mas ainda não efetivamente instaladas,
e reavaliação da situação jurídica e psicossocial de
de decisões do magistrado (lembrando que essa ocorrência acontece em e o motivo de sua não instalação;
crianças e adolescentes acolhidos e que seja estabelecida
todas as áreas, como Assistência Social e também na Saúde e Educação).
• Estruturar todas as varas hoje existentes uma relação de proximidade e parceria com as equipes
O motivo das demandas enviadas pelo Poder Judiciário para o com competência exclusiva em matéria técnicas com atuação nos municípios, de modo a
Poder Executivo é de que até o momento não há equipes multidisciplinares de infância e juventude, bem como a garantir a efetiva e imediata realização das intervenções
nas varas do país com competência exclusiva ou cumulativa em matéria CEJA ou CEJAI (Comissão Estadual protetivas que se fizerem necessárias junto às crianças,
de infância e juventude. É por esse motivo que muitos magistrados, Judiciária de Adoção Internacional), com adolescentes e suas famílias.
para suprir a escassez, têm determinado a técnicos vinculados ao Poder equipes multidisciplinares informando a
Compreende-se que essas ações não são medidas
Executivo a elaboração de laudos e estudos e, muitas vezes, essas CNJ, inclusive os nomes e a qualificação
unilaterais, portanto há a necessidade de todos os
solicitações vêm acompanhadas de expressões coercitivas, coagindo os técnica dos profissionais lotados em cada
Poderes se organizarem para prestar um serviço
técnicos a realizarem esses laudos, mesmo não sendo essa sua atribuição. comarca/foro regional;
baseado na ética e na competência técnica específica
Na área da Assistência Social, há recomendações, do Ministério • Elaborar projeto de implementação de cada setor para uma melhor prestação de serviço
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), definindo que progressiva de equipes multidisciplinares, à sociedade. É nesse momento que os técnicos, ao
não compete ao serviço: em cada uma das demais varas com definirem parcerias, devem conhecer o funcionamento
atribuição cumulativa da infância e da rede de seu município para poder encaminhar a
• Ter seu papel institucional confundido com o de outras demanda específica de cada órgão e unir esforços para
juventude ou ao menos de criação de
políticas ou órgãos e, por conseguinte as funções de sua que cada um contribua com sua área de atuação.
núcleos multidisciplinares regionais
equipe com as de equipes interprofissionais de outros
efetivos ou solução similar;
atores da rede, como, por exemplo, da segurança pública
(Delegacias Especializadas, unidades do sistema prisional, • Informar os nomes e qualificação técnica
etc.), órgãos de defesa e responsabilização (Poder Judiciário, dos profissionais que compõem a equipe
Ministério Público, Defensoria Pública e Conselho Tutelar) de apoio e a equipe multiprofissional na
ou de outras políticas (saúde mental, etc.); estrutura da Coordenadoria da Infância
e Juventude do Tribunal;
• Assumir a atribuição de investigação para a
Shutterstock

responsabilização dos autores de violência, tendo em vista • Promover por intermédio das escolas da
que seu papel institucional é definido pelo papel e escopo magistratura, em colaboração com outras
de competências do SUAS. instituições de ensino superior, cursos
8 COLUNA ÉTICA COLUNA ÉTICA 9

Paula Matoski Butture (CRP-08/12879)


Nayanne Costa Freire (CRP-08/14350)
possível. Julgar um processo ético é lidar exatamente

COLUNA ÉTICA
Trata-se de delegar atribuições em face da elevada
demanda da COE, e é importante que seja composta por com aquilo para o que não há evidência absoluta, e
profissionais que tenham acúmulo de conhecimento na por isso a necessidade do levantamento de todas as
área em questão, com a condição de que isso não cause informações pertinentes.
impedimentos. Os membros da Comissão não podem ser
relatores do processo ético, para evitar contaminações.
COE CONVIDA: CONHEÇA E CONTRIBUA COM AS A Comissão de Instrução é nomeada por portaria Posto isso, a COE gostaria de convidar os
COMISSÕES DE INSTRUÇÃO e faz o pedido de defesa por escrito das partes, que Psicólogos interessados em compor uma Comissão de
deverão elencar testemunhas que gostariam que fossem Instrução no CRP-PR a enviar manifestação de interesse
ouvidas para, em seguida, haver a oitiva destas e das a este Conselho através do e-mail coe08@crppr.org.br,

Q
partes. O dever fundamental da Comissão de Instrução informando sua área de especialidade, experiência
uando há a entrada de uma representação cabendo pedido de reconsideração da parte que não se é não só o de tomar conhecimento pormenorizado do profissional e dados pessoais, para que possamos criar
ética contra um profissional da Psicologia, sentir contemplada pelo resultado. processo, mas principalmente de fazer a escuta das um cadastro de pessoas interessadas em participar desta
o Conselho Regional tem por dever partes e das testemunhas solicitadas por elas. Neste
Determinada a instauração do Processo Ético, Comissão. Em momento oportuno, a COE entrará em
fundamental apurar com detalhes a momento, um dos membros faz o registro imediato da
toda a prova produzida na fase preliminar deve ser contato para verificar a disponibilidade do interessado
suspeita, respeitando o ditado pela Resolução CFP oitiva, de onde sairá uma ata, a ser lida e assinada por
repetida, a fim de respeitar o direito de defesa, da em participar da instrução de caso que seja de sua área
006/2007, que institui o Código de Processamento todos os presentes. A ata é o documento fundamental
oportunidade de resposta do Psicólogo diante das provas de atuação. Durante essas reuniões, que acontecem na
Disciplinar (CPD). A Constituição Federal (1988) traz no decorrente desta fase, pois vai ser encartada ao processo
produzidas pela outra parte. A partir desse momento, é sede do CRP-PR, em Curitiba, os Psicólogos contarão
Art. 5º, Inciso XIII, que “é livre o exercício de qualquer e instrumentalizar o futuro relator de julgamento a tecer com o apoio da Assessoria Jurídica do Conselho e dos
facultado ao CRP compor uma Comissão de Instrução,
trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações suas considerações. A escuta presencial tem a vantagem membros da Comissão de Orientação e Ética.
para desempenhar suas atribuições com os mesmos
profissionais que a lei estabelecer”, portanto a liberdade de ser uma comunicação sincronizada, onde podem
poderes de decisão.
profissional passa a ser “condicionada”, devido ao aparecer elementos que não surgem em declarações
interesse público em garantir que as profissões sejam A Comissão de Instrução é composta por no escritas. Neste momento, as perguntas que foram
praticadas à luz de padrões éticos. A entidade formada mínimo três Psicólogos, sendo que: formuladas pela Comissão podem dar o direcionamento
pelos CRPs preconiza a defesa e a proteção dos direitos do que se pretende que seja compreendido. Os membros As demandas de oitivas são constantes junto
da sociedade de ter um serviço de qualidade. Dessa a) um deve ser necessariamente da Comissão assumem, portanto, um lugar de escuta a COE, e ocorrem, em média, duas vezes ao mês.
forma, os Conselhos são instituições que recebem membro da Comissão de Ética; determinante no processo. Esta é uma oportunidade ímpar de aprendizagem e
denúncias de usuários da Psicologia, e é a serviço deles de contribuição para com a sociedade e a categoria.
que os CRPs trabalham (CFP, 2007). É importante b) todos devem estar regularmente Encerrada a oitiva, é aberto prazo para alegações Manifeste seu interesse e traga outros Psicólogos
considerar que a função de defesa e proteção dos inscritos no CRP; finais para que, em seguida, ocorra o julgamento colaboradores com você.
profissionais cabe aos Sindicatos. Ao CRP cabe a propriamente dito. O processo completo resulta
c) os convidados devem estar em um tempo relativamente longo, mas que preza
proteção e a garantia de que a profissão seja exercida
preferencialmente ligados à área do fundamentalmente pela garantia de que ambas as partes
conforme padrões de qualidade ética.
caso em questão. manifestem-se e que haja o maior volume de provas
O CPD vem garantir que o CRP lide com cada EDITAL DE CONVOCAÇÃO
caso de suspeita de infração da forma mais uniforme
e segura possível, respeitando o direito de cada parte
ASSEMBLEIA GERAL ORÇAMENTÁRIA
em colocar sua condição na história apresentada, em
respeito ao princípio do contraditório. A Comissão de
O Presidente do Conselho Regional de Psicologia do
Ética, responsável principal por aplicar o CPD, segue a Paraná (CRP-PR), cumprindo as determinações que lhe são
letra do que ali é colocado e pouco pode fugir de seus conferidas pela Lei 5.766 de 20 de dezembro de 1971, convoca
preceitos. A atual gestão do Conselho tem prezado os Psicólogos do Estado do Paraná para a ASSEMBLEIA
por tornar esses procedimentos os mais transparentes GERAL ORÇAMENTÁRIA, a ser realizada no dia 13
possíveis. de setembro de 2014, na sede do CRP-PR, na Avenida São
José, 699 – Cristo Rei, nesta capital e Estado, às 16h00, em
Conforme já foi exposto anteriormente na primeira convocação com 2/3 (dois terços) de seus membros,
Coluna da COE (Revista Contato, ed. nº 90), há todo e às 16h30, em segunda convocação com qualquer número
um procedimento a ser seguido na apuração dos fatos de Psicólogos presentes, com a seguinte Ordem do Dia: a)
apresentados em uma denúncia. A fase preliminar prestação de contas; b) proposta orçamentária para 2015; c)
consiste no recebimento da representação, nos pedidos fixação da anuidade para o exercício de 2015; d) fixação de
de esclarecimentos prévios ou exclusão liminar e, em emolumentos, serviços e tabela de multas e taxas; e) reformas
seguida, na leitura do relatório preliminar em plenária, em geral da Sede e Subsedes.
10 ARTIGO ARTIGO 11

Mariita Bertassoni da Silva (CRP-08/00101)

ARTIGO
Tálita Cristiane Rodacki (CRP-08/17561)
momento de escolha e decisão, buscando que reflita é muito mais comum que não se consiga o emprego
sobre as diferentes dimensões que estão atuando nesse desejado logo no início da trajetória profissional, o que
momento específico. pode acabar gerando sentimentos de vulnerabilidade e
impotência, frustração e, ao mesmo tempo, esperança.
A vida profissional em geral e o ingresso
no mercado de trabalho em particular suscitam Por outro lado, do ponto de vista dos
Escolha profissional, trabalho empregadores, é exigido que o profissional saiba
inseguranças e ansiedades, levantando novamente
e empreendedorismo questões de identidade e de subjetividade que se administrar a própria atividade, sendo multifuncional
encontravam em calmaria. O receio de ingressar e assumindo a responsabilidade por seu crescimento
no mercado, cada vez mais competitivo e contando profissional e pessoal (Dias; Soares, 2009). Isso por si só
com mais profissionais qualificados devido ao acesso representa um desafio, visto que hoje não se pode falar

