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A Psicologia Humanista e a Abordagem Centrada na Pessoa

A Psicologia Humanista foi criada após um movimento ocorrido nos


Estados Unidos e depois se espalhou para a Europa, na década de 50, como
reação clara ao determinismo dominante nas outras práticas terapêuticas, as
quais deixavam de lado do seu objeto de estudo fatores emocionais, afetivos e as
manifestações da capacidade de definir o próprio rumo de vida. Foi Abraham
Maslow o fundador de tal movimento, dizendo que Freud ignorava a liberdade e a
consideração dos aspectos positivos da personalidade(Campos, 2008). Em uma
nova visão, o humanismo acredita que o ser humano possua uma força de
auto-realização, a qual leva o indivíduo a desenvolver uma personalidade criativa
e saudável. Rogers, um dos humanistas, fazia uma diferença entre conceber o
homem somente como produto de influências internas e externas, e concebê-lo
também como um processo emergente, capaz de ter um domínio sobre essas
influências.

Dentro da Psicologia Humanista, foram criadas diferentes teorias como a


Gestalt Terapia, o Psicodrama e a ACP. Todas elas compreendem o homem como
livre, com a capacidade de criar seu caminho e acreditam no potencial do ser
humano direcionado à saúde, no entanto possui recortes diferentes, e então, cada
uma tem suas particularidades (Campos, 2009).

Procurando dar continuidade aos princípios da Psicologia Humanista e


iniciar os fundamentos da Abordagem Centrada na Pessoa, que foi desenvolvida
por Carl Ransom Rogers, se diz que toda pessoa possui uma capacidade natural
em se autodirigir, ou seja, suprir suas próprias necessidades. É como uma
tendência inata de evolução, a qual se atualiza a todo instante. Em diversos
momentos e por diferentes motivos, mas principalmente por questão de valores
externos, as pessoas sofrem influências, impostas à elas, o que torna aquela
tendência distante de si mesmo, sendo que a pessoa acaba ficando descrente
dela mesma, daquilo que é ou sente como o melhor para sua vida. Mas ainda
assim, a tendência atualizante continua em seu ciclo, com o objetivo de a levar
adiante; quando a pessoa está distante de si, pode ser que essa tendência atue
de maneira distorcida do que seria o melhor para a pessoa.

Pensando nisso, sabemos que quando há um ambiente de ajuda, de


condições facilitadoras para que a pessoa possa se autodirigir, a tendência é ela
buscar uma harmonia interna, e em sequência, harmonia em seu meio(Pinto,
2010). Mas para que isso ocorra de modo eficaz, é preciso que o facilitador tenha
uma crença no crescimento dessa pessoa, de modo genuíno, assim como deve
ser sua relação com a pessoa. Acreditar que a pessoa que está com você é capaz
de encontrar seu próprio caminho e não simplesmente direcioná-la ao que você
acredita ser melhor, se isso ocorre, o facilitador não está acreditando em sua
capacidade e ainda, coloca valores que são seus na vida da pessoa. Torna-se
algo meramente técnico, mas sobre isso falaremos mais profundamente a seguir.

Ao tratar de uma pessoa que desenvolveu em condições desfavoráveis,


Rogers(1978) diz que se deve confiar na tendência direcional de cada
um(Campos, 2009). Procurar enxergar que essas pessoas elas lutam da única
maneira que lhes é possível para alcançar o crescimento, é um meio de entender
o porquê se comportam de determinada maneira.

Para os seguidores dos fundamentos de Rogers, existe uma premissa


básica desta abordagem, é a crença nessa tendência atualizante no cliente, e que
assim, seja permitido que ele possa experenciar a liberdade em um clima
psicológico promovido por essa própria tendência, adquirindo assim capacidade
para dirigir e resolver seus problemas de forma autônoma(Pinto, 2010)

Diferentemente das outras abordagens na Psicologia, a ACP não é


direcionada por técnicas, nem questionários, mas sim por meios facilitadores e
atitudes do terapeuta, as quais definem a prática da clínica Rogeriana. Tais
atitudes são:

* A atitude de Congruência ou Autenticidade;


* Aceitação positiva Incondicional;

* Compreensão Empática.

