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Alvorada

Como o incentivo à energia solar


fotovoltaica pode transformar o Brasil
Greenpeace Brasil

Coordenação de projeto:
Bárbara Rubim

Coordenação Técnica:
Camilla Thomaz Bastianon

Consultoria Técnica:
Arthur Cursino
Edgar Perlotti
Gabriel Konzen

Redação:
Guilherme Rosa
Thaís Herrero

Edição:
Thaís Herrero

Revisão:
Marise Reis

Diagramação:
Karen Francis
W5 Criação

expediente
© GREENPEACE/RODRIGO BALEIA

2 GREEENPEACE BRASIL
índice
CA PÍTU LO
CONTEXTO
1
• A geração de energia no Brasil 05

04 • A geração solar distribuída


• A nova Resolução Normativa 687
06
07

CA PÍTU LO 2
CENÁRIOS • O Brasil continua o mesmo 08

08 •

FGTS para comprar placas solares
ICMS cai em todos os estados
10
11
• IPTU menor para quem gera energia solar 12
• Menos tributos para os sistemas fotovoltaicos 12
• Nova Resolução Normativa 13
• Melhor Brasil 13

CA PÍTU LO 3
CONCLUSÃO • Impacto dos cenários nas
unidades solarizadas 17
16 • Impacto dos cenários nos indicadores
socioeconômicos entre 2015 e 2030 18

CA PÍTU LO 4
METODOLOGIA • Projeção de Unidades Solarizadas 20
• Análise Socioeconômica 23
20

APÊNDICE
24

BIBLIOGRAFIA
26
1
CAPÍTULO

contexto

Fernando Antonio da Mata era incidência de radiação solar em todo minação da energia do Sol irá, por
um brasileiro incomodado com suas o planeta. E, por isso, conta com um exemplo, motivar um engenheiro
contas de luz, que todos os meses enorme e inexplorado potencial para elétrico a entrar nesse mercado es-
chegavam com valores entre R$ 200 a adoção, em larga escala, da ener- pecífico; ou uma empresa de cons-
e R$ 300. Morador de Aparecida gia solar distribuída. trução civil a criar um departamento
de Goiânia, em Goiás, ele vive com Fernando não é o único brasileiro ligado à instalação de placas foto-
a família: a mulher Cleusa, os filhos que, mesmo interessado em gerar voltaicas em telhados.
Pedro e Daniel e a cachorrinha Láila. sua própria energia, se depara com
Um dia, Fernando contatou uma a barreira do alto custo. Hoje, mais
empresa para descobrir quanto cus- de 20% do valor de um sistema foto-
taria a instalação de placas fotovol- voltaico é composto por tributos que Os cenários propostos e
taicas no telhado de sua casa. Gerar o governo poderia diminuir. Além de avaliados são os seguintes:
sua própria eletricidade seria a saída reduzir a carga tributária, existem ou-
ideal para reduzir drasticamente os tros incentivos que o poder público • O Brasil continua o mesmo – É o
gastos com este consumo. Com a poderia oferecer para incentivar e fa- cenário referência, em que a evo-
economia de cerca de R$ 3,5 mil por cilitar o acesso à energia solar. Mas, lução do número de instalações
ano, ele poderia realizar o sonho dos infelizmente, isso não acontece. de sistemas fotovoltaicos, ocorri-
filhos, de frequentar uma escola de Neste estudo, apresentamos al- da entre 2015 e 2030, é analisa-
artes marciais, ou viajar mais com gumas dessas medidas e o impacto da a partir das condições e pre-
a família. O preço do novo sistema, que cada uma delas teria na adesão ços atuais do mercado.
no entanto, passaria de R$ 15 mil, à microgeração. Essas análises fo-
muito além do que seu orçamento ram consolidadas em seis diferentes • FGTS para comprar placas so-
poderia pagar. O sonho do sistema cenários, vislumbrados de 2015 a lares – Estima a evolução das
de microgeração próprio precisou 2030. A análise foi feita pela Mitsi- instalações a partir da possibi-
ser adiado. di Projetos, a pedido do Greenpeace lidade do cidadão utilizar seu
A família da Mata representa mui- Brasil. FGTS para a compra de sistema
tas outras que hoje comprometem O estudo também mostra como fotovoltaico para sua residência
seus gastos com a conta de luz. E, o crescimento da microgeração e/ou comércio.
para piorar, a eletricidade que o go- solar trará benefícios econômicos
verno oferece às nossas casas está e sociais ao Brasil, na forma de di- • ICMS cai em todos os estados –
cada vez mais cara. A maior parte nheiro injetado na economia, em Considera a isenção do ICMS inci-
dessa energia vem de hidrelétricas arrecadação de tributos, na criação dente sobre a eletricidade gerada
e de usinas térmicas – ainda que o de novos postos de trabalho e a na pelo cidadão em todos os estados
Brasil seja um dos países com maior realocação de profissionais. A disse- do país.

4 GREEENPEACE BRASIL
Instalação de placas fotovoltaicas na
Escola Oswaldo Aranha, em São Paulo (SP), supervisionada
pelo Greenpeace e pelos Multiplicadores Solares.

©OTÁVIO ALMEIDA/GREENPEACE

• IPTU menor para quem gera ener-


gia solar – Analisa os efeitos de
A geração de tricas movidas a combustíveis fós-
seis. No entanto, esse padrão preci-
um desconto no imposto por até energia no Brasil sa mudar urgentemente em função
25 anos, para as residências que de uma série de motivos econômicos
instalarem sistemas fotovoltaicos. Segundo a Empresa de Pesquisa e socioambientais.
Energética (EPE)1, se todo o poten- A construção de grandes usinas
• Menos tributos para os sistemas cial de geração de energia solar nas resulta na perda de biodiversidade
fotovoltaicos – Considera a isen- residências e comércios brasileiros e na inundação de áreas habitadas,
ção do Impostos de Importação, fosse aproveitado com sistemas fo- com o consequente desalojamento
PIS/COFINS e do IPI incidente tovoltaicos, o país produziria 283,5 de populações tradicionais e comu-
sobre os principais componentes milhões de MWh por ano. Esse volu- nidades indígenas. Esses impactos
dos sistemas fotovoltaicos. me de energia seria suficiente para serão ainda mais graves com a pre-
abastecer mais de duas vezes o atu- visão de construção de novas barra-
• Nova Resolução Normativa – Leva al consumo doméstico de eletricida- gens na região da floresta amazôni-
em conta as novas regras aprova- de, que é de 124,8 milhões de MWh ca, como o Complexo Hidrelétrico de
das em novembro de 2015, para por ano. Isso, no entanto, está longe Tapajós, no Pará – projeto idealizado
a micro e mini geração de eletri- de acontecer. pelo governo, que prevê a constru-
cidade. Hoje, a energia solar corresponde ção de mais de 40 barragens.
a apenas 0,02% da matriz elétrica Para além disso, recentemente,
• Melhor Brasil – Estima a evolução nacional. Muitos fatores contribuem as hidrelétricas tiveram sua viabili-
das instalações a partir das diver- para essa pequena participação. Um dade técnica questionada por órgãos
sas condições de incentivo forne- deles é que, apenas recentemente, do próprio governo ao concluirem es-
cidas e combinadas às alterações o governo brasileiro começou a dar tudos que indicaram a tendência de
trazidas pela Resolução 687/15. alguns incentivos para a fonte. forte queda na capacidade de gera-
Historicamente, o planejamento ção de energia de tais fontes devido
Esse documento tem como obje- do setor elétrico brasileiro foi pauta- a mudanças no clima e no regime hí-
tivo dar subsídio aos tomadores de do por altos investimentos em gran- drico. Além disso, grandes hidrelétri-
decisão, aos comunicadores e à so- des hidrelétricas e pela utilização cas vêm aparecendo de forma cons-
ciedade civil em geral, na cobrança das térmicas como uma energia de tante em investigações criminais
por medidas que impulsionem o uso reserva – acionada quando as hi- sobre o pagamento de propinas em
da energia solar no Brasil. drelétricas não suprem a demanda. obras públicas.
Hoje, 61% da eletricidade do Bra- A energia solar, por outro lado,
sil vem de grandes hidrelétricas, e tem como uma de suas caracterís-
17,5% são provenientes de termelé- ticas principais a versatilidade. Fa-

ALVORADA – Como o incentivo à energia solar fotovoltaica pode transformar o Brasil 5


