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MULHERES NO ESPORTE

Prof. Dr. Osmar Moreira de Souza Júnior


osmar@ufscar.br
Roteiro
 MÓDULO 1
 Conceitos básicos: sexo, gênero, orientação
sexual
 A questão de gênero no cotidiano
 Mulheres no esporte

 MÓDULO II
 Mulheres no futebol
 Alternativas didáticas para a abordagem das
questões de gênero
MÓDULO I
- Conceitos básicos: sexo, gênero, orientação
sexual
- A questão de gênero no cotidiano
- Mulheres no esporte
 O termo gênero nasce no movimento feminista (2ª onda
nos anos 60-70), ele surge com a necessidade de contrapor
o argumento irrecorrível de que homens e mulheres são
biologicamente distintos e recolocar esse debate no campo
social (LOURO, 1997). Desta forma procurou, desde sua
origem, denunciar a invisibilidade, que de modo geral as
mulheres estavam submetidas, e revelar uma nova forma de
entender as relações entre homens e mulheres na
sociedade.
Concepções de corpo na história
da humanidade

Paradigma Paradigma Paradigma


„religioso‟ naturalizante construtivista
• Até o séc. XVIII • A partir do século • Meados do século
• Espécies enquanto XVIII XX
criações divinas • Identidades • Identidades
fixas. determinadas construídas
biologicamente. socialmente.
Quais são as meninas?
Quais são os/as homossexuais?
 A sociedade faz crer que alguém com pênis (sexo) deva
necessariamente ser masculino (gênero) e se sentir atraído
sexualmente (orientação do desejo) por uma pessoa do
sexo oposto.
 Homossexuais não deixam de ser homens ou mulheres
simplesmente por transgredirem atributos de gênero que
associamos ao masculino ou ao feminino.
E os corpos desviantes?

 O espanta tubarões

 https://www.youtube.com/watch?v=5xCL
xsxk4f8
Alguns conceitos...
SEXO (biológico)
• Diferenças anatômicas, internas e externas ao corpo,
que tem sido usadas como forma de diferenciar
fisicamente mulheres de homens.

GÊNERO (social-cultural-político)
• Construção cultural do sexo. Condição social pela qual
somos identificados como masculinos e femininas.

ORIENTAÇÃO SEXUAL (afetivo-psicológico)


• Construção através da qual os sujeitos experienciam os
afetos, desejos e prazeres corporais.
Tomboy
 https://www.youtube.com/watch?v=JvfdCI
4MArQ
Gênero e relações de poder

 “No começo, era tudo muito simples para Max: havia o


pessoal Com-pipi e o pessoal Sem-pipi. Era assim desde que o
mundo era mundo. Os primeiros eram mais fortes, claro, pois
tinham pipi. E Max, que tinha pipi, estava muito contente por
ser um cara Com-pipi. Azar das meninas, não era culpa dele
que elas não tinham "uma certa coisa". Um belo dia na
escola, porém, uma garotinha chamada Ceci vai para a turma
de Max. Como ela é uma Sem-pipi, Max não dá muita bola
para Ceci. Ela que vá brincar de boneca ou desenhar
florzinhas, ele pensa. Mas aos poucos a menina vai deixando
Max intrigado: Ceci desenha um mamute, joga bola e tem
uma bicicleta de garoto. Será que Ceci é diferente porque tem
pipi?”
Machismo e relações de poder
MACHISMO: comportamento que tende a
negar à mulher a extensão de prerrogativas
ou direitos do homem.
SEXISMO: atitude de discriminação
fundamentada no sexo.
MISOGINIA: ódio ou aversão às mulheres.
Sexo forte X Sexo frágil

 Professor: as meninas vão caminhar nas laterais


do campo e correr nos fundos e os homens o
inverso.
 Comentário dos alunos:
 CHICO – As mulheres sempre levando
vantagem.
 ZÉ – E depois ainda querem ganhar o mesmo
salário dos homens!
Problematizando para desnaturalizar

 Jocimar Daolio: “A construção cultural dos corpos ou o risco


de transformar meninas em „antas‟”.

