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RECEITA FEDERAL DO BRASIL

Técnicas de Redação – Aula 01


Eduardo Sabbag

CURSO CARREIRAS FISCAIS


LÍNGUA PORTUGUESA - TÉCNICAS DE REDAÇÃO

PROF. EDUARDO SABBAG


AULA 1/3

QUALIDADES DA BOA LINGUAGEM:

O texto NOTA 10 deverá conter atributos indispensáveis. São eles:

1. CORREÇÃO GRAMATICAL - RUDIMENTOS GRAMATICAIS: ortografia (e Acordo), acentuação


(e Acordo), crase, regência, concordância verbo-nominal;

2. CONCISÃO (não é simples escrever "tudo" em "pouco espaço/tempo"). O ato de resumir vai
permitir que treinemos a identificação das “ideias-núcleo” no texto;

3. COESÃO: a estrutura textual requer a concatenação, ou seja, uma sequência lógica de raciocínio.
Desse modo, a ideia apresentada tem um percurso argumentativo (começo-meio-fim). Vale dizer que
há um “iter” (caminho) a ser seguido, no chamado eixo temático (tessitura redacional). Se o
raciocínio não flui, e o interlocutor detecta quebras na compreensão da ideia, há problema de
coesão;

4. COERÊNCIA: enquanto a “coesão” diz respeito à estrutura textual, a “coerência“ se atrela ao


plano ideológico (interno e externo) do texto. No estudo da "coerência", destacam-se a coerência
interna e a coerência externa:

COERÊNCIA INTERNA: é a perfeita sintonia de ideias no texto, as quais seguem uma estrutura
ideológica pertinente. Tal pertinência pressupõe uma tese (parágrafo introdutório), atrelável a um
desenvolvimento e, finalmente, a um fecho de raciocínio, em rigorosa progressão. Exemplo: “não
posso começar com um SIM (pretendendo demonstrar a prevalência desse SIM) e terminar com um
NÃO”;

COERÊNCIA EXTERNA: o argumento terá coerência externa quando se dotar de


SUSTENTABILIDADE. Um argumento sustentável é aquele que pode ser defendido sem titubeios ou
raciocínios sofisticados; é aquele plausível, pertinente, coerente com o mundo exterior; finalmente, é
aquele que não resulta de raciocínios mirabolantes. Se o texto é científico, a coerência externa se
identifica na capacidade do expositor de tratar o tema com conhecimento de causa.

5. NATURALIDADE: o texto bem elaborado é aquele que flui com naturalidade, sem expressões
pernósticas e vocabulário erudito. Tudo deve estar coerente com a capacidade linguística do escritor.
Erudição não se mede pela utilização de palavras "bonitas".

6. ORIGINALIDADE: é recomendável que a exposição do raciocínio seduza, provoque, instigue o


destinatário da mensagem. O texto original é aquele dotado de singularidades que o tornam atraente.

O TEXTO DISSERTATIVO E SUAS PECULIARIDADES

TEXTO DISSERTATIVO: é aquele em que o escritor exterioriza criticamente os argumentos acerca


de determinado ponto de investigação. É da essência da dissertação o caráter opinativo,

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argumentativo. Nesse passo, disserta-se com o objetivo de convencer alguém sobre um certo ponto
de vista.

A ARTE DE CONVENCER: requer a organização do pensamento, das ideias, do raciocínio. Para o


convencimento de outrem, é fundamental que o falante/escritor exponha suas ideias de modo
concatenado, em uma progressão de raciocínio (COESÃO), adotando argumentação plausível e
racionalmente sustentável (COERÊNCIA EXTERNA), a fim de lograr êxito nesse processo
comunicacional.

TÉCNICA: COMEÇO – MEIO – FIM

COMEÇO:...............................PREMISSA MAIOR
↓ ↓
MEIO: ...............................PREMISSA MENOR
↓ ↓
FIM: ........................................CONCLUSÃO
Trata-se do conhecido RACIOCÍNIO SILOGÍSTICO (SILOGISMO)

A ESTÉTICA DO TEXTO

PREMISSA MAIOR

PREMISSA MENOR

CONCLUSÃO

OU, EM OUTROS TERMOS:


INTRODUÇÃO

DESENVOLVIMENTO

CONCLUSÃO

VAMOS DETALHAR...