CAPÍTULO 1

vorecendo não só a construção de


parques menores, como também a
A geração solar
instalação de pequenos sistemas distribuída
mais próximos aos centros consu-
midores – a chamada geração dis- Os sistemas de geração distribu- Para suprir seu consumo, a famí-
tribuída oferece um contraponto às ída são aqueles instalados próximos lia da Mata, por exemplo, precisaria
imensas usinas, construídas em áre- próximos aos locais de consumo de instalar um sistema de energia fo-
as remotas, que abastecem a maior energia. A instalação pode acontecer tovoltaica de cerca de 2 kWp4. Hoje,
parte do país e geram alto custo com em casas, prédios, centros comer- cada kWp instalado custa em média
linhas e sistemas de transmissão e ciais ou mesmo em áreas sem aces- R$ 8,81 mil 5. Assim como Fernando,
distribuição. so à rede elétrica. outros consumidores consideram que
Seja por motivos técnicos, eco- Somente em 2012, o consumi- este valor é alto para ser pago à vista,
nômicos ou sociais, não há motivos dor brasileiro pôde começar a gerar apesar de entenderem que o inves-
para que o país deixe de investir em sua própria energia a partir de fontes timento é valido. O retorno é sentido
energia solar. renováveis, compensando tal produ- em cerca de nove anos, consideran-
ção em troca de créditos em sua con- do-se apenas a economia gerada na
ta de luz, que passa a ser reduzida – conta de luz, sem contar que a vida
é a chamada mini ou microgeração. útil desses painéis ultrapassa os 25
Essa possibilidade, foi inicialmente anos – ou seja, a partir do oitavo ano
O Brasil já tem pelo menos regulamentada pela Resolução Nor- as famílias passam a auferir “lucro”.
A microgeração oferece autono-
um bom exemplo de incentivo mativa nº 482/2012 da Agência
governamental para a energia Nacional de Energia Elétrica (Aneel). mia e economia para a população,
fotovoltaica: o Projeto de Lei Desde novembro de 2015, entrou em que tem a escolha de consumir ou
do Sol (PL 8322/14). Ele prevê vigor a Resolução 687/2015, que não a energia produzida e distribuí-
a isenção de vários tributos atualizou a norma anterior e trouxe da pelas grandes empresas, poden-
governamentais em alguns uma série de mudanças que serão do utilizar o dinheiro economizado
componentes dos sistemas comentadas no próximo capítulo. de outras formas, de acordo com as
fotovoltaicos e a liberação do Segundo a Aneel, até dezembro necessidades das famílias. Grandes
uso do Fundo de Garantia por de 2015, existiam no país apenas empresas ligadas ao setor energéti-
Tempo de Serviço (FGTS) para 1.502 sistemas (que somavam 19,7 co e alguns políticos são contrários
o cidadão que queira adquirir MWp de potência instalada) de mini à sua disseminação porque temem
esses sistemas. O PL do Sol já perder seus lucros e o controle sobre
e microgeração solar. Até março de
foi aprovado na Comissão de a geração de eletricidade.
2016, quando esse estudo foi finali-
Minas e Energia da Câmara A questão que impede a energia
zado, já eram 1.982 sistemas, totali-
dos Deputados, e, agora,
zando 22,8 MWp2. solar de decolar no Brasil, portanto,
depende de votações em outras
Apesar do rápido crescimento no passa por duas dificuldades princi-
comissões ao longo de 2016.
período de tempo citado, os números pais. A primeira, diz respeito à própria
são baixos, sobretudo se compara- falta de conhecimento e dissemina-
dos aos da Alemanha, por exemplo. ção sobre a possibilidade de geração
O local com a menor irradiação solar da própria eletricidade. A segunda,
do Brasil – a região Sul – tem po- é o preço e a falta de melhores con-
tencial 25% superior ao lugar com a dições para pagamento. Desses R$
melhor irradiação da Alemanha3. E 8,81 mil por kWp, cerca de 20% têm
mesmo assim, em 2014, o país euro- como origem tributos governamen-
peu já somava 1,5 milhões de siste- tais, que poderiam ser isentados
mas fotovoltaicos instalados. durante alguns anos para incentivar
o aumento da demanda. Por isso, a
adoção de mecanismos que facilitem
o financiamento e promovam uma
política tributária diferenciada é ne-
cessária para tornar a energia solar
cada vez mais vantajosa.

6 GREEENPEACE BRASIL
A nova Resolução
Normativa 687
O Acordo de
Em novembro de 2015, foi publi-
cada a Resolução Normativa 687, Paris e o fim
que atualizou a Resolução 482. Ela
entrou em vigor em março de 2016
das fontes
trazendo diversas alterações que
favorecem a mini e microgeração –
fósseis
e, portanto, a produção de energia Investir nas energias renováveis Esse acordo marcou o fim do
solar. Entre os principais pontos da é uma oportunidade importante uso dos combustíveis fósseis,
normatização está a permissão para e necessária para o Brasil. principais responsáveis pelo
que moradores de um mesmo con- Em dezembro de 2015, mais de efeito estufa, e a ascensão das
domínio se organizem para instalar 190 nações – incluindo o Brasil energias renováveis. Esta é a
conjuntamente um sistema fotovol- – criaram o Acordo de Paris, tendência mundial, e o Brasil não
taico, de forma que consigam aba- durante a Conferência do Clima pode ir na sua contramão.
ter parte do valor na conta de luz de das Nações Unidas, na França.
Para cumprir o Acordo, o
cada uma das residências. O mesmo Com isso, se comprometeram a
governo brasileiro precisa
vale para um grupo de pessoas que reduzir as mudanças climáticas e
desligar as usinas térmicas
mora em uma área próxima, e quei- a evitar um aquecimento global
movidas a carvão e a gás. E,
ra aproveitar a luz do sol em painéis superior a 1,5oC. Casos estas
para substituí-las, deve expandir
compartilhados. metas não sejam alcançadas,
o mercado das novas energias
estaremos colocando a
Antes da Resolução 687, era pre- renováveis, como a solar e a
segurança da vida na Terra
ciso que o CNPJ ou CPF da conta de eólica. As hidrelétricas serão
em xeque.
luz do estabelecimento onde o siste- uma opção, desde que não
ma estivesse instalado fosse o mes- impactem os rios e florestas
mo do local que requeria o desconto. preservados, como na região
Agora, basta que o usuário esteja amazônica. Diante do potencial
na mesma área da distribuidora de de aproveitamento da energia do
energia. Sol e dos ventos no Brasil, essas
são as fontes que devem receber
O prazo de validade dos créditos
mais atenção nos próximos anos.
gerados na micro e minigeração foi
expandido de 36 para 60 meses, ga-
rantindo o benefício por mais tempo.
A redução de prazos recaiu sobre as
distribuidoras, que tinham 82 dias,
mas agora terão apenas 34 dias
para conectar sistemas de microge-
ração (até 75 kWp) na rede elétrica.

Maria Paula Gomes foi beneficiada pelo projeto


da Companhia Estadual de Habitação Popular da
Paraíba, que instalou placas solares nas casas.
Sua conta de luz é 70% mais barata hoje.

©OTÁVIO ALMEIDA/GREENPEACE

ALVORADA – Como o incentivo à energia solar fotovoltaica pode transformar o Brasil 7


2
CAPÍTULO

Cenários

Hoje, brasileiros, como os da fa-


mília da Mata, têm poucos incentivos
O Brasil continua
financeiros para adquirir os sistemas o mesmo
fotovoltaicos. Os custos desses equi-
pamentos ainda são altos para a O presente cenário considera o • ICMS incidente sobre a eletricida-
maioria da população. Essa é uma desenvolvimento da microgeração de injetada pelo sistema fotovol-
das razões pelas quais os benefícios de energia solar caso permaneçam taico na rede elétrica para os es-
da energia solar não são amplamen- as atuais condições no país. Esse tados que, em dezembro de 2015,
te conhecidos. tipo de cenário é chamado em inglês ainda não haviam zerado sua co-
Este estudo apresenta diferentes de Business as Usual (BAU). Para o brança, (Mais informações sobre
cenários simulando investimentos estudo, foi avaliada a evolução das isso estão no cenário ICMS cai em
do governo que estimulariam a com- instalações dos sistemas fotovoltai- todos os estados).
pra de painéis fotovoltaicos no Brasil. cos no país entre os anos de 2015 e
Em cada um desses cenários foram 2030. As condições são: • Despesas com a operação e a ma-
calculados os impactos positivos do nutenção dos painéis fotovoltaicos
crescimento da geração distribuída • Tarifa de eletricidade com valor na ordem de 1% ao ano do fatura-
entre os anos de 2015 e 2030. constante ao que era praticado mento bruto;
em dezembro de 2015;
• Preço do kWp instalado nas resi-
• Tarifa com bandeira verde, na qual dências em R$ 8,81 mil e nos co-
não há cobrança adicional por mércios em R$ 7,85 mil;
kWh consumido;
• Queda no preço do kWp instalado,
• PIS e COFINS constantes, com alí- por conta de ganhos de escala, de
quota de 6,5%; 3,6% ao ano, entre 2015 e 2020.
E de 4% ao ano, entre 2021 e
• ICMS incidente sobre a tarifa de 2030.
eletricidade com valores estadu-
ais constantes. A alíquota média
no pais é de 25%;

8 GREEENPEACE BRASIL
Em Juazeiro (BA), moradores de um conjunto habitacional foram
capacitados, e hoje trabalham com a instalação das placas.

