Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESU M O
A B S TR A C T
Brain death represents the irreversible medicalcondition in w hich the brain functions
(telencephalon and diencephalons) and the brainstem are hopelessly compromised.
Three prerequisites are necessary to define it,thatis: irreversible coma w ith know n
cause;absence ofhypothermia,hypotension orsevere metabolic disorder;exclusion
ofexogenous intoxication,orpsychotropic drugs effect.Itis based on the concomitant
presence ofcoma unresponsive to externalstimuli,absence ofbrain stem reflexes,
and the presence ofapnea.The diagnosis is established aftertw o clinicaltests w ith an
intervalofatleastsix hours,carried outby tw o differentprofessionals notlinked to the
transplantteam.Itis mandatory to prove,through complementary exams,the absence
ofcentralnervous system perfusion,orelectric activity ormetabolism.Brain death
means death both legally and scientifically.Itis necessary forallhealth care profession-
als,especially the physician,to be familiarw ith the conceptofbrain death,so thatthe Recebido em: 09/09/2009
Aprovado em: 24/09/2009
application oflife supporttechnology is beneficial,individually and socially committed,
notonly to promote inadequate intervention,extension ofsuffering and familiardistress Endereço para correspondência:
A v. A lfredo B alena,nº 110 / 10º andar Serviço de N eurocirurgia
and futile and artificialprolongation oflife. H ospitaldas Clínicas da U FMG
B elo H orizonte - MG
Key words: Death;Brain Death;Coma;Tissues Donators;Intensive Care;O rgans CEP: 30130-100
Transplantation. Em ail: ericneuro@ gm ail.com
Tab ela 1 - Evolução dos critérios p ara o diagnóstico de ME em adultos. O b serva-se nítido aum ento das exi-
gências e do rigor durante os anos
Evolução dos critérios de M E – adultos - 1968 a 1997
Critério H arvard 68 RoyalCollege 76 A A N 95 CFM – B rasil97
- Causa coma conhecida Causa coma conhecida Causa coma conhecida e documen-
- e documentada TC/RM/LCR tada TC/RM/LCR
Irreversível Irreversível
Pré-Requisitos
Tax > 32ºC Tax>35 ºC Tax > 32ºC Tax > 32ºC
Ausência de drogas Ausência de drogas Ausência de drogas intoxicação Ausência de drogas (24/48hs)
e alt. metabólica intoxicação e alt. metabólica
Coma sem resposta Coma sem resposta Coma sem resposta a estímulo Coma sem resposta a estímulo
na face na face
Bases Clínicas do
Apneia de 3min Um Teste da apneia Um Teste da apneia Dois testes da apneia PCO2> 55
diagnóstico
PCO2>60mmHg PCO2>60mmHg ou ↑ 20mmHg mmHg
Ausência de Reflexos do Tronco Encefálico
Mesencéfalo Pupilas fixas e Pupilas fixas e dilatadas Pupilas médias ou dilatadas Pupilas médias ou dilatadas
dilatadas (4 a 9mm) fixas (4 a 9mm) fixas
Ponte Corneano Corneano e óculo cefálico Corneano, vestíbulo calórico, Corneano, vestíbulo calórico, óculo
óculo cefálico cefálico
Bulbo Vômito Tosse Tosse Tosse
Movimentos Espontâneos Ausência Ausência Aceita Aceita
Reflexos Medulares Ausência Aceita Aceita Aceita
Obrigatório Não necessário Não obrigatório Obrigatório
Exame Complementar EEG - Artério, TCD, EEG, Cintilografia, Artério, TCD, EEG, Cintilografia,
SPECT Extração O2 SPECT, PIC, Extração O2
Intervalo entre exames Dois exames - 24hs Três exames - 6hs Dois exames - 6hs Dois exames - 6hs
o
N de médicos Um médico Três médicos Um médico Dois médicos
Respaldo legal Não Não Sim Sim
N esse contexto,a ME im plica im ediatam ente dois A Resolução no 1.98614, de 2007, do CFM autoriza,
cenários distintos,a seguir. chancela e estim ula a retirada do suporte intensivo
para esses pacientes. O conhecim ento sobre ME e o
entrosam ento entre as várias equipes que participam
Potencial doador de órgãos da procura de doadores de transplante, com o: neuro-
cirurgiões, intensivistas, socorristas, equipe de retira-
A o ser estabelecido o diagnóstico de ME,tem iní- da de órgãos, são, m uitas vezes, insuficientes para a
cio, im ediatam ente, o esclarecim ento aos fam iliares eficiência da obtenção ajuizada de órgãos e tecidos.15,16
sobre o que ela significa e a perspectiva de que é
possível a doação hum anitária de órgãos e tecidos.