 Osmar M. Souza Jr.: “Co-educação, futebol e Educação Física


escolar”.
Coisas de menina e coisas de menino

 https://www.youtube.com/watch?v=Sg4dh
YlakJI
Marcela Temer: bela, recatada e do lar
Afinal, qual é o lugar da mulher?
 https://www.youtube.com/watch?v=EJSd7
LC4bUo
A DOMINAÇÃO MASCULINA
(Pierre Bourdieu)

 Os dominados leem o mundo a


partir da lógica dos dominantes.
 O fato da sociedade ter como
perspectiva dominante a
masculina, faz com que esta visão
seja tida sempre como natural ou
neutra mas, na verdade, deve sempre
ser compreendida apenas como uma
perspectiva.
 Instala-se assim um terreno fértil para o
exercício da violência simbólica.
Violência simbólica
 A violência simbólica instala-se por meio da adesão que o
dominado não pode deixar de conceder ao dominante, na
medida em que o único instrumento de conhecimento do
qual dispõe, é compartilhado com o dominante, instituindo a
relação de dominação como algo natural (BOURDIEU,
2010, p. 49).
Esporte como fonte de
empoderamento
 A prática esportiva determina nas mulheres uma profunda
transformação da experiência subjetiva e objetiva do corpo:
deixando de existir apenas para o outro (...), isto é,
deixando de ser apenas uma coisa feita para ser vista, ela se
converte de corpo-para-o-outro em corpo-para-si-mesma,
de corpo passivo a corpo ativo e agente; no entanto, aos
olhos dos homens, aquelas que, rompendo a relação tácita
de disponibilidade, reapropriam-se de certa forma de sua
imagem corporal e de seus corpos, são vistas como não
femininas ou como lésbicas.
Silêncio não significa ausência!
 Invisible players

 https://www.youtube.com/watch?v=XoZr
Z7qPqio
Imagens alternativas do
“esporte feminino”
 Ainda que biologicamente mulheres e homens sejam
diferentes, não há razões fisiológicas que impeçam que
mulheres participem de qualquer esporte.
 Estratégias de discriminação positiva.
 Percepção de comportamentos apropriados para as
mulheres muda à medida que o esporte torna-se forma
de vida.
Futebol (soccer) nos Estados Unidos não
é visto como esporte masculino
 Os EUA não veem o futebol
como um esporte muito
masculino. Isso, porque temos
o futebol americano – um
esporte hipermasculinizado,
com atletas enormes e
musculosos. Quando um
jogador americano é atingido e
cai, ele não finge que está
machucado. Para os nossos
olhos isso é ridículo.
 Muitos meninos permaneceriam no futebol,
mas acabam saindo porque querem parecer
mais masculinos – futebol, para nós, é coisa de
menina.
O que é necessário problematizar?

• A idéia de que a anatomia dos corpos justifica o acesso e a permanência de


meninos e meninas em diferentes modalidades esportivas.

• A importância atribuída à aparência corporal como determinante no julgamento


que se faz sobre as pessoas (gordos, deficientes, sujos, etc..)

• A ênfase na beleza como uma obrigação para as meninas e mulheres em função


da qual devem aderir a uma série de práticas (pouca alimentação, cirurgias
estéticas) inclusive, as esportivas. – deslocar o foco do embelezamento

• O constante incentivo para que os meninos explicitem, cotidianamente, sinais de


masculinidade (brincadeiras agressivas, práticas esportivas masculinizadoras,
piadas homofóbicas, narrar suas aventuras sexuais com as meninas, etc).
• A representação de que existe um estereótipo masculino e um feminino

• A percepção de que a maneira correta de viver a sexualidade é a heterossexual.


Outros modos são desvios, doenças, aberrações e precisam ser corrigidas.

• A identificação de que alguns esportes devem ou não devem ser indicados para
meninos e/ou meninas, pois não correspondem ao seu gênero.

• A existência de preconceitos e violências que determinados sujeitos sofrem


apenas por pertencerem à determinada classe social, religião, orientação sexual,
identidade de gênero, habilidade física, etnia, entre outros.

• O uso de linguagem discriminatória e sexista e racista (programa de índio, joga


como homem, a situação tá preta, o termo homem utilizado no genérico,
etc,)
É necessário considerar que:

• As meninas têm menos oportunidades para o lazer que os meninos porque,


não raras vezes, desempenham atividades domésticas relacionadas ao cuidado
com a casa, a educação dos irmãos, entre outras;

• Como o esporte é identificado como uma prática viril, quando as meninas


apresentam um perfil de habilidade e comportamento mais agressivo para o
jogo, muitas vezes, sua feminilidade é colocada em suspeição. Da mesma forma, o
menino que não se adapta ao esporte, (sobretudo às práticas coletivas) ou
prefere a dança também se coloca em dúvida a sua masculinidade.

