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A RTIG O D E REVISÃ O

Morte encefálica: conceitos essenciais,


diagnóstico e atualização
Brain death: essentials concepts,diagnosis and update
Eric Grossi Morato1

RESU M O

A m orte encefálica representa o estado clínico irreversívelem que as funções 1


N eurocirurgião do H ospitaldas Clínicas da U FMG.
N eurocirurgião do H ospitalPronto-Socorro João X X III
cerebrais (telencéfalo e diencéfalo) e do tronco encefálico estão irrem ediavelm ente - FH EMIG. Instrutor do A TLS (A dvanced Traum a Life
com prom etidas. São necessários três pré-requisitos para defini-la: com a com causa Support)
conhecida e irreversível; ausência de hipoterm ia,hipotensão ou distúrbio m etabólico
grave; exclusão de intoxicação exógena ou efeito de m edicam entos psicotrópicos.
B aseia-se na presença concom itante de com a sem resposta ao estím ulo externo,
inexistência de reflexos do tronco encefálico e apneia. O diagnóstico é estabele-
cido após dois exam es clínicos,com intervalo de no m ínim o seis horas entre eles,
realizados por profissionais diferentes e não vinculados à equipe de transplantes. É
obrigatória a com provação,por interm édio de exam es com plem entares,de ausência
no sistem a nervoso centralde perfusão ou atividade elétrica ou m etabolism o. Morte
encefálica significa m orte tanto legalquanto cientificam ente. É necessário que todo
profissionalde saúde,especialm ente o m édico,esteja fam iliarizado com o conceito
de m orte encefálica,para que a aplicação da tecnologia na sustentação da vida seja
benéfica,individuale socialm ente com prom etida,e não apenas prom ovedora de
intervenção inadequada,extensão do sofrim ento e angústia fam iliar e prolongam en-
to inútile artificialda vida.
Palavras-chave: Morte; Morte Encefálica; Com a; D oadores de Tecidos; Cuidados Inten-
sivos; Transplantes de Ó rgãos.

A B S TR A C T

Brain death represents the irreversible medicalcondition in w hich the brain functions
(telencephalon and diencephalons) and the brainstem are hopelessly compromised.
Three prerequisites are necessary to define it,thatis: irreversible coma w ith know n
cause;absence ofhypothermia,hypotension orsevere metabolic disorder;exclusion
ofexogenous intoxication,orpsychotropic drugs effect.Itis based on the concomitant
presence ofcoma unresponsive to externalstimuli,absence ofbrain stem reflexes,
and the presence ofapnea.The diagnosis is established aftertw o clinicaltests w ith an
intervalofatleastsix hours,carried outby tw o differentprofessionals notlinked to the
transplantteam.Itis mandatory to prove,through complementary exams,the absence
ofcentralnervous system perfusion,orelectric activity ormetabolism.Brain death
means death both legally and scientifically.Itis necessary forallhealth care profession-
als,especially the physician,to be familiarw ith the conceptofbrain death,so thatthe Recebido em: 09/09/2009
Aprovado em: 24/09/2009
application oflife supporttechnology is beneficial,individually and socially committed,
notonly to promote inadequate intervention,extension ofsuffering and familiardistress Endereço para correspondência:
A v. A lfredo B alena,nº 110 / 10º andar Serviço de N eurocirurgia
and futile and artificialprolongation oflife. H ospitaldas Clínicas da U FMG
B elo H orizonte - MG
Key words: Death;Brain Death;Coma;Tissues Donators;Intensive Care;O rgans CEP: 30130-100
Transplantation. Em ail: ericneuro@ gm ail.com

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Morte encefálica: conceitos essenciais,diagnóstico e atualização

