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Apontamentos de Direito
Constitucional
Estes apontamentos constituem uma síntese da matéria apreendida nas aulas teóricas,
tendo por objectivo servir como material didáctico, o que não dispensa a consulta dos
respectivos manuais (os quais iremos indicar abaixo). Não englobamos a totalidade do
que trata o Direito Constitucional (como o caso do regime dos Direitos Fundamentais).
Bibliografia Essencial
Em sentido estrito, o Direito Constitucional traduz-se no que acima foi dito, num
conjunto de matérias, embora não directamente constitucionais, são protegidas pelo
Direito Constitucional.
O liberalismo dita que o poder político reside no povo; daqui resulta o nosso conhecido
princípio da separação de poderes. O povo delega os seus poderes a uma entidade
soberana, subdividida em entidades diferentes.
Temos, outrossim, que curar dos direitos fundamentais dos cidadãos. Anteriormente à
ideia de constitucionalismo moderno, não considerávamos os integrantes de uma
comunidade como cidadãos, mas sim como súbditos, estando estes subjugados aos
poderes do senhor absoluto. Por seu turno, na concepção liberal, o cidadão tem direitos
fundamentais, inalienáveis pelo Estado, consagrados na Constituição. Esta concepção
está ao serviço do povo e reconhece a dignidade da pessoa humana (Ex: Direito à vida,
ao casamento). O Estado não pode por em causa estes direitos, porquanto o Estado
emana da vontade geral. O Estado tem o dever de criar condições, a fim de garantir a
satisfação de necessidades e direitos dos cidadãos. O Estado define as regras, mas
posteriormente não se deve imiscuir socialmente, intervindo, economicamente, como
regulador.
A Constituição é a lei fundamental, é a “lei das leis”. Esta deve estar protegida de
ataques ao seu conteúdo, não se devendo subordinar a maiorias conjunturais (veja-se
que a revisão constitucional em Portugal exige, para a sua aprovação, uma maioria
qualificada de pelo menos dois terços dos deputados em efectividade de funções). As
normais jurídicas das demais leis devem-se-lhe subordinar (Princípio da
Constitucionalidade). As leis devem ser moldadas àquilo que a Constituição estabelece.
As constituições podem apresentar características diferentes, todavia, aquilo que lhe está
subjacente é a designação das características fundamentais do Estado.
Constituições Flexíveis e Rígidas: Tem que ver com o processo de revisão. Uma
Constituição Flexível é aquela cujo processo de revisão não difere do procedimento
legiferante das demais leis ordinárias. Constituição Rígida é aquela cujo processo de
revisão é mais exigente que o procedimento das demais leis ordinárias (A Constituição
portuguesa é rígida, visto que o seu processo de revisão exige uma maioria qualificada
de dois terços dos deputados em efectividade de funções).
Constituição Nominal – tem o objectivo de limitar o poder político, ainda que este não
se lhe submeta totalmente (Ex: Constituição Corporativa de 1933).
Para existir Constituição, primeiro esta tem de ser criada. A função de elaborar a
Constituição traduz-se na Função Constituinte.
O Poder Constituinte corresponde ao momento inicial do Estado, que irá traduzir a sua
ordem jurídica. Podemos visualizá-lo num quadro de criação, no momento inicial, ou
num momento de reconstrução, de reformulação, de transição; aí estamos no domínio
das vicissitudes constitucionais, constituindo o paradigma do Poder Constituinte a
Revolução Constitucional. Numa palavra, o Poder Constituinte mais não é que o poder
de criar a Constituição, que irá ditar a nova ordem jurídico-constitucional.
O Poder Constituinte pode ser originário, sendo este o poder de criar a Constituição, ou
derivado, sendo este o poder de rever a Constituição.
Não podemos olvidar que, apesar de ser um poder primário, que está na base da criação
na nova ordem jurídica, o Poder Constituinte não é ilimitado, não é omnipotente, como
alguns defendem. Este tem, outrossim, os seus limites, limites materiais ao Poder
Constituinte Originário, limites esses de índole transcendente, imanente ou heterónoma:
Limites Materiais – Art. 288º CRP (Há discernimento e rotura de convergência, pelo
que apontamos as várias teses a respeitos destes limites):
Tese da Irrelevância Jurídica – aqui considera-se que não é aceitável que o legislador
constituinte vincule gerações futuras a uma Constituição, a um acto constituinte
produzido em determinado momento. Não tem o direito de congelar “ad eternum” um
modelo constitucional. Aqui, a Constituição, detendo um conjunto sistemático de
racionalizado de normas com valor fundamental e superior, todas elas têm valor
idêntico, sendo ilegítimo que umas tenham mais valor que outras. Isto que impor limites
na Constituição, no sentido da sua imutabilidade, é limitar, de forma ilegítima o Poder
Constituinte. A norma que imponha limites não tem poder jurídico.
