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Viver em Vitória

Pelo poder da misericórdia

Steve Gallagher

Título original: Living in victory


© 2002 by Steve Gallagher
Pure Life Ministries
Tradução: Dra. Maria Eugênia da Silva Fernandes
Graça Editorial, Rio de Janeiro, 2005
Coordenação: Eber Cocareli
Diagramação: Ilma Martins de Souza
Capa: Graça Editorial (Reprodução do original) Design: Kleber Ribeiro

G158v

Gallagher, Steve.
Viver em vitória - Pelo poder da misericórdia / Steve Gallagher; traduzido por Dra.
Maria Eugênia da Silva Fernandes - Rio de Janeiro; Graça, 2005.
256 pp. 16x23cm.

ISBN 85-7343-719-7

Tradução de: Living in victory

Inclui bibliografia

1. Vida cristã. 2. Sexo - Aspectos religiosos - Cristianismo. I. Título.

CDD-248.4

Digitalizado por sssuca


Sumário

Elogios antecipados a Viver em vitória.........................................................................4


Introdução - Viver em vitória .......................................................................................6

Vendo a sua necessidade...................................................................8


Vendo a sua necessidade...............................................................................................9
Das nuvens para a realidade........................................................................................18
Um mundo em guerra.................................................................................................28
Deus não está satisfeito...............................................................................................39

O Deus que supre as nossas necessidades........................................49


Buscando, conhecendo e amando Deus......................................................................50
A essência do Espírito Santo.......................................................................................60
O Deus de misericórdia...............................................................................................72
A indiferença e a ira de Deus.......................................................................................82
O Deus que opera........................................................................................................95

Transformando a misericórdia de Deus em Sua vitória.................109


O clamor dos necessitados.........................................................................................110
A vontade de Deus.....................................................................................................123
A vida de misericórdia...............................................................................................133
Aqueles que exercem a misericórdia.........................................................................145
A oração da misericórdia...........................................................................................155

Os frutos da vida de vitória............................................................165


Andando em autoridade espiritual............................................................................166
Vitória sobre o pecado habitual.................................................................................177
Viver em vitória.........................................................................................................185

Bibliografia...........................................................................................................198

Minha gratidão sincera a Charlie Hungerford e Bradley Furges


por sua ajuda ao editarem este livro.

A Doug & Millie Detert, que me ensinaram o significado da


misericórdia de Deus por meio da vida de cada um.
Elogios antecipados a Viver em vitória

"Pelo fato de termos abraçado o nível falho do mundo, nossas


casas são fracas, nossas igrejas são vulneráveis e nossas famílias
despedaçam-se ao nosso redor. Viver em vitória, de Steve Gallagher,
leva-nos de volta ao único nível sobre o qual deveríamos edificar-
nos: a Palavra de Deus. Prepare-se para ser desconfortavelmente
desafiado à medida que o autor expõe os patamares falhos da sua
vida. A princípio, parecerá que você está sendo destroçado, mas,
com o tempo, verá que está sendo edificado para uma nova vida em
Cristo."
Dannah Gresh
Autor de And the bride wore White
[algo como E a Noiva vestia branco]
e Pursuing the pearl [algo como À procura da pérola]

"A abertura transparente de Steve Gallagher sobre as próprias


dificuldades e a leitura bíblica inspiradora sobre a misericórdia de
Deus são profundamente tocantes. Ao ler, eu me tornei
dolorosamente ciente das minhas falhas na área da pureza, mas, ao
mesmo tempo, encorajado por não ser tarde demais para mim.
Viver em vitória me dá esperança de que uma vida devotada a Deus
seja tanto possível quanto necessária. Um livro de leitura obrigatória
para qualquer homem que busca ter uma vida agradável a Deus."
Charlie Hungerford
Diretor Assistente de Comunicações da Universidade Drury University

"Steve Gallagher aborda o assunto da vida vitoriosa não como


um homem que se faz por si, mas como uma pessoa feita por Deus —
um indivíduo totalmente falível que colocou seu destino nas mãos de
um Pai poderoso e cheio de graça. Se você estiver cansado de
respostas superficiais e pronto para deixar o Senhor transformá-lo,
compre este livro!"
David E. Fessenden
Gerente Editor
Christian Publications, Inc.

"O novo livro de Steve Gallagher, Viver em vitória, é um


recurso bem escrito e excelente para qualquer cristão que deseje
uma vida abundante, livre da escravidão da carne. Assim como em
suas outras obras, Steve fala de coração e se comunica facilmente
com o leitor. Este livro será uma bênção para muitos leitores."
Nick Harrison
Editor
Introdução
Viver em vitória

Vitória... A própria palavra pode parecer quase uma


brincadeira cruel para alguém preso a um pecado habitual. A
maioria dos que conheço, que luta, ficaria animada em viver apenas
com algum grau de liberdade do seu pecado sexual e acharia que
uma vida espiritual abundante é absurda e até ridícula. Meu objetivo
é mostrar ao leitor que ele não precisa mais aceitar uma forma de
liberdade "enrolada" e movida pelo medo. Como filho de Deus, a
vida abundante da vitória em Cristo lhe pertence!
O problema é convencer um homem com uma atitude de
derrota de que ele pode ter muito mais do que experimentou até
agora. É como tentar contar a alguém que vive em uma favela,
ganhando salário mínimo, que ele pode viver no luxo. Ele irá vê-lo
como se você tivesse duas cabeças! Ele viveu na favela a vida inteira
e trabalhou por um salário baixo durante anos. Essa pessoa pode
saber vagamente que existem os ricos, mas o alto estilo de vida está
tão longe do seu pequeno mundo, que lhe parece inconcebível poder
desfrutar de tais riquezas.
A maioria dos que lutam se consideraria vitoriosa se ficasse
livre de um único hábito que a importune. Contudo, isso
verdadeiramente faria um homem ser vitorioso? O que foi realmente
obtido se um viciado em sexo não mais esta freqüentando as casas
de massagem, mas encontra-se ainda cheio de desejo? Ele será
verdadeiramente rico em Cristo se for egoísta, irado e orgulhoso? Ele
sabe mesmo sobre vida vitoriosa se não souber viver no poder e
amor de Deus?
Se, de repente, uma pessoa que ganha salário mínimo tiver o
salário dobrado; poderá parecer que ela seja rica, mas isso não a
torna assim. Sem dúvida, sua situação melhorou. Talvez, ela até seja
capaz de sair dos seus planos e partir para uma vizinhança melhor.
Entretanto, se desejar tornar-se rica, terá de aspirar a mais do
que um aumento de salário e uma casa ligeiramente mais bonita.
Será preciso mudar toda a fachada da sua vida, da pobreza à riqueza
e tornar-se uma ávida estudante da vida dos ricos. Mais do que tudo,
será necessário dominar os princípios operacionais do sucesso que
governam o mundo dos negócios.
O mesmo acontece com alguém que almeja trocar sua vida
espiritual de derrota por uma de vitória. Ele também terá de olhar
mais alto do que no passado, precisará estudar a vida daqueles que
tiveram uma vida cristã abundante e, mais que tudo, terá de
dominar os princípios operacionais do sucesso, que lhe abrem a
fortuna espiritual disponível ao crente. Por que o cristão se sujeita a
uma vida derrotada na favela quando os tesouros de Cristo lhe estão
disponíveis?
As riquezas que levam a uma vida vitoriosa não são as
bugigangas que este sistema mundano oferece, mas podem ser
encontradas nas profundezas insondáveis do próprio Deus. Paulo
nos conta que o Senhor é rico em misericórdia (Ef 2.4). Acontece que
a misericórdia é justamente aquilo de que o santo lutador precisa.
Tudo no Reino de Deus gira em torno do amor e da
misericórdia do Senhor. Com efeito, Seu amor é o princípio
operacional que move todo o Reino de Deus. Jesus expressou isso
quando disse: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e
de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e
grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o
teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos
dependem toda a lei e os profetas (Mt 22.37-40). Em outras
palavras, tudo o que ocorre na dimensão do Reino de Deus gira em
torno desses dois princípios.
Da mesma forma que os engenheiros enviam energia a toda
uma cidade, canalizando e dirigindo a eletricidade, o Reino de Deus
opera no poder do Seu amor. A misericórdia é o amor do Pai celestial
em ação suprindo as necessidades do povo. É uma força que procede
continuamente do Seu trono e está dirigida àqueles necessitados.
O segredo para uma vida vitoriosa consiste em penetrarmos no
grande depósito da misericórdia de Deus a fim de suprir nossas
necessidades e, depois, agirmos como um canal com relação a esse
poder, dirigindo-o para a vida de outros. Superar o pecado habitual é
importante, mas a vitória real ocorre quando uma pessoa se
transforma em arma nas mãos de um Deus poderoso contra as
legiões do inferno. Isso é viver em vitória!
O primeiro passo para essa vida mais elevada é perceber que
você necessita dela.
PARTE UM

VENDO A SUA NECESSIDADE

***

Meditação para Hoje

Jesus Cristo não pode começar a fazer algo para um homem a


menos que este conheça a sua necessidade [...]. A entrada para o
Reino de Deus é sempre por meio da fronteira moral da
necessidade.1
Oswald Chambers

O meu Deus, segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas


necessidades em glória, por Cristo Jesus.
Apóstolo Paulo - Filipenses 4.19

Um homem precisa sentir-se miserável antes de encontrar um


remédio; ficar doente antes de buscar um médico; ser aprisionado
antes de buscar perdão. Um pecador deve estar cansado dos seus
caminhos ímpios anteriores antes de buscar o refúgio de Jesus Cristo
para se renovar. Ele deve ser sensível à sua pobreza, mendicância e
escravidão espiritual pelo diabo antes de ter sede de justiça celestial
e estar disposto a tomar o jugo leve e suave de Cristo. Deve ser
expulso, confundido, condenado, considerado um pária, perdido em
si mesmo antes de procurar um Salvador.2
Robert Bolton
Um
Vendo a sua necessidade

Uma das maiores bênçãos da minha vida é o privilégio de


trabalhar com homens que lutam contra o pecado sexual. Há mais
de 16 anos, tenho estado envolvido direta ou indiretamente com a
vida de inúmeros homens com tais problemas. Freqüentemente,
tenho argumentado com eles, tenho-lhes ensinado, confrontado,
encorajado e pregado para eles em resposta à sua grande
necessidade de encontrar o Senhor. Em várias ocasiões lamentei as
suas perdas, discuti com eles durante horas, e agonizamos juntos em
oração. Com lágrimas, implorei para que se arrependessem e, às
vezes, repreendi firmemente aqueles que hesitavam ou se recusavam
a fazê-lo. Felizmente, para a maioria deles, as conseqüências
negativas do seu pecado abriram os seus olhos e expuseram a sua
grande necessidade de que Deus operasse na vida de cada um.
Quer esteja lutando ou não contra o pecado sexual, você
também precisa de que Deus seja maior do que Ele é atualmente em
sua vida. Digo isso com confiança, porque esta é a carência de todo
ser humano vivo hoje, seja profundamente espiritual, seja
completamente impuro. Todos nós temos profundas necessidades
emocionais e espirituais, as quais só podem ser supridas pelo Pai e
por intermédio dEle. A notícia maravilhosa é que o Senhor possui
um universo cheio de misericórdia para nós, a fim de prover aquilo
de que precisamos, libertar-nos e curar nossas enfermidades,
permitindo que cada um tenha acesso a uma vida abençoada. A
distribuição dessa misericórdia, a qual preenche as nossas
insuficiências, surge uma vez que comecemos a ver a nossa
necessidade com relação a ela. O único impedimento para receber tal
favor imerecido do Todo-Poderoso depende do quanto escolhemos
apropriar-nos dele.
É por isso que amo trabalhar com viciados sexuais. Muitos vão
para o Pure Life (Ministério Vida Pura, fundado em 1986), porque
estão com problemas e desesperados por ajuda. O fato de estarem
bem cientes da imprescindível operação divina no interior do
coração — e, realmente, reconhecerem isso — coloca-os em uma
posição invejável no Reino de Deus: um homem que vê a sua
necessidade.
Este é um lugar tão tremendo diante do Senhor, que,
freqüentemente, digo a esses homens que agradeçam ao Pai celeste
pelo seu vício. Se isso soar muito fora de propósito para você,
considere o seguinte: se Bartimeu não fosse cego, ele estaria
berrando ousadamente: Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de
mim! (Mc 10.47)? Se a filha da mulher siro-fenícia não fosse afligida
por um demônio, ela iria mostrar-se disposta a comer das migalhas
que caem da mesa dos seus senhores (Mt 15.27)? Se o rei Davi não
tivesse sido repreendido severamente por Natã e forçado a ver seu
grande crime, ele teria redigido estas palavras: Tem misericórdia de
mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas
transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias (Sl 51.1)?
Se Pedro não tivesse percebido quão diferente ele era do Mestre teria
clamado: Senhor, ausenta-te de mim, porque sou um homem
pecador (Lc 5.8)? Finalmente, se o publicano não tivesse visto a sua
grande necessidade, ele teria batido no peito e dito: Ó Deus, tem
misericórdia de mim, pecador! (Lc 18.13)? *
As aflições e lutas da vida produzem um clamor pela ajuda de
Deus. Indivíduos que desfrutam de um percurso confortável, macio,
realmente não sabem o que é ser pressionado em um lugar estreito
sem espaço nem pessoas por perto, a não ser Deus. É da natureza
humana "deixar para lá" ou relaxar quando a vida se torna mais
favorável ou certos problemas são resolvidos.
Muitos homens que passam anos sendo complacentes com
seus apetites sexuais, apenas para se encontrar nas garras
assustadoras do diabo, sabem o que significa clamar pela
misericórdia de Deus. O ponto de desespero não é uma experiência
obscura para eles; é uma parte muito real da sua vida diária.
Espiritualmente na falência, estão em um desespero tão grande, que
a única esperança é encontrar a saída por meio do Altíssimo. Tais
indivíduos têm, freqüentemente, uma paixão por encontrar o
Senhor. Eu sei, em primeira mão, que a liberdade dessa escravidão
requer uma persistência determinada e um zelo genuíno pela busca
do Senhor.
Muitos que não conhecem o poder de um pecado controlador
não buscam o Pai com o mesmo grau de fervor. Por suas
necessidades não serem prontamente percebidas, eles tendem a se
*
Não tenho a intenção de glorificar ou justificar algo tão repugnante e diabólico como a obsessão de uma
pessoa pela perversão sexual. Quando sente as amarras das trevas em volta do seu pescoço, o indivíduo
busca uma única coisa: liberdade! Penso que a alternativa para ele jamais ter algo que o impulsione a
buscar Deus é o fato de estar contente com o pouco da presença dEle em sua vida. Estar liberto ou
curado é maravilhoso, mas a aflição existe para nos ensinar a nos voltarmos para Ele. Tendo provado do
Seu precioso Espírito pela experiência completa, é preciso ser como aquele único leproso entre dez que
voltou e adorou o Mestre.
aproximar dos assuntos de Deus mais ocasionalmente. Entendem
vagamente que Ele deseja amadurecê-los e transformá-los, no
entanto, carecem de um desejo intenso por tal crescimento ou
mudança. Assumem que o Criador, de alguma forma, realizará o
necessário em suas vidas e estão contentes em centralizar sua
caminhada cristã em aumentar seu "conhecimento intelectual",
nomeando e reivindicando isso e aquilo, e tendo experiências
espirituais de vez em quando.
Homens que, realmente, entendem a enorme necessidade da
obra de Deus em suas vidas não podem satisfazer-se com essa
abordagem sem entusiasmo. Estão com problemas espirituais e não
têm escolha, a não ser encontrar a resposta no Senhor, não
importando qual seja o custo.

A NECESSIDADE QUE ME LEVOU AO DESESPERO


Desde garoto, sofri de um obstinado caráter duplo. Eu possuía
uma natureza tão intensa, que vivia constantemente no limite da
excitabilidade e até da ira. Minha personalidade impetuosa
intimidava algumas pessoas e mantinha outras à distância. O
ressentimento, o orgulho e o egoísmo, algumas vezes, inflamavam
essa grosseria. Com igual freqüência, entretanto, não havia malícia
premeditada; simplesmente, a grosseria acontecia de modo
automático. Não importava o quanto duramente eu tentasse ser
diferente, minhas palavras sempre pareciam conter um certo tom
subjacente de sarcasmo ou hostilidade. Era extremamente difícil
alguém se dar bem comigo. Minha natureza insuportável,
geralmente, provocava medo ou ira completa na maioria das
pessoas.
Apesar de toda a minha impulsividade e aparência de
"valentão", o outro lado do meu caráter era igualmente real. Por
dentro, eu era profundamente sensível. Lembro-me de que, quando
criança, sentia-me terrivelmente vulnerável e com medo das
observações cortantes dos meus colegas de classe, dos comentários
ríspidos do meu pai e das brincadeiras bobas dos meus amigos. Por
fora, eu tinha uma aparência dura, mas, por dentro, não era assim.
Naturalmente, minha natureza suscetível me fazia muito defensivo e
com necessidade de superproteção.
Para piorar, cresci profundamente inseguro, vivendo em um
lar caracterizado pela contenda. Estranhamente, minha
personalidade era realmente uma combinação perfeita da dos meus
progenitores. Meu pai tinha a língua afiada e sarcástica; minha mãe
era sensível e insegura. Essa união incompatível resultou em um
casamento miserável, um lar infeliz e um ambiente que não era
saudável para uma criança crescer. Como muitos outros bebês
nascidos após a Segunda Guerra, crescer em um lar sem amor
deixou-me em um vácuo gigantesco. Como resultado, eu buscava
constantemente a aceitação dos outros a fim de preencher de alguma
forma aquele vazio.
Combinados, esses fatores abriram a porta para o mundo
lúgubre das trevas do vício sexual, que dominou a minha vida
durante muitos anos. Desde o princípio, eu parecia ter uma atração
incomum para o sexo em geral e para as mulheres em particular.
Não mais satisfeito com revistas de garotas ou de conquistas de
adolescente, minha natureza compulsiva compelia-me cada vez mais
profundamente para o mundo da perversão. O que começou como
uma necessidade perceptível de aceitação, a qual eu achava que
podia ser suprida nas agruras da paixão, tornou-se, gradualmente,
um monstro insaciável que demandava uma atividade cada vez mais
freqüente e vil.
Embora eu ainda pudesse agir (desastradamente) em situações
sociais ou laborais, meu pensamento tornou-se cada vez mais
bizarro. O arraigado medo que eu tinha das pessoas aumentou, até
que comecei a ser, constantemente, atormentado por pensamentos
paranóicos. Em uma ocasião, eu estava andando em uma loja
quando uma adolescente empurrou sua amiga para mim, dando
risada. Cheio de medo e embaraço, eu sabia apenas que elas
achavam que eu era estranho (e era!). Imediatamente, corri
loucamente e isolei-me na casa de minha mãe por quase um mês.
Infelizmente, foi nesse estado de espírito e mente que vivi a
maior parte dos meus 20 anos. Aos 24, eu já havia repassado dúzias
de garotas e uma esposa. Foi, então, que encontrei Kathy e me casei
com ela. Dois anos de angústia mais tarde, ela se foi com outro
homem e pediu o divórcio. Naquele ponto, eu estava finalmente
preparado para me humilhar e admitir a minha necessidade do
Senhor.
O fato de me tornar cristão (e ter de volta minha mulher
milagrosamente) foi um abalo para os demônios, que, até aquele
ponto, desfrutavam de grande liberdade para me atormentar e
controlar. Passei a ter um novo propósito na vida, um entusiasmo
por coisas boas e honradas. Tornar-me um crente não mudou o meu
caráter instantaneamente. Eu ainda era Steve Gallagher, tinha
língua afiada e ainda era impaciente. Era sensível, ainda socialmente
estranho e estava muito preso ao vício sexual.
Nos três anos seguintes, batalhei contra as tentações
avassaladoras da luxúria. Na maior parte da minha vida, procurei,
propositalmente, experiências emocionantes para escapar da dor da
vida, na tentativa fútil de ganhar um senso de valor como homem.
Tal valor só é encontrado em Deus. Tornar-me suficientemente forte
do ponto de vista espiritual para vencer o pecado sexual de uma vez
por todas exigiu um tempo longo. Embora eu batalhasse
freqüentemente contra a tentação sexual, acabei encontrando, pela
graça de Deus, a liberdade de que precisava.
Seis meses após meu último encontro com outra mulher, Deus
me levou a uma escola bíblica. Seis meses depois, Ele me dirigiu a
começar um ministério para ajudar outros homens a lutarem contra
o pecado sexual. Começou com uma reunião de simples apoio em
Sacramento uma vez por semana, enquanto eu participava da escola
bíblica. A notícia da criação do grupo deu o que falar e se espalhou.
Antes que eu percebesse, eu estava aparecendo nos programas de
rádio ou televisão, em rede nacional, e pregando em várias igrejas.
Em 1989, Kathy e eu compramos uma pequena fazenda em
Kentucky e mudamos o ministério para lá. Naquela época, sentimo-
nos guiados pelo Senhor para abrir uma residência destinada a
homens que precisassem de ajuda mais intensa para se libertar do
controle do vício sexual.
Quando tais homens chegaram a esse novo programa em
janeiro de 1990, eu já era cristão há mais de sete anos. Logo descobri
o quão pouco eu tinha agido e estava aquém dAquele que eu
declarava representar e a quem eu servia. Uma coisa é aparecer nas
entrevistas curtas da mídia ou pregar em igrejas onde as pessoas não
o conhecem; outra completamente diferente é morar com pessoas
em um ambiente em que o eu não-crucificado pode mostrar sua face
detestável.
Lamentavelmente, aqueles que pediram ajuda nos primeiros
anos ficaram, provavelmente, muito desapontados. Felizmente, as
pessoas apreciavam e respeitavam minha sinceridade inegável e meu
zelo intenso por Deus. Também é verdade que o Senhor me deu uma
percepção clara com relação a como conquistar a liberdade do hábito
do pecado sexual. Entretanto, eu estava muito cheio de mim mesmo.
Era ríspido, orgulhoso e egoísta, e estava bem ciente disso. O
capítulo 7 de Romanos descreve o desespero e a agonia constantes
que experimentei ao ver o quanto eu era diferente de Cristo. O que
me irritava particularmente era aconselhar homens que tinham a
natureza simpática, sem problemas, e amigável em relação aos
outros. Eles pareciam muito mais com Jesus do que eu, apesar do
fato de que eu O buscava diligentemente durante várias horas por
dia. Em contraste, a aparência exterior de bondade que possuíam
não combinava com o entusiasmo pelos assuntos de Deus.
Meus fracassos constantes, obviamente notórios para todos ao
meu redor, mantinham-me clamando pelo Senhor. Com certeza, eu
era um homem diferente. Minha língua estava mais controlada do
que nunca, mas, naquela posição, eu não podia admitir o "luxo" de
cometer erros. Cada vez que respondia defensiva ou
sarcasticamente, expunha minha natureza egoísta, orgulhosa e sem
amor ainda muito viva dentro de mim. Somente Kathy sabe da
minha angústia pelos fracassos constantes durante aqueles anos
iniciais do ministério.
Para piorar as coisas, entrei em um tempo em que meu
relacionamento com Deus pareceu secar. Momentos de oração
tinham sido ocasiões em que eu conseguia um alívio temporário dos
meus fracassos e me faziam sentir como se eu estivesse realizando
algo para o Senhor. Haviam sido uma fonte de vida e renovação para
mim. Mas, depois, quando eu orava, parecia que os céus eram de
bronze. A Bíblia tornou-se banal e cansativa. Minha caminhada com
Deus parecia sem vida.
Estava acostumado a ver outros cristãos com uma aparência
muito feliz, mas eu sabia que quase todos tinham uma felicidade
superficial, a qual era parte do seu caráter, e sempre tinha sido.
Contudo, embora sentisse que estava fazendo as coisas certas, eu
não tinha alegria real nem paz interior. Onde estava a borbulhante
fonte da vida, o viver abundante prometido para todos os crentes em
Cristo e meu amor intenso por Deus e pelos outros? Onde estava a
alegria do Senhor?
Exatamente quando eu estava perdendo toda a esperança, o
Pai entrou em meu mundo lúgubre e miserável e começou a abrir os
meus olhos de uma maneira totalmente inesperada. Em novembro
de 1991, visitei uma pequena igreja pentecostal onde ninguém me
conhecia. O pastor pregou duramente o texto de Lucas 6, a respeito
do que significa ser cristão. "Ame os seus inimigos [...] Seja
misericordioso [...] Por que me chamam de Senhor, Senhor se não
fazem o que digo...?". O Criador martelou essas palavras em meu
coração. Fiquei perplexo com o fato de tentar tão rigidamente fazer o
certo, contudo, estar tão distante do Soberano. Quando o pastor fez
o apelo ao altar, andei com dificuldade e relutância pelo corredor,
não por me sentir compelido, mas, simplesmente, como mais um ato
seco de obediência sem emoção. Convencido de que carecia daquela
espécie de amor pelo Pai e pelos outros, como aquele homem de
Deus expressara na pregação, eu estava disposto a me humilhar e a
pedir.
No altar, todos os meses (até anos) de frustração confinada
vieram à tona. Meu orgulho e egoísmo tornaram-se nitidamente
reais para mim. Eu estava quebrantado por causa da minha falta de
amor por Deus e pelos outros, e me banhei de lágrimas no altar.
Naquele quebrantamento, encontrei uma nova perspectiva que eu
não tinha sentido desde os dias do meu primeiro amor em 1982.
Instantaneamente, minha intimidade com Deus foi restaurada, e
uma nova compaixão pelos homens da Pure Life borbulhou dentro
de mim.
Esse salto gigantesco para frente foi apenas o começo. Eu
precisava de mais, muito mais. Tinha de aprender a desfrutar dessa
vida recém-descoberta. Sentia-me como um bebezinho
engatinhando pelo berço. Percebi, rapidamente, que muitas das
minhas percepções sobre Deus e a humanidade estavam erradas.
Mas, então, como eu poderia corrigir minhas idéias distorcidas?
Logo depois, em outro daqueles eventos programados por
Deus, descobri um ministério muito especial, localizado a centenas
de quilômetros ao norte de onde morávamos. Zion Faith Homes é
um local onde aqueles que estão no serviço cristão podem encontrar
o Senhor de uma maneira poderosa. Um colega ministro disse-me:
"A razão da Sua voz ser ouvida mais claramente lá é o nível profundo
de consagração em que vivem os ministros daquele lugar. Se você
está querendo aprender a viver o cristianismo verdadeiro, lá é para
onde deve ir!". Perguntei a um dos meus amigos missionários se já
havia ouvido falar de Faith Homes, e ele me disse em voz baixa que
era como uma "usina geradora de força", na qual se podia sentir o
Espírito de Deus de forma dramática. Outro pastor contou que, logo
que passou pela porta da frente, sentiu o Espírito de Deus sondar
seu coração, expondo o pecado, o egoísmo, o orgulho ou as
motivações questionáveis do seu interior.
Para mim, soou como algo de que eu precisava. Kathy e eu não
sabíamos o que esperar na primeira vez que visitamos o local. As
pessoas seriam umas excêntricas superespirituais, fora da realidade
da vida? Ou estariam em contato tão profundo com Deus, que
poderiam ler nossos pensamentos? Quando chegamos em Faith
Homes naquele dia do verão de 1992, estas e outras perguntas
enchiam a nossa mente.
Ficamos muito aliviados ao descobrir que as pessoas de lá —
ministros, obreiros e estagiários — eram as mais normais que
poderíamos imaginar. Não tivemos absolutamente a sensação de que
fossem estranhas ou pertencentes a alguma seita. Com efeito, à
medida que os dias passaram, começamos a ver a sua humildade e
falta de egoísmo de milhares de pequenos modos diferentes. Apesar
da minha experiência recente de quebrantamento, meu egoísmo e
orgulho estavam em contraste notório com a forma pela qual
demonstravam o amor de Cristo às outras pessoas.
Partimos uma semana mais tarde, convencidos de que
desejávamos aquele relacionamento com o Senhor. Havia uma
abundância de vida naquela experiência cristã que eu nunca havia
visto. Percebi que eu tinha testemunhado a espécie de cristianismo
que Paulo narrara em seus escritos. Eu me determinei a ter o que
eles possuíam.
Kathy e eu começamos a fazer visitas de duas, três e até quatro
semanas. Quando visitávamos, fazíamos o papel de estagiários,
esfregando pratos, assoalhos e banheiros e aguardando outros
hóspedes. Pela primeira vez em nossa vida cristã, aprendemos o que
realmente significa servir aos outros.
Deus usou minha experiência em Faith Homes para me
humilhar. Enquanto eu diminuía em minha própria avaliação,
aconteceu simultaneamente uma coisa engraçada: Deus ficou maior!
Por perceber como eu não era amoroso, pude ver quão cheio de
amor Ele é. Ao me inteirar do quanto eu me achava "nobre",
enxergava quão humilde é o Senhor. Quando observava o meu
egoísmo, descobria como Deus é desprovido desse sentimento. Ao
perder de vista a minha suposta "bondade", notava como o Senhor é
bom. De alguma forma, por tudo isso, um conhecimento genuíno do
Pai se formou em meu coração, mudando a maneira de me
relacionar com Ele e os meus semelhantes.
Desde aquela época, o Todo-Poderoso esmagou-me, humilhou-
me muitas vezes. Por tudo isso, descobri quem Ele é e como Ele é.
Talvez, mais importante do que isso, seja que o Senhor remodelou o
meu modo de pensar e me deu uma transformação de coração
desesperadamente necessária. Embora ainda haja traços fracos,
observados ocasionalmente por aqueles próximos de mim, na maior
parte, aquela língua afiada, o sarcasmo picante e a atitude hostil
foram tragados pelo amor que somente o meu querido Senhor pode
prover. Deus, certamente, tem suprido minhas necessidades mais
profundas. Descobri que Sua obra mais importante em minha vida
foi feita nos pontos de quebrantamento e desespero, quando percebi
minha necessidade de ter mais dEle.
Você pode considerar o meu jeito de me voltar constantemente
para o Pai pedindo ajuda como uma imagem de derrota, não de
vitória. Entretanto, posso testemunhar que a operação de Deus em
minha vida resistirá ao teste do tempo, porque foi edificada sobre o
sólido fundamento da Rocha, e não sobre as areias movediças do
esforço humano ou da emoção.

***

Meditação para Hoje

Nenhum homem pode, por um período considerável, usar uma


face para si mesmo e outra para as multidões, sem ficar finalmente
confuso com a questão de qual delas pode ser a verdadeira.1
Nathaniel Hawthorne

Orações solenes, devoções entusiasmadas, são nada mais do


que hipocrisia, a menos que o coração e a mente lhes
correspondam.2
William Law

Há apenas duas espécies de homens: os justos, que se


consideram pecadores, e o resto, pecadores que se consideram
justos.3
Blaise Pascal

Quero adverti-los de que não existe conexão alguma entre a


manipulação humana das nossas emoções, por um lado, e, pelo
outro, a confirmação em nosso ser da verdade de Deus revelada por
meio do ministério do Espírito Santo. Quando, em nossa experiência
cristã, as emoções se levantam, elas devem ser resultado do que a
verdade de Deus está fazendo por nós. Se não for assim, não se
tratará absolutamente de um mover religioso adequado. 4
A. W. Tozer
Dois
Das nuvens para a realidade

Uma das experiências mais perturbadoras que tive no


ministério aconteceu em meu escritório da Pure Life há alguns anos.
Duvido que, algum dia, eu esqueça o rosto de Carl quando apareceu
de repente em minha porta e atirou-se no chão.
Carl era evangelista e cantor com muitos dons. Durante vários
anos, ele percorreu um circuito regular de igrejas do Sul onde
ministrava. Não apenas era um cantor talentoso, mas também, um
pregador carismático. Ele aprendeu que as pessoas gostam de
"sermões positivos", por isso, sempre era cuidadoso em deixar as
congregações sentindo-se bem a respeito de si mesmas. As pessoas
amavam a personalidade animadora de Carl. Não era à toa que os
pastores ficavam felizes de tê-lo de volta ano após ano. Durante mais
de 20 anos, ele fez exatamente isso, viajando de igreja em igreja,
criando sua família em uma casa móvel.
No princípio, Carl era sincero. Originalmente, entrou no
ministério por causa de um desejo genuíno de servir ao Senhor. Com
o passar do tempo, entretanto, sua dependência de Deus diminuiu à
medida que ele confiava inconscientemente nas próprias
habilidades. Carl aprendeu a parecer espiritual e a impressionar as
congregações. As pessoas o admiravam, e ele sabia disso.
No final, ele se desviou do Senhor. Seu estudo bíblico deixou
de ser para a sua edificação pessoal e se tornou apenas um tempo
reservado para encontrar material do sermão. Desde então, tendo
desistido de qualquer espécie de vida de oração significativa, algo
corrupto se apossou de seu interior e se manifestou, gradualmente,
em sua pregação. Não querendo mais confrontar o pecado, Carl se
apoderou do "evangelho água com açúcar". Ele se considerava um
encorajador, alguém que deixa você feliz em ser um cristão. Para ele,
o sucesso era a prova da bênção de Deus em sua vida.
Sua condição espiritual acabou por apanhá-lo, e ele teve uma
série de relacionamentos com mulheres de várias igrejas. Foi para o
Ministério Pure Life quando seu pecado foi exposto.
Ele ficou lá apenas por poucos dias, ocasião em que teve um
momento definidor de vida na trilha de oração atrás do escritório.
Ele estava caminhando quando, subitamente, teve um encontro com
Deus que o deixou arrasado. O que aconteceu a seguir ficou gravado
para sempre em minha mente.
Carl começou a gritar, jogado no chão do meu escritório. O
Senhor tinha acabado de lhe revelar, de um jeito que apenas Ele
pode, que seus 20 anos de ministério haviam sido para si mesmo.
Desde o princípio, ele buscou a glória individual, não para Deus.
Pregou sermões que agradavam às congregações, não o que o Senhor
orientava-o a ensinar. Ele foi aos lugares garantindo boas ofertas,
não para onde o Pai o dirigia. Em um instante, Carl viu que tinha
usado seus dons e suas habilidades para seu ganho egoísta. Ele
percebeu que toda a sua obra no ministério era vazia e desprovida de
substância. Naquele momento, ele viu uma vida de serviço no Reino
que não tinha produzido fruto, nem resultados verdadeiros e
recompensa eterna. Tinha sido tudo por nada. Em um momento, no
campo de feno de Kentucky, a realidade invadiu o mundo faz-de-
conta, de Poliana * de Carl. Aquela revelação assombrosa foi a única
coisa que o salvou.

AMADORES ESPIRITUAIS
Carl é o subproduto de um sistema que se tornou fortemente
entrincheirado no interior da Igreja: uma forma de religião que
parece a coisa real, mas está suficientemente alterada para fazê-la
agradável àqueles que não queiram seguir o caminho estreito do
verdadeiro cristianismo. Distribui uma apresentação falsa do
Evangelho fundamentada nos sentimentos e não na fé. Essa versão
falsificada do cristianismo é promovida por vendedores, que se
tornaram populares como Carl, não por causa da maturidade
espiritual, mas porque sabem, instintivamente, como dar às pessoas
o que elas desejam.
Evangelistas itinerantes não estão sozinhos na propagação
dessa fé, a qual tem sua base na emoção. Muitos pastores edificaram
igrejas imensas com essa espécie de estímulo. O Pr. Pete servirá
como uma boa ilustração desse tipo de ministro. Ele lidera uma
igreja que está crescendo em uma cidade grande, com atividade
incessante, atraente e jubilante. Tal atmosfera é um reflexo da sua
própria natureza. Pete é, e sempre foi, positivo, social, divertido e
animador para se estar por perto. Quando você freqüenta um de
seus cultos, quase tudo o que se ouve é positivo: sermões sobre o que
Deus quer fazer por você, testemunhos a respeito do que Ele fez e
*
Nota da Revisão - Referência ao livro de Eleanor Porter.
um culto de adoração que lembra uma festa de vitória de algum
campeonato.
O que há de errado nisso? Sou contrário ao entusiasmo
cristão? Absolutamente não! Concordo com aqueles que fazem a
pergunta: "Por que alguns crentes ficam histéricos com um jogo de
futebol, mas recusam-se a mostrar entusiasmo por Deus?". Creio
que existe lugar para uma exuberância genuína com relação ao nosso
Salvador e o que Ele fez por nós.
O problema com a igreja que o Pr. Pete dirigia é que, quando
espreitamos por trás do muro da exuberância e da penugem exterior,
não há coisa alguma lá! O cristão maduro, que sabe discernir,
descobre, com tristeza, que aquela igreja não tem substância. A
esperança que está sendo espalhada não está ligada a um
conhecimento real do Senhor ou de Sua dependência, mas, sim, a
um clima de entusiasmo superinflado, que não deixa diminuir.
Conseqüentemente, o maior medo desse homem não é de que ele
possa desviar seu rebanho, mas de que, se ele deixar o entusiasmo
morrer, todos os seus seguidores rapidamente o abandonarão por
outra igreja "em que haja o mover de Deus".
A vida cristã não é para ser vivida continuamente no
entusiasmo febril. Estar perdido no regozijo do amor de Deus ou de
uma revelação elevadíssima de quem Ele é pode ser
maravilhosamente animador na jornada espiritual de um crente.
Não obstante, o crescimento cristão, geralmente, vem em meio à
luta, quando se passa entre a folhagem densa dos problemas da vida,
como em uma floresta. Nesse momento, o verdadeiro caráter santo é
edificado, e o cristão maduro aprende o que significa viver pela fé em
Deus.
Pr. Pete tem um conhecimento superficial de Deus, então, isso
é tudo o que ele pode oferecer à sua congregação. Na realidade, esse
homem não pode pastorear além do que ele mesmo já caminhou na
própria vida espiritual. Como sempre foi capaz de se relacionar por
causa de sua personalidade agradável, aparência otimista, natureza
cheia de energia, Pete nunca sentiu necessidade de algo mais
profundo do Senhor. Na verdade, aprendeu cedo que seus dons
carismáticos o fazem um "líder nato", anulando sua necessidade de
cultivar a autoridade santa que vem de uma vida de dependência do
Pai. Simplificando, Pr. Pete não precisa de Deus para atrair
seguidores.
O sorriso rápido e a movimentação incessante do Pr. Pete
geram entusiasmo nos outros. Um olhar para baixo da superfície
expõe alguns problemas reais em seu ministério e em sua vida
pessoal. As experiências pseudo-elevadas que ele tenta produzir para
os seus seguidores são concebidas do seu pensamento e sua vontade.
Em algum ponto de sua caminhada com o Senhor, Pete, talvez, tenha
testemunhado as tremendas manifestações do poder de Deus em
outros. Entretanto, em vez de buscar uma experiência genuína e
pessoal com o Altíssimo, está contente em ter um ministério cheio
de zelo, mas desprovido de qualquer conhecimento real ou
importância espiritual. É inevitável que todo culto da igreja se torne
um evento coreografado estimulante, na tentativa de manter a sua
congregação — isto é, os espectadores — eletrizados pelo esforço
humano de sustentar um alto nível de interesse que agrade à
multidão.
Em vez de receber alimento espiritual saudável, que leva ao
crescimento espiritual natural que ocorre em uma congregação bem-
nutrida e pastoreada de modo maduro, os membros da igreja
recebem uma dieta constante de algodão doce e cobertura de
marshmallow, a qual provê uma explosão temporária de energia,
mas deixa-os, no final, dolorosamente desnutridos. O que mais se
espera de um homem que passou a sua vida cristã inteira omitindo
os elementos primários de uma dieta bem-balanceada — o alimento
de ser convencido pela Palavra de Deus, os vegetais da disciplina, as
batatas do sacrifício, a salada da adversidade? Ele gosta de
sobremesa e imagina que, além dele, os outros possam viver com
isso o tempo todo. Então, o corpo de sua igreja lembra um viciado
em drogas, que se mantém artificialmente, enquanto, na realidade,
seu corpo carece da nutrição adequada para promover o crescimento
e sustentar a vida.
A falta da verdadeira liderança espiritual no Pr. Pete aparece
não apenas no púlpito, mas também no seu aconselhamento
pastoral. Quando abordado por pessoas que necessitam de respostas
reais, ele lhes empresta um ouvido simpático, da uma palavra
animada de encorajamento, faz uma oração que soa fervorosa e
termina com um tapinha de conforto nas costas. Inicialmente, a
pobre pessoa que buscou ajuda sente-se animada durante cerca de
dez minutos, antes que um senso de desespero lhe sobrevenha.
Naturalmente, ela tem dificuldade em entender como tal palavra e
tal oração de ânimo podem deixá-la tão confusa e desesperada. O
que esse homem ferido precisa é do conselho santo de um pastor
com um interesse sincero, que realmente entenda os seus problemas
e ore com autoridade.
Infelizmente, uma reunião com esse ministro desapontaria
todos aqueles que têm uma necessidade real. Pete não compreende
os vários dilemas da vida que muitas pessoas enfrentam, porque ele
não encara as próprias dificuldades. A compaixão não cresce dentro
dele, porque ele confia no sentimento e nas respostas emocionais
para a dor dos outros. Não oferece percepção espiritual, pois nunca
adquiriu a sabedoria que vem quando uma pessoa sobrevive na noite
escura da alma. Pete ora fervorosamente, mas sem poder. Suas
orações são a tagarelice de um homem frívolo, não as súplicas
sinceras de um autêntico intercessor, que move a mão de Deus. Ele
fala da vida de vitória, mas sua idéia sobre ela é que isso nada mais é
do que declarações exageradas, as quais não contêm uma realidade
espiritual. Conseqüentemente, a pessoa que o procura sai sem
respostas, sem ajuda, sem esperança.
Pr. Pete tem um problema muito sério: sua experiência com
Deus é extremamente superficial. Então, permanece superficial e
imaturo, sem qualquer substância para oferecer a outras pessoas.

FUNDAMENTO DEFEITUOSO
Carl e Pete são amadores espirituais que não deveriam estar
em posição de autoridade espiritual. Como são desprovidos
pessoalmente de relacionamentos significativos com Deus,
certamente, não podem representá-lO efetivamente para outros que
tenham necessidades. Além disso, sua falta de interesse genuíno
pelas pessoas aniquila qualquer possibilidade de intercessão real no
trono da graça em favor daqueles a quem eles são chamados para
servir. Infelizmente, esses dois homens tipificam a espécie de
liderança espiritual ativa em muitas igrejas.
Aparentemente, a mensagem dada pelos "animadores" como
Carl e Pete é de que as pessoas devem colocar a sua fé em Deus.
Entretanto, um exame detalhado dos seus ensinamentos revela que
eles estão realmente instruindo as pessoas a fundamentarem sua fé
em algo defeituoso, de uma atitude mental positiva, e não na Rocha
dos Séculos. Essa interpretação distorcida do cristianismo produz
resultados temporários para aqueles cuja disposição mental é alegre
por natureza, mas deixa o restante dos cristãos desesperados e
derrotados. Esses pseudoministros proclamam uma mensagem não-
falada de que os cristãos vitoriosos são aqueles que mantêm
regularmente o seu entusiasmo. Eles promovem a idéia de que
aqueles que excedem em fé são os que podem estimular o ânimo dos
outros.
Toda a confusão me faz lembrar das reuniões motivacionais
que eu tinha de freqüentar periodicamente como corretor de
imóveis. Primeiro, sócios líderes de vendas apresentavam
testemunhos de como haviam fechado grandes contratos por meio
de esforços persistentes. A seguir, um líder da empresa dava ao
grupo uma palestra comovente. O ponto alto da reunião surgia
quando os melhores vendedores eram reconhecidos pelos seus
méritos. Todo propósito da reunião era incitar a paixão no grupo
para vender mais casas nos meses seguintes.
A correlação entre os dois sistemas é notoriamente similar. O
"mover exagerado" (por falta de uma expressão melhor) também
tem seus testemunhos de vitória. Aqueles que sabem inflamar uma
multidão pregam sermões estimulantes. Liderando seguidores do
movimento, são reconhecidos como poderosos homens de Deus. É
fácil ver por que seus métodos têm tanto sucesso junto aos
seguidores que atraem. Em vez de serem humilhadas pela falta de
um caráter santo, as pessoas são encorajadas a ver a espiritualidade
da forma mais leve e otimista possível. A advertência de Paulo de
que o povo não deve pensar de si mesmo além do que convém;
antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus
repartiu a cada um (Rm 12.3 - ARA) cai em ouvidos surdos, porque
esses seguidores são encorajados a carregar uma visão inflada da
piedade pessoal. Enquanto isso, qualquer sugestão de que eles
estejam exagerando o que realmente têm em Cristo é vista
freqüentemente como um ataque proveniente do diabo.
Como essas pessoas julgam que estão indo bem
espiritualmente, elas não buscam o Senhor, não se consagram ou
lidam seriamente com o pecado do coração. Cegas pelo orgulho
espiritual com relação à verdadeira condição das suas almas, elas
não percebem a necessidade de fazer tais coisas. Não enxergam a sua
carência espiritual, mas vêem como se nada lhes faltasse. Em
resumo, não existe necessidade de se preocupar com o
amadurecimento da fé porque elas acreditam que já estão no topo!
Se Jesus Se dirigisse a uma dessas reuniões de poder hoje,
talvez dissesse algo conforme estas linhas: Como dizes: Rico sou, e
estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um
desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu) (Ap 3.17). Eles não
percebem o que realmente são, pois foram ensinados a não ver.

INDO PARA DEUS


Certa vez, Jesus contou uma história sobre dois homens que
foram ao templo com o propósito de ter uma audiência com o
Senhor. O primeiro, um líder religioso, orou: Ó Deus, graças te dou,
porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e
adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na
semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo (Lc 18.11,12).
Pelos padrões exteriores de hoje, esse homem tinha uma vida
santa: orando, jejuando, dizimando e abstendo-se do pecado óbvio,
visível. Ele dava cuidadosamente a Deus todo o crédito pelo sucesso
que conseguia. É interessante notar que, quando analisou sua vida,
tudo o que ele viu a respeito de si mesmo foi positivo! Posso vê-lo
encaixar-se facilmente na categoria daqueles que vivem no plano do
mover exagerado.
A abordagem do outro homem foi completamente diferente: O
publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria
levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem
misericórdia de mim, pecador! (Lc 18.13). Este homem não marchou
para a sala do trono de Deus e exigiu uma audiência. Com efeito, ele
ficou em pé, à distância, e nem queria levantar os olhos para o
Senhor. Em pé, na presença do Rei, estava tomado pela própria
indignidade. Seus pecados estavam claros em sua mente quando ele
se inclinou na presença do Santo. Estava arrependido pela falta de
semelhança com Cristo, envergonhado por ter feito tão pouco para
Deus. Ficou em pé aguardando uma única coisa: misericórdia.
Na atmosfera da igreja otimista, alguém, talvez, sugerisse que
esse homem necessitava de confiança em "quem ele é em Cristo",
precisava aceitar o amor de Deus e aprender a se perdoar. Alguns
poderiam mesmo recriminá-lo por sua atitude negativa, rotulando-o
como alguém que leva uma vida de derrota, de perdedor espiritual.
É interessante como as perspectivas celestiais podem ser
diferentes das terrenas. Jesus disse: Digo-vos que este desceu
justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si
mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se
humilha será exaltado (Lc 18.14).

O PROGNÓSTICO ADEQUADO
A questão não é tanto a forma de orar, mas se ele tem ou não
um entendimento real da própria necessidade. Se olhar para si sob o
ponto de vista correto, aproximar-se-á de Deus com um espírito
humilde. Por outro lado, se tiver vanglória por algo que não é, ele
tentará bombardear o céu com arrogância e presunção espirituais. A
maneira de uma pessoa orar flui da maneira como ela se vê em
relação ao Senhor.
Pessoas orgulhosas preferem ver a si mesmas sob uma luz
positiva. O capítulo 9 de Mateus fornece um exemplo que se encaixa
nesse contexto. Jesus estava sentado na casa de Mateus, um
cobrador de impostos, rodeado por aqueles considerados
"inferiores". Como é tão freqüente hoje, são os instáveis,
problemáticos, aqueles entregues ao pecado exterior, que enxergam
a necessidade da ajuda de Deus. Os líderes religiosos, em pé, do lado
de fora, não sentiram aquela mesma urgência. Como o fariseu
orando no templo, eles estavam muito confiantes na sua condição
espiritual. Não obstante, Jesus apareceu lá fora e fez uma das
afirmações mais pungentes encontradas na Bíblia: Não necessitam
de médico os são, mas sim, os doentes [...] não vim para chamar os
justos, mas os pecadores ao arrependimento (Mt 9.12,13). Esta
afirmação descreve uma das características mais importantes dos
que andam realmente em vitória: a necessidade espiritual os
mantêm na proximidade dAquele que pode suprir aquilo de que
carecem.
Alguns cristãos acreditam que a salvação põe fim à necessidade
desesperada pelo envolvimento de Deus em nossa vida. Bem, eles
podem avançar em sua jornada para o céu. Na realidade, os cristãos
maduros crescem com a consciência da necessidade pelo constante
envolvimento com o Senhor. Em vez de deixá-lO para trás, na porta
inicial, eles O vêem na linha de chegada. A percepção de que
precisam da Sua ajuda, direção, correção e disciplina para viverem
vitoriosamente os mantém, constantemente, voltando-se para Ele.
Em contraste, o crente superficial, o qual não está disposto a
pagar o preço da busca por Deus, prefere inventar uma santidade.
Ele pode tentar impressionar os outros, fazendo-se passar por uma
pessoa que procura o Senhor, mas a realidade da sua vida com o Pai
é que ele está contente com a mentira. Não está espiritualmente
saudável e recusa-se a reconhecer sua condição doentia, porque não
está inclinado a seguir o tratamento prescrito necessário para
corrigi-la. É muito mais fácil idealizar uma sensação exagerada de
bem-estar espiritual do que lutar por algo real.
Jesus falou a um grupo de homens que sofria dessa espécie de
auto-engano. Eles também imaginavam que andavam com o
Altíssimo. O Dia do Juízo exporá realmente algo distinto: Nem todo
o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus, mas
aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me
dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu
nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome,
não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente:
Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a
iniqüidade (Mt 7.21-23).
Note que essas pessoas estavam exteriormente fazendo todas
as coisas certas: identificavam-se com o Nome do Senhor,
profetizando, expulsando demônios e até realizando milagres. Isso
mostra que alguém pode realizar obras maravilhosas, a ponto de ter
o poder de Deus de alguma forma, mas ainda estar em perigo
terrível. Diferentemente do evangelista que veio para o nosso
programa de residência, essas pessoas não enfrentam a realidade a
não ser que seja tarde demais.
A questão é: a menos que um homem perceba qual é a sua
condição desesperadora diante de Deus, ele nunca se quebrantará
nem terá arrependimento real, tampouco poderá desfrutar da
abundância disponível a um filho de Deus. Em vez disso, com
certeza, ele pode esperar que sua porção será de derrota, vazio e uma
sensação falsa de vitória, fundamentada em nada mais do que o
ânimo forçado.
Meditação para Hoje

Você tem de enganar a si mesmo antes de poder ser enganado.


