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Dom XXIV TC (B)

I. Muitas vezes o Povo de Israel confundiu o Poder Libertador de Deus com a força
opressora ao jeito do mundo, a Palavra de Aliança de Deus com as leis e imposições ao
jeito dos Homens poderosos, a Adoração “em Espírito e em Verdade” com o culto vazio
e idolátrico das religiões pagãs…
Confundiu-se o Povo de Israel, e também se confundiu e confunde ainda muitas vezes o
Novo Povo de Deus, a Igreja! Por isso, é fundamental o papel dos profetas como arautos
da Verdade e da Liberdade de Deus, sempre ao contrário das lógicas opressoras do
mundo.

É isso mesmo que proclama o profeta Isaías com esta linguagem do “Servo Sofredor de
Deus”. Diante da opressão e da violência, o profeta proclama que a única resposta digna
de um servo de Deus é a perseverança fiel.
Os profetas viram sempre as lógicas do mundo ao contrário porque falam com Deus na
boca! As vitórias de Deus na história decidem-se na fidelidade incondicional dos Seus
Profetas, e nunca no domínio ou na violência “em Seu Nome”.

Na Igreja primitiva, os Apóstolos leram a fidelidade sem limites de Jesus á luz destes
textos do “Servo Sofredor” de Isaías. Com efeito, também Jesus enfrentou cara-a-cara a
infidelidade opressora dos poderosos do seu povo lutando unicamente com as armas da
Palavra da Verdade a da Justiça, e fortalecido por uma Confiança incondicional no
Poder Libertador do seu Abba.

II. No diálogo deste pedaço do evangelho de Marcos está o drama entre dois tipos de
messianismos. Jesus perguntou aos Apóstolos sobre os “boatos” que corriam acerca
dele… Toda a gente reconhecia em Jesus um continuador fiel dos profetas antigos. No
entanto, Jesus cala-os para lhes fazer a pergunta fundamental da Fé: “E vós?! Face-a-
face comigo, quem dizeis que eu sou?! Quem sou eu para vós?”

Pedro respondeu: “És o Messias!”

A resposta parece boa… Mas que tipo de Messias é que Pedro tinha na cabeça?...
Como quase todos os judeus, esperava um Messias da descendência do grande Rei
David que conquistara e unificara o território de Israel pela sua força e poderio militar,
cerca de mil anos antes. O Messias era esperado com características davídicas e viria
purificar o seu povo de todo o pecado e impureza, em Nome de Deus. Como?
Aniquilando os pecadores e destruindo todos os impuros!
No entanto, Jesus não se sente minimamente “atraído” por esse tipo de messianismo…
Sente-se chamado a “anunciar uma Boa Notícia aos pobres e marginalizados, libertar os
oprimidos e anunciar o tempo da Bondade Gratuita (Graça) de Deus!” (Lc 4, 18)

Em vez de querer formar o exército messiânico, Jesus está disposto a morrer pelo
anúncio de um Reino de Deus assim! Em nome da libertação dos oprimidos pela força
do Espírito Santo e em nome da Bondade Gratuita (Graça) de Deus, está disposto a
morrer!

Pedro não aceita… Chama Jesus à parte e começa a repreendê-lo!!! Não era suposto o
Messias ser assim… “Saiu” muito Inesperado, o tão Esperado Messias de Israel… Não
era suposto Deus ser tão Surpreendente na realização das Suas Promessas e na revelação
dos Seus Dons!

Jesus chamou a Pedro “causador de divisão” (em hebraico: sathan; não é nenhum
“senhorzinho mau com corninhos e rabinho” mas uma atitude de ruptura com a vontade
de Deus e o bem do Homem) porque estava na lógica errada: “não compreendes as
coisas segundo Deus mas apenas segundo os Homens!”

Depois, explica as verdadeiras atitudes do Discípulo:


“Renunciar a si mesmo” significa mudar de lógica: das lógicas do mundo que passam
sempre pela opressão e pelo domínio à lógica do Espírito que é da Verdade e da
Insurreição não violenta).

“Tomar a cruz” significa estar disposto a aceitar todas as consequências que acarretam
as iniciativas proféticas, na certeza de que “o Amor é mais forte que a morte”.

“Seguir Jesus” significa não querer inventar outras maneiras nem outras lógicas para
instaurar o Reino de Deus na história senão a luta evangélica segundo as Bem-
Aventuranças!

III. Seguir Jesus significa também viver uma experiência de Fé consequente, “com
obras” como diz a carta de Tiago. “A Fé sem obras-acções está morta”. Dizia Jesus: “A
árvore conhece-se pelos seus frutos!” É pelas acções e iniciativas do Coração que dás
provas da tua Fé…

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