• Existem níveis diferentes de habilidade física entre meninos e meninas – mas


estas também existem entre os meninos e entre as meninas;
• As meninas são menos incentivadas que os meninos por parte da sua família
e amigos/as a participarem de atividades esportivas ;

• Jovens homossexuais (masculinos e femininos), não raras vezes, sentem-se


deslocados nas atividades esportivas, pois não são respeitados quanto a sua
orientação sexual.

• O esporte no singular – trabalhar as práticas corporais e esportivas na sua


pluralidade
MÓDULO II
- Mulheres no futebol
- Orientações didáticas para a abordagem das
questões de gênero no esporte
Depoimento - Ju
 É complicado quando seu envolvimento com seu tema de pesquisa vai muito além
do universo acadêmico e adentra suas frustrações pessoais, seu sonhos mais
antigos. Quando traz à tona um trauma que você achava já superado. Como eu
queria ter tido mais oportunidades de aprender e treinar futebol/futsal, como
queria ter um corpo bem condicionado para tal, como queria possuir o capital
esportivo (conhecimentos técnicos e táticos) para apresentar uma boa
performance em jogos por puro lazer e em outras circunstâncias (por quê não?)
em campeonatos locais...
 Na verdade não tive a chance. Nunca treinei futsal efetivamente. Jogava na Educação
Física, apenas. Aprendi só o básico do básico (como chutar, como dominar uma bola
rasteira). Depois treinei na unesp, por pouco tempo. Lá minha técnica melhorou
mais um pouquinho, mas o grupo tinha um capital esportivo muito melhor que o
meu, acabei desistindo. Eu queria ter participado de escolinha na infância e
adolescência, aprendido a jogar efetivamente . Quem sabe, assim, hoje eu poderia
estar até jogando alguns campeonatinhos locais, treinando em alguma equipe, e
poderia inclusive, quem sabe, ter outro histórico no que diz respeito ao porte e
condicionamento físico, já que estaria praticando atividade física regularmente, e
uma atividade que gosto, que me dá prazer, que tem sentido para mim (malhar na
academia, por exemplo, acho um porre!).
• Mas eu concordo com o XXXXXX que há tempo de correr atrás, de
buscar melhorar o condicionamento físico. E eu diria que também dá
pra tentar treinar em algum lugar, aprender. Não sei se com adultos, se
com adolescentes. É claro que sei que não existe escolinha de futebol
para adultos, então eu teria que convencer alguma equipe a deixar eu
ser café-com-leite, a só treinar porque me dá prazer e porque quero
aprender... Claro que nada disso é fácil. Mas não faria isso com uma
disciplina militar, faria com dedicação e por amor, mas sem aquilo de
"go hard or go home". O meu sonho, na infância, já foi ser jogadora de
futebol profissional. Mas hoje, a meta não seria mais por aí, e sim jogar
bem porque isso me faria feliz, porque me possibilitaria conseguir
jogar com grupos que conheço e que têm um bom domínio técnico,
tático, e bom preparo físico. Seria meu lazer: o que poderia ser melhor
para meu tempo disponível ao lazer do que me dedicar à atividade que
mais gosto? Agora, entre fazer planos e eu efetivamente cumpri-los, há
uma grande distância. Talvez eu lute por isso, agora ou num futuro
próximo. Espero que eu lute. Mas, por hora, a única coisa concreta que
eu posso garantir é que tinha um desabafo a fazer, e que gostaria que
meus 26 anos tivessem sido vivenciados de forma diferente, no que diz
respeito ao futebol.
 Bom dia.
O caso da Amigos do Face, quero colocar aqui o meu desabafo pra uma
situação, que se não é de preconceito, no mínimo é de direitos