Anônimo

Um homem sábio será senhor da sua mente; um tolo será o seu


escravo.
Publius Syrus

Deus não está preocupado com a nossa felicidade, mas com a


nossa santidade.1
Leonard Ravenhill

Você deve ser levado à convicção de que sua vida é de culpa e


vergonha [...]. Deve-se tornar para você uma questão de
determinação sincera que sua vida empreenda uma transformação
completa.2
Andrew Murray
Três
Um mundo em guerra

O rei Rnal estava bem clemente. De vontade fraca e controlado


por suas paixões, ele caía em inúmeros vícios regularmente. Por
misericórdia, sua nação era pequena, de modo que sua esfera de
influência era insignificante. De fato, a única reivindicação da sua
nação para a fama era que ela fazia fronteira com o território de uma
superpotência regional, cujo rei era bastante conhecido pela sua
benevolência e bondade. O rei Sus era amado pelo seu povo e
respeitado pelos seus inimigos. Em sua loucura, Rnal se esquecia
freqüentemente de como era afortunado por fazer fronteira com tal
reino.
O contraste entre os dois reinos era muito claro. A nação que
Sus governava era bem-administrada, limpa e ordeira. A nação de
Rnal mostrava todos os sinais de um estado pobremente gerido.
De vez em quando, Rnal desfrutava de períodos de sanidade
mental, durante os quais se inclinava a tomar decisões prudentes.
Sabendo disso, Tellius, seu conselheiro principal, aguardou a
oportunidade certa de abordar o rei com uma proposta radical.
Acreditando que seu plano era justamente o que sua pobre nação
precisava, Tellius esperou pacientemente que surgisse o momento de
sanidade.
Finalmente, o dia chegou. Tellius reconheceu imediatamente o
olhar de sensibilidade no rosto do rei. "Rei Rnal, posso ter uma
palavra com Vossa Majestade?".
"Naturalmente, Tellius", respondeu Rnal. "Fale de suas idéias e
nada retenha. Eu me sinto muito bem hoje".
"Rei Rnal, o país está em grande desespero. Nosso governo
está cheio de corrupção. O departamento municipal está em
desordem. O exército encontra-se tão desanimado, que passamos
por pequenas revoltas quase que semanalmente. Em resumo, rei, o
país está com problemas graves. Se algo não for feito imediatamente,
talvez, não haja mais esperança de restauração".
"O que temos de fazer, Tellius? Diga-me o que fazer!".
"Quando outros reinos enfrentam crises semelhantes,
convidam Sus para tomar conta dos seus reinos. A capacidade desse
rei de governar faz com que as nações experimentem resultados
tremendos!".
"Eu sei que isto é certo, Tellius. Mande avisar Sus
imediatamente. Quero que ele venha".
Naquela semana, o exército de Sus entrou no pequeno país e
estabeleceu uma base de operações perto da fronteira. Enquanto
isso, Rnal voltou à insanidade. Para complicar o problema, o
maligno conselheiro de Rnal, Terlock, ouviu a decisão. "Ó, grande rei
Rnal, o que Vossa Majestade fez? Sus invadiu nosso amado país!
Não percebe que ele levará tudo o que nos é precioso? Ele fará cessar
as festas, removerá as concubinas e arruinará toda a nossa diversão.
Ele fará um governo do jeito dele. Vossa Majestade perderá todo
controle. Ó rei, dê-me a ordem, e nossos exércitos atacarão
imediatamente, expulsando-o da nossa nação!".
O monarca ficou confuso. O que Tellius lhe dissera pareceu tão
correto aquela vez, mas ele também sabia que Terlock estava certo.
Sus mudaria tudo. Por outro lado, ter Sus no seu reino tinha as suas
vantagens. As nações ligadas a Sus eram prósperas e seguras. "Aqui
estão as minhas ordens, Terlock. Não quero atacar Sus. Podemos
ganhar muito com ele. Portanto, deixaremos que fique no país, mas
apenas em nossos termos. Nós, simplesmente, resistiremos a
qualquer mudança com a qual não concordarmos. Além disso, todos
sabem que ele é bonzinho e nada fará!".
Pareceu ao rei que ele poderia desfrutar do melhor dos dois
mundos. Uma aliança com Sus daria prosperidade e segurança, mas
Rnal poderia ficar no controle do seu reinado. A realidade da
situação, entretanto, foi que o reino permaneceu no desespero. Os
problemas continuaram a importunar por muito tempo. Embora
houvesse uma mudança externa, a vida continuou a mesma de antes.
Agora, estou certo de que você percebeu que essa fábula é uma
ilustração do Senhor invadindo o "mundo interior" de uma pessoa.
Ela descreve uma batalha empreendida constantemente no íntimo
dos cristãos: o ca-Rnal versus Je-Sus. Assim como está o nível de
sanidade de uma pessoa, assim é a guerra.

O INIMIGO DE DEUS
Poucos cristãos percebem o quanto resistem a Deus. A verdade
é que somos iguais ao rei Rnal: a maior parte do tempo na
insanidade do pensamento humano caído (Há caminho que ao
homem parece direito - Pv 14.12a). Durante nossos períodos
ocasionais de sanidade, o Espírito de Deus é capaz de Se comunicar
conosco. Deixamos que Jesus entre, mas mantemos a Sua
autoridade em um beco sem saída. Por quê? Porque não queremos
que Ele nos diga como viver. Ficamos contentes de obedecer a Ele
exterior e superficialmente, mas não em nosso coração.
Todos nós enfrentamos a luta com a nossa carne. Paulo disse:
Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espirito é
vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus
(Rm 8.6,7a). Imagine isso! Inimizade contra Deus!
Existe uma parte de nós que O ama. Nosso espírito foi avivado
e demos passos de "bebê" no sentido de amá-lO conforme Ele
ordena. Contudo, dos 50 mil pensamentos que entretemos em um
determinado dia, quantos giram em torno dEle? Quantos estão
centralizados em suprir as necessidades daqueles que Ele ama? A
maior parte dos nossos pensamentos gira em torno de nós mesmos:
o que queremos e gostamos; quais são nossos interesses e o que
desejamos fazer. Esse pensamento está em divergência com o Reino
de Deus. Com efeito, nosso pensamento é de total egoísmo,
completamente estranho ao Reino.
Viver em vitória requer uma mudança dramática nesse tipo de
pensamento. Conseguir que um ser humano egoísta e mundano
pense como Cristo não é uma tarefa pequena e explica parcialmente
o porquê de poucos alcançarem a vitória genuína. O primeiro desafio
de Deus nessa façanha é ajudar a pessoa a ver o erro do seu modo de
pensar. Infelizmente, somos como um homem em um hospital
psiquiátrico que perdeu o contato com a realidade, contudo, pensa
que é normal, porque todos ao redor dele são doidos! Se ele tiver
esperança de sair, algum dia, daquele lugar, terá de reconhecer o
fato de não estar pensando com muita lucidez. A partir de então, um
bom conselheiro (como Tellius) poderá guiá-lo ao pensamento
adequado. Qualquer pessoa da área de aconselhamento sabe que, se
uma pessoa não admitir que tem um problema com o seu modo de
pensar, não existirá absolutamente nada a ser feito para ajudá-la.
Para exacerbar ainda mais o problema, a pessoa em que Deus
está operando freqüentemente resiste aos Seus esforços. É como um
técnico chamado para consertar um computador que não funciona.
A unidade central de processamento que está lançando dados
errados e fazendo cálculos falhos é a mesma que deve cooperar com
os esforços do técnico para consertá-la. Quando o profissional tentar
restaurar a CPU, descobre que ela se opõe a cada movimento em seu
interior. Existe algo no circuito com defeito (orgulho) que nega a
existência de algo errado e tenta impedir tudo que é feito. O técnico,
então, procura introduzir os dados certos, os quais induzirão o disco
rígido a corrigir a falha, mas o computador rejeita a informação.
Muitos cristãos lutam, com unhas e dentes, contra Aquele que
tenta ajudá-los! Eles Lhe resistem, ignoram-nO e desobedecem-Lhe.
Prestam atenção quando é conveniente e O descartam no restante do
tempo. Por que as pessoas são tão hostis ao nosso Pai sábio e
amoroso? A vida seria tão melhor se deixássemos que Sus
governasse o nosso país, mas a insanidade, a qual nos faz realizar
um trabalho de má qualidade, continua a nos dizer que somos
melhores sem o Seu governo.
O maior desafio de Deus para levar Seu povo a uma vida
vitoriosa é fazê-lo perceber a necessidade do Seu controle na vida de
cada um. Essa é uma operação extremamente delicada, a qual requer
uma quantidade de esforço enorme da parte do Senhor. Não
obstante, Ele, graciosamente, deixa passar as nossas faltas, aguarda
pacientemente as oportunidades para argumentar conosco e realiza
tanto quanto pode com o pouco que Ele tem para trabalhar. Embora
o Senhor seja um cavalheiro e Se recuse a usar a força para realizar
Seus objetivos, não se engane a respeito disso. O Pai tem uma única
coisa em mente: a conquista absoluta do nosso mundo interior.
Antes de percebermos plenamente o desafio desse processo,
temos de entender melhor o que é a carne.

O HOMEM DE VONTADE FRACA


Cristo possuía uma compostura santa ao andar nesta terra.
Quando as pessoas precisavam de um ouvido simpático, um ombro
para chorar ou a força para suportar seus fardos, elas olhavam para
Ele. Entretanto, chegou uma noite em que Jesus, dominado pelos
próprios problemas, pediu ajuda. Naquela ocasião, o Mestre virou-
Se para Seus três amigos mais íntimos e lhes pediu que orassem por
Ele em Sua prova. O Senhor apenas solicitou a ajuda deles uma
única vez, porém, eles falharam. Jesus suspirou: O espírito está
pronto, mas a carne é fraca (Mt 26.41b). Essas nove palavras
descrevem a batalha que todos os cristãos devem enfrentar na vida.
Todos nós temos a carne — ela não desaparece quando uma
pessoa se torna cristã. A carne é a nossa velha criatura e deve ser
tratada. Pense nela como um homem de vontade fraca dentro de
nós. Como o rei Rnal, nossa natureza caída possui um lado sem
caráter, sem decisão, determinação nem domínio próprio.
A Bíblia diz que a carne é escrava da impureza e da lascívia
(Rm 6.19), serve à lei do pecado (Rm 7.25), tem paixões e desejos (Gl
5.24), traz corrupção (Gl 6.8), tem a sua própria sabedoria (2 Co
1.12), combate contra a alma (1 Pe 2.11) e não tem nada de bom nela
(Rm 7.18). É a carne que deseja e gera imoralidade, impureza,
sensualidade, idolatria, feitiçaria, inimizades, contenda, ciúmes,
explosões de raiva, disputas, dissensões, facções, invejas, bebedice
(Gl 5.19-21). É o homem de vontade fraca dentro de nós.
Quando falamos da carne, ou da natureza carnal, tenhamos em
mente que estamos, principalmente, referindo-nos a uma estrutura
mental, a uma maneira de pensar. A insanidade nos mantém presos
ao pecado que conhecemos (quando estamos com a mente lúcida) e
nos destrói.
Para o homem que contende com o ímpeto poderoso da
tentação sexual, o conflito entre a carne e o espírito se torna uma
questão ainda mais relevante na vida. Paulo adverte: Digo, porém:
Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne (Gl
5.16).
Aqui está a chave para se vencer os hábitos que dominam a
vida: andar no Espírito. Depois de 15 anos tratando de homens
cristãos com pecado sexual (inclusive muitos ministros), nunca
encontrei uma evidência que discordasse dessa afirmação. Apesar
dos traumas de infância, esposas frígidas, disponibilidade de
pornografia, mulheres sedutoras, ou falta de responsabilidade,
jamais vi um homem, com pecado sexual, que estivesse andando em
Espírito. Todos com os quais lidei possuíam uma única coisa em
comum: nenhum deles enfatizava a necessidade de crucificar a carne
e de andar no Espírito (conforme Paulo menciona nesta passagem).
Você pode passar anos no divã do psiquiatra, freqüentar
regularmente grupos de apoio, ir a alguma clínica famosa para
viciados sexuais, ter experiência da memória sendo curada, cair no
Espírito ou até ter demônios expulsos de sua vida; entretanto, se
quiser vencer o pecado habitual, terá de aprender a andar no
Espírito.
No primeiro capítulo, descrevi como Deus tinha-me
"esmagado, humilhado e disciplinado muitas vezes". Talvez, isso soe
como se eu sentisse que o Senhor não tenha sido misericordioso
comigo, mas, na verdade, tudo foi misericórdia. Salomão, uma vez,
disse: Como a cidade derribada, que não tem muros, assim é o
homem que não pode conter o seu espírito (Pv 25.28). Eu não tinha
o controle mental que vem de um caráter formado por Cristo. Como
resultado, minha mente e vontade eram invadidas pelo inimigo. Foi
a disciplina do meu Pai celestial que levou a minha mente selvagem
à sujeição do Espírito Santo.
Esse processo é uma batalha diária que dura a vida toda.
Depois de dizer aos seus leitores que andassem no Espírito, Paulo
continuou: Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito,
contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais
o que quereis (Gl 5.17). Nesse versículo, vemos a batalha
empreendida diariamente no íntimo de cada cristão que deseja
agradar a Deus, mas encontra aquela sua parte que, simplesmente,
almeja ceder ao prazer e ao pecado.
Todos os dias, fazemos escolhas sobre qual espírito estará no
controle. Podemos decidir por ceder à carne — descarregarmos a
raiva nos outros, sermos sarcásticos, cairmos no pensamento sexual,
envolvermo-nos em nós mesmos, sentarmos em frente à televisão,
ouvirmos um canal de música ou lermos revistas mundanas — ou
optamos por nos defender da sensualidade da mídia, controlar a
mente, dominar a língua e demonstrar bondade em relação aos
outros. Minuto a minuto, pelo resto da vida, enfrentaremos escolhas
no que diz respeito ao nosso comportamento.
É nesse ponto que o cristão típico atola e desanima. Parece que
a mudança nunca acontece, e está condenado a viver na derrota.
Esse não é o desejo de Deus para os Seus filhos. Embora seja
verdade que um aspecto da guerra do espírito contra a carne ocorra
na vida diária, é igualmente verdade que uma pessoa que luta pela
justiça, contra os desejos da carne e pela busca de um percurso de
santidade, ganhe terreno gradualmente na batalha. Tal processo leva
tempo e exige do crente uma cooperação cuidadosa com a obra do
Espírito Santo. Quem busca com sinceridade logo descobre uma
força previamente desconhecida a se formar dentro dele. Ele percebe
que as tentações não mais o agarram com um poder avassalador.
Sua intimidade com Deus aumenta, produzindo um poder que não
estava presente em sua fé para vencer a tentação. Em pouco tempo,
esse homem saberá o significado de se tornar um cristão maduro:
andar verdadeiramente em Espírito.
O crescimento e desenvolvimento espirituais não são
automáticos. Uma pessoa não amadurece para a santidade,
simplesmente, porque a sua experiência de salvação aconteceu há
bastante tempo. Ela cresce à semelhança de Cristo apenas
cooperando diariamente com a obra de Deus no homem interior.
Uma das primeiras coisas que se deve aprender é levar a carne
à sujeição. Muitos viciados sexuais suplicam a ajuda de Deus para
vencer o vício sexual, mas resistem ao Senhor quando Ele começa a
requerer mudança em outras áreas da vida. Querem que Ele entre
em seu mundo interior e limpe o distrito pornográfico, mas deixe os
cinemas, os salões de jogos e os clubes.
Quando os homens ingressam no programa de residência Pure
Life, descobrem rapidamente que Deus não está simplesmente
procurando ajudá-los a superar "aquele único probleminha", mas
está tentando fazer um conserto geral em todo o modo de viver. A
vida deles pode ser comparada a uma choupana velha, em ruínas. O
Soberano deseja desmantelar o lixo e construir um palácio, no
entanto, muitos gritam aterrorizados quando O vêem surgir com o
martelo e a alavanca. Sentem como se fossem morrer se Ele demolir
tal construção. Em vez de permitir que o Senhor a destrua de vez,
eles saem e pregam umas tábuas, colocam uma camada nova de tinta
e tentam convencê-lO de que, agora, ela é uma habitação digna. Não
existe algo que cause mais dó que uma choupana bem pintada! É
precisamente a isso que Jesus Se referiu quando afirmou: E
ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho
novo rompe os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se;
o vinho novo deve ser posto em odres novos (Mc 2.22). Como o
Senhor pode tirar-nos da favela da derrota se nos recusamos a deixá-
lO fazer isso?
Deus almeja dar-nos algo extremamente precioso: a mente de
Seu Filho Jesus. Por que resistir-Lhe, insistindo no fato de que
queremos manter nossa velha, carnal e insana maneira de pensar?
Uma pessoa jamais vencerá o pecado sexual focalizando a superação
disso. Somente obterá a vitória se permitir que Deus mude toda a
sua natureza carnal e reproduza em seu interior a natureza de Cristo.
Tudo o que nos impedir de andar em Espírito deve sair. Paulo
descreve o processo de mortificar a carne e encher-se do Espírito:

Mortificai, pois, os vossos membros que estão sobre


a terra: a prostituição, a impureza, o apetite
desordenado, a vil concupiscência e a avareza, que é
idolatria; pelas quais coisas vem a ira de Deus sobre
os filhos da desobediência; nas quais também, em
outro tempo, andastes, quando vivíeis nelas. Mas,
agora, despojai-vos também de tudo: da ira, da
cólera, da malícia, da maledicência, das palavras
torpes da vossa boca. Não mintais uns aos outros,
pois que já vos despistes do velho homem com os seus
feitos e vos vestistes do novo, que se renova para o
conhecimento, segundo a imagem daquele que o
criou; onde não há grego nem judeu, circuncisão nem
incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas
Cristo é tudo em todos. Revesti-vos, pois, como eleitos
de Deus, santos e amados, de entranhas de
misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão,
longanimidade, suportando-vos uns aos outros e
perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa
contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim
fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de
caridade, que é o vínculo da perfeição.
Colossenses 3.5-14.

Essas palavras são um mapa claro do trajeto a seguir, um


percurso estabelecido: o caminho para a vida de maturidade cristã.
Quando nos livramos da velha natureza, Deus substitui o vazio pela
mente, pelo pensamento e comportamento de Cristo. Falando de
forma figurada, quando deixamos que Sus ocupe mais território do
nosso reino, descobrimos que nosso interior se torna mais bem
administrado, limpo e organizado.
Quando permitimos que o Pai esvazie a velha natureza egoísta,
descobrimos que Ele nos enche com o Seu Espírito Santo. Então, um
viver derrotado é gradualmente substituído por uma vida vitoriosa.

A GUERRA QUE DURA A VIDA INTEIRA


O gráfico 3-1 mostra o crescimento espiritual de um cristão
carnal. Você notará o sobe e desce da vida que todos nos
enfrentamos. Os movimentos para cima representam aqueles
tempos em que as coisas vão bem espiritualmente. Os movimentos
para baixo ilustram os períodos de luta: tempestades que assolam a
casa tanto dos sábios quanto dos tolos (Mt 7). Note que essa pessoa
não experimenta um crescimento espiritual sustentado. Após anos
de igreja, ela está essencialmente na mesma posição espiritual de
quando começou. Não aprendeu com seus fracassos ou não deu os
passos necessários para crescer.

No gráfico 3-2, vemos o mesmo sobe e desce na vida. O


homem que tem tal trajetória passa por tempos em que se sente
espiritualmente seco, quando não consegue sentir a presença de
Deus. Ele enfrenta os fracassos e deve lidar com os momentos de
desânimo; até experimenta períodos de apatia. Em todos os
aspectos, encara as mesmas tempestades do cristão carnal,
ilustradas no gráfico 3-1. Observe, entretanto, que o fluxo geral da
sua vida espiritual é para cima. De maneira diferente da vida
estagnada, não-saudável, daquele crente carnal, o crente maduro
continua a crescer apesar de todos os seus embates. Note também
que, depois de um tempo, ele realmente atinge uma posição na sua
vida espiritual na qual os períodos de "descida", de sequidão
espiritual, possuem um nível mais elevado do que os de "subida"
prévios. Em outras palavras, ele amadureceu no Senhor a ponto de
seu pior dia ser superior ao que foi, anteriormente, o seu melhor
momento.
O processo de amadurecimento na fé é um tema recorrente em
todo o Novo Testamento. Lemos, repetidamente, que o sinal do novo
nascimento é um crescimento nas graças espirituais. Com efeito,
Paulo chega a dizer que esse é o propósito para as diferentes
posições de liderança dentro do Corpo de Cristo (Ef 4.11-13).
Deus espera o crescimento dos Seus filhos. Isso permitiu que
Paulo, ao escrever suas cartas à Igreja, estivesse tão cheio da graça,
ao passo que 30 anos antes ele estava, constantemente, disparando
nos outros com sua boca e agindo carnalmente. Foi por isso que
Tomé se tornou tão cheio de fé, que levou o Evangelho para a índia e
morreu como um mártir, embora antes tivesse duvidado da
ressurreição do Senhor. Foi por isso que, no final da vida de João,
ele foi capaz de receber algo tão tremendo quanto o Apocalipse,
embora 60 anos antes tivesse pedido ao Senhor que mandasse fogo
do céu sobre algumas almas miseráveis, as quais não haviam
respondido do jeito como ele esperava. Durante mais de dois mil
anos, o testemunho da Igreja tem sido firmado e mantido pelos
santos para permitir que Deus faça a Sua obra gloriosa, santificante,
na vida de cada um.
Muito mais do que a maioria das pessoas percebe, precisamos
do agir de Deus em nossa vida. Não é exagero dizer da nossa
necessidade desesperadora de que Ele entre e tome conta do nosso
interior. Quando Deus capturar nosso coração, conquistar nossa
vontade e encher-nos com Seu Espírito, experimentaremos a vida
vitoriosa como nos foi prometida. É o que o Senhor deseja e espera
de nós.
Meditação para Hoje

Aprendemos a viver sem santidade e a ver isso como uma coisa


natural e esperada.1
A. W. Tozer

Muitos cristãos praticantes estarão satisfeitos se o seu ministro


adotar um padrão baixo e estiver pronto para esperar que quase
todos sejam cristãos. É fácil de ver por que estão satisfeitos com tal
exibição do cristianismo, pois serve ao seu plano principal e os ajuda
a manter o que eles chamam de "esperança confortável", embora
façam tão pouco para Deus.2
Charles Finney

O cuidado principal que um homem deve ter — sua virtude


mais elevada e sua única felicidade, agora e por toda a eternidade —
é apresentar-se como um vaso vazio no qual Deus possa habitar e
manifestar o Seu poder e Sua bondade.3
Andrew Murray

As pessoas imaginam que morrer para o eu torna alguém


miserável. Mas é exatamente o oposto. É a recusa em morrer que faz
alguém miserável. Quanto mais soubermos da morte com Ele, mais
saberemos da Sua vida em nós, e haverá mais paz e alegria
genuínas.4
Roy Hession
Quatro
Deus não está satisfeito

Roger é um advogado cristão que reside na Califórnia. Homem


de sucesso, ele é continuamente procurado para ocupar posições
proeminentes em sua igreja e auxiliar em conselhos de vários
ministérios. A maturidade espiritual não parece ser uma questão de
interesse quando seus préstimos são solicitados.
Certamente, Roger é um advogado competente, mas sua
atitude exigente, seu comportamento arrogante e humor que muda
rapidamente fazem dele uma pessoa com quem é quase impossível
de se trabalhar. Para irritar mais seus colaboradores, ele não está
disposto a aceitar a responsabilidade por suas ações. Quando faz
algo errado, ele se justifica ou, simplesmente, culpa mais alguém.
Como não aprende com seus erros, ele nunca muda.
Infelizmente, os ministros que estavam na posição de ajudá-lo,
durante anos, não ousaram abordá-lo sobre tal comportamento
ímpio. Eles usavam Roger, porque ele conhecia as leis, e
mantinham-se cuidadosos para não ofendê-lo. Por causa dos seus
motivos egoístas, abriu-se espaço para que ele vivesse em desilusão
no que diz respeito á sua vida espiritual.
Tragicamente, a história de Roger é bastante comum na Igreja
hoje. Em geral, não exigimos mais santidade dos ministérios,
consagração dos mestres ou maturidade cristã dos diáconos.
Aparentemente, o carisma, o sucesso mundano e a influência
substituíram o caráter santo como uma qualidade importante da
liderança. Em resumo, a Igreja na América está contente com o
cristianismo superficial. Poderíamos ter muito mais se pudéssemos
ver a nossa necessidade!
Com essa compreensão em mente, o gráfico a seguir ilustra, de
modo geral, três patamares da jornada cristã. A vida, naturalmente,
nunca é tão cortada e seca como nesse gráfico. Entretanto, segundo
acredito, ele pode ajudar a mapear o percurso que Deus espera que
escolhamos na vida.
Quando uma pessoa achega-se ao Senhor, começa na linha de
saída, como se fosse o ponto zero. Até aquele ponto, ela só conheceu
o governo próprio, a autodeterminação e o prazer pessoal. Agora,
subitamente, um novo Rei está lá, com uma nova direção para sua
vida. Desde o princípio, o Senhor revela Seu amor e Sua graça. Ele
também deixa claro que aguarda uma mudança progressiva na vida
da pessoa.
Embora o Senhor tenha uma estratégia maravilhosa para
realizar essa grande obra, ela exige a cooperação do novo convertido.
Se Deus tivesse o Seu jeito, todo cristão tornar-se-ia um Pedro,
Tomé ou João. Nosso Deus não é um Mestre caprichoso que tem
favoritos. Ele deseja que todos os cristãos andem em santidade.
Se uma pessoa experimentou um arrependimento real e é
sincera em seu desejo de amadurecer, não demora muito a que ela
chegue ao primeiro passo mostrado no gráfico. A obediência
exterior, a fidelidade nas devoções diárias, a libertação quanto ao
pecado habitual e a germinação do fruto do Espírito caracterizam,
agora, a vida diária desse crente.
Embora seja maravilhoso atingir o primeiro nível, a pessoa que
busca, determinada a encontrar Deus, não ficará satisfeita em ficar
ali. Ela pressiona para o segundo degrau. Aquele que atinge esse
nível não obedece apenas exteriormente, mas é fiel também no
coração. Seu relacionamento com Deus aprofunda-se cada vez mais,
à medida que o Senhor é autorizado a conquistar a sua natureza.
Quer essa pessoa esteja ou não ocupando posições oficiais no
ministério, não existe dúvida de que ela tem um amor genuíno pelo
Senhor.
Além desse nível, está o terceiro no qual poucos se aventuram.
Esse é o lugar em que o santo entra em intimidade profunda com o
Senhor, proveniente de uma grande consagração. Ele está perdido
no amor pelo seu Salvador, caracterizado, em parte, pela ausência
completa de qualquer vontade do eu. Possui tanta humildade no
espírito, que a sua realidade diária é a grande necessidade de Deus.
Esse senso de urgência o faz andar continuamente na presença do
Criador.
NÍVEIS DA JORNADA CRISTÃ

NÍVEL TRÊS
Intimidade profunda com Deus
Consagração profunda
Perdido no amor de Deus
Vida completamente sem egoísmo
Vontade própria totalmente conquistada
Humildade no espírito
NÍVEL DOIS O caminhar é na presença de Deus
Vida razoavelmente consagrada
Obediência no coração
Relacionamento real com Deus
Fidelidade
Sabedoria e maturidade
Usado pelo Senhor
Vida sem egoísmo
NÍVEL UM O fruto do Espírito
Obediência exterior básica
Sem pecado que importune
Certo grau de fidelidade
Fruto do Espírito no início
Gráfico 4-1

Esse gráfico ajuda o leitor a estabelecer como seus objetivos


devem ser elevados na busca de Deus. O Senhor não está satisfeito
com a vida morna e o compromisso medíocre; Ele deseja uma real
intimidade com Seu povo. Entretanto, muitos de nós nos
esquecemos da santidade de Deus. Perdemos de vista o fato de que
Ele espera que todo cristão se esforce para conhecê-lO mais e amá-
lO mais profundamente. Isso foi verdade na vida dos personagens
bíblicos; não é diferente hoje. Deus não está contente, porque Ele
deseja que todo seguidor penetre nas regiões mais íntimas,
experimente a vida abundante e O conheça de um jeito muito real.
Com o nome deste capítulo, não tive a intenção de descrevê-lO como
um déspota sem paciência e exigente, que nunca está feliz, mas
como um Pai amoroso que anseia por fazer com que Seus filhos
amadureçam no conhecimento íntimo e na compreensão de quem
Ele é.
QUANDO SER JUSTO NÃO É SUFICIENTE
No primeiro versículo do livro que leva o seu nome, Jó é
descrito como um homem sincero, reto e temente a Deus; e
desviava-se do mal. O livro indica que Jó viveu em tal estado de
retidão, que, quando seus filhos se reuniam em uma festa, ele
oferecia um sacrifício especial a Deus, achando que: Porventura,
pecaram meus filhos e blasfemaram de Deus no seu coração (Jó
1.5).
Descrito o caráter de Jó, a cena muda para a sala do trono do
Todo-Poderoso, onde Satanás é visto rastejando entre os anjos.
Radiante, com um certo orgulho paternal, Deus perguntou:
Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra
semelhante a ele, homem sincero, e reto, e temente a Deus, e
desviando-se do mal (Jó 1.8).
'Diante disso, o diabo zombou: Porventura, não o cercaste tu
de bens a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos
abençoaste, e o seu gado está aumentado na terra. Mas estende a tua
mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema de ti na
tua face! (Jó 1.10,11). Deus deve enfrentar continuamente a acusação
escarnecedora do diabo — de que as pessoas somente servem a Ele
se, de modo egoísta, tirarem algum proveito. Sem que Jó soubesse,
um desafio expresso em uma dimensão inteiramente distinta
resultou em uma virada, de cabeça para baixo, na sua vida.
Conhecemos a história. Sabeus, ladrões de gados, roubaram
seus rebanhos; um fogo misterioso destruiu milhares de ovelhas, e
um furacão anormal dizimou a sua família. Tudo isso em um único
dia! Como se não fosse suficiente, de repente, Jó se encontrou
coberto de feridas vermelhas malignas. Ele respondeu a tudo isso,
adorando a Deus e dizendo: Nu saí do ventre de minha mãe e nu
tornarei para lá; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito
seja o nome do SENHOR (Jó 1.21). Passando por todas essas
situações difíceis, Jó não pecou nem censurou Deus.
Verdadeiramente, ele foi um homem reto diante do Senhor. No
entanto, Deus permitiu que tudo acontecesse, porque queria que a
vida espiritual de Jó experimentasse algo mais profundo.
Nos 40 capítulos seguintes do livro, talvez cobrindo muitos
meses de incerteza espiritual, Jó continua sendo provado. Alguns
dos seus amigos bem-intencionados apareceram e deram suas
opiniões. Jó também declarou suas impressões sobre as
circunstâncias.
De repente, o Todo-Poderoso começou a confrontá-lo sobre o
orgulho espiritual. Quem é este que escurece o conselho com
palavras sem conhecimento? Agora cinge os teus lombos como
homem; e perguntar-te-ei, e, tu, responde-me. Onde estavas tu
quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência.
Quem lhe pôs as medidas, se tu o sabes? Ou quem estendeu sobre
ela o cordel? (Jó 38.2-5). O sermão trovejante continuou, deixando
Jó agitado e surpreso. Eis que sou vil, respondeu finalmente o
homem humilhado. Que te responderia eu? (Jó 40.4).
Deus ainda não estava satisfeito com o resultado alcançado.
Foi o começo. Jó tinha-se humilhado, mas o Senhor estava
esperando uma humilhação mais completa. Então, por mais dois
capítulos, Ele continuou a trovejar Seu discurso. Finalmente, a
retumbante voz de Deus cessou, e Jó gritou sua resposta: Com o
ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos. Por
isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza (Jó 42.5,6).
Foi o que o Senhor quis realizar na vida desse homem. Sim, ele
era justo, mas é óbvio, pelas coisas que expressou aos amigos, que
ele tinha confiado demasiadamente na própria justiça. O Pai não
estava satisfeito com seu nível espiritual e permitiu que ele passasse
por uma das maiores provações divinas já registradas na história do
relacionamento de Deus com o homem.
A maioria das pessoas se acovarda diante de histórias como
esta. Bastante aliviadas de que a fortuna de Jó tenha sido restaurada
no final, elas deixam de ver a razão de tudo o que o pobre homem
suportou. O Senhor estava fazendo uma grande obra na vida dele.
Sim, Jó desfrutou de suas riquezas por muitas décadas, mas o que o
Todo-Poderoso realizou em seu interior, ele pôde desfrutar durante
muito mais tempo!

QUANDO UMA FÉ EXTRAORDINÁRIA NÃO É SUFICIENTE


Podemos também estudar o caso de um jovem de
aproximadamente 20 anos. Nessa época da vida de Davi, Samuel o
havia ungido rei secretamente. Davi matara um urso e um leão
faminto. Era um herói nacional por derrotar um gigante de quase
três metros com uma funda e levar milhares de filisteus à morte. As
coisas não poderiam parecer mais promissoras para esse israelita.
Porém, Deus não estava satisfeito. Ele queria que Davi tivesse uma
experiência espiritual mais profunda antes de se assentar no trono
de Israel.
No capítulo 18 de 1 Samuel, aprendemos o que aconteceu
quando o Senhor começou a permitir que as coisas se revelassem na
vida de Davi. E aconteceu, ao outro dia, que o mau espírito, da
parte de Deus, se apoderou de Saul, e profetizava no meio da casa;
e Davi tangia a harpa com a sua mão, como de dia em dia; Saul,
porém, tinha na mão uma lança. E Saul atirou com a lança,
dizendo: Encravarei a Davi na parede. Porém Davi se desviou dele
por duas vezes (1 Sm 18.10,11).
Exatamente quando tudo parecia tão promissor para o jovem
Davi, Deus orquestrou uma série de eventos que o fizeram fugir para
não ser morto. Nos 13 anos seguintes, ele e seus homens viveram no
deserto, separados dos seus amados, escondendo-se de Saul.
A maior parte do povo de Israel queria ver Davi estabelecido
imediatamente como rei. Pense como os israelitas seriam poupados
da dor no coração se Saul fosse removido do trono. Ele era um rei
terrível, que governava a nação como um ditador cruel. Teria sido
mais fácil para Deus remover Saul de modo que Davi ocupasse seu
lugar de justiça no trono. Mas não! O Senhor permitiu que esse
homem ímpio e degenerado governasse a nação. Por quê? Porque o
que Ele planejava realizar na vida interior do jovem Davi Lhe era
bem mais importante do que um percurso sem problemas do reino
na terra.
O fato de o Senhor ter tratado Seu ungido dessa maneira é
muito difícil de ser entendido por muitos cristãos modernos,
especialmente por aqueles que enfatizam os sinais exteriores de
sucesso no ministério, em vez de um caráter de líder. O Pai não fica
deslumbrado com o tamanho do orçamento de um ministério. O
número de estações de rádio nas quais um pregador é ouvido
também não O impressiona, nem mesmo o número de pessoas que
estão sendo supostamente "salvas". Deus tem interesse em pessoas
capazes de um relacionamento de amor com Ele e acha importante
cultivar discípulos verdadeiros. Está procurando homens
conhecedores do significado de andar com o Senhor. A obra que o
Criador realiza no interior do coração de uma pessoa significa tudo
para Ele.
Para os crentes sinceros do tempo de Davi, deve ter parecido
um desastre quando ele fugiu da nação. Nos 13 anos seguintes, o
povo de Israel foi forçado a padecer sob o governo tirânico de um
homem louco, possuído pelo diabo. Entretanto, o Senhor fez uma
grande obra na vida de Davi durante aquele período. O que foi
realizado em seu interior, durante aqueles anos extremamente
difíceis, fez com que ele edificasse Israel como uma nação poderosa.
Nos três mil anos desde então, os crentes que lutam sinceramente
para desenvolver intimidade com Deus encontram uma ajuda muito
necessária nos Salmos, palavras espirituais profundas de Davi e
resultado do que o Pai realizou em seu interior.
As veredas do Senhor não são os nossos caminhos. Conseguir
realizar grandes proezas para o Reino de Deus tem o seu lugar, mas
são as batalhas pessoais que rendem resultados eternos.

QUANDO REVELAÇÕES NOTÁVEIS NÃO FORAM SUFICIENTES


A vida da última pessoa que examinaremos é a do apóstolo
Paulo. Antes da sua salvação, ele se estabelecera como um dos
jovens líderes religiosos mais promissores da seita dos fariseus. Sua
apresentação ao cristianismo não foi nada menos do que uma visão
de Jesus na estrada de Damasco. Depois de muitos anos de
preparação, Deus o usou para implantar igrejas na Galácia, Pisídia e
Ásia. O Altíssimo também usou esse homem para estabelecer uma
ponte para o Evangelho no continente europeu, que estava em
trevas. Na ocasião em que o apóstolo escreveu sua segunda carta aos
coríntios, ele desfrutava de um enorme sucesso no ministério e tinha
um extenso acúmulo de experiências espirituais, incluindo a de ter
sido arrebatado até o terceiro céu. Apesar disso, o Senhor não estava
satisfeito. Paulo conta o que aconteceu naquela época de sua vida:

E, para que me não exaltasse pelas excelências das


revelações, foi-me dado um espinho na carne, a
saber, um mensageiro de Satanás, para me
esbofetear, a fim de não me exaltar. Acerca do qual
três vezes orei ao Senhor, para que se desviasse de
mim. E disse-me: A minha graça te basta, porque o
meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa
vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas,
para que em mim habite o poder de Cristo. Pelo que
sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas
necessidades, nas perseguições, nas angústias, por
amor de Cristo. Porque, quando estou fraco, então,
sou forte.
2 Coríntios 12.7-10

De acordo com a Bíblia, o Senhor enviou um demônio


perturbador para afligir Paulo e mantê-lo longe do orgulho
espiritual. O apóstolo estava virando o mundo inteiro de cabeça para
baixo por Jesus Cristo. Quem se importa com um pouquinho de
orgulho? Aparentemente, Deus Se importa. Paulo era precioso, e o
Pai celestial não estava querendo perder a proximidade que os dois
desfrutavam por causa do sucesso do ministério. Esta história é um
retrato do zelo santo do Soberano por amor à vida de um seguidor
devotado. Ele sabia muito bem que, se o orgulho de Paulo começasse
a crescer, ele iria afastar-se, perderia sua eficiência espiritual e,
talvez, até desonraria o Reino dos céus. Assim, o Criador deu ao
apóstolo um espinho na carne, um espírito de assédio, opressor, a
fim de mantê-lo humilde.
Antes de prosseguir nesse assunto, vale a pena notar que o
diabo, de certa forma, teve um papel, em formar o caráter de todos
esses três homens. Aqueles com uma perspectiva mundana de
"sucesso-é-tudo" não conseguem compreender tal coisa. Entretanto,
estamos encarando o fato de que o Senhor está mais interessado na
vida espiritual do crente do que no sucesso de seu ministério
pessoal.
Existe algo desapercebido sobre o sucesso que promove
autoconfiança, auto-suficiência e, finalmente, glorificação própria.
Estando sozinhos, inevitavelmente, tornamo-nos fortes em nós
mesmos. Assim, antes de percebermos, o sucesso do nosso serviço
cristão se torna mais importante para nós do que o próprio Senhor.
Deus não precisa de homens com personalidade poderosa, mas
dos fracos que sabem como depender dEle. O Todo-Poderoso não
necessita de vasos cheios de si mesmos e dos próprios talentos, mas
de vasos vazios que possam ser cheios com o Seu poder. O Senhor
não precisa de ministros com uma tremenda competência na
pregação, mas de homens mansos, cujas línguas sejam controladas
pelo Espírito Santo. As forças, os dons e as capacidades de um
homem são apenas úteis para Deus na medida em que tenham sido
crucificados de toda a autoconfiança no Calvário. Freqüentemente, a
força de uma pessoa serve como rival de Deus, e sua habilidade,
como abertura para Satanás.
As próprias palavras de Paulo declaram o que o Senhor
procurava: Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza (2 Co 12.9b). Deus
quis revelar a Sua força na vida desse Seu servo, mas isso significou
que ele teria de passar mais pelo processo da "morte do eu". O
processo de crucificação é o que o Senhor usa para enfraquecer a
vida própria de tal forma que Ele possa viver por intermédio do
cristão. O viver vitorioso é diretamente proporcional ao grau em que
a carne de um cristão é colocada para morrer. Não existe um crente
vivo, hoje, que não necessite experimentar continuamente mais
desse importante processo.

NOSSA GRANDE NECESSIDADE


Para esses homens, a vitória foi selada quando viram a própria
carência. Não importa qual é o nível de espiritualidade que uma
pessoa atinja na vida, nosso Redentor nunca estará satisfeito de
deixá-la ali. Deus sempre deseja o melhor para nós. Somente Ele
compreende as riquezas espirituais disponíveis para a pessoa que se
esforça em buscá-lO verdadeiramente.
Rex Andrews foi um dos líderes em Zion Faith Homes — o
ministério descrito por mim no primeiro capítulo. Ele causou uma
impressão muito profunda em minha alma e é uma das poucas
pessoas que conheço, neste século, a qual, certamente, chegou até o
terceiro nível descrito anteriormente. É um exemplo atual de alguém
que o Senhor realmente conquistou.
Esse homem já estava na presença de Deus quando cheguei a
Faith Homes, mas perguntei a um dos meus amigos, treinados por
ele, como era estar ao seu redor. "Ele estava no fogo do Espírito
Santo, porém, não tinha justiça própria", respondeu. "O Sr. Andrews
intercedia pelos outros por cerca de seis ou sete horas, todas as
noites, durante 30 anos. Algumas vezes, quando eu era interno lá e
saía da linha, ele me repreendia secamente, o que, imediatamente,
impedia-me de me desviar. Entretanto, não importa quão duro ele
pudesse ser comigo, jamais podia afastar-me do amor de Deus
presente naqueles olhos. Eu agüentava aquela disciplina, porque
sabia que ele estava derramando o seu coração, intercedendo por
mim todas as noites".
A seguinte história expressa adequadamente o ponto deste
capítulo. Um dia, quando Rex Andrews dirigia uma aula de
treinamento ministerial, seus alunos estavam praticando o apelo
feito no altar. Em pé, no púlpito, estava uma jovem derramando seu
coração por um grupo imaginário de pecadores, suplicando que eles
se arrependessem. Bem na metade do apelo, para seu grande
espanto, ela olhou para cima e viu o Sr. Andrews, com seus oitenta
anos, puxando a cadeira de rodas em direção do altar, com lágrimas
descendo pelo rosto. "Eu estou indo, Jesus!", ele gritou. "Estou
indo!".
Esse homem vivia com um senso de necessidade por Jesus tão
grande, que perdeu completamente a noção do que estava à sua
volta e se quebrantou diante do Senhor. O Sr. Andrews, como Jó,
Davi e Paulo, aprendeu a viver onde toda vitória começa e termina:
aos pés do Mestre. Ele descobriu esse lugar por causa do seu desejo
incessante de se achegar a Ele.
PARTE DOIS

O DEUS QUE SUPRE AS NOSSAS NECESSIDADES

***

Meditação para Hoje

Reconhecemos que a nossa necessidade mais importante é de


ter uma revelação bem maior de como Tu realmente és. Pedimos que
Tu supras essa carência.1
Joy Dawson

Pode haver objetivo maior, mais louvável e mais convincente


do que conhecer Deus? 2
J. I. Packer

O que podemos saber, sem a experiência, sobre o caráter ou o


Espírito de Deus?3
Charles Finney

Há duas coisas que nunca cessam de me surpreender: o quanto


Deus é bom e o quanto o pecado é mau. Quanto mais chego a
conhecer Deus, mais percebo que as profundidades da Sua bondade
são inesgotáveis. Da mesma forma, quanto mais leio os artigos, mais
percebo que não existe fim para o potencial maligno da humanidade.
Douglas Detert

Para que possais andar dignamente diante do Senhor,


agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo
no conhecimento de Deus.
Apóstolo Paulo - Colossenses 1.10
Cinco
Buscando, conhecendo e amando Deus

Nicholas Herman foi educado na França por pais santos, que


lhe ensinaram a viver para o Senhor. Quando jovem, ele se juntou ao
Exército e foi para a guerra. A certa altura, os alemães o capturaram,
confundindo-o com um espião. Enquanto o interrogavam, ficaram
impressionados com sua devoção sincera por Cristo e o libertaram.
Mais tarde, ele foi ferido gravemente na perna, o que o deixou
deficiente por toda a vida.
Aos 50 anos, Nick decidiu dedicar a vida completamente para a
obra do Senhor. Um dia, ele se apresentou a um dos ministérios de
maior prestígio na França, disposto a servir da maneira que pudesse.
Inicialmente, os ministros ficaram impressionados com sua atitude.
Logo descobriram que ele era uma pessoa comum, a qual não tinha
sido agraciada com qualquer dom especial. Conseqüentemente, ele
foi colocado em uma posição permanente como lavador de caçarolas
e frigideiras!
Não obstante, a falta de habilidade de Nick servia para deixá-lo
mais consciente da sua necessidade do cuidado diário do seu Pai
celestial. Com efeito, foi essa necessidade que despertou dentro dele
uma paixão ininterrupta de conhecer o Senhor. Ele disse certa
ocasião:
Durante as horas designadas para a oração, eu meditava sobre
a verdade e o caráter de Deus, que nós temos de aceitar à luz da fé,
em vez de passar tempo com meditações e leituras complicadas. Pela
meditação sobre o próprio Jesus, avancei em meu conhecimento
dessa Pessoa louvável com a qual resolvi viver sempre.
Completamente imerso em minha compreensão da majestade do
Pai, eu costumava trancar-me na cozinha. Lá, sozinho, depois de
fazer tudo o que era necessário para o meu trabalho, eu me dedicava
a orar o tempo que restasse.4
Nick não era um grande homem, mas buscou sinceramente o
Deus grandioso. Seu melhor amigo disse: "O amor de Deus reinava
tão completamente em seu coração, que ele dirigia toda a sua afeição
para o Amado divino". 5 Tal fascínio por Deus capturou tanto o seu
coração, que ele desenvolveu o hábito de ficar em comunhão
constante com Ele durante o dia todo.
Tudo era a mesma coisa para ele — todos os lugares e
trabalhos. O bom irmão encontrava Deus em qualquer lugar, tanto
na ocasião em que consertava sapatos quanto na vez em que orava
na comunidade. Ele não tinha pressa de ir para os retiros, porque
encontrava o mesmo Senhor para amar e adorar em seu trabalho
habitual, assim como na profundeza do deserto.6
Em sua união íntima com o Senhor, as paixões do nosso irmão
aumentaram tão calmamente, que raramente as sentia. Ele
desenvolveu uma disposição gentil, honestidade completa e o
coração mais generoso do mundo. Sua face agradável, seu ar
gracioso e afável, sua maneira simples e modesta, imediatamente lhe
rendiam a estima e a boa vontade de todos os que o viam. Quanto
mais próximos dele se tornavam, mais ficavam cientes de como ele
era profundamente justo e reverente.7
No final, quando circulava a notícia sobre Nick, os ministros
nacionais começaram a chamá-lo. Esse lavador de pratos humilde,
contudo ilustre, não estava preocupado em impressioná-los nem
queria ter seu nome conhecido. Ele, simplesmente, compartilhava
seu grande amor pelo Pai, conforme fazia com qualquer um que
demonstrasse interesse. Um desses ministros, um bispo católico,
registrou algumas dessas conversas. Logo depois que Nick morreu, o
bispo compilou-as em um pequeno livro apreciado por muitos
crentes hoje, The practice of the presence of God [Praticando a
presença de Deus - Ed. Danprewan]. Havia sido confiada ao Nick a
tarefa simples de lavar pratos e consertar sapatos. Não obstante,
durante mais de 300 anos, o amor pelo Soberano demonstrado pelo
irmão Lawrence (nome que ele adotou no monastério) tem inspirado
milhares de corações que buscam o Pai. Suas revelações têm durado
mais de três séculos, porque ele chegou à verdade espiritual mais
poderosa no Reino dos céus: a presença constante de Deus. Sem
dúvida, o irmão Lawrence alcançou o nível três em sua jornada cristã
(veja o gráfico 4-1): a intimidade profunda com o Criador. Sua vida é
um testemunho do fato de que, a despeito da sua porção na terra, os
que procuram Deus com sinceridade podem experimentar a
comunhão íntima e contínua com Ele.
Embora a vida espiritual seja complexa, o cristianismo é
claramente definido, do princípio ao fim, por um relacionamento
individual com o Altíssimo. Uma íntima comunhão com o Senhor
vem pela busca, é desenvolvida à medida que aumenta o nosso
conhecimento de Deus e é levada à maturidade plena em nosso amor
por Ele. Foi para esse propósito que o Todo-Poderoso criou o
homem — o cumprimento da maior necessidade humana.
QUANDO O CONHECIMENTO SE TRANSFORMA EM UNIÃO
A Bíblia usa vários paradigmas para ilustrar os diferentes
aspectos do nosso relacionamento com o Criador: Pai-filho, rei-
súdito, senhor-servo, pastor-ovelha e marido-mulher. Tais exemplos
nos ensinam como o Pai cuida de Seus filhos; o Rei governa Seus
súditos; o Pai guia Suas ovelhas, e o Senhor trata de Seus servos.
Entretanto, para descrever a intimidade que Ele deseja ter com o ser
humano, Deus usa a união conjugal como exemplo. Em outros
relacionamentos, as figuras de autoridade devem manter distância
entre elas e seus subordinados. Quando um homem se torna íntimo
de sua mulher, ele estabelece uma ligação espiritual, profunda, não-
comparável à comunhão de outras uniões. Apenas marido e mulher
foram criados para ser uma só carne.
Em Gênesis 4.1, vemos: E conheceu Adão a Eva. Ele teve
relações sexuais com ela. Essa união espiritual foi a primeira da sua
espécie fora da presença de Deus. A experiência sexual continua a
ser a forma mais elevada de intimidade entre um homem e uma
mulher. Um marido não pode conhecer plenamente a esposa até que
tenha essa vivência com ela. O conhecimento que resulta desses
momentos de intimidade profunda se revela continuamente e cresce
no casamento, mantendo as duas pessoas em sincronia espiritual e
emocional. Esse ato de amor marital solidifica sua união e impele a
relação do casamento para um auge de expressão, no qual, ao
compararmos, todos os outros relacionamentos empalidecem.
Com o mesmo simbolismo, Deus deseja muito conhecer —
relacionar-Se — com Seu povo. Jesus disse: Eu e o Pai somos um (Jo
10.30). Mais tarde, quando orava com Seus discípulos, Ele declarou:
E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um,
como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam
perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me
enviaste a mim e que tens amado a eles como me tens amado a
mim (Jo 17.22,23). Mais tarde, Paulo também fez referência a isso:
Ou não sabeis que o que se ajunta com a meretriz faz-se um corpo
com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne. Mas o que se
ajunta com o Senhor é um mesmo espírito (1 Co 6.16,17). Em toda a
Bíblia, nosso Pai Celestial deixa bastante claro que Ele é zeloso e Sua
grande paixão é ser um com o Seu povo. Deus não está confuso com
relação a isso nem mudou de idéia. Ele anseia por isso já, de um
modo muito real e prático.
Inegavelmente, o amor acarreta uma vulnerabilidade maior e
uma dor mais pronunciada com a rejeição. Algumas vezes,
colocamos ênfase exagerada no papel do Senhor como Juiz em nossa
vida, a ponto de esquecermos que Ele é uma Pessoa. O que acontece
quando Seus filhos fazem pouco caso do Seu amor?