O
trabalho, um fenômeno que estrutura o psiquismo humano, facilitado ao ensino superior e profissionalizante, em um mercado de trabalho estável, em uma carreira
trata-se de uma fonte de dignidade e estabilidade pessoal dentre outras razões, pode fazer com que os jovens estável e nem, consequentemente, em um planejamento
e familiar, promovendo o crescimento econômico e o sintam necessidade de se especializar cada vez mais, estável de carreira. Isso é por si só, um luto.
desenvolvimento pessoal. Através ele, o indivíduo, em de modo que muitas vezes os mesmos passem a ser O luto saudável, segundo Bohoslavsky (1982),
constante desenvolvimento, pode estruturar sua identidade, seja ela considerados “estudantes profissionais”, possuindo é elaborado em um processo composto por etapas de
pessoal, profissional ou social. O fenômeno do trabalho, em relação muito conhecimento teórico e pouco conhecimento lamentação, em que o indivíduo reflete sobre aspectos
ao indivíduo, está inserido em uma ampla esfera, em que molda e é prático (Dias; Soares, 2009; Valores; Selig, 2010). que poderiam ter sido diferentes em sua trajetória,
moldado por diversos fatores, tais como vida pessoal, familiar, social, Na entrada para o mercado de trabalho, as decepção e desesperação, em que o indivíduo conclui
momento histórico e político da sociedade em que vive (Bohoslavsky, influências (da família, de professores, de amigos, da padrões antigos de comportamentos, o que faz com
1982; Lassance; Sarriera, 2012; Duarte, 2013). mídia) são fortes, assim como as expectativas (próprias, que reexamine seus valores, ideologias e relações.
da família, de amigos) sobre o jovem. Essas expectativas A última etapa do processo de luto é a de separação,
Em oposição ao que era vigente até poucas décadas atrás, exige-se do entre si mesmo e aspectos de si mesmo que o sujeito
em relação ao futuro se mostram muito próximas para o
trabalhador um planejamento cuidadoso, que envolve não só sua carreira, jovem adulto, pois a ele cabe, agora, ser um profissional deixa para trás.
mas todas as esferas anteriormente mencionadas. Tal planejamento de sucesso, cumprindo principalmente a pressão própria O diploma de um curso superior ainda é
deve levar em consideração o fato de que o mercado de trabalho atual para dar à família um retorno quanto ao investimento um dos principais meios de inserção do mercado de
exige um comportamento denominado “empreendedorismo”, ou seja, com sua formação. trabalho. Porém, mais do que um diploma, o indivíduo
o próprio indivíduo cria seu espaço no mercado de trabalho, sendo ele que busca sua inserção deve apresentar dinamismo,
o único responsável direto pela efetivação de seus planos de carreira e Precisamente nesse ponto de saída do
ensino superior ou profissionalizante e ingresso no criatividade, flexibilidade, iniciativa, pró-atividade
de suas metas quanto ao futuro (Luna, 2012; Duarte, 2013). e empreendedorismo – características consideradas
mercado de trabalho é chegado o momento de o jovem
Bohoslavsky (1982) chama atenção para a crise de identidade na estabelecer para si um projeto de carreira, driblando essenciais principalmente por grandes empresas – que
adolescência: o adolescente comumente se encontra desestruturando e uma insegurança permanente (Dias; Soares, 2009). O cada vez mais parecem procurar funcionários ótimos.
reestruturando seu próprio mundo interior e suas relações com o mundo planejamento da vida depois da graduação é inédito, No entanto, o diploma superior não garante vaga no
visto que não se tem isso durante a faculdade como mercado de trabalho e, atualmente, faz sentido apenas
à sua volta. A partir dessa análise, propõe-se que o jovem adulto em fase
aprendizado, e a grande maioria dos jovens não sabe na medida em que é a base formadora da carreira futura
de egressão de uma universidade encontra-se em um processo semelhante
como efetivar um planejamento. Esse planejamento do jovem. (Luna, 2012; Dias; Soares, 2009).
de desestruturação e reestruturação de quem ser e o que fazer.
é subjetivo, visando estabelecer etapas para alcançar Dias e Soares (2009) argumentam que a escolha
Se antigamente bastava nascer em uma determinada família metas que também devem ser definidas, descritas, e não profissional é uma tarefa constante na vida das pessoas,
para assumir sua profissão, ou então ser empregado em uma determinada mais genéricas, como “ter sucesso”. Nesse exemplo, o principalmente dos jovens, visto que a universidade
empresa para ter segurança e projeto de carreira definidos, atualmente a jovem deverá responder, para si mesmo, o que é “ter é um local onde o indivíduo começa a refletir o que
construção de projetos próprios é imperativa. É necessário que o jovem, sucesso”. E durante o planejamento há oscilação entre quer em relação à sua formação profissional. Quando
hoje, antecipe ações, realize escolhas, estabeleça metas, lance-se em otimismo e pessimismo. Há um atrito constante entre inseridos na universidade, os jovens podem deixar de
busca de seus objetivos. Como explicam Almeida e Magalhães (2011), aquilo que o jovem gostaria de fazer e aquilo que deve lado suas crenças e identificações, e se aprofundar mais
conceitos de autonomia e liberdade substituem a tradição, exigindo fazer, levando em conta o que pede o mercado. na realidade que é mostrada em seus cursos e estágios,
constantes tomadas de decisão em todas as esferas da vida, a fim de que Dias e Soares (2009) elucidam o abismo momentos em que realmente têm contato com o dia
o lugar do sujeito na sociedade seja definido. Os projetos profissionais existente entre a formação universitária e o mercado a dia da profissão que escolheram. Percebem, então,
fazem parte de um processo mais amplo, de maturação. Dinâmicos e de trabalho, ou seja, entre o saber teórico e o saber que a escolha profissional não está definida, mas que
sujeitos à ação de outros atores, os projetos constituem uma forma de prático. Quando se depara com o saber prático, o jovem existe ainda um enorme leque de possibilidades à sua
preparação do indivíduo para seu futuro, e nesse ponto é importante pode sentir sua identidade profissional se fragilizar. Na frente, com educação continuada, especializações e
deixar claro o papel do orientador profissional: auxiliar o jovem no busca por empregos, pode haver desmotivação, já que possibilidades de estágio e emprego em diferentes
12 ARTIGO ARTIGO 13

campos e áreas de atuação. Essas escolhas necessitam uma reestruturação produtiva no mercado de trabalho na
ser assumidas, e o jovem, por sua vez, deve se década de 1990, com o neoliberalismo: a globalização,
responsabilizar por elas. aliada à evolução tecnológica, tem contribuído para o
aumento da competitividade tanto entre indivíduos
Dias e Soares (2009) explicam que, assim como
quanto entre empresas, transformando o mercado de
o diploma universitário não é mais garantia de colocação
trabalho e, consequentemente, contribuindo para o
no mercado de trabalho, a própria universidade não
aumento da exclusão social (Luna, 2012).
é mais garantia, atualmente, de que seja ela própria
capaz de preparar os jovens para o mercado, em uma Pode-se dizer que o trabalho, na sociedade
sociedade em constante transformação. É nesse ponto ocidental, sempre foi – e ainda é – sinônimo de
que entram os estágios, funcionando como ponte independência, autonomia e ascensão social. Uma
necessária ao abismo entre o conhecimento acadêmico falha nesse ponto, caracterizada pelo desemprego, pode
e o conhecimento do dia a dia profissional. O jovem gerar sentimentos depressivos e de ansiedade, tédio e
pode, assim, adquirir experiência e responsabilidade. falta de interesse condizentes com vazio existencial. É
precisamente nesse ponto que entra o que é chamado
O trabalho é um fenômeno estruturante do
de empregabilidade: na falta de vagas de trabalho em
psiquismo humano, na medida em que possibilita
sua área de atuação, o indivíduo aceita procurar outras
formar uma identidade pessoal, laboral e social,
fontes de renda (Luna, 2012; Dias; Soares, 2009).
contribuindo para que o indivíduo obtenha realização
e reconhecimento, além de remuneração e ampliação Do profissional é exigido que saiba gerenciar
em suas relações sociais, demarcando sua diferença a própria vida profissional, sendo versátil, polivalente
perante a sociedade (Bohoslavsky, 1982). e assumindo o planejamento de seu crescimento
profissional e pessoal. Para tanto, é necessário que
De acordo com Lassance e Sarriera (2012), o
o jovem trabalhador possua coragem para enfrentar
trabalho, assim como qualquer das esferas que fazem
as incertezas sociais e do mundo do trabalho, que
parte da constituição da identidade, não deve mais ser
tenha iniciativa e que seja empreendedor, fazendo
tratado como uma coisa isolada: está inserido em um
uso de habilidades comunicativas, de humildade e
amplo conjunto de outras esferas, que se influenciam
perseverança (Dias; Soares, 2009). Essas exigências
mutuamente, estando sujeitas a variáveis contextuais.
são colocadas para o jovem como valores estritamente
Luna (2012) elucida que há muito o valor necessários, e este pode se sentir desnorteado, sabendo
derivado do trabalho não mais está associado às tarefas que, embora possua muitas dessas características e
ou às conquistas que foram realizadas, mas à adesão possua também as oportunidades para desenvolver
por parte do trabalhador a uma visão ou filosofia outras, ainda é um ser humano e, como tal, imperfeito
que leva em consideração certos comportamentos e e incapaz de ser multifuncional, multitarefa e mais
princípios compartilhados entre indivíduos, instituições outros “multi” o tempo todo. Nesse ponto, o trabalho
e organizações. pode sim parecer assustador.
O autor esclarece que o modelo socioeconômico Na sociedade ocidental atual e na sociedade
atual está em oposição ao que era vigente até pouco mais brasileira em particular, há um fator mais importante
da metade do século XX, ou seja, o modelo taylorista- do que a satisfação: a manutenção da busca por
fordista de produção. Este, na visão do autor, é substituído satisfação. Levando em consideração que muitas
pelo que chama de “cultura empreendimentista”, que se situações são passageiras, que o ritmo do mundo atual
desenvolve em paralelo ao individualismo competitivo. está cada vez mais rápido e o conceito de liberdade, é
Luna pontua que empreendedorismo não é sinônimo posto por Valore e Selig (2010) que não existe muita
de profissão, devendo os profissionais que trabalham tristeza ou luto em se deixar algo de lado em um
com orientação profissional e planejamento de carreira determinado momento, pois é possível retomar a
levar em consideração essa distinção em suas práticas escolha em outro momento, retornando ao que foi
de orientação. deixado para trás. Dessa forma, a tristeza e o luto
se deslocam para a escolha em si, pelo fato de ser
É esclarecido que, em nossa sociedade, o necessário realizar tantas escolhas o tempo todo,
desemprego está presente mesmo nas camadas outrora pensando e pesando excessos de possibilidades e
mais favorecidas, compostas por pessoas escolarizadas, desejos que, de certa forma, não podem ser saciados.
experientes e jovens. Isso ocorre como consequência de
14 ARTIGO CAPA 15