IN TRO D U ÇÃ O É necessário qualificar exam inadores m édicos


para que estejam atentos, atualizados e, com base
O surgim ento do m étodo científico observacio- em critérios am plam ente discutidos e uniform izados,
nal e a sua utilização na construção racional da ex- possam prover inform ação adequada e atual para a
plicação m édica do ethos (m eio), da vitae (vida) e, sociedade e para os diversos profissionais da área de
consequentem ente,do fim do m eio e da vida (m orte) saúde, expondo um novo conceito de tam anha im -
foram essenciais e m arcantes no desenvolvim ento da portância,com o é o da m orte encefálica (ME).
ciência ocidental. A ME é a constatação irrem ediável e irreversível
Essa herança helênica perm anece na concepção da lesão central nervosa e significa m orte, seja clíni-
do real e do possível.1 A m esm a explicação sim ples, ca,legale/ou social.
autonôm ica, sim pática e aristotélica, que atrelava as
em oções hum anas a um m úsculo involuntário toráci-
co,continua hoje enraizada no conceito de m orte,de- H ISTÓ RICO
finida pela cessação das funções cardiopulm onares.
O conhecim ento fisiopatológico atual,entretanto, Foi inicialm ente descrita com o coma depasée por
assegura que a m orte som ente pode ser determ inada Mollarete Goudon2,em 1959,ao avaliarem 23 pacien-
quando ocorre lesão irrem ediáveldo encéfalo. tes em com a sem resposta ao estím ulo doloroso,sem
A m aioria das pessoas entende a ausência de reflexos do tronco cerebral e com eletroencefalogra-
incursões ventilatórias pulm onares ou de batim en- m a isoelétrico. Foram relatados, até 1968, poucos
tos cardíacos, de form a cartesiana, com o a im i- casos de com a sem resposta,que na m aioria das ve-
nência da m orte. Porém , o que nos faz hum anos zes estavam associados aos transplantes alopáticos
é a atividade vigorosa e incessante de trilhões de experim entais. A realização do prim eiro transplante
neurônios localizados no encéfalo. Logicam ente, cardíaco na Á frica do Sul, em dezem bro de 1967,
a cessação irreversível dessa atividade encefálica destacou a necessidade de critérios m ais específicos
determ ina a m orte hum ana. para a determ inação do com a irreversível e, assim ,
A ventilação m ecânica, instituída desde os anos de quais pacientes poderiam doar órgãos.3 A Facul-
50,associada ao suporte básico e avançado de vida, dade de Medicina de H arvard, em 1968, organizou
perm itiu abordagem capaz de expandir os cuidados um com itê com posto de 11 profissionais, sendo sete
aos pacientes graves. N esse novo e fascinante con- m édicos,um biólogo,um historiador,um jurista e um
texto de suporte da vida surgiu um a condição clínica sociólogo,para definir critérios que perm itissem con-
inédita: pacientes com encéfalo irrem ediavelm ente ceituar o estado de com a irreversível.4
com prom etido ainda m antinham preservadas suas O RoyalCollege ofM edicine da Grã-B retanha intro-
principais funções  hem odinâm icas e ventilatórias, duziu, em 1976, o teste da apneia (especificidade de
exclusivam ente  devido à intervenção da tecnologia 99,9% ) com o tentativa de padronizar e especificar al-
m édica. Com o diferenciar esses pacientes daqueles guns dos critérios já utilizados desde 1968 e tam bém
vítim as de grave dano cerebral,entretanto,com pos- introduziu a opção de se utilizarem outros exam es
sibilidade de algum a recuperação neurológica? com plem entares além do eletroencefalogram a.5 O
O adequado treinam ento na percepção dos sinais conceito de que a lesão com pleta do tronco cerebral
sem ióticos da disfunção irreversível do sistem a ner- era incom patível com a vida foi determ inado nessa
voso central – a m orte encefálica – pode m odificar revisão.5 A presença de reflexos m edulares não foi
a abordagem a esses pacientes. O reconhecim ento considerada inviabilizadora do diagnóstico de m orte
da finitude da vida significa,naturalm ente,o térm ino encefálica.5 (Tabela 1)
de todas as m edidas técnicas e tecnológicas aplica- A s atuais diretrizes para o diagnóstico de ME
das em sua sustentação. Isto representa redução da foram delineadas em 1981,durante os trabalhos da
distanásia,da angústia que envolve os fam iliares dos Com issão Presidencialpara o estudo de problem as
pacientes nessa situação, de gastos com recursos éticos em Medicina nos EU A . O s critérios tornaram -
aplicados indevidam ente na m anutenção artificial se m ais seguros, incluindo a identificação adequa-
da vida, além de possibilitar o aum ento da doação da do paciente e da causa do com a, sua irreversi-
hum anitária de órgãos e tecidos para as pessoas que bilidade, a exclusão de causas m etabólicas e de
aguardam nas interm ináveis filas por novo órgão. intoxicação exógena.6