Inconstitucionalidade
Quando uma norma ou acto legislativo padece de vício, no âmbito da sua conformidade
com a lei fundamental, estamos perante uma inconstitucionalidade – comportamento
que infringe uma norma constitucional.
Não obstante, acresce que para ser inconstitucional, o acto tem, não só de estar
desconforme à Constituição, como emanar de entidade de poder público.
Releva, outrossim, a consideração da reserva de lei, o que se traduz na ideia da lei como
instrumento para definir o regime mais apropriado. Dito de outra forma, certas questões
só podem ser objecto de acto legislativo (Ex. Arts 164º e 165º CRP). Os Poderes
executivo e administrativo não estão acima da lei.
O Princípio da Segurança Jurídica visa que, de acordo com as expectativas que o Estado
depositar nos cidadãos, estes têm de ter confiança no Estado. No caso concreto da
Segurança Jurídica, observe-se a intangibilidade do caso julgado, consagrado no Art.
282º/3.
A nossa CRP não podia ser mais clara, quando afirma, no seu Art. 1º, que Portugal é
uma República soberana baseada na vontade popular. O Art. 2º estatui que “A
República portuguesa é um Estado de Direito Democrático, baseado na soberania
popular (…)”. O Art. 3º dispõe que a soberania reside no povo. O Art. 9º vincula o
Estado a defender a democracia política e assegurar o respeito pelo Estado de Direito
Democrático.
Estatui o Art. 108º que o poder político reside no povo e o Art. 109º compreende a
participação directa e activa dos cidadãos na vida política.
Quer isto dizer que os cidadãos não devem entender que a sua participação política se
esgota com o exercício do voto em eleições.
O Princípio Republicano comporta uma dimensão laica (Art. 41º CRP) (Separação entre
o Estado e a Igreja), a simbologia republicana (Art. 11º CRP) (adoptada desde a
revolução de 1910) e a unidade e indivisibilidade da República (Art. 3º/1 CRP).
Normas Constitucionais
Por seu turno, as normas preceptivas têm eficácia incondicionada, não dependendo de
condições institucionais ou de facto (Ex: normas de Direitos, Liberdades e Garantias,
que são directamente aplicáveis). Estas comportam duas dimensões: podem ser
exequíveis por si mesmas ou não exequíveis por si mesmas.
As normas exequíveis por si mesmas são aplicáveis por si só, sem necessidade de lei
que as complemente. Concretizam-se por si mesmas. Aqui, os comandos constitucionais
actualizam-se por si só (Ex: Art. 24º CRP “A vida humana é inviolável”).
As normas não exequíveis por si mesmas carecem de normas legislativas ulteriores que
as tornem plenamente aplicáveis. São normas prescritivas, imposições legiferantes: o
legislador ordinário é obrigado a fazer a lei necessária para a sua efectivação. Pode não
de imediato produzir efeitos. Fica dependente de uma concretização jurídica ulterior.
Postulam apenas a intervenção do legislador (e não um programa vinculativo). Se estas
não forem concretizadas poderá incorrer-se numa inconstitucionalidade por omissão
(Ex: Art. 26º/2 “A lei estabelecerá (…)”).
História Constitucional Portuguesa1
1
Referência superficial. Para estudos mais aprofundados ver Marcello Caetano – Constituições
Portuguesas.
Constitucional traduz-se na manifestação absolutista por parte do monarca. Este texto
fundamental atribui ao Rei o poder moderador.
Em 1826, D. Pedro abdica do trono, entregando-o a sua filha, D. Maria I, que haveria de
casar-se com D. Miguel, irmão de D. Pedro e absolutista fervoroso, a quem era
concedida a regência de Portugal em 1827. Em 1828, reunindo influencias, D. Miguel
proclama-se Rei absoluto. Devido a este facto, o país embarca numa série de lutas entre
absolutistas e liberais, com devidas alternâncias no poder, que, num último momento, se
repercute na Convenção de Évoramonte, saindo vitoriosos da guerra civil os liberais.