É de comum acordo, principalmente entre os Torna-se necessário, portanto, ao orientador


jovens, que a capacidade de adaptação tem mais valor profissional, estudar as novas (quiçá já velhas)
do que a aquisição ou a manutenção de um emprego. configurações em termos das esferas sociais, familiar,
Dessa forma, tem-se que o fator individualização possui política, ocupacional, dentre outras, para que possa
maior peso como fatalidade, não sendo, portanto, uma ser definido, para cada cliente a ser atendido, um
escolha de fato: se acredita que a responsabilidade pela panorama para a atuação em reorientação profissional
aquisição de um trabalho ou emprego é exclusiva do e desenvolvimento de carreira, que abarque a inserção
indivíduo, automaticamente se isenta a elite (governo, em um mundo laboral em constante movimento e
instituições, organizações) da responsabilidade pela transformações.
oferta de empregos (Valores; Selig, 2010).
Na prática profissional, e também na literatura, *Mariita Bertassoni da Silva é Psicóloga, Orientadora
observa-se que não é clara a posição dos próprios Profissional e Coordenadora da Comissão de Psicologia
indivíduos, recém-formados ou não, sobre a pró- Escolar/Educacional do CRP-PR.
atividade e o próprio empreendedorismo, uma vez *Tálita Cristiane Rodacki é Psicóloga, Orientadora
que não é o curso profissionalizante ou a profissão Profissional e Colaboradora da Comissão de Psicologia
em si, ou por si, que dará ao indivíduo a colocação Escolar/Educacional do CRP-PR.
no mercado de trabalho.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Maria Elisa G. G.; MAGALHÃES, Andrea Seixas. Escolha profissional na contemporaneidade: projeto individual e projeto
familiar. Revista Brasileira de Orientação Profissional, vol.12, n.2, São Paulo, jul.-dez. 2011. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.
php?pid=S1679-33902011000200008&script=sci_arttext>. Acesso em 24 jul. 2014.
BOHOSLAVSKY, Rodolfo. Orientação vocacional: a estratégia clínica. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1982.
DIAS, Maria Sara de Lima; SOARES, Dulce Helena Penna. Planejamento de carreira: uma orientação para estudantes universitários. 1.ed.
São Paulo: Vetor, 2009.
DUARTE, Maria Eduarda. A vida da orientação na vida do século XXI: constrangimentos e desafios. Revista Brasileira de Orientação Profissional,
vol.14, n.2, São Paulo, dez. 2013. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902013000200002&lng=p
t&nrm=iso>. Acesso em 24 jul. 2014.
LASSANCE, Maria Célia Pacheco; SARRIERA, Jorge Castellá. Saliência do papel de trabalhador, valores de trabalho e desenvolvimento
de carreira. Revista Brasileira de Orientação Profissional, vol.13, n.1, São Paulo, jan.-jun. 2012. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.
php?pid=S1679-33902012000100007&script=sci_arttext>. Acesso em 23 jul. 2014.
LUNA, Iúri Novaes. Empreendedorismo e orientação profissional no contexto das transformações do mundo do trabalho. Revista Brasileira de
Orientação Profissional, vol.13, n.1. São Paulo, jun. 2012. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-33902012000100012&script=sci_
arttext>. Acesso em 24 jul. 2014.
VALORE, Luciana Albanese; SELIG, Gabrielle Ana. Inserção profissional de recém-graduados em tempos de inseguranças e incertezas. Estudos e
Pesquisas em Psicologia, UERJ, RJ, ano 10, n.2, 2010. Disponível em: <http://www.revispsi.uerj.br/v10n2/artigos/pdf/v10n2a07.pdf> . Acesso em 23 jul. 2014.
Anúncio Revista - SetembroOutubro 2014_laranja.pdf 1 14/08/2014 12:42:47

CURSO DE
TERAPIA INDIVIDUAL E FAMILIAR SISTÊMICA A PSICOLOGIA
E O SAGRADO
INÍCIO: 28 de março de 2015

CURSO DE
TERAPIA DE CASAL INSCRIÇÕES E INFORMAÇÕES
Inscrições abertas.
INÍCIO: 21 de março de 2015 Fone/Fax: (41) 3338.8855
Celular: (41) 9861.4873
Rua Tapajós, 577 | São Francisco CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS ENTRE CIÊNCIA E FÉ
Cep: 80510-330
intercef@intercef.com.br CURITIBA - PARANÁ
www.intercef.com.br CRP 08-PJ/00215
16 CAPA CAPA 17

A
relação da Psicologia com práticas Sendo assim, o Psicólogo pode e deve epistemológica ou a uma diferenciação social/
religiosas é, sem dúvida, algo que gera considerar a dimensão espiritual ao li- psicossocial. Do ponto de vista epistemológico,
muita polêmica, tanto no meio acadêmico dar com o ser humano, sem, no entanto, podemos responder que, sendo a Psicologia uma
quanto no profissional, deixando espaço impor esses valores como caminho único ciência, ela não irá se pronunciar sobre a natureza
para dúvidas, confusões e desentendimentos. Na ao paciente, inclusive porque, conforme do sagrado ou do transcendente, mas sobre o
academia, existem inúmeros estudos que se dedicam alguns achados empíricos mostram, pa- comportamento do indivíduo frente ao sagrado.
a refletir sobre as interfaces da Psicologia com o cientes podem adotar alguns valores dos A existência do transcendente é, desse ponto de
Sagrado e todas as implicações e repercussões que psicoterapeutas (especialmente valores vista, algo da alçada da religião e não compete ao
surgem dessa associação. Já no que diz respeito morais, religiosos e políticos), revelando Psicólogo respondê-la (ao menos enquanto ele exerce
às normas que regem a atuação profissional sérios problemas éticos, tais como: re- a função de Psicólogo). O máximo que compete a
da Psicologia, é papel do Conselho Federal de dução da liberdade do cliente, violação um Psicólogo é investigar, em termos científicos,
Psicologia (CFP) e suas Regionais, regular a prática do contrato terapêutico e perda da neu- se as alegações de algumas pessoas indicariam a
dos Psicólogos(as) e garantir que a aplicação dessa tralidade do terapeuta (Tjeltveit, 1986). existência de alguma anomalia científica, alguma
ciência, acima de tudo, respeite, preserve, defenda Com atenção aos princípios éticos e informação nova acerca de nossa compreensão da
e promova os direitos humanos de todo indivíduo. técnicos, a associação entre religiosi- mente e do comportamento humanos (como o fazem
dade e Psicologia pode ser profícua e a Parapsicologia e a Psicologia Anomalística), o
Paula Matoski Butture (CRP-08/12879), deve ser estudada, no entanto, nunca que é bem diferente de atestar uma doutrina ou
Psicóloga Conselheira do CRP-PR e atual presidente pode ser tratada como solução mágica crença religiosa em particular. Todavia, as relações
da Comissão de Orientação e Ética (COE), redigiu ou definitiva. É preciso ter sempre em entre Psicologia e Sagrado se tornam muito mais
um texto em que destaca o compromisso ético que mente que o diálogo é o caminho. cambiantes e negociáveis quando nos deparamos com
o profissional deve sempre manter: o tema de uma perspectiva social ou psicossocial”.
Para apresentar alguns pontos de vista sobre
Quais são os limites éticos entre Psico- esse assunto, a reportagem da Contato entrevistou Guilherme Falcão (CRP-08 04130), Psicólogo
logia e religião na atuação profissional quatro Psicólogos estudiosos desse tema com o atuante na Logoterapia, acredita que nas linhas de
do Psicólogo? intuito de colher depoimentos que apresentassem pensamentos existencialistas e humanistas há uma
posicionamentos críticos sobre o assunto. abertura maior para a investigação da Psicologia,
Cabe ao Sistema Conselhos de Psicolo- da Teologia e da fé. Para ele, a polêmica gerada na
gia como atividade precípua: “orientar, Nosso primeiro entrevistado foi Alessandro associação entre Psicologia e o Sagrado acontece
disciplinar e fiscalizar o exercício da Shimabucuro, estudioso da Psicologia Transpessoal, por falta de informação. “Infelizmente se constata
profissão de Psicólogo e zelar pela fiel que expõe seu posicionamento a respeito da relação que nas faculdades de Psicologia há um descaso
observância dos princípios da ética e dis- entre a Psicologia e o Sagrado: “Profissionalmente, com o estudo da religião, preconceito que vem de
ciplina da classe”, conforme expresso na a Psicologia se relaciona com o tema do Sagrado a décadas no Brasil. Já participei de eventos científicos
Lei nº5.766/71. O Código de Ética, que partir de dois prismas principais: o da clínica e o da na América Latina em que ouvi palestras nas quais
estabelece o valor supremo da práxis do pesquisa. Do ponto de vista clínico, é preciso que o foram citados textos bíblicos em meio a científicos.
Psicólogo(a), declara, em seus Princípios Psicólogo esteja preparado para lidar com questões Aqui no Brasil há uma formação precária quanto
Fundamentais, Item II, que: “O Psicólogo religiosas e espirituais quando estas surgem em a essa questão. Já no meio religioso, há grupos nos
trabalhará visando promover a saúde e a enquadre terapêutico. Ou seja, ele tem que saber quais há Psicólogos atendendo na própria igreja,
qualidade de vida das pessoas e das coleti- lidar com as situações que aparecem sem impor geralmente um trabalho voluntario que beneficia
vidades e contribuirá para a eliminação de a sua própria crença sobre a do paciente. Crenças a população, mas há outros grupos que perpetuam
quaisquer formas de negligência, discrimi- religiosas possuem particularidades que não podem uma rejeição à Psicologia e à Psiquiatria, em
nação, exploração, violência, crueldade e simplesmente ser reduzidas a aspectos psíquicos que se espiritualiza tudo. São desinformados e
opressão”; em seu Art. 2º: “Ao Psicólogo diversos. Aí entra o segundo aspecto, o da pesquisa”. preconceituosos. Daí há polêmicas irracionais, de
é vedado: b) Induzir a convicções políticas, um lado e de outro”.
filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, Aprofundando ainda mais essa questão, temos
de orientação sexual ou a qualquer tipo de o depoimento do Psicólogo Everton de Oliveira A Psicóloga Silvia Baptista (Wya Poty)
preconceito, quando do exercício de suas Maraldi (CRP-06/ 94052), mestre e doutorando em (CRP-08/ 08572), especializada em Psicologia
funções profissionais”; e no Art. 20: “O Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da do Corpo, explica como ela, em sua prática
Psicólogo, ao promover publicamente seus Universidade de São Paulo (USP), que é contundente profissional da Psicologia, incorpora aspectos do
serviços, por quaisquer meios, individual na sua resposta: “Isso é algo necessariamente Sagrado: “Minha intenção e prática profissional que
ou coletivamente: e) Não fará previsão complexo, porque depende de como observamos a interliga Psicologia e aspectos do Sagrado está muito
taxativa de resultados”. questão, isto é, se recorremos a uma diferenciação relacionada à compreensão de Alexander Lowen
18 CAPA CAPA 19