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Morte encefálica: conceitos essenciais,diagnóstico e atualização

Tab ela 1 - Evolução dos critérios p ara o diagnóstico de ME em adultos. O b serva-se nítido aum ento das exi-
gências e do rigor durante os anos
Evolução dos critérios de M E – adultos - 1968 a 1997
Critério H arvard 68 RoyalCollege 76 A A N 95 CFM – B rasil97
- Causa coma conhecida Causa coma conhecida Causa coma conhecida e documen-
- e documentada TC/RM/LCR tada TC/RM/LCR
Irreversível Irreversível
Pré-Requisitos
Tax > 32ºC Tax>35 ºC Tax > 32ºC Tax > 32ºC
Ausência de drogas Ausência de drogas Ausência de drogas intoxicação Ausência de drogas (24/48hs)
e alt. metabólica intoxicação e alt. metabólica
Coma sem resposta Coma sem resposta Coma sem resposta a estímulo Coma sem resposta a estímulo
na face na face
Bases Clínicas do
Apneia de 3min Um Teste da apneia Um Teste da apneia Dois testes da apneia PCO2> 55
diagnóstico
PCO2>60mmHg PCO2>60mmHg ou ↑ 20mmHg mmHg
Ausência de Reflexos do Tronco Encefálico
Mesencéfalo Pupilas fixas e Pupilas fixas e dilatadas Pupilas médias ou dilatadas Pupilas médias ou dilatadas
dilatadas (4 a 9mm) fixas (4 a 9mm) fixas
Ponte Corneano Corneano e óculo cefálico Corneano, vestíbulo calórico, Corneano, vestíbulo calórico, óculo
óculo cefálico cefálico
Bulbo Vômito Tosse Tosse Tosse
Movimentos Espontâneos Ausência Ausência Aceita Aceita
Reflexos Medulares Ausência Aceita Aceita Aceita
Obrigatório Não necessário Não obrigatório Obrigatório
Exame Complementar EEG - Artério, TCD, EEG, Cintilografia, Artério, TCD, EEG, Cintilografia,
SPECT Extração O2 SPECT, PIC, Extração O2
Intervalo entre exames Dois exames - 24hs Três exames - 6hs Dois exames - 6hs Dois exames - 6hs
o
N de médicos Um médico Três médicos Um médico Dois médicos
Respaldo legal Não Não Sim Sim

A A ssociação A m ericana de N eurologia (A A N ) confiável e fidedigno, entretanto, pode determ inar


organizou um com itê para estabelecer e uniform izar piora na operacionalidade do diagnóstico, prin-
os critérios de m orte encefálica. Em 1995,esse com i- cipalm ente considerando os diferentes níveis de
tê publicou revisão da literatura m édica associada à investim ento em saúde, educação da população,
classificação,baseada em graus de evidência cientí- religião e disponibilidade de m édicos e leitos em
fica,de m ais de 200 artigos sobre ME,que possibilita- Medicina intensiva.
ram a definição dos critérios utilizados atualm ente.7 O D ecreto-Lei no 9.434, 1997, dispõe sobre a
N unca foi dem onstrado ou relatado um único rem oção de órgãos, tecidos e partes do corpo hu-
caso de recuperação de qualquer função cortical m ano para fins de transplante e delega, em seu
e/ou do tronco cerebral após o diagnóstico de ME artigo 3o, ao Conselho Federal de Medicina (CFM)
utilizando os critérios da A A N de 1995.7 a norm atização do diagnóstico de ME. E ssa norm a-
Existem atualm ente,em todo o m undo,87 proto- tização foi estabelecida na publicação da diretriz
colos nacionais para o diagnóstico de ME e na m aio- 1.480 do CFM.11 O diagnóstico segue no B rasilquase
ria dos países eles apresentam -se  respaldados  por com pletam ente as diretrizes firm adas pela A A N em
leis ou decretos específicos.8  1995, excluindo-se a obrigatoriedade da realização
Inúm eros autores ressaltam o objetivo ainda de exam e com plem entar em todos os pacientes e
não alcançado de m ais uniform idade entre os di- a orientação de que a concentração do PCO 2 deve
versos protocolos para o diagnóstico de ME.9,10 O b - ser superior a 55 m m H g,com ausência de incursões
serva-se na U nião Europeia e nos E stados U nidos ventilatórias para que o teste da apneia seja consi-
da A m érica taxas de conform idade entre o protoco- derado positivo.11
lo da A ssociação A m ericana de N eurocirurgia e os N o m om ento em que o segundo teste de apneia é fi-
protocolos praticados inferiores a 62% , com m édia nalizado,declaram os a m orte do paciente. Legalm ente,
de 82% .10 A uniform idade gera um conceito m ais a hora da m orte é aquela do térm ino do teste de apneia.11