©CAROL QUINTANILHA/GREENPEACE

Emissões Valor
Unidades Potência Tributos Empregos
evitadas de adicionado à
solarizadas instalada gerados gerados
CO2 eq economia

O Brasil continua o mesmo


Unidades solarizadas 1.212.662
Potência instalada 7.281 MWp
Emissões evitadas de CO2 eq 17,8 milhões de toneladas
Valor adicionado à economia R$ 81,5 bilhões
Tributos gerados R$ 1,6 bilhões
Empregos gerados 689.961 vagas

Pela projeção desse modelo, micos, nos próximos 15 anos tere- Esse mesmo cenário mostra um
ao final dos anos 2030, o país terá mos a geração de 608.974 empregos crescimento tímido da energia solar,
mais unidades solarizadas do que diretos e indiretos ligados à microge- e serve de base para o cálculo dos
atualmente, porém ainda insuficien- ração. Dessas vagas geradas, 58% outros cenários possíveis, levanta-
tes para representar um aumento de estarão na região Sudeste, 22% na dos a seguir. A evolução de cada um
participação considerável na matriz região Sul, 13% na região Nordeste, dos indicadores ao longo do tempo é
energética nacional. 4% na região Centro-oeste e 3% na apresentada adiante:
Segundo os valores socioeconô- região Norte.

ALVORADA – Como o incentivo à energia solar fotovoltaica pode transformar o Brasil 9


CAPÍTULO 2
2030
Emissões
Unidades Potência
evitadas de
solarizadas instalada
Evolução do cenário O Brasil continua o mesmo – entre 2015 e 2030 CO2 eq

Como alguns indicadores brasileiros estariam se as atuais condições


de energia solar se mantiverem pelos próximos anos
1.212.662 7.281 17.874.242

Unidades solarizadas Toneladas de C02 mitigadas Potência instalada em kWp

3 10 20
MILHÕES

MILHÕES

MILHÕES
9 18
8 16
7 14
2 6 12
5 10
4 8
1 3 6
2 4
1 2
0 0 0
2015 2020 2025 2030 2015 2020 2025 2030 2015 2020 2025 2030

Valor adicionado a economia em bilhões de R$ Tributos gerados em milhões de R$ Empregos diretos e indiretos gerados

30 1000 250.000
900
25 800 200.000
20 700
600 150.000
15 500
400 100.000
10 300
5 200 50.000
100
0 0 0
2015 2020 2025 2030 2015 2020 2025 2030 2015 2020 2025 2030

É possível observar nos gráficos painéis solares. Em relação ao almente, isso não é possível porque o
que a progressão entre as unidades mercado internacional, esse tem- saque do benefício só é autorizado em
solarizadas, as emissões evitadas po já era menor em relação ao de algumas situações específicas, como
e a potência instalada caminham muitos outros países. E, em 2024, catástrofes naturais, enfrentamento
em ritmos semelhantes, afinal os ficaria ainda melhor, segundo este de determinadas doenças e aquisição
três indicadores estão diretamente cenário: o consumidor levaria 6,8 do primeiro imóvel residencial.
relacionados. Já os dados socioeco- anos. É um tempo compatível com Como análise preliminar, foi
nômicos apresentam um comporta- o tempo de retorno de outros in- comparado o rendimento do FGTS
mento mais distinto, com um come- vestimentos realizados no merca- com a Taxa de Retorno Interna dos
ço de curva mais lento e um salto de do comercial. sistemas fotovoltaicos nas principais
crescimento maior nos últimos cinco concessionárias do país. Isso mos-
anos. Esse fenômeno se deve à taxa • Apesar de expressivas, as emis- tra o quanto o investimento feito em
de importação variável adotada nos sões de CO2 eq que deixariam de placas solares valeria a pena finan-
cálculos. O modelo estima que essa ser produzidas entre 2015 e 2030 ceiramente. A taxa muda de conces-
taxa será de 80% entre 2015 e 2018, equivalem a apenas 3,2% do que sionária para concessionária porque
50% entre 2019 e 2023 e de 20% o setor energético brasileiro lan- leva em conta a incidência do Sol
entre 2024 e 2030, o que impacta çou na atmosfera em 2014. No em cada região do país, bem como
significativamente os resultados. entanto, quando apenas as emis- o valor que o consumidor economiza
sões dos setores residenciais e ao deixar de usar a eletricidade das
comercias são consideradas, esse distribuidoras, que cobram tarifas di-
Com essas informações é possível valor equivale a 79% do total de ferentes sobre a energia.
fazer algumas análises: emissões de 2014. O rendimento aplicado sobre o
FGTS equivale a uma taxa de 3% ao
• Entre 2015 e 2030, o cenário O ano, mais a Taxa Referencial para o
Brasil continua o mesmo não atin- período. Essa taxa deveria corrigir o
ge todo o mercado potencial. Isso
significa que, depois de 2030, um
FGTS para comprar valor arrecadado pela inflação, mas
nem sempre é o que acontece. De
grande crescimento ainda deverá placas solares forma prática, o rendimento médio do
ocorrer; FGTS ao longo dos últimos anos vem
Este tipo de cenário analisa o que caindo. De 6% em 2005 ele caiu para
• Em 2015, o consumidor demora- aconteceria se o consumidor pudes- 3% em 2013. Ou seja, o dinheiro do
va, em média, 9,7 anos para re- se usar o dinheiro de seu FGTS para cidadão que fica guardado neste fun-
cuperar o investimento feito em comprar sistemas fotovoltaicos. Atu- do sofre uma desvalorização.

10 GREEENPEACE BRASIL
Comparamos o rendimento mé- vador, moderado e agressivo. Eles Para o cenário moderado foi con-
dio de 3,5% ao ano para os valores baseiam-se em estimativas diferen- siderado um crescimento de 30% na
depositados no FGTS, com a Taxa tes de acordo com a resposta dos aquisição de placas fotovoltaicas, e os
de Retorno Interna do sistema fo- consumidores a esse fomento. resultados indicam um aumento de
tovoltaico em cada concessionária A contribuição do FGTS ao mo- 55% no número de unidades solariza-
analisada. Os resultados mostram delo matemático se deu sobre uma das até 2030. O dinheiro revertido em
que o sistema fotovoltaico apresen- variável chamada Sensibilidade ao tributos cresceria 60%, e o aumento
ta rendimentos muito superiores ao Tempo de Retorno, que registra o de vagas geradas seria de 53%.
FGTS, na grande maioria das con- interesse dos clientes em adquirir a Já para o cenário agressivo foi
cessionárias de distribuição brasi- tecnologia fotovoltaica considerando considerado um aumento de 50% na
leiras. O retorno é menor apenas o tempo necessário para compensar sensibilidade dos consumidores para
na CEPISA, CEA e Boa Vista, con- o investimento. adquirir a tecnologia. Nesse caso,
cessionárias atuantes nos estados No cenário conservador foi leva- haveria um aumento de 114% no nú-
do Piauí, Amapá e Roraima, onde as do em conta um aumento de apenas mero de unidades solarizadas, que
tarifas elétricas ainda se encontram 10% na sensibilidade dos consu- chegariam a mais de 1,6 milhão em
em patamares menores que no res- midores para aquisição do sistema 2030.
tante do país. fotovoltaico, em comparação com o Para o cenário FGTS agressivo,
Os resultados mostram que, para cenário O Brasil continua o mesmo. seriam adicionados R$ 157,8 bi-
o trabalhador, é melhor investir o va- Os resultados indicam um aumento lhões ao PIB, arrecadados R$ 3,2 bi-
lor do FGTS em um sistema fotovol- de 16% no número de unidades sola- lhões em tributos — um aumento de
taico do que mantê-lo aplicado. rizadas em 2030. E, nesse caso, as 119% em relação ao cenário O Brasil
A partir da metodologia adotada, vagas de empregos diretos e indire- continua o mesmo — e gerados mais
foram testados três cenários que si- tos gerados passariam de 700 mil, de 1,2 milhão empregos diretos e in-
mulam a aplicação do FGTS: conser- um aumento de 15%. diretos, crescimento este de 103%.