O AMOR DE DEUS REJEITADO


No Antigo Testamento, o Criador expõe Sua alma e expressa
uma dor profunda diante da infidelidade do Seu povo desviado.
Depois que os filhos de Israel murmuraram contra Deus, Moisés
contou-lhes que haviam rejeitado o Senhor (Nm 11.20). O salmista,
mais tarde, reforçou isso quando disse: Quantas vezes o
provocaram no deserto e o ofenderam na solidão! Voltaram atrás,
e tentaram a Deus, e duvidaram do Santo de Israel (Sl 78.40,41).
Os profetas compararam vividamente o povo infiel a "robustos
garanhões bem-alimentados", "uma camela ligeira correndo para lá
e para cá", "um asno excitado", "fungando no seu desejo" e,
finalmente, a uma prostituta que se entrega a qualquer um que
deseje possuí-la. Phillip Yancey explica a resposta do Senhor a tudo
isso:
A imagem poderosa de um amante rejeitado explica por que,
em Sua fala aos profetas, Deus parece "mudar de idéia" a cada
segundo. Ele está preparando-Se para destruir Israel... Espere, agora
está chorando, abrindo os braços... Não, Ele está pronunciando um
juízo severo novamente. Esse humor variável parece
desesperadamente irracional, exceto para alguém que tenha sido
rejeitado por um amor.8
Deus, o Filho, sofreu a rejeição do Seu povo nos tempos do
Antigo Testamento. Paulo afirma que Ele foi a pedra espiritual que
os seguia (1 Co 10.4). A rejeição que Jesus sofreu tornou-se ainda
mais pessoal quando Ele apareceu fazendo-se semelhante aos
homens (Fp 2.7). Cristo disse: É necessário que o Filho do Homem
padeça muitas coisas, e seja rejeitado dos anciãos e dos escribas, e
seja morto, e ressuscite ao terceiro dia (Lc 9.22). Mais tarde, chamou
a Si mesmo de pedra que os edificadores rejeitaram (Mt 21.42).
Próximo do fim da sua vida infeliz na terra, Suas emoções
escondidas vieram à tona quando Ele contemplou Sua cidade
amada: Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os
que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos,
como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não
quiseste! (Mt 23.37). Alexander MacLaren descreve como foi o
lamento do nosso Salvador:
É o pranto de partida do amor rejeitado. Todo o Seu coração
flui naquele grito triste de lamentação pela prolongada frustração
dos esforços de um amor que, de bom grado, tinha afagado e
defendido. Que intensidade de sentimento está nesse duplicado
chamar do nome da cidade! Quão ansiosa e melancolicamente Ele
chama, como se ainda pudesse ganhar a infiel, e quanto reluta
hesitante mente em desistir da esperança! [...]
Assim, o lamento passa para uma solene e final despedida,
com a qual nosso Senhor encerra Seu ministério entre os judeus, e
parte do templo... Ele tinha sido a casa de Deus. Agora, Ele a derruba
e a deixa, para que eles façam o que quiserem com ela. O castigo
mais triste da rejeição contínua e prolongada do Seu amor
suplicante é que Ele finalmente cesse de suplicar.9
Pouco antes dessa experiência, Jesus contou uma parábola, na
tentativa de tocar Seu povo. Novamente, o mesmo quadro é descrito:
a oferta gratuita, a resposta aos corações endurecidos.

O Reino dos céus é semelhante a um certo rei que


celebrou as bodas de seu filho. E enviou os seus servos
a chamar os convidados para as bodas; e estes não
quiseram vir. Depois, enviou outros servos, dizendo:
Dizei aos convidados: Eis que tenho o meu jantar
preparado, os meus bois e cevados já mortos, e tudo
já pronto; vinde às bodas. Porém eles, não fazendo
caso, foram, um para o seu campo, e outro para o seu
negócio; e, os outros, apoderando-se dos servos, os
ultrajaram e mataram. E o rei, tendo noticias disso,
encolerizou-se, e, enviando os seus exércitos, destruiu
aqueles homicidas, e incendiou a sua cidade. Então,
disse aos servos: As bodas, na verdade, estão
preparadas, mas os convidados não eram dignos.
Ide, pois, ás saídas dos caminhos e convidai para as
bodas a todos os que encontrardes. E os servos,
saindo pelos caminhos, ajuntaram todos quantos
encontraram, tanto maus como bons; e a festa
nupcial ficou cheia de convidados.
Mateus 22.2-10
Sentimos a paixão crescendo dentro de Jesus antes que Ele
pronunciasse o julgamento sobre a casa de Israel: Eis que a vossa
casa vos ficará deserta (Mt 23.38). Nada incita a ira como o amor
que não foi recompensado. Quanto mais profundamente o amor se
estende, maior a fúria quando rejeitado. A saga da resposta apática
do homem diante do amor de Deus é uma narrativa de seis mil anos
de imensa tristeza. Apesar das contínuas tentativas de Deus de
estender a misericórdia e ser um "marido" do Seu povo, poucos
respondem ao Seu amor.

O GRANDE MANDAMENTO
Jesus disse: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu
coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento (Mt
22.37). Por causa da crescente passividade e a mornidão da Igreja,
tem-se dado pouca ênfase nesse mandamento, que é da maior
importância — se é que algum destaque tem sido dado a ele. Muitos
pastores preferem apaziguar as suas congregações, em vez de
insistir, sem medo, para que as pessoas examinem completamente
seus corações a fim de determinar se estão andando em obediência à
Palavra.
As pessoas ficam descuidadas com relação a este mandamento,
porque não entendem realmente a palavra amor. Acostumadas a
usar amor para descrever seus sentimentos de afeição pelos
esportes, empregos e animais de estimação da família, muitas
pessoas acreditam honestamente que elas também amam ao Senhor.
O uso excessivo da palavra retirou o seu significado real. O vocábulo
grego agápç * implica uma devoção muito mais forte do que a nossa
tradução. Ágape envolve companheirismo, amizade e comunicação
diariamente — precisamente o que falta para muitos em sua devoção
ao Criador. A profundidade e a paixão do amor ágape genuíno estão
expressas nas palavras de Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de
todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu
pensamento (Mt 22.37).
O amor de muitos crentes pelo Pai lembra a história de um
jovem que amava muito uma certa garota. Depois de saírem juntos
durante vários meses, eles se casaram. Na noite de núpcias,
desejando expressar plenamente seu amor pela noiva por meio da
intimidade física, ele ficou extremamente desapontado quando ela
recusou seus esforços, alegando não estar disposta. "Ela deve estar

*
agápç – exatamente como está no livro impresso. Essa palavra se repete em outras partes do livro.
(Nota da digitalizadora)
nervosa", ele pensou, compreensivo e paciente. Entretanto, depois
de vários anos de rejeição constante, o rapaz finalmente explodiu:
"Esse casamento é uma farsa! Você não me ama! Por que se casou
comigo?". Você diria que ele está exagerando ou sendo egoísta? Não,
absolutamente!
Imagino que o Senhor, talvez, sinta-Se dessa forma com
relação às pessoas que dizem amá-lO, mas têm o coração distante
dEle. Seu casamento alguma vez se consumou? Elas mantêm seu
Noivo aflito ou respondem ao Seu amor com indiferença? Creio que
o Altíssimo nunca teve a intenção de que tal coisa acontecesse. O
Senhor deseja o tipo de relacionamento no qual duas pessoas se
tornam uma, compartilhando mutuamente seus segredos mais
profundos — uma união reforçada pela íntima e recíproca devoção.
É cruel ou raro o Pai celeste esperar uma resposta recíproca ao
Seu amor? Posso demonstrar melhor descrevendo o relacionamento
que tenho com minha mulher, Kathy. Ela veio de uma família
amorosa que tinha proximidade, na qual cada filho sabia que sua
mãe e seu pai se amavam e amavam os filhos. Minha família, por
outro lado, era o oposto. Cresci em um lar onde a afeição nunca era
manifestada. Quando Kathy e eu nos casamos, assumi que
viveríamos juntos e, ao mesmo tempo, manteríamos nossa vida
separadamente. Eu estava errado! Ela não apoiava um
relacionamento distante! Desde o princípio, minha esposa esteve
completamente compromissada comigo e esperava a mesma
devoção em troca. Deus requer que os cristãos O amem de todo o seu
coração, sua alma e mente. Ele tem o direito de exigir essa espécie de
amor de nós, pois Ele nos ama dessa forma.

AMAR A DEUS EQUIVALE A BUSCÁ-LO


Devemos exprimir nosso amor pelo Altíssimo, que é um Ser
espiritual, de uma forma diferente da que expressamos pelas
pessoas. Demonstro amor por minha mulher por meio de um toque
ocasional no ombro, um sorriso de aceitação, ou sendo gentil com
ela. Entretanto, não podemos agir da mesma forma com o Senhor.
Ele espera realmente a nossa atenção e a Sua inclusão em nossa vida
a cada dia, assim como aguarda regularmente nossa expressão
amorosa. Embora não demonstremos amor físico pelo Pai, podemos
mostrar-Lhe esse sentimento quando O adoramos em espírito e
verdade.
Esta é a verdade espiritual tremenda a que o irmão Lawrence
chegou. The practice of the presence of God [Praticando a presença
de Deus] não foi um livro escrito sobre "como fazer". É a narrativa
de um cristão simples, compartilhando a sua relação diária com o
Criador. De modo independente da tarefa seguinte, Deus fez parte
da existência desse irmão minuto após minuto. Sua vida é um
exemplo do que significa amá-lO.
Esse tipo de devoção requer busca ao Senhor. Tal mandato
divino abrange todo o comprimento e largura da Bíblia. Moisés
afirmou: Então, dali, buscarás ao SENHOR, teu Deus, e o acharás,
quando o buscares de todo o teu coração e de toda a tua alma (Dt
4.29). Davi disse: Gloriai-vos no seu santo nome; alegre-se o
coração dos que buscam o SENHOR. Buscai o SENHOR e a sua
força; buscai a sua face continuamente (1 Cr 16.10,11). Isaías
assegurou: Buscai ao SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o
enquanto está perto (Is 55.6). Oséias, por sua vez, destacou: Semeai
para vós em justiça, ceifai segundo a misericórdia; lavrai o campo
de lavoura; porque é tempo de buscar o SENHOR, até que venha, e
chova a justiça sobre vós (Os 10.12). Sofonias acrescentou: Buscai o
SENHOR, vós todos os mansos da terra, que pondes por obra o seu
juízo; buscai a justiça, buscai a mansidão; porventura sereis
escondidos no dia da ira do SENHOR (Sf 2.3).
Demonstrando pesar pela apatia da nossa época, A. W. Tozer
escreveu:

Alegro-me em reconhecer que, em meio a esta


grande indiferença, existem alguns que não se
contentarão com a lógica superficial. Eles admitirão
a força da argumentação (de que buscar o Senhor é
apenas para mestres espirituais) e depois se
afastarão com lágrimas para procurar algum lugar
solitário e orar: "Ó Deus, mostra-me a Tua glória!".
Eles querem provar, tocar com o próprio coração, ver
com os olhos do seu interior a maravilha que é o Pai.
Quero deliberadamente encorajar esse desejo
poderoso pelo Altíssimo. A falta dele nos trouxe a esse
estado de fraqueza presente. A característica de
rigidez e dureza da nossa vida espiritual é o resultado
da falta de desejo pela santidade. A complacência é
um inimigo mortal de todo crescimento espiritual. O
desejo agudo deve estar presente ou, então, não
haverá manifestação de Cristo ao Seu povo. O Pai
aguarda ser desejado. É péssimo que Ele espere por
muitos de nós durante tanto tempo e em vão.
Toda era tem sua característica própria. Agora,
estamos na era da complexidade religiosa. A
simplicidade que está em Cristo é raramente
encontrada entre nós. Em seu lugar, estão os
programas, métodos, as organizações e um mundo de
atividades agitadas que ocupam o tempo e a atenção,
mas nunca conseguem satisfazer o desejo do coração.
A superficialidade da nossa experiência interior, o
vazio da nossa adoração e essa imitação servil do
mundo, que marcam os nossos métodos
promocionais, todos testificam que, nestes dias,
conhecemos Deus apenas imperfeitamente, e quase
desconhecemos absolutamente a paz que vem dEle.10
Apenas um amor genuíno por Deus leva uma pessoa a buscá-
lO de todo coração. Uma grande recompensa aguarda aquele que
caça o tesouro de um Senhor que deseja ser buscado: o
conhecimento do próprio Criador. Esta é a vida de vitória que afasta
o crente da pobreza da mediocridade!
Meditação para Hoje

Deus nos ama, não porque somos amáveis, mas porque o Pai é
amor; não porque precisa receber, mas porque Ele Se deleita em dar
[...].
Embora nossos sentimentos vão para lá e para cá, Seu amor
por nós não é assim. Não é enfraquecido pelas nossas iniqüidades ou
por nossa indiferença; portanto, Ele é incansável em Sua
determinação de que seremos curados daqueles pecados, seja qual
for o custo para nós ou para Ele [...].
É uma verdade impressionante e surpreendente sermos
objetos do Seu amor. Você pediu um Pai amoroso: você tem um [...].
O amor de Deus não é uma benevolência senil que, enquanto dorme,
deseja que você seja feliz do seu próprio jeito, não é a filantropia
gelada de um juiz consciencioso nem a atenção de um anfitrião que
se sente responsável pelo conforto dos seus hóspedes, mas o próprio
Fogo Consumidor, o Amor que fez os mundos [...].
O Soberano não é orgulhoso e Se inclina para conquistar. O
Senhor ter-nos-á, embora tenhamos demonstrado que preferimos
qualquer outra coisa em Seu lugar e nos acheguemos a Ele, porque,
agora, 'não existe nada melhor' para ter.1
C. S. Lewis

Crente, olha para toda a tua experiência passada e pensa em


como o Senhor, teu Deus, levou-te pelo deserto. Ele te alimentou e
vestiu todos os dias. Suportou tuas maneiras doentias, agüentou tuas
murmurações e toda a tua saudade pelos prazeres do Egito. Ele abriu
a rocha para te suprir e te alimentou com maná que desceu do céu.
Considera como a Sua graça te foi suficiente em todas as tuas
tribulações. O sangue de Jesus tem sido o perdão de todos os teus
pecados; Sua vara e Seu cajado te confortaram. Quando tiveres
olhado para trás e visto como o Pai te ama, então, deixarás que a fé
sonde esse amor no futuro. Lembra-te, pois, que a aliança e o sangue
de Cristo têm algo mais neles além do passado. O Senhor sempre te
amou e perdoou, sendo assim, nunca deixará de te amar e perdoar
[...] Certamente, quando meditamos sobre o amor do Altíssimo,
nosso coração queima dentro de nós e desejamos amá-lO mais.2
C. H. Spurgeon
Seis
A essência do Espírito Santo

A humanidade nasceu em um mundo caótico e falido, e está


programada para a iniqüidade. Essa propensão ao pecado coloca
toda alma em desvantagem; cada um de nós é espiritualmente falido
desde o primeiro dia. A terrível condição da humanidade não está
fundamentada no status socioeconômico. A natureza do pecado faz
com que os corações dos ricos e pobres igualmente se tornem,
progressivamente, piores com o tempo. A intervenção divina é o
único remédio.
Depois de transmitir a vida para alguém que estava
espiritualmente morto em transgressões e pecados (Ef 2.1), o
Espírito Santo permanece envolvido com a vida do crente, de modo
íntimo e intrincado, convencendo-o do pecado, e da justiça, e do
juízo (Jo 16.8). Um dos primeiros passos para se viver em vitória
requer uma disposição para se submeter e ser guiado pelo Espírito
de Deus. Isso exige confiança. Assim como um paciente precisa
dispor-se a deitar na mesa de operação à mercê do cirurgião e sua
destreza com o bisturi, um cristão deve entregar e confiar sua vida às
mãos habilidosas do Cirurgião Chefe de almas, para que uma obra
interior profunda possa ser realizada.
No Antigo Testamento, o Espírito nos é revelado pela palavra
ruach que "se refere à atmosfera, especialmente ao vento, que é um
poder invisível e irresistível, algumas vezes benigno e benéfico,
outras vezes furioso e destruidor".3 A palavra pneuma do Novo
Testamento é usada tipicamente no grego para descrever o vento ou
a respiração.
O Espírito Santo é uma Pessoa — uma Força e uma Influência
que existe em uma dimensão separada, porém, concomitante com a
nossa. Ele existe no eterno, mas opera no temporal. Embora seja
uma das três Pessoas da Divindade, não pode ser limitado pelo
nosso conceito finito do que isso significa. Ele é uma Pessoa que
procede do Pai e, contudo, ao mesmo tempo, também é um Ser
essencial do que Deus é (de alguma forma que nós não conseguimos
compreender aqui e agora).
A Bíblia descreve a constituição de Deus de três formas.
Primeiro, Jesus disse: Deus é Espírito (Jo 4.24). Segundo, foi-nos
dito: Deus é um fogo consumidor (Hb 12.29). Terceiro, o apóstolo
João afirmou: Deus é amor [ágape] (1 Jo 4.8, 16 - ARA). Transposto
para uma equação algébrica, pareceria com algo assim:
Deus = Espírito
Deus = Fogo consumidor
Deus = Ágape
Qualquer estudante de matemática sabe que se a=b e a=c e
a=d, então b=c e b=d. Usando o princípio da substituição, existe a
seguinte igualdade:
Deus = Espírito
Espírito = Fogo consumidor
Espírito = Ágape
O que é revelado aqui sobre o Espírito Santo? Ele é um Fogo
consumidor e é Ágape. Essas três características de Deus são
simplesmente perspectivas diferentes da mesma coisa. Ele apareceu
para um como Espírito, para outro como Fogo consumidor e ainda
para outro como Ágape. Proponho para você que o Espírito Santo é
um Fogo de Amor consumidor.
Ouvimos as pessoas dizendo coisas como: "Aquele homem tem
um espírito de amargura"; "Aquela mulher tem um espírito crítico"
ou "Aquele sujeito tem um espírito de lascívia". Parece que espíritos
distintos se manifestam por meio de paixões pecaminosas
diferenciadas. O Espírito Santo é a personificação do amor, chamada
de agápç no grego. Assim como um demônio pode estar tão cheio de
paixão por sexo, que ele realmente se torna um espírito de lascívia,
Deus está tão identificado com agápç, que Ele é Agape. João não nos
contou que o Senhor tem ou criou o amor, mas, sim, que Ele é amor.
Ágape é o Espírito no qual Deus está, conhecido também como
Fogo consumidor. O termo amor não é uma representação clara da
palavra ágape. Há três outros termos gregos também traduzidos
como amor. Eros é o amor sexual, phileo é o amor fraternal, e agápç
descreve o senso de compromisso profundo que duas pessoas
sentem uma pela outra. Todos esses, para a maioria, representam
emoções humanas. Não apenas a palavra amor abrange todos os
termos gregos, mas está muito além disso. O fato é que usamos esse
vocábulo imprecisamente.
A nossa utilização imprópria dessa palavra distorceu o
significado verdadeiro do termo grego agápç, que representa uma
paixão muito forte e poderosa. Comparativamente, está em contraste
completo com o uso anêmico que fazemos do termo.
Deixe-me ilustrar. Pedro caminha para a casa de Carlos e lança
uma ponta de cigarro no seu quintal. Digamos que ele fique irritado
com a atitude de Pedro. E se este trouxesse deliberadamente uma
lata de lixo cheia e a lançasse de ponta a ponta no quintal de Carlos?
Com certeza, caracterizaríamos tal emoção como raiva extrema ou
até ira.
Vejamos outra ilustração. Shirley fica nervosa quando vê um
homem estranho andando perto da sua casa. O que descreveria sua
emoção se ele corresse para ela com uma faca na mão? O horror e o
terror poderiam ser a descrição exata.
Quando fazemos uma distinção entre a nossa idéia de amor e o
significado verdadeiro de ágape, estamos falando de um vocábulo
que não pode significar nada mais do que uma afeição leve e de
outro que descreve uma paixão impetuosa. É esse fervor que
poderíamos expressar como um fogo consumidor.
Ágape descreve a essência do Espírito Santo. Para a finalidade
deste livro, examinaremos, mais tarde, a própria definição bíblica
desse termo, encontrada em 1 Coríntios 13. Mas, primeiro, voltemos
à nossa equação. Se a Bíblia declara que Deus é Espírito, e Deus é
Ágape, então, não estaríamos tão distantes se substituíssemos tal
palavra pelo termo Deus, ou até mesmo pela expressão Espírito
Santo, não é? Com isso em mente, vejamos alguns versículos de 1
Coríntios 13, que ficou conhecido como "o capítulo do amor", e
vamos usá-los para descrever o Consolador.
O Espírito Santo é longânimo,
É benigno,
Não é invejoso; o Espírito Santo não trata com leviandade,
Não Se ensoberbece,
Não Se porta de forma inconveniente;
Não busca Seus interesses,
Não Se irrita,
Não Suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Suporta tudo, tudo crê, tudo espera,
O Espírito Santo nunca falha.
Tendo isso como modelo, talvez possamos adquirir uma
compreensão nova sobre o Espírito que deseja operar em nossa vida.

LONGANIMIDADE

Listada como uma das qualidades de uma pessoa cheia do


Espírito Santo (Gl 5.22), a paciência é uma daquelas virtudes que
não recebe a apreciação que merece. Costumamos brincar com o fato
de o Senhor ensinar-nos sobre a paciência, mas poucos realmente
parecem perceber o quanto ela é vital na vida do cristão.
O Dicionário de Strong define makrothumeo:

Ser longânimo, isto é, contido ou paciente;


suportar (sofrer) por longo tempo e ser sofredor, ter
paciência (prolongada), ser paciente, resistir
pacientemente.4
Não é que o Senhor simplesmente esteja disposto a sofrer — e
Ele sofre — mas, sim, possui a capacidade e disposição de padecer
por um longo tempo.
Outro dicionário diz:

Longanimidade é aquela qualidade de domínio


próprio face à provocação, que não se vinga
imediatamente ou pune prontamente. É o oposto da
raiva e está associada com a misericórdia, é usada
por Deus [...].5
Por isso, o Senhor afirma que é tardio em iras (Êx 34.6).
Quando provocado, Ele não responde com emoções exacerbadas do
momento, como os seres humanos tendem a fazer. Sua resposta é
lenta, medida, calculada e sempre por meio do filtro do amor do
Espírito Santo. O Pai não é como a pessoa que diz: "Não fico irado,
apenas me vingo". Ele não fica louco da vida nem Se vinga, pelo
menos do jeito petulante dos homens.
Matthew Henry captou o próprio motivo por trás do caráter
longânimo de Deus quando disse:

Ele pode suportar o mal e a provocação, sem estar


cheio de ressentimento ou vingança. Ele tolerará
muitos atos de desprezo da pessoa que ama e
aguardará para ver nela os efeitos agradáveis de tal
paciência.6
Para este Ser de Amor, suportar pacientemente o abuso
daqueles sobre os quais repousa a sua afeição é simplesmente uma
parte inevitável de tentar conduzir Seu cuidado. Com efeito, não é
algo que Ele gostaria de evitar, mas está disposto a suportar, pois o
faz com alegria. Sua resposta amorosa e paciente à nossa rebelião
nos faz amá-lO mais. De certa forma, o Senhor é feliz ao suportar
nosso desprezo, sabendo que, um dia, reconheceremos como O
tratamos, e isso servirá somente para aumentar nosso amor por Ele.
Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu
por nós, sendo nós ainda pecadores (Rm 5.8).
Se o Senhor tivesse criado a religião com o simples mandato de
servirmos a Ele ou então irmos para o inferno, as pessoas iriam
dedicar-se a Ele por causa de motivações falsas. Ele seria como um
ditador rodeado de "pessoas do sim", vivendo com medo de
desagradar ao seu presidente, servindo-Lhe apenas com lealdade
externa.
Nesse cenário, nosso Ditador veio e entregou Sua vida por nós,
levando nossa ofensa desde então, pedindo-nos continuamente que
nos unamos a Ele em um relacionamento de amor. Sua disposição
de resistir ao que possamos fazer e esperar o necessário é prova da
Sua devoção suprema por nós. Como disse alguém: "Se Jesus não
nos ama, o que significam esses cravos em Suas mãos?".

BENIGNIDADE
Quando penso em benignidade, lembro-me de uma antiga
colaboradora chamada Wilda. Ela foi uma das melhores pessoas que
já conheci. Como era Testemunha de Jeová, acho que é seguro
assumir que sua benignidade não era do Senhor. Ela, simplesmente,
tinha uma disposição agradável e boa.
Quando pensamos em expressões bíblicas, tais como, amor,
paciência e benignidade, tendemos a encaixar esses termos nas
definições que coincidem com as nossas experiências. Ao tentarmos
conceituar as características do Todo-Poderoso nas formas com as
quais nos relacionamos com seres humanos imperfeitos, nossas
descrições tendem a ser superficiais e vazias.
Deus é benigno como Wilda o era? Certamente, Ele é
poderoso, assim como Mike Tyson o é. Nossa benignidade é
superficial comparada ao amor ardente do Senhor pelas pessoas.
Todos nós conhecemos histórias dos pequenos atos da
benignidade de Deus por nós. Tenho uma declaração que faço
freqüentemente para os outros: "Nenhuma coisa boa que o Senhor
faça pelas pessoas me surpreende". É verdade! Estou tão
familiarizado com Ele a ponto de me acostumar a ver os Seus
pequenos atos de bondade com relação aos que estão à minha volta.
Tomei posse da expectativa do Seu caráter benévolo em minha vida
e na dos outros.
Alguém declarou: "O Senhor nunca teve um pensamento mau
a seu respeito". Eu sei que é esse o caso. Ele não é o juiz raivoso
como as pessoas descrevem. O Pai celeste é benigno e está esperando
para ajudar e salvar. Esse é o Espírito em quem Ele vive.

NÃO É INVEJOSO OU ARROGANTE E NÃO SE ENSOBERBECE


Se não fosse tão triste, seria provavelmente cômico vermos
como parecemos diante de Deus. Cheios de orgulho pelo nosso senso
de importância, nós, seres humanos, certamente, oferecemos uma
visão de dar pena! Somos muito diferentes do Senhor de várias
formas.
Deus tem um caráter modesto, o qual não é facilmente
percebido pelos orgulhosos e os de mente estreita. Um contraste
nítido entre o Senhor e a humanidade ocorreu em uma noite
anterior à qual Cristo foi crucificado, quando Seus discípulos
discutiram sobre qual deles seria o maior. Jesus lhes respondeu:
Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser, entre vós,
fazer-se grande, que seja vosso serviçal; qualquer que, entre vós,
quiser ser o primeiro, que seja vosso servo, bem como o Filho do
Homem não veio para ser servido, mas para servir (Mt 20.26-28a).
Um dos problemas que temos ao nos ligarmos com o Senhor
de uma forma real é nossa dificuldade de encontrá-lO! O Senhor é o
Deus Todo-Poderoso, o Alfa e o Ômega, Jeová Jireh e o Poderoso de
Israel. Tais nomes descrevem a Sua majestade e Seu poder. Não
obstante, Ele assume a forma de servo.
De certa forma, o Criador me faz lembrar de um servente que
ganhou na loteria e comprou uma mega-corporação. Desde o
princípio, ele pareceu não se ajustar ao cenário da sala de reuniões.
Todas as vezes que os vice-presidentes precisavam de uma
assinatura ou de sua aprovação para alguma aquisição,
inevitavelmente, encontravam aquele homem no porão, limpando o
chão e esfregando os banheiros!
Deus não é invejoso ou arrogante nem Se ensoberbece, porque
é extremamente humilde.

NÃO SE PORTA DE FORMA INCONVENIENTE


Havia uma qualidade gentil, não-egoísta, em Jesus que atraía
as pessoas. Ele tinha um Espírito doce.
Como é diferente de Jesus um homem que conheço,
fotografado na capa de uma revista nacional, berrando contra os
defensores do aborto! O fotógrafo de notícias ficou feliz de mostrar
esse tão mesquinho representante do cristianismo. A verdade é que
esse indivíduo importava-se pouquíssimo com os bebês não-
nascidos. Ele tinha apenas interesse em ter razão e fazer os outros
verem da forma que ele via. O aborto é muito errado, mas a maneira
de vencer a batalha contra esse mal em nosso país não é agir como o
diabo.
Com freqüência, os cristãos deixam de representar o Senhor de
forma adequada. De modo bem diferente de como agimos algumas
vezes, o Senhor jamais toma uma atitude de maneira imprópria, pois
Ele é gentil e bondoso por natureza.

NÃO BUSCA OS PRÓPRIOS INTERESSES


Todo pecado começa ao se desejar algo para si. Um homem
quer a emoção do sexo ilícito e se envolve em um caso. Outro perde a
compostura e grita com o motorista que o corta no trânsito. Uma
moça do caixa escorrega alguns dólares em sua bolsa todas as noites
quando fecha a loja. Uma adolescente se enche de amargura quando
perde o lugar de líder da torcida para outra menina. Tudo é pecado,
motivado pelo desejo de algo para si. Essa é a natureza do homem.
A natureza de Deus é muito diferente. Ele não está no espírito
de "conseguir" para Si, mas no de dar. Porque Deus amou o mundo
de tal maneira que deu [...] (Jo 3.16). Em certo sentido, é a única
coisa que o Pai sabe fazer. Dar faz parte da Sua natureza. O que mais
faz alguém completamente desprovido de egoísmo?
Uma das melhores ilustrações daquilo que se passa no interior
do coração de Deus é a imagem final do filme Scrooge [Adorável
avarento]. Depois de três encontros assustadores com "fantasmas"
do passado, presente e futuro, ele é um homem transformado. O
filme termina com um Scrooge radiante, dando presentes para todos
aqueles que encontra. Essa é uma pequena descrição (terrena) do
coração generoso de Deus.

NÃO SE IRRITA E NÃO SUSPEITA MAL


O Senhor não Se sente provocado pela raiva, porque não fica
ofendido. Jesus é o melhor Exemplo disso. Ele foi preso, açoitado,
zombado e, finalmente, levado à cruz. Satanás fez todo o possível
para conseguir que o Mestre Se levantasse com um espírito de
retaliação; porém, o Cordeiro santo nunca o fez. Ele foi para a cruz,
orando por aqueles que O estavam matando.
Quando eu estava na escola bíblica, um grupo de estudantes se
reuniu para assistir a um filme sobre a vida de Cristo. Durante a
parte do filme em que Jesus estava sendo açoitado e zombado, um
dos estudantes disse subitamente: "Como deve ter sido
humilhante!". Respondi: "Não foi humilhante para o Senhor, porque
Ele não tinha orgulho".
Ser humilhado por alguém apenas dói quando o orgulho de
uma pessoa é ferido. Se não existir tal sentimento, não há nada para
ser esmagado. O Messias não Se sentiu provocado a retaliar, porque
Ele não era orgulhoso.

NÃO FOLGA COM A INJUSTIÇA, MAS FOLGA COM A VERDADE


Regozijar-se com a injustiça refere-se a festejar a queda de um
inimigo. Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? Diz o
Senhor JEOVÁ; não desejo, antes, que se converta dos seus
caminhos e viva? (Ez 18.23). O Senhor não Se alegra em ver o
homem sofrer as conseqüências do seu pecado, não importa o
quanto ele mereça. Ele não folga em ver alguém perecer, não
importa o quanto de mal essa pessoa tenha feito. O Pai não tem
alegria em ver os seres humanos irem para o inferno, sem levar em
conta o quanto eles tenham-se rebelado. Deus deseja dar vida e faz
isso para todos os que estiverem interessados.
Nosso ponto de vista sobre o julgamento pode ser ilustrado a
partir do próprio sistema de corte de Justiça americano. Durante um
tempo, servi como funcionário no Edifício das Cortes Criminais de
Los Angeles. Algumas vezes, vi um acusado para o qual, por alguma
razão, o juiz queria claramente conceder misericórdia. Sob pressão
dos pagadores de impostos, a legislação da Califórnia determinava
diretrizes obrigatórias para que uma sentença fosse dada. Mesmo
que um juiz quisesse libertar um criminoso, as normas forçavam
uma determinada decisão.
Da mesma maneira, o sistema de justiça de Deus exige que os
pecadores não-arrependidos sejam condenados ao inferno, não
importando quanta pena Ele sinta por eles. Embora o amor deseje
mostrar bondade, a santidade perfeita exige justiça. O inferno é um
lugar para aqueles que mostraram não desejar viver no Reino de
Deus. Como disse C. S. Lewis:

Eu acredito de todo o coração que os condenados


são, em certo sentido, rebeldes até o final, e que as
portas do inferno são trancadas do lado de dentro.7
SUPORTA TUDO
A verdade dessa declaração profunda dificilmente pode ser
compreendida. Você sabe que o Senhor o suporta? Isso significa que
Ele está sempre nos levantando e ajudando a passar pelas situações.
O poema Pegadas na areia* é uma descrição exata desse fato.
Fisicamente, Deus sustenta o mundo inteiro. A Bíblia diz:
Todas as coisas subsistem por ele (Cl 1.17b) e está sustentando todas
as coisas pela palavra do seu poder (Hb 1.3b).
Mais ainda, Ele sustém espiritualmente Seus filhos. Davi disse:
Bendito seja o Senhor que, dia a dia, leva o nosso fardo! Deus é a
nossa salvação (Sl 68.19 - ARA). O salmista também declarou: O
SENHOR está com aqueles que sustem a minha alma (Sl 54.4b) e
Ele sustenta com vida a nossa alma (Sl 66.9a).

*
Pegadas na areia
Uma noite eu tive um sonho...
Sonhei que estava andando na praia com o Senhor e através do céu, passavam cenas da minha vida.
Para cada cena que passava, percebi que eram deixados dois pares de pegadas na areia: um era meu e
o outro era do Senhor.
Quando a última cena passou diante de nós, olhei para trás, para as pegadas na areia e notei que muitas
vezes, no caminho da minha vida, havia apenas um par de pegadas na areia.
Notei também que isso aconteceu nos momentos mais difíceis e angustiosos do meu viver. Isso me
aborreceu deveras e perguntei então ao Senhor:
— Senhor, Tu me disseste que, uma vez que resolvi te seguir, Tu andarias sempre comigo, em todo o
caminho. Contudo, notei que durante as maiores atribulações do meu viver, havia apenas um par de
pegadas na areia. Não compreendo porque nas horas em que eu mais necessitava de Ti, Tu me deixaste
sozinho.
O Senhor me respondeu:
— Meu querido filho. Jamais eu te deixaria nas horas de provas e de sofrimento. Quando viste, na areia,
apenas um par de pegadas, eram as minhas. Foi exatamente aí que eu te carreguei nos braços.
(Do livro "Pegadas na areia" — Margareth Fishback Powers — Ed.Fundamento)
(Nota da digitalizadora).
O Senhor leva os nossos fardos de uma maneira que não
compreendemos. Ele está embaixo de nós, levantando-nos e
impedindo-nos de cair.

TUDO CRÊ, TUDO ESPERA, SUPORTA TODAS AS COISAS


O pensamento do Senhor é oposto ao pensamento do cínico,
que vê apenas o fracasso, ou do crítico, o qual enxerga somente a
falha. O Soberano crê no melhor para Seus filhos. Expressando de
outra forma, Ele acredita em nós.
O Senhor não risca o nome das pessoas, porque elas falham ou
desobedecem. Ele, simplesmente, continua tentando ajudá-las e
encorajá-las. O Criador pode pensar dessa maneira, pois não tem o
conhecimento do bem e do mal como nós. Simplificando, o Espírito
Santo é inocente. Ele é Onisciente, mas não tem o conhecimento
íntimo do mal causado pela experiência. Uma ilustração disso é uma
criança que olha para dentro de um bar e presencia brigas,
discussões, risadas e todos os outros comportamentos ocasionados
pela bebida. Ela vê os acontecimentos, mas não compreende
realmente aquilo, porque nunca esteve naquele espírito. Fica
perplexa e, de certo modo, entende a bebedeira, mas não possui
conhecimento profundo a respeito. De alguma forma, o Senhor é
como uma criança. Ele tem a inocência que você vê no rosto de uma
criancinha.
Nesse sentido, talvez, pelo fato de Deus conhecer apenas o
bem, Ele seja capaz de crer e esperar o melhor das pessoas. Possui
uma visão radiante e alegre da vida e do homem. De outra forma,
como o Altíssimo poderia administrar toda a morte e destruição que
testemunha todos os dias? O Todo-Poderoso enxerga um futuro
mais brilhante quando os dias do homem finalmente (e
misericordiosamente) terminarem e começar o Dia do Senhor. O
Espírito Santo vê o princípio e o fim e sabe que existe um porvir
maravilhoso, preparado para os Seus amados. Sua esperança está
fundamentada no conhecimento do eterno. Isso ajuda a explicar por
que Ele é capaz de agüentar constatar tanta maldade.

NUNCA FALHA
É maravilhoso saber que Deus está conosco. Na mente, muitos
homens sabem disso, mas, no coração, não discernem isso. Essa
espécie de segurança cresce quando experimentamos a presença do
Pai em tempos de dificuldade.
Uma lembrança que tenho da fidelidade do Senhor vem da
ocasião em que apareci no Programa da Oprah Winfrey. Os
produtores queriam um convidado que se tivesse envolvido com o
vício sexual para participar de um programa que estavam prestes a
pôr no ar. Eles me levaram de avião para Chicago, buscaram-me no
aeroporto de limusine e puseram-me em uma suíte no Hilton. O
programa seria gravado na manhã seguinte.
Aparecer na televisão era algo novo e sobrepujante. Durante a
noite inteira, fiquei aflito e preocupado. Não conseguia dormir;
então, andei de um lado para o outro em meu quarto, suplicando que
Deus me ajudasse. Na manhã seguinte, fui levado ao estúdio. Sentia-
me absolutamente sem forças e exausto até entrar no palco;
subitamente, senti-me revigorado! Em um instante, fui
transformado de um estado de fraqueza e medo para um de
confiança alerta. O Pai celestial tem feito isso por mim tantas vezes,
que agora não tenho mais medo. Sei que Ele já me está aguardando
na próxima situação.
O Senhor nos ama e jamais falhará conosco.
Receber uma revelação recente sobre como Deus Se parece irá
levar-nos longe e ajudar-nos a fazer-Lhe uma entrega maior. A vida
de vitória não pode ser alcançada sem o ato de entrega.
Neste capítulo, vimos a natureza amorosa do Onipotente, mas
esta é apenas metade da questão! Deus é amor; no entanto, se Ele
nunca fizesse nada com esse amor, para que serviria? Agora é tempo
de aprender sobre as Suas doces misericórdias.
Meditação para Hoje

Oh! Quão grande é a tua bondade, que guardaste


para os que te temem, e que tu mostraste àqueles que
em ti confiam na presença dos filhos dos homens! A
tua misericórdia, Senhor, está nos céus, e a tua
fidelidade chega até às mais excelsas nuvens.
Davi - Salmos 31.19;36.5

TU ÉS FIEL, SENHOR *
Tu és fiel, Senhor, meu Pai celeste,
Pleno poder a Teus filhos darás.
Nunca mudaste, Tu nunca faltaste:
Tal como eras, Tu sempre serás.
Flores e frutos, montanhas e mares,
Sol, lua, estrelas no céu a brilhar!
Tudo criaste na terra e nos ares.
Todo o universo vem, pois, Te louvar!
Pleno perdão Tu dás, paz, segurança
Cada momento me guias, Senhor
E, no porvir — oh, que doce esperança! —,
Desfrutarei do teu rico favor.
Coro
Tu és fiel, Senhor,
Tu és fiel, Senhor,
Dias após dia, com bênçãos sem fim.
Tua mercê me sustenta e me guarda;
Tu és fiel, Senhor, fiel a mim.1
Thomas Chisholm

*
Nota da tradução - Hino original intitulado Great is thy faithfulness, traduzido para o português com o
título de Tu és fiel, Senhor, de domínio público.
Sete
O Deus de misericórdia

Se a essência do Onipotente é amor, como estabelecemos


antes, isso comprova que todos os Seus relacionamentos com a
humanidade procedem do Seu amor. A ilustração seguinte nos ajuda
a ver isso mais claramente:

Deus é, em essência, amor puro, depositado em toda alma viva.


Sua graça maravilhosa diante do nosso pecado vem por meio desse
sentimento, que O move a demonstrar compaixão pelos nossos
problemas e a estender a bondade requerida a fim de atender às
nossas necessidades. Este capítulo focalizara a misericórdia do
Criador. Comecemos por duas expressões do amor do Pai por nós.

GRAÇA
Deus deseja uma amizade íntima e contínua conosco.
Entretanto, existe uma distância imensa entre os dois. Ele é santo,
puro e justo sob todos os aspectos. Isso O coloca em oposição direta
a qualquer coisa que lembre o orgulho ou egocentrismo. Em Sua
dimensão celestial, não há lugar para rugas nem máculas; não existe
pecado, porque tudo está perfeitamente conforme a Sua vontade.
Em total contraste, a humanidade não é santa, mas impura e
pecadora, em divergência com o Espírito de Deus. Por natureza, o
homem é transgressor. O pecado está ligado a quase tudo o que ele
faz. Apanhado habitualmente em um comportamento pecaminoso, o
ser humano é culpado pelo orgulho, egoísmo e pela rebelião contra
Deus. O profeta Jeremias descreveu, com sagacidade, o coração
humano como enganoso [...] mais do que todas as coisas, e
perverso; quem o conhecerá (Jr 17.9). O prognóstico para a
humanidade caída é o mesmo que para um paciente diagnosticado
com uma forma maligna de tumor espalhando-se pelo corpo: a
morte iminente, a menos que o Senhor intervenha.
É fascinante que o Pai, sempre com o Espírito de ágape, deseje
unir-Se ao homem. Ele busca apaixonadamente os pecadores,
porque os conhece e lembra que são apenas pó (Sl 103.14). Assim
como qualquer noivo na noite de núpcias, o Senhor deseja ser Um
com Sua noiva. A descrição perfeita dessa paixão, se você conseguir
ler sem corar, encontra-se em Cantares de Salomão. Tal narrativa
poética descreve o amor sem limites de Deus pela Sua Amada.
Para realmente avaliar o dilema de Deus, imagine um homem
que ama uma mulher, com sinceridade no coração, e está preparado
para dar sua vida por ela — para o que der e vier. Maravilha das
maravilhas, ela concorda com o casamento! Mas ele percebe alguma
coisa errada antes que a noiva chegue ao altar. Quando abre o
caminho pelo corredor, ela olha sedutoramente para os outros
homens da congregação. Que atitude inadequada! Que situação
embaraçosa! Obviamente, a moça tem um coração dividido. Ela está
em uma posição difícil: concordou em se casar, mas todos aqueles
outros homens atraíram repentinamente a sua atenção. O que ela
deve fazer?
A noiva decide continuar. Para a surpresa dele, o casamento
vai bem no princípio. A esposa parece sinceramente comprometida
com a vida conjugal. Entretanto, após alguns meses, ela começa a
voltar tarde para casa. Certa noite, ele descobre o que mais temia: a
mulher havia dormido fora de casa.
Ela demonstra arrependimento e pede perdão, mas continua a
ter os seus casos. Repetidamente, o marido a apanha mentindo
sobre suas ações. Às vezes, parece que ela o ama realmente, mas não
o suficiente para mudar de comportamento. Quanto tempo ele deve
suportar isso? Quantas vezes deve olhar de outra forma ou enterrar a
cabeça na areia? Quantas desculpas deve aceitar antes de se
divorciar? Oséias sabia o que significava estender a misericórdia a
uma mulher infiel.
O Senhor não pode ajudar a Si mesmo. Seu amor O move
incansavelmente em direção ao objeto do Seu desejo. Não importa
quão freqüentemente seja ferido. Ele a ama e não é suficiente que
esteja disposto a aceitá-la de volta depois dos seus repetidos
fracassos. Porque, quando ela volta para casa, Ele tem um sorriso
amoroso, de boas-vindas. Fica feliz por vê-la de volta, esforçando-se
por permanecer na relação. Isso é graça: o favor imerecido do
Criador com relação aos pecadores, os quais são infiéis por natureza.
Nós servimos ao Deus da graça, que perdoa quando nós
humildemente a pedimos e ainda a estende para alguém
arrependido. São as Boas-Novas para as pessoas más!

COMPAIXÃO
A compaixão de Deus vai mais além. Ele não apenas
recepciona a esposa instável arrependida com um sorriso, como
também sente compaixão pelo seu vício de adultério.*
Ele vê a sua luta. A esposa quer agir corretamente, deseja estar
nesse relacionamento, contudo, cede continuamente às pressões da
tentação. O esposo se sente mal por causa de seus embates.
Uma pessoa compassiva vê as necessidades dos outros e se
move interiormente. Ao se deparar com alguém ferido, mal consegue
conter-se e emociona-se bastante. Ela clama a Deus e fica insatisfeita
até que a dificuldade seja resolvida.
O Senhor é cheio de compaixão por nós. Suas misericórdias O
movem a nos fazer o bem e a preencher nossas carências.
Tal piedade está expressa na história que Jesus contou sobre o
bom samaritano. Ele foi movido de compaixão, mas o sacerdote e o
levita passaram pelo outro lado da estrada (Lc 10.31,32). O Senhor
nunca nos ignora quando estamos com necessidades. Ele jamais
atravessa para o outro lado da estrada para evitar o nosso problema,
mas vê as nossas dificuldades e Se move em direção a elas para nos
aliviar, curar e restaurar.

MISERICÓRDIA
Misericórdia é viver o amor de Deus para com os outros. A
palavra hebraica do Antigo Testamento traduzida como misericórdia
na versão da Bíblia King James [que corresponde à Almeida Revista
e Corrigida] é hhesed. É traduzida como bondade amorosa na NASB
[New American Standard Bible], e amor que não falha na NVI
[Nova Versão Internacional]. Hhesed refere-se, primariamente, ao
*
Temos de ser cuidadosos para não ficarmos com a impressão de que um Deus santo finge que não vê o
pecado. Ele lamenta a nossa luta, mas provê um escape, o qual espera que adotemos.
sistema de suprimento que Deus estabeleceu na terra para suprir
necessidades: físicas, emocionais e espirituais. Um irmão afirmou:

A misericórdia é a irradiação do amor. Assim como


existe um único sol em nosso céu, mas saem raios
infindáveis do nosso sol, existem misericórdias
eternas que procedem do fogo santo do amor divino,
um amor que nunca pode ser extinto [...].
Se estamos com fome, misericórdia é a comida. Se
temos sede, misericórdia é a água. Se temos frio,
misericórdia é o calor, abrigo e roupas. Se estamos
desanimados, misericórdia é o encorajamento e a
força. Se somos rebeldes, misericórdia é o
arrependimento. Se nos sentimos culpados (e nos
arrependemos), misericórdia é o perdão. Quando
somos derrotados, misericórdia é a vitória.2
Em resumo, a misericórdia é o amor em ação e a resposta
natural de alguém que ama realmente o outro. Qual é o benefício
de um amor não-expressado? Como nossas vidas seriam impactadas
se o Senhor, simplesmente, dissesse do céu que nos ama, mas nunca
demonstrasse isso? Não seria um bom exemplo. Graças a Deus por
Suas misericórdias, as quais sempre suprem nossas necessidades.
Graça é o sorriso de boas-vindas do Pai. Compaixão é a
resposta natural do Altíssimo aos nossos problemas. Misericórdia é a
provisão necessária. As ilustrações bíblicas nos auxiliam a ver isso de
forma clara.
Certa vez, Jesus estava em uma área remota do norte da
Galiléia, ensinando à multidão durante vários dias. Aquelas pessoas
que O ouviam, as quais estavam morrendo de fome espiritual, foram
momentaneamente cercadas por Suas palavras maravilhosas de
vida. Cristo viu também as necessidades físicas daquele povo: Tenho
compaixão da multidão, porque já está comigo há três dias e não
tem o que comer (Mt 15.32a). Embora não merecessem a Sua
bondade, Cristo olhou para elas com a Sua compaixão e fez alguma
coisa: alimentou-as.
Em outra ocasião, quando Jesus ia passando, um leproso,
suplicando misericórdia, achegou-se ao Mestre. E ele, estendendo a
mão, tocou-lhe, dizendo: Quero; sê limpo. E logo a lepra
desapareceu dele (Lc 5.13). Novamente, Jesus viu a necessidade,
teve compaixão do homem e praticou um gesto de compaixão.
Jesus observou, em outro momento do Seu ministério terreno,
um cortejo fúnebre com uma mãe a qual lamentava a morte do filho.
E, vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima compaixão por ela e disse-
lhe: Não chores. E, chegando-se, tocou o esquife (e os que o levavam
pararam) e disse: Jovem, eu te digo: Levanta-te. E o defunto
assentou-se e começou a falar. E entregou-o à sua mãe (Lc 7.13-15).
Em cada história, encontramos os mesmos ingredientes: graça,
compaixão, misericórdia.
Deus olhou com piedade para o homem pecador, porque Ele
nos amou. Sabia que um sacrifício perfeito seria exigido pela nossa
expiação. Apesar da dor que isso Lhe causou, Ele fez a única coisa
possível para suprir a necessidade: enviou Seu Filho precioso para
levar sobre Si os nossos pecados e morrer em nosso lugar — a maior
misericórdia já demonstrada. Foi graça pura o fato de Deus ter feito
isso pela humanidade pecadora. Sua compaixão não Lhe deixou
alternativa.
Lloyd John Oglivie tem um ponto de vista a respeito:

Bondade (hhesed) é o amor constante do Senhor em


ação em relação àqueles que erram. Em todo o Antigo
Testamento, as palavras para amor constante,
misericórdia e bondade são usadas de modo
intercambiável. Bondade é o esforço persistente do
Senhor para alcançar Seu povo e capacitá-lo a voltar
para Ele.
Jesus Cristo foi a encarnação da bondade. Ele veio
para expressá-la, viveu para ser um modelo dela;
morreu para oferecê-la e voltou a transmiti-la a nós
por meio do Espírito Santo.3
Realmente, o ministério terreno de Jesus envolveu o
suprimento de qualquer necessidade que Ele encontrasse, dando-Se
constantemente, sacrificando-Se e servindo aos outros pelo bem
deles. Ele nunca Se promoveu. Viveu simplesmente com a paixão de
fazer o bem onde a oportunidade se apresentava.
Hebreus 13.8 diz que Jesus foi a expressão exata ou a
representação precisa da natureza de Deus. O Messias foi Deus em
forma humana, fazendo exatamente o que o Pai queria realizar tanto
na terra como no céu. Se você quiser saber como o Criador é, basta
estudar a vida de Cristo. Ele foi a revelação do Todo-Poderoso, de Si
mesmo, para a humanidade. O Onipotente é o imutável; o mesmo de
ontem, hoje e eternamente. Não existe diferença entre o Soberano de
quem lemos no Antigo Testamento e Aquele do Novo Testamento.
Jesus disse: Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si
mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer ao Pai,
porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente. Porque o Pai
ama ao Filho e mostra-lhe tudo o que faz; e ele lhe mostrará
maiores obras do que estas, para que vos maravilheis (Jo 5.19,20).
Em todas as épocas, o homem tem imaginado como é Deus.
Em toda a Sua Palavra, o Senhor revela a Sua natureza como boa e
misericordiosa. O Pai, por intermédio de Seu Filho, demonstrou, na
cruz, imenso amor por todos nós, tomando a propriedade dos nossos
crimes e pagando a pena para que fôssemos livres. Novamente, se
quiser saber que tipo de atividade está sempre acontecendo no céu,
reconheça a vida de Jesus. A misericórdia é a força de vida no Reino
de Deus.