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Morte encefálica: conceitos essenciais,diagnóstico e atualização

N esse contexto,a ME im plica im ediatam ente dois A Resolução no 1.98614, de 2007, do CFM autoriza,
cenários distintos,a seguir. chancela e estim ula a retirada do suporte intensivo
para esses pacientes. O conhecim ento sobre ME e o
entrosam ento entre as várias equipes que participam
Potencial doador de órgãos da procura de doadores de transplante, com o: neuro-
cirurgiões, intensivistas, socorristas, equipe de retira-
A o ser estabelecido o diagnóstico de ME,tem iní- da de órgãos, são, m uitas vezes, insuficientes para a
cio, im ediatam ente, o esclarecim ento aos fam iliares eficiência da obtenção ajuizada de órgãos e tecidos.15,16
sobre o que ela significa e a perspectiva de que é
possível a doação hum anitária de órgãos e tecidos.
A notificação do diagnóstico à centralde transplante B A SES A N ATO M O CLÍN ICA S D A M E
é obrigatória por lei e nesse m om ento os exam es de
classificação do potencialdoador são iniciados. O term o m orte cereb ral não deve ser usado,por-
H elm s etal.12, acom panhando 164 possíveis doa- que cérebro com preende o telencéfalo e o diencéfa-
dores por 21 m eses,salientaram que a presença,nos lo,não englobando o tronco encefálico.17 A com pleta
esclarecim entos e discussões para o transplante de disfunção do tronco encefálico é sinne qua non para
órgãos, do neurointensivista que definiu o diagnós- o diagnóstico de ME.
tico de ME ou assistiu a doença neurológica reduziu A m orte encefálica representa o estado clínico ir-
a incidência do consentim ento fam iliar para doação. reversívelem que as funções cerebrais (telencéfalo e
diencéfalo) e do tronco encefálico estão irrem edia-
Pacientes sem critério clínico para doação ou velm ente com prom etidas.18
que a família não consentiu com o transplante
PA R A IN IC IA R O P R O T O C O LO
O paciente é considerado, após o diagnóstico de N ecessários três pré-requisitos:
ME, sob o aspecto legal, ético e m oral, um cadáver. A – Com a com causa conhecida e irreversível
(Causa deve estar comprovada por TC/RM ou LCR);
D eve ser m antido o respeito,entretanto,a instituição
B – A usência de hipoterm ia,hipotensão ou distúrbio m etabólico grave
terapêutica é inútil.
(PIA > 60, Tax > 36,5, 160 < Na <120);
B ates D . et al.13 acom panharam prospectivam ente
C – A usência de intoxicação exógena ou efeito de m edicam entos
310 pacientes com diagnóstico de m orte encefálica que psicotrópicos
foram m antidos sob suporte intensivo m esm o após o (12 horas – sedação/curare, 24 horas – barbitúricos);

diagnóstico. O bservou-se que 88% evoluíram para pa-


rada cardíaca em até 24 horas e 100% em até cinco dias.

Figura 1 - Lesão progressiva do tronco encefálico

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Morte encefálica: conceitos essenciais,diagnóstico e atualização

B ases C lín icas d a M E A subnotificação é a regra no B rasil, sendo o pri-


Três condições obrigatórias e concom itantem entes m eiro dos inúm eros obstáculos para a m elhora da cap -
A – Com a sem resposta ao estímulo externo; tação de órgãos em nosso m eio. A pesar de ser obri-
B – A usência com pleta de reflexos do tronco encefálico; gatório por lei, diversos hospitais, principalm ente os
C – A pneia privados,não inform am aos centros de captação o nú-
m ero de pacientes com possíveldiagnóstico de ME.19