A notificação do diagnóstico à centralde transplante B A SES A N ATO M O CLÍN ICA S D A M E
é obrigatória por lei e nesse m om ento os exam es de
classificação do potencialdoador são iniciados. O term o m orte cereb ral não deve ser usado,por-
H elm s etal.12, acom panhando 164 possíveis doa- que cérebro com preende o telencéfalo e o diencéfa-
dores por 21 m eses,salientaram que a presença,nos lo,não englobando o tronco encefálico.17 A com pleta
esclarecim entos e discussões para o transplante de disfunção do tronco encefálico é sinne qua non para
órgãos, do neurointensivista que definiu o diagnós- o diagnóstico de ME.
tico de ME ou assistiu a doença neurológica reduziu A m orte encefálica representa o estado clínico ir-
a incidência do consentim ento fam iliar para doação. reversívelem que as funções cerebrais (telencéfalo e
diencéfalo) e do tronco encefálico estão irrem edia-
Pacientes sem critério clínico para doação ou velm ente com prom etidas.18
que a família não consentiu com o transplante
PA R A IN IC IA R O P R O T O C O LO
O paciente é considerado, após o diagnóstico de N ecessários três pré-requisitos:
ME, sob o aspecto legal, ético e m oral, um cadáver. A – Com a com causa conhecida e irreversível
(Causa deve estar comprovada por TC/RM ou LCR);
D eve ser m antido o respeito,entretanto,a instituição
B – A usência de hipoterm ia,hipotensão ou distúrbio m etabólico grave
terapêutica é inútil.
(PIA > 60, Tax > 36,5, 160 < Na <120);
B ates D . et al.13 acom panharam prospectivam ente
C – A usência de intoxicação exógena ou efeito de m edicam entos
310 pacientes com diagnóstico de m orte encefálica que psicotrópicos
foram m antidos sob suporte intensivo m esm o após o (12 horas – sedação/curare, 24 horas – barbitúricos);
Pré-requisitos:
■ Tax<36oC, PIA < 60 m m H g,Sat. O 2 < 90% ; A usência de reflexos do tronco encefálico
■ deve ser excluído distúrbio hidroeletrolítico gra-
ve, com o sódio sérico superior a 160 ou inferior Reflexo pupilar
a 120 m Eq/L.
■ via aferente - nervo óptico (II) - tálam o.
■ via eferente - nervo óculo-m otor (III) - m esencéfalo.
Excluir intoxicação exógena: A s pupilas devem estar com dilatação m édia ou
com pleta (3 a 9 m m ) e na linha m édia. A form a pu-
■ Pesquisar uso de bloqueador neurom uscular,drogas pilar não é im portante para o diagnóstico da ME.7
psicotrópicas, agentes anestésicos e barbitúricos. N ão devem apresentar qualquer resposta (contração)
A guardar 48 ou 24 horas para o paciente que usou à estim ulação lum inosa por 10 segundos. O reflexo
barbitúrico ou as dem ais drogas,respectivam ente.22 consensual deve estar ausente. D eve ser dada aten-
Reflexo óculo-cefálico
O diagnóstico de ME é essencialm ente clínico e A parada do fluxo de contraste deve ser docum en-
em m uitos países não é necessária a realização de tada na região do foram e m agno e na porção petrosa
exam es com plem entares.7 da carótida interna,bilateralm ente.18
N o B rasil,é obrigatória a realização de pelo m enos
um exam e com plem entar,dem onstrando a inatividade
elétrica,m etabólica ou perfusionaldo encéfalo.11,30-41 D oppler transcraniano
H ipotermia
CO N D IÇÕ ES Q U E PO D EM M IM ETIZA R M E
Constitui-se em eventualidade rara entre nós,
podendo levar ao com a sem resposta e à abolição
Síndrome de encarceramento (locked-in)
com pleta dos reflexos do tronco encefálico.
A hipoterm ia é causa potencialm ente reversí-
U m a lesão destrutiva, em geral um infarto ou vel de com a, tem peraturas corpóreas entre 24 e
pequena hem orragia,na base da ponte determ ina a 28ºC estão associadas ao com a sem qualquer re-
síndrom e clínica do encarceram ento, caracterizada flexo de tronco.29
por: tetraplegia, paralisia dos nervos cranianos (V,
V I, V II, IX , X , X I e X II) e consciência intacta. A m o-
vim entação voluntária do olhar verticalm ente e a CO N CLU SÃ O
capacidade de piscar estão preservadas,bem com o
a visão e a audição. O exam e neurológico m ostrará A s condições clínicas acim a descritas nunca
conteúdo da consciência preservado associado à poderão m im etizar com pletam ente a ME,porque o
reflexo pupilar, piscar e m ovim entação vertical do prim eiro e m ais im portante pré-requisito para esse
olhar norm al.18,27 diagnóstico é conhecer e docum entar (im agem ou
líquor) a causa do com a, além de constatar sua ir-
reversibilidade.