Laura diferentes entre homens e mulheres, o que eu acho um


absurdo.
Por favor, quem tiver um tempinho leia e divulgue.
O caso é o seguinte:
Minha filha joga futebol no meio dos meninos, ela joga pela
equipe da ADESM (Assoc.Des.Ed.Sind.Metalurg) de São Carlos
na categoria sub12, este ano ela ta jogando já o sub13.
Todos os anos acontece o campeonato municipal em que o
campeão disputa uma fase regional representando o municipio
de São Carlos.
Os responsáveis pela fase municipal permitem que ela jogue
normalmente com os meninos, os responsáveis pelas outras
equipes e os outros atletas (meninos) a tratam muito bem,
normal.
O problema é que na fase regional, os responsáveis, NÃO
permitem que ela jogue, por tratar se de um CAMPEONATO
MASCULINO E MULHERES NÃO PODEM JOGAR.
Absurdo, pois não existe campeonato feminino, as mulheres não
tem opção, simplesmente não podem praticar esporte, nesse
caso o futebol.
 Eu e o diretor da ADESM (Sr. Rogério) tentamos sensibilizar os responsáveis, mas
não adianta, NÃO PERMITEM QUE MULHERES JOGUEM, mesmo que os outros
clubes concordem, o que com certeza concordam; os reponsáveis da Secretária de
Esportes e Turismo do Estado de São Paulo não deixam.
Isso aconteceu no ano passado e vai acontecer novamente esse ano.
Nossos dirigentes parecem caminhar no sentido contrário, vivemos uma época de
inclusão, de igualdade de direitos, na maioria dos paises desenvolvidos os
campeonatos até sub 15 são todos mistos, politica de incentivo ao esporte, já aqui,
no estado mais rico e avançado do Brasil, acontece isso, verdadeiro caso de
exclusão, de desincentivo (se é que existe essa palavra) a prática esportiva.
Pra terminar, pensem nisso, tanto homens, quanto mulheres.
A filha chega para o Pai e pergunta:
-Pai, eu vou poder jogar?
O pai responde:
Não , você não vai poder jogar filha.
A filha, pergunta:
Por quê?
O pai:
Porque você é mulher e só os homens podem jogar.
 TRISSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSTE
Time de meninas passa por grandes de São Paulo
e é campeão de torneio masculino (12/07/2016)
Futebol feminino ou futebol de
mulheres?
 Os meios de comunicação apresentam quase
sempre as mulheres esportistas, primeiro como
mulheres e depois como atletas.
 Estratégias de marketing são recorrentes e
tendem a sensualizar/erotizar a imagem das
atletas.
 Expressões como “as meninas do futebol”
tendem a fragilizar, infantilizar e colar a imagem
das atletas a uma desejada imagem de beleza e
juventude.
Futebol como projeto profissional
de mulheres: interpretações da
busca pela legitimidade
Ponto de partida...
Entrando em campo...

MOURA, 2003
Dick Kerr Ladies

DKL (1917)
DKL x Yorkshire (1921)
Públicos e rendas
incríveis, como os
53 mil
espectadores em
um jogo de 1920
que rendeu £3115,
ou 2,6 milhões de
reais convertidos
DKL x St. Helens (1921) nos dias atuais.
A proibição do futebol feminino e
as “meninas de Araguari”
Decreto-lei nº 3.199, de 14 de Deliberação – CND – Nº
abril de 1941: “Às mulheres não 7/65
se permitirá a prática de Nº 1 – Às mulheres se
desportos incompatíveis com as permitirá a prática de
condições de sua natureza, desportos na forma,
devendo, para este efeito, o modalidades e condições
estabelecidas pelas
Conselho Nacional de
entidades internacionais
Desportos baixar as necessárias dirigentes de cada
instruções às entidades desporto, inclusive em
desportivas do país”. competições, observado o
(modalidades interditadas: lutas, disposto na presente
o boxe, o salto com vara, o salto deliberação.
triplo, o decatlo, o pentatlo, o Nº 2 – Não é permitida a
futebol, o rúgbi, o polo e o polo prática de lutas de
qualquer natureza, futebol,
aquático).
futebol de salão, futebol de
Equipe de Araguari em matéria praia, pólo aquático, pólo,
da revista O Cruzeiro, de rugby, halterofilismo e
28/2/1959. Fonte: Cunha (2011). baseball
Reforçando a tendência de ampliação
dos direitos das mulheres no campo
esportivo, o próprio CND reforça e
legaliza essa nova configuração,
baixando em 6 de março de 1986 a
recomendação nº 2, na qual “[...]
reconhece a necessidade de estímulo à
participação da mulher nas diversas
modalidades desportivas no país [...]”
 Em 1951 também a FIFA posicionou-se
contrária à prática do futebol por mulheres,
recusando-se a cuidar da modalidade,
afirmando que se tratava de questão de
biologia e de educação, devendo então ser
tratada por médicos e professores.
 Apenas na década de 1970 as federações da
Alemanha Ocidental, Inglaterra e França
suspenderam o veto à prática do futebol
pelas mulheres.
 A FIFA revê sua postura apenas no final da
década de 1990: torneio internacional
feminino em 1988 e Copa do Mundo em
1991, ambos na China.
A década de 1980 e 1990

Seleção Brasileira de 1988 Seleção Brasileira nos Jogos Olímpicos de Atlanta 1996
Anos 2000