(Bioenergética) sobre o fluxo de vida pulsando movimento claro para integrar aspec- tórias vivenciadas em nível individual
dentro do corpo. Sendo liberadas e elaboradas tos revelados a partir de suas diversas já estavam retratados nos mitos arque-
as tensões físicas, emocionais e mentais, e sendo perspectivas (linhas teóricas). Assim, típicos. Talvez por isso o interesse de
estimulada a expressão espontânea dos conteúdos por exemplo, o Behaviorismo tende a Jung pela Alquimia, pois ela é totalmen-
simbólicos da pessoa, a bioenergia é capaz de fluir não considerar o Sagrado como “objeto te simbólica e se refere diretamente a
pelo corpo, gerando sentimentos de paz, vitalidade, próprio”. Há um conceito de Skinner, processos psicológicos de crescimento,
confiança, graciosidade. A confiança em si mesmo “mentalismo”, que tende a negar mesmo desenvolvimento e maturidade pessoais.
(quando identificada com a essência) é a confiança no aquilo que chamamos popularmente Nos níveis mais maduros, a questão do
universo. Somos um todo unificado que é expresso de de “mente”. Por tabela, esse conceito Sagrado se faria presente. Sua obra
diferentes formas. Abrir um diálogo com o Sagrado, também nega legitimidade para concep- magna nesse aspecto, Mysterium Co-
com o fluxo energético que está vivo dentro do ções de camadas inconscientes no ser niunctionis, é extremamente densa e
corpo e da mente, é estar em contato com a essência humano (classicamente falando). Para difícil. Aliás, nunca vi um curso aca-
de todas as coisas. Essa é uma compreensão que a Psicanálise, tudo aquilo vinculado ao dêmico de Jung que tivesse abordado
apenas pode ser adquirida pela experiência. Em Sagrado e à religião são reduzidos a essa obra ou tivesse se aprofundado na
minha prática profissional utilizo diferentes técnicas movimentos compensatórios do ego, ou questão alquímica estudada por Jung...
corporais, psicológicas e energéticas para favorecer seja, projeções de toda sorte frequen- isso é curioso. Já na Psicologia Trans-
essas experiências e a consequente compreensão temente carregando catexias relativas pessoal, a possibilidade do Sagrado
dessas realidades”. à figura paterna. Aliás, Freud é bem existe em todo ser humano também,
honesto nesse aspecto, ele afirma no ainda que exista uma diferença entre
Sobre a definição de o que significaria “Mal-Estar na Civilização” que não religião institucionalmente entendida e o
o termo ‘Sagrado’, Maraldi explica se tratar de reconhece em si próprio essa tendência sagrado propriamente (que estaria mais
algo bastante fluído e difícil de se demarcar em religiosa e a tal “experiência oceânica” próximo do espiritual). Para a Trans-
relação a outros conceitos, mas explicita uma de seu amigo poeta poderia ter então pessoal, existem conteúdos puramente
diferença entre religiosidade e sagrado. “Muitos uma explicação psicanalítica. Em Jung, psíquicos, relativos ao ego, mas também
se contentam em definir religiosidade e Sagrado o Sagrado ganha um campo próprio, questões que claramente transcendem o
como coisas sinônimas, e não se pode negar que não absolutamente redutível aos as- ego individual e por isso seriam trans-
sejam temas profundamente relacionados, mas há pectos psíquicos e/ou comportamentais pessoais. Em seu livro “A Psicologia
também quem defina Sagrado como tudo o que de reforço e punição. Na Psicologia do Futuro”, Stanislav Grof realiza uma
transcende a condição humana, quer tenha caráter Analítica, existe uma dimensão psíqui- revisão de toda a sua obra e, com isso,
religioso ou não. É assim que se dá, por exemplo, ca, caracterizada pelos mecanismos do nos fornece uma interessante síntese
o culto dos antepassados em alguns povos, que é ego, já evidenciadas anteriormente por dessa perspectiva.
algo considerado Sagrado. Em nossa sociedade, Freud. Claro que esses aspectos acabam
há também quem diga que a valorização da vida é influenciando a questão do Sagrado no Como a discussão sobre a interface entre a
Sagrada ou que o amor é Sagrado. Observa-se, assim, ser humano, mas Jung alerta que, para Psicologia e o Sagrado é ampla e contínua, poucas
nessas definições, certo desprendimento do Sagrado além das camadas do ego e do incons- são as conclusões fechadas que os pesquisadores
em relação ao que é puramente religioso, ou, mais ciente pessoais, existiria no ser humano chegam ao tema e muitos são os pontos de discussão
especificamente, ao aspecto doutrinário e prático uma dimensão mais ampla, ao mesmo que se abrem e possibilidades de reflexão e crítica.
das religiões. O Sagrado é hoje um conceito que tempo mais elevada e mais profunda: o No entanto, ao que se refere à prática profissional
se articula, ainda, à noção cambiante e igualmente inconsciente coletivo. Possuindo como da(o) Psicóloga(o), a breve compilação de entrevista
fluida de espiritualidade, que concede espaço para conteúdo os arquétipos, tal dimensão que realizamos aqui pôde demonstrar justamente o
uma religiosidade mais individual, relativamente psíquica, que seria também transpessoal que Baptista, com suas próprias palavras, defende:
independente de contextos e instituições religiosas (mas não necessariamente metafísica), “Com todo o respeito às diferentes formas de se
específicas”. poderia conter uma simbolização pró- compreender Deus e o Sagrado, acredito que, na
pria para a imagem de Deus (O Self ligação direta com a Psicologia, deve-se prevalecer
Sobre o que seria próprio de estudo do campo com “S” maiúsculo). Assim, na visão de o bom senso (já que seria precoce estabelecer
do Sagrado e próprio da Psicologia, Shimabucuro Jung, a Psicologia continha a possibili- regras precisas) e, paralelamente, considerar o
argumenta: dade do Sagrado ou dizendo de forma entendimento espiritual do cliente. O profissional
mais exata, a própria Psicologia era, pode e deve respeitar suas próprias crenças, porém,
A Psicologia, diferentemente da Físi- de certa forma, derivada da questão acima de tudo, manter um profundo respeito pelas
ca, não possui uma teleologia de uni- do Sagrado, pois diversos dramas e formas como o cliente se conecta (ou não) com o
ficação de campo, ou seja, não há um impasses, bem como superações e vi- Sagrado”.
20 MATÉRIA MATÉRIA 21

PSICOLOGIA E
O
profissional que se forma em Psicologia
costuma ter três opções para atuar no
Para auxiliar especificamente os profissionais da

EMPREENDEDORISMO
mercado: conseguir um emprego em uma
organização, passar em um concurso área de Saúde, o Sebrae-PR criou o programa
público ou atuar de maneira empreendedora, afinal, Pró-Clínica, que oferece treinamento e consultoria
sob diversos aspectos, o Psicólogo autônomo também para que esses autônomos estruturem e organizem
pode ser considerado empreendedor.
A REFLEXÃO E A PRÁTICA EMPREENDEDORA NA PROFISSÃO suas clínicas (www.sebraepr.com.br).

O empreendedorismo, termo muito ligado ao


mundo da administração e dos negócios, também
encontra lugar na Psicologia visto que, além de ser
uma ciência, esta é também uma profissão, e dentre
Turma de valor
as diversas relações que estabelece, está a de prestador
de serviço ao cliente. São várias as definições para O projeto Turma de Valor foi criado em 2010
as palavras “empreendedor” e “empreendedorismo”, e consiste em um jogo, em formato de histórias em
cada área, teórico e vertente de pensamento apresentará quadrinhos, que foi criado para crianças de nove a 12
variações e poderá discorrer e debater intensamente as anos de idade no ambiente escolar. O jogo funciona da
interpretações e aplicações do tema. seguinte forma: seis personagens são apresentados à
criança; depois de ler a descrição das características
Conversando com a consultora do Sebrae-PR, que compõem cada um destes, o aluno elege um que
Simone Millan Shavarski, a reportagem da Contato irá lhe representar (sendo seu avatar) e então começa a
pediu que ela nos apresentasse uma definição: “Para ler a história em quadrinhos; durante a leitura, surgirão
o Sebrae, o empreendedor tem como característica situações em que a criança terá de realizar escolhas para
básica o espírito criativo e pesquisador. A essência do dar continuidade à atividade, provocando alterações
empresário de sucesso é a busca de novos negócios e na história e alcançando resultados diferentes com seu
oportunidades e a preocupação sempre presente com a avatar. Toda decisão tomada pelo aluno é discutida em
melhoria do produto ou serviço. Enquanto a maior parte sala de aula. O objetivo do projeto é que os educadores
das pessoas tende a enxergar dificuldades e insucessos, não digam se as atitudes foram certas ou erradas, mas
o empreendedor deve ser otimista e buscar o sucesso, que promovam um ambiente em que o pensamento
apesar das dificuldades”. crítico e a reflexão sejam valorizados e estimulados
entre os alunos.
Na visão da consultora, mesmo o consultório
de atendimento psicológico precisa ser encarado e O Psicólogo Antonio Celso Rezende Garcia
gerenciado como uma empresa. Ela explica que de (CRP-08/13884), criador do Turma de Valor, conta
acordo com o SEBRAE, ainda que um Psicólogo trabalhe que a ideia de desenvolver esse projeto nasceu de um
sozinho em seu consultório, ele precisa conseguir enorme desconforto pessoal. O profissional atua na área
administrá-lo como uma empresa, havendo sempre de Treinamento e Desenvolvimento de Pessoas e ao
a necessidade de planejamento e controle. “Eu diria reconhecer que muitas das demandas das organizações
que o Psicólogo tem que dedicar um tempo por dia ao em relação a candidatos e funcionários não eram
gerenciamento do negócio. Pode ser 10 minutos diários, possíveis de serem atendidas por haver problemas básicos
mas nesse tempo, deve olhar as questões referentes ao na formação desses sujeitos quanto ainda eram crianças
ambiente físico, atendimento, clientes, finanças. Mesmo percebeu essa necessidade. “Isso não acontece apenas no
que seja um tempo restrito, mas que seja todos os dias, que tange à transferência de conteúdos escolares, mas
é possível ter um gerenciamento eficiente. Conhecer também no que diz respeito à formação para o convívio
quanto se ganha e quanto se gasta é fundamental em social. A família vem apresentando grandes dificuldades
qualquer negócio”. diante das demais instâncias de constituição dos sujeitos
22 MATÉRIA MATÉRIA 23