Síndrome de G uillain B arré O diagnóstico de ME precisa ser entendido e co-
nhecido por todos os profissionais de saúde. Para
A desm ielinização aguda das raízes m otoras é isso, é fundam ental que seja discutido obrigatoria-
rara e sua form a fulm inante, com acom etim ento de m ente em todo currículo m édico.
nervos cranianos, responde por m enos de 0,1% dos A possibilidade da doação de órgãos e tecidos
casos. A sensibilidade dolorosa é pouco acom etida, representa, paradoxalm ente, diante da angústia e
a consciência está preservada, além da história ser tristeza da m orte, a perspectiva de que outras pes-
singular,com paresia sim étrica evoluindo caudo-cra- soas possam recom eçar e buscar nova vida e com
nialm ente em dias.7 qualidade.
Por isso, é necessária a fam iliaridade com os
conceitos da ME, sua identificação correta e rigo-
Intoxicação exógena rosa. A participação ética de todos os m édicos
nessa árdua m issão possibilitará o aum ento subs-
O uso racional de m edicam entos psicotrópicos tancial de doações para o transplante de órgãos
pode induzir estado com atoso profundo, raram ente e tecidos.
20. Saposnik G,Maurino J,B ueri J. Movem ents in brain death. Eur J
REFERÊN CIA S N eurol. 2001; 8:209-13.
21. D rake B,A shw alS,Schneider S. D eterm ination ofcerebraldeath
1. B urns E. W estern civilizations: their history and their culture.
in the pediatric intensive care unit. Pediatrics. 1986; 78:107-12.
N ew York: W . W . N orton & Com pany; 1978.
22. Meinitzer A ,Zink M,Marz W ,B aum gartner A ,H alw achs-B aum ann
2. MollaretP,Goulon M.The depassed com a (prelim inary m em oir).
G. Midazolam and its m etabolites in brain death diagnosis. Int J
Rev N eurol(Paris). 1959; 101:3-15.
Clin Pharm acolTher. 2005; 43:517–26.
3. H offenberg R. Christiaan B arnard: his fi rst transplants and their
23. Kennedy MC,Moran JL,Fearnside M,Morris RG,U pton RN ,Chi-
im pacton concepts ofdeath. B MJ 2001;323:1478-80
vellW ,Tobin B. D rugs and brain death. Med J A ust. 1996; 165:394-8
4. A defi nition ofirreversible com a. Reportofthe A d H oc Com m it-
24. Runcim an W B,Myburgh JA ,U pton RN . Pharm acokinetics and
tee ofthe H arvard MedicalSchoolto Exam ine the D efi nition of
pharm acodynam ics in the critically ill. B aillieres Clin A naesthe-
B rain D eath. JA MA . 1968 A ug 5; 205(6):337-40.
siol. 1990; 4:271-303.
5. Conference of Royal Colleges and their Faculties in the U nited
25. Pallis C.A B C ofbrain stem death. D iagnosis ofbrain stem death-I.
K ingdom . D iagnosis ofbrain death. B MJ 1976;ii:1187-8.
B r Med J (Clin Res Ed). 1982; 285:1558-60.
6. Guidelines for the determ ination ofdeath. Reportofthe m edical
26. B lack PM,Zervas N T. D eclaration ofbrain death in neurosurgical
consultants on the diagnosis ofdeath to the President’s Com m is-
and neurologicalpractice. N eurosurgery. 1984; 15:170-4
sion for the Study ofEthicalProblem s in Medicine and B iom edi-
27. Jain S,D eGeorgia M. B rain death-associated refl exes and auto-
caland B ehavioralResearch. JA MA . 1981; 246:2184-6.
m atism s. N eurocritCare. 2005; 3:122-6.
7. W ijdicks EF. D eterm ining brain death in adults. N eurology. 1995;
28. D osem eci L,Cengiz M,Yilm az M,Ram azanoglu A . Frequency of
45:1003-11.
spinalrefl ex m ovem ents in brain-dead patients. TransplantProc.
8. W ijdicks EF. B rain death w orldw ide: accepted fact but no global
2004; 36:17-9.
consensus in diagnostic criteria. N eurology. 2002; 58:20-5.