1. INTRODUÇÃO: a introdução é uma parte do texto dissertativo dotada de muita relevância, uma
vez que serve para a apresentação inicial do assunto (tema). Tal indicação preambular deve conter a
chamada “ideia-núcleo” – o ponto principal do tema a ser anunciado. Além disso, a introdução deve
ter um caráter resumitivo, ou seja, apresentar uma sinopse daquilo que se pretende exteriorizar. Tal
resumo deverá ser detalhado nos tópicos subsequentes, daí a sua formatação meramente
panorâmica. Por fim, a introdução deve ter o viés provocativo, hábil a instigar/seduzir/despertar (a
curiosidade de) o interlocutor.

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INTRODUÇÃO = “IDEIA-NÚCLEO” + RESUMO + APRESENTAÇÃO QUE SEDUZ

2. DESENVOLVIMENTO: a ideia-núcleo anteriormente apresentada poderá ser esmiuçada nesse


tópico, também conhecido como “premissa menor”. Aqui o escritor terá a oportunidade de apresentar
detalhes, informações secundárias, argumentação dialética (um lado x outro lado; ou, ainda: a visão
do doutrinador A x a visão do doutrinador B; além disso, os argumentos de autoridade – doutrina e
jurisprudência –, em textos técnicos), entre outros dados. Por fim, o “desenvolvimento” deve esgotar
tais detalhamentos, uma vez que o próximo (e último) tópico do texto – a conclusão – não poderá
conter ideia nova. Quando se conclui – e isso será visto adiante –, não deverão ser apresentados
elementos novos, mas apenas se retomar a tese.

3. CONCLUSÃO: é a simples retomada da tese, resgatando a ideia-núcleo da introdução. Portanto,


o arremate da conclusão deve ser simples e objetivo, demonstrando com clareza o ponto a que se
chegou (se a ideia-núcleo é revisitada ou não).

A TRANSPOSIÇÃO DOS TÓPICOS PARA A ESTRUTURA DA PARAGRAFAÇÃO

O texto em um texto de 30 linhas...

PARÁGRAFO 1: INTRODUÇÃO

PARÁGRAFO 2: DESENVOLVIMENTO

PARÁGRAFO 3: DESENVOLVIMENTO

PARÁGRAFO 4: CONCLUSÃO

Naturalmente, o contexto vai imperar na estética acima apresentada. Isso significa que o número de
linhas poderá ser variável, a depender da situação posta. Assim, poderei dissertar dispondo de 60,
80, 120 linhas. Daí a liberdade na confecção dos parágrafos (por exemplo, uma introdução com dois
parágrafos, um desenvolvimento com vários parágrafos), entre outras possibilidades de estilo.

ELEMENTOS DE LIGAÇÃO (CONECTORES) PARA A INTRODUÇÃO DO PENSAMENTO

O tema retoma à ideia de COESÃO. Vamos recapitular:

O texto coeso é aquele que apresenta uma orientação argumentativa, ou seja, a chamada coesão
sequencial. Em outras palavras, mostra-se com ideias que são encadeadas em uma progressão de
raciocínio (começo, meio e fim). Seguem algumas estratégias para se alcançar a coesão no texto:

1) responda às perguntas: “vou falar sobre o quê?”; “pretendo demonstrar o quê?”; “vou
provar o quê?”; “vou concluir o quê?”;

2) utilize, como macete, a metáfora do “diálogo do guichê da rodoviária”: “quero ir a


Sorocaba, pela rodovia tal..., chegando àquele destino em tanto tempo...”.

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Posto isso, a coesão é a necessária direcionalidade que todo texto adequado deve possuir. A
propósito, a “costura” de ideias na superfície textual dependerá de alguns elementos:

a) é fundamental que o texto seja construído com parágrafos curtos e frases curtas;

b) é vital que se faça o bom uso das palavras sinônimas. Exemplos:


> confirmar = ratificar = corroborar = ir ao encontro de;
> claudicante = capenga;
> idiossincrasia = particularidades, maneira de ser e agir;

c) é necessário que não se confundam as palavras parônimas (ex.: ratificar x retificar; elidir x ilidir;
eminente x iminente);

d) é preciso o domínio do bom uso dos pronomes relativos, os quais serão capazes de fazer com que
um elemento frasal esteja solidário com outro;

e) por fim, o texto coeso dependerá das chamadas partículas sequenciadoras, as quais unirão o
parágrafo anterior ao seguinte, mantendo o fio lógico de raciocínio, à luz da estrutura silogística
adequada (premissa maior / premissa menor / conclusão; ou tese / desenvolvimento / conclusão).