Adesão conservadora ao FGTS Adesão moderada ao FGTS Adesão agressiva ao FGTS


Unidades solarizadas 1.409.172 1.907.503 2.590.955
Potência instalada 8.395 MWp 11.180 MWp 14.927 MWp
Emissões evitadas de CO2 eq 20 milhões de toneladas 28,7 milhões de toneladas 39,5 Milhões de toneladas
Valor adicionado à economia R$ 95,3 bilhões R$ 130 bilhões R$ 157,8 bilhões
Tributos gerados R$ 1,9 bilhão R$ 2,6 bilhões R$ 3,2 bilhões
Empregos gerados 785.500 1.059.391 1.234.981

ICMS cai em todos os estados


Em abril de 2015, o Convênio voluntária e deve ser manifestada de res caso o tributo fosse abolido em
ICMS 16 do Conselho Nacional de forma independente. todo o país. Os resultados indicam
Política Fazendária abriu a possibili- Até dezembro de 2015, onze es- um aumento de 8,2% no número
dade dos estados isentarem a tribu- tados já tinham aprovado a isenção: de novas unidades solarizadas em
tação do ICMS na eletricidade gerada Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goi- 2030. Comparado com o cenário O
pelo sistema fotovoltaico e injetada ás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Brasil continua o mesmo, a média de
na rede de distribuição. Essa medida Grosso, Pernambuco, Rio Grande do crescimento de todos os indicadores
permitiu diminuir o valor da conta de Norte, São Paulo e Tocantins6. No Ce- seria de 5%.
luz nas residências com placas sola- nário ICMS cai em todos os estados
res. A participação de cada estado é é simulada a adesão às placas sola-

ICMS cai em todos os estados


Unidades solarizadas 1.312.053
Potência instalada 7.654 MWp
Emissões evitadas de CO2 eq 118,8 milhões de toneladas
Valor adicionado à economia R$ 86 bilhões
Tributos gerados R$ 1,7 bilhão
Empregos gerados 725.298

ALVORADA – Como o incentivo à energia solar fotovoltaica pode transformar o Brasil 11


CAPÍTULO 2

IPTU menor para quem gera energia solar


Para este cenário, considera-se feituras. Foram considerados três faria crescer em 9,8% as adesões,
que, para incentivar a adoção da ge- valores médios de desconto ao ano, sendo o mais expressivo.
ração distribuída de energia, todas aplicados a todas as residências do Notamos aqui que apenas des-
as prefeituras dariam descontos no país: R$ 25; R$ 75 e R$ 150. contos de maior proporção têm im-
IPTU para as residências que op- Para o incentivo de R$ 25, os re- pacto significativo nesse modelo.
tassem pelo sistema fotovoltaico. O sultados indicam que esse valor não Isso indica que o incentivo no IPTU
desconto seria válido por 25 anos, a seria tão atrativo para a população, pode ser uma estratégia interessan-
partir do primeiro ano de instalação. aumentando em apenas 1% o nú- te apenas para cidades onde o valor
A complexidade política da im- mero de unidades solarizadas. Com médio das residências é alto, como
plantação real do incentivo não foi o incentivo de R$ 75, veríamos esse capitais e centros comerciais de re-
avaliada, somente a sua viabilidade aumento chegar a 5%, e o país con- levância regional.
técnica, de forma a ponderar se tal taria 1.271.824 unidades solares
medida faria sentido para as pre- instaladas. Já o incentivo de R$ 150

Desconto no IPTU (R$ 150)


Unidades solarizadas 1.331.098
Potência instalada 7,654 MWp
Emissões evitadas de CO2 eq 18,8 milhões de toneladas
Valor adicionado à economia R$ 86 bilhões
Tributos gerados R$ 1,7 bilhão
Empregos gerados 724.872

Menos tributos para os sistemas fotovoltaicos


Em dezembro de 2015, uma sé- um preço final 13% menor.
rie de tributos ainda incidiam sobre Os resultados obtidos indicam Tributos que incidem sobre os
os componentes dos sistemas foto- um aumento de 22% no número de painéis e na energia fotovoltaica:
voltaicos. Apenas os módulos, que novas unidades solarizadas. É um
PIS Programa de
são as placas solares propriamente crescimento expressivo, que indica Integração Social
ditas, possuíam isenção do IPI. Já os um potencial interessante para justi-
COFINS Contribuição para
demais componentes importantes, ficar uma isenção fiscal nos sistemas.
Financiamento da
como inversores e medidores, não De todos os tributos que pode- Seguridade Social
tinham nenhum tipo de incentivo fis- riam ser zerados, os que contribuem
cal que permitisse uma redução do mais para o aumento de unidades IPI Imposto sobre Produtos
Industrializados
custo de instalação desses sistemas. solarizadas são o II e o PIS/COFINS,
Por isso, consideramos como se- incidentes sobre os módulos foto- II Impostos de Importação
ria a adesão à geração solar se hou- voltaicos, e o IPI, incidente sobre ICMS Imposto sobre Operações
vesse, nesse cenário, isenção total os inversores. A isenção apenas relativas à Circulação de
do Imposto de Importação (II), IPI e destes dois tributos, já resultaria Mercadorias e Prestação
PIS/COFINS para os módulos, inver- um aumento de 18% de unida- de Serviços
sores e medidores. O resultado seria des com energia solar em 2030.

Menos tributos para os sistemas


fotovoltaicos
Unidades solarizadas 1.480.194
Potência instalada 8.794 MWp
Emissões evitadas de CO2 eq 22 milhões de toneladas
Valor adicionado à economia R$ 100 bilhões
Tributos gerados R$ 2 bilhões
Empregos gerados 833.273

12 GREEENPEACE BRASIL
Nova Resolução Normativa
A Resolução Normativa 687, Para calcular os resultados de to- agora, apenas pelo custo e tempo de
aprovada em dezembro de 2015, dos os cenários apresentados neste retorno do investimento.
trouxe avanços ao setor de ener- estudo até agora, utilizou-se como O estudo mostra que, até 2024,
gia solar fotovoltaica ao favorecer a base as residências com renda supe- existirão 1.136.980 unidades solari-
adesão à essa fonte e a compra de rior a cinco salários mínimos. O cená- zadas, número apenas 5,5% inferior
placas solares. Assim, passa a aten- rio obtido pós-resolução, no entanto, ao divulgado pela ANEEL8.
der a um novo mercado potencial. permite que famílias com renda mais Os valores indicam que a revisão
Para avaliar os efeitos da Resolu- baixa tenham interesse em comprar da Resolução Normativa 482 foi fun-
ção para o Brasil, o presente estudo sistemas fotovoltaicos. Por isso, con- damental para o setor fotovoltaico no
considerou que ela aumenta a ade- sideramos uma linha de corte de três país, sendo seguramente o cenário
são dos consumidores aos sistemas salários mínimos. com maior impacto em todos os indi-
fotovoltaicos. Para residências, esse Considerou-se ainda que 100% cadores avaliados. Esses resultados
fator de adesão passou de 85% nos das residências na faixa estabeleci- também indicam a importância de se
demais cenários para 100%, no Brasil da estariam aptas a receber um sis- manterem vigentes os incentivos da
pós-resolução. Em relação ao comér- tema fotovoltaico. Isso significa que Resolução 482 e 687 durante todo o
cio, o fator subiu de 5% para 10%7. a maior restrição à instalação se dá, período analisado.

Brasil pós-Resolução 687


Unidades solarizadas 6.008.373
Potência instalada 29,6 mil MWp
Emissões evitadas de CO2 eq 84,4 milhões toneladas
Valor adicionado à economia R$ 387,2 bilhões
Tributos gerados R$ 7,8 bilhões
Empregos gerados 2.804.215

Melhor Brasil
No cenário Melhor Brasil foi simu- sitivos da energia fotovoltaica para o • Isenção do ICMS em todos os es-
lada uma combinação de incentivos Brasil. Foram considerados: tados do país;
que se mostraram mais impactantes
neste estudo, de forma a avaliar o • Liberação do FGTS para aquisição • Isenção dos Impostos de Importa-
potencial da implantação dos sis- de sistemas fotovoltaicos no cená- ção e do PIS/COFINS tributados
temas fotovoltaicos em uma escala rio conservador; sobre os módulos fotovoltaicos e
bem mais favorável que aquela vista do IPI sobre os inversores.
no cenário O Brasil continua o mes- • Aumento do fator de aptidão por
mo. Apesar de exigir uma série de conta da Resolução Normativa Com esses incentivos, segundo
fomentos e iniciativas simultâneas, 687, tanto das residências quanto os resultados da análise, o núme-
esse cenário mostra os impactos po- nos estabelecimentos comerciais; ro de unidades solarizadas subiria

Melhor Brasil
Unidades solarizadas 8.768.194
Potência instalada 41,4 mil MWp
Emissões evitadas de CO2 eq 122,2 milhões de toneladas
Valor adicionado à economia R$ 561,5 bilhões
Tributos gerados R$ 11,3 bilhões
Empregos gerados 3.919.114