29. Ivan LP. Spinalrefl exes in cerebraldeath. N eurology. 1973; 23:650-2.
9. Greer D M,Varelas PN ,H aque S,W ijdicks EF. Variability of brain
30. Saposnik G,B ueri JA ,Maurino J,Saizar R,Garretto N S. Sponta-
death determ ination guidelines in leading U S neurologic insti-
neous and refl ex m ovem ents in brain death. N eurology. 2000;
tutions. N eurology. 2008; 70:284-9.
54:221-3.
10. H auptW F,Rudolf J. European brain death codes: a com parison
31. Lessard M,Mallais R,Turm el A . A pnea test in the diagnosis of
ofnationalguidelines. J N eurol. 1999; 246:432-7.
brain death. Can J N eurolSci. 2000; 27:353-4.
11. Conselho Federalde Medicina. Resolução CFM N º 1.480,08 ago.
32. Goudreau JL,W ijdicks EF,Em ery SF. Com plications during apnea
1997. D iário O fi cialda U nião,B rasília-D F,21 ago. 1997. p. 18.227.
testing in the determ ination ofbrain death: predisposing factors.
12. H elm s A K ,Torbey MT,H acein-B ey L,Chyba C,Varelas PN . Stan-
N eurology. 2000; 55:1045-8
dardized protocols increase organ and tissue donation rates in
33. W u XL,Fang Q ,Li L,Q iu YQ ,Luo B Y. Com plications associated
the neurocriticalcare unit. N eurology. 2004 N ov 23;63(10):1955-7.
w ith the apnea testin the determ ination ofthe brain death. Chin
13. B ates D ,Caronna JJ,Cartlidge N E,K nill-Jones RP,Levy D E,Shaw
Med J (Engl). 2008; 121:1169-72
D A ,Plum F. A prospective study ofnontraum atic com a: m ethods
34. Earnest MP,B eresford H R,McIntyre H B. Testing for apnea in sus-
and results in 310 patients. A nn N eurol1977; 2,211–220.
pected brain death: m ethods used by 129 clinicians. N eurology.
14. Conselho Federalde Medicina. Resolução CFM N º 1.826,24 out.
1986; 36:542-4.
2007. D iário O fi cial da U nião,B rasília-D F,06 dez. 2007. Seção I,
35. Luccas F,B raga N ,Silvado C. Recom endações técnicas para o
p. 133.
registro do eletrencefalogram a (EEG) na suspeita da m orte en-
15. B itencourt A GV,N eves FB CS,D urães L,N ascim ento D T,N eves
cefálica. A rq N europsiquiatr. 1998; 56(3-B ):697-702.
N MB C,Torreão LA ,A gareno S. A valiação do conhecim ento de
36. B ennett D R. The EEG in determ ination of brain death. A nn N Y
estudantes de m edicina sobre m orte encefálica. Rev B ras Ter
A cad Sci. 1978; 315:110-20.
Intensiva. 2007; 19:2:144-50.
37. Grigg MM,Kelly MA ,Celesia GG,Ghobrial MW ,Ross ER. Electro-
16. A gareno S,Sousa RM,Santana D LP. N ível de conhecim ento dos
encephalographic activity after brain death. A rch N eurol. 1987;
m édicos intensivistas a respeito do protocolo de m orte encefá-
44:948-54.
lica. Rev B ras Ter Intensiva 2006; 18 (Sup.l):132-5.
38. Ropper A H ,Kehne SM,W echsler L.TranscranialD oppler in brain
17. Gusm ão S,Ribas G. D icionário de neuroanatom ia. São Paulo:
death. N eurology. 1987;37:1733-5
Revinter; 2008.
39. N ew berg A ,A lavi A ,van Rhijn S,Cotter A ,Reilly P. Radiologic di-
18. W ijdicks EF. The diagnosis of brain death. N Engl J Med. 2001;
agnosis ofbrain death. JA MA . 2002; 288:2121-2.
344:1215–21.
40. B uslK . Greer D . Pitfalls in the diagnosis ofB rain D eath. N eurocrit
19. A ssociação B rasileira de Transplantes de Ó rgãos (A B TO ). D ados
Care. 2009; 11(2):276-87.
gerais. RB T-Reg B ras Transplantes. 2008; 14(2): 9-45. [Citado em
2009 set. 01]. D isponívelem : http://w w w.abto.org.br/abtov02/por- 41. Grozovski E,Cohen J,Shapiro M,Kogan A ,Michovitz R,Reches R,
tugues/populacao/rbt/anoXIV _n2/index.aspx?idCategoria=2 Singer P. Four year experience w ith brain-death determ inations.
TransplantProc. 2000; 32:753-4.