DUVIDANDO DE DEUS
Infelizmente, depois de tudo o que o Pai fez para demonstrar
Sua bondade amorosa para conosco, achamos difícil acreditar que
esse é o jeito que o Senhor realmente é. A luta para crer no melhor
sobre Ele remonta ao princípio.
Por um tempo, Adão e Eva desfrutaram a vida em seu paraíso
terrestre. Estavam em perfeita comunhão com um Deus amoroso.
Lançando mão de um fruto proibido, um intruso rastejou e
envenenou a mente de Eva com mentiras acerca do Criador. Ela
havia evitado aquele fruto, pois ele estava fora dos seus limites.
Como o diabo conseguiu que ela comesse? Utilizando a sugestão
sutil que ele usa ainda hoje: "Deus não é realmente bom. Ele está
prendendo você e fará com que aja sem querer. Não pode confiar
nEle, pois vai feri-la, tomar-lhe coisas, e forçá-la a se submeter à Sua
vontade. É muito mais seguro não confiar e seguir seu próprio
caminho na vida".
Que escândalo e vergonha! Nosso Pai celestial quer ajudar,
abençoar, fazer o bem, suprir as necessidades e, acima de tudo, ter
um relacionamento de amor com Seus filhos. O que Ele recebe em
troca? Ceticismo, dúvida, incredulidade, acusações falsas e total
rebelião! Contudo, em Sua infinita paciência, o Senhor continua a
estender a mão, mostrar-Se acessível, fazer o bem e, simplesmente,
distribuir favores de modo incondicional a quem não merece.
Por que nos recusamos a crer no melhor a respeito do
Soberano? Há muitas razões.
Primeiro, imaginamos que Deus seja uma versão maior de nós
mesmos. É impensável que alguém possa ser tão cheio de bondade.
Achamos difícil expandir os nossos conceitos fora da nossa
experiência. Não conseguimos compreender um Ser eterno. Não
podemos imaginar um Criador Infinito, Onipotente e Onisciente.
Acontece o mesmo com Sua bondade intrínseca. Simplesmente, não
temos condições de imaginar alguém que seja tão bom.
Segundo, somos tão cegos pela nossa própria bondade, que,
quando ouvimos a Bíblia falar da bondade de Deus, ela não nos afeta
realmente. A palavra bondade (assim como a palavra amor) foi
destituída do seu significado verdadeiro pelo nosso conceito
superficial do que ela é. Medimos a generosidade com base na
maneira pela qual olhamos para nós mesmos.
Uma terceira razão de termos uma visão tão pobre do caráter
de Deus é o que a Escritura Sagrada declara sobre Sua ira e Seus
juízos. No capítulo 8, investigamos essas verdades.
Finalmente, não vemos mesmo a Sua misericórdia em nosso
dia-a-dia. O Senhor faz tantas coisas, que não percebemos tudo o
que realizou. Muitos outros atos de bondade são perdidos, porque os
olhos da fé não estão suficientemente abertos para ver a Sua obra em
nosso cotidiano.
A natureza de Deus está cheia de bondade! Ele é infinitamente
bom. Um homem que andou intimamente com Ele não pode deixar
de perceber essa realidade. Leia o que alguns homens da Bíblia
proclamaram a respeito do Senhor.

Moisés disse: O SENHOR é longânimo e grande


em beneficência, que perdoa a iniqüidade e a
transgressão, que o culpado não tem por inocente e
visita a iniqüidade dos pais sobre os filhos até à
terceira e quarta geração. Saberás, pois, que o
SENHOR, teu Deus, é Deus, o Deus fiel, que guarda o
concerto e a misericórdia até mil gerações aos que o
amam e guardam os seus mandamentos (Nm 14.18;
Dt 7.9).
Davi, que teve, provavelmente, uma visão melhor
da natureza do Pai do que qualquer outra pessoa,
declarou: Lembra-te, SENHOR, das tuas
misericórdias e das tuas benignidades, porque são
desde a eternidade. Todas as veredas do SENHOR
são misericórdia e verdade para aqueles que
guardam o seu concerto e os seus testemunhos. Pois
tu, Senhor, és bom, e pronto a perdoar, e abundante
em benignidade para com todos os que te invocam.
Piedoso e benigno é o SENHOR, sofredor e de grande
misericórdia. O SENHOR é bom para todos, e as suas
misericórdias são sobre todas as suas obras (Sl
25.6,10; 86.5; 145.8,9).
Salomão reconheceu: Ó SENHOR, Deus de Israel,
não há Deus como tu, em cima nos céus nem embaixo
na terra, que guardas o concerto e a beneficência a
teus servos que andam de todo o seu coração diante
de ti (1 Rs 8.23).
Por sua vez, Paulo concluiu: Mas Deus, que é
riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com
que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas
ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela
graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com
ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo
Jesus; para mostrar nos séculos vindouros as
abundantes riquezas da sua graça, pela sua
benignidade para conosco em Cristo Jesus (Ef 2.4-7).

Essa é apenas uma pequena amostra do que a Bíblia diz sobre


o Senhor. Cada uma dessas pessoas teve uma visão da natureza de
Deus e uma revelação de como Ele trata a humanidade.

MISERICÓRDIA EM NOSSO DIA-A-DIA


Um amigo meu diz que, para cada ato de misericórdia que
vemos Deus operar, Ele faz milhares de outros que não vemos. À
medida que fico mais próximo de Jesus e aprendo mais dos Seus
caminhos, vejo que isso é verdade.
Recentemente, Kathy e eu ficamos em um trailer, acampados
em Cape Cod. Estávamos na área da Nova Inglaterra para participar
de vários meses de reuniões. Mantínhamos a mesma rotina:
ficávamos no trailer durante a semana e íamos até a igreja escalada
no final de semana para os cultos.
Tendo passado pela rotina de arrumar as malas no fim de
semana muitas vezes, estávamos cientes de cada item que tínhamos
de levar antes de viajar. Em uma determinada ocasião, eu ia
ministrar em Vermont. Tínhamos cinco horas de estrada à nossa
frente. Quando colocávamos nossas coisas nas mochilas, Kathy
pegou, inadvertidamente, um vidro de remédio para problemas no
estômago* (algo que ela nunca faz). Tendo posto tudo no carro,
partimos para a igreja.
Várias horas mais tarde, comecei a sentir uma dor horrível no
estômago. Deus, com Sua consideração, havia providenciado a
solução necessária antes que o problema aumentasse. Não foi um
milagre transformador de vida. Simplesmente, foi mais um pequeno
ato de bondade de um Pai que ama suprir as nossas necessidades.
Outra história que posso relatar poderia ter sido um pouco
mais séria. Temos um caminhão de água de duas toneladas, o qual
usamos para transportar os quase dez mil litros que consumimos
todos os dias em nossa casa móvel. Um dia, de volta para casa, parei
em um depósito de madeira local e dei uma corrida até o banheiro.
Quando parei para conversar com um bom rapaz que trabalhava lá,
ele perguntou calmamente: "Não é seu o caminhão de água lá na
estrada?". Saí correndo e descobri que o caminhão estava do outro
lado de uma rodovia movimentada, e uma fila de veículos esperava
pacientemente nas duas direções. Muito humildemente, pulei para o
caminhão e o estacionei, grato por ele não ter batido em ninguém.
Outra vez, quando um dos membros da nossa equipe dirigia
um veículo, descobrimos, quando ele voltou para casa, que o sistema
do carro estava quebrado e não havia razão para que as várias
toneladas de peso não tivessem escapado em uma daquelas curvas
de Kentucky. Ambos são exemplos do cuidado misericordioso de
Deus com relação à nossa vida.
Eu percebia esses gestos de misericórdia, mas imaginava
quantos tinha deixado de ver. Quando considero a minha vida antes
de me achegar ao Senhor, tudo o que posso pensar é em quanto Ele
tem sido misericordioso comigo. Eu levava uma vida selvagem e
impulsiva. Doze dos meus amigos foram mortos durante aquela
época. Eu devia ser um deles. Por que fui poupado? A única
explicação é que um Pai bom e misericordioso sabia que chegaria o
dia do meu arrependimento. Ele ficou guardando, cuidadosamente,
a minha vida, antes mesmo que eu fosse um dos Seus.
Foi misericórdia, foi tudo misericórdia — o modo como Deus
supriu as minhas necessidades, assim como Ele tem feito a você.

*
Nota da Revisão - Princípio ativo: Salicinato de Bismuto Monobásico.
Meditação para hoje

Mestre, não te importa que pereçamos?


Os discípulos de Cristo - Marcos 4.38b

Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me


escutarás? Gritarei: Violência! E não salvaràs? Por
que razão me fazes ver a iniqüidade e ver a vexação?
Porque a destruição e a violência estão diante de
mim; há também quem suscite a contenda e o litígio.
Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a
vexação não podes contemplar; por que, pois, olhas
para os que procedem aleivosamente e te calas
quando o ímpio devora aquele que é mais justo do que
ele?
Habacuque 1.2,3,13

E o anjo meteu a sua foice à terra, e vindimou as


uvas da vinha da terra, e lançou-as no grande lagar
da ira de Deus.
Apocalipse 14.19
Oito
A indiferença e a ira de Deus

O "lado escuro" do caráter do Senhor é um assunto de


importância monumental. Volumes têm sido escritos sobre o tema.
Um único capítulo iria fazer-lhe pouca justiça, no entanto, senti-me
compelido a tocar nesse aspecto do Pai, que cria grande confusão na
mente dos Seus seguidores. Como podemos clamar misericórdia de
um Deus que não Se importa, ou pior, que fica irado? Mais
importante, como nos podemos render sinceramente a Ele?
Verdadeiramente, não podemos. Nossa reverência seria superficial e
exterior, como a dos ajudantes de um ditador. Sem confiança não
existe entrega, e sem esta, não pode haver vitória. É vital que
compreendamos a razão pela qual o Altíssimo faz algumas coisas.

A INDIFERENÇA DE DEUS
Algumas vezes, é extremamente difícil crer que o Pai Se
importe. O sofrimento é muito grande nesta bola de pó chamada
Terra. Milhões de pessoas morrem de fome na África — indivíduos
reais, com esperanças e sonhos iguais aos seus e aos meus. Outras
morrem por doenças, simplesmente porque não conseguem
remédios, aos quais nós não costumamos dar valor. Aldeias e
cidades inteiras são exterminadas brutalmente, porque as pessoas
são de um passado étnico diferente do de seus assassinos. O crime
cresce nas ruas quando os jovens, em sua falta de perspectiva,
voltam-se para as drogas, e os pais ficam desesperados. O
sofrimento, a miséria e a injustiça estão por todos os lados. Onde
está o Deus de amor e misericórdia em tudo isso?
Habacuque lutou com essa mesma questão do sofrimento e da
injustiça. Quando ele ponderava sobre isso com o Senhor em oração,
Ele deu ao profeta visões do futuro de sua nação. O Criador
descreveu um tempo de juízo vindo sobre Israel. O exército dos
saqueadores babilônico destruiria tudo em Israel. Não foi
exatamente uma palavra de encorajamento! Ao ver a situação,
Habacuque expressou a pura Palavra de Deus quando declarou: Mas
o justo, pela sua fé, viverá (Hc 2.4b).
Quando nada faz sentido e tudo na vida parece estar
desmoronando-se, os cristãos têm algo que os separa do desespero
dos incrédulos: a fé em Deus. O Pai celeste proveu nova segurança
diante das dúvidas de Habacuque. Quando não existe nada para se
ver adiante a não ser a tragédia, somente o Senhor pode dar a paz.
Foi nesse estado de espírito que o profeta declarou estas
palavras, as quais têm animado os crentes por milhares de anos:

Porquanto, ainda que a figueira não floresça, nem


haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os
campos não produzam mantimento; as ovelhas da
malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja
vacas, todavia, eu me alegrarei no SENHOR,
exultarei no Deus da minha salvação. JEOVÁ, o
Senhor, é minha força, e fará os meus pés como os
das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas.
Habacuque 3.17-19

Escrevendo sobre esses versículos, Adam Clarke declarou:

Esses versículos dão a maior demonstração de


resignação e confiança que já encontrei. Ele viu que o
mal estava muito próximo e era inevitável.
Submeteu-se à dispensação do Deus, cujo Espírito o
capacitou a descrevê-lo em todas as suas
circunstâncias calamitosas. Ele sabia que o Senhor
era misericordioso e generoso.1
Matthew Henry escreveu:

Não obstante, ele resolve deleitar-se e triunfar em


Deus. Quando tudo acabou, o seu Deus não Se foi [...].
Aqueles que, quando estão cheios, desfrutam do Pai
em tudo, ao serem esvaziados, podem desfrutar
completamente no Senhor. Conseguem sentar-se sobre
um monte de ruínas melancólicas e até mesmo cantar
para o louvor e glória do Criador.2
Catherine Marshall, em seu excelente livro Beyond our selves
[Além do nosso eu] discute as próprias lutas, como jovem idealista.
Certa noite, quando estava visitando uma mulher piedosa chamada
Sra. MacDonald, ela mencionou o assunto.

Em uma dessas noites, eu me achei extravasando a


minha rebelião interior contra um Deus que permitia o
sofrimento e o mal, embora tivesse o poder de detê-los.
"Catherine", ela disse pensativamente, "você sabe
quantas vezes eu falo de Kenneth?".
Mexi a cabeça. Com rapidez, revi na mente o que
sabia sobre Kenneth, o único filho dos MacDonald. Ele
morrera de diabetes na adolescência. Misturou-se à
sua dor o fato de a insulina ter sido descoberta apenas
poucos meses depois, tarde demais para salvar o seu
filho. Ali então, perto de casa, estava um exemplo da
espécie de tragédia que me fazia questionar o amor de
Deus.
"Bem", minha amiga prosseguiu, "se eu tivesse
pensado, como você sugeriu, poderia ter-me afastado
de Deus com amargura, por permitir a morte de
Kenneth. O Senhor tem poder, e poderia ter impedido.
Então, por que não o fez?
"Mesmo agora, não lhe posso dar uma resposta
completa sobre a questão. Mas também não consigo
ter amargura, porque durante a longa doença de
Kenneth, tive muitos exemplos do amor paternal e
gentil de Deus. Como aquela vez, logo após Kenneth
suspeitar que iria morrer. Ele me perguntou: 'Mãe,
como é morrer? Mãe, dói?'"
Quando a Sra. Mac repetiu as perguntas, lágrimas
brotaram em meus olhos, e perguntei: "Como... A
senhora respondeu?".
A mulher de cabelos brancos parecia estar vendo o
passado. "Eu me lembro de que corri para a cozinha,
supostamente para ver algo no fogão... E perguntei ao
Altíssimo como responder ao meu filho.
"Deus falou comigo. Somente Ele poderia dar a
resposta à questão mais difícil que uma mãe pode
expressar. Eu soube, simplesmente soube como
explicar a morte para ele. 'Kenneth', lembro-me de ter
dito, Você sabe que quando era um garotinho,
costumava brincar tanto o dia todo, que, quando a
noite chegava, estava tão cansado, que nem conseguia
tirar a roupa; então, você caía de sono na cama da
mamãe?'.
'Aquela não era a sua cama. Não era lá que você
deveria estar. E você ficava lá só um pouquinho. De
manhã, para sua surpresa, você acordava e se
encontrava na própria cama, em seu quarto. Você
estava lá pelo cuidado e amor de alguém. Seu pai tinha
vindo, com seus braços grandes e fortes, e o havia
carregado'.
"Então, eu disse ao Kenneth que a morte era igual.
Nós, simplesmente, acordamos uma manhã e nos
encontramos em outro quarto; nosso próprio quarto,
onde devemos estar. Estaremos lá, porque Deus nos
ama ainda mais que nossos pais terrenos e toma conta
de nós com ternura".
Ficamos ambas em silêncio por um momento.
Depois, a Sra. MacDonald disse suavemente: "Kenneth
nunca sentiu medo de morrer depois disso. Se, por
alguma razão que ainda não compreendo, ele não
pudesse ser curado, então, essa remoção de todo medo
seria o segundo maior presente que Deus nos poderia
dar. No final, ele passou para a outra vida exatamente
como o Pai me dissera que ele iria — gentil e
suavemente". Havia um olhar de profunda paz no
rosto da minha amiga enquanto ela falava.
Depois que a Sra. MacDonald me pôs para dormir
naquela noite, deitei na cama de mogno sob o
edredom, meditando em suas palavras. Ela, realmente,
disse-me que aqueles que estão dentro da tragédia são
freqüentemente levados a algo que os de fora
absolutamente não experimentam: o amor de Deus —
instantâneo, contínuo, real — em meio à sua
tribulação. Com a presença do Senhor, eles têm algo
mais precioso do que qualquer presente concedido por
Ele.3
Anos mais tarde, depois que seu marido Peter Marshall
faleceu, ela se achou respondendo a mesma pergunta a um grupo de
adolescentes confusos. Depois do encontro, ela refletiu sobre como
tais questionamentos podem afetar Deus.

Então, quando eu lhes contei sobre a minha busca


dessa resposta, pensei em como o Pai deve ficar
quando um de Seus filhos se encolhe de medo diante
dEle. Percebi quão freqüentemente atribuímos
emoções e feitos ao Senhor, que atribuiríamos apenas
às mentes humanas mais depravadas. Provavelmente,
nenhuma personalidade no Universo é tão taxada de
má quanto o Criador.4
Há alguns aspectos sobre a vida que, simplesmente, não
compreenderemos, a não ser quando chegarmos ao céu. Com fé,
essas questões devem ficar de lado. Entretanto, existem outras
coisas que parecem evidentes.
A terra não é para ser o céu. Este é o campo de batalha que nos
testa. Mais tarde, virá a terra gloriosa da recompensa. É aqui, neste
cenário de miséria e sofrimento sem sentido, que o Senhor nos pede
que confiemos nEle. As pessoas se desencantam com Deus porque
querem que Ele transforme a existência terrena em celestial. Não
podemos conhecer a vitória espiritual com essa atitude imatura.
Aqui não é o céu nem é para ser.
O Criador dá ao homem o livre-arbítrio e não imporá a Sua
vontade sobre nós. Se a humanidade desejar guerrear, conquistar
reinos e servir a Satanás, de alguma forma, o Senhor permitirá o
exercício do livre-arbítrio.
Devemos entender que, nessa liberdade, o homem entrega a
propriedade da terra ao diabo. Satanás tem feito o que costuma
fazer: provoca sofrimento, miséria e destruição ao mundo.
Nunca devemos esquecer que servimos ao Deus que sofre
conosco. Ele provou isso de uma vez por todas no Calvário. Como,
pois, podemos acusá-lO?
O Altíssimo realmente cuida de Seus filhos e está disponível
para aqueles que O invocam.

A IRA DE DEUS
A ira do Senhor não pode, simplesmente, ser compreendida
em termos humanos. Ficamos bravos quando alguém nos ofende,
contradiz-nos ou nos fere. A ira é o nosso desejo de usar a força
contra outra pessoa. Sentimos ira porque somos egocêntricos. Deus
tem ira, mas não é como a nossa. A Sua ira é parte da misericórdia
divina.
Veja a história de Saul quando tinha acabado de ser ungido rei
de Israel. Nesse ponto, ele ainda era pequeno aos próprios olhos.
Um dia, ele estava arando o campo, quando um mensageiro veio
com uma palavra sobre uma grande ameaça nacional. Naás, rei dos
amonitas, havia sitiado a cidade de Jabes-Gileade. Os líderes da
cidade se ofereceram para se sujeitar aos amonitas se eles fizessem
aliança com Jabes-Gileade. Porém Naás, amonita, lhes disse: Com
esta condição, farei aliança convosco: que a todos vos arranque o
olho direito, e assim ponha esta afronta sobre todo o Israel (1 Sm
11.2). Os líderes solicitaram uma semana para enviar o pedido de
ajuda, e, para espanto deles, o rei concordou. Foi um desses
mensageiros que levou a Saul a notícia do incidente. Então, o
Espírito de Deus se apoderou de Saul, ouvindo estas palavras, e
acendeu-se em grande maneira a sua ira (1 Sm 11.6).
O Espírito de Deus fez com que Saul ficasse irado? O mesmo
Espírito de natureza doce sobre o qual aprendemos no capítulo seis?
Sim, o Único e o mesmo.
Muito da ira de Deus no Antigo Testamento é uma
manifestação diferente do mesmo fogo de amor consumidor do
Novo Testamento. Um dia, esse fogo queimará o planeta, destruindo
tudo o que se opõe ao Senhor ou ao Seu povo amado. Esse aspecto
da Sua ira é o amor protetor e feroz que uma mãe sente pelo seu
bebê. É totalmente desprovido de egoísmo e pensa apenas no bem
do seu amado.
Deus destruiu os amonitas, mas sua destruição total foi um ato
de misericórdia. Como pode ser? Da mesma forma, é um ato de
misericórdia para com a sociedade dar sentença de morte a um
assassino não-arrependido. O mesmo gesto de Deus é juízo para um
e misericórdia para outro — dependendo da sua disposição de
arrependimento e submissão.
As pragas do Egito servem como exemplo. Deus abordou os
egípcios pelo único caminho que capturaria a sua atenção. O Egito
era uma nação poderosa, acostumada a ter as coisas do seu jeito.
Não há quem se volte para Deus quando tudo está indo do seu
próprio jeito. Nós nos voltamos para Ele quando enfrentamos uma
situação avassaladora. Quando chegamos ao fim de nossos recursos,
respondemos ao Espírito Santo. Deus estava tentando fazer com que
os egípcios dobrassem o joelho, para que Ele pudesse mostrar-lhes a
misericórdia!
Todo ser humano tem livre-arbítrio. Quando Deus aparece,
podemos unir-nos ou opor-nos a Ele. O Senhor surgiu para os
egípcios com uma tremenda demonstração de força, pois queria que
se humilhassem, arrependessem-se e deixassem os hebreus. O
Altíssimo tê-los-ia abençoado alegremente, mas aquele povo era
adorador do diabo e não queria nada com o Pai de amor. Eles se
recusaram a experimentar a compaixão que Ele estende para o Seu
povo. A única alternativa à misericórdia é a ira. Eles se opuseram às
Suas tentativas de libertar os hebreus. No final, isso lhes custou
tudo. As pragas foram atos de piedade em relação àqueles que se
uniram a Deus e um juízo para os opositores.
Pelo fato de conhecermos tantas histórias do Antigo
Testamento tratando da ira divina em relação às nações ímpias,
temos problema em aceitar a premissa de que o Onipotente é amor.
Pode ser difícil para nós não O vermos pronto para punir a nossa
desobediência ao lermos tais relatos.
Como não podemos ver as coisas sob a perspectiva do Senhor,
não sabemos quanto tempo Ele foi capaz de suportar esses grupos
ímpios. Não temos informações sobre os Seus relacionamentos com
eles, então, não conhecemos os extremos a que Ele chegou para
adverti-los e salvá-los. Vimos somente o resultado final: mulheres e
crianças eram colocadas à espada sem distinção.
Coloque-se um momento no lugar de Deus. Você se esforça
para tentar revelar-se à humanidade e deseja homens e mulheres
capazes de um relacionamento de amor, da mesma maneira que
você pode fazer por eles. Grupos de pessoas respondem
diferentemente: algumas estão muito interessadas; outras, mais ou
menos, pois se encontram em uma posição em que podem ser
influenciadas a seguir qualquer caminho; outras ainda não têm
interesse e rejeitam todas as suas tentativas de ensinar-lhes.
Os desinteressados também são dados à iniqüidade de tal
modo que suas vidas corrompem as dos outros. Evidências
arqueológicas modernas revelam um exemplo notável disso. Os
cananeus estavam profundamente envolvidos com a bestialidade na
relação sexual com animais. Até as crianças eram entregues
inteiramente a isso! Como se não bastasse, adoravam demônios e
praticavam sexo nos altares como parte dos seus ritos de adoração.
Como se isso ainda não fosse suficientemente terrível, essas pessoas
levavam seus bebês regularmente e os atiravam nos braços
incandescentes do seu deus de bronze, Moloque, em nome do
sacrifício religioso.
Tudo isso era mau o suficiente para garantir a exterminação de
todos por um Deus santo, mas eles ainda estavam inclinados a
arrastar Israel para a vala de dejetos. Judas referiu-se ao erro de
Balaão (Jd 11 - ARA). Demonstrando que era corrupto, o profeta
Balaio indicou aos moabitas que o meio para destruir Israel seria
enviar lindas mulheres a seu povo e seduzir os homens, levando-os à
idolatria.
O que não vemos do nosso ponto de vista finito, temporal, é
que o espírito de destruição estava continuamente em operação por
trás das cenas, tentando reprimir as tentativas de Deus de Se revelar
por meio de Israel. O diabo entendeu que, se pudesse corromper
aquela nação à idolatria (o que conseguiu fazer), impediria que os
corações famintos encontrassem o Senhor. Satanás usou aqueles que
eram totalmente inclinados a adorá-lo para corromper Israel. O
Criador, em Sua sabedoria e misericórdia, sabia que a única
esperança era esmagar esses ímpios pelas mãos dos próprios
israelitas. Por quê? Para que eles mesmos lutassem contra o mal que
estava tentando seduzi-los.
No contexto da nossa vida, temos de compreender que os
crentes não são salvos pelo tanto que são bons, mas pela confiança
em Deus. Pela graça somos salvos. Quando desobedecemos, há
conseqüências a pagar, mas os resultados para os cristãos são ajuda
e bênçãos. Agradeço a Deus pelas conseqüências do meu pecado, que
agiram como um açoite para me levar de volta ao caminho estreito.
Sem elas, eu estaria rolando na lama do "curral" espiritual deste
mundo.
Você não pode entender a ira de Jeová pelo olhar da
experiência humana. Nossa ira é para destruir aquele que nos
ofendeu; a do Senhor é, de uma forma ou de outra, para trazer vida.
Antes de acusar Deus de não ser confiável, lembre-se de que Ele Se
entregou em sacrifício na cruz para salvar a sua vida. Não podemos
sempre entender os tratamentos do Pai para conosco,
individualmente, ou com relação ao mundo. No entanto, somente o
fato de que Ele permitiu ser brutalmente assassinado por nossa
causa deveria ser suficiente para responder a todas as nossas
dúvidas.

O TEMOR DO SENHOR
Para trazer um equilíbrio adequado à nossa percepção de
Deus, devemos entender a que a Bíblia se refere quando fala da
nossa necessidade de temê-lO. Um resultado infeliz da nossa
perspectiva distorcida sobre o caráter do Altíssimo é uma atitude
irreverente com Ele. Ver o Pai simplesmente como uma versão
maior de mim mesmo faz com que eu O banalize. Eu temia meu pai,
mas não de um modo que resultasse em respeito pela sua autoridade
em minha vida. Tinha medo do seu gênio e da sua imprevisibilidade.
Aquela espécie de medo não produziu a reverência, mas teve o efeito
oposto: tornei-me ressentido e rebelde.
No fundo do coração humano, esconde-se a atitude arrogante
de sermos mais justos do que Deus. Temos falta de confiança nEle.
Criamos uma ilusão de quem Ele é, e ela trouxe rebelião para com a
Sua autoridade. Muitos de nós somos como o servo inútil que se
recusou a obedecer a Deus, dizendo: Mas, chegando também o que
recebera um talento disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um
homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não
espalhaste; e, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui
tens o que é teu (Mt 25.24,25).
Ele sabia ou achou que sabia. Não havia dúvida na mente desse
homem quanto à natureza do seu Senhor. Pensou que O tivesse
compreendido completamente, e, de alguma forma, aquilo que ele
acreditava sobre Deus o dispensava (em sua cabeça) da necessidade
de obedecer a Ele. O homem era duro, por isso, viu o Soberano como
alguém insensível. Um indivíduo com pouco interesse pelos outros
não consegue imaginar que existam aqueles que se importam com as
pessoas. Ele acreditou que o Altíssimo não tinha sensibilidade,
porque preferiu avaliar dessa forma. Entretanto, aquilo em que nós
acreditamos não passa, necessariamente, a ser real. Um dia,
estaremos em pé, diante de um Pai santo, e veremos a realidade.
Naquele momento, nossas opiniões sustentadas com firmeza serão
totalmente inúteis. Muitas pessoas ficarão ante Aquele que tentou
revelar-Se, mas elas não estavam dispostas a ouvir. Aquelas que "não
tiveram ouvidos para ouvir" ouvirão, então, o que o servo inútil
ouviu:

Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau


e negligente servo; sabes que ceifo onde não semeei e
ajunto onde não espalhei; devias, então, ter dado o
meu dinheiro aos banqueiros, e, quando eu viesse,
receberia o que é meu com os juros. Tirai-lhe, pois, o
talento e dai-o ao que tem os dez talentos. Porque a
qualquer que tiver será dado, e terá em abundância;
mas ao que não tiver, até o que tem ser-lhe-á tirado.
Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali,
haverá pranto e ranger de dentes.
Mateus 25.26-30
Existe um temor legítimo de Deus, que vem do conhecimento
correto. Por exemplo, considere o tagarela que começa a humilhar
um sujeito pequeno perto dele, em um bar, tentando provocar uma
briga. Alguém se inclina e sussurra para ele que o sujeito é o
campeão mundial de peso médio. De repente, o conhecimento
correto serve para colocá-lo no seu devido lugar, enquanto ele sai
sorrateiramente.
Posso respeitar o Senhor, não apenas porque Ele tem o poder
de me ferir, mas também porque, apesar do poder e do fato que O
provoquei sem finalidade, Ele tem sido bom para mim. Jesus disse
do Pai: Ele é benigno até para com os ingratos e maus (Lc 6.35c). À
medida que essa bondade torna-se mais real para mim, face à minha
rebelião e ingratidão, uma reverência profunda começa a se formar
em meu coração.
Temor é o senso de ser dominado. Um aspecto do temor de
Deus vem de sermos dominados pela Sua bondade, misericórdia e
Seu amor. Quanto mais profunda for a revelação do Criador, mais
profundo o senso de ser dominado pela Sua bondade. À luz dessa
compreensão, as palavras reverência e respeito são sinônimos exatos
de temor.
Outra coisa que gera temor do Altíssimo é a percepção de que
somente a Sua graça nos impede de cairmos no buraco do qual Ele
nos tirou. O Senhor deu a um ex-homossexual, que se integrou ao
nosso programa de residência, uma revelação profunda a respeito
disso. Ele havia reclamado, em seu tempo de oração, sobre sua falta
de temor ao Pai. Imediatamente, Ele lhe falou: "Você não tem temor
a mim? Então por que não volta para o pecado?". Quando o Senhor
disse essas palavras ao meu amigo, a realidade do seu estilo de vida
o atingiu. Em um instante, ele se lembrou vividamente do vazio, da
miséria e das coisas degradantes que fizera. Vieram à sua mente
como uma enchente, e tudo o que ele fez foi agradecer ao Pai por
salvá-lo daquele inferno. Para o meu amigo Winston, temer o
Senhor significa recear a perda da Sua graça, a qual nos mantém
longe do pecado. Significa temer uma separação dEle e ser deixado
sozinho.
O homem que conhece realmente o seu Criador tem medo
dessa separação. Ele pode lutar com os pensamentos tentadores
sobre coisas que fez no passado, mas a idéia de voltar àquele velho
esquema de vida transmite temor em seu coração. Esse homem sabe
muito bem como é a vida sem Deus. Apesar das tentações sedutoras,
a idéia de viver sem a presença do Pai é assustadora.
A vaga noção de morrer e ir para um lugar com muito fogo não
é suficiente para persuadir as pessoas a obedecerem ao Senhor. Pode
ajudá-las a fazer o seu compromisso inicial, mas, no final, precisa
haver uma convicção mais forte de mantê-las no caminho reto. Para
o homem que desfrutou do amor do Pai e viu o vazio do pecado, a
idéia da vida sem Deus é suficiente para guardá-lo.
Pessoalmente, muito de meu temor por Deus vem dos
tratamentos a que Ele me submeteu. O Senhor me tratou muito
severamente. Uma das experiências mais preciosas da minha vida foi
quando Ele me esmagou naquele apelo do altar ao qual me referi
anteriormente. Corri para o Pai naquele dia e, em um instante, fui
transformado em um bebê chorão. Depois daquela experiência, tive
por Ele um respeito recém-descoberto. Com efeito, eu O temia.
Aqueles que nunca foram quebrados pelo Criador geralmente têm
pouco respeito por Ele.
Um amigo meu disse: "Amo estar naquela situação de
quebrantamento com Deus. Mas o que preciso passar para chegar lá
me assusta! É melhor tentar permanecer humilde do que enfrentar o
que for necessário para ser humilhado". Passar pela disciplina do
Senhor não é divertido. O homem que passa pelo castigo do Todo-
Poderoso aprende a temer. O medo da vara tende a deixar as ovelhas
na linha.
A realidade do que nos espera no juízo também nos traz esta
atitude de temor. Paulo advertiu: A obra de cada um se manifestará
naquele dia (1 Co 3.13). Jesus disse: Porquanto tudo o que em trevas
dissestes à luz será ouvido; e o que falastes ao ouvido no gabinete
sobre os telhados será apregoado (Lc 12.3). Pense na realidade
dessas duas afirmações. Um dia, estaremos em pé diante do Senhor,
quando nossos atos e palavras serão julgados (este não é o juízo do
Grande Trono Branco para os perdidos). É como se tudo o que
fizemos — juntamente com sua motivação real — for mostrado no
céu para todos verem. Que aterrador pensar que todo o meu egoísmo
e orgulho serão expostos dessa forma! *
Também devemos temer o fato de sermos julgados pela
medida com que julgamos os outros. Percebo que mestres bem-
intencionados justificaram tanto as palavras de Jesus, que elas não
parecem mais conter qualquer ameaça. Essa diluição das palavras de
Cristo é parte da razão pela qual perdemos o temor do Onisciente.
Jesus falou essas palavras, e creio que elas significam exatamente o
*
Minha opinião sobre esses versículos é que aquelas atitudes e aqueles hábitos, dos quais nós nos
arrependemos, serão abolidos. Não haverá razão para trazê-los. Creio que esses versos se referem às
áreas da nossa vida que não quisemos consagrar a Deus. Precisamos ver por que perdemos as
recompensas onde elas poderiam ter sido ganhas.
que Ele declarou: Não julgueis, para que não sejais julgados,
porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a
medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós (Mt 7.1,2).
Farei apenas uma breve referência a essa passagem agora, pois
tratarei dela mais tarde detalhadamente. Acho que ajudaria
tomarmos um momento para refletir sobre o padrão de medida que
usamos para os outros. Alguns de nós julgamos todos os que cruzam
o nosso caminho. Em nossa perspectiva egocêntrica, fazemos tudo
certo, e todos serão julgados pelo modo com que nos tratam ou
satisfazem as nossas exigências. Em nossa mente, que exalta o ego,
tornamo-nos como um crítico de cinema, examinando a vida de
todos com os quais temos contato. Que terrível a idéia de que todos
os que pensam dessa forma serão julgados com a mesma falta de
misericórdia!
Os cristãos não precisam ter medo de Deus como uma criança
encolhida no canto tem medo do pai embriagado, ou como um
oficial insignificante teme o ditador assassino a quem ele serve. O
Pai é amoroso, consistente e absolutamente justo. Não precisamos
ter a preocupação de que Ele vá ficar bravo conosco.
Entretanto, é verdade que muitos de nós somos irreverentes
com esse Deus santo. Não apenas Ele merece o melhor, como
também haverá um acerto de contas para cada um de nós um dia.
Quando a verdade da nossa vida for mostrada na tela gigante no céu,
veremos um Pai amoroso que multiplicou as misericórdias sobre nós
aos milhares — senão aos milhões. Nenhum de nós será capaz de
acusá-lO de feitor duro. Em vez disso, aquela tela mostrará a nossa
falta de disposição em responder ao amor do Senhor e em distribuir
para aqueles que estão ao nosso redor a misericórdia que Ele nos
deu em profusão.
Irado e indiferente? Não, absolutamente. Ser temido? Com
tudo o que temos dentro de nós!
Meditação para Hoje

SENHOR, tu me sondaste e me conheces. Tu conheces o meu


assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento.
Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, ó SENHOR,
tudo conheces. Tu me cercaste em volta epuseste sobre mim a tua
mão. Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta, que não
aposso atingir. Para onde me irei do teu Espírito ou para onde
fugirei da tua face? Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a
minha cama, eis que tu ali estás também; se tomar as asas da alva, se
habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua
destra me susterá. Se disser: decerto que as trevas me encobrirão;
então, a noite será luz a roda de mim. Nem ainda as trevas me
escondem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a luz
são para ti a mesma coisa. Pois possuíste o meu interior;
entreteceste-me no ventre de minha mãe. Eu te louvarei, porque de
um modo terrível e tão maravilhoso fui formado; maravilhosas são
as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem. Os meus ossos não
te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido
como nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu corpo
ainda informe, e no teu livro todas estas coisas foram escritas, as
quais iam sendo dia a dia formadas, quando nem ainda uma delas
havia. E quão preciosos são para mim, ó Deus, os teus pensamentos!
Quão grande éa soma deles! Se os contasse, seriam em maior
número do que a areia; quando acordo, ainda estou contigo. Ó Deus!
Tu matarás, decerto, o ímpio! Apartai-vos, portanto, de mim,
homens de sangue. Pois falam malvadamente contra ti; e os teus
inimigos tomam o teu nome em vão. Não aborreço eu, ó SENHOR,
aqueles que te aborrecem, e não me aflijo por causa dos que se
levantam contra ti? Aborreço-os com ódio completo; tenho-os por
inimigos. Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e
conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho
mau e guia-me pelo caminho eterno.

Davi - Salmo 139


Nove
O Deus que opera

Em 1978, a agência de inteligência israelense Mossad


descobriu que a França havia concordado em fornecer ao Iraque
aproximadamente 68kg de urânio enriquecido para serem usados
em um reator nuclear comercial de 700 megawatts, o qual a França
ajudaria a construir. Aparentemente, seriam usados para fins
pacíficos, fornecendo primariamente energia para Bagdá. Os
israelenses suspeitaram que o ditador iraquiano Saddam Hussein
tivesse outras idéias.
A Operação Esfinge foi imediatamente lançada e ganhou
prioridade máxima no interior dos muros clandestinos da sede da
Mossad. Oito equipes de especialistas em inteligência foram
designadas para o caso. Após uma revisão inicial da informação
disponível, eles escolheram um cientista iraquiano chamado Halim
como seu alvo. Halim e sua mulher viviam em Paris enquanto ele
trabalhava no projeto de um laboratório francês.
A organização de espionagem de fama mundial rapidamente
começou a trabalhar. Primeiro, um grupo de agentes da operação foi
enviado a Paris. Sua tarefa foi agir como equipe de apoio para outros
agentes envolvidos no empreendimento. Chegando a Paris em vôos e
horários diferentes, foram trabalhar imediatamente, conseguindo
"casas seguras", diferentes habitações, que abrigavam os mais de 50
agentes que residiram em Paris durante a operação. Comida,
suprimentos, mobília e muitos outros detalhes foram fornecidos e
mantidos de modo que os principais agentes pudessem focalizar o
trabalho de perto. Escritórios especiais e uma cobertura também
foram alugados.
Uma vez garantido o alojamento, os supervisores de campo
entraram em cena. Sua missão era supervisionar todo o projeto,
gerenciar os vários agentes, coordenar os eventos, fazer planos e
tomar decisões a cada passo do caminho.
A seguir, apareceram as equipes de vigilância. Seu dever
principal era vigiar Halim e sua mulher para determinar aonde iam,
suas atividades diárias e suas associações, a fim de reunir tanta
informação quanto possível. Essa tarefa secreta exigiu uma execução
meticulosa; não havia espaço para erros. Diferentes equipes foram
designadas para segui-los o dia todo — um homem pintando uma
casa na rua, um casal que acabou de se mudar para uma casa
próxima, vários agentes em uma série de veículos seguindo as suas
viagens. Se o casal detectasse alguma atividade, toda a operação
teria fracassado.
Uma equipe de especialistas foi trazida para a vigilância
eletrônica. Sua tarefa era conseguir penetrar na casa de Halim e
colocar dispositivos nos diferentes quartos da casa e no telefone.
Uma vez realizado isso, as pessoas passaram a ouvir tudo o que
estava acontecendo na casa durante as 24 horas do dia. Esses
ouvintes tinham de ser israelenses familiarizados com o dialeto
iraquiano da língua árabe. Diariamente, cada equipe de vigilância
relatava seus achados aos supervisores de campo.
Finalmente, quando tudo estava no lugar, o grupo de contato
primário chegou para começar a sua fase da operação. Tais pessoas
tinham contato direto com Halim e sua mulher. Era um conjunto de
homens e mulheres de várias nacionalidades, exercendo funções
diferentes no esquema elaborado, com um único propósito em
mente: conseguir que Halim desse, voluntariamente, aos israelenses
a informação sobre o complexo nuclear que estava sendo construído
no coração do Iraque.
Uma vez posicionados, os supervisores fizeram uma reunião
com os líderes de cada equipe. Os agentes de vigilância visual
relataram que a única coisa que Halim fazia regularmente era tomar
um ônibus na rua da sua casa diariamente. A equipe de vigilância
eletrônica ouviu duas informações vitais que levaram à reunião.
Depois de ouvirem horas incontáveis de conversa banal, uma
discussão acalorada lhes forneceu dados importantes para a
operação. Aconteceu depois que uma linda espiã israelense, agindo
como estudante francesa, apareceu na porta da frente. "Vi como você
olhou para aquela garota", disse Samira ao marido. "Nada de ter
idéias só porque estou indo embora. Sei quem você é". Por aquela
única afirmação, tiveram a certeza de que a mulher dele estava indo
embora, e ele, aparentemente, tinha uma história de adultério.
Depois de compilar todos os dados disponíveis, o plano foi
desenvolvido. Um ex-agente conta o que aconteceu a seguir:

Butrus Eben Halim podia ser perdoado de ter


notado a mulher. Além do mais, ela era uma loira
sensual, dada a usar calças apertadas e blusas
decotadas, revelando o suficiente de si para despertar
o desejo de um homem por algo mais.
Ela havia aparecido em seu ponto de ônibus em
Villejuif, nos arredores ao sul de Paris, todos os dias
durante a semana anterior. Com apenas dois ônibus
usando aquele ponto — um local e outro RATP para
Paris — e, geralmente, poucos outros passageiros em
volta, era impossível não notá-la. Embora Halim não a
conhecesse, essa era a questão.
Era agosto de 1978. A rotina dela, como a dele
parecia constante. Ela estava ali quando Halim
chegava para pegar o seu ônibus. Momentos mais
tarde, um homem de pele clara, olhos azuis, bem-
trajado, surgia com uma Ferrari BB512 vermelha de
dois lugares, abria a porta para a loira, depois
acelerava para um lugar que só o céu sabia onde [...]
Um dia, o segundo ônibus chegou antes da Ferrari.
A mulher, primeiro, olhou para a rua procurando o
carro, depois deu de ombros e tomou o ônibus. O
ônibus de Halim tinha atrasado temporariamente por
um "acidente" sem gravidade, a duas quadras dali,
quando um Peugeot arrancou na sua frente.
Momentos depois, chegou a Ferrari. O motorista
procurou a garota, e Halim, percebendo o que tinha
acontecido, gritou para ele em francês que ela já havia
tomado o ônibus. O homem, parecendo perplexo,
respondeu em inglês, e, nesse ponto, Halim repetiu a
história para ele em inglês.
Agradecido, o homem perguntou a Halim para onde
ele ia. Halim disse que ia até a estação Madeleine, a
pouca distância de Saint-Lazare, e o motorista, Ran. S.
— que Halim conheceu apenas como o inglês Jack
Donovan — disse que também estava indo para lá e
ofereceu-lhe uma carona.
"Por que não?", Halim pensou, entrando no carro e
preparando-se para o trajeto.
O peixe tinha mordido a isca. Com sorte, provou ser
uma captura de grande valor para a Mossad.1
Nas várias semanas seguintes, Donovan desenvolveu amizade
com Halim. Um dia, ele convenceu Halim a ir com ele em uma
viagem de negócios em outra cidade francesa. Supostamente
envolvia um empreendimento no qual compraria recipientes de
carga de um empresário e, depois, iria vendê-los para que algum
país africano usasse como moradias. Enquanto Donovan e o
"empresário" conversavam sobre o preço, o guindaste levantou um
dos recipientes. Halim notou, como estava planejado, que o fundo
do recipiente estava enferrujado. Ele, rapidamente, chamou
Donovan de lado e lhe contou a respeito. Este, usando a informação
que o ajudou, foi capaz de negociar um preço melhor com o
"empresário". Donovan deu a Halim mil dólares por sua ajuda. A
segunda isca estava agora no lugar.
Pouco a pouco, depois de várias semanas, usando prostitutas e
dinheiro como iscas, Halim estava cada vez mais envolvido.
Finalmente, os agentes estavam prontos a seguir para a matança.
Dois dias mais tarde, Donovan voltou e chamou Halim. No
café, Halim pôde ver claramente que seu amigo estava aborrecido
com alguma coisa.

"Tenho a chance de um super negócio de uma


companhia alemã, de alguns tubos de ar especiais para
enviar material radioativo com fins médicos", disse
Donovan. "É muito técnico. Há muito dinheiro
envolvido, mas não sei o principal. Eles me colocaram
com um cientista inglês que concordou em inspecionar
os tubos. O problema é que ele quer muito dinheiro e
eu não tenho certeza se confio nele, de qualquer
maneira. Acho que ele está preso aos alemães".
"Talvez, eu possa ajudar", disse Halim.
"Obrigado, mas preciso de um cientista para
examinar esses tubos".
"Eu sou um cientista", disse Halim.
Donovan, parecendo surpreso, disse: "O que você
quer dizer? Pensei que fosse um estudante".
"Eu tinha de lhe dizer isso desde o princípio. Mas
sou um cientista enviado aqui pelo Iraque em um
projeto especial. Tenho certeza de que posso ajudar...".
"Ouça, preciso encontrar esse lote em Amsterdã
neste final de semana. Tenho de ir um ou dois dias
antes, mas, que tal se eu mandar para você o meu jato
sábado de manhã?"
Halim concordou.
"Você não vai arrepender-se disso", afirmou
Donovan. "Há um pacote de dinheiro em jogo se essas
coisas forem legítimas".
O jato, pintado temporariamente com o logotipo da
companhia de Donovan, era um Learjet que voou de
Israel para a ocasião. O escritório de Amsterdã
pertencia a um rico empreiteiro judeu [...]
Quando Halim chegou ao escritório de Amsterdã na
limusine que o encontrou no aeroporto, os outros já
estavam lá. Os dois empresários eram Itsik E., um
agente secreto da Mossad, e Benjamin Goldstein, um
cientista nuclear israelense com passaporte alemão.
Ele havia trazido um dos tubos pneumáticos como
modelo para Halim examinar.
Após algumas conversas iniciais, Ran e Itsik
deixaram a sala, supostamente para discutirem
detalhes financeiros, deixando os dois cientistas juntos
para discutirem assuntos técnicos. Com seu interesse
comum e sua capacitação, os dois homens sentiram
uma camaradagem instantânea, e Goldstein perguntou
a Halim como ele conhecia tanto sobre a indústria
nuclear. Foi um tiro no escuro, mas Halim, com as
defesas completamente baixas, contou-lhe sobre seu
trabalho.
Mais tarde, quando Goldstein contou a Itsik sobre a
confissão de Halim, eles decidiram levar para jantar o
iraquiano, que de nada suspeitava. Ran teve de dar
uma desculpa por não poder ir.
No jantar, os dois homens descreveram um plano no
qual disseram estar trabalhando: tentar vender usinas
de energia nuclear para países do Terceiro Mundo,
para fins pacíficos, naturalmente.
"Seu projeto de usina seria um modelo perfeito para
vendermos a essa gente", disse Itsik. "Se você pudesse
fornecer-nos alguns detalhes, os planos, que tipo de
coisa é, todos ganharíamos uma fortuna com isso...".
"Não é... Bem, vocês sabem... Um pouco perigoso?"
"Não. Não há perigo", disse Itsik. "Você deve ter
acesso regular a essas coisas. Só queremos usar como
um modelo, é tudo. Nós iríamos pagar-lhe bem e
ninguém jamais saberia. Como eles conseguiriam? Isso
é feito o tempo todo".
"Acho que sim", disse Halim, ainda hesitante, mas
intrigado com a perspectiva de muito dinheiro [...]
Agora o tinham mesmo. A promessa de riquezas
incontáveis foi demais. De qualquer maneira, ele se
sentiu bem com relação a Goldstein e não era como se
ele os estivesse ajudando a projetar uma bomba. Nem
havia necessidade de Donovan saber. Então, por que
não?
Halim tinha sido oficialmente recrutado. E, como
muitos recrutas, ele nem estava ciente disso.2
Em 1981, graças à informação dada a eles por Halim, a força
aérea israelense foi capaz de lançar com precisão as suas bombas no
reator, localizado em uma usina de energia iraquiana, destruindo a
capacidade de Saddam Hussein de produzir armas nucleares. Todos
os seus esforços foram ricamente recompensados.
A história da operação da Mossad pode parecer um pouco fora
do contexto de um livro sobre vitória espiritual. Mas o esforço
imenso posto em operação por dúzias de especialistas, todos
focalizados na vida de um único homem com o propósito de
manipular os eventos de sua vida a fim de fazer com que ele tomasse
a decisão que eles queriam, ilustra o enorme envolvimento de Deus
na vida dos Seus filhos.
Anteriormente, você leu que uma das razões pelas quais as
pessoas têm dificuldade em acreditar na bondade de Deus é o fato de
que elas, freqüentemente, não reconhecem essa bondade na própria
vida. Tendem a atribuir as coisas ao destino, ou ao que Hannah
Whitall Smith chama de "causas secundárias", querendo dizer outras
pessoas. Mas ela, como todo outro cristão que entrou em alguma
profundidade no conhecimento do Senhor, vê Sua mão soberana em
tudo o que vem à vida.

As causas secundárias devem estar sob o controle do


nosso Pai. Nenhuma delas pode tocar-nos, exceto com
o Seu conhecimento e pela Sua permissão. Nenhum
homem nem companhia de homens, nenhum poder na
terra ou no céu, podem tocar aquela alma que está em
Cristo, sem passar, primeiro, pela Sua presença
circundante e receber o selo da Sua permissão.3
Lembro-me de uma conversa que tive com meu falecido amigo,
Nelson Hinman, logo no início do meu ministério. Nels estava com
aproximadamente 80 anos. Ele e sua mulher, Juanita, foram uma
ajuda tremenda para Kathy e eu quando começamos nos Ministérios
Pure Life. Eu estava lutando com muitas coisas naquela ocasião.
Quanto poder o diabo tem? Que parte a batalha espiritual exerce em
nossos ministérios? Como fazer dos Ministérios Pure Life um
sucesso? Como conseguir mais ajuda de Deus? O que fazer com
aqueles que se opõem e me bloqueiam?
Eu não sabia naquela época, mas estava lutando com uma
questão muito antiga sobre o envolvimento de Deus na vida do
cristão. Nels ouviu em silêncio naquele dia, sem se apressar para dar
conselho. Finalmente, quando me sentei diante dele como um
estudante esperando a sabedoria do professor, ele falou. "Steve",
disse, endireitando-se em sua poltrona, "tudo o que posso dizer é
que, quanto mais sirvo a Deus, mais percebo a Sua soberania na
minha vida". Eu sabia que aquilo era tudo o que ele diria sobre o
assunto, e o gravei no coração.
Daquele dia em diante, comecei a perceber o quanto Deus
opera em minha vida. Quanto mais vejo o cuidado do meu Pai,
menor o diabo se parece. Comecei a ver muitos empecilhos em meu
ministério assim como a disciplina e o cuidado amoroso do Senhor
pela minha vida. Pessoas problemáticas foram enviadas para me
ajudar a lidar com as falhas da minha natureza. Por meio dessa
revelação que se aclarava, veio-me um descanso bastante necessário
para a minha alma: "Se o Senhor me ama e está no controle das
circunstâncias do meu viver, simplesmente, não preciso ter medo ou
preocupação".
Essa foi a observação que Jesus fez naquela famosa porção do
Sermão do Monte. Entendo que muitos de vocês sabem disso. Não
obstante, convido-os a separar alguns minutos para ler essa parte da
Bíblia e permitir que tais palavras penetrem em seu coração:

Por isso, vos digo: não andeis cuidadosos quanto a


vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que
haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que
haveis de vestir. Não é a vida mais do que o
mantimento, e o corpo, mais do que a vestimenta?
Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem
segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial
as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que
elas? E qual de vós poderá, com todos os seus
cuidados, acrescentar um côvado a sua estatura? E,
quanto ao vestuário, porque andais solícitos? Olhai
para os lírios do campo, como eles crescem; não
trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo
Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como
qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do
campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno,
não vos vestirá muito mais a vós, homens de pequena
fé? Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que
comeremos ou que beberemos ou com que nos
vestiremos? (Porque todas essas coisas os gentios
procuram.) Decerto, vosso Pai celestial bem sabe que
necessitais de todas essas coisas; mas buscai primeiro
o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas
vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois,
pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará
de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.
Mateus 6.25-34

Jesus estava em perfeita paz, porque conhecia a realidade da


vida: Seu Pai celestial, que mantém o Universo inteiro, é confiável
para guardar a nossa vida e alma. Não precisamos ficar estressados
para que as coisas aconteçam ou para nos proteger. Nosso Pai sabe
exatamente do que precisamos.