em sociedade. Cada vez mais estamos sujeitos a uma colega desenvolveram ainda na faculdade, pesquisando só então, depois de testado e aperfeiçoado, oferecer o sua maior vocação não era atuar como terapeuta. Na
racionalidade instrumental que nem sempre constrói hábitos de consumo do brasileiro, no qual decidiram serviço de forma comercial. faculdade, seu último estágio havia sido realizado
relações saudáveis”, afirma o Psicólogo. focar nas áreas em que acreditavam haver maior no Ministério Público, atendendo famílias de
investimento em publicidade: bebidas, telefonia celular “Era diferente nos anos 80, quando tínhamos dependentes químicos. Embora logo nessa época
Considerando todo o desenvolvimento e e automobilística. “A pesquisa, apesar de relativamente menos de meia dúzia de fabricantes no Brasil, cada ele já tivesse entendido que seu real potencial não
concretização do projeto Turma de Valor, que vem sendo amadora, rendeu resultados interessantes: cerca de 85% qual com uma opção em cada categoria. Naquela época, estava na área clínica, Raphael percebeu que poderia
aplicado de maneira não comercial em entidades sociais, dos entrevistados, quando questionados sobre as razões se você quisesse um carro pequeno, podia optar entre aproveitar todo o conhecimento que havia adquirido
perguntamos a ele sobre o que acredita ser necessário que os levaram a comprar determinado veículo, não quatro marcas diferentes. Hoje, são dezenas. Para quem e reformular suas atividades para algo que viesse de
para que um Psicólogo se torne empreendedor e Celso sabiam o que estavam comprando”, relata Douglas. não gosta, não tem tempo ou interesse na área, é muito encontro com suas reais motivações e expectativas.
responde reformulando nosso questionamento: “Talvez a difícil fazer uma escolha ponderada. Conheço muita “Sempre fui uma pessoa mais racional e exata. Se
melhor pergunta seja: ‘O que vem acontecendo no campo O Psicólogo explica que com conhecimento que gente com bom nível de experiência que se deixou levar eu insistisse na clínica ou em funções que exigissem
do trabalho para que Psicólogos se vejam obrigados a havia adquirido por conta da sua paixão por carros, pode pela famosa ‘conversa de vendedor’, levando pra casa mais relacionamento e subjetividade seria um fracasso.
empreender?’”. perceber que as respostas que os entrevistados davam um carro que é inadequado ao que a pessoa precisa. Meu Então, para mim, primeiro foi necessário reconhecer
nas entrevistas não correspondiam à realidade. “Por trabalho visa ajudar esse público, guiando a pessoa por isso, depois identificar o que eu tinha de bagagem que
Celso ressalta que o termo empreendedorismo exemplo, diziam ter comprado um determinado veículo todo o processo de escolha até encontrar o veículo mais poderia ser útil para a sociedade (que, no meu caso, foi
tem raiz na Economia, mas não se posiciona nem contra por este ser econômico, mas eu sabia que não era. Ou adequado para ela”. Douglas explica que a Psicologia o o conhecimento na área de drogas) e a convicção de que
nem a favor disto que explica ser um fenômeno social então temiam comprar determinado modelo porque ajuda a compreender o perfil do consumidor, quais seus eu queria trabalhar por conta própria, o que me levou
e não intrapessoal, “é resultado de um conjunto de era ‘importado’ e supostamente caro para ser mantido, desejos e necessidades, enquanto o conhecimento na a criar um modelo adequado às minhas necessidades
transformações sociais e é estabelecido dentro de uma mas se tratava de um modelo que já era fabricado no área automotiva o permite ajudá-la a fazer uma escolha e capacidades e que não me deixou – e ainda não me
lógica dominante, de um pensamento hegemônico”. Brasil há 17 anos!”. pensada e adequada às suas necessidades práticas e deixa – desistir quando a coisa aperta”.
Quanto a se reconhecer ou não como Psicólogo possibilidades financeiras.
empreendedor, Celso explica que não se vê como Depois de formado e com dificuldade de encontrar O trabalho que Raphael desenvolve atualmente
empreendedor dentro desse conceito econômico, visto emprego, Douglas se lembrou dessa pesquisa que havia Palestras – Prevenção ao consiste em apresentar palestras com o intuito de
que o projeto Turma de Valor não é comercial e não visa feito e, acostumado a ser sempre procurado por amigos uso de drogas capacitar pessoas sobre o tema drogas. Ele conta que
a obtenção de lucros. No entanto, diz que “se trabalhar e familiares para esclarecer dúvidas a respeito de carros, se dedica a estudar as dependências químicas em seus
por conta própria é empreender, se sonhar em realizar teve a ideia de se tornar consultor na área. Para dar aspectos biológicos, psicológicos, sociais, familiares e
algo de significância é empreender, então me classifico início às atividades, desenvolveu seu próprio processo Pouco antes de terminar a graduação em espirituais e “traduzir” esse conhecimento para uma
dessa forma”. E complementa: “Gostaria de dizer que e metodologia e ofereceu gratuitamente aos amigos para Psicologia, Raphael Mestres se deu conta de que linguagem que todos possam entender. “Meu objetivo
ninguém precisa ser empreendedor em nada na vida, é sempre tornar esse tema interessante e útil, pois é um
que isso que acreditamos ser uma “dádiva” que tem assunto que já está carregado de preconceitos e que as
adoecido muitas pessoas, uma vez que as sobrecarrega pessoas em princípio não querem ouvir muito sobre”.
de uma falsa expectativa de resultados. Ser feliz é muito
mais relevante!”. Até ser convidado para dar esta entrevista,
Raphael diz que não havia ainda se identificado como um
Consultoria Automotiva Psicólogo empreendedor – tão natural lhe pareceram ser
os rumos e as escolhas que fez. No entanto, ao apresentar
a visão pessoal que tem sobre o que é empreendedorismo,
Douglas Fernando Henrique de Oliveira (CRP- independentemente da área em que o profissional atue,
08/14896) conta que desde muito jovem tinha uma Raphael acredita que o ato de empreender vem de a
paixão por carros. Cresceu achando que um dia pessoa ter uma ideia de seu futuro profissional que
trabalharia com algo relacionado à área automobilística, não se encaixa exatamente em modelos já existentes
adorava ler e conhecer tudo que pudesse a respeito, no mercado e, dessa forma, esse sujeito precisa agir de
mas quando chegou a hora de escolher uma profissão forma convicta e minimamente organizada para seguir
estava fascinado pela Psicologia e escolheu esta como em direção do seu objetivo e superar as adversidades que
graduação. “Óbvio que não tardou até que entrasse para aparecerão no caminho. “Além disso, também considero
o Núcleo de Psicologia do Trânsito (NPT-UFPR), que empreendedor todo Psicólogo que sonha em viver da
era uma maneira de unir os dois interesses”, conta. Clínica e que persiste nesse caminho até conseguir se
estabilizar. Ele está criando seu próprio negócio a partir
A ideia de oferecer um serviço de consultoria de uma visão de futuro profissional. Ele não tem um
automotiva para quem está querendo adquirir um novo espaço pronto esperando por ele na sociedade, tem de
veículo teve origem em um trabalho que Douglas e um construir esse espaço.”
24 ARTIGO ARTIGO 25

A
Liliane Ocalxuk (CRP-08/15210)
Conselheira Secretária o assumir a gestão do CRP-PR, Reflexões iniciais que embasaram o
em 27 de setembro de 2013, o

UM MODO DIFERENTE DE grupo É Tempo de Diálogo iniciou


um movimento de aprendizagem
da dinâmica da autarquia em conjunto com
Planejamento Estratégico

O trabalho teve como premissa o

OLHAR A PROFISSÃO reflexões acerca do modo como implementar


os projetos traçados para atingir as mudanças
almejadas. Em pouco tempo, tinha-se a
entendimento de que o Planejamento Estratégico
não é uma solução pronta e de que o grupo precisa
ser um agente ativo durante todo o processo,
certeza de que era necessário “trocar os pneus o qual é dinâmico e deve ser constantemente
com o carro andando”, frase dita por nosso reavaliado.
O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA GESTÃO Conselheiro Bruno Jardini Mader, a qual criou
corpo em nossas discussões. O cenário estava Para as reflexões iniciais, tomou-se como
“É TEMPO DE DIÁLOGO” posto, uma autarquia com responsabilidades base o questionamento do professor sobre o modo
e afazeres a serem cumpridos junto com um como olhamos para a profissão de Psicologia
grupo com muitas ideias novas, ansiedade e e as possíveis consequências de cada modo de
vontade de mudar. olhar. Em uma primeira análise, descreveu a
maneira de encarar as possibilidades de atuação
Após alguns encontros, o gr upo da profissão a partir da noção de mercado
identificou a necessidade de ter momentos profissional, através desse entendimento as
específicos para discutir a gestão da autarquia, possibilidades de exercício profissional são
também ponderou por ter um mediador nesse restritas e as ofertas de emprego existentes ou
processo, por fim, a decisão do grupo foi de esperáveis.
realizar um Planejamento Estratégico com
um consultor externo. Assim, deu-se início De acordo com os estudos de Botomé
ao Planejamento Estratégico da atual gestão (1988), o ensino de Psicologia é delineado para
com a busca de um consultor para auxiliar formar profissionais e responder as demandas do
o grupo nas reflexões e ações almejadas. O mercado de trabalho, mas esses novos Psicólogos
consultor escolhido foi o Professor Doutor estão pouco preparados para empreender
Sílvio Paulo Botomé, que nos deu a honra de possibilidades de atuação. Consequentemente,
aceitar o convite. esse modo de olhar a profissão produz um
Conselho de Psicologia preocupado com o fazer
A escolha pelo professor Sílvio se deu do Psicólogo apenas nas áreas tradicionais de
devido a proximidade entre a sua proposta atuação e pouco preparado para responder as
de trabalho e a plataforma de campanha novas formas e lugares do fazer da Psicologia.
do grupo. Ao estudar nosso material de
campanha, o professor identificou que nossos Em um segundo modo de olhar, o qual
objetivos, enquanto grupo gestor da autarquia, não se restringe ao mercado profissional, mas,
extrapolavam os limites da fiscalização. “Vocês amplia-se, encontramos a noção de campo
indicam alguns aspectos além da fiscalização, de atuação profissional: “Campo de atuação
como a proteção do campo profissional, a profissional é definido pelas possibilidades de
promoção de ações educativas ou orientadoras atuação profissional, independentemente de
e a execução de medidas preventivas para essa “ofertas de emprego”. O que importa, neste caso,
proteção e consequente melhoria do campo com são as possibilidades de atuação (ou, mesmo,
ampliação e melhor definição e divulgação”, as necessidades de atuação) e não apenas os
disse o professor. empregos oferecidos.” (Botomé, 1988, p. 281).