O diagnóstico é estabelecido após a realização


de dois exam es clínicos por profissionais diferentes e M O RTE EN CEFÁ LICA N A CRIA N ÇA
não vinculados à equipe de transplantes. É obrigató -
ria a realização de exam e com plem entar com patível A im aturidade do sistem a nervoso central da crian-
com ausência de perfusão cerebral ou de atividade ça determ ina critérios m ais rígidos para a determ inação
elétrica cortical ou de m etabolism o encefálico. O in- da ME. O diagnóstico só é possívelapós o sétim o dia de
tervalo entre os exam es clínicos deve ser de no m íni- vida. O grupo etário que varia entre sete dias e dois m e-
m o seis horas (adulto).8,11,18 ses de vida necessita de intervalo entre os exam es clíni-
cos de no m ínim o 24 horas,além da realização de dois
eletroencefalogram as. O diagnóstico em crianças com
EPID EM IO LO G IA idades entre dois m eses e dois anos requer eletroencefa-
logram a isoelétrico e intervalo m ínim o de 12 horas entre
Estim a-se que a incidência de ME seja de 60 casos os exam es clínicos confirm atórios de ME. A s causas de
por m ilhão de habitantes por ano,correspondendo a 12% com a nas crianças são,usualm ente,diferentes daquelas
das m ortes ocorridas no Centro de Tratam ento Intensivo observadas em adultos,sendo a encefalopatia hipóxico-
de um grande hospital geral. Em 1999,foram registrados isquêm ica e o traum atism o crânio-encefálico responsá-
2.897 diagnósticos de ME no B rasil, porém , de acordo veis por m ais de 80% dos casos.21
com a incidência de ME,deveriam ser aproxim adam ente
9.000 casos. O bserva-se, infelizm ente, que 60% dos pa-
cientes que poderiam receber o diagnóstico de ME não M O RTE EN CEFÁ LICA PA SSO A PA SSO
o são devido,principalm ente,à falta de condições técni-
cas,à desinform ação m édica e ao despreparo da fam ília O exam e clínico neurológico é a base do diagnóstico
frente à m orte.19 O traum atism o crânio-encefálico (TCE), de ME e em m uitos países, entre eles o Estados U nidos,
o acidente vascular cerebral (AVC) e a lesão cerebral hi- não é necessária a realização de nenhum exam e com ple-
póxico-isquêm ica respondem por quase 90% das causas m entar para o seu diagnóstico. O paciente sob suspeita
do com a na ME.18,20 de ME deve ser exam inado de form a precisa e seguindo
um a rotina invariável. É recom endado que pelo m enos
um dos exam es neurológicos seja realizado por neurolo-
gista ou neurocirurgião. O s fatores que possam confundir
o exam inador ou dissim ular o diagnóstico devem ser rapi-
dam ente descobertos e entendidos. Recom enda-se con-
sulta à literatura m édica pertinente ou a um neurocirur-
gião ou neurologista treinado se houver algum a dúvida.
A persistência da dúvida indica o reinício do protocolo,
a troca do exam inador ou a classificação do paciente
com o im próprio para o diagnóstico de ME.22-30 (Figura 3)

Pré-requisitos:

Causa do com a é conhecida e irreversível:


Figura 2 - Prevalência de ME no B rasil
R .M.O - R etirada de m ú ltip los órgãos ■ o paciente deve estar identificado, seus exam es
Fonte: R egistro B rasileiro de Transp lantes 2007 A B T O
conferidos e a fam ília avisada do início do pro-

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Morte encefálica: conceitos essenciais,diagnóstico e atualização

tocolo. A causa do com a deve ser conhecida e Exame N eurológico:


dem onstrável por exam es de im agem ou pelo
exam e do líquor; Com a sem resposta - G lasgow 3:
■ o protocolo para a ME não deve ser iniciado quan-
do a causa do com a é desconhecida.8 ■ im plica descobrir por com pleto o paciente,expon-
■ a irreversibilidade do processo causador do com a do os quatro m em bros. O estím ulo doloroso deve
deve ter sido constatada e ordinariam ente descri- ser realizado na face, utilizando a região supraor-
ta no prontuário m édico.18 bitária ou a articulação têm poro-m andibular. O es-
tím ulo doloroso na face perm ite testar a via trige-
m inalaferente; se houver qualquer reação m otora,
é sinalque o tronco encefálico não está com pleta-
m ente com prom etido. O estím ulo doloroso sobre
as unhas utilizando o cabo do m artelo de reflexo
pode ser utilizado observando se ocorre alteração
da m ím ica facial. O estím ulo no esterno ou nos
m am ilos não é o m ais adequado porque não testa
vias do tronco encefálico e pode elucidar reflexo
m edular,o que não exclui o diagnóstico de ME.8,18