EXEMPLOS DE PARTÍCULAS SEQUENCIADORAS: MACETES QUE SERVEM PARA


“DESTRAVAR” O ESCRITOR NO INÍCIO DOS PARÁGRAFOS (ESTRATÉGIA "ANTITRAVA")

1. PARA A INTRODUÇÃO:
Se o tema requer, por exemplo, a citação de um dispositivo legal, fundamental para o desfecho do
caso, é simples imaginar que tal comando normativo será a PREMISSA MAIOR. Desse modo, a
introdução deve conter a sua menção, a par de seu detalhamento.
Exemplos:
Segundo o art. ___, (...)
Em consonância com o art. ___, (...)
Conforme o disposto no art. ___, (...)
À luz do disposto no art. ___, (...)
Com fulcro /Com supedâneo no art. ___, (...)
Consoante a dicção do art. ___ (...),

OU, AINDA, COM MAIS SIMPLICIDADE:

O art. ___ dispõe / reza / preconiza / preceitua / determina / expressa / estabelece / exprime /
exterioriza / evidencia / expõe / assevera (...)

OBSERVAÇÃO: as vírgulas nos dispositivos legais seguem um regramento particular. Note:


(...) art. 5°, XXXVI, “a”, da CF (...)
(...) art. 5° da CF (...)

PRESTE ATENÇÃO: A ORDEM INVERTIDA...


(...) conforme se estabelece na alínea “a” do inciso XXXVI do art. 5° da CF (...).

2. PARA O DESENVOLVIMENTO

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a) Quando se deseja reiterar o argumento apresentado anteriormente (raciocínio dotado de


circularidade):
Exemplos:

A corroborar o exposto acima, (...)


Na linha do que acima se expôs, (,,,)
Nesse passo, (...)
Nesse rumo, (...)
Nesse sentido, (...)
Nessa toada, (...)
Nesse diapasão, (...)
Nessa senda, (...)
No mesmo tom, (...)

Visualizando a situação:

ARGUMENTO A

ARGUMENTO B

Explicando: se o argumento “b” vem reforçar o argumento “a”, adotam-se as partículas


sequenciadoras, acima apresentadas, para corroborar a ideia anunciada.

b) Quando se deseja contrapor o fato à norma, ou vice-versa (premissa menor x premissa


maior):
Exemplos:
No caso em tela, (...)
No caso em exame, (...)
No caso em comento, (...)
No vertente caso, (...)

c) Quando se apresetna a argumentação no plano dialético (própria do texto dissertativo):

Exemplos:

Por outro lado, (...)


Em outra perspectiva, (...)
Sob outro modo de ver, (...)
Embora/Conquanto a situação se revele como indispensável, entende-se, de modo oposto,
que (...)
Não obstante a (expressão cristalizada, fossilizada) argumentação apresentada, vê-se que os
fatos vão de encontro à norma (...)
Observação: INOBSTANTE deve ser evitado, porque não desfruta de registro lexicográfico
(não está no VOLP), embora seja de formação regular.

3. PARA A CONCLUSÃO

Para a conclusão, existem partículas sequenciadoras estereotipadas. São elas:

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Assim, (...)
Do exposto, (...)
Diante do exposto, (...)
Destarte, (...) / Dessarte, (...)
Posto isso, (...)
Ante o exposto, (...) (CUIDADO: EVITE “ANTE AO EXPOSTO”: duas preposições?)
Em face do exposto / Em face ao exposto, (...) (CUIDADO: EVITE “FACE AO EXPOSTO”:
estrangeirismo, francesismo ou galicismo. A locução prepositiva no português é em face de/a)

O TEXTO NA PRÁTICA

ESTRATÉGIA ARGUMENTATIVA PARA A DISSERTAÇÃO:

MACETE:
VOU FALAR SOBRE O QUÊ? VOU DEMONSTRAR O QUÊ? VOU PROVAR O QUÊ? VOU
CONCLUIR O QUÊ?
(O macete reproduz o próprio percurso argumentativo baseado no silogismo: começo-meio-
fim)

PASSOS A SEREM SEGUIDOS:

1° PASSO: reflita sobre o tema (chamamos o processo de análise silenciosa)

2° PASSO: faça o rascunho (as ideias inicialmente pensadas devem ser “jogadas” no papel, ainda
que de modo desorganizado);

3° PASSO: arrumação das ideias, tentando-se identificar um percurso argumentativo (respondendo


às perguntas do macete), com a eliminação dos excessos (chamamos de análise dialógica);

4° PASSO: a partir do passo anterior, elaborar, finalmente, o texto final.

