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infantil
O exército em alerta
O
sistema imune pode ser consi-
derado como um grande exército
capaz de reconhecer e defender
nosso corpo de possíveis agressores,
cujas células (soldados) executam seu
trabalho de maneira organizada e coor-
denada. Em determinadas situações,
nosso sistema imune pode reagir exces-
sivamente a pequenos estímulos não-pe-
rigosos e nosso exército, que deveria
simplesmente nos proteger, por este
excesso de reação, gera um processo
alérgico que pode nos prejudicar.
2
E quando o sistema imune detecta um alérgeno eles indicam a probabilidade, mas este mecanismo
(substância que provoca uma reação alérgica em precisa ser ativado pelo ambiente. Acredita-se que
certos indivíduos), inicia-se a produção de uma a incidência de alergia infantil seja causada pelo
imunoglobulina na tentativa de proteger o corpo. Esta conjunto genética mais fatores ambientais.¹
imunoglobulina (a mais famosa é a IgE, mas IgG, IgM
e IgA também são importantes), liga-se ao alérgeno Dados disponibilizados pela Associação Brasileira
e, em contato com as células de defesa, denomi- de Alergia e Imunopatologia (ASBAI, 2015) apontam
nadas mastócitos, desencadeia um tipo de reação que cerca de 30% da população tsofre de alguma
conhecida como degranulação, que libera histamina alergia, e dessas, 20% são crianças.2 A prevalência
e outras substâncias que chamam todo o “exército” tem aumentado no decorrer dos anos e preocupa os
para combater este alérgeno. profissionais da saúde. Diversas hipóteses tentam
explicar esse efeito. Este artigo apresentará algumas
Essas substâncias, por sua vez, geram um processo delas, comprovadas, para explicar este fenômeno.3-5
de inflamação resultando nos sintomas tipicamente
conhecidos da alergia, como coceira, vermelhidão, COMO O INTESTINO
inchaço e, em determinados casos, pode chegar a INFLUENCIA NA ALERGIA?
um choque anafilático (rápido fechamento das vias
Nos últimos anos, o intestino tem sido foco de
aéreas podendo levar à morte).
múltiplos estudos. Cada vez mais percebe-se que o
A predisposição genética é a causa mais documen- intestino é muito mais do que um simples órgão que
tada sobre os casos de reações alérgicas. Cerca de 50 metaboliza e excreta alimentos, e que ele pode estar
a 80% dos pacientes diagnosticados possuem histó- envolvido em inúmeros processos patológicos, inclu-
rico familiar de alergia. A probabilidade de um filho sive alergia. O intestino é capaz de abrigar até 100
nascer alérgico se os pais possuem alguma sensibi- trilhões de bactérias, valor esse que supera o número
lidade é de cerca de 75%. Mas os fatores genéticos de células presentes em um indivíduo; nele encon-
não podem ser responsabilizados de forma isolada; tram-se de 60 a 70% das células imunológicas, e
acredita-se que a rotina e alimentação atual têm alte-
rado drasticamente essa população microscópica.6-8
mastócitos: A flora intestinal apresenta funções importantes,
como a síntese e defesa do orga-
nismo. Uma vez desregulada, ocorre
IgE ALÉRGENO um processo denominado disbiose
intestinal cujo órgão não consegue
absorver adequadamente as vitami-
desgranulação nas, quebrar os peptídeos, e acaba
receptor reabsorvendo as toxinas causando
inúmeros processos patológicos
como a desregulação autoimune e,
consequentemente, a alergia.6 Em um
processo de disbiose, a falta de equilí-
brio entre os microrganismos presen-
tes na flora intestinal faz com que haja
declínio das bactérias benéficas com
consequente predomínio de bacté-
rias patogênicas, além de fungos,
que produzem subprodutos químicos
histaminas
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Alergia Infantil
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ALIMENTOS COMO
ALÉRGENOS
É difícil estimar a precisão do número de crianças Com alterações da permeabilidade intestinal cada
alérgicas bem como a predominância exata da aler- vez maiores (orifícios no intestino que permitem
gia por determinado alimento. Acredita-se que cerca que os alimentos entrem em contato com o sistema
de 4% a 8% das crianças sofram de alguma alergia imune), estamos diante de uma situação nova, além
alimentar sendo que o leite, ovos, amendoim, nozes, da situação clássica de alergia aguda mediada por
soja, trigo, peixes e crustáceos são os alimentos IgE. Existe uma produção crônica de IgG pelo corpo
com maior potencial alergênico descrito.14, 15 exposto a determinados alimentos, e o “excesso”
de IgG leva à formação de complexos imunes que
Para avaliar a incidência das reações de alergia podem se depositar em qualquer parte do corpo.