ALVORADA – Como o incentivo à energia solar fotovoltaica pode transformar o Brasil 13


CAPÍTULO 2

623% em relação ao cenário O Bra- Este cenário de 2030, com tanta expansão muito mais acelerada da
sil continua o mesmo (de 1.212.662 energia solar, traria benefícios am- tecnologia. Os indicadores revelam
unidades para 8.768.194). Em rela- bientais significativos. A capacidade que, além de trazer consideráveis ga-
ção ao cenário Nova Resolução Nor- instalada evitaria que 122,2 milhões nhos ambientais com a redução das
mativa, o crescimento seria de 46%. de toneladas de CO2 eq fossem emiti- emissões de carbono, que agravam
O cenário Melhor Brasil teria dos no país – número equivalente a o aquecimento global, também será
41,4 mil MWp de potência instala- um quarto do que o setor energético desenvolvida no país uma indústria
da. Isso significa uma vez e meia a brasileiro emitiu em 2014. capaz de gerar riquezas, tecnologia
capacidade de geração da usina Outro grande ganho para o Brasil e empregos. Hoje, o potencial eco-
hidrelétrica de Belo Monte, na Ama- seria o surgimento de novos postos nômico da tecnologia fotovoltaica é
zônia. Ou, para comparar com uma de trabalho. Esse cenário prevê a pouquíssimo explorado, uma vez que
hidrelétrica ainda não construída, a movimentação de quase 4 milhões a inserção da fonte no mercado na-
capacidade nacional de geração de de vagas graças ao aquecimento do cional ainda é pouco expressiva – so-
energia solar em 2030 seria quase mercado de microgeração. Seriam bretudo se comparada à sua capaci-
duas vezes maior do que o planejado 2.037.939 de empregos diretos ge- dade ambiental – e que grande parte
para o complexo hidrelétrico no rio rados. dos equipamentos é importada.
Tapajós. Se construída, essa usina Os resultados indicam que a
irá trazer grandes devastações para combinação de diferentes incenti-
o meio ambiente, e colocará em ris- vos pode alavancar o mercado de
co as populações locais de índios sistemas fotovoltaicos no país de
Munduruku. forma considerável, permitindo uma

2030
Emissões
Unidades Potência
evitadas de
solarizadas instalada
CO2 eq

Evolução do cenário Melhor Brasil – entre 2015 e 2030

Como seriam os indicadores se o país adotasse melhores incentivos


políticos e econômicos para impulsionar a energia solar 8.768.194 41.359 122.233.610

Unidades solarizadas Toneladas de C02 mitigadas Potência instalada em kWp

3 10 20
MILHÕES

MILHÕES

MILHÕES

9 18
8 16
7 14
2 6 12
5 10
4 8
1 3 6
2 4
1 2
0 0 0
2015 2020 2025 2030 2015 2020 2025 2030 2015 2020 2025 2030

Valor adicionado a economia em bilhões de R$ Tributos gerados em milhões de R$ Empregos diretos e indiretos gerados

30 1000 250.000
900
25 800 200.000
20 700
600 150.000
15 500
400 100.000
10 300
5 200 50.000
100
0 0 0
2015 2020 2025 2030 2015 2020 2025 2030 2015 2020 2025 2030

14 GREEENPEACE BRASIL
Na comunidade ribeirinha de Várzea Alegre
(AM), placas solares geram energia para
uma bomba d’água que leva a água
do rio para as casas locais.

©OTÁVIO ALMEIDA/GREENPEACE

ALVORADA – Como o incentivo à energia solar fotovoltaica pode transformar o Brasil 15


3
CAPÍTULO

conclusão

A história de Fernando da Mata Agora, a família da Mata repre-


e suas altas contas de luz teve um senta o que muitas outras deveriam
final feliz. Em agosto de 2015, o Gre- ser: brasileiros com acesso à ener-
enpeace Brasil lançou o Solariza, gia elétrica limpa e renovável. Eles
um jogo online em que o internauta ganharam seu primeiro sistema de
instala virtualmente placas solares energia solar, e sabemos que pou-
em telhados, ao mesmo tempo em cas serão as famílias com a mesma
que ajuda a mapear o potencial de oportunidade.
geração de energia solar no país. Este estudo deixa claro, contudo,
Para estimular a participação, a que com um pouco de boa vonta-
ONG se comprometeu a instalar de do governo brasileiro em adotar
um sistema fotovoltaico na casa da um conjunto de medidas fiscais e
pessoa que marcasse mais telhados financeiras, todo brasileiro teria a
virtuais. Quando soube do jogo, Fer- possibilidade real de gerar sua pró-
nando viu ali uma chance para con- pria energia e economizar na conta
seguir seu tão sonhado sistema de de luz. Ao mesmo tempo, o governo
microgeração. estaria fomentando a geração de
Ao longo de alguns meses, ele empregos e a movimentação da eco-
jogou tanto que instalou placas vir- nomia brasileira.
tuais no equivalente a 26 mil telha- A tabela a seguir reúne os resul-
dos residenciais. Fernando ficou em tados de como seria cada um dos
primeiro lugar no Solariza e recebeu cenários:
um sistema de energia fotovoltaica
com 1,8 kWp de potência. Assim, as
contas de luz de sua casa ficaram
90% mais baratas quando compara-
das aos preços anteriores.

16 GREEENPEACE BRASIL
Fernando com sua esposa Cleusa,
os filhos Pedro e Daniel, e a cachorra Laila.
O sonho da microgeração virou realidade.

©ANTÔNIO STICKEL/GREENPEACE

Impacto dos cenários nas unidades solarizadas

Unidades Solarizadas Potência instalada Emissões de CO2 eq


em 2030 (MWp) em 2030 evitadas (em toneladas)
entre 2015 e 2030
CENÁRIOS

O Brasil continua o mesmo 1.212.662 7.281 17,8 milhões

FGTS para comprar placas solares


1.409.172 8.395 20 milhões
(conservador)
FGTS para comprar placas solares
1.907.503 11.180 28,7 milhões
(moderado)
FGTS para comprar placas solares
2.590.955 14.927 39,5 milhões
(agressivo)

ICMS cai em todos os estados 1.312.053 7.654 18,8 milhões

IPTU menor para quem gera


1.331.098 7,654 18,8 milhões
energia solar (R$ 150)
Menos tributos para os sistemas
1.480.194 8.794 22 milhões
fotovoltaicos

Nova Resolução Normativa 6.008.373 29. 600 84,4 milhões

Melhor Brasil 8.768.194 41.400 122,2 milhões

ALVORADA – Como o incentivo à energia solar fotovoltaica pode transformar o Brasil 17


CAPÍTULO 3

Os resultados para os indicado-


res socioeconômicos são apresenta-
dos a seguir:

Impacto dos cenários nos indicadores


socioeconômicos entre 2015 e 2030

Valor à economia (PIB) Tributos gerados Vagas de empregos


(bilhões) (bilhões) geradas
CENÁRIOS

O Brasil continua o mesmo R$ 81,5 R$ 1,6 689.961

FGTS para comprar placas solares


R$ 95,3 R$ 1,9 785.500
(conservador)
FGTS para comprar placas solares
R$ 130 R$ 2,6 1.059.391
(moderado)
FGTS para comprar placas solares
R$ 157,8 R$ 3,2 1.234.981
(agressivo)

ICMS cai em todos os estados R$ 86 R$ 1,7 725.298

IPTU menor para quem gera


R$ 86 R$ 1,7 724.872
energia solar (R$ 150)
Menos tributos para os sistemas
R$ 100 R$ 2 833.273
fotovoltaicos

Nova Resolução Normativa R$ 387,2 R$ 7,8 2.804.215

Melhor Brasil R$ 561,5 R$ 11,3 3.919.114

Esses dados deixam claro que, sar de ser o mais complexo para se
se forem mantidos apenas os atuais concretizar, possui viabilidade técni-
incentivos, a adoção da energia foto- ca para sua implantação. Os resulta-
voltaica no Brasil ficará longe de atin- dos mostram que uma ação conjunta
gir seu verdadeiro potencial e não de diversas esferas governamentais
chegará a muitos lares brasileiros. vale a pena. Se incentivada, a fonte
Este seria um enorme desperdício solar pode gerar duas vezes mais
para um país com uma das maiores energia do que o previsto para a hi-
incidências de luz solar do planeta. drelétrica de Tapajós, na Amazônia,
O fim do ICMS sobre a eletrici- ou ainda, uma vez e meia o que se
dade injetada na rede e a isenção espera de Belo Monte.
de impostos sobre os componentes Os gráficos a seguir comparam os
teriam um impacto positivo, contri- indicadores do cenário O Brasil con-
buindo para o ambiente e a econo- tinua o mesmo com os do cenário de
mia do país. Mas o incentivo que permissão de uso do FGTS para com-
se mostrou mais importante para prar placas solares, – considerado o
expandir e acelerar a difusão dos fomento mais impactante – , e com
sistemas fotovoltaicos no Brasil foi o os índices do Melhor Brasil. E, assim,
uso do FGTS. podemos ver como a energia solar
Já o cenário Melhor Brasil, ape- pode crescer no país.