De fato, em toda a campanha, destacou- A partir da diferenciação entre mercado


se a preocupação com o eixo orientação entre profissional e campo de atuação profissional,
categoria e a sociedade, sendo o diálogo a outra diferenciação teórica foi necessária.
ferramenta eleita para aproximar novamente Assim fomos convidados a refletir sobre dois
o CRP-PR dos Psicólogos paranaenses. termos: demanda versus necessidade.
ARTIGO
26 ARTIGO 27

A palavra demanda, segundo o dicionário e traz em seu bojo um critério de avaliação de Alguns dados sobre o nosso m) CRP-08 é pouco proativo na proble-
Aurélio, é a ação de demandar, o que por sua vez etapas diferenciado, denominado de critério Planejamento Estratégico matização e no acolhimento das questões
significa “pedir, reclamar, requerer, exigir”. Em relação móvel. Antes de apresentar o fluxo de etapas sociais;
à palavra necessidade, há algumas possibilidades de é importante descrever o que é isso: trata-se
significado como: “aspiração natural e muitas vezes de um critério usado para avaliar etapas para Transcrever todo o Planejamento Estratégico n) Falta de efetividade na agenda entre
inconsciente; o que é necessário; indigência, miséria; atingir objetivos, diferentemente do critério num breve texto é uma tarefa impraticável. A escolha gestão e poder público.
ter necessidade de, precisar; ter necessidade de alguém, metas, o critério móvel refere-se a fases ou de citar algumas das necessidades identificadas
de alguma coisa, sentir-lhe a falta; caso de necessidade, graus, assim a avaliação é em relação ao que pelo grupo parece ser a melhor, pois, retrata as A partir dos problemas descritos, inúmeras ações
caso de força maior; necessidades naturais, coisas avançou. De modo ilustrativo pode-se pensar preocupações centrais dessa gestão e serve de foram implementadas, algumas delas nomeadas como
indispensáveis à vida”. Observa-se que a palavra em uma gradação. O uso do critério metas pode embasamento para a categoria avaliar as ações Dialogando: “Dialogando no Paraná”, “Dialogando com
demanda está diretamente relacionada a ações que trazer frustração e desmotivação ao grupo, há empreendidas. Algumas das necessidades ou a Socioeducação”, “Dialogando no SUAS”, entre outras.
solicitam, por sua vez, a palavra necessidade, ambas apenas duas possibilidades, atingir ou fracassar problemas elencados: Essas ações têm como objetivo aproximar o CRP/08 e a
referem-se a coisas indispensáveis à vida, mas, que nem no alcance de uma meta. Por outro lado, o critério categoria através da escuta da realidade do profissional,
sempre são solicitadas e/ou nem sempre são conhecidas. móvel possibilita avaliar avanços no processo. a) Pouca integração da categoria com das discussões sobre marcos legais e éticos da categoria,
o CRP-PR. da integração entre os profissionais de uma mesma
Por tudo isso, conclui-se que, ao compreender a De forma ilustrativa, segue o fluxo de etapas região. Há ainda ações sendo feitas para efetivar o contato
atuação do Psicólogo apenas pela noção de mercado de proposto pelo Professor Botomé para realização b) Conhecimento insuficiente dos pro- entre a gestão da autarquia e o poder público, como,
trabalho, respondem-se apenas as demandas solicitadas de um Planejamento Estratégico: blemas da categoria em todo o Estado. participação em audiências públicas e no controle social
por um determinado grupo. Por outro lado, ao conceber a nas áreas relacionadas com a Psicologia. Em relação às
c) Pouca articulação entre profissionais Instituições de Ensino Superior, buscaram-se parcerias
profissão através do entendimento de campo de atuação, Cada uma das etapas do fluxo precisa ser
de diferentes regiões. para realização de defesas de dissertações de mestrado
o Psicólogo poderá trabalhar com as necessidades de periodicamente reavaliada, pois o contexto muda e
uma população, as quais são diversas, dinâmicas, por as necessidades, prioridades e viabilidades podem da área de Saúde Mental na sede do CRP-PR, com o
d) Comunicação insuficiente entre os objetivo de promover a disseminação de conhecimento.
vezes desconhecidas e que dependerão das relações ser alteradas. Os objetivos serão avaliados por graus
profissionais, as instituições e o CRP-PR.
instituídas em cada ambiente de vida. É com a segunda de realização e não por metas. Por exemplo, um
possibilidade de olhar que o grupo É Tempo de Diálogo dos objetivos da gestão é aumentar o número de Ainda há muito o que fazer, a Psicologia é
e) Pouco conhecimento da atribuição
se defronta e a escolhe para poder investir em ações que participação dos Psicólogos nos eventos do CRP- constantemente solicitada pela sociedade, há campos
de orientação do CRP-PR por parte da
analisem as necessidades da população de Psicólogos PR, uma avaliação por metas estabeleceria que, novos de atuação, há inúmeras temáticas complexas
categoria.
paranaenses, com o objetivo de contribuir para o como há em média uma participação de 30 pessoas como, as Práticas Alternativas e a relação entre a
desenvolvimento de uma Psicologia empreendedora e no evento “Quartas-feiras no CRP-PR”, o grupo f) Supervalorização da atribuição disci- Psicologia e o Sagrado. A gestão É Tempo de Diálogo
comprometida com uma atuação humanitária. tem como meta aumentar 30% desse público. Uma plinar e punitiva do CRP-PR. tem como objetivo colaborar no desenvolvimento da
avaliação por critério móvel avaliará se as ações de Psicologia e entende que os desafios postos à nossa
publicidade para o evento conseguiram aumentar g) Uso maior da fiscalização e orientação profissão só serão superados com a promoção de espaços
Como fazer um Planejamento o número de participantes, sem um marco para ser individuais em detrimento da orientação de diálogo e de produção de conhecimento, por isso,
atingido. Assim, a partir de intervenções que mudem à categoria, aos gestores e à sociedade. acredita que é primordial fomentar a relação entre
Estratégico? Conselho, Profissionais de Psicologia e Sociedade.
a média de 30 para 40 pessoas, por exemplo, o critério
móvel terá sua referência alterada, o objetivo então h) Estratégias insuficientes de divulgação
O método proposto pelo professor Botomé passará a ser o de aumentar o público em mais de e mobilização para eventos e controle “Da minha aldeia vejo quanto da terra se
segue um fluxo de etapas que são interligadas 40 pessoas, em vez de 30. social. pode ver no universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como
i) Baixo índice de produção técnica. outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo

1º 2º 3º 4º 5º j) Baixo índice de divulgação das ações


realizadas pelo CRP-PR.
E não do tamanho da minha altura...(...)”

(Fernando Pessoa, 1914/2006, p. 32)


k) Dificuldade de envolver colaboradores,
Identificação Traçar quais são as dentre as operacionalização:
conselheiros e categoria na elaboração referências
de necessidades objetivos. o prioridades? prioridades, o como fazer? de posicionamentos do CRP-PR.
e/ou problemas. que propomos que é viável? quem será o BOTOMÉ, S. P. (1988). Em busca de perspectivas para a
Psicologia como área de conhecimento e como campo profissional. Em
para sanar as responsável l) Distanciamento ou insuficiência nas Conselho Federal de Psicologia (org.) Quem é o Psicólogo brasileiro?
necessidades? por fazer? relações com instâncias/instituições da (p. 273-297). São Paulo: Edicon Editora e Consultoria.
sociedade, outras categorias e Instituições PESSOA, F. (2006) Poemas Completos de Alberto Caiero
de Ensino; (p. 32). São Paulo: Editora Martin Claret. Texto original de 1914.
28 ARTIGO ARTIGO 29

Juliano Del Gobo (CRP-08/ 13756)

mais intensa e problemática no campo da Psicologia do Em um terceiro momento, após reação da categoria
que no campo médico. frente à ação proibitiva, houve intensos debates no II
CNP. Assim, ao CFP restou adotar uma postura de
Mas por que no campo da Psicologia essa abertura para o diálogo, sendo encaminhados debates que
questão se tornou tão problemática? A preocupação qualificaram a discussão sobre as práticas alternativas
sobre a confiabilidade e a competência dos terapeutas em todos os Conselhos Regionais.
holísticos ou alternativos se ascende na sociedade com
a multiplicação das terapias alternativas. Contudo, foi o O amadurecimento da discussão conduziu
interesse e a apropriação delas por parte de Psicólogas(os) às Resoluções 10/97 e 11/97, que foram importantes
que desencadeou pelo Sistema Conselhos de Psicologia para que a Psicologia pudesse ocupar uma posição
uma séria de ações demarcando posições que causaram cientificamente afirmativa e sutilmente expelir de suas
acirrados debates no interior da própria Psicologia. fronteiras outras práticas terapêuticas, deixando uma

O SISTEMA CONSELHOS Diante da ascensão das práticas alternativas no


campo delimitado da Psicologia, houve por parte do
brecha para sua utilização em caráter experimental
e para a possibilidade de reconhecimento posterior
por meio de divulgação de resultados. Não era então
NA RELAÇÃO DA Sistema Conselhos de Psicologia algumas posturas
ao longo da década de 90. Com base na Antropologia,
mais necessário combater as práticas alternativas na
sociedade, mas administrar demandas que chegavam em
Tavares (2003) reconstrói o cenário que conduziu até forma de denúncias éticas de profissionais que atuavam
PSICOLOGIA COM AS a elaboração das Resoluções 10/97 e 11/97, atualmente
ainda vigentes e que dizem respeito a esse tema.
com práticas não-reconhecidas.