O ENORME INVESTIMENTO DE DEUS NA VIDA DE UM CRISTÃO


O fato em questão é que o Criador tem-Se envolvido
profundamente em sua vida desde o seu nascimento. Você tem sido
o foco de uma imensa operação celestial durante muitos anos. Quem
pode saber o número de anjos designados várias vezes para o
protegerem? Quem pode descobrir quantas pessoas o Senhor usou
de muitas maneiras para influenciar e moldar a sua vida, e levar você
a perceber sua grande necessidade por Ele? Quantas circunstâncias
diferentes em sua existência — perdas, fracassos, problemas, pessoas
difíceis — Deus usou para levá-lo àquela decisão de enorme
importância? Paulo disse com razão: Fostes comprados por bom
preço (1 Co 7.23a). Naturalmente, o maior preço pago foi no
Calvário, mas quanto mais foi feito pela nossa salvação?
Inquestionavelmente, Deus Se inclui profundamente na vida
de toda pessoa que vai a Ele. Entretanto, ir para Deus é apenas o
princípio. Nesse ponto, começa a obra verdadeira. Paulo disse: E
sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem
daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu
decreto. Porque os que dantes conheceu, também os predestinou
para serem conformes ã imagem de seu Filho, a fim de que ele seja
o primogênito entre muitos irmãos (Rm 8.28,29).
Uma vez que o Senhor tenha ajudado um homem a ir,
arrependido, até Ele, tem início a fase seguinte da operação.
Utilizando várias circunstâncias que tendem a persuadir o crente na
direção correta (ensino e conselho a respeito dos assuntos de Deus, a
vida de cristãos maduros, a convicção do pecado, a paixão pela
santidade que Ele planta no coração e um elenco de outros
elementos perfeitamente talhados para a situação daquela pessoa), o
Senhor está tentando realizar constantemente uma obra na vida do
crente. Esse esforço incansável objetiva fazê-lo mais parecido com
Jesus. Se quiser, será uma gigantesca operação da Mossad
acontecendo o tempo todo na rotina diária de um cristão. Assim
como Halim, a maioria das pessoas ignora completamente toda essa
atividade.

O TREMENDO CUIDADO E INTERESSE DE DEUS


Uma das características mais cativantes de minha mulher é a
sua insistência em se envolver comigo constantemente. Por exemplo,
quando acordo no meio da noite (sou um insone crônico), seus olhos
imediatamente se abrem para ver o que estou fazendo. Geralmente,
ela tem um sono tão bom, que pode dormir a noite toda. Contudo, de
alguma forma, ela sempre sabe quando acordo. Ela diz que pode
ouvir minhas pálpebras se mexerem! Se eu sair da cama para ler ou
fazer algo para evitar incomodá-la, ela insistirá em ficar lá, mesmo
que ligar a luz signifique para ela perder o sono. Minha mulher
deseja estar envolvida com tudo o que acontece comigo. Não se trata
de bisbilhotice ou insegurança com relação à minha fidelidade.
Simplesmente, ela me ama e se envolve em todas as fases da minha
vida. Para Kathy, o amor equivale ao interesse que não morre.
Assim é com Deus. Ele faz um investimento tremendo na vida
de cada filho Seu e está muito interessado em todos os aspectos. Ele
ama os filhos e a alegria do Seu coração é Se envolver nos detalhes
das suas vidas. O salmista, certamente, entendeu isso: Eis que os
olhos do SENHOR estão sobre os que o temem, sobre os que
esperam na sua misericórdia (Sl 33.18). Davi declarou: E quão
preciosos são para mim, ó Deus, os teus pensamentos! Quão
grande é a soma deles! Se os contasse, seriam em maior número do
que a areia (Sl 139.17,18).
Deus está envolvido de modo íntimo na vida do Seu povo e está
operando constantemente em todos os aspectos da vida de cada um.
No entanto, tudo o que Ele faz tem um propósito. Assim como a
operação da Mossad, maciça e bem-articulada, o Senhor está
trabalhando silenciosamente por trás das cenas do nosso dia-a-dia,
com um objetivo em mente, o qual Lhe e de extrema importância.
A GRANDE OBRA DE DEUS
As maiores obras do Criador não são as majestosas montanhas
do Himalaia, as belezas tropicais do Havaí nem as cores brilhantes
encontradas no fundo do mar. Não são as pragas do Egito, a divisão
do mar Vermelho, tampouco a morte de Golias por Davi.
Seguramente, Suas maiores obras não são alguém se agitando no
chão depois de receber oração. Comparativamente, esses são feitos
simples para o Único que chamou o Universo à existência.
Sua obra fantástica na terra é demonstrada quando Ele
transforma uma pessoa egocêntrica, cheia de orgulho, a qual possui
pouco interesse pelos outros, em alguém tão cheio de Jesus e do Seu
amor, que coloca continuamente em sua vida diária a vontade de
Deus e as necessidades dos outros adiante dos próprios desejos.
Nada é maior do que quando o Pai transforma um perdedor em
vencedor!
Davi disse: Pois possuíste o meu interior [...] maravilhosas
são as tuas obras (Sl 139.13,14). Interior vem da palavra hebraica
kilyah, referindo-se ao mundo interior de uma pessoa, ou ao eu
interno. O Senhor está constantemente operando na vida daqueles
que O amam.
O apóstolo Paulo afirmou: Portanto, se alguém está em Cristo,
é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram
coisas novas (2 Co 5.17 - NVI). Ele também disse: Porque somos
feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais
Deus preparou para que andássemos nelas (Ef 2.10). Zacarias
registrou que Deus forma o espírito do homem dentro dele (Zc 12.1).
O salmista observou: Ele é que forma o coração de todos eles, que
contempla todas as suas obras (Sl 33.15a). Esses versículos
descrevem o Deus que trabalha formando algo lindo dentro de uma
pessoa.
Em Jeremias 18, encontramos a ilustração do profeta sobre
essa verdade com o conceito do oleiro e o barro. W. F. Adeney, um
dos expositores de The pulpit commentary [O comentário do
púlpito], traz a riqueza da obra soberana do Todo-Poderoso na vida
do Seu povo.
Mas, considerada com maior detalhe, embora ensine lições de
humildade e submissão reverente da nossa parte, ela também lança
luz sobre a bondade misericordiosa de Deus e nos encoraja tanto a
esperar quanto a agir, pois isso irá levar-nos às nossas maiores
bênçãos.
1. Os homens estão sob o poder absoluto do
Altíssimo, como barro nas mãos do oleiro [...]. O
Senhor também tem autoridade absoluta sobre nós.
Ele tem o direito final da soberania suprema para fazer
conforme desejar com os Seus servos. Contudo, não há
nada de alarmante nesse fato, mas, sim, um consolo
infinito. Pois o Criador não é um déspota sem coração,
sem consciência, exibindo um poder arbitrário por
mero capricho; Ele é santo e exercita a Sua soberania
de acordo com princípios de estrita justiça, verdade e
direito. O Soberano é bondoso e governa, com
propósitos de amor, para o bem das suas criaturas [...]

2. Os homens não podem atingir um final digno na


vida sem o Pai celeste, assim como o barro sem o
oleiro não se torna um vaso com contornos. Lá está o
barro — uma massa morta, pesada, amorfa, sem
possibilidade de gerar espontaneamente formas com
beleza, desprovida do princípio secreto da evolução da
obra em algo ordenado. Somos como barro. Se Deus
não trabalhasse em nós e sobre nós, ficaríamos
simplesmente indefesos, apenas nos desgastando com
o fluxo das circunstâncias...

3. O Altíssimo tem um propósito em cada vida,


assim como o oleiro tem com o barro. Existe um
significado para a estranha disciplina da providência.
O Todo-Poderoso está moldando-nos àquela forma
que considera mais adequada. Cada vida tem um
propósito diferente. O oleiro faz vasos de muitas
maneiras. Contudo, cada vida tem sucesso quando o
próprio propósito particular é cumprido. O jarro
caseiro pode ser perfeito, embora seja muito diferente
do vaso gracioso [...].

4. O Senhor molda a nossa vida pela disciplina da


providência, assim como o oleiro molda o barro em
suas rodas. A roda do tempo gira rapidamente, mas
não nos leva embora; muda, mas não destrói a
individualidade. Na providência, há rodas dentro de
rodas. Nós não compreendemos seu significado. O
barro é amassado embaixo para ter uma base sólida,
depois em cima para ter um bordo delicado, mas é
difícil ver qual será o resultado final a menos que tudo
esteja terminado. Assim, nossa vida é amassada de um
lado e de outro. Algo que, aos nossos olhos, é
indispensável é levado embora; algo que, para nós,
pareça inútil é acrescentado. O Soberano está
continuamente operando o Seu propósito apesar dessa
rotação vertiginosa, da pressa e da confusão da vida.

5. Deus realizará, no final, o Seu propósito em nós,


embora pareça falhar a princípio. O barro é resistente,
por isso deve ser quebrado e remodelado. O homem é
mais do que barro. Tem livre-arbítrio, por mais
misteriosa que possa ser a conexão desse fato com a
soberania onipotente do Criador. De uma maneira
bem mais terrível, o ser humano é insubmisso,
obstinado e teimoso; por isso, deve ser "despedaçado".
Sua vida precisa ser perturbada e agitada, mas
somente para que o Pai possa começar novamente a
moldá-lo para o seu fim desejado. Grandes decepções,
eventos destrutivos, o fracasso da obra de um homem,
a divisão de uma igreja e a revolução de um povo
podem parecer fatos simplesmente desastrosos. No
entanto, vemos como, por meio dessas coisas, Deus,
em Sua infinita paciência, perseverança e graça,
finalmente, efetuará o próprio propósito grandioso e,
assim, garantirá a verdadeira felicidade das Suas
criaturas.4
O ATO EQUILIBRADOR DE DEUS
De forma diferente da Mossad, o envolvimento do Senhor em
nossa vida de modo algum é para ferir-nos, usar-nos ou abusar de
nós. Quando você se importa com alguém, toma cuidado ao tratar
com ele. O cristão não é uma pessoa a ser manipulada a fazer o que o
Criador deseja e, depois, jogada fora como a Mossad fez com Halim.
Os esforços do Senhor são motivados pelo Seu imenso amor por
todas as pessoas.
Para operar adequadamente na vida de um homem, o Senhor
toma um cuidado que abrange tudo o que Ele faz. Muito sarcasmo
pode esmagar o espírito de um homem. Da mesma forma, a
condescendência excessiva permite que ele vagueie por perigos
inexprimíveis. O Senhor não somente Se interessa pela vida de um
homem, mas também considera como Suas obras afetarão aqueles
que Ele está usando ou os que interagem com o sujeito do Seu
grande cuidado.
Há alguns anos, fui escalado para pregar em uma certa igreja
em dois cultos de domingo. Inadvertidamente, o pastor fez uma
agenda dupla para aquela ocasião. Esquecendo-se de que me havia
convidado a ministrar, ele também pediu ao presidente de uma
denominação para falar no mesmo dia. Ele resolveu o problema
fazendo com que eu ministrasse no culto da manhã, e o outro, à
noite. Aquilo significava que esse ministro mais velho, que tinha
uma posição proeminente em sua denominação, estaria presente
quando eu pregasse naquela manhã.
Aconteceu que o Senhor realmente Se moveu. Pude sentir Sua
presença enquanto pregava, e um fogo nas minhas palavras daquele
dia penetrou em cada coração. Durante o apelo do altar, o ministro
visitante, sentado na primeira fila, praticamente saltou do banco
para frente, clamando a Deus em arrependimento sincero. Mais
tarde, ele veio até mim e, em particular, contou-me que as minhas
palavras realmente o haviam afetado.
Sentindo-me leve, deixei a cidade no dia seguinte. Foi uma
verdadeira honra ser usado na vida daquele homem daquela
maneira. Mas, por baixo de tudo, havia também uma mancha de
orgulho crescente em meu coração. Não era nada imenso, mas
estava lá.
Na semana seguinte, eu tinha de falar em uma igreja grande,
em outro estado. Kathy e eu chegamos naquela manhã de domingo a
tempo para a oração com a equipe. Ouvindo uma mulher piedosa
orar fervorosamente pela reunião, e embalado pelo que havia
sucedido na semana anterior, senti como se Deus fosse mover-Se de
uma maneira poderosa naquela manhã. Disse ao pastor: "Tenho
uma palavra forte para a igreja hoje. Acho que Deus vai realizar
algo".
Mais tarde, quando ele me apresentou à congregação, disse
que eu havia afirmado que tinha uma palavra poderosa para eles
naquele momento. Embora tivesse sentido um orgulho secreto na
semana anterior, eu sabia que era melhor não ter declarado uma
coisa daquelas! Eu deveria ter visto a escrita na parede. Deus estava-
me preparando.
Quando comecei a mensagem naquela manhã, o microfone
sem fio começou a falhar. Ao chegar a um ponto importante da
mensagem, o rapaz do som teve de subir até o púlpito para acertar o
microfone durante alguns minutos, enquanto eu simplesmente
ficava ali, em pé. Recomecei. Mas, depois de tudo, por dentro, senti-
me medíocre. Não pude sentir, absolutamente, a presença do
Senhor. Minhas palavras pareciam fracas. Evidentemente, quando
fiz o apelo, apenas um punhado de pessoas veio à frente. Que
decepção colossal!
Alguém me disse mais tarde: "Ó, foi o diabo, irmão. Ele estava
tentando impedir o que Deus queria fazer". Eu sabia melhor do que
ele. Descobri, mais tarde, que existiam algumas razões para a falta
de resposta, mas o Pai estava também utilizando a experiência para
moldar o meu caráter.
Sem dúvida, Ele gostaria de me usar mais freqüentemente
como fez na primeira igreja. Mas, logo que o Soberano começa a Se
mover poderosamente, começo a inchar com o orgulho secreto,
sentindo como se Ele pudesse utilizar-me daquele jeito por ser tão
santo. Então, o Todo-Poderoso tem de me humilhar. Entretanto, o
Misericordioso não pode humilhar-me demasiadamente, porque sou
tão sensível, que não agüento muita disciplina de uma vez só sem
afundar! Ele precisa temperar a Sua disciplina para que eu não seja
devastado por ela.
Porque Deus tem uma abordagem abrangente para suprir a
necessidade dos outros, Ele fez de mim um instrumento a fim de
afetar o pastor e sua congregação. Na semana seguinte, sabendo que
precisava humilhar-me, o Senhor o fez de maneira a evitar que os
outros daquela congregação fossem afetados de forma prejudicial.
O Altíssimo está constantemente envolvido em nossa vida. Em
Seu envolvimento, Ele tem de equilibrar continuamente tudo o que
realiza.
Parte da vida de vitória surge quando o cristão pode descansar
na certeza de que Deus o ama verdadeiramente, está procurando
ajudá-lo, extremamente envolvido com a sua vida. Ele pode fazer
essa entrega com profundidade, porque o Senhor tem demonstrado
com sucesso a Sua confiabilidade.
O próximo passo para a vitória real vem quando o crente
começa a se apropriar da misericórdia divina que é sua. Isso nos leva
para onde começamos: ver que necessitamos da Sua ajuda.
PARTE TRÊS

TRANSFORMANDO A MISERICÓRDIA DE DEUS EM


SUA VITÓRIA

Meditação para Hoje

Uma das maiores revelações é a de que Jesus não


aparece para um homem porque ele merece, mas pela
generosidade do Seu próprio coração em relação à
questão da necessidade do homem. Deixe-me
reconhecer que preciso dEle, e Ele aparecerá [...].
Quanto mais completo for o nosso senso de
necessidade, mais satisfatória será a nossa
dependência de Deus [...]. O Senhor ama o homem que
precisa dEle.1
Oswald Chambers

Fui levado várias vezes a me ajoelhar devido à


convicção avassaladora de que não tinha para onde ir. 2
Abraham Lincoln

A oração não é vencer a relutância de Deus; é tomar


posse de sua mais elevada boa vontade.3
Richard Chenevix Trench

Porque não temos um sumo sacerdote que não


possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém
um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem
pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da
graça, para que possamos alcançar misericórdia e
achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo
oportuno.
Hebreus 4.15,16
Dez
O clamor dos necessitados

Uma palavra descreve o homem: necessidade. Nós, seres


humanos, necessitamos de oxigênio para respirar, mas não pode ser
oxigênio puro; deve conter também a mistura apropriada de
nitrogênio. Criaturas humanas precisam de água. Não conseguimos
passar mais do que poucos dias sem ela. Precisamos de alimento,
mas ele deve conter muitos ingredientes que o nosso corpo requer
para funcionar. Necessitamos de sangue fluindo pelas veias e
podemos morrer se a quantidade tornar-se muito pequena. A
temperatura dos seres humanos deve ser mantida, para que não
morramos por alguma doença relacionada ao frio. Não suportamos o
superaquecimento, pois, assim, morremos de exaustão pelo calor.
Finalmente, precisamos de luz para ver, para que não achemos
impossível suprir aquilo de que precisamos.
A fim de proporcionar a provisão de todas as nossas
necessidades, Deus criou um mundo com a distância exatamente
certa em relação ao Sol, a combinação correta de gases na atmosfera,
vida animal e vegetal para fornecer alimento e nutrientes, e os
materiais para fazer roupas e abrigos.
Sem dúvida, o salmista estava certo quando afirmou: A terra
está cheia da bondade do SENHOR (Sl 33.5b). Sim, a terra recebeu
suprimento para tudo aquilo de que carecemos, mas isso não está
limitado à dimensão da natureza. Temos uma necessidade ainda
maior do que a de sustentar a vida física: a de suprir a vida
espiritual.
Nas profundezas infinitas da Sua sabedoria, Deus criou um
mundo tridimensional para que as pessoas possam ver, ouvir e tocar.
Neste mundo, Ele proveu tudo para suprir as nossas necessidades
físicas básicas. Há uma única coisa sobre este mundo, todavia, que
muitos não percebem: ela reside fora da dimensão na qual Deus
existe.
Do jeito que as coisas são, uma pessoa pode levar a vida toda
na terra sem mostrar qualquer preocupação ou interesse por essa
dimensão invisível. Se suas necessidades físicas são supridas, talvez,
ela jamais seja compelida a procurar algo fora do domínio
confortável da sua vida diária. Se uma calamidade ou uma grande
adversidade surge em seu caminho, freqüentemente, ela busca
rapidamente um grande Poder que a ajude.
Este é o grande momento de Deus. Às vezes, Ele trabalha com
um indivíduo durante 20, 30 ou até 60 anos, a fim de prepará-lo
para o momento em que ele esteja pronto a repensar o próximo
passo na vida e explorar a possibilidade de que, talvez, tenha perdido
algo no caminho.
De certa forma, o Pai criou o homem para ser auto-suficiente
neste mundo. Por outro lado, o Criador o fez para precisar de algo
que somente Ele pode suprir. O Senhor coloca, com freqüência, uma
pessoa em alguma situação para que ela veja sua necessidade e
clame a Ele por ajuda. Os efeitos da cegueira, do orgulho e da
rebelião impedem a pessoa de fazer isso.
Para alguns, o Altíssimo deve operar muito cuidadosamente ao
redor dos seus egos frágeis (e, muitas vezes, monstruosos) para levá-
los ao ponto de olharem para fora de si em busca dEle. É um tributo
à natureza longânime do Senhor que Ele esteja disposto a passar tais
dores para salvar a alma de um homem.*
Mas Deus está disposto porque é para isso que Ele vive. O
Altíssimo trabalha incansavelmente durante anos e anos para levar
as pessoas a enxergarem as próprias carências. Quando acontece,
uma celebração tremenda ocorre nos domínios celestiais. Jesus
assegurou: Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um
pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos
que não necessitam de arrependimento (Lc 15.7). Imagine isso:
alegria no céu! Por causa de quê? Alguém vê a sua pobre condição e,
arrependido, clama a Deus.

ATRAÍDO PELA NECESSIDADE


Se há uma coisa clara na Bíblia, é a propensão e a afinidade de
Deus pelos aflitos, pobres, oprimidos e necessitados do mundo. Ana
exultou: Levanta o pobre do pó e, desde o estéreo, exalta o
necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer
herdar o trono de glória; porque do SENHOR são os alicerces da
terra, e assentou sobre eles o mundo (1 Sm 2.8).
Davi disse: Porque o SENHOR ouve os necessitados e não
despreza os seus cativos (Sl 69.33).

*
Que vergonha não valorizarmos tudo o que Deus fez para nos colocar nesse ponto! Como é vergonhoso
o fato de lutarmos contra Ele e resistirmos quando o Pai tenta manter-nos cientes da nossa necessidade!
Seu filho, Salomão, escreveu: Porque ele livrará ao necessitado
quando clamar, como também ao aflito e ao que não tem quem o
ajude. Compadecer-se-á do pobre e do aflito e salvará a alma dos
necessitados. Libertará a sua alma do engano e da violência, e
precioso será o seu sangue aos olhos dele (Sl 72.12-14).
O salmista declarou: Mas ele levanta da opressão o
necessitado, para um alto retiro, e multiplica as famílias como
rebanhos (Sl 107.41).
Isaías disse ao Senhor: Porque foste a fortaleza do pobre e a
fortaleza do necessitado na sua angústia; refúgio contra a
tempestade e sombra contra o calor; porque o sopro dos opressores
é como a tempestade contra o muro (Is 25.4).
Finalmente, o próprio Senhor revelou Seu coração para com
aqueles em necessidade: Por causa da opressão dos pobres e do
gemido dos necessitados, me levantarei agora, diz o SENHOR; porei
em salvo aquele para quem eles assopram (Sl 12.5).
O Altíssimo é atraído irresistivelmente para os necessitados e,
quando clamamos pela Sua ajuda, colocamo-nos na posição
invejável de receber de Deus. Ele tem uma compulsão, impossível de
ser detida, de ajudar aqueles que pedem. Embora o Senhor favoreça
os pobres e deseja ajudá-los quando pode, as pessoas devem clamar
por ajuda antes que Ele responda.*
Pode não ser nada mais do que uma espiada em silêncio no
fundo do coração de alguém, mas é ouvido claramente na sala do
trono de Deus.
Instruindo Seus discípulos a orar, Jesus usou estas duas
histórias:

E contou-lhes também uma parábola sobre o dever


de orar sempre e nunca desfalecer, dizendo: Havia
numa cidade um certo juiz, que nem a Deus temia,
nem respeitava homem algum. Havia também
naquela mesma cidade uma certa viúva e ia ter com
ele, dizendo: Faze-me justiça contra o meu
adversário. E, por algum tempo, não quis; mas,
depois, disse consigo: Ainda que não temo a Deus,
nem respeito os homens, todavia, como esta viúva me
*
O inferno está cheio de pessoas que foram pobres durante a vida, mas se recusaram ao
arrependimento. Entretanto, você pode ver o coração do Senhor pelo seu empenho na terra por meio das
provisões para os pobres na Lei e pelos inumeráveis crentes que, durante séculos, ajudaram os
oprimidos.
molesta, hei de fazer-lhe justiça, para que enfim não
volte e me importune muito. E disse o Senhor: Ouvi o
que diz o injusto juiz. E Deus não fará justiça aos seus
escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda
que tardio para com eles?
Lucas 18.1-7

Disse-lhes também: Qual de vós terá um amigo e,


se for procurá-lo a meia-noite, lhe disser: Amigo,
empresta-me três pães, pois que um amigo meu
chegou a minha casa, vindo de caminho, e não tenho
o que apresentar-lhe; se ele, respondendo de dentro,
disser: Não me importunes; já está a porta fechada, e
os meus filhos estão comigo na cama; não posso
levantar-me para tos dar. Digo-vos que, ainda que se
não levante a dar-lhos por ser seu amigo, levantar-
se-á, todavia, por causa da sua importunação e lhe
dará tudo o que houver mister.
Lucas 11.5-8

As duas histórias mostram-nos como funciona o Reino dos


céus. Deus responde aos clamores por ajuda que sejam persistentes
e sinceros.

CLAMANDO PELA VITÓRIA


Em At the altar of sexual idolatry [No altar da idolatria
sexual], escrevi para viciados sexuais que tinham feito viagens
incontáveis ao altar de Deus, mas que haviam voltado sentindo-se
desesperados:
Ninguém entende plenamente tudo o que está envolvido na
oração respondida ou em ser libertado da escravidão. Contudo,
sabemos que, aqui, o Senhor nos deu princípios importantes, nos
quais podemos confiar para nos ajudar. Se você duvida que Deus
realmente ouve o clamor de Seus filhos, examine estas passagens
que ostentam a Sua misericórdia:

Então, clamamos ao SENHOR, Deus de nossos


pais; e o SENHOR ouviu a nossa voz e atentou para a
nossa miséria, e para o nosso trabalho, e para a
nossa opressão. E o SENHOR nos tirou do Egito com
mão forte, e com braço estendido, e com grande
espanto, e com sinais, e com milagres.
Deuteronômio 26.7,8

E os filhos de Israel clamaram ao SENHOR, e o


SENHOR levantou aos filhos de Israel um libertador,
e os libertou: Otniel, filho de Quenaz, irmão de
Calebe, mais novo do que ele.
Juízes 3.9

Então, os filhos de Israel clamaram ao SENHOR, e


o SENHOR lhes levantou um libertador: Eúde, filho
de Gera, benjamita, homem canhoto. E os filhos de
Israel enviaram pela sua mão um presente a Eglom,
rei dos moabitas.
Juízes 3.15

Então, os filhos de Israel clamaram ao SENHOR,


porquanto Jabim tinha novecentos carros de ferro e
por vinte anos oprimia os filhos de Israel
violentamente. E o SENHOR derrotou a Sísera, e
todos os seus carros, e todo o seu exército a fio de
espada, diante de Baraque; e Sísera desceu do carro e
fugiu a pé.
Juízes 4.3,15

E sucedeu que, clamando os filhos de Israel ao


SENHOR, por causa dos midianitas, enviou o
SENHOR um profeta aos filhos de Israel, que lhes
disse: Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Do Egito
eu vos fiz subir e vos tirei da casa da servidão.
Juízes 6.7,8

Estas passagens são apenas alguns relatos da resposta de Deus


para o clamor de Seu povo. Um sem-número de vezes, a nação de
Israel tinha problemas por causa da sua desobediência. Todavia,
sempre que eles clamavam a Deus por ajuda, Ele os socorria. Sua
situação pode ser muito parecida com a do povo de Israel. É por
causa de sua desobediência que você está em apuros; não obstante,
há um Deus misericordioso que ouve o clamor de Seus filhos.
Uma vez, achei que todas as minhas idas ao altar clamando
pela ajuda de Deus eram uma perda de tempo. Então, quando
reexaminei aqueles incidentes isolados, pude perceber que minhas
idas ao altar contribuíram para realizar minha libertação! Se você
realmente quer ser libertado do pecado sexual, clame a Deus
diariamente. Faça isso hoje! Faça já! Seu clamor será ouvido! 4
TENDO FÉ PARA OBTER A VITÓRIA
Um obstáculo importante que nos impede de receber de Deus é
a incredulidade. O típico cristão americano, que vai à igreja, ouve os
pregadores pelo rádio e lê os seus livros, ficaria, provavelmente,
envergonhado se percebesse quanta incredulidade permeia o seu
coração. Os crentes, na maioria, assumem que são cheios de fé e
pensam dessa forma porque sua crença não foi amplamente
provada. Não sofremos a perseguição, a escassez ou a calamidade
que muitos de nossos irmãos e irmãs ao redor do mundo padecem.
Nós somos "amigos do bom tempo" até que se prove o contrário.
Muitos de nós confiamos em nós mesmos 24 horas por dia, sete dias
por semana, até acontecer algo que não podemos manipular e,
então, rogamos ao Senhor. Perguntamos por que Ele não move céus
e terra para responder às nossas orações, as quais são,
freqüentemente, feitas não com fé, mas com uma espécie de
esperança supersticiosa.
Deus passa anos em nossa vida, tentando convencer-nos de
Sua bondade. Nós a aceitamos até certo ponto, mas temos
dificuldade em realmente adotar o conceito. Entretanto, quando
chegamos a um conhecimento mais completo do Pai, nossa fé cresce.
Quando vemos quem Ele é, confiamos nEle mais inteiramente.
Tenho um bom amigo chamado Jerry, o qual tem quatro
filhos. Ele é um homem piedoso que parece possuir uma paciência
infinita. Quando um de seus filhos se comporta mal, Jerry explica-
lhe calma e amorosamente por que ele vai ser punido e, depois,
prossegue aplicando a palmada necessária. Geralmente, os filhos o
vêem como um pai gentil e amoroso. Se um deles precisa de algo,
não têm medo de lhe pedir. Com efeito, se for algo que eles saibam
ser uma necessidade legítima, pedem com muita confiança (talvez
até demais!). Por que eles possuem tamanha confiança nele para
fazer o pedido? Jerry tem demonstrado o seu amor e sua bondade
em relação a eles consistentemente durante anos. Os filhos confiam
nele, pois conhecem o seu caráter.
Não é o mesmo que Jesus nos ensina no Sermão do Monte?
Ele disse: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei, e abrir-
se-vos-á. Porque aquele que pede recebe; e o que busca encontra; e,
ao que bate, se abre. E qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe
pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dará
uma serpente? Se, vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos
vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens
aos que lhe pedirem? (Mt 7.7-11).
A base para crer na oração não é o fato de sermos capazes de
apertar os dentes e, de algum modo, fazermos aparecer fé suficiente
para sufocar todos os pensamentos de dúvida. O fundamento para
crermos em Deus é o nosso reconhecimento da Sua bondade e
disposição em suprir as nossas necessidades de modo abundante.
A palavra grega para crer é pistos. O Vine's expository
dictionary [Dicionário Vine] a define como:

Crer, também ser persuadido de, e então, depositar


confiança em, confiar. Neste sentido da palavra,
significa confiança e não mera crença.5
Outro dicionário vai mais além quando considera a razão para
a confiança:

Persuadir, particularmente mover ou afetar por


meio de palavras ou motivações gentis [...]. Despertar
sentimentos gentis, para conciliar, [...] pacificar ou
fazer calar uma consciência acusadora [...]. Vencer,
ganhar o favor ou fazer (de alguém) um amigo.6
Essas descrições da palavra crer fazem-me lembrar do filme
Driving Miss Daisy [Conduzindo miss Daisy], em que uma judia da
Geórgia contrata um homem negro como motorista durante os anos
1950. A mulher, profundamente descrente de tudo, briguenta e
arrogante, trata todos ao seu redor com desdém. O senhor negro, um
cristão devoto, humilha-se continuamente durante o seu longo
relacionamento. No final, quando ambos estão mais velhos, ela deixa
que as barreiras caiam para que todos vejam o seu amor e sua
admiração por ele. O cristão conquistou o coração dela por sua
humildade e gentileza.
Essa é uma descrição real de como o Senhor consegue que
creiamos nEle. Ano após ano, o Pai nos sustenta, ajuda, encoraja e
abençoa. No final, o coração derrete, e Ele ganha mais outro para Si.
Apenas aquela pessoa mais dura resiste a um amor tão
surpreendente. Por essa razão, devemos impedir que nosso coração
se desgarre dEle.

APLICAÇÃO PRÁTICA
Porque sou cínico por natureza, tive de incorporar várias
coisas em minha vida para me manter na luz da Sua bondade.
Primeiro, passo muito tempo expressando gratidão e louvor ao
Onipotente.
Segundo, lembro-me constantemente, por meio dos sermões e
escritos de santos ministros, da bondade e a misericórdia de Deus.
Sou propenso a esquecer quão bom o Soberano é e tudo o que Ele fez
por mim.
Freqüentemente, também procuro expressar a minha fé no
Todo-Poderoso: "Creio em Ti, Senhor. Confio em Ti. Sei que Tu estás
sempre me ajudando, sustentando-me e guardando. Tu estás
suprindo as minhas necessidades, fazendo-me vencer na vida. Eu
confio em Ti, Pai".
De alguma forma, as palavras criam a atmosfera. Você já
esteve em um lugar em que alguém começa a falar mal de tudo? Ou
quando alguma pessoa entra com raiva, amaldiçoando em voz alta?
Nos dois casos, é criada uma atmosfera sem paz.
O mesmo acontece em sentido positivo. Algumas vezes, os
homens do programa residencial de Pure Life são encorajados a se
levantar em nossas reuniões e louvar ao Senhor pelo que Ele está
fazendo em suas vidas. Isso aumenta a fé e também ajuda os outros
que estão naquele encontro. Palavras expressam vontade, e isso é
espírito. Quando ficam em pé e dizem: "Bendirei ao Senhor em todo
tempo", estão expressando a sua vontade de fazê-lo, o que afeta, ao
mesmo tempo, os outros de uma maneira positiva.
Outra coisa que fortalece a fé é a leitura da Palavra de Deus.
Paulo disse: De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de
Deus (Rm 10.17).
Enfim, você deve, simplesmente, obedecer ao Senhor. A
obediência aprofunda a fé. Quando lemos sobre o "corredor da fama
da fé" que se encontra em Hebreus 11, não encontramos menção
alguma a sinais e maravilhas. O que há no texto, como denominador
comum de todos esses heróis da fé, é uma simples disposição de
obedecer a Deus.
Todos esses exercícios espirituais aprofundam algo em seu
coração de tal modo que você pode clamar ao Senhor, tendo certeza
de que Ele ouve as suas orações e está disposto a respondê-las.

O LUGAR DO ARREPENDIMENTO
Mais freqüentemente do que pensamos, as provas e os
problemas marcantes que encontramos na vida ocorrem porque
temos, de alguma forma, seguido nosso próprio caminho, fora da
vontade de Deus. O comportamento que leva aos vícios, as
dificuldades conjugais e os conflitos com outras pessoas, geralmente,
giram em torno de não sermos controlados pelo Espírito Santo.
Quando começamos a ver mais claramente como Deus é em
relação àquilo que somos, começa a ocorrer, se você deseja, uma
reação química espiritual. Ver o Senhor somente nos faz querer
conhecê-lO melhor. Enxergar a nós mesmos somente nos faz querer
ser mais como Ele. Paulo disse que a bondade de Deus leva as
pessoas ao arrependimento (Rm 2.4). Colocando de outra forma, o
Pai simplesmente derrete o nosso coração com Sua bondade.
Conhecê-lO, simplesmente, faz com que almejemos agir certo!
Rogar a Deus por ajuda antes do arrependimento ocorrer não
nos traz bem algum. Quando estamos errados, devemos, primeiro,
buscar ajuda, reconhecendo o nosso erro e comprometendo-nos a
seguir adiante pelo caminho reto. O arrependimento consiste
basicamente em nos afastarmos do nosso próprio caminho (pecado e
rebelião) e nos voltarmos para o Senhor.
O arrependimento nos dá acesso ao Reino de Deus. Vem,
primeiro, quando constatamos a nossa necessidade — ou em que
estamos errados — e, segundo, ao expressarmos tristeza sincera por
aquele erro. Somente então, somos restaurados ao relacionamento
correto com o Altíssimo.
Antes do Êxodo, Faraó do Egito dá um exemplo perfeito do
que não fazer. Quando ele se recusou a deixar que os hebreus
saíssem, Deus pressionou por meio de pragas a fim de demonstrar
misericórdia. Ele suplicou pela ajuda divina, recebeu-a e continuou
com seu comportamento pecaminoso. Isso o faz lembrar de alguém?
Nós clamamos a Deus para que nos auxilie na situação terrível na
qual nos colocamos. Por causa da total compaixão, o Pai irá ajudar-
nos freqüentemente. Contudo, o problema de alguns é que nunca
mudam o seu comportamento, que, basicamente, leva-os à encrenca.
Veja Jim, por exemplo. Depois de muito abusar
emocionalmente da esposa e enganá-la com prostitutas, ela o
deixou. Ele pediu a ajuda de Deus, chorou, gemeu, pranteou, contou
para outras pessoas todos os seus problemas. Entretanto, a única
coisa que ele não fez foi arrepender-se do comportamento que
causou a separação. Como Jim não estava demonstrando o fruto do
arrependimento, nós aconselhamos a mulher dele que permanecesse
separada até que ele fizesse isso. Tragicamente, tanto quanto eu
saiba, Jim nunca o fez.
Deus, geralmente, não responde aos clamores de uma pessoa
em tal estado de falta de arrependimento. Isso não significa que Ele
não Se compadeça por ele e sua situação difícil. O Senhor sabe que, a
menos que ele se arrependa, nada poderá ser feito para ajudá-lo. O
que melhor chama a atenção do Altíssimo são as palavras "estou
errado". Essa é uma pessoa que o Pai celestial pode ajudar.

A RESPOSTA DE DEUS
Uma coisa fenomenal ocorre nas regiões celestiais quando um
dos filhos de Deus suplica por ajuda no espírito certo. Todo céu é
liberado em resposta! A coisa mais próxima que eu pensaria em
termos terrenos seria uma resposta a um incêndio ou a uma cena de
acidente de carro.
Davi, que tinha revelações maravilhosas de Deus,
experimentou isso, em primeira mão, quando o Senhor o livrou da
morte certa nas mãos dos escudeiros de Saul. Com um coração cheio
de gratidão, Davi escreveu o Salmo 18. Nesse hino de ação de graças,
ele nos deu uma linda descrição da resposta do Alto aos pedidos dos
necessitados.
Ele começa expressando o que o Senhor é para ele:

Eu te amarei do coração, ó SENHOR, fortaleza


minha. O SENHOR é o meu rochedo, e o meu lugar
forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha
fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força da
minha salvação e o meu alto refúgio. Invocarei o
nome do SENHOR, que é digno de louvor, e ficarei
livre dos meus inimigos.
Salmo 18.1-3

Ele viu o Senhor como a sua suficiência. Depois, prosseguiu


descrevendo, em termos vividos, como ele viu a sua situação no
campo espiritual:

Cordéis de morte me cercaram, e torrentes de


impiedade me assombraram. Cordas do inferno me
cingiram, laços de morte me surpreenderam. Na
angústia, invoquei ao SENHOR e clamei ao meu
Deus; desde o seu templo ouviu a minha voz e aos
seus ouvidos chegou o meu clamor perante a sua face.
Salmo 18.4-6

Que testemunho maravilhoso da fidelidade de Deus! O Senhor


estava atento aos clamores de Davi! Em outra passagem, ele disse:
Os olhos do SENHOR estão sobre os justos; e os seus ouvidos,
atentos ao seu clamor (Sl 34.15). Isso é algo de que necessitamos
desesperadamente saber nos dias negros que estão vindo sobre a
terra.

Então, a terra se abalou e tremeu; e os


fundamentos dos montes também se moveram e se
abalaram, porquanto se indignou. Do seu nariz subiu
fumaça, e da sua boca saiu fogo que consumia;
carvões se acenderam dele. Abaixou os céus e desceu,
e a escuridão estava debaixo de seus pés. E montou
num querubim e voou; sim, voou sobre as asas do
vento. Fez das trevas o seu lugar oculto; o pavilhão
que o cercava era a escuridão das águas e as nuvens
dos céus. Ao resplendor da sua presença as nuvens se
espalharam, e a saraiva, e as brasas de fogo. E o
SENHOR trovejou nos céus; o Altíssimo levantou a
sua voz; e havia saraiva e brasas de fogo. Despediu
as suas setas e os espalhou; multiplicou raios e os
perturbou. Então, foram vistas as profundezas das
águas, e foram descobertos os fundamentos do
mundo; pela tua repreensão, SENHOR, ao soprar das
tuas narinas. Enviou desde o alto e me tomou; tirou-
me das muitas águas. Livrou-me do meu inimigo
forte e dos que me aborreciam, pois eram mais
poderosos do que eu. Surpreenderam-me no dia da
minha calamidade; mas o SENHOR foi o meu
amparo. Trouxe-me para um lugar espaçoso; livrou-
me, porque tinha prazer em mim.
Salmo 18.7-19

Não é de se admirar que, no final, Davi tenha irrompido em


um louvor exuberante:

O SENHOR vive; e bendito seja o meu rochedo, e


exaltado seja o Deus da minha salvação. É Deus que
me vinga inteiramente e sujeita os povos debaixo de
mim; o que me livra de meus inimigos; — sim, tu me
exaltas sobre os que se levantam contra mim, tu me
livras do homem violento. Pelo que, ó SENHOR, te
louvarei entre as nações e cantarei louvores ao teu
nome. É ele que engrandece as vitórias do seu rei e
usa de benignidade com o seu ungido, com Davi, e
com a sua posteridade para sempre.
Salmo 18.46-50

Tenho ligação com esse texto. É o meu testemunho. Cordéis de


morte me cercaram. Na angústia, invoquei ao SENHOR. Ele me
livrou, deu-me vida e destruiu os meus inimigos! É o que o Soberano
faz com quem O invoca com um coração sincero.
O crente vitorioso deve chegar a um ponto no qual sabe
sinceramente que a vitória só vem de Deus. Não é algo que se faça
acontecer nem ocorre simplesmente por causa de uma reivindicação
falada. A vitória espiritual ocorre quando uma pessoa aprende a
chegar à usina geradora do poder da misericórdia divina. Esse poder
não está disponível para a pessoa que só quer saber da própria
vontade. Está à disposição apenas para os dispostos a viver em
humilde sujeição à vontade do Pai celeste.
Meditação para Hoje

A bondade de Deus avançando para um desejo de comunicar o


bem foi a causa e o princípio da criação. Portanto, deduz-se que, por
toda a eternidade, o Senhor não possa ter uma idéia ou intento para
com as criaturas que não seja o de transmitir o bem, porque fez a
criatura para este único fim — receber o melhor. A primeira
motivação em relação à humanidade é imutável; ela provém do
desejo do Altíssimo de espalhar o bem. É uma impossibilidade
eterna algo prover do Todo-Poderoso, como Sua vontade e Seu
propósito para a criatura, e que não seja o mesmo amor e a mesma
bondade que, primeiro, criaram-na. O Senhor sempre deseja aquilo
que expressou em Sua criação. Essa é a natureza amiga do Criador.
O Pai é a Fonte do bem imutável e transbordante que não envia
outra coisa a não ser o bem por toda a eternidade. Ele é o próprio
Amor, sem mistura e sem medidas, que não faz coisa alguma a não
ser com generosidade, dando somente os dons do amor para tudo o
que Ele realizou; nada requerendo de todas as Suas criaturas a não
ser o espírito e os frutos daquele sentimento que as trouxe à
existência. Ó, como é doce a contemplação da altura e da
profundidade das riquezas do amor divino! Que atração ele deve
exercer em todo homem gentil, para que retribua o amor com amor
a esta Fonte transbordante de bondade sem limites!1
William Law

Você jamais conhecerá realmente a vontade de Deus a menos


que tenha uma visão real do Calvário — aquela foi a grande
demonstração da vontade do Criador para este mundo.
Bill Vines

Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai, que está nos
céus, este é meu irmão, e irmã, e mãe.
Jesus Cristo - Mateus 12.50

Uma vontade desconhecida de Deus é um Deus desconhecido


[...]. O propósito do Senhor para esta terra foi, e é, a imersão em um
elemento celestial, exatamente o oposto do espírito do mundo, que
satura a terra com força, ira, corrupção, pecado, sofrimento, dor e
morte [...]. A vontade do Pai celestial é a misericórdia. 2
Rex Andrews
Onze
A vontade de Deus

As citações listadas na página anterior expressam tantas


riquezas inexprimíveis, que há pouco a acrescentar. Se, em oração,
você meditar nessas palavras, a verdade expressa irá tornar-se sua. A
intenção do Pai para o homem é fazer-lhe o bem, não prejudicá-lo.
Seu propósito para a humanidade é dar vida, não morte. Seu desejo
para as pessoas é apenas de ajudar, não de ferir. A vontade de Deus
com relação à humanidade é sempre benevolente, boa e gentil. Sua
vontade é a misericórdia.

JESUS VIVEU A VONTADE DE DEUS


Em um capítulo anterior, eu disse que, se você quiser saber
como o Senhor é, simplesmente estude a vida de Jesus. Se é verdade
que Cristo foi Deus encarnado, então, seguramente, é verdade que o
Messias viveu a vontade do Onipotente. Ele disse: A minha comida é
fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra (Jo
4.34). O Mestre também declarou: Eu não posso de mim mesmo
fazer coisa alguma (Jo 5.30a) e Eu faço sempre o que lhe agrada
(Jo 8.29b). Tudo o que Jesus fez foi uma expressão da vontade de
Deus para a humanidade. O Todo-Poderoso não mostrou Seu lado
bom em Jesus, enquanto escondia um lado "mau".
O Altíssimo não é como nós; Ele é exatamente o que expressa.
Entretanto, tendemos a nos apresentar de modo favorável,
parecendo de uma certa maneira, mesmo não sendo assim. Quantos
de nós vivemos atrás de uma fachada de espiritualidade e bondade
planejada, escondendo a feiúra que a maioria nunca vê? O escritor
aos Hebreus afirma que Jesus é a expressa imagem da sua pessoa
[de Deus] (Hb 1.3). A vida de Jesus foi um livro aberto. Ele viveu a
vontade do Pai para o homem com o intuito de que todos a vissem.
Um meu amigo, já falecido, disse:

De Jesus está escrito: Eis aqui venho, para fazer, ó


Deus, a tua vontade. (Hb 10.9). Jesus perdoou
pecados pela vontade do Pai. Curou os doentes e foi até
a cruz para levar nossos pecados e enfermidades pela
vontade de Deus. E, assim, a cruz diz: "A vontade de
Deus é a misericórdia, benevolência, benignidade e
redenção".3
No capítulo 9 de Mateus, encontramos o Mestre fazendo a
mesma coisa: vivendo para dar misericórdia aos necessitados. Jesus
enfureceu os fariseus opositores da compaixão, ao curar um
paralítico e perdoar o pecado deste. Depois, Ele encontrou um certo
cobrador de impostos que, mais tarde, deu o relato em primeira
mão:

E os fariseus, vendo isso, disseram aos seus


discípulos: Por que come o vosso Mestre com os
publicanos e pecadores? Jesus, porém, ouvindo,
disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas
sim, os doentes.
Mateus 9.11,12

De certa forma, o que Ele estava dizendo aos fariseus era:


"Somente aqueles que enxergam a própria carência espiritual
querem ouvir alguém que a supra. Vocês, fariseus, se vêem muito
bons, mas não percebem o quanto precisam de ajuda. Por isso, vim
para estar com os pecadores".
Jesus declarou algo absolutamente revolucionário. Ide, porém,
e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não sacrifício.
Porque eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores, ao
arrependimento (Mt 9.13).
Os fariseus estavam em apuros. Tinham uma ilusão espiritual:
pensavam que estavam em boa situação perante Deus. No entanto, o
Messias lhes disse que fizessem o seguinte: estudassem esse
versículo de Oséias. Eles não perceberam, mas a sua eternidade
dependia daquela disposição em se humilharem e serem ensinados.
Esses homens pensavam que sabiam. Viam-se como entendidos. Já
tinham compreendido tudo, e suas vidas tornaram-se para nós um
mostruário do que não deve ser feito.
O Mestre disse: Ide, porém, e aprendei o que significa (Mt
9.13a). É imperativo ouvir e obedecer às determinações de Jesus.
Temos de ser cuidadosos para não acharmos que já sabemos. Qual é
o significado do texto do livro de Oséias?
Após várias centenas de anos de corrupção do significado da
Lei dada no Sinai, os judeus haviam transformado o sistema de
sacrifícios de holocaustos em uma religião morta de cerimônias
exteriores. O propósito original das regras era todo fundamentado
na misericórdia. Tratava-se de uma maneira de o homem expiar o
seu pecado e aproximar-se do Todo-Poderoso pelo sacrifício e
arrependimento sincero.
Depois de inúmeros séculos dolorosos, o Senhor enviou uma
palavra ao povo: Porque eu quero misericórdia e não sacrifício; e o
conhecimento de Deus, mais do que holocaustos (Os 6.6). O que o
Altíssimo estava dizendo era que, se o povo realmente quisesse estar
em comunhão correta com Ele, precisava focalizar a seguinte
questão importante: distribuir Seu amor para todos ao redor. Mais
tarde, Jesus declarou aos fariseus: Ai de vós, escribas e fariseus,
hipócritas! Pois que dais o dízimo da hortelã, do endro e do
cominho e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a
misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer essas coisas e não omitir
aquelas (Mt 23.23).
Algo pesa mais na balança de Deus do que a execução de atos
exteriores da religião (seja judaísmo do primeiro século, seja
cristianismo do século 21): que Sua vontade seja conhecida da
humanidade, e as pessoas a vivam.
Jesus citou o texto bíblico de Oséias de memória. Ele disse:
Porque eu quero misericórdia. É uma declaração do Seu propósito
para toda a humanidade. É vontade de Deus fazer misericórdia e
suprir necessidades. Também é o desejo dEle que Seus seguidores
façam o mesmo.
A passagem de Oséias declara: Porque eu quero misericórdia e
não sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos.
Querer é vontade, não é? Se digo que quero dirigir hoje até
Cincinnati (Ohio), estou expressando a minha vontade, não estou?
Certamente! Jesus está dizendo a mesma coisa. É desejo e vontade
de Deus que a misericórdia seja feita. Esse é o conhecimento do
Senhor, porque é a compreensão de como Ele é e do Espírito no qual
está.
Quer tenha ou não percebido quando pegou este livro, você
obedeceu àquele mesmo mandamento. Agora está aprendendo sobre
a vontade de Deus, que é exercer misericórdia, e o propósito dEle é
que os outros a pratiquem também.
O diabo está sempre tentando manter o homem longe desse
conhecimento. Quando possível, Satanás pinta um quadro quase
irresistível de que ele é o melhor amigo do ser humano, enquanto o
Senhor seria o verdadeiro malfeitor deste mundo. O maligno
conquista a amizade do homem porque sempre apela para a sua
natureza carnal, pecadora e egoísta. Se eu fosse um cristão carnal e o
diabo me oferecesse uma forma de cristianismo que se encaixasse
naquele estilo de vida, ele seria meu amigo, quer eu admitisse ou
não. Se eu fosse carnal e não quisesse arrepender-me, então, eu
reduziria a bondade do Pai, fazendo-O uma versão grande de mim —
uma pessoa "boa".
Estamos inclinados a dar demasiado crédito a nós mesmos.
Novamente, vemo-nos como pessoas boas; talvez, não perfeitas
como o Onipotente, mas indo muito bem. Essa atitude que nos cega
para a nossa necessidade tira o conhecimento de Deus do nosso
alcance. Quando realmente constatamos a nossa condição de
desespero e necessidade, também ganhamos uma visão genuína de
como é o Senhor.
Satanás ludibriou Eva para que ela cresse no fato de que o
conhecimento do bem e do mal — que se tratava de algo valioso e
estava sendo proibido para ela — era o caminho para ser como o
Criador. Em essência, o diabo estava dizendo: "Ter os seus olhos
bem abertos para todas as espécies de informações é a forma de
conhecer o Todo-Poderoso e ser como Ele". Entretanto, o Senhor faz
uma declaração fiel e verdadeira: a entrada para o Seu conhecimento
é pelo aprendizado da misericórdia. A pessoa somente entra nesse
entendimento praticando a compaixão; não existem atalhos.
Esse conhecimento irá libertá-lo de todo jugo. Jesus ensinou:
Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente, sereis
meus discípulos e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará
(Jo 8.31,32). Qual é a verdade? Deus é bom, e Suas misericórdias
duram para sempre. Se vivermos nessa certeza simples sobre o
Altíssimo e distribuirmos misericórdia para os outros, seremos
libertados de todo o pecado que nos importuna.