18 GREEENPEACE BRASIL
Instalação de placas
fotovoltaicas na Escola
Municipal Milton Porto, em
Uberlândia (MG). Em um
ano gerando energia solar,
a escola economizou o
equivalente a R$ 15 mil.

© OTÁVIO ALMEIDA/GREENPEACE

Comparando os resultados
FGTS para comprar placas solares
O melhor incentivo para impulsionar a energia solar no país seria a liberação do uso do FGTS. O Brasil continua o mesmo
Este gráfico compara os resultados desse cenário com O Brasil continua o mesmo e o Melhor Brasil.
Melhor Brasil

Unidades solarizadas Toneladas de C02 mitigadas Potência instalada em kWp

3 10 20
MILHÕES

MILHÕES

MILHÕES
9 18
8 16
7 14
2 6 12
5 10
4 8
1 3 6
2 4
1 2
0 0 0
2015 2020 2025 2030 2015 2020 2025 2030 2015 2020 2025 2030

Valor adicionado a economia em bilhões de R$ Tributos gerados em milhões de R$ Empregos diretos e indiretos gerados

30 1000 250.000
900
25 800 200.000
20 700
600 150.000
15 500
400 100.000
10 300
5 200 50.000
100
0 0 0
2015 2020 2025 2030 2015 2020 2025 2030 2015 2020 2025 2030

A adoção de incentivos econômi- solares também se mostra muito Com esse estudo, estamos pro-
cos para a energia solar distribuída vantajoso economicamente, injetan- pondo a adoção de medidas go-
trará diversos benefícios para o Bra- do dinheiro na economia, criando em- vernamentais que incentivem os
sil. O primeiro deles é o próprio cres- pregos e aumentando a arrecadação consumidores a adquirir e instalar
cimento da rede elétrica, suprindo a dos governos federais, estaduais e a tecnologia. Essas medidas po-
demanda nacional que deve conti- municipais. O cenário Melhor Brasil, dem partir tanto do legislativo quan-
nuar aumentando. Também é notá- por exemplo, estima 679% a mais de to do executivo, na esfera federal,
vel o enorme ganho ambiental que dinheiro injetado ao PIB em compa- estadual ou municipal. É o futuro
esses incentivos podem trazer para ração ao cenário O Brasil continua o do país, de seu ambiente e de sua
o país e o planeta, com a diminui- mesmo. Seriam R$ 11,3 bilhões arre- economia que dependem disso.
ção das emissões de gás carbônico cadados para os cofres públicos em Em alguns anos, esperamos que
(CO2 eq), principal responsável pelo forma de tributos. Além disso, quase a família da Mata não tenha sido só
aquecimento global. No cenário Me- 4 milhões de empregos diretos e in- uma boa história, mas passe a fazer
lhor Brasil, será evitada a emissão de diretos estarão relacionados à expan- parte da revolução das fontes de
122,2 milhões de toneladas de CO2 são do mercado de energia solar. São energia do Brasil.
até 2030. benefícios dos quais o país não pode
O aumento no número de painéis abrir mão.

ALVORADA – Como o incentivo à energia solar fotovoltaica pode transformar o Brasil 19


4
CAPÍTULO

Metodologia

A seguir, são apresentados os


cálculos usados para chegarmos aos
Projeção de Unidades Solarizadas
resultados alcançados por este es-
tudo. Dividimos o capítulo em duas Prever o comportamento dos con- Para avaliar esse difícil processo
partes. A primeira, é a Projeção de sumidores frente a uma nova tecno- de decisão dos consumidores, dife-
Unidades Solarizadas, que avalia a logia não é fácil, já que cada pessoa rentes teorias foram desenvolvidas.
evolução no número de sistemas fo- tem motivos diferentes para adquirir Uma das mais tradicionais é a cha-
tovoltaicos, a potência instalada e a um bem ou serviço. Mesmo com al- mada Curva S, que ilustra a difusão
emissão de CO2 eq evitada. A segun- gumas vantagens evidentes, como o de novas tecnologias ao longo do
da parte é a Análise Socioeconômi- retorno financeiro ou a grande viabi- tempo. Por exemplo, o gráfico abaixo
ca, que estima a evolução do PIB, a lidade técnica, os consumidores po- mostra a evolução de diversas tecno-
arrecadação de tributos e a geração dem não comprar o novo produto. logias nos Estados Unidos ao longo
de empregos. Outro elemento que dificulta esse do século XX.
tipo de projeção é o fato de a tecno-
logia fotovoltaica ser uma inovação
disruptiva, que cria um novo merca-
do e disputa com outras tecnologias
já estabelecidas. Nesse caso, ela
compete com a própria distribuição
de eletricidade convencional. A ado-
ção de uma inovação desse tipo re-
quer tempo para ser assimilada, pois
toda mudança de paradigma gera
desconfianças que só são vencidas
com a adoção progressiva e positiva
da tecnologia.

20 GREEENPEACE BRASIL
Jovens instalam sistema de energia solar no telhado do
Centro Comunitário Lídia dos Santos, junto com voluntários
do Greenpeace, em Vila Isabel, Rio de Janeiro (RJ).

©OTÁVIO ALMEIDA/GREENPEACE

Difusão de novas tecnologias nos Estados Unidos

Como o tempo afetou na assimilação das tecnologias pelas residências ao longo do século XX e XXI

Telefone Carro Eletricidade Rádio TV a cores Computador Internet Microondas Celular

% dos Domicílios
100

90

80

70 TV a cores
Eletricidade
60 Computador

50

40
Celular
Telefone
30

20
Carro Rádio Internet
Microondas
10

0
1900 1915 1930 1945 1960 1975 1990 2005

Fonte: COX & ALM, 2008

ALVORADA – Como o incentivo à energia solar fotovoltaica pode transformar o Brasil 21


CAPÍTULO 4

Nota-se que a evolução da maior nologias de diferentes segmentos.


parte dos produtos é semelhante. O princípio do chamado Modelo de
Eles apresentam um início lento, e Bass é que quanto maior o número
partir de certo ponto ganham im- de pessoas usando determinada
pulso rapidamente, atingindo um tecnologia, maior a probabilidade de
crescimento exponencial, que se conquistar novos usuários. No caso
estabiliza na medida em que todos dos sistemas de energia solar foto-
os domicílios adotam a tecnologia. voltaica, entende-se que esta regra
Ainda assim, observamos que o pa- se aplica. E pode acontecer tanto
drão de crescimento exponencial foi por causa da maior divulgação e co-
menos expressivo entre os anos de nhecimento sobre as vantagens do
1935 e 1945, justamente o período produto, quanto pelo ganho de esca-
da Segunda Guerra Mundial, que la, que reduz seu preço da compra,
abalou o nível de consumo da popu- instalação, manutenção e operação
lação. Já a partir dos anos 1990, tec- do mesmo.
nologias como a internet e o celular O Modelo de Bass determina o
ganharam força muito mais rapida- número de adeptos da tecnologia a
mente, quase não apresentando a partir do seu mercado potencial e
lentidão inicial. de dois coeficientes, um de inovação
O fenômeno da Curva S foi usado e outro de imitação. Os inovadores
neste relatório para estimar a ado- são aqueles dispostos a adquirir
ção da tecnologia fotovoltaica no uma tecnologia pelo status de van-
Brasil, de forma a apresentar uma guarda. Já os imitadores são aque-
perspectiva de crescimento mais ali- les que passam a adquiri-la na medi-
nhada com a realidade. O modelo foi da em que ela se torna mais comum
proposto por Frank Bass em 1969, no mercado. O gráfico abaixo mostra
e tem sido utilizado desde então a relação existente entre as duas ca-
por outros estudos para avaliar tec- tegorias ao longo do tempo:

Inovadores ou imitadores

Quando surge uma nova tecnologia, os consumidores se dividem e entre


os que a compram primeiro (inovadores) e os que seguem o padrão (imitadores).

