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Tfouni (2004) afirma que “não existe, nas sociedades modernas, o letramento ‘grau
zero’, que equivaleria ao ‘iletramento’. Do ponto de vista do processo sócio-histórico, o que
existe de fato nas sociedades industriais modernas são ‘graus de letramento’”. (p. 18)
Analfabeto, para Soares (2004, p. 20), é “aquele que não pode exercer em toda a sua
plenitude os seus direitos de cidadão, é aquele que a sociedade marginaliza, é aquele que não
tem acesso aos bens culturais de sociedades letradas e, mais que isso, grafocêntricas”. (p. 18)
Os termos alfabetizado e analfabeto dão uma noção falsa: a de que possa existir uma
divisão clara e abrupta entre aqueles que dominam e aqueles que não dominam a escrita. O
conceito de letramento embaça essa divisão e, no lugar dela, propõe um continuum em que faz
sentido falar em graus, como mostram Kleiman (1995) e Tfouni (2004).(p. 19)
Roger Chartier, historiador das práticas da leitura, afirma, em entrevista inédita, que,
se existe uma “nova legibilidade”, por conta dos novos suportes do texto, também será
necessário pensar e executar o que ele chama de “nova alfabetização”. Se antes convivíamos
com a separação entre alfabetizados e analfabetos, minorada pelo surgimento das preocupações
com o letramento, agora novas questões são postas. Uma delas é aquela relacionada aos
analfabytes, pessoas que, embora saibam ler e escrever, e por vezes dominem os suportes
tradicionais de escrita, não dominam novas mídias, mais especificamente o computador e a
Internet. Mais uma vez, podemos afastar a dicotomia entre analfabytes e alfabytizados para que
emerja uma nova discussão: a do letramento digital. (p. 24)
“Pedagogizar” seria tornar parte do discurso e das práticas escolares algo que acontece
na sociedade. Isso pode ser ruim, quando a escola “força” práticas e conteúdos a entrarem num
enquadramento entediante e sistematizado como “regra” ou “proposta didática”; mas pode ser
bom quando a escola admite que é necessário levar para dentro de seus muros as práticas da
sociedade, desenvolver nos alunos o senso crítico, trabalhar com textos de circulação social,
assim como lê-los em suportes que estão nas casas e no trabalho das pessoas. De certa forma,
os “muros” da escola, que a isolam do “mundo lá fora”, podem ser mais frágeis e leves. (p. 32)
Pessoas que ainda não têm letramento digital têm dificuldade de lidar com os
equipamentos. É preciso saber como usar o teclado, o mouse, dar dois cliques para abrir
programas, um clique para acessar links, usar logins e senhas, etc. Depois que ultrapassam essa
fase “motora”, os usuários começam a conhecer a navegação em ambientes, a participação, a
leitura, a publicação. Nos ambientes digitais, a distância entre ler e escrever é muito curta. (p.
35)
Nossa intenção é estudar o que é novo e o que é reconfiguração neste novo sistema de
mídia, e estarmos sempre preparados para as reconfigurações desse sistema, que vai crescer, se
remodelar, se rever. Também é preciso trabalhar pela facilitação do acesso das pessoas, o maior
número delas às possibilidades da rede. Não basta saber digitar, é preciso saber ler, escolher,
pesquisar, triar, selecionar, refazer, participar. (p. 35)