Esta tinha 145 artigos, tendo como objectivo solucionar a crise dinástica, estabelecer um
compromisso entre legitimistas e constitucionais, através do estabelecimento de um
parlamento bicameral, surgindo ao lado do Rei, com Câmara de Deputados electiva e
Câmara de Pares hereditária. O princípio monárquico e o princípio representativo
coexistem. Para além dos poderes anteriormente referidos (legislativo, executivo e
judicial), temos a novidade do poder moderador detido pelo monarca. O sistema de
governo era parlamentar, o que tendeu para um sistema rotativista (rotatividade entre
governos de facções políticas, v.g. Partido Regenerador, Partido Histórico, Partido
Progressista).
A Carta Constitucional teve várias vigências. A primeira vigência deu-se entre 1826 e
1828, entre o reinado de D. Miguel e os conflitos políticos. A segunda vigência observa-
se entre 1834 e 1836, aquando da vitória dos liberais na guerra civil até à agudização
conflitual entre Cartistas e Vintistas, revolta que ficou conhecida como o Setembrismo,
que veio reinstituir a Constituição de 1822, por força da vitória dos Vintistas (não
obstante a sua dificuldade de aplicação, que culminou na sanção da Constituição de
1838). Por último, visualiza-se a vigência da Carta Constitucional entre 1842, golpe de
Estado por Costa Cabral que repõe a Carta Constitucional, e 1910, revolução
republicana.
Mais tarde, já como Presidente do Conselho de Ministros, Salazar preparou uma nova
Constituição que o Governo publicou nos jornais diários de 28 de Maio de 1932 para
efeito de discussão no país e, posteriormente, refundiu-a e submeteu-a a plebiscito
nacional, sendo então aprovada em 1933. Esta não foi elaborada por uma Assembleia
Constituinte, mas sim pelo Governo, sendo legitimada através de sanção popular.
Assentava num sistema de governo simples de chanceler, pois não é parlamentar (apesar
de ser reconhecida uma Assembleia Nacional), nem presidencial (O Presidente da
República, apesar de ser a figura mais alta a nível Estadual, na prática não estava
imbuído de grandes poderes, como que uma figura representativa), assentando na
concentração de poderes (apesar de haver vários órgãos de soberania – PR; Assembleia
Nacional; Governo e Tribunais). O Presidente da República é, num primeiro momento,
eleito por sufrágio directo por sete anos, podendo ser reeleito. Este nomeia o Presidente
do Conselho e os Ministros, convoca a Assembleia Nacional e dissolve-a quando
necessário, dirige a política externa do Estado, promulga as leis e exerce poder de veto
(excepto a nomeação e demissão do Presidente do Conselho, as mensagens dirigidas à
NA e a mensagem de renúncia ao cargo; os seus actos devem ser referendados). A
Assembleia Nacional é constituída por noventa deputados eleitos por sufrágio directo
por quatro anos, tendo por objecto a elaboração das leis e velar pelo cumprimento da
Constituição; funciona três meses por ano. O Governo é constituído pelo Presidente do
Conselho e pelos Ministros, sendo o Presidente do Conselho nomeado e demitido pelo
Presidente da República e perante ele responsável, tendo como função coordenar e
dirigir as actividades de todos os ministros, elaborar decretos-leis e referendar actos do
Presidente da República. O Conselho de Estado e a Câmara Corporativa são órgãos
auxiliares, sendo auxiliares do Presidente da República e da Assembleia Nacional,
respectivamente.
A revisão de 1959, por força do resultado nas eleições de 1958 do General Humberto
Delgado, opositor ao Governo, traduziu-se na substituição do modo de eleição do
Presidente da República, para um colégio restrito.
Constituição de 1976 – A CRP de 76 tem uma origem revolucionária, por força de uma
difícil situação do país, dominado por um regime caduco, por condições económico-
sociais degradadas e pelo adiamento constante da questão da descolonização. Desta
forma, Portugal sairia desse impasse com a revolução de 25 de Abril de 1974,
protagonizada pelo Movimento das Forças Armadas. O 25 de Abril representava o
início de uma verdadeira revolução, que iria permitir o restabelecimento da democracia
de a descolonização. O processo que levaria à CRP de 76 passa, em primeiro lugar, pelo
programa do MFA, consagrado e formalizado num documento sem precedentes no
Direito Público português. O 25 de Abril teve, igualmente, como referência, a nível
jurídico, a Declaração Universal dos Direitos do Homem (documento que viria inspirar
a CRP de 76). O Programa do MFA previa a restauração da democracia e dos direitos e
deveres dos cidadãos, uma solução política da questão colonial, o programa de salvação
dos três d’s (descolonizar, desenvolver, democratizar), uma nova solução político-
económica e social e a definição no novo sistema político, através de uma legitimação
emanada do povo, com a eleição dos Deputados à Assembleia Constituinte, assembleia
que iria ser objecto de criação da nova Constituição. Todavia, circunstâncias houve que
assinalaram o processo que se desenrolaria até à Constituição, entre as quais, a
turbulência dos dois anos entre a revolução e a Constituição (desacatos políticos e
sociais), a celebração de duas Plataformas de Acordo Constitucional entre os principais
partidos políticos e o MFA e o pluralismo partidário que assolou o país e se manifestou
na Assembleia Constituinte, tendo cada partido apresentado o seu projecto
constitucional. Destas circunstâncias resultaria uma Constituição fortemente
influenciada pelos elementos factuais registados nesse período.