Frente do fôlder de divulgação da Paulistana-2001


Fonte: Acervo pessoal de Aline Edwiges dos Santos Viana
Anos 2010
Mapeamento dos clubes de futebol
feminino no Brasil (2011/12)
 Portanto, no Brasil muita gente ainda acredita que futebol é
jogo para homens.
 O maior problema é que esta afirmação vem respaldada
pelos argumentos de caráter biológico segundo os quais
meninos já nascem com “a genética” ou “o dom” para
jogar e que meninas são naturalmente “ruins de bola”.
 É preciso desconstruir esta ideia e reconhecer os fatores
socioculturais e históricos que compõem este quadro.
Exemplo: o futebol feminino norte-americano.
A pesquisa
Futebol como projeto profissional
 GISLAINE: Em casa, não é que não apoia, só que
pela minha mãe eu não estaria no futebol,
estaria empregada, registrada... É porque é
assim, você vai jogando e você não tem um apoio
pra você depois. Acabou esse ano aqui, se você
não for jogar em mais nenhum time, você tá sem
registro, você não tem nada.Você não tem
experiência com nada. E a maioria das atletas não
tem estudo. ELIANE: Eu não tenho carteira
ainda... ISAURA: Minha carteira tá limpinha...
(Grupo focal com jogadoras do CLUBE B).
 A minha mãe, ela fica preocupada com essa
questão da, de... de uma carreira mesmo, né?
Do futebol não ser uma carreira. Então
ela fica preocupada em eu não ter
emprego. Agora, como eu tenho aquela...
esse outro emprego, de estágio, então agora
ela fica mais tranquila. Mas, antes ela tava bem
mais preocupada com isso... com essa questão
de não ter... (Patrícia, jogadora do CLUBE C).
 É... na minha família, no caso a minha mãe,
[...] nossa, minha mãe foi minha maior
incentivadora, né, me dava tudo que eu
queria... a minha mãe sempre me apoiou [...]
ela fica só preocupada em relação, assim,
“até quando você vai jogar”, porque eu já fiz
cirurgia, né, no joelho e tal... e ela fala, “eu
fico preocupada por causa disso, se
você machucar, depois você não vai
conseguir trabalhar...”, mas ela deixa
tudo nas minhas mãos, ela fala “você que
tem que escolher o que você quer fazer”
(Andréia, jogadora do CLUBE C).
 PATRÍCIA: Ah, eu vejo esse negócio de
profissionalizar mesmo. Ter uma lei que
tenha que ter... sabe, que a gente
tenha carteira assinada... porque, daí,
assim, consequentemente vai ter mais
gente vindo pro futebol feminino... não só
gente que é amador, vamos dizer assim.
 RENATA: Eu, por exemplo, assim, que nem elas
falaram da estrutura, né... a gente não tem
essa estrutura, mas até hoje eu ainda me
vejo como uma atleta profissional. Como
jogadora profissional. E, apesar da gente não
ter essa estrutura por fora que dê o suporte
pra que a gente seja tratada como. Mas ali
dentro, aqui, é o que a gente faz. A gente tem a
bolsa de estudos e a gente... e isso aqui, é o
nosso trabalho, afinal de contas, a gente
tem que tá aqui durante a semana, tem
os treinamentos, então é o nosso
trabalho, é a nossa profissão, mesmo não
tendo um suporte que venha por trás.
Futebol como atividade profissional:
aspectos legais
 Lei Pelé (9.615/98):
 Art. 3º [...]Parágrafo único. O desporto de
rendimento pode ser organizado e
praticado: I - de modo profissional,
caracterizado pela remuneração pactuada
em contrato formal de trabalho entre o
atleta e a entidade de prática desportiva;II -
de modo não profissional, identificado pela
liberdade de prática e pela inexistência de
contrato de trabalho, sendo permitido o
recebimento de incentivos materiais e de
patrocínio.
 Cap.V - Da prática desportiva
profissional

 Art. 26. Atletas e entidades de prática


desportiva são livres para organizar a atividade
profissional, qualquer que seja sua modalidade,
respeitados os termos desta Lei.
 Art. 28. A atividade do atleta profissional é
caracterizada por remuneração pactuada em
contrato especial de trabalho desportivo,
firmado com entidade de prática desportiva, no
qual deverá constar, obrigatoriamente: [...]
 Art. 30. O contrato de trabalho do atleta profissional
terá prazo determinado, com vigência nunca inferior a
três meses nem superior a cinco anos.
DEVERES DA ENTIDADE
 Art. 34. São deveres da entidade de prática
desportiva empregadora, em especial: I -
registrar o contrato especial de trabalho
desportivo do atleta profissional na
entidade de administração da respectiva
modalidade desportiva; II - proporcionar aos
atletas profissionais as condições necessárias à
participação nas competições desportivas,
treinos e outras atividades preparatórias ou
instrumentais; III - submeter os atletas
profissionais aos exames médicos e clínicos
necessários à prática desportiva.
 Art. 35. São deveres do atleta profissional, em
especial: I - participar dos jogos, treinos, estágios e
outras sessões preparatórias de competições com a
aplicação e dedicação correspondentes às suas
condições psicofísicas e técnicas; II - preservar as
condições físicas que lhes permitam participar das
competições desportivas, submetendo-se aos exames
médicos e tratamentos clínicos necessários à prática
desportiva; III - exercitar a atividade desportiva
profissional de acordo com as regras da respectiva
modalidade desportiva e as normas que regem a
disciplina e a ética desportivas.