A equação do Modelo de Bass, definida


Número de novas adesões

a partir das informações apresentadas


anteriormente, é:

N(t) = mF(t)
IMITADORES Onde,
N(t) = Número acumulado de adesões
m = Mercado potencial final
F(t) = Distribuição acumulada
INOVADORES a partir dos coeficientes
de distribuição

Fonte: Adaptado de
Tempo Mahajan et al., 1990

Os coeficientes de distribuição nologia em cada concessionária de tual que não comportaria esta tecnolo-
que definem a distribuição acumu- distribuição de eletricidade, levando gia – seja por impedimentos técnicos,
lada foram baseados em referências em conta o seu nível de renda, de como sombreamento nos telhados e a
internacionais, uma vez que, no país, acordo com os parâmetros do Insti- falta de área disponível, seja por impe-
ainda não existem estudos sobre es- tuto Brasileiro de Geografia e Estatís- dimentos operacionais, como no caso
ses indicadores. tica (IBGE). dos locadores de imóveis de terceiros.
Para definir o mercado potencial A partir desse número absoluto de Para o cenário que incorpora a revisão
dos sistemas fotovoltaicos, foi ne- adesões na maioria dos cenários, tan- da RN 482, bem como o cenário Me-
cessário levantar a parcela dos con- to do mercado residencial quanto no lhor Brasil, esse percentual de descar-
sumidores que podem adotar a tec- comercial, foi descartado um percen- te foi desconsiderado.

22 GREEENPEACE BRASIL
A partir do mercado potencial fi- relacionados à cadeia produtiva de • Serviços de engenharia (presta-
nal, foi necessário ponderar qual o energia solar fotovoltaica no Brasil. ção de serviços às empresas).
percentual de consumidores dispos- Para isso, foi utilizada a Matriz
tos a fazer o investimento nos siste- Insumo Produto (MIP), uma repre- Depois de identificados, esses
mas fotovoltaicos. Esse percentual é sentação de todas as relações de segmentos foram agrupados em um
obtido com a ajuda de um indicador compra e venda entre setores da único setor representativo da cadeia.
chamado Sensibilidade ao Tempo economia nacional. A MIP é divul- A partir daí, foi possível determinar
de Retorno, que estipula a propen- gada periodicamente pelo IBGE, e é seus efeitos multiplicadores. Portan-
são do cliente a adquirir a tecnolo- composta por 56 setores. Com ela, é to, podemos dizer que o resultado
gia, de acordo com o tempo que ele possível calcular os efeitos multipli- obtido com a geração de empregos
precisa esperar para recuperar o cadores, que indicam o quanto cada não se refere apenas à criação des-
dinheiro investido na compra e ins- setor afeta os demais, em termos de sas novas vagas, por exemplo, – em
talação do produto. geração de valor e emprego. função da abertura de novas empre-
O fator de sensibilidade dos con- Esses efeitos foram separados
sas –, mas, principalmente, as vagas
sumidores foi adotado como sendo em três grupos. Os diretos, tratam do
que são remanejadas. O crescimen-
0,3, de acordo com parâmetros in- número de empregos, aumento de
to da energia solar no Brasil irá im-
ternacionais, já que não existem es- produção, massa salarial e arrecada-
pactar no aquecimento desse setor,
tudos locais sobre o tema. Já o tem- ção na própria cadeia fotovoltaica. Já
consequentemente atraindo mão
po de retorno do valor investido nos os efeitos indiretos são as variações
provocadas em outros setores da de obra que antes estava em outros
sistemas fotovoltaicos depende do
economia, principalmente nos forne- segmentos.
preço pago na sua compra e instala-
cedores de insumo para esta cadeia. A partir do resultado da potência
ção, da capacidade de gerar energia
E o efeito renda, que é a estimativa instalada, calculada na etapa ante-
e do custo da eletricidade consumi-
dos resultados gerados pelo aumen- rior, estimou-se a produção anual
da diretamente das concessionárias.
to da renda na economia em geral. da cadeia. Para isso, adotou-se uma
Nesta análise, o tempo de retorno foi
A primeira etapa da análise con- premissa fixa de margem do produto,
calculado para 61 concessionárias
cadastradas na Aneel. sistiu na determinação dos setores de 30%. Já a estimativa de coeficien-
Nos cálculos, a potência instala- que compõem a cadeia produtiva do te de importação varia com o tempo,
da foi estipulada em 2 kWp para as setor fotovoltaico. Baseado no rela- correspondendo a 80% da produ-
residências e 10 kWp para o comér- tório Avaliação das Perspectivas de ção nacional entre os anos de 2015
cio. O preço dos sistemas residen- Desenvolvimento Tecnológico para a e 2018, 50% entre 2019 e 2023 e
ciais foi de R$ 8,81 por Wp instalado, Indústria de Bens de Capital e Ener- 20% entre 2024 e 2030.
enquanto o dos sistemas comerciais gia Renovável, produzido pela Uni- Em seguida, os efeitos multiplica-
foi de R$ 7,85. versidade Federal do Rio de Janeiro dores foram aplicados sobre o valor
Para cada uma das concessio- e pela Associação Brasileira de De- de produção. Dessa forma, foi pos-
nárias foram levantadas as tarifas senvolvimento Industrial, adotou-se sível estimar a contribuição do setor
de distribuição, a área geográfica de a configuração para a cadeia lista- para a formação do PIB, os empregos
atuação e a radiação solar média in- da abaixo. Entre parênteses estão gerados a cada ano, a massa salarial
cidente na região. Sobre as tarifas foi os setores econômicos da MIP nos adicionada à economia e a arrecada-
quais os segmentos se encaixam: ção, incluindo IPI, ISS, ICMS, impostos
aplicada alíquota do PIS/COFINS in-
cidente em nível federal, bem como a sobre importação e sobre trabalho e
• Produção de materiais semicon- os tributos incidentes sobre ativida-
alíquota do ICMS, incidente em nível
dutores (outros da indústria extra-
estadual. As variáveis adotadas neste des econômicas específicas.
tiva; outros produtos de minerais
estudo estão descritas no Apêndice. As premissas de salário e produ-
não-metálicos);
A partir da metodologia descri- tividade da mão de obra são internas
ta, foi elaborada uma planilha com à MIP, e estão baseadas em parâme-
• Produção de peças e componen-
cálculo automatizado do número de tros históricos. Todos os dados apre-
tes (artigos de borracha e plástico;
unidades solarizadas instaladas en- sentados incluem o somatório de
produtos de metal, máquinas e
tre 2015 e 2030. efeitos diretos, indiretos e da renda.
equipamentos);
Os resultados referem-se ao
• Produção de máquinas e equi- consolidado nacional, por conta da
Análise pamentos elétricos e eletrônicos própria constituição da MIP divulga-
da pelo IBGE. Para obter um valor
(máquinas, aparelhos e materiais
Socioeconômica elétricos); aproximado dos efeitos regionais,
foram usados os dados do Ministério
Depois de estimar o número de • Manutenção, reparação e instala- do Trabalho e Emprego sobre a dis-
unidades solarizadas em cada ce- ção de máquinas e equipamentos tribuição de cada de um dos setores
nário, foi possível calcular os efeitos (serviços de manutenção e repara- da cadeia entre as macrorregiões
socioeconômicos diretos e indiretos ção); brasileiras.

ALVORADA – Como o incentivo à energia solar fotovoltaica pode transformar o Brasil 23


A
APÊNDICE

apêndice

Variáveis adotadas para calcular a adesão às placas fotovoltaicas e seus respectivos


impactos, tanto para as unidades residenciais quanto para as comerciais.

[1]

PARÂMETROS USADOS PARA CALCULAR O
MERCADO POTENCIAL RESIDENCIAL

> Número de domicílios com renda maior Varia por área de


que cinco salários mínimos concessão/estado
> Fator de aptidão das unidades
residenciais (porcentagem das residências
aptas a receber os sistemas fotovoltaicos) 85%
> Crescimento do mercado potencial Valor adaptado com base
na Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios (PNAD do IBGE)

[2]

PARÂMETROS USADOS PARA CALCULAR O
MERCADO POTENCIAL COMERCIAL

> Número de unidades consumidoras do tipo comercial


> Fator de aptidão das unidades comerciais (porcentagem dos estabe-
lecimentos comerciais aptos a receber os sistemas fotovoltaicos) 5%
> Crescimento do mercado potencial 3,2% ao ano

[3]

PREMISSAS PARA O CÁLCULO DO TEMPO DE
RETORNO DO INVESTIMENTO RESIDENCIAL

> Potência dos sistemas residenciais 2 kWp


> Preço do sistema instalado em residências R$ 8,81 /Wp
> Despesas com Operação & Manutenção no custo residencial 1% ao ano