SUJEIÇÃO À VONTADE MAIS ELEVADA


A mansidão pode ser definida como sujeição voluntária da
vontade de uma pessoa à da outra. Jesus disse: Porque eu desci do
céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que
me enviou (Jo 6.38). O Mestre andou em mansidão, em submissão
perfeita à vontade do Pai. Mesmo em Sua maior crise, quando tomou
sobre Si a imundície do pecado da humanidade, Ele afirmou:
Todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua (Lc 22.42b).
O Messias viveu em perfeição entrega ao jugo do Onipotente.
Ele confiou e creu em Seu Pai celestial. Jesus sabia que Deus era
confiável. Sujeitou-Se voluntariamente, sabendo o que isso
significava. Depois, estendeu o convite para participarmos do
mesmo jugo com Ele, dizendo: Vinde a mim, todos os que estais
cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu
jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e
encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é
suave, e o meu fardo é leve (Mt 11.28-30).
Costumamos encolher-nos quando pensamos na possibilidade
de alguém colocar um jugo sobre nós. Na América, não estamos
habituados a submeter a nossa vontade à de alguém. Como nação,
orgulhamo-nos por termos um espírito independente. Celebramos o
4 de julho como o dia em que nos revoltamos contra o rei George da
Inglaterra. Nossa independência, todavia, cresceu em proporções
épicas nos últimos 30 anos. Os bebês nascidos após a guerra, nos
anos 1960, decidiram jogar fora das suas vidas o jugo da autoridade
e, depois, deram início a uma revolução cultural, ativa ainda hoje. As
pessoas exigem mais liberdade, a ponto de as autonomias civis
ganharem mais peso em nossos sistemas de corte judicial do que o
direito de viver em paz e segurança. O resultado dessa liberdade
recém-encontrada é a escravidão de se viver com medo do crime, do
vício maciço das drogas e da onda de imoralidade.
O que é liberdade e escravidão? Muitos cristãos tentam ter os
dois. Querem a liberdade de ter a própria vida, convidando, sob suas
condições, a presença de Deus, mas nunca entrando na vida de
liberdade no Espírito como o Senhor pretende. Inegavelmente
mornos, possuem o pior dos dois mundos. Nem vivem no horrível
pecado exterior, nem na felicidade do primeiro amor. Como amam a
sua vida neste mundo, não abandonam suas práticas por Jesus. Por
conseguinte, não desfrutam realmente dos prazeres do pecado
tampouco da vida gloriosa e vencedora no Espírito. Em vez disso,
vivem em um mundo lúgubre e cinza, existente entre os dois
extremos, todos sob um título que soa bem: "Estar equilibrado". Na
realidade, estão em um gueto espiritual.

CONFIANDO EM SUA VONTADE


Quando uma pessoa começa a compreender a vontade do
Senhor, a idéia de viver em obediência é menos aterradora. Hannah
Whitall Smith teve uma vida cheia de alegria. Em seu livro, A
christian's secret of a happy life [O segredo de uma cristã para
uma vida feliz], ela aborda a vontade de Deus:

Sua vontade é a coisa mais abençoada que pode vir a


nós sob quaisquer circunstâncias. Não entendo como
os olhos de tantos cristãos têm estado cegos para esse
fato. Mas, realmente, parece que os filhos de Deus têm
mais medo do Seu propósito do que de outra coisa. A
vontade amorosa e amável do Pai significa apenas
benignidade, misericórdias ternas e bênçãos
inexprimíveis para a alma de cada um deles! Eu
gostaria de poder mostrar-lhes a doçura
incomensurável da vontade do Senhor. O céu é um
lugar de alegria infinita, porque lá o desejo do Pai é
executado perfeitamente.4
Um homem pode tentar convencer seu amigo de que uma
atividade é divertida, segura e desfrutável, mas até o amigo
experimentá-la, jamais saberá. Veja uma criança que nunca nadou.
Todos os seus amigos estão fazendo isso e existe algo que a atrai.
Contudo, quando ela olha para a água, esta a aterroriza. Quanto
mais ela fica em pé à beira da piscina, mais os outros tentam
convencê-la. Quanto mais pressão sente da parte deles, mais ela se
afasta. No entanto, se o pai dela entrar na piscina com as mãos
estendidas, ela, então, pulará bem nos braços dele. Por quê? Porque
ela confia em seu pai. Várias vezes, ele mostrou seu amor por ela.
Não posso convencer você de se atirar nos braços do Pai, mas, talvez,
eu possa ajudá-lo a ver a confiabilidade dEle. Oswald Chambers, que
também conhecia alguma coisa sobre a alegria do Senhor, disse:

O que é necessário nas questões espirituais é a


entrega impulsiva e não-calculada a Jesus. Sem
reservas e não de modo triste, porque você não pode
ter tristeza se está absolutamente entregue [...]. Muitos
de nós estamos servindo sutilmente aos nossos
próprios fins, e Cristo não pode contribuir com nossa
vida. Se estou entregue ao Senhor, não tenho os
próprios fins para servir.5
UNIÃO DE DUAS VONTADES
Nos tempos bíblicos, quando duas pessoas se casavam, a
mulher entendia que estava unindo sua vida à do marido. Hoje, na
América, o casamento é mais uma combinação de duas vidas, das
carreiras e dos conjuntos de desejos. O papel da mulher nos tempos
bíblicos era apenas um passo acima do papel do servo da família. A
mulher esquecia seus sonhos e suas aspirações para se ligar aos do
marido. Ela se tornava sua companheira e submetia a própria
vontade a dele. Havia a união de duas vontades, mas era quase a
sujeição completa de uma a outra.
Nós, cristãos, de modo semelhante à Noiva de Cristo, somos
chamados a entregar nossos interesses, planos e objetivos, e sujeitá-
los ao nosso Senhor e Marido. É responsabilidade dEle prover para
nós, proteger-nos e trazer realização ao nosso viver. Quando nos
casamos com Ele, alinhamos nossa existência com os Seus planos e
submetemos nossa vontade à dEle. Tudo isso faz parte do acordo de
casamento, e recusar-nos a cumpri-lo realmente significa que, de
alguma maneira, nós o violamos.
Alguns homens têm um desejo sincero de fazer uma
consagração mais profunda ao Senhor, mas sentem como se não se
prendessem a isso. Um dia, eles estão de um jeito; no dia seguinte,
de outro. Parece que, pelas próprias emoções, são continuamente
arremessados pelas ondas da vida. Então, é necessária a oração de
consagração ao Senhor, a despeito do que podemos sentir mais
tarde. Hannah Whitall Smith declara ainda:

Nossa vontade é a fonte de todas as nossas ações.


Sob controle do pecado e do ego, nossos desejos farão
com que ajamos para o próprio prazer. Mas Deus nos
chama para rendermos a nossa vontade a Ele, a fim de
que possa assumir o controle e operar em nós de modo
a desejarmos fazer o que Lhe agrade. Se obedecermos
a este chamado e nos apresentarmos ao Senhor como
sacrifício vivo, Ele tomará posse das nossas vontades
rendidas e começará imediatamente a agir em nós [...].
A vontade é como uma mãe sábia em um berçário, e
as emoções, como crianças chorando. A mãe decide
que seus filhos farão o que ela crê que seja certo e
melhor. Os filhos reclamam e dizem que não farão.
Entretanto, a mãe está no controle e abre o caminho
com amor e calma, apesar de todas as lamúrias. Como
resultado, os filhos, mais cedo ou mais tarde, cederão
ao curso de ação da mãe. Eles agem de acordo com a
decisão dela e tudo está em harmonia e felicidade.
Mas, se por um momento, aquela mãe aceitar que as
crianças sejam os senhores, em vez dela, a confusão
reinará. Neste exato momento, há muitos que estão
confusos, simplesmente porque seus sentimentos
tiveram autorização para governar, em vez da sua
vontade.6
A VONTADE DE DEUS EM NOSSA VIDA
Conforme já mencionei, um dos receios de nos consagrarmos à
vontade do Criador é por não confiarmos em Sua vontade. Rex
Andrews aborda isso:
As pessoas tendem a ocupar a mente com muitas coisas a
respeito do que Deus fará e sobre o Seu poder como uma força
destruidora ou autoridade para dominar, de maneira que a Sua
vontade parece como a de um monarca terreno, o qual depende da
força para matar a fim de estabelecer a lei. Os raciocínios humanos
sobre o poder divino estão muito aptos a fazer suposições acerca do
que a vontade do Senhor realmente é, a menos que tenham
claramente em vista, o tempo todo, o que o Calvário significa. 7
Quando tivermos conhecimento da vontade de Deus, que é
doadora de vida, começaremos gradualmente a abraçá-la. Na
verdade, entregamo-nos a ela, pois é maravilhosa! Qual é o
propósito do Pai para você e para mim? Simplesmente esta: Ele está
procurando todos os tipos de homens e mulheres que farão a Sua
vontade com relação aos seus semelhantes, assim como Ele fez por
eles. Para colocar em termos mais enfáticos, o Senhor deseja possuir
as pessoas com o Seu Espírito Santo e distribuir a vida dEle a outros.
Assim como a justiça própria é a maior inimiga da verdadeira
justiça, a vontade própria é opositora e inimiga da vontade de Deus.
Na vontade própria, decidimos e escolhemos quando exercer
misericórdia aos outros, para quem e até que ponto mostraremos
compaixão. O Altíssimo nos chama para entregarmos tudo e
simplesmente deixar que Ele distribua a Sua vida a nós. Não temos
condições de ser cheios do Espírito Santo, a menos que nos
tornemos vazios do eu. Podemos ter experiências no altar onde
somos cheios com o Espírito. Podemos, ainda, ir a conferências
sobre andar em Espírito, ler livros ou iludir-nos ao pensarmos que
somos dirigidos pelo Consolador. Contudo, se não chegarmos ao
lugar de consagração onde entregamos nossas vontades e nossos
direitos a Deus, jamais saberemos realmente o significado de ser
cheio do Espírito.
Se puder sentir a voz amorosa de Deus chamando você
exatamente neste momento, eu o animo a deixar este livro de lado,
encontrar um lugar calmo e se consagrar a Deus. Faça uma entrega
plena da sua existência a Ele, sujeitando-se conscientemente à Sua
autoridade justa sobre a sua vida. É impossível conhecer a vitória a
menos que se faça isso.
Talvez, as palavras desse hino de Francês Havergal * sejam de
alguma ajuda:

Toma a minha vida


E deixa que ela seja consagrada, Senhor, a
Toma as minhas mãos
E deixa-as mover
Pelo impulso do Teu amor.
Toma os meus pés
E deixa-os ligeiros e formosos para Ti;
Toma a minha voz
E deixa-me cantar sempre
Apenas para o meu Rei.
Toma a minha prata e o meu ouro,
Nem um tostão eu retenho;
Toma os meus momentos e os meus dias,
Deixa-os fluir em incessante louvor.
Toma a minha vontade e faze-a Tua,
Ela não será mais minha;
Toma o meu coração, ele Te pertence,
Será o Teu trono real.8

*
Nota da Revisão - Correspondente ao hino 296 do Cantor Cristão.
Meditação para Hoje

Aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.


Apóstolo João - 1 João 2.17b

Mede a tua vida pelas perdas e não pelos ganhos; não pelo
vinho bebido, mas pelo vinho derramado, pois a força do amor
reside em seu sacrifício — e aquele que mais sofre mais tem para
dar.1
Jonathan Goforth, após ter perdido cinco filhos no campo missionário

E os nossos aprendam também a aplicar-se às boas obras, nas


coisas necessárias, para que não sejam infrutuosos.
Apóstolo Paulo - Tito 3.14

Havendo uma necessidade, devemos fazer o possível para


supri-la.
Betsy Ten Boom
No filme The hiding place [O refúgio secreto]
Doze
A vida de misericórdia

Tendo-se consagrado para viver a misericórdia do nosso Deus,


você se depara, agora, com a seguinte pergunta: "O que isso significa
na minha vida prática?". Não precisa ir muito longe para encontrar a
resposta. Há necessidades não-supridas em toda a parte. Nos
presídios, muitos internos gostariam de ver os cristãos
demonstrando interesse por eles. Muitos idosos em casas de repouso
ficariam animados se alguém se importasse em visitá-los. As
cozinhas de distribuição de sopas precisam sempre de voluntários.
Os locais para a reabilitação de drogados precisam de homens que
estejam dispostos a ajudar. A maioria dos pastores tem muitas
posições a serem preenchidas em suas igrejas: obreiros para a escola
dominical, o berçário, os serviços de segurança, o estacionamento e
a manutenção, por exemplo. Uma pessoa pode ser uma bênção como
auxiliar no ensino ou voluntária no hospital. Não faltam
oportunidades para alguém disposto a investir a sua vida, seu tempo
e sua energia para o bem do próximo.
Toda a vida de Jesus foi consumida no suprimento da
necessidade dos outros. Nós nos chamamos cristãos, o que nos faz
seguidores de Cristo. Como Ele é o Líder, não deveríamos seguir a
liderança dEle?
A maravilha da vida cristã é que qualquer um que quiser
poderá vivê-la. Qualquer pessoa pode ser desprovida de egoísmo,
tanto a criança quanto o idoso. O verdadeiro cristianismo implica
muito mais do que simplesmente ter informações. A conduta cristã
exige que todo crente pense e aja de acordo com a Palavra de Deus
em sua vida diária.

OBRIGADO A EXERCER A MISERICÓRDIA


Jesus contou uma parábola, em Mateus 18, sobre o perdão,
para explicar e ilustrar o Reino dos céus. Um escravo devia a um rei
uma quantia considerável de dinheiro. Segundo o costume da época,
quando um devedor não pudesse pagar, ele e sua família eram
tratados como escravos até que a dívida fosse paga. Enlouquecido, o
homem se prostrou aos pés do rei e suplicou por misericórdia. O rei
teve compaixão e perdoou a dívida.
Essa é uma descrição maravilhosa da nossa salvação.
Cometemos crimes detestáveis contra um Deus santo. Ele nos
introduz na sala do Seu trono e nos mostra o que fizemos. Acusados
de culpa, vemos a nossa carência e, naquela situação horrível,
pedimos perdão.
Misericordiosamente, Deus remove o fardo e nos libera da
nossa dívida. Mas infelizmente, assim como aquele servo, perdemos
a noção do grande pecado que foi perdoado. Pouco a pouco, o
orgulho que havia sido removido, quando cremos pela primeira vez,
ruge novamente. Não mais envolvidos naquele primeiro amor e sem
noção da nossa necessidade, também perdemos, gradualmente, a
compaixão por aqueles que nos rodeiam. Antes de percebermos,
acabamos praticamente não tendo interesse algum pela necessidade
dos outros.
O servo viu, depois, um amigo que lhe devia menos dinheiro.
Como o amigo não conseguiu pagar, o primeiro o encerrou na
prisão. O rei disse ao tal homem: Não devias tu, igualmente, ter
compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia
de ti? (Mt 18.33).
Paulo nos faz lembrar das nossas obrigações: E ele morreu por
todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para
aquele que por eles morreu e ressuscitou. Assim que, se alguém está
em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo
se fez novo (2 Co 5.15,17).
O que é coisa velha? Viver somente para os próprios desejos. O
que é novo? Viver para Cristo e os outros.
O apóstolo João também percebeu isso quando afirmou: Nisto
conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos
dar nossa vida pelos irmãos (1 Jo 3.16 - ARA). Novamente, a mesma
coisa em outras palavras: pensar na necessidade dos outros.
Jesus ordenou: Curai os enfermos, limpai os leprosos,
ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes,
de graça dai (Mt 10.8). O que eles receberam? Misericórdia! E nós
também. Jesus veio e supriu àquilo de que carecíamos, e fez tudo de
graça. Foi assim que você teve suas necessidades atendidas. Agora vá
e, de graça, faça o mesmo.
Essa é a atividade do Reino de Deus: fazer pelos outros e
prover aquilo de que precisam. Essas palavras não nos são dadas
como sermão idealista, o qual não se espera que alguém realmente
cumpra. Jesus declarou expressamente: "Vá e faça o mesmo". São
palavras práticas de Alguém que nos ensina algo muito importante:
o significado de ser Seu seguidor.

CALCULANDO O CUSTO
Quando Jesus apareceu inicialmente na Palestina, uma
multidão de seguidores ardorosos O seguiu. Eles ouviram as Suas
palavras de vida e cheias de graça; viram a Sua compaixão e Seu
amor e testemunharam o poder de Deus. Todos queriam ser Seus
seguidores, embora não estivessem cientes do preço a pagar. Um
dia, Lucas nos conta, Jesus viu a grande multidão que O seguia e
aconselhou:

Se alguém vier a mim e não aborrecer a seu pai, e


mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda
também a sua própria vida, não pode ser meu
discípulo. E qualquer que não levar a sua cruz e não
vier após mim não pode ser meu discípulo. Pois qual
de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta
primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem
com que a acabar? Para que não aconteça que, depois
de haver posto os alicerces e não a podendo acabar,
todos os que a virem comecem a escarnecer dele.
Lucas 14.26-29

Essas duras palavras separaram os homens dos meninos, por


assim dizer. Esse é o tipo de orientação que não é dada por um
pastor em seu juízo perfeito, o qual só queira ver a igreja crescer.
Jesus, porém, queria que o povo soubesse de algo. Havia um custo
envolvido para quem O seguisse. Nos Estados Unidos, temos
conseguido convencer-nos de que isso não é bem assim, mesmo
sendo a verdade.

O SACRIFÍCIO DA MISERICÓRDIA
Qualquer pessoa determinada a fazer a verdadeira obra de
Deus sofrerá oposição e perseguição. Aqueles que fazem cócegas no
ouvido das pessoas nunca terão de lidar com uma oposição real.
Há uma razão muito boa para João ter falado sobre os crentes
entregarem a vida pelos outros, e de Paulo ter falado sobre
derramar-se como uma oferta de bebida. Uma pessoa que ama os
outros e faz algo por eles torna-se vulnerável. Quando você se
importa com as pessoas, elas o usam, roubam-no e o deixam
decepcionado. Tudo isso é parte de qualquer obra de Deus genuína.
Com certeza, há dificuldade a ser enfrentada em diferentes graus por
qualquer pessoa que esteja tendo uma vida de misericórdia.
Geralmente, há pouca recompensa terrena para a verdadeira
obra do Senhor, e, freqüentemente, é um sacrifício fazê-la. Kathy e
eu tivemos de esquecer nossas carreiras (aplicação da lei e
gerenciamento) por causa dos Ministérios Pure Life. Quando o
fizemos, perdemos tudo. Para obedecermos ao chamado de Deus,
tivemos de vender tudo o que possuíamos para morar em uma casa
móvel durante vários meses. Mais tarde, quando adquirimos a
propriedade onde estamos atualmente, moramos em um pequeno
trailer para acampamento durante um ano e meio. Digo isso
sentindo-me envergonhado quando penso no sacrifício que os
cristãos de outras nações fazem todos os dias. Recentemente, o
Senhor nos deu recursos financeiros para construirmos uma casinha
linda no ministério, mas ela veio após anos de sacrifício. Entretanto,
muitos dos que exercem a misericórdia jamais recebem tais bênçãos
materiais.
No topo de tudo isso, está a oposição exercida pelas forças do
inferno. Os demônios se importam pouquíssimo com aqueles que se
sentem atraídos pela baixeza humana. Quando alguém começa a
passar pelo caminho estreito, transmitindo aos outros a vida de
Cristo, os demônios do inferno reparam. Essa é uma parte muito real
da verdadeira obra de Deus, mas os que fazem isso não temem os
demônios porque viram o Pai.
Sofrer perdas; sacrificar-se pelos outros; sentir as críticas
inflamadas de caluniadores; ser usado por aqueles que você está
tentando ajudar; ver que as coisas dão errado quando não deveriam
e ser ferido por quem você foi chamado para amar fazem parte da
vida de compaixão. Contudo, de maneira estranha, também fazem
parte da glória de um chamado maior. Os cristãos são soldados, e
suas medalhas de valor são as cicatrizes do seu sofrimento pelo seu
Salvador.
OS BENEFÍCIOS DE SE VIVER A MISERICÓRDIA
Na dimensão invisível do Reino dos céus, há recompensas
tangíveis para aqueles que amarem as outras pessoas. Muitos jamais
conhecerão as ricas bênçãos dessa vida, porque, em seu ofuscamento
espiritual, tudo o que conseguem enxergar são as exigências e as
perdas envolvidas. Não obstante, os benefícios da vitória espiritual,
advindos de se praticar a misericórdia para com os outros,
ultrapassam a nossa capacidade de compreensão plena.
Um amigo meu disse o seguinte:

O Senhor parece próximo quando estamos cientes


da carência à nossa volta. Se Ele parecer distante, será
porque a necessidade dos outros não se tornou
importante para você. A necessidade o coloca em
contato com Cristo. Essa é a maneira de sermos como
Jesus. Quando você sentir que Ele está longe, será
porque aquilo de que o próximo precisa está morto em
seu coração, e não existe jeito de senti-lo morto para o
Senhor quando você estende a mão para os outros.

Seguramente, descobri que isso é verdade. Um dos benefícios


de ajudar os outros é que o Senhor Se aproxima. Por que é assim?
Por uma única coisa: ao suprir necessidades, você passa a ser como
uma luva preenchida pela mão em operação. Jesus enche sua vida e
faz o que Ele ama realizar por seu intermédio. Você se interessa pelo
Seu bem mais valioso: pessoas. Não quem ganhe mais a atenção de
Deus do que aqueles que necessitam de algo.
A pessoa cheia e usada pelo Espírito para suprir a necessidade
dos outros anda na profundidade do poder espiritual. Discutiremos
isso com mais detalhes em um capítulo posterior.
Atingimos o conhecimento do Senhor fazendo o bem aos
outros. O Pai celestial está nisso, e é o que Ele está fazendo. Além do
que qualquer outra coisa, isso nos leva para perto dEle. Conforme
João destacou, aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é
amor (1 Jo 4.8 - ARA). Simplesmente, o fato é que conhecemos mais
o Pai quando distribuímos o Seu amor aos outros.
Também existe uma lei espiritual que tem efeito quando uma
pessoa exerce misericórdia para com os outros. Paulo disse: Porque
tudo o que o homem semear, isso também ceifará (Gl 6.7b). Jesus
demonstrou da seguinte forma: E com a medida com que tiverdes
medido vos hão de medir a vós (Mt 7.2b).
A orientação é também para nós atualmente. De acordo com
essa lei espiritual, se você não distribuir algo, não receberá coisa
alguma. Se der pouco, pode esperar que receberá na mesma medida.
Entretanto, se der tudo o que tem, você ficará em uma posição de
receber em abundância. Como disse o nosso Mestre: Sede, pois,
misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. Dai, e
ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando
vos darão; porque com a mesma medida com que medirdes
também vos medirão de novo (Lc 6.36,38).
Essas palavras não foram ditas no contexto do ganho material
proveniente de algum esquema para manipular Deus. O contexto
inteiro dessa passagem refere-se a amar os outros e exercer a
misericórdia. Você é abençoado quando vive para abençoar o
próximo. É assim bem simples. Você terá bênçãos de muitas
maneiras. O salmista revelou isso quando disse: Bem-aventurado é
aquele que atende ao pobre; o SENHOR o livrará no dia do mal. O
SENHOR o livrará e o conservará em vida; será abençoado na
terra, e tu não o entregarás à vontade de seus inimigos. O
SENHOR o sustentará no leito da enfermidade; tu renovas a sua
cama na doença (Sl 41.1-3).
Como você põe uma etiqueta de preço nesse tipo de bênção?
Nosso julgamento depende do que fazemos pelos outros. Jesus
usou a ilustração das ovelhas e dos bodes para mostrar essa verdade.
Aqueles mostrados como ovelhas alimentaram os famintos; deram
de beber aos sedentos; mostraram hospitalidade ao estrangeiro;
vestiram os nus; ajudaram os doentes e visitaram os prisioneiros. Os
marcados como bodes não tiveram tempo para essas coisas.
Sabemos, pela Bíblia, que as boas obras não nos garante lugar no
Céu, contudo, parece muito claro que elas são frutos reveladores de
uma pessoa realmente convertida. Por exemplo, considere o que
Jesus disse:

Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e


espaçoso, o caminho que conduz à perdição, e muitos
são os que entram por ela; e porque estreita é a
porta, e apertado, o caminho que leva a vida, e
poucos há que a encontrem. Acautelai-vos, porém,
dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como
ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores.
Por seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se
uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim,
toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má
produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus
frutos, nem a árvore má dar frutos bons. Toda árvore
que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo.
Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o
que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos
céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que
está nos céus. Muitos me dirão naquele Dia: Senhor,
Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu
nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome,
não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi
abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de
mim, vós que praticais a iniqüidade.
Mateus 7.13-23

Mais tarde, Tiago retomou o assunto ao escrever sobre a fé


salvadora:

Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele


que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa
sobre o juízo. Meus irmãos, que aproveita se alguém
disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura, a
fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem
nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum
de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-
vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para o
corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se
não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá
alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me
a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha
fé pelas minhas obras. Tu crês que há um só Deus?
Fazes bem; também os demônios o crêem e
estremecem.
Tiago 2.13-19

Não é por terem medo do inferno que os cristãos genuínos se


envolvem com a necessidade dos outros, mas porque crêem. Assim,
eles se doam em serviço às pessoas para ajudá-las.
Eles não consideram os benefícios de exercer a misericórdia
nem as conseqüências da recusa em praticar a compaixão. São,
simplesmente, compelidos pelo amor de Deus em seu interior.

MISERICÓRDIA FALSA
Mostramos bastante neste livro sobre a misericórdia e o que
ela significa pela perspectiva bíblica. Agora, temos de deixar de lado
as noções incorretas sobre o tema e não pensar mais nelas.
Qualquer coisa feita em nome da misericórdia que ponha as
necessidades temporais adiante das eternas não é de Deus. Quando
Jesus estava dependurado na cruz, muitas pessoas tentaram
persuadi-lO a descer de lá. Onde estaríamos hoje se elas tivessem
conseguido? Acontece o mesmo atualmente. Algumas vezes, Deus
trata Seus filhos com muito rigor. Depois, alguma alma bem-
intencionada aparece e, ao ver um irmão passando pela disciplina do
Senhor, tenta persuadi-lo "a sair da cruz" que o Pai lhe deu para
suportar.
Um dos participantes do nosso programa residencial era muito
cheio dessa falsa misericórdia. Durante o tratamento, Deus corrige
os homens para o seu próprio bem. Os indivíduos nunca mudariam
se não fosse por esse processo de correção. De fato, tal disciplina é a
misericórdia do Pai celestial com relação a eles, mas aquele interno
não agüentava ver os outros serem tratados pelo Onipotente com
rigor. Por querer que todos tivessem a mesma felicidade superficial
que ele tinha, não entendia o jeito do Senhor ajudar as pessoas por
meio da adversidade. Assim, na carne, com seu jeito emocional,
aquele homem sempre tentava colocar ataduras nas feridas que o
Todo-Poderoso havia feito! Teve de ser ensinado que, algumas vezes,
a misericórdia parece cruel, mas é exatamente o que a pessoa precisa
naquela ocasião e, portanto, também é benignidade.
Outro exemplo de falsa misericórdia é apiedar-se de alguém à
custa dos outros. Houve uma ocasião nos Estados Unidos em que
um assassino convicto era executado poucos dias após a sua
condenação; às vezes, era inocente. Em nome da misericórdia, os
ativistas abraçaram a causa de proibir que isso acontecesse e
prolongaram o processo de alguns dias para cerca de dez anos.
Agora, tais ativistas estão tentando eliminar completamente a pena
capital pela suposição de que ela não impede a criminalidade.
Naturalmente, ela não obstrui o crime! Tornaram tão difícil
condenar um assassino, sentenciá-lo à morte e fazer com que a
execução realmente aconteça, que os criminosos comuns
praticamente não têm mais medo da lei.
Sim, é verdade, desde que os liberais tiveram acesso ao nosso
sistema judiciário, poucos inocentes foram sentenciados por crimes.
Mas, em troca desses beneficiados (que, geralmente, são criminosos
no lugar errado e no momento errado), existem milhões de vítimas
todos os dias no país, porque a criminalidade cresce de modo
desenfreado. Os liberais impuseram suas idéias a tal ponto que os
direitos dos criminosos excedem aos do inocente cidadão comum.
Isso não é misericórdia.
Teria sido piedade para todos se a Justiça pusesse medo
naqueles que pensam em cometer um crime. Isso pode parecer duro
demais, mas, realmente, é a misericórdia para todos os envolvidos.
Outro exemplo de compaixão falsa é vista quando uma pessoa
quer apaziguar uma manipulação pecaminosa. É misericórdia dar
um brinquedo para um garoto porque ele teve uma explosão de
raiva? Ou uma jovem casar-se com um homem que ela não ama
porque ele ameaça cometer suicídio se ela não o fizer? Seria um ato
misericordioso um conselheiro nos Ministérios Pure Life deixar um
estudante seguir o próprio caminho, sabendo que isso iria prejudicá-
lo? Naturalmente, a resposta a todas essas perguntas é não. A
piedade supre necessidades, não o controle pecaminoso de alguém
que, simplesmente, deseja fazer as coisas do próprio jeito.
A seguinte canção de Ira B. Wilson daria uma oração
maravilhosa:

FAÇA DE MIM UMA BÊNÇÃO


Nas estradas e atalhos da vida,
Há muitos cansados e tristes;
Leve a luz onde reinam as trevas,
Faça dos sofredores pessoas felizes.

A doce história de Cristo e do Seu amor


Conte e fale do Seu poder de perdoar;
Outros confiarão nEle se você provar
Que é verdade todos os momentos da vida.
Dê como lhe foi dado ao precisar,
Ame como o Mestre o amou;
Dê ajuda aos desamparados,
Seja você fiel à sua missão.

CORO
Faça de mim uma bênção,
Faça de mim uma bênção,
Em minha vida...
Que Jesus brilhe;
Faça de mim uma bênção,
Ó Salvador, eu oro,
Faça de mim uma bênção
Para alguém no dia de hoje.2
Meditação para Hoje

Se amamos o Senhor e nos damos a Ele, temos de nos dar ao


mundo inteiro. De outra forma, estaríamos separando a nossa
experiência com Deus da Sua grandeza e de Sua infinita presença e
dedicando-nos ao nosso deleite particular.
Um dos milagres santos que o amor faz é o de não conseguir
parar, uma vez tendo realmente iniciado o seu caminho; espalha-se
em círculos sempre crescentes até o mundo inteiro ser abarcado pelo
Pai celestial. Começamos amando os mais próximos de nós,
terminamos amando os que parecem mais distantes. À medida que
nosso amor expandir-se, toda a nossa personalidade crescerá de
modo lento, mas verdadeiro. Toda nova alma, tocada por nós com
amor, irá ensinar-nos algo novo do Altíssimo.
Um dos pensadores disse: "Deus não pode habitar em um
coração estreito; nosso coração é tão grande quanto o nosso amor.
Meditemos sobre isso e meçamos a nossa oração e nosso serviço
comparados com a imensa generosidade do Supremo".1
Evelyn Underhill

Se você é devotado à causa da humanidade, logo ficará exausto


e terá seu coração machucado pela ingratidão, mas, se a fonte do seu
serviço for o amor por Jesus, você poderá servir aos homens, ainda
que eles o tratem como um capacho de porta.2
Oswald Chambers

Onde você contemplar campos maduros,


Acenando para Deus seus molhos dourados,
Esteja certo de que algum grão de trigo morreu,
Alguma alma santa foi crucificada,
Alguém sofreu, chorou, orou e lutou
Contra as legiões do inferno, sem esmorecer.3
A. S. Booth Clibborn

Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão


misericórdia.
Jesus Cristo - Mateus 5.7
Treze
Aqueles que exercem a misericórdia

Em um capítulo sobre a vida de pessoas que praticaram a


misericórdia do Senhor, você saberá de histórias que resistiram ao
tempo a respeito de grandes homens e mulheres de Deus.
Certamente, há muitos exemplos daqueles que o Soberano levantou
para suprirem alguma necessidade. Para a exótica Índia,
impregnada das práticas ímpias do hinduísmo, Ele enviou William
Carey, que passou ali 41 anos, traduzindo a Bíblia inteira em seis
idiomas e porções dela em 29 outras línguas. Para a África, sinistra
pela água infestada, pelos animais selvagens perigosos e pelas
florestas que não estão no mapa, o Todo-Poderoso levantou David
Livingstone, que passou a vida toda explorando o continente e
evangelizando aquele povo.
No último século, Deus enviou Madre Teresa aos cortiços de
Calcutá; Jackie Pullinger aos viciados de Hong Kong; o Irmão André
aos crentes esquecidos da Cortina de Ferro, e David Wilkerson para
as gangues de Nova Iorque. Estes e outros foram levantados pelo
Altíssimo para tocar com amor as pessoas necessitadas. Suas
trajetórias expressam o melhor da vida cristã vitoriosa.
Em vez de recontar as suas histórias bem-conhecidas, sinto o
Senhor levando-me a compartilhar os relatos de certas pessoas que
exercem a compaixão, as quais conheço pessoalmente. Compreendo
a sabedoria disso. Em primeiro lugar, conheço de perto suas
narrativas; não tenho de confiar na observação dos outros. Em
segundo, e talvez o mais importante, eles não são "grandes homens e
mulheres", mas indivíduos comuns, como você e eu, os quais Deus
tocou. São pessoas com as quais podemos relacionar-nos. Você,
provavelmente, jamais se relacionaria com alguém como Martinho
Lutero, mas pode ter ligação com suas histórias. Tendo dito tudo
isso, vejamos a vida de quatro homens e suas respectivas esposas,
dispostos a serem usados pelo Senhor.

***
O ministério de Nelson Hinman durou 62 anos. Fui um dos
poucos privilegiados a falar em seu jantar de aposentadoria em 1995.
Não sabia que ele partiria para o amado Salvador um ano depois.
Após servir em um cargo na Marinha, Nels começou a pregar
como "o marinheiro evangelista". Logo ele foi requisitado em todo o
país. Em 1944, pediram-lhe que fosse o pastor do famoso templo
Betel em Sacramento, uma das maiores igrejas da Califórnia.
Servindo lá, tornou-se capelão do Senado daquele Estado.
Nels tinha uma personalidade carismática, mas sua mulher
sabia como ele era por trás das portas fechadas. A pessoa que ela
conhecia portava-se com freqüência de modo muito diferente do
pastor amável que todos viam. O Pr. Hinman tinha um problema
sério com a raiva. "Às vezes, eu ficava bravo com minha esposa.
Alguém batia à porta e eu, instantaneamente, transformava-me na
pessoa mais gentil que existia. Você não conseguiria perceber que,
um minuto antes, eu estava em uma daquelas brigas horrorosas com
minha mulher".
Depois de 29 anos de casamento, a Sra. Hinman havia visto
hipocrisia suficiente. Uma amargura turbulenta se formou aos
poucos em seu coração. Certo dia, ele foi para casa, e ela
simplesmente tinha desaparecido. Demorou um tempo até Nels
descobrir que ela fugira com outro homem. Ninguém ficou mais
chocado do que Nels. Ele andou tão iludido pelo seu
comportamento, que nem sabia da existência de um problema no
casamento deles.
Alguns anos mais tarde, já no segundo casamento, ele
descobriu que sua mulher também estava para deixá-lo e ficou
perplexo. Foi quando um de seus amigos mais chegados lhe
perguntou: "Já parou para pensar que o problema pode ser você?".
Nels Hinman se propôs a encontrar a ajuda de que precisava, o
que o levou até um homem chamado John Broger, um ex-oficial de
inteligência da Marinha, que ensinava as pessoas a vencerem seus
problemas por meio de princípios bíblicos. O sujeito fascinou Nels.
Quanto mais estudava, mais esperança brotava em seu coração de
que não apenas podia vencer o seu problema de raiva, como também
as pessoas poderiam vencer qualquer dificuldade, usando os
ensinamentos encontrados na Bíblia.
A segunda mulher de Nels acabou morrendo. Foi quase na
mesma época em que ele escreveu An answer to humanistic
psychology [Uma resposta à psicologia humanista], publicado pela
Harvest House. Nos anos seguintes, ele começou a ensinar técnicas
de aconselhamento bíblico em diferentes igrejas da Califórnia. Em
Redding, ele se interessou por uma das suas estudantes, também
viúva recente. Nels e Juanita se casaram em 1985.
Dessa vez, ele foi um marido diferente. Qualquer um que
passasse um tempo com aqueles dois sabia como Nels a tratava
ternamente. Por exemplo, ele determinou que sua mulher nunca
abriria uma porta se ele estivesse por perto. Essas pequenas
gentilezas revelavam a mudança ocorrida em seu interior. Juanita
jamais experimentou a ira que as duas primeiras esposas de Nels
conheceram tão bem. Se ele não contasse abertamente sobre o que
havia governado a sua vida anteriormente, ela nunca teria percebido.
Mais tarde naquele ano, os recém-casados foram a
Sacramento, convidados para falar em um programa diário de rádio
da KFIA. O gerente geral da estação ficou tão impressionado com o
que eles estavam ensinando, que lhes ofereceu uma hora diária
naquela emissora. Foi criado o programa Heart Talk [Conversa do
Coração].
Aqueles foram anos felizes para Nels e Juanita. Durante o dia,
quando não estavam ensinando em uma escola bíblica local (que um
ávido estudante chamado Steve Gallagher freqüentava) e no
programa diário de entrevistas, os Hinmans dedicavam-se a longas
horas de aconselhamento.
Quando Nels se casou com Juanita, ela possuía uma poupança,
que lhe dava uma sensação de segurança para a sua aposentadoria.
Como nunca cobravam pelo aconselhamento, e as doações jamais
cobriram as contas imensas do programa de rádio, eles gastaram
rapidamente todas aquelas economias. Durante anos, viveram com
pouquíssimo, para que pudessem ajudar os outros.
O programa de rádio era bastante popular em Sacramento.
Isso era evidente pela extensa lista de pessoas que queriam ser
aconselhadas. Um dia, a secretária falou: "Você sabe que estamos
agendando reuniões com três meses de antecedência?".
Nels não aceitou isso: "É como ir ao hospital com um apêndice
supurado e ter de voltar três meses depois!".
Os Hinmans decidiram iniciar os cursos de casamento e a fazer
com que a freqüência fosse obrigatória a todo casal que desejasse
aconselhamento. O ensino era tão bom, que os problemas conjugais
acabavam durante as seis semanas de aula.4
Encontrar espaço adequado para as aulas tornou-se um
problema. As pessoas, frustradas com a falta de resultado da
psicologia "cristã" convencional, ficavam fascinadas com os
conceitos bíblicos que elas ouviam. Logo, indivíduos de todo o norte
da Califórnia passaram a freqüentar as aulas. Nels e Juanita também
começaram a ensinar pessoas leigas a auxiliarem outros cristãos,
usando a Palavra de Deus. Treinar outros para esse trabalho aliviou
os Hinmans do fardo pesado daqueles que precisavam de orientação
bíblica.
Durante dez anos, apesar da oposição tremenda da
comunidade cristã, Nels Hinman firmou sua crença de que a Bíblia
deveria ser a única Fonte de respostas para os problemas das
pessoas. O texto de 1 Coríntios 4.6, Não ir além do que está escrito,
tornou-se o lema do programa. A programação, que levava ao ar o
aconselhamento, ensinou às pessoas, todos os dias, que Deus era
confiável para resolver as suas dificuldades. Não podemos saber o
impacto pleno de Heart Talk na comunidade cristã de Sacramento.
Muitas pessoas aprenderam a viver em vitória, aplicando os
princípios e padrões bíblicos em seu cotidiano.
Deus usou a vida misericordiosa de Nels Hinman de modo
tremendo a fim de suprir a necessidade daqueles ao seu redor.
Muitas pessoas agradecidas, presentes tanto no jantar de
aposentadoria quanto em seu funeral, eram testemunhas reais de
vidas transformadas e afetadas por seu amor pela verdade.

***
À primeira vista, a história de Dick Engel parece fora de
propósito neste capítulo. Ele nunca esteve em tempo integral no
ministério e, na verdade, não se vê sob esta perspectiva. Crescido na
United Church of Christ [Igreja de Cristo Unida], Dick sempre
assumiu que estava levando uma vida cristã. Quando se casou, ele e
sua mulher, Kathy, começaram a freqüentar a mesma igreja, que era
tudo o que ele conhecia.
"Pouco depois que comecei a freqüentar aquela congregação,
Kathy começou a ter experiências estranhas com Deus", conta ele.
"Eu não entendia o que estava acontecendo, nem o nosso pastor".
Sob intensa convicção do Espírito Santo, Kathy encontrou o Senhor,
mas demorou quase um ano a que Dick percebesse a sua
necessidade.
Uma vez salvos, foram absorvidos pelas necessidades da igreja.
"Deus nos deu um amor real pelas crianças. Ensinávamos na escola
dominical e nos envolvíamos totalmente com o grupo de jovens. Não
demorou muito, ficamos totalmente comprometidos com os jovens".
Com um coração sincero para o ministério, Kathy esperava
que, um dia, juntos, eles pudessem pastorear uma igreja, mas Dick
nunca se sentiu confortável com essa idéia. "Sempre quis estar no
ministério de socorro. O pastor não pode fazer tudo sozinho. Ele
precisa de gente disposta a ajudá-lo. Prefiro estar nos bastidores,
fazendo o que puder para ajudar".
Dick e Kathy acabaram indo para Cincinnati. Kathy trabalhava
como enfermeira diplomada, e Dick, como gerente de uma fábrica de
molduras para quadros de Florence, Kentucky. Foi assim que nós, do
Pure Life Ministries [Ministérios Vida Pura], encontramos Dick.
Os homens do programa de residência Pure Life têm empregos
externos durante a sua permanência de seis meses. A maioria
consegue trabalho nas agências locais de serviço temporário, com as
quais estabelecemos relações. Um empregador os chama pedindo
trabalhadores, e a agência temporária recebe uma taxa para cada
pessoa aceita.
Durante anos, trabalhamos com muitos empregadores, mas
nunca com alguém como Dick Engel. "Quando eu chamava Dick e
lhe contava sobre um rapaz que precisava de colocação, eu era
totalmente honesto com ele sobre os problemas que tivemos com a
pessoa", relatou-me um dos nossos conselheiros. "A maioria dos que
enviamos é de homens que ninguém mais contrataria. Ele nunca
recusou aqueles rapazes".
Muitos que estão no programa de residência possuem um
passado típico, de trabalho. Tiveram empregos a vida toda, e serem
contratados por uma agência temporária não é problema. Às vezes,
entretanto, surgem casos difíceis: aqueles que, por várias razões, não
conseguem firmar-se no trabalho; rapazes com dificuldade em se
relacionar com outras pessoas; outros que não conseguem trabalhar
muito por causa de alguma limitação física; alguém que tem
problema em compreender ordens simples. Todas as vezes que
tivemos uma pessoa difícil de ser recolocado no mercado de
trabalho, Dick Engel estava disposto a contratá-la.
Mas não termina aqui. Não apenas ele tem-se disposto a
contratar esses casos complicados, como também se envolve na vida
de cada um. "Algo de que gosto no Dick é que o interesse pelos
problemas dos rapazes sempre vem na frente dos negócios",
compartilhou o nosso conselheiro. "Se tivesse de tomar uma decisão
sobre um dos rapazes, sempre nos chamava primeiro, para saber se
não teria um efeito prejudicial na vida da pessoa".
Sua paciência com pessoas difíceis é quase lendária em Pure
Life. Alguns daqueles que mandamos não se relacionava bem com os
outros. Dick dá boas-vindas com os braços abertos de um pai
amoroso e trabalha com eles, disposto a ser paciente com os mais
problemáticos. Não é que ele esteja apenas disposto a aceitar e
tolerar os casos complicados, mas ele nos chama e pede por eles!
Há ocasiões em que nossos rapazes têm confrontos de
personalidade no emprego. Dick permanece sereno. Ele,
simplesmente, reúne os homens e conversa com eles. Dick possui
uma habilidade real de trazer a paz até nas situações mais tensas. É
uma presença tranqüilizadora no local de trabalho. Os rapazes
confiam nele.
Dick Engel é um homem muito singular. O que o faz especial é
sua disposição em amar as pessoas como o Senhor o amou.

***
Robert Carrillo experimentou uma das transformações mais
radicais que já vi em todos os meus anos de ministério. Casado e
com quatro filhos, Robert era um drogado sem esperanças, em
Sacramento. Seu vício o fez tão egoísta, que ele seria capaz de roubar
o dinheiro do seguro-desemprego e o vale-refeição da mulher para
comprar drogas, deixando-a procurar comida no lixo para alimentar
as crianças.
Certa ocasião, ao dirigir sua motocicleta pela rua, Robert foi
multado por velocidade. Quando o guarda enviou a mensagem por
rádio para o despachante, este respondeu que Robert tinha sete
ordens de prisão. O policial sabia que tinha nas mãos um mau
caráter. O guarda, que era cristão, preparava-se para prender
Robert, quando o Senhor falou-lhe que não o prendesse, mas lhe
falasse de Jesus. Antes de terminar o encontro, Robert havia
entregado a vida a Cristo.
Mais tarde, o policial levou Robert para a maior igreja da área,
Trinity Church, em Sacramento. Por coincidência, um evangelista
convidado falava sobre ministrar aos sem-teto. Robert entendia o
que era ficar sem casa, porque tinha estado sem abrigo muitas vezes
na vida. Os que participaram da conferência passaram o sábado
alimentando mendigos congregados no bairro pobre. Depois que a
conferência terminou, o evangelista deixou a cidade, rumo ao seu
próximo destino.
Para Robert, contudo, era apenas o começo. Na manhã
seguinte, ele voltou ao bairro pobre, reuniu 22 homens e levou-os
para o luxuoso santuário da Trinity Church. O pessoal da igreja ficou
chocado. Os homens eram rudes, malcheirosos e com a aparência
em desordem.
À noite, quando chegou a hora de Robert levar os homens de
volta para o bairro pobre, ele não conseguiu. Olhou para Beverly, sua
mulher, para lhe contar o problema, mas Deus já havia falado com
ela. "Eu sei, Robert, o Senhor já me disse. Você está trazendo os
homens para casa".
Naquela noite, Robert levou os 22 homens para o seu
apartamento de dois quartos. As crianças dormiram no quarto dos
pais, e os homens em algum lugar onde havia espaço. O ministério
Lord's House [A Casa do Senhor] para os desabrigados começou
naquela noite.
Nos vários anos seguintes, o Pr. Leroy Lebeck de Trinity teve
muito o que fazer. "Quando esses homens começaram a seguir o
Senhor, quase sempre a velha natureza se manifestava e havia
brigas, às vezes de faca, no estacionamento da igreja. Comecei a me
perguntar em que nos havíamos metido e se não precisávamos de
seguranças na igreja, em vez de diáconos".
O próprio Robert se envolveu em 13 brigas na igreja durante os
primeiros anos de ministério. Nisso tudo, o Pr. Lebeck ficou perto de
Robert, mesmo quando alguns estavam pedindo que ele o expulsasse
da igreja. Depois da última briga, Robert foi até o pastor e confessou
que tinha acabado de brigar novamente.
"Robert, você o matou?".
"Não, não foi tão ruim desta vez".
"Bem, as coisas estão melhorando".
Antes disso, Robert e Bev começaram a freqüentar as aulas de
aconselhamento de Nels e Juanita Hinman. Gradualmente, graças à
paciência da equipe de Trinity, à ajuda pessoal dos Hinmans e à obra
do Espírito Santo, Robert e Bev começaram a mudar.
Hoje, o ministério Carrillo fornece 15 mil refeições por mês.
Dão oito mil dessas refeições para os que ficam temporariamente no
bairro pobre. Centenas de caixas de comida são feitas para as
famílias trabalhadoras; "assim, elas podem comprar roupas para
seus filhos e outras coisas que, normalmente, não poderiam
comprar". Além disso tudo, eles têm um programa de discipulado
em uma mansão reformada no centro da cidade.
"Nosso objetivo", diz Bev, "é compartilhar com os outros,
assim como foi compartilhado conosco no passado, e ensinar-lhes a
importância do amor de Cristo".
Seguramente, a vida de Robert e Beverly Carrillo é um exemplo
brilhante de como Deus distribui Sua misericórdia para os
necessitados deste mundo.