alimentar, um estudo britânico, realizado com 13 Essa reação é chamada de reação de hipersensibili-
milhões de crianças do Reino Unido e Irlanda, entre dade tipo III (hipersensibilidade imune complexa), e
1998 e 2000, mostrou uma taxa de internação por explica porque as pessoas não têm reações agudas
episódios de alergia alimentar de 0,89 para cada a alguns alimentos, mas quando excluem estes
100.000 crianças, e concluiu que os alérgenos prin- mesmos alimentos de sua dieta, melhoram alergias
cipais eram o amendoim (21%), seguido de nozes que vinham tendo há anos. Quando se melhora da
(16%), leite (10%) e ovos (7%). Estudos mais atuais rinite ou da asma pela retirada do leite ou do trigo,
têm mostrado que a incidência tem aumentado e muitas vezes isto se dá por esse mecanismo. Já se
que a alergia ao leite, que muitas vezes resolvia-se criou uma nova categoria para a hipersensibilidade
por conta própria até os 5 anos, tem se mantido no ao glúten para englobar esse fenômeno: Hipersen-
decorrer da vida.15,16 Dados divulgados pelo Centro sibilidade ao Glúten Não-Celíaca. Isso significa
de Controle e Prevenção de Doenças, nos Esta- que se pode ser hipersensível ao glúten sem ter a
dos Unidos, 2013, revelou que o índice de alergia doença celíaca. Qualquer alimento usado de forma
alimentar em crianças aumentou cerca de 50% contínua e repetitiva pode causar o fenômeno de
desde 1997.17 hipersensibilidade.18, 19
saúde intestinal
x
alergia
A flora intestinal
apresenta funções
importantes, como a
defesa do organismo. Uma
vez desregulada, ocorre
um processo denominado
disbiose intestinal cujo
órgão não consegue
absorver adequadamente
as vitaminas, quebrar
os peptídeos, e acaba
reabsorvendo as toxinas,
podendo ocorrer
a alergia.6
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Alergia Infantil
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TESTES DE DIAGNÓSTICO
O diagnóstico de alergia alimentar
ainda é baseado principalmente maior tempo possível. A carga de microrganismos
em um histórico clínico detalhado e benéficos e os nutrientes é repassada da mãe para
exame físico completo. o filho, e por isso é crucial uma boa alimentação
Os testes clínicos ou de laboratório servem apenas com uma flora intestinal equilibrada durante todo
como uma ferramenta para confirmar o diagnóstico. esse período. A introdução dos alimentos sólidos
As técnicas convencionais incluem o teste cutâneo e também deve ser muito bem selecionada com frutas,
ensaios in vitro para anticorpos IgE específicos e desa- verduras e carnes orgânicas, evitando os alimentos
fios alimentares (dieta de eliminação). Feito correta- processados, e deve ser mantida até pelo menos 3
mente, os desafios alimentares orais continuam a ser anos.22
o padrão ouro na investigação diagnóstica. Recente- As fibras (chamadas de prebióticas, pois alimentam
mente, métodos de diagnóstico não-convencionais o crescimento bacteriano intestinal) são as maiores
são cada vez mais utilizados. Estes, incluem alimen- aliadas na regulação da microbiota intestinal. Um inte-
tos IgG específicos, o anticorpo antígeno leucocitário ressante trabalho científico, elaborado por pesquisa-
e testes de provocação intradérmicas/sublinguais, dores da Universidade de Lausana, Suíça, e publicado
bem como alimentos citotóxicos, cinesiologia apli- na renomada revista Nature Medicine, mostrou que
cada e triagem eletrodermal. Mas esses métodos uma dieta rica em fibras foi capaz de alterar a micro-
carecem de fundamentação científica, padronização biota do intestino e do pulmão protegendo contra
e reprodutibilidade e, até o momento, não há estudos inflamações alérgicas no pulmão quando comparado
bem projetados para suportá-los, havendo diversos ao teste controle (sem ingestão de fibras).23
autores que refutam a sua utilidade.
Quanto aos probióticos, inúmeros estudos também
PREVENÇÃO PARA associam o seu uso com a redução de episódios de
ALERGIAS alergia.21, 24 Crianças podem ter menos cólicas abdo-
minais se for dado probióticos nos primeiros meses
Como já descrito no decorrer do artigo, os processos
de vida. Mães que fizeram uso de probióticos na gesta-
alérgicos, sejam de origem alimentar, respiratória ou
ção terão filhos com menos eczemas alérgicos.25, 26
tópica, são decorrentes do desequilíbrio do sistema
imune. Asma, rinite, urticária, não importa a forma O uso de alguns insumos como betaglucana, timo-
que a alergia possa tomar, o sistema imune alterado modulina e epicor, vitamina C, magnésio e ômega-3
pode reagir de forma excessiva, e sabe-se que ele se podem ser usados para estimular o sistema imune
relaciona diretamente com o trato gastrointestinal. além de evitar a liberação de histamina. A vitamina D
Assim, alimentos e um desequilíbrio da microbiota também se mostra aliada como potente moduladora
intestinal podem estar alimentando esse processo. O de imunidade, há estudos inclusive que sugerem que
ideal é uma modificação na dieta procurando a inges- pessoas com menor dosagem de vitamina D são mais
tão de produtos fermentados não pasteurizados, suscetíveis a processos alérgicos.27
ricos em lactobacilos, com fonte de fibras e orgâ-
nicos, bem como a retirada de alimentos contendo Assim como um exército, o sistema imune precisa ser
agrotóxicos e antibióticos, e produtos processados muito bem liderado para reconhecer os verdadeiros
repletos de açúcar, corante, conservante e soja.21 inimigos. Para isso, você precisa fornecer subsídio e
treinamento a ele optando por bons hábitos alimen-
A prevenção na criança inicia-se com os bons hábi- tares e uma melhor qualidade de vida. Pequenas
tos alimentares da mãe durante a vida intrauterina decisões, mas com grandes resultados capazes de
e prossegue com o estímulo da amamentação por reorganizar seu exército enfraquecido.
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