 Art. 43. É vedada a participação em competições


desportivas profissionais de atletas não-profissionais
com idade superior a vinte anos.
Cap. XI - Disposições transitórias:

 Art. 94. O disposto nos arts. 27, 27-A, 28, 29,


29-A, 30, 39, 43, 45 e no § 1° do art. 41 desta
Lei será obrigatório exclusivamente
para atletas e entidades de prática
profissional da modalidade de futebol.
Parágrafo único. É facultado às demais
modalidades desportivas adotar os preceitos
constantes dos dispositivos referidos no caput
deste artigo.
ROMPENDO O SILÊNCIO EM BUSCA DA LEGITIMIDADE:
"não tem estrutura, mas até hoje eu me vejo como atleta
profissional”

 Jogadoras não tem sua profissão reconhecida


conforme é de direito previsto pela legislação, mas a
exercem de fato, na medida em que realizam as
atividades de forma profissional.
 O vínculo profissional disfarçado a que estão expostas
é passível de ações judiciais, conforme já previsto a
partir de jurisprudência em outras modalidades.
 No caso do futebol, a lei respalda tal expediente, na
medida em que a Constituição Federal em seu art. 5º,
inciso I, garante que "homens e mulheres são iguais
em direitos e obrigações nos termos desta
Constituição".
Pós tese...
 Michael Jackson no Ministério do Esporte
 Futebol feminino no Bom Senso FC
 Aline Pellegrino e criação do
departamento de futebol feminino na FPF
 Contrapartida de investimento no FF
determinada pelo PROFUT
Seleção Brasileira de futebol feminino firma parceria
com Bom Senso FC
Ex-zagueira da seleção, Aline Pellegrino, fala sobre os benefícios
da parceria
 O movimento é liderado pela ex-zagueira Aline
Pellegrino, capitã da seleção brasileira por sete anos
(2005-2011), e pela volante Mayara Bordin. Os
objetivos iniciais da parceria são a profissionalização
das atletas e a massificação da modalidade. Eles
pretendem acabar com o preconceito em torno do
futebol feminino no Brasil.
 Em entrevista concedida ao Globo Esporte, Aline
disse que o movimento já havia procurado as
meninas da Seleção Brasileira antes, mas por ser um
período de competição, elas não deram muita
atenção. Agora, com mais disponibilidade, a jogadora
afirma que as coisas são diferentes.
Aline Pellegrino assume novo
departamento de feminino da FPF
(11/07/16)

“É um dever da FPF olhar com atenção para o futebol feminino, assim como já
fazemos com o masculino. A chegada da Aline Pellegrino colocará o esporte
em outro patamar. Nossa intenção é contribuir para o fomento da modalidade
e ampliar o diálogo com os clubes sobre as necessidades do futebol feminino.
Queremos dar uma nova cara ao esporte, e nada melhor que uma profissional
que já atuou como jogadora, técnica e dirigente para dar diretrizes a esse
desafio”, disse Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da FPF.
Medida Provisória nº 671 - Profut
 - Art. 2º Fica criado o Programa de Modernização da
Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol
Brasileiro - PROFUT, com o objetivo de promover a
gestão transparente e democrática e o equilíbrio
financeiro das entidades desportivas profissionais de
futebol.
 Parágrafo único. Para os fins desta Medida Provisória,
considera-se entidade desportiva profissional de
futebol a entidade de prática desportiva envolvida em
competições de atletas profissionais, nos termos
dos art. 26 e art. 28 da Lei nº 9.615, de 24 de março
de 1998, as ligas em que se organizarem e as
respectivas entidades de administração de desporto
profissional.
 ARTIGO 4º
 - Art. 4º Para que as entidades desportivas
profissionais de futebol mantenham-se no
PROFUT, serão exigidas as seguintes
condições:
 [...]
 X - manutenção de investimento mínimo na
formação de atletas e no futebol feminino.
Pensando em caminhos para a
emancipação do futebol de mulheres...
 Liga independente
 Mulheres ocupando cargos de gestão
 Políticas públicas afirmativas
 Mulheres no Bom Senso FC
 Ampliação do espectro de competições de
mulheres e mistas
 Visibilidade para outros futebóis e iniciativas
como o fútbol callejero
 Educação Física escolar genuinamente engajada
em política de equidade de gênero
 Vamos conversar...
Alternativas didáticas para
abordagem das questões de
gênero
 1. Atividades de sensibilização