Num primeiro momento, o MFA nomeia uma Junta de Salvação Nacional, a quem são
entregues, provisoriamente, os poderes do Estado, na qual são criadas sucessivamente
Leis Constitucionais Revolucionárias. A nova ordem política deve versar na supressão
do anterior regime, nomeadamente, na repartição do poder político por vários órgãos
constitucionais, primeiramente, órgãos provisórios. Os poderes constituintes assumidos
em consequência do MFA foram conferidos ao Conselho de Estado e os poderes
Constituídos ao Governo Provisório. Este paradigma manter-se-ia até à eleição da
Assembleia Constituinte.
A 25 de Abril de 1975 dá-se, em Portugal, uma eleição livre, com sufrágio universal,
para a Assembleia Constituinte. A Constituição nasce dessa Assembleia, onde estão
representadas todas as ideologias políticas eleitas, com a intervenção de todos os
partidos. Só a AC tinha poder para decretar e sancionar a Constituição. A elaboração da
Constituição passou por uma fase de sistematização, uma fase de elaboração e
aprovação e uma fase de redacção final e aprovação global.
O Art. 112º da CRP prevê os diferentes tipos de actos normativos (podem ser
legislativos ou não legislativos). Retira-se, outrossim, do artigo supra-referido o
Princípio da Tipicidade, no qual só existem actos normativos que a CRP prevê.
Nunca é de mais afirmar que a lei é geral e abstracta (Veja-se que a lei orgânica não
constitui outra categoria de acto legislativo. Quanto muito é uma subcategoria de lei
ordinária).
Por seu turno, o Governo tem também competência para realizar actos de natureza
administrativa. Aqui identificamos o acto normativo não legislativo, que irá
corresponder ao regulamento (Art. 112º/6/7 CRP).
Segundo o Art. 232º CRP, é da competência exclusiva das Assembleias Legislativas das
Regiões Autónomas o poder legislativo, não sendo este delegável nos respectivos
Governos.
Categoria de Leis (Leis de Valor Reforçado – Art. 112º/3 CRP) – A CRP estabelece que
em certas matérias existam leis de valor reforçado, às quais as restantes leis se devem
subordinar.
Se uma lei ordinária, em regra, for desconforme a uma lei de valor reforçado é ilegal.
Só são leis de valor reforçado as que resultam da Constituição (Art. 112º/3 CRP).
Leis Orgânicas – Art. 168º/5 CRP – Requerem maioria absoluta dos deputados em
efectividade de funções para serem aprovadas (mínimo de 116 deputados).
Constituem forma de lei orgânica as matérias constantes do Art. 164º, alíneas a. a f., h,
j, l (primeira parte), q, t (Art. 166º/2 CRP).
Leis que carecem de aprovação por maioria de dois terços – Arts. 112º/3 e 168º/6 – São
leis que carecem de uma dupla maioria para serem aprovadas: maioria de dois terços
dos deputados presentes desde que superior à maioria absoluta dos deputados em
efectividade de funções (mínimo 117 deputados).
Leis que são pressuposto normativo necessário de outras leis – Arts. 112º/3 e 198º al.c.
– A CRP estabelece que, em função da matéria de que se ocupa, a lei deve ter especial
protecção. Assim, a lei A é pressuposto normativo da lei B. A lei B só pode subsistir
mediante a existência da lei A (Ex: Leis Base – DL de desenvolvimento).
Leis que devem por outras ser respeitadas – Uma lei para existir não depende de outra.
Mas se essa outra existir, a lei deve respeitá-la. Assim, para existir B, não tem que
existir A. Mas se A existir, B tem de respeitá-la. Caso paradigmático deste tipo de delis
é a Lei do Orçamento. Se esta existir, todas as restantes se lhe devem submeter (Art.
106º/1 CRP).
Processo Legislativo Parlamentar
Cabe ao Presidente da Assembleia da República fixar a ordem do dia (Art. 176º/1 CRP),
não obstante a possibilidade de ser solicitada prioridade, por parte do Governo, dos
Grupos Parlamentares ou das Assembleias Legislativas Regionais, para assuntos de
interesse nacional ou regional, respectivamente, de resolução urgente (Art. 176º/2/4
CRP).