PRÁTICAS EMERGENTES
Observando as Resoluções do CFP, notam-se
Segundo a pesquisadora citada, houve três dois objetivos principais: a delimitação da fronteira da
diferentes reações do CFP ao longo da década de 90. Psicologia e o fomento de pesquisas que produzam o
desenvolvimento da ciência psicológica na inter-relação
RESGATANDO REFLEXÕES PARA AVANÇAR NAS DISCUSSÕES Primeiramente, houve uma postura denunciativa: com práticas não-reconhecidas. Contudo, passados mais
o CFP denunciava para a sociedade as ditas práticas de 15 anos da publicação da resolução que se refere à
alternativas como uma ameaça externa, usando cartazes realização de pesquisas com práticas não reconhecidas no
de alerta à população dos riscos e perigos de se submeter âmbito da Psicologia, observa-se números baixíssimos de
a práticas sem comprovação científica, estratégia que resultados de pesquisas apresentados que viessem a tornar
visava a divulgação e o esclarecimento sobre as práticas reconhecidas novas práticas no âmbito da Psicologia.

O
CRP-PR organizou no último mês de dessas discussões foram apenas parcialmente atingidos, psicológicas e aquelas alheias ao campo Psi.
março uma série de três encontros para como desenvolveremos mais a seguir.
discutir a relação entre a Psicologia Em um segundo momento, o órgão passou a ter
O RECONHECIMENTO DE NOVAS PRÁTICAS
e as práticas terapêuticas ditas não- Para que o leitor possa compreender a relevância uma reação proibitiva: em 1993, o CFP, reconhecendo
reconhecidas – terminologia adotada nas resoluções dessa discussão para a Psicologia é importante que saiba a pouca eficácia de sua estratégia e vendo ampliar
10/97 e 11/97 do Conselho Federal de Psicologia que ao longo dos anos 60 e 70 houve uma ascensão de a influência dessas práticas no meio da Psicologia,
Spink (2007) buscou nas bases epistemológicas e
(CFP) para caracterizar práticas que não fazem parte um novo segmento de formas terapêuticas alternativas passou a atentar para dentro da própria categoria,
científicas da Psicologia o porquê de algumas teorias e
do aparato técnico e científico da Psicologia e as oriundas do cenário da contracultura brasileira, a qual veio dirigindo artigos, entrevistas e editoriais nos jornais
práticas não serem reconhecidas, afirmando que muitas
práticas integrativas e complementares à Psicologia, a tornar mais complexa a análise do universo terapêutico do Conselho Federal. Nesse contexto, destacou-se
das práticas emergentes não são reconhecidas pela
as quais foram regulamentadas por meio de resoluções brasileiro já muito heterogêneo naquela época com a uma grande preocupação em delimitar e excluir as
Psicologia porque são estruturadas dentro de paradigmas
específicas, como é o caso da acupuntura e da hipnose. ciência, as crendices populares, a medicina indígena, novas “Psicologias” existentes do campo já legitimado
e bases epistemológicas diferentes e/ou antagônicas às
entre outras. Nesse cenário, tanto a Medicina quanto a pela cientificidade na Psicologia. Foi então emitida a
práticas já reconhecidas e conclui ainda que, tal como
A abertura da atual gestão do CRP-PR ao diálogo Psicologia (com seu então recente status científico) se polêmica Resolução 29/95, que nomeava dezenas de
aconteceu com a própria Psicologia no momento do seu
demonstra uma postura qualificadora para com um deparam diretamente com tal problemática, uma vez práticas consideradas alheias ao campo científico da
surgimento, essa ciência tem demonstrado para com
debate que teve sua maior intensidade na década de que a formação dessas práticas alternativas se dava sem Psicologia, considerando falta ética sua utilização por
a sua faceta alternativa o mesmo rigor com o qual foi
90, com grandes discussões nos primeiros Congressos maior formalidade e sua atividade era dirigida muitas Psicólogas(os). Tal posição foi um verdadeiro desastre,
encarada em seu surgimento.
Nacionais de Psicologia (CNP), realizados em 1994 e vezes ao mesmo público que as duas profissões. Em primeiramente por ter sido contrária às deliberações
1996, que contribuíram para delimitar as fronteiras da recortes de jornais da década de 90, fica muito evidente a do I CNP, que encaminhava para um aprofundamento “Na luta por comprovação científica a
Psicologia com outras práticas terapêuticas. O resgate presença de publicidade envolvendo terapias alternativas da discussão, gerando inúmeras reações da categoria psicologia tornou-se tão exigente com ela
dessa discussão pelo CRP-PR é fundamental, uma vez e a Psicologia, bem como a presença de Psicólogas(os) e, segundo, porque como a estrutura física e humana mesma que desconfia de qualquer saber
que não se observa esse debate nas Instituições de Ensino nos cursos de formação para terapeutas alternativos. dos Conselhos Regionais era limitada, a fiscalização que não se pautar nos conhecimentos já
Superior, bem como nota-se que os encaminhamentos Autores da época afirmavam que a discussão foi muito aos profissionais seria insuficiente. existentes” (Spink, 2007)
30 ARTIGO ARTIGO 31

No âmbito acadêmico, o estudo desses temas dessa discussão histórica. É necessário também
enfrenta desafios como a falta de pesquisas no campo que haja uma apropriação dessa discussão de uma ser utilizadas no exercício profissional,
da Psicologia e o desconhecimento dessas práticas forma não preconceituosa (o que muitas vezes não enquanto recursos complementares, desde
pelos pesquisadores da Psicologia, levando a posições se observa nos espaços acadêmicos). O profissional que:
preconceituosas e ao desinteresse em pesquisar o precisa ter como base uma ética que lhe permita
I) estejam em processo de pesquisa con-
tema. Destaca a baixa incidência de profissionais que reconhecer as fissuras de sua profissão, para que
forme critérios dispostos na Resolução n°
atuam com estas práticas em centros de pesquisa e possa, a partir da interdisciplinaridade, estabelecer
196/96, do Conselho Nacional de Saúde
a distância entre os pesquisadores da Psicologia dos o diálogo com outras práticas terapêuticas, uma vez
do Ministério da Saúde;
saberes populares. que o objetivo maior é unir esforços pela busca de
maior resolutividade e geração de saúde da população.
II) respeitem os princípios éticos funda-
CONSIDERAÇÕES FINAIS Referenciando Sarti (2003), não se trata, portanto, de
mentais do Código de Ética Profissional
pensar a interdisciplinaridade a partir da possibilidade
do Psicólogo;
de uma identificação, mas ao contrário, o encontro
Por fim, exponho que diante de tamanha possível supõe a separação prévia, implícita no III) o profissional possa comprovar junto
problemática envolvendo a sociedade, as práticas reconhecimento da alteridade. A identificação ao CRP a habilitação adequada para de-
terapêuticas e a Psicologia, há a necessidade de se anula o outro, em lugar de reconhecê-lo. O primeiro senvolver aquela técnica;
avançar numa ética da alteridade, na qual os conselhos movimento em direção ao diálogo é o da separação,
profissionais têm papel fundamental, uma vez que o para que o passo seguinte leve ao encontro possível, IV) o cliente declare expressamente ter
interesse de estudantes de Psicologia e de profissionais se o for, entre um e outro. conhecimento do caráter experimental da
por novas ou antigas terapias alheias à formação em técnica e da prática utilizadas.
Psicologia não cessaram, pelo contrário, revivem
outra vez. REFERÊNCIAS A Resolução CFP 11/97 dispõe sobre a
realização de pesquisa com métodos e téc-
Ao longo deste texto buscou-se expor que a nicas não reconhecidas pela Psicologia.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Relatório final
proposta para a realização de pesquisas junto às
do I Congresso Nacional de Psicologia (CNP). Brasília, 1994.
práticas não reconhecidas visando o reconhecimento Art. 1° - Todo Psicólogo que esteja desen-
______________________________________. Relatório
de novas práticas pela Psicologia não foi suficiente para final do II Congresso Nacional de Psicologia (CNP). Brasília, 1996 volvendo pesquisas em métodos ou técnicas
assegurar um trajeto seguro na relação da Psicologia ______________________________________. Relatório não reconhecidas no campo da Psicologia
com estas práticas, pois as discussões cessaram final do VI Congresso Nacional de Psicologia (CNP). Brasília, 2010. deverá ter protocolo de pesquisa apro-
após a publicação das resoluções e as pesquisas não ______________________________________. Relatório vado por Comitê de Ética em Pesquisa
avançaram. Possíveis causas para esse quadro foram final do VII Congresso Nacional de Psicologia (CNP). Brasília, 2013.
RESOLUÇÕES reconhecido pelo Conselho Nacional de
apontadas no texto como o desinteresse do meio TAVARES, Fátima Regina Gomes. Legitimidade Terapêutica
no Brasil Contemporâneo: As Terapias Alternativas no Âmbito do
Saúde, conforme Resolução CNS 196/96
acadêmico pelos saberes populares, o desinteresse dos Saber Psicológico. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, ou legislação que venha a substituí-la.
terapeutas dessas práticas pela pesquisa, entre outros. 13(2):83-104, 2003. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/physis/ A Resolução CFP 10/97 estabelece critérios para
v13n2/a06v13n2.pdf. Acesso em 28/07/2014. divulgação, a publicidade e o exercício profissional do Art. 2° - É vedado ao Psicólogo pesquisa-
Assim entendemos que, neste momento, cabe SARTI, Cynthia. Corpo e Doença no transito dos saberes. Psicólogo, associados à práticas que não estejam de dor receber, a qualquer título, honorários
aos Conselhos profissionais ocupar a posição de Revista brasileira de Ciências Sociais - vol. 25 n° 74. Disponível em
www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v25n74/a05v2574.pdf Acesso em 28/07/2014.
acordo com os critérios científicos estabelecidos no da população pesquisada.
ligação no fomento de discussões e debates junto campo da Psicologia.
SPINK, Mary Jane Pinto Nascimento. A psicologia e o
à categoria e às instituições de ensino superior, de reconhecimento de suas teorias e práticas. XIV Encontro Nacional Parágrafo único - A população pesquisada
modo a contribuir para que a categoria se aproprie da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), 2007. Art. 1° É permitido ao Psicólogo, no dará o seu consentimento expresso para
exercício profissional, na divulgação e participar da pesquisa, ficando vedada
publicidade, através dos meios de comu- qualquer forma de remuneração do pes-
nicação, vincular ou associar o título de quisado.
Psicólogo e/ou ao exercício profissional,
somente técnicas ou práticas psicológicas Art. 3° - O reconhecimento da validade
já reconhecidas como próprias do profis- dos resultados das pesquisas em métodos
sional Psicólogo e que estejam de acordo ou técnicas não reconhecidas no campo da
com os critérios científicos estabelecidos Psicologia dependem da ampla divulgação
no campo da Psicologia. dos resultados, derivados de experimen-
tação, e reconhecimento da comunidade
Art. 2° As técnicas e práticas ainda não científica e não apenas da conclusão das
reconhecidas pela Psicologia poderão pesquisas.
32 ARTIGO ARTIGO 33

Algumas deliberações dos • Ratificam-se as deliberações do I CNP pelo Psicólogo acupunturista e conside-
Congressos Nacionais de Psicologia sobre as práticas ditas alternativas e apre- rando a MTC-Acupuntura uma prática
(CNP) sobre o tema: senta-se como tese complementar. complementar da Psicologia, por meio
da parceria com a Sociedade Brasileira
• O Conselho não é um órgão de valida- de Psicologia e Acupuntura (Sobrapa) e
I Congresso Nacional de Psicologia (1994) ção e de reconhecimento de técnicas. Tem outras entidades.
função de normatizar o exercício profissio-
nal, isto é, a relação do profissional com • Fortalecimento da Política Nacional de
• Assegurar ao Psicólogo o direito ao a comunidade, zelando pelos princípios Práticas Integrativas e Complementares.
desenvolvimento e pesquisa de novas téc- e compromissos da profissão. Não é o
nicas e métodos psicológicos dentro do Conselho, mas sim a comunidade científica • Fomentar, em parceria com entidades
campo científico; que tem esta responsabilidade, embora o pertinentes, e integrar a discussão so-
mesmo deva fornecer subsídios relativos ao bre a inserção de áreas emergentes da
• Reconhecer que o referendum de novas exercício profissional para que esta função Psicologia e das Práticas Integrativas e
técnicas e teorias consideradas alterna- se cumpra. Ele deve se instrumentalizar Complementares, no campo acadêmico
tivas é papel das universidades, comu- para saber o que é validado e o que não e científico, considerando não somente o
nidade profissional e usuários e não do é ter regras claras para a relação com a contexto nacional, mas também o latino-
Conselho. comunidade, considerando: americano.