 2. Atividades de intervenção
1. Atividades de sensibilização para as temáticas:

a) Dinâmicas individuais e em grupos que envolvam a criação de desenhos,


colagens, esculturas, narrativas, etc., através das quais seja possível discutir
questões relacionadas ao gênero e à sexualidade.
b) Trabalhar com as histórias de vida (narrativas pessoais, coletivas, reais ou
inventadas)
c) Ampla utilização de artefatos culturais diversos (revistas, publicidade, filmes,
músicas, programas televisivos, etc)
Ampla utilização de artefatos culturais
diversos (revistas, publicidade, filmes, músicas,
programas televisivos, etc)

Filmes

Gracie (EUA, 2007) A luta pela esperança (EUA, 2005)


Ela é o cara (EUA, 2007) Menina de Ouro (EUA, 2004)
Lirios D´Agua (França, 2007) Billy Elliot (Inglaterra, 2000)
Jump In! (EUA, 2007) Damas de Ferro (Tailândia, 2000)
Treinando com papai (EUA, 2007) Mulan (EUA, 1998)
Murderball (EUA, 2005) Cartão Vermelho (Brasil, 1994)
Ginga (Brasil, 2006) Uma equipe muito especial (EUA, 1992)
Os Reis de Dogtown (EUA, 2005) Fora de Jogo (Irã,2006)
Driblando o destino (EUA,2003
Sugestões
de filmes
Billy Elliot
 https://www.youtube.com/watch?v=phCE
wSmHpOE
Menina de ouro
 https://www.youtube.com/watch?v=LuEIC
zhJbhE
The iron ladies
 https://www.youtube.com/watch?v=1RrfI
mNslT4
Driblando o destino
 https://www.youtube.com/watch?v=FE5Kv
17JO64
O sorriso de Monalisa
 https://www.youtube.com/watch?v=l-
JiWYt6T0s
2. Atividades de intervenção

• Criar um bom ambiente entre os participantes da atividade


proposta – permitir que cada pessoa possa se expressar
livremente e que seja escutado/a e respeitado/a pelas suas
opiniões, habilidades, vivências, etc;

• Incentivar a prática de atividades esportivas para todos/as,


independente, do gênero, promovendo atividades nas quais
meninos e meninas, homens e mulheres participem
conjuntamente;

• Oferecer atividades em turnos diferenciados visando se adequar


às condições de trabalho dos participantes;
•Incentivar as meninas e meninos a participarem de atividade
culturalmente identificadas tanto como masculinas e femininas.

•Ficar atento para situações nas quais aconteçam discriminações


e buscar interferir de forma a minimizá-las, evitá-las e
problematizá-las.

•Desenvolver estratégias, incentivos, elogios para que cada


sujeito sinta-se integrante do projeto.

•Não se eximir do papel de educador/a, pois nossa intervenção


faz diferença!
Sugestão de TEMA:
Mudando as regras do jogo
Partindo de uma proposta de contextualização da história do voleibol
que mudou suas regras para atender às demandas do esporte de
espetáculo impostas pela mídia, propor aos alunos e alunas que
desempenhem o papel de gestores do jogo, colocando a seguinte
situação problema:
- Assim como no caso do voleibol, nós aqui em nossa turma também temos uma
demanda que exige que façamos transformações para atender às necessidades do
esporte inclusivo. Acontece que em nossos jogos de futebol nem todo mundo
participa de forma efetiva e prazerosa, portanto, a missão de vocês é repensar a
dinâmica de nossos jogos de forma a solucionar este problema.
Como e quando modificar as regras
do jogo
Sugestão de tema/vivência:
Futebol generificado
Juri simulado
 Meninos e meninas podem jogar juntos?
Carmen, nos estudos sobre futebol, o futebol praticado por mulheres é uma temática que
sempre gera muito debate nos congressos. Olhamos muito para o futebol praticado por
mulheres tendo como o espelho o futebol praticado por homens, sendo que não fazemos
o mesmo quando vamos pensar outros esportes. Naturalizamos muito mais a ideia de
vôlei masculino e vôlei feminino do que no futebol?