***
Jimmy Jack cresceu em uma família grande, problemática, em
Long Island, Nova Iorque. Quando entrou no Ensino Médio, usava
drogas pesadas e tinha cinco condenações por crimes graves. Nos
vários anos seguintes, Jimmy tentou satisfazer a fome insaciável do
seu vício. Certa noite, isso quase terminou em tragédia.
"Meu melhor amigo, Billy, e eu fomos ao Lower East Side de
Manhattan e compramos quatro sacos de heroína. Aspirei um saco e,
depois, segurei o braço do Billy enquanto ele injetava três sacos.
Billy tomou uma dose excessiva, e a vida começou a deixá-lo. Tentei
de tudo o que podia para salvá-lo, mas não adiantou. A única coisa
que sobrou foi gritar para Deus. Então, clamei ao Senhor e,
milagrosamente, uns paramédicos vieram não sei de onde.
Começaram a fazer ressuscitação cardio-pulmonar, tentando salvá-
lo. Eu os ouvi dizer: "'Ele se foi'. Implorei para que continuassem
trabalhando, enquanto eu me ajoelhava ao lado do carro e gritava
em voz alta: 'Ó Deus, salva o Billy, e entregarei a minha vida inteira
para Ti'. De repente, ele ressuscitou!".
Embora tivesse prometido entregar a vida para Jesus, Jimmy
continuou no mesmo caminho. Totalmente envergonhado pelo seu
voto não-cumprido, ele tentava acalmar sua consciência com mais
drogas. As coisas pioraram. Certa ocasião, alguém roubou a van em
que ele morava. Ela continha tudo o que ele possuía. Sentindo que
não daria mais para agüentar, Jimmy saiu e se drogou com crack,
acabando em um bar da redondeza. Não demorou a que os efeitos do
álcool também se manifestassem. Sua depressão virou raiva.
Do outro lado do bar, estava sentado um outro camarada que
não estava bem e também mostrou uma certa atitude. Os dois,
então, olharam-se com ódio. Jimmy estava carregando uma chave de
fenda afiada e andou na direção do homem para apunhalá-lo. De
repente, um velho amigo chamado George entrou e viu o que estava
acontecendo. Ele correu para Jimmy e prendeu seus braços,
advertindo-o a não "fazer nenhuma idiotice". Jimmy se rendeu, e
George o levou para o Centro do Desafio Jovem, uma instituição
para drogados.
Depois de três meses no programa, Jimmy se casou com sua
namorada, Miriam, e eles foram para uma escola bíblica da
Assembléia de Deus. Depois da formatura em 1989, Jimmy voltou a
Nova Iorque e fundou o Desafio Jovem de Long Island. Desde então,
o ministério se expandiu, incluindo uma igreja de 500 pessoas, um
lar que abriga 30 homens e uma casa para 15 mulheres.
Mas a história real de Jimmy Jack não se encontra no tamanho
do ministério, mas na medida do seu coração.
"Jimmy Jack nunca desiste de uma pessoa", declara Jeff Colon,
diretor do programa residencial de Pure Life. "Ele está sempre
disposto a cooperar comigo". Jeff deve saber, tendo passado pelo seu
programa antes de vir a Pure Life. "Ele está constantemente
envolvido com os problemas dos outros. Tem um amor tão grande
pelas pessoas, que está disposto a fazer o que for necessário para
ajudá-las. Não importa o quanto isso lhe custe".
Isso significou muito para a mulher de Jess, Rose, a qual,
freqüentemente, chamava Jimmy e Miriam no meio da noite, por
causa dos problemas de Jeff com o vício das drogas. "Não importava
a hora do dia ou da noite. Eu, sabia que, quando chamasse, eles não
iriam achar que eu os estava incomodando", lembra-se Rose.
"Estavam ali para me ajudar".
Outro exemplo do cuidado de Jimmy pelas pessoas é visto nas
cruzadas de rua que ele organiza na área dos guetos, no verão. "Às
vezes, a atmosfera estava carregada de hostilidade", lembra Jeff.
"Houve ocasiões em que as pessoas até atiraram garrafas no Jimmy
enquanto ele estava pregando, mas ele é do tipo que ignora o ódio
delas. Simplesmente, continua a lhes dizer que elas precisam de
Jesus".
A vida de Jimmy e Miriam Jack é um exemplo adicional que
ilustra como Deus distribui Seu amor, usando vasos de misericórdia
para auxiliar aqueles considerados pelas demais pessoas impossíveis
de se amar.

***
Na verdade, esses santos preciosos são exemplos da vida de
vitória disponível ao crente. O cristianismo se manifesta por suas
obras exteriores, mas existe um outro aspecto da vida de
misericórdia que ninguém vê, a não ser Deus.

Meditação para Hoje

Se você conseguir derrotar o diabo na questão da oração diária,


constante, poderá derrotá-lo em todos os aspectos. Se ele puder
vencer você ali, conseguirá derrubá-lo em qualquer área.
Anônimo

A oração cobra e é exigente. Orar significa persistência. Oração


quer dizer negar o eu, uma morte diária por escolha [...]. No entanto,
entregaríamos ao Senhor algo que não nos custe algo? Teremos de
sacrificar coisas preciosas em nossa vida, se formos aprender a
grande arte da intercessão.1
Leonard Ravenhill

Diz-se, freqüentemente, que a oração é a maior força do


Universo. Não é exagero. Ela suporta a repetição constante. Nessa
era atômica, quando estão sendo liberadas forças que espantam o
pensamento e a imaginação do homem, é bom lembrar que a oração
transcende todas as forças.2
F. J. Huegel

Como somente a luz branca do poder do Calvário pode dissipar


as obras negras das trevas, as únicas pessoas que têm condições de
mudar as circunstâncias de frieza e reverter a onda do mal que passa
dos limites são aquelas que oram em Nome de Jesus.
Mas a preguiça é a marca de identificação da raça de Adão, no
que diz respeito à responsabilidade espiritual. Optamos antes por
culpar Deus em vez de confiarmos nEle; reclamar dEle, em lugar de
invocá-lO. Quantos de nós optaríamos por acusar o Todo-Poderoso
de negligência quando o maligno vem contra nós, em vez de
convidar Sua onipotência a expulsar o obreiro do inferno?3
Jack Hayford
Catorze
A oração da misericórdia

Kathy e eu somos muito diferentes em termos de


personalidade. Ela tem o coração radiante e divertido, enquanto sou
propenso a ser sério e trabalhador. Ela é uma pessoa voltada para as
pessoas, e eu fico feliz dentro de uma sala, em algum lugar, com um
computador. Ela é estável e equilibrada; eu sou motivado, forte e,
algumas vezes, afobado.
Entretanto, não há lugar em que as diferenças em nossas
personalidades sejam mais notórias do que na nossa vida de oração.
Sou do tipo que "caminha enquanto ora". Nos últimos 15 anos, andei
quase 20 mil quilômetros em oração. É muita sola de sapato! Andei
entre os bancos das igrejas, para cima e para baixo, nas ruas escuras
de madrugada, em parques, em cursos de golfe, nos bosques, nos
pastos e em centros comerciais. Quando estou no país, levanto cedo,
tomo café enquanto estudo a Bíblia e, depois, saio para a minha
caminhada costumeira de oração. Para mim, é a forma mais fácil de
me ligar a Deus.
A vida de oração de Kathy se desenvolveu de um jeito
diferente. Todo dia, ela se senta na cama e escreve suas orações em
um pequeno fichário. Ao longo dos anos, as páginas se acumularam
a ponto de encher toda uma caixa. Ela não parece querer jogá-las
fora!
Quando vi a caixa de orações, ocorreu-me o quanto elas são
preciosas para Deus. Aprendemos no Apocalipse que, quando o
sétimo selo for quebrado, as orações dos santos serão derramadas
sobre o altar de ouro em frente ao trono e, junto ao incenso que
queima, subirão diante do Pai. Na Bíblia, aroma e fragrância são
sempre símbolos de sacrifício. Isso é muito precioso aos olhos do
Senhor.
A oração que traz muito benefício no céu é sacrificial por
natureza. Se oferecer misericórdia é suprir as necessidades de outro,
então, a oração de compaixão é o apelo para o Altíssimo prover
aquilo de que uma pessoa precisa, para a qual não obtemos recursos
por nós mesmos. Vamos ao Supremo em favor do outro, pedindo-
Lhe que atenda às necessidades daquela pessoa conforme Ele achar
adequado.
ORANDO COM AUTORIDADE
O segredo da oração respondida é orar de acordo com a
vontade de Deus. Jesus assegurou:

Na verdade, na verdade vos digo que aquele que


crê em mim também fará as obras que eu faço e as
fará maiores do que estas, porque eu vou para meu
Pai. E tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei,
para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes
alguma coisa em meu nome, eu o farei. Se me
amardes, guardareis os meus mandamentos.
João 14.12-15

Quando Cristo disse que faria tudo o que fosse pedido em Seu
Nome, isso significa que posso pedir que um carro seja entregue na
porta da frente da minha casa? Descobrimos, por meio das orações
não-respondidas, que existe algo mais no princípio da oração em
Nome dEle do que simplesmente encerrar nossas súplicas com a
expressão: em Nome de Jesus.
O que significa orar dessa forma?
Parece que os Ministérios Pure Life sempre estiveram
envolvidos com projetos de edificação. Somente nos primeiros cinco
anos, geralmente com uma equipe de três ou quatro obreiros de uma
vez, construímos sete edifícios, dois celeiros e montamos dois
trailers. Posso dizer que foi tudo feito com pouco dinheiro no bolso,
pouca ajuda e um grão de mostarda de fé.
Houve ocasiões em que um dos nossos rapazes precisava ir até
a cidade comprar alguns materiais. Geralmente, quando isso
acontecia, eu o enviava à loja com um cheque assinado para adquirir
o necessário. Tudo o que ele tinha a fazer era preencher a quantia.
Com freqüência, nem sei o que ele ia comprar.
Esta é uma boa ilustração de pedir algo ao Pai em Nome de
Jesus. Foi-nos dado um "cheque" em branco com a assinatura de
Jesus Cristo. Esse documento nos autoriza a comprar aquilo de que
precisamos para o projeto no qual estamos trabalhando. O "cheque"
é aceito, não por causa da nossa confiabilidade, mas porque aquela
assinatura é respeitada. Se eu mandar um dos meus obreiros
comprar tinta, o pagamento é aprovado, não porque o obreiro é
conhecido, mas porque se sabe que os Ministérios Pure Life
honrarão aquele compromisso.
Da mesma forma, é pelo Nome de Jesus que nossas petições
são marcadas com o selo aprovadas ao serem apresentadas no Céu.
É por causa do respeito pelo Nome que aparece tal assentimento nos
pedidos, não pelo nosso mérito.
O que você acha que aconteceria se um dos nossos obreiros
aparecesse em uma loja de departamentos e, em vez de comprar
tinta, entrasse em uma farra e comprasse roupas, equipamentos
esportivos, sapatos finos, uma televisão e um aparelho de DVD?
Você acha que o empregado da loja não suspeitaria?
O Nome de Jesus significa que vamos para a loja do Céu
adquirir o que Ele nos mandou comprar. Estamos orando conforme
a Sua vontade. João disse: E esta é a confiança que temos nele: que,
se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve. E,
se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que
alcançamos as petições que lhe fizemos (1 Jo 5.14,15). Qual é o
desejo do Senhor? Que as necessidades do próximo sejam supridas.
Você nunca errará se clamar pelo que os outros precisam!
Entretanto, o mesmo não pode ser dito sobre as orações
egocêntricas. Tiago exemplificou: Pedis e não recebeis, porque pedis
mal, para o gastardes em vossos deleites (Tg 4.3).

INTERVENÇÃO NA CRISE
Intercessão significa ir ao Pai, intervindo em favor do próximo.
A descrição real disso é a de um advogado de defesa que vai até o
juiz representando seu cliente; ou melhor, representa, com os
próprios recursos, as pessoas pobres, porque elas não têm como
pagar a ele. Aquele profissional vê a necessidade e aceita a
responsabilidade daquele caso. Uma vez que concorde em aceitar o
processo, ele compromete-se a levar a cabo a tarefa e faz tudo,
dentro das suas possibilidades, para defender adequadamente o seu
cliente, tomando para si o problema.
Suponha que um artista trapaceiro e falante, o qual ficou rico
enganando os que não desconfiavam dele, tenha roubado a
poupança da vida inteira de um casal de idosos. O advogado sente
compaixão por eles e concorda em assumir a ação sem cobrar. Ele
faz todo o trabalho de coleta de dados, encontra o trapaceiro e
localiza a conta bancária onde ele depositou o dinheiro. O
profissional põe o seu coração na causa. Sua generosidade pelo casal
compele-o a tratar do caso como se estivesse ganhando muito
dinheiro. Essas atitudes, naturalmente, são de misericórdia a fim
suprir a necessidade de alguém.
Existe um outro elemento crucial nessa história: o juiz. Nesse
cenário, ele é um homem idoso, benevolente, que também sente
compaixão pelo casal, pois compreende a questão e está
comprometido em ver a justiça ser feita nesse caso. Assim, para ter
certeza de que o advogado não pedirá uma compensação pequena
demais para o casal, ele, secreta e sutilmente, faz o advogado saber
que é muito receptivo àquele processo. Naturalmente, não seria ético
chegar logo e dizer isso, mas ele cuida para que o advogado perceba.
Quando, finalmente, o advogado é capaz de ir diante do juiz
reclamar pelos danos, você acha que ele ficará satisfeito ao receber o
mínimo para essas pessoas? Não! Ele apresentará a causa ao juiz,
requerendo uma indenização considerável. O conhecimento prévio
das boas intenções do juiz motiva aquele profissional e lhe dá, na
corte, a confiança de que precisa.
Ao orarmos pelos problemas de outra pessoa, tornamo-nos,
em essência, seu conselheiro legal. Intercedemos porque vemos a
sua necessidade e sentimos compaixão por ela. Tal sentimento nos
move a buscar o Pai celestial em benefício dela várias vezes se
necessário. Não descansamos enquanto não vemos aquela
necessidade suprida. Diante de Deus, não buscamos uma pequena
resposta, mas queremos uma grande solução! O Senhor nos diz que
Ele olha muito favoravelmente para os pedidos que chegam por
intermédio de Jesus em prol dos necessitados. Não vamos diante do
Todo-Poderoso esperando uma colher de sobremesa de águas vivas,
mas, sim, um dilúvio!

ANATOMIA DA ORAÇÃO DE INTERCESSÃO


Certo dia, os discípulos pediram a Jesus que lhes ensinasse a
orar. Depois de compartilhar com eles a oração do Senhor — o Pai-
Nosso, que é toda misericórdia —, Ele contou-lhes uma história.

Disse-lhes também: Qual de vós terá um amigo e,


se for procurá-lo à meia-noite, lhe disser: Amigo,
empresta-me três pães, pois que um amigo meu
chegou a minha casa, vindo de caminho, e não tenho
o que apresentar-lhe; se ele, respondendo de dentro,
disser: Não me importunes; já está a porta fechada, e
os meus filhos estão comigo na cama; não posso
levantar-me para tos dar. Digo-vos que, ainda que se
não levante a dar-lhos por ser seu amigo, levantar-
se-á, todavia, por causa da sua importunação e lhe
dará tudo o que houver mister.
Lucas 11.5-8

Trata-se de uma descrição maravilhosa de como as orações são


respondidas no Reino de Deus. Há seis pontos diferentes para serem
extraídos desse texto.
Primeiro, a pessoa que vai até o vizinho é um amigo. Não
somos chamados para salvar o mundo inteiro. É-nos pedido tomar
os fardos daqueles que entram em nossa vida com necessidades. Se a
pessoa for realmente um amigo ou apenas alguém que conhecemos,
não importa. Quando investimos na vida dos nossos semelhantes,
suas dificuldades, suas aflições, suas esperanças e seus sonhos
tornam-se nossos. Assim como o bom samaritano, nós nos
envolvemos, em vez de atravessar para o outro lado da estrada como
os líderes religiosos antipáticos.
Segundo, vemos uma necessidade urgente. Seguindo a rota
que Paulo fazia freqüentemente, um amigo ministro e eu viajamos
pela Turquia, em um carro alugado, a caminho da antiga cidade de
Listra. Deixamos Icônio quando o sol se punha e nos dirigimos para
uma aldeia chamada Hatunsaray. Sabíamos pelos livros que Listra
nada mais era do que uma colina, localizada a alguns quilômetros de
uma pequena aldeia turca, mas queríamos ver a área de qualquer
forma.
Nosso nível de ansiedade aumentou quando vimos o sol
começando a se pôr atrás das colinas da Psídia. Finalmente, pouco
antes do pôr-do-sol, chegamos a Hatunsaray e encontramos apenas
um rebanho de ovelhas andando lentamente na rua principal da
cidade. Relutantemente, ficamos em fila atrás delas, resignados com
o fato de que não iríamos ver Listra naquela noite. Quando nos
movíamos a passos de tartaruga, notamos um homem do lugar em
pé, ao lado da estrada. Tentei perguntar onde era Listra, mas ele
somente lançou um olhar indagador às minhas tentativas de me
comunicar com ele. "Lis-tra?", perguntei. Ele encolheu os ombros.
Finalmente, um olhar animador apareceu no seu rosto, e ele
exclamou: "Lis-tra?".
"Sim! Sim", exclamei. Ajeitando-se para entrar no carro, ele
pulou para o banco traseiro e nos levou ao que tinha sobrado de
Listra. Tínhamos lanternas, mas logo descobrimos que lá realmente
não havia muita coisa para ver. Voltamos para a aldeia, satisfeitos
porque havíamos feito o possível para visitar o local onde Timóteo
cresceu e Paulo foi apedrejado.
Quando voltamos para a aldeia, o homem nos convidou para
bebermos chá com ele. No restante daquela noite, os homens da
aldeia nos recepcionaram como reis. Eles nos deram comida, chá e
nos trataram como velhos amigos perdidos. Passamos a noite na
casa de um dos líderes locais.
Na cultura do Oriente, se um viajante aparecer em sua casa,
você fará o possível para fazê-lo sentir-se bem-vindo. Você lhe dará
comida e um lugar para dormir. Uma vez que ele chegue à sua
residência, as necessidades dele são de sua responsabilidade.
Na história de Cristo, o anfitrião entende o seu dever. O
convidado tem de ser alimentado, mas não existe comida na casa.
Com grande embaraço, ele sai nas ruas da cidade, determinado a
encontrar alimento para o visitante.
O ponto de vista de Jesus é que existe uma grande urgência em
suprir os necessitados.
Jack Hayford salienta isso:

Jesus disse que a audácia foi a razão pela qual o


homem que buscava resolver um problema à meia-
noite conseguiu aquilo de que precisava. Não a sua
reverência, nem sua pouca sensibilidade por causa da
hora, não pelo cuidado, nem pelo seu respeito à
propriedade, mas pela sua ousada falta de vergonha.
Realmente, pela sua ousadia.
Não é o atrevimento de um espertalhão fazendo
exigências, mas a presteza de uma pessoa que está tão
ciente da necessidade, que abandona o protocolo
normal.4
Terceiro, vemos por que ele bateu à porta do seu vizinho com
uma persistência canina: pela incapacidade de atender à necessidade
por si mesmo. Se ele tivesse comida em casa, não teria razão para
pedir. Mas, como não podia suprir sozinho aquilo de que precisava,
teve de sair e encontrar alguém que pudesse provê-lo.
Não possuir os recursos próprios para suprir aquilo de que os
outros necessitam nos faz orar a favor deles. Algumas vezes,
podemos ajudá-los com nossas habilidades e nossos esforços. Foi o
que vimos nos dois capítulos anteriores. No entanto, há algumas
necessidades que, simplesmente, não temos condições de suprir
sozinhos; precisamos recorrer ao Juiz benevolente, que tem, por Si
mesmo, compaixão pela pessoa com dificuldade.
Quarto, o anfitrião desejava sacrificar-se para suprir a
necessidade do seu convidado. Você acha que ele estava animado em
sair da cama, no meio da noite, para bater à porta de um vizinho
insensível? Claro que não! Ele fez isso porque a alternativa de não
suprir a necessidade não era uma opção. Uma manifestação de vida
de vitória é quando as dificuldades dos outros pesam mais do que os
nossos confortos e desejos. Que espécie de cristão uma pessoa seria
se nunca aprendesse a pôr os problemas dos outros na frente dos
próprios? Certamente, seria qualquer coisa, menos vitorioso.
Quinto, a história ensina que ele foi até a porta de um amigo.
Tal relacionamento já estava estabelecido.
Quando buscamos o Senhor em benefício dos outros,
esperamos uma resposta, porque sabemos como é o Pai. Ele é
compassivo, mesmo que O acordem no meio da noite. Assim como
no caso do nosso juiz benevolente, é importante que vejamos a
abundância no coração de Deus. Não nos achegamos ao Todo-
Poderoso esperando migalhas de pão velho ressecado, mas um
banquete. O Supremo quer derramar bênçãos. A combinação certa
da necessidade e dos pedidos permite que Ele faça isso.
Finalmente, devemos ver a importância das batidas
incansáveis à porta da sala do trono. Deus está procurando aqueles
que não serão recusados ou mandados embora, e nem mesmo
aceitarão um não como resposta. Ele ama ouvir batidas naquela
porta! Note o que Ele diz aos judeus pelo profeta Isaías:

Ó Jerusalém! Sobre os teus muros pus guardas, que


todo o dia e toda a noite se não calarão; ó vós que
fazeis menção do SENHOR, não haja silêncio em vós,
nem estejais em silêncio, até que confirme e até que
ponha a Jerusalém por louvor na terra.
Isaías 62.6,7

Devemos parar de pensar que Deus tem de ser convencido do


bem. Algo tão precioso como uma alma não será ganho facilmente.
Uma guerra muito real é empreendida por aquela vida. Muita oração
é necessária para se apropriar das misericórdias divinas, as quais
suprem as necessidades da pessoa. Sempre que orarmos, o Senhor
responderá.

A ORAÇÃO DA MISERICÓRDIA
Aprendi uma oração, a qual pode ajudar aqueles que desejam,
por meio da intercessão, sustentar outros que estejam desprovidos
de estrutura para fazer isso. "Senhor, inunda aquela pessoa em
quem eu estou pensando com as misericórdias para suprir as
necessidades".5
Temos visto como é a misericórdia do sistema de suprimento
de Deus no que diz respeito à necessidade das pessoas. Apenas o
Criador entende o que está no coração de um homem e conhece o
que uma alma precisa. Podemos ver alguns problemas e achar que
sabemos orar, mas, geralmente, é melhor levar a pessoa até o trono
do Altíssimo e confiar ao Senhor o que for necessário. Quando
oramos para que Ele envie as Suas misericórdias à situação de
alguém, estamos pedindo que o Pai supra o que for preciso conforme
a Sua visão. Assim como o remédio percorre o organismo de alguém
combatendo um vírus, ao orarmos dessa forma, abrimos a comporta
das benevolências celestiais para que elas entrem na vida daquele
indivíduo. As misericórdias procurarão destruir qualquer coisa que
esteja trazendo dano ao bem-estar da pessoa.
Ao intercedermos pela misericórdia de Deus e por Sua bênção
na vida de alguém, nós nos alinhamos com o Senhor. A Bíblia diz
que Satanás é o acusador de nossos irmãos (Ap 12.10), no entanto,
Jesus está vivendo sempre para interceder por nós (Hb 7.25; 9.24).
A realidade das nossas palavras é que, quando fofocamos, criticamos
ou diminuímos os outros, nós os amaldiçoamos e agimos no mesmo
espírito em que o diabo está. Por outro lado, quando encorajamos o
próximo, edificamo-lo ou intercedemos em seu favor, colocamo-nos
no Espírito em que Jesus Se encontra: o da bênção. Duas pessoas
diante do trono; dois espíritos dos quais podemos partilhar.
Quando oramos pelos outros, queremos que o Senhor os
abençoe abundantemente. Lembra-se do juiz benevolente? Não
ficaremos contentes com um chuvisco ligeiro: queremos um
transbordar! Não vamos à sala do trono procurando uma gota,
queremos inundações. Não estamos pensando em um pouco de
misericórdia para a necessidade deles, estamos buscando um
oceano. Nosso Deus é de abundância, e esse é o tipo de resposta que
esperamos em benefício dos nossos amados.
À medida que cresce a nossa vida de intercessão, nós nos
achamos orando por pessoas com as quais entramos em contato
durante o dia. "Senhor, inunda aquela moça do caixa do
supermercado com as Tuas misericórdias. Supre suas necessidades
conforme Tu as vês". Quando somos tentados a nos zangar,
imediatamente, começamos a orar, cumprindo assim o mandamento
de Jesus: Bendizei os que vos maldizem e orai pelos que vos
caluniam (Lc 6.28). Se um homem cristão vê uma moça pouco
vestida, em vez de tentar lutar contra a luxúria pela própria força,
deve praticar a misericórdia para com ela por meio da oração,
limpando, portanto, o seu coração (Lc 11.41). Seu mundo interior,
tão acostumado à crítica, luxúria, ira, ao ressentimento e à inveja,
gradualmente, irá transformar-se em uma fonte de bênção.

A NECESSIDADE DA HORA
A maior carência de hoje no Corpo de Cristo é de crentes que
saibam interceder pelos outros. Não há compaixão tão grande, nem
gesto tão altruísta, tampouco ato capaz de realizar mais pelos outros
do que a intercessão. Apesar de toda a honra dada por nós para as
figuras da mídia do país, não existe um chamado mais elevado na
Igreja Cristã do que o da intercessão.
Durante os dias mais tenebrosos da história de Israel, eles
tinham problemas para encontrar intercessores. Isaías descreve que
o Senhor viu que ninguém havia e maravilhou-se de que não
houvesse um intercessor (Is 59.16a). No livro de Ezequiel, o Senhor
disse: E busquei dentre eles um homem que estivesse tapando o
muro e estivesse na brecha perante mim por esta terra, para que
eu não a destruísse; mas a ninguém achei (Ez 22.30).
Que trágico! As imagens vividas de Lamentações, de mães
cozinhando seus próprios bebês e da matança "por atacado" pelos
babilônios, dão uma idéia das repercussões daquela falta. Será que,
na América, enfrentamos a mesma devastação porque Deus não
consegue encontrar pessoas dispostas a ficar na brecha pelos
necessitados? Possivelmente sim.
Eis o que Andrew Murray disse sobre a procura de Deus por
intercessores:
Deus busca intercessores. Existe um mundo de milhões de
seres humanos perecendo, tendo na intercessão sua única esperança.
Tanto amor e tanta obra são comparativamente vãos, porque existe
pouquíssima intercessão. Há milhões de pessoas vivendo como se
nunca tivesse existido um Filho de Deus para morrer por eles. Todos
os anos, multidões passam para as trevas exteriores sem esperança.
Uma quantidade imensa de cristãos leva esse nome, mas a grande
maioria vive na ignorância ou indiferença total. Muitos cristãos
fracos, doentes, e milhares de obreiros exaustos poderiam ser
abençoados pela intercessão, o que iria ajudá-los a se tornarem
também poderosos nesse tipo de oração. Igrejas e missões sacrificam
a vida e o trabalho com poucos resultados e, freqüentemente, têm
falta do poder da intercessão. Almas, mais valiosas que os mundos,
as quais valem nada menos do que o preço pago por elas no sangue
de Cristo, estão ao alcance do poder que pode ser conquistado na
intercessão. Seguramente, não concebemos a magnitude da obra a
ser feita pelos intercessores de Deus, ou então devemos clamar para
que, acima de tudo, Ele nos dê o espírito de intercessão.
O Pai celestial busca intercessores. Existe um Senhor de glória
capaz de suprir todas estas necessidades. Sabemos que Ele Se deleita
na misericórdia e aguarda para dar graça, assim como também
deseja derramar as Suas bênçãos. Temos conhecimento de que Seu
amor, capaz de entregar o próprio Filho à morte, é o mesmo que, a
cada momento, flutua sobre cada ser humano. Contudo, Ele parece
não ajudar, e as pessoas perecem. É como se o Altíssimo não Se
movesse. Já que Ele nos ama tanto e deseja abençoar, deve haver
alguma razão inescrutável para a Sua demora. Qual seria esse
motivo? Segundo a Bíblia, a causa é a incredulidade e a conseqüente
infidelidade do povo de Deus. Mesmo assim, o Todo-Poderoso
elevou essas pessoas à parceria com Ele mesmo. Ao honrar a Igreja e
comprometer-Se com ela, Ele fez de suas orações as medidas
padrões da operação do Seu poder. Ausência de intercessão é uma
das razões principais para a falta de bênção. Ó, que desviemos
nossos olhos e corações de tudo o mais, e os fixemos neste Ser
Supremo que ouve as súplicas! Deixemos que a magnificência das
Suas promessas, do Seu poder e desse propósito de amor nos
inunde!6
PARTE QUATRO

OS FRUTOS DA VIDA DE VITÓRIA

Meditação para Hoje

A guerra é uma coisa horrorosa, mas pior ainda é a situação


decaída e degradada da moral e do sentimento patriótico, ao achar
que nada compensa uma guerra [...]. Um homem sem algo pelo qual
queira lutar, que não se importe com nada mais além de sua
segurança pessoal, é uma criatura miserável. Ele não tem chance de
ser livre, senão ao ser transformado e mantido dessa forma pelos
esforços de homens melhores do que ele.1
John Stuart Mill

Você deseja realmente ver o poder divino em ação? Então,


jogue fora as suas noções humanas de poder e veja a maneira pela
qual Cristo viveu e morreu.2
Edmund A. Steimle

O Espírito Santo é Deus residente na terra. Todo poder divino


reside nEle. O Senhor está procurando aqueles que sejam honestos o
suficiente para receberem em confiança a autoridade que podem
receber. Eles somente a usarão para a glória do Pai e não para si. 3
Gordon Chilvers

Satanás dá risada do nosso trabalho cansativo, zomba da nossa


sabedoria, mas treme quando nós oramos.4
Autor desconhecido
Quinze
Andando em autoridade espiritual

A batalha espiritual tornou-se uma total sensação na Igreja


americana. Grupos de oração encontram-se nas reuniões, onde parte
do tempo de oração em comum é usada para "destruir fortalezas".
Santos valentões nas conferências de batalha espiritual vão de um
lugar para o outro, "despedaçando" demônios imaginários. Algumas
vezes, os crentes nas igrejas de libertação se contorcem no chão,
berrando e tentando vomitar sem êxito, enquanto outros "expulsam
demônios". Grupos saem para os locais de prostituição e marcham
ao redor de bares e lojas de artigos pornográficos "tomando
autoridade" sobre os demônios que ali dominam. Outros passam a
maior parte do tempo de oração conversando com demônios,
rugindo como leões, amarrando, soltando, renunciando e quebrando
maldições hereditárias.
Por que alguns cristãos se regozijam tanto com a idéia de
vencer o diabo? Talvez, ela lhes dê um senso de poder quando
ameaçam um demônio ou, melhor ainda, quando são instrumentos
para derrubar algum principado monstruoso sobre uma cidade. Mas,
com toda essa atividade de batalha espiritual, pode-se perguntar por
que as coisas nunca parecem melhorar.

BATALHA ESPIRITUAL
A guerra é uma luta ou um conflito entre grupos opostos, cada
um tentando vencer o outro pelo uso da força. Comandantes
militares usam a estratégia, o planejamento, os movimentos e os
contramovimentos. Existem a guerrilha e as imensas batalhas
campais; as operações secretas; os golpes rápidos e as campanhas
prolongadas; as patrulhas que entram em lutas armadas; os espiões
que reúnem informações da força de inteligência; as batalhas navais,
aéreas; os ataques de mísseis e os combates corpo a corpo. Neste
século 21, tudo isso faz parte da batalha.
A guerra espiritual envolve conflito entre as forças de Deus,
que incluem os crentes, os anjos e o poder do Espírito Santo, contra
as forças de Satanás, junto com os não-salvos e os demônios aos
quais eles servem.
Alguns guerreiros fazem confusão entre crentes e incrédulos e
presumem que possam vencer pela legislação da moralidade.
Protestam em frente às lojas de artigos pornográficos e clínicas de
aborto; fazem petições aos senadores e representantes; escrevem
livros, aparecem na televisão e falam em emissoras de rádio. Tentam
vencer as batalhas espirituais por meio da política.*
Outros guerreiros, talvez um pouco mais próximos da
realidade da situação, fazem dela uma batalha existente apenas entre
anjos e demônios. Eles imaginam que existam guerreiros celestiais
com espadas flamejantes em pé para guardá-los. Imaginam espíritos
malignos prontos para atacá-los de todo lado. Batalhas são
empreendidas nos céus quando vão para o trabalho.
Nenhum desses grupos está inteiramente errado. Entretanto,
há um único elemento nesse conflito que ambos os grupos parecem
descartar ou negligenciar: o poder do Espírito Santo. Nós
esquecemos que existe um Deus soberano reinando sobre toda a
criação. Ele não está ausente, sem Se envolver. Os versículos
seguintes estão entre os muitos que mostram a extensão do Seu
envolvimento:

Os olhos do SENHOR estão sobre os justos; e os


seus ouvidos, atentos ao seu clamor. A face do
SENHOR está contra os que fazem o mal, para
desarraigar da terra a memória deles. Os justos
clamam, e o SENHOR os ouve e os livra de todas as
suas angústias. Perto está o SENHOR dos que têm o
coração quebrantado e salva os contritos de espírito.
Muitas são as aflições do justo, mas o SENHOR o
livra de todas.
Salmo 34.15-19

Charles Spurgeon observa:

Os olhos do Senhor estão sobre os justos. O Pai os


observa com aprovação e ternas considerações. São
caros para Ele a ponto de não conseguir tirar os olhos
de todos. Observa cada um tão cuidadosa e

*
Aprecio sinceramente os esforços dos ativistas cristãos que estão tentando fazer da América um lugar
melhor para se viver. Mas esta é uma batalha que deve ser ganha principalmente de joelhos.
intencionalmente como se fosse a única criatura no
Universo.
E os seus ouvidos, atentos ao seu clamor. Os olhos e
ouvidos do Senhor estão voltados na direção dos Seus
santos. Toda a Sua' mente está ocupada com eles. Se
desprezados pelos outros, não são negligenciados pelo
Soberano. Ele ouve imediatamente seu clamor, como
uma mãe está segura de ouvir seu bebê doente. O grito
pode ser quebrado, queixoso, infeliz, débil ou
desconfiado. Contudo, o rápido ouvido do Altíssimo
capta cada nota de lamento ou apelo, e Ele não demora
a responder à voz dos Seus filhos.5
Não desprezo o poder dado ao diabo neste mundo. Sua
influência e o modo como pode agir são muito reais. Também não
quero minimizar o envolvimento dos anjos nas questões humanas,
especialmente nas dos cristãos. A Bíblia nos ensina claramente que
eles nos ajudam e defendem espiritualmente. Porém, mais
importante, tenhamos em mente que, pairando sobre tudo isso, está
a presença do Onipotente.

ANATOMIA DE UMA DERROTA ESPIRITUAL


A história seguinte descreve um dos meus maiores fracassos
desde que me tornei cristão. Em 1993, Kathy e eu passamos várias
semanas da temporada de Natal em Jerusalém com amigos nossos,
os quais ministram naquela região. Nosso amigo sugeriu que, se
quiséssemos ver Belém, localizada na Margem Ocidental,
poderíamos aproveitar as festividades da noite de Natal, organizadas
pela Igreja Católica. "Haverá milhares de turistas ali. Será seguro
para vocês".
Com essa garantia, tomamos um daqueles ônibus especiais
para a ocasião e fomos na curta viagem até Belém. Nao havia tantos
turistas em nosso ônibus, mas presumimos que era porque tínhamos
ido cedo. O veículo foi estacionado no ponto de controle, e um
soldado entrou rapidamente, olhou em volta, saiu, e acenou para
nós. Entramos na Margem Ocidental.
Quando chegamos a Belém, fomos conduzidos à Praça da
Manjedoura (cena de batalhas armadas recentes) e fomos liberados
para entrar na área fechada por conta própria. Um grupo de
soldados, cada um armado com uma Uzi, estava em pé em cada rua
próxima da praça. Multidões de palestinos faziam fila nos pontos de
controle, aguardando uma investigação rápida antes de terem
permissão para entrar. A tensão pesava no ar, enquanto os soldados
israelenses, odiados por eles, mantinham os olhos abertos para
possíveis ataques terroristas.
A Igreja da Natividade dominava um lado da Praça da
Manjedoura, com lojas de turistas alinhando-se nos outros três
lados. Kathy e eu visitamos algumas delas, quando mais e mais
pessoas chegavam à área confinada. Cansados de andar, sentamos
em um dos bares ao ar livre e pedimos uma xícara de café. Uma vez
sentados, nós nos tornamos alvo de garotos palestinos que se
dirigiam a nós com seus doces e bugigangas para vender.
Senti-me realmente mal por eles e concordei em comprar um
doce não-desejado de um dos meninos mais ousados. Fiquei
surpreso ao descobrir que, em vez de obter o efeito esperado, que era
o de mandá-los embora, minha compra somente agitou os demais
para um comportamento mais atrevido. Kathy e eu tentamos
honestamente mostrar Jesus para aquelas crianças. Sorrimos
docemente para elas e nos desculpamos por não podermos comprar
mais nada. Diante disso, uma delas abriu um pacote de açúcar e
esparramou-o sobre a minha câmera fotográfica que estava sobre a
mesa.
Continuamos mantendo o humor, apesar da grosseria, mas,
gradualmente, começamos a ficar inquietos. Finalmente,
percebemos que o fato de nos sentarmos ali parecia encorajá-los,
então, decidimos sair para caminhar. Tínhamos visto todas as lojas e
não nos importávamos em ver a Igreja da Natividade. Resolvemos
voltar para o estacionamento, aonde os ônibus chegavam e de onde
partiam. Antes que nos afastássemos muito, uma garotinha nos
interpelou e pediu que comprássemos um dos seus doces.
Continuamos dizendo que não queríamos. Finalmente, com o rosto
do próprio diabo, ela golpeou o peito de Kathy com o doce, tentando
fazer com que ela o pegasse. Afinal, livramo-nos dela.
Enquanto tudo isso estava acontecendo com essas crianças,
não reparamos que a praça ficou repleta de milhares de pessoas, não
dos turistas que esperávamos, mas dos palestinos. Naquele dia,
havia ali uma guerra espiritual. A maioria tinha um espírito de ódio
pelo povo judeu e, sem perceber, estava em batalha espiritual. Se eu
estivesse em uma situação melhor, estaria mais preparado
espiritualmente para me engajar, até certo ponto, na minha batalha
espiritual, mas a diferença de fuso horário tinha produzido noites
insones e tempos de oração encurtados, que, por sua vez, resultaram
em nossa fraqueza espiritual.
Kathy e eu estávamos no lado sul da praça, lotada de pessoas
de parede a parede. Para chegarmos até o ônibus tivemos de passar
por aquele povaréu até o outro lado. Eu me arrojei na multidão de
maioria masculina e comecei a abrir caminho a cotoveladas. Com
um terço do caminho percorrido, olhei para trás e vi Kathy
chorando. "Podemos voltar? Eu quero voltar!", ela pediu. Surpreso
pelo que poderia estar errado com minha esposa, concordei. Uma
vez que tínhamos saído de perto da multidão, ela me contou que
inúmeros homens haviam passado a mão nela enquanto estávamos
no meio do povo.
Diante disso, toda a frustração de ter lidado com aqueles
garotos jorrou de dentro de mim e fiquei irado. Eu queria matar um
palestino. Embora não tivesse idéia dos que tinham atacado minha
mulher, fiquei contente de pôr as mãos em qualquer um que eu
conseguisse. Como. não pude, simplesmente, atacar uma pessoa
inocente escolhida ao acaso, acalentei a idéia de provocar uma briga.
Comecei a andar pela multidão, olhando furioso para os
homens, afastando alguns do meu caminho. Se eu tivesse
conseguido o que desejava, as câmeras da CNN que estivessem
filmando toda a cena teriam produzido uma grande reportagem
sobre um turista americano pisoteado até a morte por uma multidão
enraivecida. Com adrenalina acelerando as minhas veias, eu não
tinha medo daqueles palestinos. Embora eu estivesse no espírito
errado, sentir a mão de Deus em minha vida deu-me confiança
adicional. O Senhor realmente tinha a Sua mão sobre mim e me
impediu de cometer um erro fatal.
Um soldado, afinal, concordou em atravessar a multidão
conosco e, depois de algumas horas miseráveis, escapamos ilesos —
quer dizer, fisicamente. Eu não sentia raiva desde os dias em que
trabalhava no departamento policial. Teria ocorrido algo sério se eu
tivesse ficado violento apenas para proteger minha mulher, mas não
era o caso. O ataque já havia ocorrido, e eu estava apenas querendo
vingar-me.*

O ESPÍRITO SANTO
Jesus estava em um Espírito diferente quando andou por
aquelas ruas da Judéia. Ele tinha inimigos que procuravam feri-lO,
contudo, respondia com gentileza e amor. Seus inimigos tinham um
*
Passei muito tempo em arrependimento por esse incidente horrível. Alguns anos depois, o Senhor me
autorizou a "fazer as pazes", quando me foi dada a oportunidade de ministrar aos palestinos em muitas
reuniões em Amã, na Jordânia.
espírito de homicídio com relação a Ele, que poderia ter respondido
como eu fiz, ou como Tiago e João agiram na ocasião em que uma
cidade de samaritanos rejeitou Jesus: quiseram trazer fogo do céu. O
Mestre, voltando-se, porém, repreendeu-os e disse: Vós não sabeis
de que espírito sois. Porque o Filho do Homem não veio para
destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E foram para
outra aldeia (Lc 9.55,56).
Pedro também quis lutar na carne. Quando a multidão veio
prender Jesus no jardim de Getsêmani, ele arrancou a orelha de um
homem com a espada. Jesus, imediatamente, curou o homem e
declarou: Mete no seu lugar a tua espada, porque todos os que
lançarem mão da espada à espada morrerão. Ou pensas tu que eu
não poderia, agora, orar a meu Pai e que ele não me daria mais de
doze legiões de anjos? (Mt 26.52,53).
No que se refere à guerra espiritual, você não luta fogo contra
fogo. O diabo o incitará contra os outros. O espírito em que uma
pessoa está determina sua vida espiritual. Você pode declarar que é
um guerreiro para Cristo, mas a eficácia da sua batalha depende do
seu modo de viver.

AUTORIDADE ESPIRITUAL
Mateus nos conta que, depois de Jesus ter ministrado o
revolucionário Sermão do Monte, as pessoas se surpreenderam,
porquanto os ensinava com autoridade e não como os escribas (Mt
7.29).
O que deu a Jesus a autoridade espiritual que os escribas não
tinham? Obviamente, por ser o Filho de Deus, dominava a questão.
No entanto, há algo mais que aponta para o poder que nós também
podemos desfrutar.
Em Mateus 5.7, Jesus fala para a multidão reunida sobre a Sua
maneira de pensar. Centenas de livros foram escritos, e milhares de
sermões, ministrados sobre os princípios apresentados nesses três
capítulos curtos. Essas verdades gloriosas de Deus, com as do
"capítulo do amor" (1 Co 13), representam o Espírito no qual Jesus
sempre vivia. Ele falava e tinha autoridade, porque vivia a realidade
daquelas palavras em Seu cotidiano.
A autoridade advém de uma fonte de poder, não de palavras.
Se estou andando na rua e alguém grita para que eu pare, não
importa quão alto ele grite, ou com que autoridade nem mesmo
como a pessoa se pareça. Posso pensar: "Quem ele pensa que é?". Se,
entretanto, ele estiver usando um uniforme com crachá, presto
muita atenção. A autoridade advém de quem o indivíduo represente,
se for o caso, por exemplo, do governo dos Estados Unidos da
América.
Jesus representou perfeitamente o Pai, porque andou em
submissão absoluta a Ele. Sua autoridade foi estabelecida pela Sua
obediência ao Senhor. O apóstolo Paulo também teve uma tremenda
autoridade espiritual. Ele não ficava aplicando "golpes de caratê" nos
poderes das trevas. Na carta aos efésios, ele diz:

No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e


na força do seu poder. Revesti-vos de toda a
armadura de Deus, para que possais estar firmes
contra as astutas ciladas do diabo; porque não temos
que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os
principados, contra as potestades, contra os príncipes
das trevas deste século, contra as hostes espirituais
da maldade, nos lugares celestiais.
Efésios 6.10-12

Primeiro, Paulo abordou o fato de nossa força ter origem no


poder de Deus. Sabemos disso, mas muitos de nós não
compreendemos como podemos apropriar-nos dessa autoridade. O
cristão é investido de poder e autoridade do Altíssimo até o ponto
em que esteja cheio do Seu Espírito e faça a Sua vontade.
A autoridade do policial estende-se apenas até o poder que lhe
foi concedido pelo Estado. Ele tem o direito de me fazer parar
quando ando pela rua se isso tiver ligação com um crime cometido
ou para a segurança pública. Ele não me pode fazer parar, exibindo
autoridade, simplesmente, porque deseja impressionar a namorada.
Se ele me detiver com essa motivação, pode ser expulso do emprego,
e, possivelmente, preso. De forma alguma, sua autoridade é
ilimitada, pois ele também deve permanecer dentro de certos
limites.
Na medida em que o Senhor guia e capacita, os cristãos têm
autoridade sobre os demônios. A capacitação acontece por estarmos
no Espírito de misericórdia, entregando a nossa vida para suprir a
necessidade dos outros. A pessoa guiada por esse Espírito possui
uma autoridade tremenda sobre as potestades malignas. Tal
domínio espiritual é o poder irresistível de Deus manifestando-se em
sua vida.
Vemos esse mesmo princípio em ação na vida do apóstolo
Paulo em Éfeso. Lucas conta-nos que Deus, pelas mãos de Paulo,
fazia maravilhas extraordinárias, de sorte que até os lenços e
aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades
fugiam deles, e os espíritos malignos saíam (At 19.11,12).
Você pode imaginar ter esse poder sobre as doenças e os
demônios? Esse nível de autoridade vem de se viver na vontade do
Senhor. O desejo do Supremo é amar e suprir as necessidades das
pessoas. Toda a vida de Paulo girou em torno daquilo de que os seus
semelhantes precisavam. O Todo-Poderoso o usou, porque ele
aprendeu o segredo de ser um vaso vazio que podia ser cheio com o
poder do Onipotente para fazer a Sua vontade.
Eu creio em libertação? Com certeza! Cristo libertou as pessoas
dos espíritos das trevas. Paulo expulsou demônios de homens e
mulheres. Nós também podemos fazer isso hoje, mas, primeiro,
devemos encher-nos do Espírito que nos dá a autoridade sobre
aqueles atormentadores. Entretanto, deve ser observado que Jesus
ou Paulo não faziam cultos especiais de libertação nem conferências
de batalha espiritual. Totalmente rendidos à vontade de Deus,
simplesmente, praticavam atos de misericórdia, o que, às vezes,
incluía a expulsão de entidades malignas dos oprimidos.
Infelizmente, muitos cristãos querem o poder sem o sacrifício.
Desejam sentir-se poderosos homens e mulheres de Deus, os quais
ordenam aos demônios que lhes obedeçam. Estão mais interessados
em parecer ou sentir algo do que com o bem-estar dos necessitados.
Imaginam-se em uma posição de autoridade que não existe. Julgam
que o Nome de Jesus lhes dá carta branca na dimensão espiritual e
que os anjos caídos têm de obedecer a todas as suas palavras. Mas
não funciona dessa forma.
Enquanto esteve em Éfeso, Paulo encontrou alguns judeus
religiosos ansiosos por expulsar espíritos maus. Entretanto, a
compaixão não os motivava. Eram mágicos profissionais, buscando
lucro com a sua feitiçaria. Certo dia, eles se aproximaram de um
homem endemoninhado e, tendo visto os resultados dos milagres
realizados por Paulo, tentaram usar o Nome de Jesus.
Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo prega, disseram,
ordenando que o demônio saísse do homem. O espírito maligno lhes
respondeu: Conheço a Jesus e bem sei quem é Paulo; mas vós,
quem sois? Lucas prossegue contando-nos que o homem, cheio da
força do diabo, saltou sobre eles e os agrediu de tal maneira que
fugiram nus e feridos (At 19.13-16).
A BATALHA REAL
Antes de se engajar em uma batalha espiritual, devemos
decidir, antes de tudo, a que vontade obedeceremos. Paulo disse que
colocássemos a armadura de Deus por uma razão: para ficarmos
firmes contra as ciladas do diabo.
Os demônios estão constantemente pondo armadilhas para
que fiquemos do modo em que eles estão. Somos tentados a mentir,
cobiçar, tapear, roubar e a nos levantar na ira ou no orgulho. O
Senhor tenta, gentilmente, levar-nos a estar em Seu Espírito. A
batalha real é sobre definir a quem iremos submeter-nos.
Infelizmente, mais do que percebem, a maioria dos cristãos obedece
ao diabo.
Quando os cristãos estão discutindo por causa de doutrina
bíblica, você acha que está sendo feita a vontade de Deus ou a do
diabo? Quando uma mãe coloca seus filhos na frente da televisão
durante uma hora, que vontade está sendo cumprida? Quando um
homem fica irado no caminho do trabalho porque alguém o
intercepta no trânsito, em qual espírito ele está? Quando um
evangelista, envaidecido, exibe-se em frente a uma multidão com
boa vontade, quem está sendo enganado? Quando um casal passa
pelos mendigos sem qualquer piedade por aquela situação, em que
espírito está? Tais exemplos representam a regra, não a exceção na
Igreja americana.
A batalha real empreendida o tempo todo sobre a sua vida gira
em torno da sua vontade. Você exercerá a misericórdia em relação
aos outros ou continuará a ter um coração endurecido acerca da
necessidade deles? Permitirá que Deus o humilhe, ou ficará
imponente e orgulhoso? Conseguirá devotar-se ao próximo ou
continuará egoísta? Poderá obedecer de coração ao Pai, ou
continuará na própria vontade?
A tragédia é que enfraquecemos a nossa posição "dormindo
com o inimigo". Indolentes e cheios de concessões, não nos sobra
autoridade quando precisamos. Os demônios estão zombando das
nossas palavras e dando risadas das conferências. Posso imaginar
como as entidades malignas respondem quando os cristãos se
reúnem em uma das suas conferências de batalha espiritual. Talvez,
soasse como algo assim: "Você acha que vou ouvir, Phil? Você
acabou de surrar os seus filhos na pressa de ir à conferência! É,
certo!"; "Com quem você está falando, Sue? Acabei de acompanhá-la
em sua décima farra do mês, gastando dinheiro no shopping! Você
ouviu as minhas sugestões o tempo todo!"; "Quem você pensa que é,
Jim? Eu o estava vendo despir aquela garota em sua mente no
caminho para cá! Estou certo de que você irá amarrar-me! Ah, ah,
ah!".
Podemos ouvir em um momento a voz de um demônio e, no
minuto seguinte, expulsá-lo de alguém? A razão de Paulo andar em
tamanha autoridade sobre os espíritos imundos é que estes não
podiam com ele. O apóstolo estava completamente entregue ao
Espírito do Senhor. Se você se render a Deus dessa maneira, o diabo
sairá correndo e berrando quando o ouvir falar! Esses seres não
podem resistir a alguém que obedece a Jesus de coração. Até você
andar a sério com o Supremo, não espere que as entidades inimigas
levem a sério as suas palavras.
O crente que vive com base nas palavras do Mestre, como
aquelas ministradas no Sermão do Monte, terão o poder de Deus em
sua vida e continuarão a tê-lo sobre todos os demônios que
encontrar. A vitória que ele obtém sobre a própria natureza rebelde
permite que vença o inimigo. O tamanho do ministério, o número de
estações que transmitem a pregação ou a quantia de dinheiro que
entra diariamente não significam coisa alguma para os espíritos
malignos. Mostre-me um único cristão que viva tranqüilamente o
amor de Deus descrito no capítulo 12 deste livro, e eu lhe mostrarei
alguém que deixa os demônios do inferno abalados. Somente um
servo precioso do Senhor nunca ouvirá: Conheço a Jesus e bem sei
quem é Paulo; mas vós, quem sois?
Meditação para Hoje

Não censuro os homens ímpios por correrem atrás dos seus


deleites. Deixe-os ter a sua parte; é o que eles possuem para
desfrutar. No entanto, os cristãos devem buscar a sua satisfação em
uma esfera mais elevada do que as frivolidades insípidas do mundo.
Buscas vãs são perigosas para almas renovadas [...].
É a doçura do pecado que o torna mais perigoso. Satanás
nunca vende seus venenos a descoberto. Ele sempre os doura antes
de vendê-los. Cuidado com os prazeres [...]. Dizem que onde crescem
os cactos mais lindos, as serpentes mais venenosas espreitam. Assim
é com o pecado. Seus prazeres mais honestos abrigarão seus maiores
pecados. Tenha cuidado!1
C. H. Spurgeon

Pela misericórdia e pela verdade, se purifica a iniqüidade; e,


pelo temor do SENHOR, os homens se desviam do mal.
Salomão - Provérbios 16.6

Se o pecado me governar, a vida de Deus será morta dentro de


mim. Se Deus me governar, o pecado será morto dentro de mim.
Não existe ultimato possível além desse.2
Oswald Chambers

Os verdadeiros triunfos são os triunfos de Deus sobre nós.