OBSERVAÇÃO: em outras propostas mais sofisticadas, por exemplo, aquelas que apresentam
textos para uma leitura e análise prévias, o escritor deve ter bastante cautela. Há que se observar a
ideia-núcleo (ou ideias-núcleo) em cada texto, extraí-las em uma atividade de resumo e, após,
elaborar o percurso argumentativo de modo global, ou seja, respondendo às perguntas do “macete”,
às luz de tais ideias-núcleo. É natural que devamos trazer incrementos argumentativos, mas sempre
presos à ideia central captada no(s) texto(s) fornecido(s).

1. PRÁTICA DA REDAÇÃO – TEMAS SIMPLES

TEMA SIMPLES (NÃO JURÍDICO): A TELEVISÃO.


Aquecimento (Rascunho):

- meio de comunicação;

- a tevê informa; a tevê não informa, manipula;

- a televisão é um poderoso veículo de divulgação, em tempo real, dos mais diferentes episódios que
ocorrem no mundo;

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- a tevê demonstra uma aptidão para distanciar aqueles que assistem a ela;

- a tevê (critica à manipulação): a televisão tende à futilidade quando prioriza o entretenimento em


prejuízo da informação;

- a tevê se adapta ao gosto (duvidoso) do telespectador, que se satisfaz com “baixarias” e programas
apelativos. Se falta cultura ao povo, como imaginar que ele buscará na tevê o que não conhece?

- a tevê, por meio de seus programas (algumas telenovelas, por exemplo), impõe modos de pensar e
agir, padronizando as referências sociais e comportamentos. Isso abre caminho à indústria cultural.

- Gramática em dia:

1. Verbo “assistir” (verbo transitivo indireto – preposição “a”) (presenciar): Eu assisto à tevê; Assiste-
se à tevê; Estes são os programas de televisão a que / aos quais assisto; Esta é a televisão a que/ à
qual assisto.

2. Espectador: o que assiste à tevê (Expectador: o que tem expectativa)

PARA REFLETIR...
“... No século 19, acreditavam os pensadores deterministas ser o homem um produto do meio. Neste
novo século, podemos dizer que os meios (de comunicação) são um produto (ou reflexo) do homem.”
(CAMARGO, Thaís Nicoleti de. Redação – Linha a linha. São Paulo: Publifolha, 2004, p. 40).

REDAÇÃO REALIZADA PELO PROF. SABBAG:

Título: Televisão: informa ou desinforma?

Parágrafo introdutório:
A tevê é um meio de comunicação que promove a difusão de informação a todos aqueles que
assistem a ela. Ao mesmo tempo, a televisão pode se mostrar como um poderoso veículo de
manipulação ideológica, afetando o discernimento dos telespectadores. Nessa medida, há que se
definir: a tevê informa, manipula ou, curiosamente, possui as duas faces?

Segundo parágrafo:
É evidente que a televisão se mostra como um poderoso veículo de conhecimento, e isso por mais
de uma razão. Ao mesmo tempo que diminui a distância, não discrimina os destinatários da
mensagem. Daí o seu “democrático” caráter informativo. Além disso, a tevê permite “que o mundo se
conheça”, quando todos têm acesso em tempo real aos mais diferentes episódios do planeta.

Terceiro parágrafo:
Por outro lado, a televisão, atendendo a interesses daqueles que detêm a propriedade dos meios de
comunicação, revela-se como um potente recurso de manipulação ideológica. De fato, a mensagem
ali difundida, ainda que irreal ou inverídica, dota-se de legitimidade, tornando-se indubitável. Essa
faceta “manipuladora” transforma a tevê em instrumento de satisfação de interesses dominantes em
detrimento da vontade e da real percepção do telespectador, quanto ao mundo exterior.

Quarto parágrafo:
Nesse rumo, a televisão, em boa parte de sua programação, procura divulgar alienantes programas
de entretenimento – muitos deles, focados na futilidade –, sem a ideal preocupação de exteriorizar o
conhecimento adequado sobre o mundo exterior. Ela entretém, mas aliena.

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Conclusão:
Assim, entende-se que assistir à tevê é se aproximar da informação com a velocidade que o
dinâmico mundo atual exige. Isso, todavia, não significa conhecer, engajadamente, o “mundo” por ela
revelado. A tevê possui mais de uma face.

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