24 GREEENPEACE BRASIL
> Percentual de energia injetada na rede 60%
> Degradação da produtividade 0,50% ao ano
> Tarifas de Eletricidade de Baixa Tensão B1
> Alíquotas de ICMS na tarifa Variam por estado/faixa de consumo
> Alíquota de PIS/COFINS na tarifa 6,50%
> Acréscimo de bandeira tarifária na tarifa residencial 0,00 R$/MWh
t(bandeira verde)
> Evolução da tarifa (real) Constante

[4]

PREMISSAS PARA O CÁLCULO DO TEMPO DE RETORNO DO
INVESTIMENTO COMERCIAL

> Potência dos sistemas comerciais 10 kWp


> Preço do sistema instalado no comércio R$ 7,85/ Wp
> Despesas com O&M no custo comercial 1% ao ano
> Percentual de energia injetada na rede 24%
> Degradação da produtividade 0,50% ao ano
> Tarifas de Eletricidade de Baixa Tensão B3 (iguais a B1)
> Alíquotas de ICMS na tarifa Variam por estado/faixa de consumo
> Alíquota de PIS/COFINS na tarifa 6,50%
> Acréscimo de bandeira tarifária na tarifa comercial R$ 0,00 /MWh
> Evolução da tarifa (real) Constante

[5]
GERAÇÃO DE ENERGIA (RESIDENCIAL E COMERCIAL)

> Produtividade por distribuidora Média de radiação por área de concessão


> Fator de Rendimento Global 75%

[6]
ISENÇÃO DE IMPOSTOS NA ENERGIA

> Isenção do ICMS sobre a energia


compensada pelo sistema fotovoltaico BA, CE, DF, GO, MA, MG,
MT, PE, RN, SP e TO
> Isenção do PIS/COFINS sobre a energia compensada Todo o Brasil

[7]
ISENÇÃO DE IMPOSTOS EM EQUIPAMENTOS

> Isenção do II nos módulos (NCM 8541.40.32 da TIPI) -3,93%


> Isenção do IPI nos módulos (NCM 8541.40.32 da TIPI) 0,00%
> Isenção do IPI nos inversores (NCM 8504.40.30 da TIPI) -2,73%
> Isenção do IPI nos medidores (NCM90.28.30.31 da TIPI) -0,13%
> Isenção do PIS/COFINS nos módulos (NCM 8541.40.32 da TIPI) -4,18%
> Isenção do PIS/COFINS nos inversores (NCM 8504.40.30 da TIPI) -2,04%
> Isenção do PIS/COFINS nos medidores (NCM 90.28.30.31 da TIPI) -0,10%

ALVORADA – Como o incentivo à energia solar fotovoltaica pode transformar o Brasil 25


R
REFERÊNCIAS

referências

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conectados à rede. 171 p. Dissertação de Mestrado. equipamentos de mini & micro-geração distribuída
Programa de Pós-Graduação em Energia, USP., São fotovoltaica no Brasil. Para GIZ. 2012
Paulo, SP., 2012.
• FUNDO DE GARANTIA DE TEMPO DE SERVIÇO – FGTS.
• ANEEL. Nota Técnica n° 0017/2015-SRD/ANEEL. Tabela de Rendimento Anual. Brasília, 2014.
Anexo V - AIR. Brasília, 2015
• GUILHOTO, J. J. M; SESSO FILHO, U. A. Estimação da
• _______. GERAÇÃO distribuída amplia número de Matriz Insumo-Produto a partir de dados preliminares
conexões em 2015. Notícia de 22 de janeiro de 2016, das contas nacionais. Economia Aplicada 9(1), abr-
disponível em <http://www.aneel.gov.br/>. Acessado jun, 2005.
em: em fevereiro de 2016. Brasília, 2015b.
• INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
• _______. ANEEL amplia possibilidades para micro – IBGE. Sistemas de Contas Nacionais. Brasil, 2009.
e mini geração distribuída. Nota técnica de 24 de
• IDEAL. O mercado brasileiro de geração distribuída
novembro de 2015, disponível em <http://www.aneel.
fotovoltaica - Edição 2015. 2015
gov.br/>. Acessado em: fevereiro de 2016. Brasília,
2015c. • IEA [International Energy Agency]. Technology
roadmap. Solar Photovoltaic Energy - 2014 Edition.
• BECK, R. Distributed Renewable Energy Operating
2014
Impacts and Valuation Study. Prepared for Arizona
Public Service by R.W. Beck, Inc, 2009. • KONZEN, G. Difusão de sistemas fotovoltaicos
residenciais conectados à rede no Brasil : uma
• BENEDITO, R. S. Caracterização da geração distribuída
simulação via modelo de Bass. 108 p. Dissertação de
de eletricidade por meio de sistemas fotovoltaicos
Mestrado. Programa de PósGraduação em Energia,
conectados à rede, no Brasil, sob os aspectos técnico,
USP. São Paulo, SP., 2014.
econômico e regulatório. 110 p. Dissertação de
Mestrado. Programa de Pós-graduação em Energia, • MAHAJAN, V. et al. Determination of Adopter Categories
USP., São Paulo, SP., 2009. by Using Innovation Diffusion Models. Journal of
Marketing Research, v. 27, p. 37-50, 1990
• DENHOLM, P. et al. The Solar Deployment System
(SolarDS) Model : Documentation and Sample Results. • MONTENEGRO, A. A. Avaliação do retorno do
Technical Report NREL/TP-6A2-45832, 2009. investimento em sistemas fotovoltaicos integrados
a residências unifamiliares urbanas no Brasil. 175
• EPE [Empresa De Pesquisa Energética]. Análise
p. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-
da Inserção da Geração Solar na Matriz Elétrica
Graduação em Engenharia Civil, UFSC., Florianópolis,
Brasileira. Nota Técnica. Rio de Janeiro, 2012.
SC., 2013.
• _______. Anuário Estatístico de Energia Elétrica 2015.
• VIANA, T. S. et al. Sistema fotovoltaico de 2 kWp
Rio de Janeiro, 2015
integrado a edificação: análise do desempenho de
• _______. Inserção da Geração Fotovoltaica Distribuída 14 anos de operação.In: IV CONGRESSO BRASILEIRO
no Brasil - Condicionantes e Impactos. Nota Técnica. DE ENERGIA SOLAR E V CONFERENCIA LATINO-
Rio de Janeiro, 2014. AMERICANA DA ISES. São Paulo, SP.: [s.n.], 2012. p. 6.

26 GREEENPEACE BRASIL
Alunas da Escola Oswaldo Aranha, em São Paulo
(SP), que graças a um financiamento coletivo
ganhou placas solares em 2015.

©OTÁVIO ALMEIDA/GREENPEACE

notas de rodapé
1 Dados no relatório Inserção da Geração Fotovoltaica Distribuída no Brasil – Condicionantes e Impactos
http://bit.ly/1AjncxH.
2 O número atualizado de sistemas de micro e mini geração de energia solar está no site da Aneel.
(http://www2.aneel.gov.br/scg/rcgMicro.asp).
3 Dados do relatório Um programa residencial de telhados solares para o Brasil: diretrizes de políticas
públicas para a inserção da geração fotovoltaica conectada à rede elétrica (http://bit.ly/1T0kEYY) e em
PHOTOVOLTAICS REPORT (http://bit.ly/1VPZZuC).
4 kWp (quilowatt-pico) é a unidade geralmente utilizada para medir a potência energética das células
fotovoltaicas. Como a energia solar depende de fatores externos, como a nebulosidade e a incidência
do sol, a medida de kWp estabelece a potência máxima gerada por esse equipamento nas condições
ambientais ideais.
5 Dado do relatório O mercado brasileiro de geração distribuída fotovoltaica, do Instituto Ideal (http://bit.
ly/1WRe3G7).
6 A lista atualizada de estados que derrubaram o ICMS pode ser encontrada no site do Greenpeace Brasil
(http://www.greenpeace.org/brasil/pt/O-que-fazemos/Clima-e-Energia/energia-solar/icms).
7 A alteração está baseada nas premissas que a Aneel adota para seus estudos de expansão fotovoltaica
para edifícios comerciais.
8 Os cálculos desses valores foram realizados a partir do número de unidades solarizadas no ano
de 2024, que chegarão a 1,2 milhões, de acordo com nota técnica da ANEEL divulgada em 24 de
novembro de 2015 (ANEEL, 2015c).

ALVORADA – Como o incentivo à energia solar fotovoltaica pode transformar o Brasil 27


www.greenpeace.org.br

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e independente que
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para defender o meio
ambiente e a paz,
inspirando as pessoas
a mudarem atitudes e
comportamentos. Nós
investigamos, expomos
e confrontamos os
responsáveis por danos
ambientais. Também
defendemos soluções
ambientalmente seguras
e socialmente justas, que
ofereçam esperança para
esta e para as futuras
gerações, e inspiramos
pessoas a se tornarem
responsáveis pelo planeta.

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