A primeira atitude facilitadora dentro da Abordagem Centrada na Pessoa, é


a Congruência ou Autenticidade, que siginifica a capacidade do psicólogo em ser
autêntico com os seus sentimentos em relação à pessoa que o procurou para
ajuda-la. Se faz necessário que tudo o que o psicoterapeuta sinta seja dito ao
cliente, de modo cuidadoso, delicado, apresentando interesse a pessoa, para que
essa relação só cresça e amadureça. Rogers diz, que se o terapeuta tiver um
sentimento persistente, deve comunicá-lo; se não o fizer, o andamento dessa
relação não terá o mesmo efeito, como se o psicoterapeuta deixasse de estar
inteiro na relação com o cliente, por estar com tal sentimento presente entre eles.

A segunda atitude, se trata da Aceitação Positiva Incondicional, que pode


ser entendida como a capacidade do psicólogo em considerar o outro, de aceitar
seus sentimentos, pensamentos, opiniões, indenpendente de quais forem. Tendo
isso em vista, vale ressaltar que aceitar, não significa concordar com o que o outro
faz, mas acolhe-lo, respeitando e o compreendendo, da forma como ele é. Sobre
isso, Pinto(2010), diz:

"... É muito fácil aceitarmos o outro quando


concordamos. O grande desafio, a meu ver, na
relação de ajuda, é aceitarmos a pessoa quando
não concordamos com ela, quando os seus
pensamentos e atitudes são opostos ao que
temos." (Carrenho, Tassinari & Pinto, 2010).

A aceitação incondicional, se trata em confiar e acreditar no potencial do


outro a partir de suas experiências, e desprender-se das verdades aprendidas.
Aceitar a pessoa a partir de suas proprias experiências, sem julgamentos, assim
"estar" genuinamente com ela, de forma inteira.
A terceira e última atitude facilitadora para Rogers, é a Compreensão
Empática, que se pode definir como a capacidade do terapeuta em se colocar no
lugar do outro sempre, buscando ouvir os sentimentos e significados que o cliente
está vivenciando, e apresentar a ele o que ouviu. É como uma busca de estar o
mais próximo possível do que a pessoa sente e vê, colocando-se em seu lugar,
sem que se sinta o outro. Sobre isso, Rogers comenta:

" Estar com o outro desta maneira significa deixar


de lado, neste momento, nossos próprios pontos
de vista e valores, para entrar no mundo do outro
sem preconceitos. Num certo sentido, significa por
de lado nosso próprio eu, o que pode ser feito
apenas por uma pessoa que esteja
suficientemente segura que não se perderá no
mundo possivelmente estranho ou bizarro do outro e
que poderá voltar sem dificuldades ao seu próprio
mundo quando assim desejar" (ROGERS,
1977).

A Abordagem Centrada na Pessoa, possui fundamentos, é uma abordagem


desprovida de técnicas e roteiros predefinidos. Mas para seguir tais príncipios, há
de ser necessário que o psicoterapeuta esteja inteiramente na relação com a
pessoa que o procura, que se coloque no lugar do outro, sinta na pele e, acredite
genuinamente no potencial dessa pessoa, caso isso não ocorra, se torna uma
terapia meramente técnica, perdendo a autenticidade que a própria abordagem
propõe ao psicoterapeuta, assim fugindo dos fundamentos de Rogers. A relação
da Terapia Centrada na Pessoa, é uma relação profunda entre duas pessoas, sem
que haja um melhor que o outro, ou pior que o outro. O psicoterapeuta seguidor de
Rogers, age como um facilitador para que a própria pessoa encontre o melhor
caminho para ela. Amatuzzi, enxerga essa relação muito mais como uma ética,
do que uma técnica; Este autor acredita que todo ser humano deve ser tratado
com um ser de valor único, que todo ser humano merece ser olhado com "um ser
de valor próprio e inalienável, como um ser que me interpõe algo de absoluto. É
respeitá-lo naquilo que ele é" (Amatuzzi,2010).