• Propor associado à comunidade cientí- a) Técnicas já reconhecidas; VIII Congresso Nacional de Psicologia (2013)
fica, projetos de estudo de práticas exis- b) Técnicas em processo de reconheci-
tentes e das novas práticas e métodos Moção número 14:
mento;
de Psicologia, através de processos de c) Técnicas em fase de pesquisa. Cientes da necessidade de uma visão em Saúde e
pesquisa que avaliem cientificamente sua
Educação que contemple a integralidade do Ser Humano,
pertinência e a possibilidade de serem • O Conselho deverá estimular e incen-
conforme preconizam orientações internacionais
utilizados como recursos psicológicos no tivar a comunidade científica para a dis-
apresentadas por órgãos como: OMS, Opas e Unesco.
exercício profissional. cussão e pesquisa das diferentes práticas
Cientes também de que a redução das desigualdades
ditas alternativas.
II Congresso Nacional de Psicologia (1996) passa por um acesso universal e humanizado à Saúde
• O Conselho deverá promover ações e Educação, conforme preconizam muitas das políticas
• Indicativo de mudança no eixo da políticas no sentido de, em conjunto com públicas deste campo, tais como Política Nacional de
discussão das Práticas Alternativas, Práticas Integrativas e Complementares, Humaniza SUS,
outros Conselhos de Saúde, possibilitar
apontando a ampliação do debate, pri- Politica Nacional de Educação Popular em Saúde; e no
a discussão e posterior regulamentação
vilegiando a produção do conhecimento entendimento de que o avanço científico da Psicologia se
sobre a utilização de recursos de saúde
para a Psicologia dentro do contexto só- dá nas fronteiras do paradigma de seus conhecimentos,
que não são exclusivos de quaisquer pro-
cio-histórico em que estamos inseridos onde se situam o diálogo com as epistemologias não
fissões, mas que poderão ser utilizados
e buscando uma apropriação maior das hegemônicas lastreadas na laicidade da ciência, bem
enquanto prática das diversas profissões
práticas que já vem norteando a atuação como no diálogo com os conhecimentos tradicionais tais
de saúde.
do profissional da Psicologia em sua in- como os das Medicinas tradicionais indígena, africana
serção no campo social. VII Congresso Nacional de Psicologia (2010) e chinesa, entre outras; Nós, delegadas e delegados do
VIII CNP, apoiamos e conclamamos as entidades de
• Até o final do primeiro semestre do • Criação, pelo CFP, de mecanismos efe- formação a incluírem esse debate no âmbito do ensino e
ano administrativo de 1997, será editada tivos de discussão, avaliação e validação da extensão, bem como no fomento a pesquisas no campo.
nova Resolução, quando será revogada de novas técnicas e abordagens, do ponto
a Resolução n° 029/95. de vista técnico e epistemológico, geran-
do estratégias para integrar a produção
• Para assessorar o CFP, elaborando decorrente da comunidade científica e as * Juliano Del Gobo é profissional vinculado ao Núcleo
minuta de resolução, será realizado, nesse ações dos Sistemas Conselhos. de Pesquisa em Saúde Pública e Assistência no Brasil do
prazo, fórum de debate com a base, em Programa de Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas
reunião nacional, com dois representantes • Apoio do Sistema Conselhos ao debate da Universidade Estadual de Ponta Grossa e Conselheiro
de cada CR e do CFP, com poder delibe- qualificado sobre a utilização da Medicina do XII Plenário do Conselho Regional de Psicologia
rativo. Tradicional Chinesa (MTC)-Acupuntura do Paraná.
34 NOTA

EDITAL DE CENSURA PÚBLICA Art. 1º - São deveres fundamentais dos


Psicólogos:
O Conselho Regional de Psicologia - 8ª Região,
a) Conhecer, divulgar, cumprir e fazer
em obediência ao disposto na Lei no 5.766/71, Decreto
cumprir este Código;

O PL das 30 horas
no 79.822/77 e Código de Processamento Disciplinar,
pelo presente Edital, torna pública a decisão do Conselho Art. 2º - Ao Psicólogo é vedado:
Federal de Psicologia, no Processo Ético Disciplinar
a) Praticar ou ser conivente com quaisquer
no 018 e 019/2010, em aplicar a pena de CENSURA atos que caracterizem negligência,

chega à reta final


PÚBLICA ao Psicólogo Eliel Pereira Diniz CRP- discriminação, exploração, violência,
08/13437 por infração aos seguintes artigos do Código crueldade ou opressão;
de Ética Profissional dos Psicólogos:
c) Utilizar ou favorecer o uso de
Princípios Fundamentais conhecimento e a utilização de práticas
psicológicas como instrumentos de castigo,
II - O Psicólogo trabalhará visando
tortura ou qualquer forma de violência; Após seis anos de tramitação, o Projeto de Lei nº promoveram ações locais de conscientização sobre a
promover a saúde e a qualidade de vida das
pessoas e das coletividades e contribuirá j) Estabelecer com a pessoa atendida, 3.338/08, que fixa a jornada semanal máxima de 30 horas importância de uma jornada de trabalho sadia. A unida-
para a eliminação de quaisquer formas de familiar ou terceiro, que tenha vínculo com para os psicólogos(as) sem redução de salário, finalmente de da categoria mostra que a luta pela valorização do
negligência, discriminação, exploração, o atendido, relação que possa interferir chegou à reta final. Esse período foi de intenso debate e trabalho do Psicólogo(a), tão crucial para a saúde da
violência, crueldade e opressão. negativamente nos objetivos dos serviços articulação para garantir mais respeito à categoria. A população, está apenas começando.
prestados; redução da jornada de trabalho é o primeiro passo de um
VII - O Psicólogo considerará as relações longo caminho para a conquista de mais saúde e qualida- “A mobilização dos psicólogos do Paraná pela aprovação
de poder nos contextos em que atua e os q) Realizar diagnósticos, divulgar de de vida para os trabalhadores da Psicologia e para a das 30 horas retomou a certeza de que é apenas a luta
impactos dessas relações sobre as suas procedimentos ou apresentar resultados C população. coletiva que garante as transformações e conquista de
atividades profissionais, posicionando-se de serviços psicológicos em meios de M
direitos. Independentemente dos resultados, dos proje-
de forma crítica e em consonância com os comunicação, de forma a expor pessoas, Ciente disso, o Sindicato dos Psicólogos do Paraná tos aprovados, das vitórias e derrotas que a categoria tem
demais princípios deste Código. grupos ou organizações.
Y
(Sindypsi-PR) organizou uma campanha pela aprovação obtido no último período, reafirmamos, como método
CM
do PL das 30 Horas. Uma equipe de comunicação cuidou prioritário, a presão política por direitos para os psicólo-
MY da manutenção de uma página no Facebook, do site e da gos. Este é o maior salto que tivemos em todo esse perío-
CY
produção de entrevistas com psicólogos e especialistas do de luta”, declara o presidente licenciado do Sindypsi-
na saúde do trabalhador, além de acompanhar assidua- -PR, Thiago Bagatin.
CMY
mente o trâmite do PL na Câmara dos Deputados.
K

Também foram realizados debates em universidades de


Irati, Ponta Grossa, União da Vitória, Pinais e Curitiba.
Algumas cidades formaram comitês pelas 30 horas e

A formação em analista junguiano oferecida pelo Instituto Junguiano do Paraná é reconhecida


pela International Association of Analytical Psychology (IAAP), com sede em Zurique, Suíça.
A formação se processa normalmente num período de 4 anos onde estão incluídos os aspectos
teóricos, basicamente através de seminários, e aspectos práticos através de supervisões, em
grupo e individuais. São exigidas, como parte do curso, 100 horas de supervisão individual com
analista filiado à AJB de casos clínicos do aluno e 240 horas de análise individual com analista
filiado à IAAP, além da apresentação de estudo de caso clínico e monografia.
p
Os pré-requisitos para candidatar-se ao curso são:

1. Ser médico(a) ou psicólogo(a) com registro no CRM/CRP há pelo menos 2 (dois) anos;

2. Ter 02 (dois) anos de exercício de prática clínica em psicoterapia;


Psicólogos(as) de todo o Brasil aderiram à campanha pelas 30 horas Debate sobre as 30 horas em Curitiba
3. Os candidatos deverão comprovar no mínimo 50 (cinquenta) horas de supervisão clínica
individual com psicoterapeuta reconhecido por Conselho Regional/ Federal de Psicologia
SINDICATO DOS PSICÓLOGOS NO ESTADO DO PARANÁ
(como pré-requisito para a seleção não existe a exigência de ser um analista da AJB/IAAP);
Entre em contato Telefone: (41) 3224-4658
Endereço: Rua Dr Muricy, 390 cj. 201, 80.010-102, Curitiba/PR
4. Os candidatos deverão comprovar vivência mínima de 100 (cem) horas de análise individual
com psicoterapeuta reconhecido por Conselho Regional/Federal de Psicologia (como pré-
requisito para a seleção não existe a exigência de ser um analista da IAAP).
com o Sindypsi-PR sindypsipr@sindypsipr.com.br
www.sindypsipr.com.br
Facebook.com/sindypsi

Você também pode gostar