Por seu turno, a votação compreende uma votação na generalidade (versa sobre cada
projecto em geral, sendo aqui que se toma a decisão de legislar; as restantes votações
são consequenciais), uma votação na especialidade (versa sobre cada artigo, número,
alínea) e uma votação final global, votação esta que irá incidir sobre a forma final do
projecto/proposta de lei e não é precedida de discussão (as anteriores são; cada Grupo
Parlamentar pode apenas produzir uma declaração de voto não superior a dois minutos).
A inexistência de cada votação pressupõe a nulidade da lei, porquanto constitui um
vício de procedimento.
O PR pode exercer o direito de veto (veto político), nos termos do Art. 136º/1 CRP,
devendo devolver o diploma à AR com mensagem fundamentada, o que não obsta que a
AR possa recorrer ao mecanismo da confirmação (Art. 136º/2/3 CRP).
Sem embargo, a AR não fica obrigada a deliberar de novo. Pode fazê-lo ou não. A AR
pode expurgar a norma viciada, ou mesmo reformular todo o diploma (Art. 279º/2
CRP), sendo enviado novamente o diploma ao PR para efeitos de promulgação. Não
obstante, a AR pode não recorrer a nenhum desses mecanismos e insistir na mesma
formulação do diploma. Nesse sentido, pode a AR recorrer ao mecanismo da
confirmação, sendo necessária maioria de dois terços dos deputados em efectividade de
funções para haver confirmação (Art. 279º/2 CRP).
A publicação é feita através do jornal oficial “Diário da República”, sob pena de, em
caso de não publicação, ineficácia jurídica (Art. 119º CRP).
Fiscalização da Constitucionalidade
Quando se observa que uma norma constitucional padece de vício, concluímos que a
Constituição tem de prever mecanismos com capacidade para suprimir, ou no mínimo,
criar condições atenuantes para fazer face à norma viciada. Afirma-se, pois, que à
inconstitucionalidade corresponde a garantia da constitucionalidade. Daí decorre que
dessa garantia existam mecanismos para prosseguir essa mesma garantia: daí a
fiscalização da constitucionalidade.
De acordo com o Art. 278º da CRP, a fiscalização preventiva pode abranger disposições
constantes de tratado e acordo internacional e de acto legislativo.
Esta actuação tem lugar na fase final do processo, em regra, do processo legislativo
parlamentar, antes da promulgação dos actos legislativos.
Aqui, a CRP não estabelece qualquer prazo para o veto jurídico, aplicando-se,
analogicamente, o Art. 136º/1/4, que estabelece o prazo de vinte dias para a lei e
quarenta dias para decreto-lei do Governo.
No caso do expurgo, retira-se somente a norma que estava viciada, tendo o PR apenas
poder para promulgar ou vetar o acto (Art. 279º/2 CRP).
As decisões judiciais que não sejam passíveis de recurso ordinário não são objecto de
retroactividade.
No entanto, admite-se uma excepção, no que respeita aos casos em matéria de domínio
penal. O caso pode ser reaberto, desde que da declaração da inconstitucionalidade
resulte benefício para o arguido (redução de pena) e que essa decisão decorra do TC
explicitada e fundamentada (Art. 29º/4 CRP – Princípio da Retroactividade da Lei
Penal).
Sobrevém num processo, que tem por finalidade decidir sobre uma determinada
situação controvertida e não sobre a inconstitucionalidade de uma norma. É como que
um incidente no decorrer do processo.
Podemos identificar quatro tipos de decisões que irão dar fundamento a recurso de
constitucionalidade:
Decisões Negativas de Ilegalidade – Art. 280º/2 al.d. CRP – o tribunal recorrido aplica a
norma proveniente dos actos já produzidos, cuja legalidade haja sido suscitada.
Nas decisões positivas, o tribunal “a quo” desaplica a norma por a considerar
inconstitucional ou ilegal.
O recurso não pode ser utilizado para solicitar ao TC a pronuncia sobre o conteúdo
material da decisão tomada pelo tribunal “a quo”. O recurso deve ater-se apenas à
questão da constitucionalidade/legalidade da norma em causa. O TC está vinculado à
decisão judicial recorrida.
A decisão do TC, em sede de fiscalização sucessiva concreta, pode ser de dois tipos:
No caso de provimento, os autos devem baixar ao tribunal “a quo”, para que este
reformule a sua decisão em função do acórdão do TC.