Quando Ele vence sobre nós, essas são as nossas reais vitórias. 3
Henry Alford
Dezesseis
Vitória sobre o pecado habitual

No início dos anos 1960, seis missionários da WEC tinham


uma estação de rádio em uma área perigosa do Congo. O garoto
alegre do grupo era um jovem solteiro chamado Bill McChesney, ou
Bill sorridente, como todos o chamavam. Embora tivesse apenas
l,60m e pesasse 50kg, ele completava seu tamanho com o
entusiasmo.
Naquela época, o Congo estava tenso pelas lutas. Os Simbas,
uma tribo rebelde ao governo branco na África, estavam atacando e
matando gente em toda a área. Repetidamente, eles colocavam os
missionários em compostos, pequenas áreas delimitadas com
grades, após uma série de tentativas aterradoras de matá-los, apenas
para abandoná-los sem realmente feri-los.
Em 14 de novembro de 1964, eles chegaram e levaram o
pequeno Bill McChesney, embora ele estivesse doente com malária.
Também levaram cativos quatro missionários de outro composto.
Um deles, James Rodger, era o oposto do eufórico Bill sorridente em
todos os sentidos. Embora solene e sério, seu amor por Deus era
inquestionável. Durante os seus dez dias juntos no cativeiro, os dois
se tornaram grandes amigos.
Um dia, um oficial rebelde que estava chegando ficou lívido ao
ver Bill McChesney. "Por que este homem está livre?", ele
perguntou. "Leve-o para a prisão imediatamente!". Quando Bill foi
levado para o caminhão, Jim Rodger saltou para acompanhar seu
novo amigo. Durante a viagem, os soldados bateram em Bill sem
misericórdia. Já enfraquecido pela malária, o rapazinho não
conseguiu suportar o ataque e, após a chegada, Jim teve de carregá-
lo até a prisão.
Na manhã seguinte, um coronel chegou e exigiu saber a
nacionalidade de cada um. Bill se apresentou como americano, e
Jim, britânico. Tendo ouvido isso, o coronel estava a ponto de matar
Bill, mas Jim ficou em pé perto dele, dizendo: "Se você deve morrer,
irmão, morrerei com você".
O coronel fez sinal para a multidão de rebeldes atacá-los.
Chegaram até eles agitando cacetetes e punhos. Bill foi morto
rapidamente. Jim carregou-o e, gentilmente, depositou-o no chão.
Então, a multidão também o agrediu, chutou-o e pisou nele até a
morte.
Multiplique essa história por milhões, e você terá uma
impressão bem exata do significado de servir a Cristo ao longo dos
séculos. Não são os que estão sendo perseguidos ao redor do mundo
que são esquisitos, mas, sim, o cristão americano moderno por viver
apenas para ele mesmo. Uma pessoa desse tipo está fora de
sincronia com a herança da verdadeira Igreja de Jesus Cristo.
Nosso Salvador foi crucificado, 11 dos 12 discípulos foram
martirizados, e o apóstolo Paulo foi decapitado. Isso estabeleceu a
maneira como isso seria nos 19 séculos seguintes. Se não fosse
martírio, haveria a perseguição; se não fossem perseguidos, teriam
fome e, caso não sofressem a fome, precisariam servir em sacrifício
pelos outros. Esta tem sido a glória do Corpo de Cristo ao longo da
História.
Infelizmente, isso não pode ser dito da Igreja americana do
século 21. De fato, espiritualmente, deslocamo-nos tanto do
percurso, que uma das nossas características principais, hoje, é o
foco na auto-ajuda. Em um tempo em que a Igreja Cristã deveria
estar batalhando contra as forças do inferno na preparação de um
grande conflito pela Segunda Vinda de Cristo, estamos tão atolados
de problemas pessoais e vícios, que nem conseguimos entrar no
ringue!
Como é possível? A resposta é que, como sociedade, tornamo-
nos extremamente egoístas. A maioria de nós nasceu na "geração do
eu". Ensinaram-nos a nos ver como o centro de tudo: o que eu quero,
aonde eu desejo ir, o que me faz sentir bem, o que me realiza. Até a
fé cristã, que deveria motivar-nos a um interesse não-egocêntrico
pela necessidade dos outros, é vista como mais uma fonte de
conseguir algo para o eu. O número absoluto de livros disponíveis,
atualmente, sobre o que Deus quer fazer para o cristão, em nível
individual, é evidência de uma visão distorcida do cristianismo.
Que contraste com a vida de Paulo! O que ele escreveu mostra
suas perspectivas sobre a fé cristã, quando comparadas às da
maioria dos cristãos praticantes de hoje:

Pelo que muito desejamos também ser-lhe


agradáveis, quer presentes, quer ausentes. Porque
todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo,
para que cada um receba segundo o que tiver feito
por meio do corpo, ou bem ou mal. Assim que,
sabendo o temor que se deve ao Senhor, persuadimos
os homens à fé, mas somos manifestos a Deus; e
espero que, na vossa consciência, sejamos também
manifestos. Porque não nos recomendamos outra vez
a vós; mas damo-vos ocasião de vos gloriardes de
nós, para que tenhais que responder aos que se
gloriam na aparência e não no coração. Porque, se
enlouquecemos, é para Deus; e, se conservamos o
juízo, é para vós. Porque o amor de Cristo nos
constrange, julgando nós assim: que, se um morreu
por todos, logo, todos morreram. E ele morreu por
todos, para que os que vivem não vivam mais para si,
mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.
Assim que, daqui por diante, a ninguém conhecemos
segundo a carne; e, ainda que também tenhamos
conhecido Cristo segundo a carne, contudo, agora, já
o não conhecemos desse modo. Assim que, se alguém
está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já
passaram; eis que tudo se fez novo.
2 Coríntios 5.9-17

Mas nós que somos fortes devemos suportar as


fraquezas dos fracos e não agradar a nós mesmos.
Portanto, cada um de nós agrade ao seu próximo no
que é bom para edificação. Porque também Cristo
não agradou a si mesmo, mas, como está escrito:
Sobre mim caíram as injúrias dos que te injuriavam.
Romanos 15.1-3

DISTRIBUINDO MISERICÓRDIA PARA OS OUTROS


O vício é o resultado de um desejo egoísta por um determinado
prazer. Então, é válido concluir que a falta de egoísmo se contrapõe
aos desejos compulsivos exclusivistas no coração de uma pessoa.
A raiz do pecado é a cobiça, ou seja, almejar exageradamente
algo para si. Essa paixão leva a pessoa a pecar. Satanás a usa para
inflamar a nossa vida. A cobiça por prazer, ganho, posição, poder
sobre os demais e um arsenal de outros males formam o fundamento
para os que vivem presos a vários vícios.
Felizmente, Deus também tem uma paixão. Seu maior
interesse é fazer o bem, ajudar os seres humanos e suprir suas
necessidades. É o ágape, o amor incondicional, que se manifesta por
meio dos atos de misericórdia. Pode ser uma raiz em nossa
existência assim como um fundamento. Como vimos no capítulo 12,
o anseio de fazer o bem forma uma base de bondade que o Senhor
usa para edificar o ministério.
O desejo ardente do Pai em suprir as carências é a única coisa
que pode desenraizar completamente o pecado e derrotar a paixão
por ele. Enquanto o eu governar uma pessoa, ela nunca será
verdadeiramente livre. Quando alguém sai de si mesmo e vê a
necessidade dos que estão à sua volta, começa a ocorrer uma
transformação. Seus problemas, que antes pareciam uma montanha
insuperável, diminuem à luz das outras necessidades. Quanto mais
um indivíduo coloca o foco em si sobre o que quer ou acha que
precisa, mais forte é o pecado em sua vida.
Não é suficiente, porém, simplesmente ver as necessidades.
Nós devemos fazer algo a respeito disso. No processo da prática da
misericórdia, o coração é transformado. Posso recordar-me das
muitas vezes em que estava desanimado (ou até deprimido), e que
me forcei a entrar em aconselhamento para ser obrigado a sair dos
meus problemas e ajudar o próximo. Não consigo lembrar-me de um
único exemplo em que servir aos semelhantes não me tirou
imediatamente da minha melancolia.

INTERCEDER MUDA O CORAÇÃO


A intercessão pelas necessidades dos demais é a maior
misericórdia que podemos praticar uns pelos outros. Exercer a
compaixão, naturalmente, é algo maravilhoso. Entretanto, existe o
perigo de deslizar para uma rotina de prática de boas obras a fim de
ser notado pelos outros, e, novamente, dar lugar ao ego! Se o
interesse do coração não for correto, seus melhores esforços pelo
próximo não realizarão coisa alguma para as suas próprias
carências. Paulo afirmou:

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos


anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa
ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o
dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda
a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de
transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E
ainda que eu distribua todos os meus bens entre os
pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo
para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me
aproveitará.
1 Coríntios 13.1-3- ARA

Nesse texto, Paulo mostra a futilidade de praticarmos boas


obras, mesmo aquelas que seriam consideradas atos de misericórdia,
sem a motivação interior de fazê-los para o bem dos outros.
Quando um homem está lidando com o pecado habitual na sua
própria vida, ele irá vencê-lo se começar a tomar as necessidades dos
outros no seu coração. Jesus tentou ajudar os fariseus de coração
endurecido a descobrirem a "lavagem interior" da qual eles
precisavam desesperadamente. Ele lhes disse: Agora, vós, fariseus,
limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está
cheio de rapina e maldade. Loucos! O que fez o exterior não fez
também o interior? Dai, antes, esmola do que tiverdes, e eis que
tudo vos será limpo (Lc 11.3941).
O mundo interior daqueles homens era cheio de pecado. O que
eles podiam fazer? O Mestre garantiu-lhes uma saída. Se eles
tivessem misericórdia em seus corações, algo mudaria em seu
interior. Cristo disse, certa vez, que o mal que sai do coração de um
homem é o que contamina. Se o mal está em seu coração, qual é o
melhor lugar para lidar com ele? No coração, naturalmente!
Quando tomamos as necessidades e os fardos dos outros,
somos transformados, "lavados". Que coisa maravilhosa! O Senhor
nos dá um caminho para purificar o nosso interior: praticar atos de
piedade com relação aos outros a partir do nosso coração.

UM CASO PERTINENTE

Len House* juntou-se à equipe dos Ministérios Vida Pura como


conselheiro em janeiro de 1996. Nós lhe pedimos que se unisse a
nós, porque ele estava disposto a fazer o que fosse necessário para
encontrar o Senhor e a vitória total sobre o pecado.
Veterano da Força Aérea, Len trabalhou dez anos como
membro de uma equipe de resgate de elite, treinada para se infiltrar
nas linhas inimigas e salvar pilotos derrubados. Durante mais de
sete anos, ele esteve na Coréia, onde se tornou viciado em visitar
*
Um pseudônimo
prostitutas. Isso abriu a porta para o grande mal entrar em sua vida.
Uma paixão cega pelo sadomasoquismo rastejou lentamente para
dentro do seu coração. Embora ele nunca agisse com pessoas, o
fascínio cresceu em seu interior.
Len passou os últimos anos na Força Aérea dos Estados
Unidos. Quando seu coração ficou mais atingido, isolou-se dos
outros cada vez mais. Foi atraído pela força, o desejo de poder e por
controlar as pessoas. Len era um ávido levantador de peso, e
realmente obcecado pela sua psique. Uma vez, ele falou que teria
sido um grande nazista, pois seu coração era brutal, e ele gravitava
em torno de qualquer coisa que o autorizasse a mandar nos outros.
Por meio do testemunho tranqüilo de um capitão cristão, Len
recebeu o Senhor em 1993. Seus problemas, naturalmente, ainda
estavam lá, mas, pelo menos, ele procurava uma saída. Embora
tivesse ouvido falar dos Ministérios Pure Life em abril de 1994, levou
nove meses antes de se dispor a ir para o programa residencial de
ajuda para seus vícios sexuais.
Duas coisas precipitaram sua decisão. Em primeiro lugar,
recebeu o diagnóstico de osteoporose, uma doença óssea
degenerativa. Foi devastador para Len, que sempre fora valorizado
pela sua força física. Mas Deus estava levando-o a se ajoelhar. Em
segundo lugar, ele começou a ter pesadelos horríveis. Inúmeras
vezes, Len acordou sentindo uma presença maligna no quarto. Certa
noite, despertou aos gritos, amaldiçoando, com uma voz profunda,
gutural, que não era a sua. Isso o apavorou.
De várias formas, Len foi um caso difícil para os nossos
conselheiros. A única coisa que sobressaía nele era sua disposição de
lutar e fazer o que fosse necessário para conquistar a vitória sobre
seu pecado. Ele tinha uma porção de trevas para eliminar, mas,
gradualmente, começou a mudar. O princípio ao qual Len se agarrou
e que, provavelmente, ajudou-o mais do que qualquer outra coisa,
foi orar pelos outros. Ele confidencia:

"Sempre me disseram que eu me voltasse para o


Senhor em minhas lutas, mas eu não sabia realmente o
que aquilo significava. Eu orava por mim, e isso
parecia ajudar, mas ainda me sentia preso. Quando
comecei a interceder pelos outros, orando para que a
misericórdia de Deus suprisse as suas necessidades,
tudo começou a me acontecer. Era algo concreto e
prático que eu podia fazer. No princípio, não entendi
como isso poderia ajudar-me, mas meu conselheiro me
disse que fizesse isso, e assim fiz.
Um resultado que posso ver tem sido a mudança em
minha atitude para com as pessoas. Eu costumava
odiá-las, particularmente as mulheres, mas o Senhor
está-me ajudando a me importar com elas.
Por exemplo, eu costumava aplicar justiça própria
com relação aos não-salvos, especialmente os liberais
ou humanistas, mas estou começando a ter bons
sentimentos por eles. Posso sentir, em meu coração, a
compaixão de Deus por todos".

Len House é uma testemunha tremenda da bondade de Deus


entrando na vida de um homem disposto a considerar as
necessidades alheias. A mesma coisa pode acontecer com você.
Aqueles que são orgulhosos demais para pedir ou ajudar os outros e
duros de coração para crer na bondade de Deus jamais poderão
mudar. Ficarão em sua rotina de egoísmo, e o pecado continuará a
exercer o domínio sobre a vida de cada um.
A pessoa que luta para não pecar encontrará a vitória que está
procurando quando começar a viver na percepção das necessidades
à sua volta, no sentido de distribuir para os outros a misericórdia
que transbordou sobre ela. Ter um coração de servo minará
completamente a vida egocêntrica e cancelará a
tentação poderosa da cobiça por mais ...........................
(preencha o espaço em branco). Então, para a sua surpresa, assim
como para a dos outros, uma mudança fundamental ocorrerá em seu
interior. O pecado não terá mais o controle do seu viver.
Meditação para Hoje

Ó alma, somente Ele que te criou pode te satisfazer. Se tu


pedires algo mais, é a tua desgraça, pois somente Ele, que te fez à
Sua imagem, pode te satisfazer.1
Agostinho

Se (a Sua presença) for tudo o que Deus me dá, estou satisfeito,


mas, se tudo o que Ele me desse fosse o mundo (inteiro), eu não
ficaria satisfeito.2
Jeremiah Burroughs

Pedi a Deus
Pedi a Deus força para poder conquistar.
Fiquei fraco para aprender a obedecer.
Pedi saúde para poder fazer mais coisas.
Ganhei enfermidade para realizar coisas melhores.
Pedi riquezas para poder ser feliz.
Ganhei pobreza para poder ser sábio.
Pedi poder para ter o louvor dos homens.
Ganhei fraqueza para sentir a necessidade de Deus.
Pedi todas as coisas para poder aproveitar a vida.
Ganhei vida para desfrutar de todas as coisas.
Não consegui nada do que pedi
Mas tudo o que eu esperava.
Apesar de mim, minhas orações não-faladas
Foram respondidas.
Eu sou, entre todos os homens, o mais ricamente abençoado.3
Anônimo
Dezessete
Viver em vitória

A vida de Salomão é um exemplo trágico para os cristãos de


hoje quanto ao preço do pecado. Perto do final de sua vida,
entretanto, ele recebeu discernimento de algumas revelações mais
profundas disponíveis sobre como desfrutar de uma vida espiritual
vitoriosa.
Davi tinha 50 anos quando Salomão nasceu de Bate-Seba. Ele
já havia derrotado todos os seus inimigos. Foi rei durante 20 anos,
sendo 13 em Jerusalém. A vida de Davi tinha sido um paradoxo. Vez
ou outra, ele era sincero adorador de Deus, mas o estilo de vida
carnal por reinar na terra teve um preço em sua vida espiritual. Seu
pior momento foi quando cometeu adultério com Bate-Seba e matou
o marido dela. Do ponto de vista espiritual, o salmista nunca se
recuperou plenamente desse pecado.
O único modo de viver que Salomão conhecia quando moço foi
em segurança e prosperidade. Provavelmente, mais do que qualquer
outra figura da Bíblia, sua vida foi bastante similar à dos crentes
americanos de hoje. Ensinaram-lhe as antigas histórias de Abraão e
Isaque; Jacó e José; Moisés e Faraó, Sansão e Dalila. Quando garoto,
sua mãe lhe contou sobre as proezas grandiosas de seu pai: como ele
matou um leão e um urso, sua batalha com Golias, as brigas com os
filisteus e seus conflitos com Saul. Salomão era bem versado nos
textos bíblicos e conhecia os Salmos que seu pai havia escrito, assim
como nossas crianças conhecem os hinos clássicos que cantamos
hoje.
Salomão também foi educado sem muita disciplina. Na
referência bíblica de 1 Reis 1.6, vemos que Davi nunca contrariou seu
filho mais velho, Adonias. Não temos razão para crer que tenha sido
diferente com seu favorito, o filho mais novo. Não obstante, na época
em que Salomão herdou o reino de seu pai agonizante, está
registrado que ele amava ao SENHOR (1 Rs 3.3).
Satisfeito com isso, Deus apareceu em sonho a Salomão e
perguntou o que poderia fazer para ele. Salomão respondeu:
E disse Salomão: De grande beneficência usaste tu
com teu servo Davi, meu pai, como também ele andou
contigo em verdade, e em justiça, e em retidão de
coração, perante a tua face; e guardaste-lhe esta
grande beneficência e lhe deste um filho que se
assentasse no seu trono, como se vê neste dia. Agora,
pois, ó SENHOR, meu Deus, tu fizeste reinar teu servo
em lugar de Davi, meu pai; e sou ainda menino
pequeno, nem sei como sair, nem como entrar. E teu
servo está no meio do teu povo que elegeste, povo
grande, que nem se pode contar, nem numerar, pela
sua multidão. A teu servo, pois, dá um coração
entendido para julgar a teu povo, para que
prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque
quem poderia julgar a este teu tão grande povo?
1 Reis 3.6-9

Que incrível demonstração de humildade de espírito e falta de


egoísmo! Salomão tinha o desejo sincero de governar o povo de Deus
da forma correta. Ele viu que lhe faltava a sabedoria para liderar
Israel; então, apelou para a benignidade (hhesed) do Altíssimo e
pediu ajuda.
Isso agradou imensamente ao Senhor!

E disse-lhe Deus: Porquanto pediste esta coisa e


não pediste para ti riquezas, nem pediste a vida de
teus inimigos, mas pediste para ti entendimento, para
ouvir causas de juízo; eis que fiz segundo as tuas
palavras, eis que te dei um coração tão sábio e
entendido, que antes de ti teu igual não houve, e
depois de ti teu igual se não levantará. E também até
o que não pediste te dei, assim riquezas como glória;
que não haja teu igual entre os reis, por todos os teus
dias. E, se andares nos meus caminhos guardando os
meus estatutos e os meus mandamentos, como andou
Davi, teu pai, também prolongarei os teus dias.
1 Reis 3.11,14
Da unção que lhe foi concedida durante esse diálogo, Salomão
projetou e edificou o magnífico templo e escreveu muitos dos
provérbios.
Parecia que ele não conseguia fazer algo errado. Tudo se
transformava em ouro ao seu toque. Quando a rainha de Sabá viajou
quase dois mil quilômetros para encontrá-lo, ela voltou
impressionada pela tremenda exibição de riquezas e sabedoria de
Salomão. Ao partir, estas foram suas palavras para ele:

Foi verdade a palavra que ouvi na minha terra,


das tuas coisas e da tua sabedoria. E eu não cria
naquelas palavras, até que vim, e os meus olhos o
viram; eis que me não disseram metade;
sobrepujaste em sabedoria e bens a fama que ouvi.
Bem-aventurados os teus homens, bem-aventurados
estes teus servos que estão sempre diante de ti, que
ouvem a tua sabedoria! Bendito seja o SENHOR, teu
Deus, que teve agrado em ti, para te pôr no trono de
Israel; porque o SENHOR ama a Israel para sempre;
por isso, te estabeleceu rei, para fazeres juízo e
justiça.
1 Reis 10.6-9

Tudo ia tão maravilhosamente bem para o jovem rei, mas, em


30 anos, ele se tornou um velho miserável e vazio. Segundo a Bíblia,
mais tarde, Salomão chegou a aborrecer-se com a vida (Ec 2.17). *
Antes de tudo acabar, o rei, que amou o Senhor, deu-Lhe as
costas e construiu templos para adoração demoníaca. O começo
mais sincero de uma vida pode ter um final trágico se a pessoa não
mantiver seu foco no Senhor.
O que aconteceu com Salomão foi o que, de certa maneira,
todos nós desejamos secretamente. Ele recebeu a licença gratuita
para ter tudo o que seu coração desejasse. O livro de Eclesiastes diz
que ele tentou preencher sua vida com conhecimento (1.16); prazer
(2.1); riso (2.2); projetos de construção (2.4-6); servos (2.7); vacas e
ovelhas (2.7); prata, ouro e tesouros (2.8); entretenimento (2.8) e,
finalmente, prazer sexual (2.9). De fato, diz ele, tudo quanto

*
A Turner Broadcasting Company produziu um vídeo sobre Salomão que mostrou bem a miséria do seu
pecado. Com exceção das infelizes "cenas de amor" explícitas com a rainha de Sabá, recomendo o filme.
desejaram os meus olhos não lhos neguei, nem privei o meu
coração de alegria alguma (Ec 2.10a).
Não parece a busca do sonho americano? Estatísticas recentes
dizem muito sobre esse estilo de vida. O padrão de vida do
pensionista médio está colocado entre a classe média dos outros dez
maiores países do mundo. Os americanos mais pobres vivem melhor
do que os pobres de outras 240 nações. A segunda estatística mostra
que o americano médio come melhor do que, no mínimo, um bilhão
de pessoas em nosso planeta. São indivíduos assim como você e eu!
Nos Estados Unidos, desfrutamos de um estilo de vida mais
opulento, cheio de luxúria, prazer e conforto, do que o de muitos reis
na História da humanidade. Salomão, certamente, não desfrutou de
encanamentos internos, eletricidade, televisão, jornais, torradeiras,
automóveis, serviço de ambulância, telefones e todas as outras coisas
que consideramos, hoje, necessidades absolutas. Os prazeres de
ontem se transformaram nas necessidades de hoje. Exemplos
recentes incluem microondas e computadores pessoais. Não faz
muito tempo, somente os ricos se davam ao luxo de ter tais bens.
Agora, a maioria das casas na América tem tudo isso. Nos últimos
cem anos, aumentamos nosso padrão de vida a ponto de, agora, até
nossos gatos comerem melhor do que quase um terço das pessoas do
mundo.
Essa prosperidade tremenda tende a deixar as pessoas em um
estado constante de desejar mais. Além disso, os anunciantes fazem
um trabalho notável de nos treinar para nunca ficarmos satisfeitos.
Para onde olhamos, dizem-nos que há algum novo item sem o qual
nós não podemos viver. Roupas, computadores, carros, férias, casas
e mobília desfilam diante de nós, mantendo-nos em um estado fixo
de cobiça. Sempre desejando mais, nunca estamos satisfeitos.
Salomão foi capaz de alcançar cada sonho carnal e, no fim, viu
tudo como realmente era: E olhei eu para todas as obras que fizeram
as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando,
tinha feito; e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito e que
proveito nenhum havia debaixo do sol (Ec 2.11). Ele chegou a ver a
futilidade e o vazio de buscar os prazeres deste mundo. Vaidade de
vaidades! — diz o pregador, vaidade de vaidades! É tudo vaidade (Ec
1.2). Se as coisas mundanas não são vazias para você, sua mente está
ainda sendo manipulada com sucesso pela voz deste mundo.
Jonas aprendeu essa dura lição quando tentou seguir seu
próprio caminho em rebelião ao chamado do Senhor em sua vida.
Os que observam as vaidades vãs deixam a sua própria
misericórdia (Jn 2.8). Quando a busca do prazer e das posses
materiais se torna o foco da sua existência, é impossível viver de
modo vitorioso em Deus, e o vazio, com certeza, consome o seu
coração.
Quando Salomão escreveu os Provérbios, ele ainda acreditava
que poderia manipular as riquezas e permanecer fiel ao Senhor. É
interessante que foi Agur, não Salomão, quem proferiu esta oração:
Não me dês nem a pobreza nem a riqueza; mantém-me do pão da
minha porção acostumada; para que, porventura, de farto te não
negue e diga: Quem é o SENHOR? (Pv 30.8b,9a).
O contentamento de Agur com o que tinha é um dos
ingredientes primordiais para uma vida de vitória. Paulo,
compartilhando um dos seus princípios em Cristo, afirmou: Não
digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me
com o que tenho. Sei estar abatido e sei também ter abundância;
em toda a maneira e em todas as coisas, estou instruído, tanto a ter
fartura como a ter fome, tanto a ter abundância como a padecer
necessidade (Fp 4.11,12).
É muito importante ficar satisfeito com as circunstâncias que
temos na vida. Deixados por conta própria, iríamos pelo caminho de
Salomão, convencidos de que ainda permaneceríamos fiéis a Deus.
Não está feliz pelo fato de que o Pai não permita que você arruine a
sua vida, como Salomão fez?
Embora a satisfação seja importante, ela não trará por si só a
vitória.

VIVER EM GRATIDÃO
Uma pessoa ingrata é a mais miserável de todas as criaturas.
Ele passa a vida lutando continuamente por uma posição mais
elevada, por mais posses e experiências. A mensagem sutil por trás
dessa situação é que, quando conseguirmos a promoção seguinte ou
a nova casa ou o que seja (e essas coisas nos atraem no presente),
então, de alguma forma, alcançaremos a felicidade. No entanto, na
melhor das hipóteses, esse bem-estar é circunstancial, temporário e
enganoso.
O problema é, simplesmente, não percebermos quão ricos
somos. Muitos homens passam a vida buscando coisas que nunca os
satisfazem e perdendo aquelas que podem realizá-los. Carros novos
e casas confortáveis não são prejudiciais por si, mas não levam uma
pessoa ao verdadeiro contentamento. Se pudéssemos perguntar a
Marilyn Monroe, Jimi Hendrix, Janis Joplin, John Belushi e outros
incontáveis que alcançaram o pináculo do sucesso neste mundo, eles
nos falariam do vazio que descobriram.
Nós, cristãos, somos freqüentemente como os fazendeiros de
Oklahoma. A maioria passou a vida inteira tentando sobreviver com
pouco dinheiro, quando tudo o que tinha a fazer era afundar um
cano no solo até o campo de petróleo, e teriam conseguido riquezas
fabulosas. Durante muito tempo da minha vida cristã, perdi o que
um coração cheio do Senhor pode prover: alegria e satisfação. São os
elementos essenciais de uma vida vitoriosa.
Um caminho para essa vida vitoriosa é por meio da disciplina
da gratidão. Essa atitude é estimulada quando uma pessoa vê tudo o
que o Criador provê. "Conte suas bênçãos, nomeie-as uma a uma",
diz a canção. Uma maneira prática de fazer isso é pela lista de
agradecimento. Uma vez por semana, tome aspectos da sua vida
(trabalho, lar, casamento, família, vida espiritual) e liste 30, 40, 50
coisas sobre ela pelas quais você é grato. Um estudo bíblico de tudo o
que o Pai dá ao cristão também desenvolve um coração agradecido.
Você pode surpreender-se ao ver que exercícios simples como esses
podem mudar a sua perspectiva. Deus já lhe deu muito. Por que
ficarmos nessa prisão miserável da insatisfação? Um coração
agradecido trará uma vida de alegria, um dos elementos
fundamentais para a vitória. Contudo, ainda não é o mais
importante.

A REALIZAÇÃO DA OBEDIÊNCIA
Outro aspecto vital da vida cristã vitoriosa é a simples
obediência. A realização e a felicidade aumentam com a obediência
diária a Deus.
Imagine que um estudante universitário tenha uma prova
importante amanhã. Alguns amigos o convidam para ir ao bar. Na
manhã seguinte, ele está cansado e de ressaca. Por não ter estudado
como deveria, com certeza, terá um desempenho ruim. Agora se
sente pior. Sua falta de autodisciplina fez com que fosse reprovado
no teste importante, e ele está perto de repetir o curso inteiro. Isso,
por sua vez, afeta sua média de notas e, subseqüentemente, o seu
futuro. Sua confiança cai, e ele se sente mais infeliz do que nunca.
Para ele, a vida parece agora vazia e sem sentido.
Aqueles que não têm esperança permanecem na armadilha de
uma rotina da qual nunca parecem sair. Quando sofrem a
conseqüência inevitável da iniqüidade, voltam-se para uma emoção
temporária de pecado para se consolarem. Pedro declarou: Deste
modo, sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O
cão voltou ao seu próprio vômito; a porca lavada, ao espojadouro
de lama (2 Pe 2.22). É assim a decadência na vida do viciado.
Freqüentemente, a miséria de um fracasso tem um efeito dominó,
resultando depois em outro. Depois, vêm as conseqüências
inevitáveis da transgressão. Tudo isso se soletra DER-RO-TA, não é?
Uma coisa maravilhosa sobre o Reino de Deus é que os
mesmos princípios que operam contra uma pessoa também podem
agir em favor dela. Digamos que um professor se senta com o aluno
e tem uma conversa com ele: "Jimmy, se você for bem nesta prova,
ainda pode tirar um C na matéria. Quero que você estude bastante!".
Quando seus amigos aparecem naquela noite, ele recusa o convite e
fica em casa para estudar. Acorda preparado, depois de uma boa
noite de sono e descanso. Faz a prova e não apenas passa, como
também tira nota A! Sua confiança aumenta e o enche de esperança
de que, talvez, ele possa ter uma boa carreira um dia. Com
freqüência, muita coisa depende de uma única decisão.
Viver em obediência aos princípios de Deus traz um estilo de
vida de triunfo contínuo. Uma pessoa que vive em obediência
mínima, respeitando apenas àqueles mandamentos que lhe são
convenientes, jamais conhecerá a vitória real. A propósito, a canção
diz: "Confie e obedeça, pois não há outro jeito de ser feliz em Jesus,
que o de confiar e obedecer".4 A obediência é outra exigência para se
achar a realização na vida, mas ela também não chega a prover a
satisfação desejada.

É mais abençoado
Há dois tipos básicos de pessoas: as que dão e as que tomam.
Pelo que me lembro, sempre fui um tomador, pois era
completamente egoísta. Tudo o que eu fazia, em última análise,
tinha alguma coisa para mim.
Talvez, você pense que uma pessoa tão envolvida em alcançar
prazer é quem recebe a maior satisfação; porém, os caminhos de
Deus não são como os nossos. Neste mundo, aquele que procura
tomar o máximo recebe o mínimo.
Os não-salvos e os cristãos mundanos, da mesma forma,
tentam encontrar a realização neste mundo apesar da felicidade
superficial e fugaz que ele oferece. Isso é tudo o que cada um deles
conheceu. Não experimentaram a alegria real em resultado de uma
vida submissa a Deus.
Entretanto, a felicidade é, na própria essência, um conceito
mundano. É o senso de animação que alguém sente sob
circunstâncias favoráveis. Se você for a um clube por volta das dez
horas da noite, em geral, encontrará pessoas muito felizes. Em um
estádio, onde o time da casa estiver ganhando, verá torcedores
alegres. Na casa de uma jovem apaixonada, que acabou de receber o
pedido de casamento, poderá achar uma pessoa feliz. Em termos
gerais, a felicidade é o sentimento que as pessoas têm quando as
coisas estão indo do seu jeito.
Encontre aqueles festeiros na manhã seguinte, ou aqueles fãs
quando seu time está perdendo, ou a garota quando o namorado a
rejeita, e você descobrirá um bando de criaturas miseráveis. Por
quê? A felicidade deles estava fundamentada na própria situação. É
triste, mas a maioria dos cristãos não sabe o que significa viver
acima das circunstâncias e experimentar a alegria do Senhor, sem se
importar com o que pode acontecer em sua vida.
Jesus conheceu uma outra maneira de viver. A Sua não foi uma
vida de tomar, mas de doar. Embora Ele fosse chamado de homem
de dores (Is 53.3), por causa do Seu sofrimento em lidar com
pessoas não-arrependidas, Ele foi o Homem mais alegre que já
andou na terra. Cristo estava sempre Se doando e continuamente
feliz. Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber (At 20.35).
Podemos ter também a mesma alegria e satisfação. Quando
aprendermos a viver na misericórdia para suprir as necessidades dos
outros, conhecemos a alegria real. Mas, mesmo viver uma vida de
doação, por si, não preencherá o grande vazio dos corações.

NOSSA MAIOR NECESSIDADE


A incorporação desses princípios diferentes em sua existência
mantém um homem no caminho para uma vida de vitória. Mas não
importa o quanto ele faça bem todas as coisas; nunca conhecerá a
alegria da vida abundante a menos que aprenda a encontrá-la em
Deus.
O Senhor Se revelou à humanidade por meio de muitos
Nomes. Cada qual demonstra algo do Seu caráter, e mais
especialmente, de como Se relaciona com o homem. Há um único
Nome que Ele deu para Si que engloba todos. No momento tão
surpreendente e cheio de acontecimentos, quando Deus apareceu a
Moisés na sarça ardente, o Todo-Poderoso disse: EU SOU O QUE
SOU (Êx 3.14). Jesus também chegou a usar esse Nome. Sete vezes
no livro de João, Cristo usou o Nome EU SOU, significando os
diferentes aspectos da Sua provisão para as nossas necessidades. Eu
sou o pão da vida; Eu sou a luz do mundo; Eu sou a porta [...] Eu
sou o bom Pastor; Eu sou a ressurreição e a vida; Eu sou o
caminho, e a verdade, e a vida; Eu sou a videira verdadeira (Jo
6.35; 8.12; 10.7,11; 11.25; 14.6; 15.1).
Um livro excelente sobre o assunto, We would see Jesus
[Queremos ver Jesus], de Roy e Revel Hession, diz o seguinte:

A revelação especial que esse Nome dá é sobre a


graça de Deus. Eu sou é uma sentença inacabada. Não
tem objeto. Eu sou — o quê? Que maravilha quando
descobrimos, ao continuarmos com nossas Bíblias, que
Ele está dizendo: EU SOU o que o Meu povo
necessita, e a sentença é apenas deixada em branco, a
fim de que o homem possa trazer suas muitas e
variadas necessidades, quando elas surgem, para
completá-la!
À parte da necessidade humana, esse grande Nome
do Senhor, que dá voltas e voltas em um círculo
fechado: EU SOU O QUE SOU, significa que o
Supremo é incompreensível. Mas, no momento em que
a carência e a miséria humana se apresentam, Ele Se
torna exatamente a necessidade da pessoa. O verbo
tem, no mínimo, um objeto. A sentença está completa,
e Deus é revelado e conhecido. Precisamos de paz? "Eu
sou a tua paz", diz o Pai. Carecemos de força? "Eu sou
a tua força". Necessitamos de vida espiritual? "Eu sou
a tua vida". Há falta de sabedoria? "Eu sou a tua
sabedoria", e assim por diante.
O Nome Jeová é realmente como um "cheque" em
branco. Sua fé pode preenchê-lo no que Ele precisa ser
para você, apenas no que necessita, à medida do
surgimento de cada necessidade. Além disso, não é
mais você a Lhe suplicar tal privilégio, mas é Ele quem
lhe está dando. Ele está pedindo que você peça. Até
agora, nada pedistes em meu nome; pedi e recebereis,
para que a vossa alegria se cumpra (Jo 16.24). Assim
como a água está sempre procurando as profundezas
mais baixas a fim de preenchê-las, Jeová sempre busca
a carência do homem para satisfazê-la. Onde existir
um lamento, lá está Deus. Onde houver tristeza,
miséria, infelicidade, sofrimento, confusão, loucura,
opressão, o EU SOU poderá ser encontrado, desejando
transformar a dor do homem em alegria quando ele
permite. Portanto, não são os famintos procurando
pão, mas o Pão alcançando os famintos; nem são os
tristes querendo a alegria, é a Alegria buscando os
tristes; não é o vazio ansiando pela plenitude, mas,
sim, a Plenitude em busca do vazio. Não é que o
Senhor meramente supra as nossas necessidades, mas
Ele Se torna o suprimento do que precisamos. O Pai
celestial é sempre o Eu sou aquilo de que o meu povo
necessita.5
Esta, naturalmente, é uma tremenda revelação, mas como
devemos usar esse conhecimento de Deus em nosso dia-a-dia?
Tornar-nos cheios por Ele dessa forma acontece principalmente pelo
processo de busca. Quando vamos ao encontro do grande Provedor,
Jeová-Jireh Se apresenta para suprir nossas necessidades.
Muito já foi dito sobre a procura pelo Senhor. Entretanto,
buscar o Pai não é apenas mais uma das práticas que devemos
incorporar na vida; é a estrada do cristianismo e o fim da estrada.
Tudo o que foi escrito neste livro faz parte de um todo, mas,
inevitavelmente, deve levar-nos de volta ao lugar onde nosso coração
esteja ansioso por estar na presença do Senhor.
Davi tornou-se uma pessoa que buscava o Altíssimo. Houve
um tempo na vida de Davi em que o Senhor foi realmente tudo o que
ele tinha. Infelizmente, o salmista perdeu muito do que possuía no
Onipotente por causa da prosperidade e do poder. No entanto, ainda
podemos aprender com o que ele escreveu durante os seus melhores
tempos:

Quando tu disseste: Buscai o meu rosto, o meu


coração te disse a ti: O teu rosto, SENHOR, buscarei.
Salmo 27.8

Uma coisa pedi ao SENHOR e a buscarei: que


possa morar na Casa do SENHOR todos os dias da
minha vida, para contemplar a formosura do
SENHOR e aprender no seu templo.
Salmo 27.4
Ó Deus, tu és o meu Deus; de madrugada te
buscarei; a minha alma tem sede de ti; a minha carne
te deseja muito em uma terra seca e cansada, onde
não há água, para ver a tua fortaleza e a tua glória,
como te vi no santuário. Porque a tua benignidade é
melhor do que a vida; os meus lábios te louvarão.
Assim, eu te bendirei enquanto viver; em teu nome
levantarei as minhas mãos. A minha alma se fartará,
como de tutano e de gordura; e a minha boca te
louvará com alegres lábios.
Salmo 63.1-5

Não é difícil imaginar a paixão na voz de Davi, a alegria e


satisfação do seu coração enquanto seus olhos estavam plenamente
fixos no Senhor. Temos de tomar cuidado para não imaginar que
essas sejam apenas palavras de um poema qualquer de adoração.
Elas expressam o testemunho de um homem real, que teve um
encontro genuíno com o Deus vivo, de modo que ficou praticamente
sem respiração. Ele foi capturado pela beleza da santidade do
Altíssimo.
É maravilhoso constatar que, se desejarmos, você e eu
podemos ter a mesma experiência. A escolha está sempre diante de
nós. Queremos o Senhor dessa forma tão abrangente? Lucas narrou
uma história sobre duas irmãs que tiveram essa mesma capacidade
de escolha:

E aconteceu que, indo eles de caminho, entrou


numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o
recebeu em sua casa. E tinha esta uma irmã,
chamada Maria, a qual, assentando-se também aos
pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Marta, porém,
andava distraída em muitos serviços e,
aproximando-se, disse: Senhor, não te importas que
minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe, pois, que me
ajude. E, respondendo Jesus, disse-lhe: Marta,
Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas,
mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa
parte, a qual não lhe será tirada.
Lucas 10.38-42
É interessante como as pessoas, até aquelas de uma mesma
família e educação idêntica, podem responder de modo tão diferente
ao Senhor. Cristo estava na casa delas e falou palavras de vida. Uma
se sentou impressionada, incapaz de se mover, contemplando a
mesma beleza que Davi viu. A outra estava distraída, preocupada e
aborrecida.
Esse incidente mostra um dos maiores problemas que existe
na Igreja hoje. Muitos que estão tentando alimentar os outros ficam
ocupados demais para terem tempo de se alimentar e, então, nada
mais têm a oferecer além de um pacote de pão velho e estragado.
Viver a misericórdia pode absorver muito e exigir bastante, mas,
para ensinarmos aos outros, devemos sentar-nos aos pés de Jesus!
Se não o fizermos, não teremos coisa alguma de valor para dar aos
outros e iremos, quem sabe, enfraquecer-nos devido à fome
espiritual.
Jesus descreveu a experiência de Maria, de se sentar aos Seus
pés, como a boa parte. Ele prosseguiu dizendo: A qual não lhe será
tirada. Existe algo sobre habitar na presença do Pai, que preenche,
satisfaz e muda uma pessoa eternamente.
Muitos de nós somos superficiais em nossa fome de Deus e
ficamos bastante satisfeitos com uma colher de sopa da Sua
misericórdia, ao passo que Ele deseja derramar sobre nós os rios da
vida.
Alguns nunca aprendem essa questão crucial. De outra vez que
ouvimos falar dessas duas irmãs queridas, a cena é quase a mesma:

Foi, pois, Jesus seis dias antes da Páscoa a Betânia,


onde estava Lázaro, o que falecera e a quem
ressuscitara dos mortos. Fizeram-lhe, pois, ali uma
ceia, e Marta servia, e Lázaro era um dos que
estavam à mesa com ele. Então, Maria, tomando uma
libra de ungüento de nardo puro, de muito preço,
ungiu os pés de Jesus e enxugou-lhe os pés com os
seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do
ungüento.
João 12.1-3

Marta estava sempre ocupada, tentando encontrar sua


realização por meio da tarefa de servir ao Senhor. Maria escolheu a
boa parte, prostrando-se aos pés do Mestre e adorando-O. Quem
você diria que estava vivendo em vitória?
Deus tem para você um universo cheio de misericórdias
supridoras de necessidades. Mas, em última análise, elas serão todas
encontradas nEle. Quando alguém aprende a se sentar aos pés do
Senhor, beber da Sua beleza, deleitar-se em Seu amor e sentir a Sua
compaixão, todas as suas necessidades são supridas — satisfação
garantida! Jesus nos diz que nosso Pai sabe o que [nos] é necessário
antes de [nós] lhe pedirmos (Mt 6.8). Quando aprendermos a
buscarmos o Senhor em Sua Palavra, aprenderemos a descansar
naquela provisão abundante e desfrutaremos verdadeiramente da
Sua companhia. Só então descobriremos a vida cristã abundante e
começaremos a viver em vitória!
BIBLIOGRAFIA

CAPÍTULO UM
1. Oswald Chambers, The best from all his books [O melhor de todos os seus livros],
Thomas Nelson Publishers, Nashville, TN, 1987; p. 223.
2. Citação de Robert Bolton feita por Iain H. Murray, Jonothan Edwards, a new
biography [Jonothan Edwards, uma nova biografia], Carlisle, Banner of Trust, reprint
1988; p. 128.

CAPÍTULO DOIS
1. Topical encyclopedia of living quotations [Enciclopédia essencial de citações vivas],
Bethany House Publishers, 1982, p. 117.
2. ibid.
3. Topical encyclopedia of living quotations [Enciclopédia essencial de citações vivas],
ibid; p. 226.
4. A. W. Tozer, Jesus, our Man in glory [Jesus, nosso Homem em glória], Christian
Publications, Camp Hill, PA, 1987, p. 84.

CAPÍTULO TRÊS
1. Leonard Ravenhill, Revival raying [Oração revivificadora], Bethany House
Publisher, 1962, p. 40.
2. Andrew Murray, In search of spiritual excellence [Em busca da excelência
espiritual], Whitaker House, 1984, p. 116.

CAPÍTULO QUATRO
1. A. W. Tozer, The knowledge of the Holy [O conhecimento do Santo], Harper & Row
Publishers, 1961, p. 103.
2. Charles Finney, Crystal christianity [Cristianismo cristalino], Whitaker House,
Springdale, PA, 1985, p. 136.
3. Andrew Murray, Humildade, a beleza da santidade, São Paulo: Editora dos Clássicos,
p. 116.
4. Roy Hession, A senda do Calvário, Belo Horizonte: Ed. Betânia.

CAPÍTULO CINCO
1. Joy Dawson, Intimate friendship with God [Amizade intima com Deus], Chosen
Books, Old Tappan, NJ, 1986, p. 16.
2. J. I. Packer, Knowing God [Conhecendo Deus], InterVarsity Press, Downers Grove,
IL, 1973, p. 30.
3. Charles Finney, Crystal Christianity [Cristianismo cristalino], Whitaker House,
Springdale, PA, 1985, p. 11.
4. Brother Lawrence, The practice of the presence of God [Praticando a presença de
Deus], Whitaker House, 1982.
5. ibid.
6. ibid.
7. ibid.
8. Philip Yancey, Decepcionado com Deus, São Paulo: Mundo Cristão, 2004.
9. Citação de Alexander MacLaren em The Bethany parallel commentary [Comentário
paralelo Betânia], Bethany House Publishers, Minneapolis, MN, 1983, p. 198.
10. A. W. Tozer, À procura de Deus, Belo Horizonte: Betânia, p. 17-18.

CAPÍTULO SEIS
1. The quotable Lewis [Citações de Lewis], Tyndale House Publishers, Inc. Wheaton,
IL, 1989, pp. 408, 407, 405, 406.
2. God's treasury of virtues [O tesouro de virtudes de Deus], Honor Books, Tulsa, OK,
1995, pp. 30-31.
3. The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible [Enciclopédia bíblica ilustrada
Zondervan], Zondervan Publishing House, Grand Rapids, MI, 1976, p. 183.
4. Programa de computador QuickVerse, Dicionário grego e hebraico, extraído da
Concordância exaustiva Strong da Bíblia, Copyright 1980, 1986 e pertencente a World
Bible Publications, Inc.
5. Vines Expository Dictionary [Dicionário expositivo Vine], Fleming H. Revell
Company, Old Tappan, NJ, 1981, p. 116.
6. The Bethany parallel commentary of the New Testament [Comentário paralelo
Betânia do Novo Testamento], Bethany House Publishers, Minneapolis, MN, 1983, p.
1029.
7. The quotable Lewis [Citações de Lewis], p. 292.

CAPÍTULO SETE
1. Baptist hymnal [Hinário batista], Convention Press, Nashville, TN, 1956, p. 47.
2. James Thomas, Mercy, truth and judgment [Misericórdia, verdade e julgamento], p.
4.
3. God's treasury of virtues [O tesouro de virtudes de Deus], p. 206.

CAPÍTULO OITO
1. The Bethany parallel commentary of the New Testament [Comentário paralelo
Betânia do Novo Testamento], p. 1920.
2. ibid.
3. Catherine Marshall, Beyond our selves [Além de nós mesmos], McGraw-Hill Book
Co., NY, 1961, pp. 21-23.
4. ibid, p. 28.

CAPÍTULO NOVE
1. Victor Ostrovsky & Claire Hoy, By way of deception [Por meio da decepção], St.
Martin's Press, 1990, pp. 1-2.
2. ibid, pp. 13-15.
3. Hannah Whitall Smith, A christian's secret of a happy life [O segredo cristão de uma
vida feliz], Whitaker House, Springdale, PA, 1983, p. 77. Utilizado com permissão.
4. H. D. M. Spence, The pulpit commentary [O comentário do púlpito], vol. XI,
MacDonald Publishing Company, pp. 444-445.

CAPÍTULO DEZ
1. Oswald Chambers, The best from all his books [O melhor de todos os seus livros], p.
223.
2. Topical encyclopedia of living quotations [Enciclopédia essencial de citações vivas];
p. 183.
3. ibid, p. 184.
4. Steve Gallagher, No altar da idolatria sexual, Rio de Janeiro: Graça Editorial, 2003.
5. Vine's expository dictionary [Dicionário expositivo Vine], p. 116.
6. Spiros Zodhiates, The complete Word study dictionary [Dicionário de estudo
completo da Palavra], AMG Publishers, Chattanooga, TN, 1993, pp. 1133-1134.

CAPÍTULO ONZE
1. God's treasury of virtues [O tesouro de virtudes de Deus], p. 278.
2. Rex Andrews, What the Bible teaches about mercy [O que a Bíblia ensina sobre
misericórdia], Zion Faith Homes, Zion, IL, pp. 166, 3, 121.
3. Mercy, truth and judgment [Misericórdia, verdade e julgamento], p. 6.
4. A christian's secret of a happy life [O segredo cristão de uma vida feliz], p. 42.
5. Oswald Chambers, The best from all his books [O melhor de todos os seus livros],
pp. 1-2.
6. A christian's secret of a happy life [O segredo cristão de uma vida feliz], pp. 80-83.
7. What the Bible teaches about mercy [O que a Bíblia ensina sobre misericórdia], p.
121.
8. Baptist hymnal [Hinário batista], p. 356.

CAPÍTULO DOZE
1. Rosalind Goforth, Jonothan Goforth [Jonothan Goforth], Bethany House
Publications, 1937, p. 109.
2. Baptist hymnal [Hinário batista], p. 431.

CAPÍTULO TREZE
1. God's treasury of virtues [O tesouro de virtudes de Deus], p. 47.
2. Oswald Chambers, The best from all his books [O melhor de todos os seus livros], p.
320.
3. Jonothan Goforth [Jonothan Goforth], p. 121.
4. Estão disponíveis em fita de áudio e vídeo no Heart Talk Ministry, 9616 Micron Ave.
#900, Sacramento, CA 95827-2626, EUA.

CAPÍTULO CATORZE
1. Revival praying [Oração revivificadora], pp. 64, 70.
2. ibid, p. 14.
3. Jack Hayford, Orar é invadir o impossível, São Paulo: Ed. Vida.
4. ibid.
5. What the Bible teaches about mercy [O que a Bíblia ensina sobre misericórdia].
6. Andrew Murray, The ministry of intercession [O ministério de intercessão], Whitaker
House, 1982, pp. 138-139. Utilizado com permissão.

CAPÍTULO QUINZE
1. Inspiring quotations [Citações inspiradoras], p. 215-216.
2. ibid, p. 157.
3. ibid.
4. Um cristão desconhecido, The kneeling christian [O cristão de joelhos], Zondervan
Book Publishers, 1971, p. 17.
5. The Bethany parallel commentary of the New Testament [Comentário paralelo
Betânia do Novo Testamento], p. 1015.

CAPÍTULO DEZESSEIS
1. Charles H. Spurgeon, O melhor de C. H. Spurgeon, Curitiba: Luz e Vida, 2001.
2. Oswald Chambers, The best from all his books [O melhor de todos os seus livros], p.
328.
3. Topical encyclopedia of living quotations [Enciclopédia essencial de citações vivas],
p. 249.

CAPÍTULO DEZESSETE
1. Inspiring quotations [Citações inspiradoras], p. 76.
2. ibid, p. 77.
3. Extraído da coluna de Ann Landers de 28 de novembro de 1996.
4. Baptist hymnal [Hinário batista], p. 260.
5. Roy e Revel Hession, Queremos ver Jesus, Belo Horizonte: Betânia.

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