O paciente com suspeita de ME apresenta-se com


grave injúria neurológica,que frequentem ente lesa o
diencéfalo e o tronco cerebral, im pedindo que vias
inibitórias originárias do telencéfalo e do tronco pos-
sam atuar na m edula. Consequentem ente,os reflexos
de origem m edular são com uns nesses pacientes (30
a 56% ).23 A pós o diagnóstico de ME,quanto m ais lon-
go for o tem po em que se m antém o suporte, m ais
possibilidades há de surgirem reflexos m edulares.24
Reflexos osteotendinosos,cutâneo-abdom inal,cutâ-
neo-plantar em extensão ou flexão,crem astérico super-
ficiale profundo,ereção peniana reflexa,arrepio,sudo-
rese, rubor, reflexos flexores de retirada dos m em bros
inferiores ou superiores, reflexo tônico-cervical e sinal
Figura 3 - Protocolo p ara o diagnóstico de ME de Lázaro (flexão dos braços com ou sem apreensão)
são todos sinais de reatividade m edular e não afastam o
diagnóstico de m orte encefálica.08,11,18,23-25
Excluir causa m etabólica:

■ Tax<36oC, PIA < 60 m m H g,Sat. O 2 < 90% ; A usência de reflexos do tronco encefálico
■ deve ser excluído distúrbio hidroeletrolítico gra-
ve, com o sódio sérico superior a 160 ou inferior Reflexo pupilar
a 120 m Eq/L.
■ via aferente - nervo óptico (II) - tálam o.
■ via eferente - nervo óculo-m otor (III) - m esencéfalo.
Excluir intoxicação exógena: A s pupilas devem estar com dilatação m édia ou
com pleta (3 a 9 m m ) e na linha m édia. A form a pu-
■ Pesquisar uso de bloqueador neurom uscular,drogas pilar não é im portante para o diagnóstico da ME.7
psicotrópicas, agentes anestésicos e barbitúricos. N ão devem apresentar qualquer resposta (contração)
A guardar 48 ou 24 horas para o paciente que usou à estim ulação lum inosa por 10 segundos. O reflexo
barbitúrico ou as dem ais drogas,respectivam ente.22 consensual deve estar ausente. D eve ser dada aten-

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Morte encefálica: conceitos essenciais,diagnóstico e atualização

ção especialà história de cirurgia oftalm ológica,uso Reflexo de tosse


de m idriáticos tópicos,atropina venosa (não altera a
contração) e traum a ocular ou da face. (Figura 4) ■ via aferente - nervo glossofaríngeo (IX ) - bulbo
■ via eferente - nervo vago (X ) - bulbo.
Reflexo corneano N ão ocorre qualquer reação de tosse, náusea,
sucção, m ovim entação facial ou deglutição ao in-
■ via aferente - nervo trigêm eo (V ) - ponte. troduzir um a sonda de aspiração além do tubo tra-
■ via eferente - nervo facial(V II) - ponte. queal que estim ula a traqueia. V ídeo disponível em :
A estim ulação da córnea com a ponta de um a http://w w w .neurocirurgia.blogspot.com /. (Figura 4)
gaze ou algodão não produz resposta de defesa ou
fecham ento ocular. (Figura 4) Teste da apneia

Reflexo vestíbulo calórico É essencial para o diagnóstico da ME. Possui va-


lor preditivo positivo próxim o de 100% , entretanto,
■ via aferente - nervo vestíbulo-coclear (V III) - ponte ressalta-se a possibilidade de efeitos deletérios para
■ via eferente - nervo óculom otor, abducente, tro- o paciente. Por isso deve ser o últim o teste a ser re-
clear (III, IV, V I) - fascículo longitudinal m edial - alizado e abortado quando surgirem sinais de hipó -
m esencéfalo/ponte. xia ou isquem ia (PIA < 90 m m H g ou Sat O 2 < 75% ).
D eve ser certificada ausência de obstrução do canal (Figura 5)
auditivo. A cabeceira da cam a deve estar elevada a 30º,
sem fletir o pescoço. Infundir 50 m L de N aCl 0,9% a 0ºC
através de um a sonda fina, introduzida delicadam ente
no canalauditivo. Essa infusão deve ser lenta,através de
seringa ou equipo. O s olhos devem ser m antidos abertos,
sob vigilância contínua por dois m inutos para surpreen-
der qualquer m ovim ento ou desvio ocular. (Figura 4)