Assim, pode-se dizer que a ACP se trata de um modo de ser, voltado para
a ação, que ocorre de acordo com as circunstâncias. Não é um modo de agir
(como as abordagens convencionais), e sim, um modo de ser direcionado para a
ação eficaz. Este modo se dá para situações que possui como desafio a
"mudança" buscando o crescimento, amadurecimento. (Amatuzzi, 2010).

Contudo, é possível perceber que o Humanismo como um todo, e a ACP foi


uma grande mudança na Psicologia, o essencial não está no comportamento do
psicoterapeuta, e nem em suas técnicas, mas sim, em seu jeito de ser. A ACP,
não é meramente uma teoria a ser aplicada nas pessoas, acredito em mais que
isso, acredito que a ACP é um modo de vida. À medida que o seguidor de Rogers
conhece seus fundamentos, ele busca aquilo para si próprio. Assim, o
psicoterapeuta rogeriano, poderá compreender aos que lhe procurarem
inteiramente e genuinamente, sem que a utilize como uma técnica.

Outro ponto relevante que é válido destacar dentro do Abordagem Centrada


na Pessoa, é a importância do "ouvir" o outro. E Rogers, dizia isso, de sua alegria
quando conseguia realmente ouvir alguém. Ele conta uma história, de quando era
criança, e um aluno de sua classe fez uma pergunta à professora, esta, deu uma
ótima resposta, mas não havia sido aquilo que o menino perguntou, e o pequeno
Rogers, disse que sentia uma angustia e dor, pela professora não o ter "ouvido
realmente". (Rogers, 1983,p. 4-5, APUD Amatuzzi, 1990). Rogers trata essa
situação, de não ouvir realmente o significado do que as pessoas dizem, é como
uma falta de comunicação, as pessoas escutam, mas não ouvem de verdade.

Esse fato, pode ser confirmado nos atendimentos clínicos. É perceptível a


necessidade aas pessoas em serem ouvidas, pois elas não têm quem as ouça
realmente e, possa compreendê-las. Quando isso acontece, juntamente com as
três atitudes citadas acima(empatia, congruência e aceitação positiva
incondicional), o cliente parece se sentir aliviado, é como se não estivesse mais
sozinho pois, mais alguém está junto a ele o compreendendo. Nesse caminho, o
cliente tem mais possibilidades ao crescimento, buscando seu próprio rumo, com
ajuda facilitadora do psicoterapeuta e a credibilidade no potencial da pessoa que o
procurou. Sobre isso:

" Todo ser humano tem a capacidade de compreender-se a si mesmo e


de resolver seus problemas de modo suficiente para alcançar a s atisfação e
eficácia necessárias ao funcionamento adequado. (...) Ele tem igualmente uma
tendência para exercer esta capacidade. (...) Esta capacidade é entendida
como integrante de seu conteúdo natural, (...) mas a atualização dessa eficácia
não é atuomática" (Rogers e Kinget, 1977, p.39).

Pela proposta da ACP, então, o principal foco é voltado para o


potencial do encontro terapêutico e para o desenvolvimento de uma relação
construtiva para ambos (Campos, 2009).

Desse modo, Rogers dizia que a melhor definição para a ACP é:

"Se eu deixar de interferir nas pessoas,

elas se encarregam de si mesmas.

Se eu deixar de comandar as pessoas,

elas se comportam por si mesmas.

Se eu deixar de pregar as pessoas,

elas se aperfeiçoam por si mesmas.

Se eu deixar de me impor as pessoas,

elas se tornam elas mesmas." (LAO-TSÉ, APUD, Carrenho, Tassinari


& Pinto, 2010).
Referências

- Carrenho, E., Tassinari, M., & Pinto, M.A. Praticando a Abordagem Centrada na
Pessoa: Dúvidas e perguntas mais frequentes. São Paulo: Carrenho Editora,
2010.

- Amatuzzi, M.M. Rogers: Ética Humanista e Psicoterapia. Campinas, SP: Editora


Alínea, 2010.

- Campos, A.P. Atenção Psicológica Clínica: Encontros Terapêuticos com crianças


em uma creche. Puc-Campinas:Mestrado, 2008.

- Amatuzzi, M.M. O que é ouvir. PUC-Campinas: "Estudos dee Psicologia",


número 2,1990.

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