 É, já existe uma certa igualdade, já conseguimos ver os dois vôleis, se fala sim
em vôlei masculino. No futebol não tem adjetivo no masculino, ele é futebol e
ponto. Ao passo que o praticado por mulheres aparece com o adjetivo
feminino. Mas, olha, a história oficial desse futebol “feminino”– escrevi um artigo
sobre isso – é muito recente, começa em 1979. Até 1979 existia uma proibição;
as mulheres não podiam praticar futebol. O que não significa que não jogassem.
[...] Existiu, até pouco tempo atrás, todo um raciocínio de que as mulheres não
eram apropriadas para uma carreira como engenharia, porque elas teriam que
ir lidar com trabalhadores manuais; mulheres não poderiam dirigir caminhões,
hoje existem muitas. “Ah não, mas teria que ser uma coisa especial”. Então, não
é só o futebol, existem vários outros segmentos profissionais estes mitos de
diferença e o sexismo continua forte, mesmo na academia – basta entrar em
um sala de aula da Engenharia. Agora, o futebol é especial, ninguém se identifica
como brasileiro através da engenharia, ou através da oficina mecânica; mas o
futebol é expressa uma identidade nacional.
 E não estou dizendo que os homens sejam os culpados – são
vítimas também. Ser homem no Brasil é entender de futebol. É
difícil se considerar alguém plenamente homem se não tiver
uma certa compreensão, mesmo que não pratique. Ora, nem
todo homem se interessa por futebol, e com isto fica
socialmente deslocado, pois a masculinidade hegemônica
prescreve esta inclusão. No caso das mulheres, não são alguns
casos, são todas, e vejo uma dupla exclusão – da prática e do
pertencimento nacional que a acompanha – , que é mais grave.
Agora, há colegas que ainda pensam que o futebol tem que ser
especial para mulheres, que é preciso mantê-las separadas, pois
competindo junto com os homens elas não vão ter chance.
Olha, „elas não vão ter chance‟ era o raciocínio também do
pessoal que achava que mulheres não deviam ingressar na
engenharia, pois mesmo que passassem no vestibular elas „não
teriam chance‟; não poderiam ser mecânicas, afinal, como é que
elas vão concorrer com caras que são mais fortes, que vão
ficar sujos de óleo, não é coisa para mulher! Esse raciocínio
existe em outras profissões e foi aos poucos sendo colocado
por terra. Ele agora está no futebol. Acho que o esporte é uma
das últimas fronteiras a serem conquistadas, e tem a ver com o
corpo, então por isso é muito importante.
 Então, acho que isso aí está mudando. Agora,
acho que o futebol (e o esporte em geral) é
essa última fronteira a ser vencida. A ideia é
essa, de no futuro ter como utopia a não-
fronteira de sexo em qualquer esporte, que
seja praticado por homens e por mulheres, os
melhores vão praticar e ganhar. É claro que
existem homens altos e baixos, fortes, e fracos,
mulheres altas e baixas, fortes e fracas. É
provável e possível, e ninguém discorda que
homens, em média, são mais fortes e mais altos,
mas isso é a média! E isso pode ser menos
significativo do que se imagina. Estamos vendo
estatísticas; o Barcelona é a equipe mais baixa
da Europa entre todos os 500 clubes que
atuam nas primeiras divisões. Então, há outras
questões que podem estar em jogo…
 Devemos preconizar uma igualdade na formação, e
que joguem os melhores, sejam homens ou
mulheres, pouco importa. A gente sabe que a
supremacia física não é a determinante em todas as
posições. O Neymar está aí para mostrar isso.
Tantos jogadores, como o Zico e o Messi, mostram
que nem todo mundo precisa ter um corpão de
zagueiro. E talvez até existam mulheres muito fortes
que possam ser zagueiros. Acho que não é pela
questão física. Esses discursos se constroem
utilizando a questão física como um álibi, mas as
razões, sabemos, são outras. Como foram outras na
segregação racial.Vamos ver, o tempo dirá. Mas vai
precisar de tempo.
Fútbol Callejero (Futebol de Rua)
Mediação de conflitos
Construção de cidadania
Temas:
Valores humanos violência,
discriminação,
Garantia de direitos exclusão social
humanos

Promoção da
inclusão social
Reconhecimento
das diversidades

https://www.youtube.com/watch?v=uNohaYt9qQM
Obrigado pela atenção!

osmar@ufscar.br

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