Reflexo óculo-cefálico

■ via aferente - nervo vestíbulo-coclear (V III) - ponte


■ via eferente - nervo óculom otor, abducente, tro-
clear (III, IV, V I) - fascículo longitudinal m edial - Figura 5 - Teste da ap neia.
m esencéfalo/ponte. D esconexão do resp irador, O 2 p or sonda, ausência de b radicardia,
hip otensão e hip óxia. V ia arterial p ara PIA e gasom etria. PC O 2>55
Nota: Não deve serrealizado em casos suspeitos de trauma cervical.
m m H g sem incursões resp iratórias confirm a a p resença de ap neia.
A cabeça é m ovim entada em rotação lateral,para am -
bos os lados,ou fletida e extendida,enquanto se observa
o surgim ento de qualquer m ovim ento ocular. V ídeo dipo-
nívelem : http://w w w .neurocirurgia.blogspot.com / .

Figura 4 - R eflexos do tronco encefálico e suas vias aferentes e eferentes

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Morte encefálica: conceitos essenciais,diagnóstico e atualização

A sua realização consiste em : plem entares na ME e dem onstra ausência de perfu-


■ ajuste os parâm etros do ventilador para obter são encefálica. (Figura 6)
PaCO 2 em torno de 45 m m H g;
■ aum ente a concentração de oxigênio no ventila-
dor para 100% pelo m enos durante 10 m inutos;
■ m antenha um acesso intra-arterial (artéria radial
ou fem oral) acoplado a um a conexão de três vias
para facilitar a coleta das gasom etrias;
■ desconecte o ventilador (m arque o tem po) e ins-
tale um a sonda profunda na traqueia, com fluxo
de oxigênio de 6 L/m in em adultos ou 1 L/5 kg/
m in em crianças;
■ observe atentam ente o aparecim ento de qualquer
incursão respiratória por 10 m inutos ou até que a
PaCO 2 esteja acim a de 55 m m H g.
Nota: A prova deve serinterrompida se ocorrerdissaturação grave
(< 75% ),bradicardia ou hipotensão.Nessas condições,o teste será
considerado válido se constatada apneia em vigência da PaCO 2 aci- Figura 6 - A rteriografia digital das carótidas e ver-
ma de 55 mmHg.11 tebrais m ostrando ausência de fluxo intra-
craniano.
Im agem típica de bloqueio do fluxo nas ca-
rótidas internas (setas).
EX A M ES CO M PLEM EN TA RES

O diagnóstico de ME é essencialm ente clínico e A parada do fluxo de contraste deve ser docum en-
em m uitos países não é necessária a realização de tada na região do foram e m agno e na porção petrosa
exam es com plem entares.7 da carótida interna,bilateralm ente.18
N o B rasil,é obrigatória a realização de pelo m enos
um exam e com plem entar,dem onstrando a inatividade
elétrica,m etabólica ou perfusionaldo encéfalo.11,30-41 D oppler transcraniano

O doppler transcraniano vem sendo cada vez m ais


Eletroencefalografia utilizado no diagnóstico de ME. A presenta sensibili-
dade de 94 a 99% e especificidade de 100% .23 U tiliza-
O eletroencefalogram a foi o prim eiro m étodo usado se um transdutor de 2 H z pulsátil com insonação das
para corroborar o diagnóstico de ME e até hoje é o m ais artérias carótidas intra e extracranianas e da basilar.
usado,tanto em nosso m eio quanto no m undo.2 D eve ser Em 10% dos pacientes o exam e é im possívelde ser re-
realizado com pelo m enos oito derivações com im pedân- alizado devido a janela óssea incom patível. O achado
cia entre 100 e 10.000 Ω ,sensibilidade de ao m enos 2 μV m ais específico de ME é a reverberação de fluxo no
e duração m ínim a de 30 m inutos. É com patível com o níveldas carótidas intracranianas.18 (Figura 7)
diagnóstico de ME quando m ostra silêncio isoelétrico.18,26 A portabilidade,a realização por m édico treinado,
Em caso de atividade elétrica ou dúvidas quanto à a possibilidade de repetição para acom panham ento
qualidade técnica,é prudente aguardar seis horas para a e a especificidade são características que tornam o
realização de novo EEG. O ptando por outro exam e com - doppler transcraniano um a opção m uito interessante
plem entar,este poderá ser realizado im ediatam ente.18,26 no diagnóstico da ME.
A cintilografia cerebral, m onitorização da pres-
são intracraniana, tom ografia com putadorizada
A rteriografia com xenônio, tom ografia por em issão de positróns
e a extração cerebral de oxigênio tam bém podem
A arteriografia cerebraldas carótidas e vertebrais ser utilizadas com o m étodo com plem entar no diag-
é considerada o “padrão ouro” entre os exam es com - nóstixo de ME.11

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Morte encefálica: conceitos essenciais,diagnóstico e atualização

capaz de abolir com pletam ente os reflexos do tronco


encefálico,particularm ente pupilar.7
A adm inistração de doses m uito m aiores que
as habitualm ente utilizadas na prática clínica é a
m aior causa de eventos que m im etizam ME . D e-
vem ser de especial atenção as intoxicações por
andidepressivos tricíclicos (am itriptilina, nor-
triptilina, clom ipram ina, im ipram ina) e barbitú-
ricos (fenobarbital, prim idona, tiopental, pen-
tobarbital), devido à possibilidade de abolição
com pleta dos reflexos do tronco encefálico.18 A
história clínica, nesses casos, e os exam es com -
plem entares revelarão a incapacidade para o
Figura 7 - Fluxo carotídeo no doppler transcraniano. diagnóstico de ME .
Im agem típica de reverb eração de fluxo na
diástole (onda invertida).

H ipotermia
CO N D IÇÕ ES Q U E PO D EM M IM ETIZA R M E
Constitui-se em eventualidade rara entre nós,
podendo levar ao com a sem resposta e à abolição
Síndrome de encarceramento (locked-in)
com pleta dos reflexos do tronco encefálico.
A hipoterm ia é causa potencialm ente reversí-
U m a lesão destrutiva, em geral um infarto ou vel de com a, tem peraturas corpóreas entre 24 e
pequena hem orragia,na base da ponte determ ina a 28ºC estão associadas ao com a sem qualquer re-
síndrom e clínica do encarceram ento, caracterizada flexo de tronco.29
por: tetraplegia, paralisia dos nervos cranianos (V,
V I, V II, IX , X , X I e X II) e consciência intacta. A m o-
vim entação voluntária do olhar verticalm ente e a CO N CLU SÃ O
capacidade de piscar estão preservadas,bem com o
a visão e a audição. O exam e neurológico m ostrará A s condições clínicas acim a descritas nunca
conteúdo da consciência preservado associado à poderão m im etizar com pletam ente a ME,porque o
reflexo pupilar, piscar e m ovim entação vertical do prim eiro e m ais im portante pré-requisito para esse
olhar norm al.18,27 diagnóstico é conhecer e docum entar (im agem ou
líquor) a causa do com a, além de constatar sua ir-
reversibilidade.
Síndrome de G uillain B arré O diagnóstico de ME precisa ser entendido e co-
nhecido por todos os profissionais de saúde. Para
A desm ielinização aguda das raízes m otoras é isso, é fundam ental que seja discutido obrigatoria-
rara e sua form a fulm inante, com acom etim ento de m ente em todo currículo m édico.
nervos cranianos, responde por m enos de 0,1% dos A possibilidade da doação de órgãos e tecidos
casos. A sensibilidade dolorosa é pouco acom etida, representa, paradoxalm ente, diante da angústia e
a consciência está preservada, além da história ser tristeza da m orte, a perspectiva de que outras pes-
singular,com paresia sim étrica evoluindo caudo-cra- soas possam recom eçar e buscar nova vida e com
nialm ente em dias.7 qualidade.
Por isso, é necessária a fam iliaridade com os
conceitos da ME, sua identificação correta e rigo-
Intoxicação exógena rosa. A participação ética de todos os m édicos
nessa árdua m issão possibilitará o aum ento subs-
O uso racional de m edicam entos psicotrópicos tancial de doações para o transplante de órgãos
pode induzir estado com atoso profundo, raram ente e tecidos.

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