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Luiz Augusto Rezende é Doutor em Comunicação e Cultura pela ECO-UFRJ. É Professor Adjunto do
NUTES-UFRJ (Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde) e coordena o Laboratório de Vídeo
Educativo desta mesma instituição.
História do cinema brasileiro/retomada/público
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“O colapso de 1990 estabeleceu um hiato radical que projetou sobre toda a
produção anterior a pecha de ciclo encerrado. A própria noção de
‘renascimento’, então em voga, sinalizou este sentimento de descontinuidade
ainda vigente” (XAVIER, 2001: 41-42).
A citação de Ismail Xavier acima sintetiza bem a compreensão geral que ainda
hoje temos do cinema brasileiro da década de 1990: um momento de ‘crise’
advindo do desmantelamento das estruturas de financiamento e distribuição
então vigentes, somado ao conseqüente desaparecimento do filme brasileiro e
do seu público dos cinemas. A isto teria se seguido um ‘renascimento’, uma
‘retomada’ da produção, denominação pelo qual a época acabou ficando
conhecida. Mas, além disso, o que Xavier destaca no trecho acima é a
percepção, quase inevitável, tanto da chamada ‘Retomada’, quanto do
momento anterior do cinema brasileiro (os anos 1980, o ‘período Embrafilme’),
como “ciclos que se abrem e se fecham”. Ainda mais porque estes últimos
estariam balizados pelo advento de uma ‘ruptura’ muito evidente: a suposta
interrupção da produção de longas-metragens, a partir das medidas tomadas
por Collor.
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É certo que o termo “Retomada” serve bem para descrever um momento que
teve, inegavelmente, suas especificidades. Não se trata de negar ou relativizar
essas especificidades, pelo menos não mais do que o suficiente para que
possamos explorar ...
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outras dimensões semânticas da noção de “Retomada”, e sugerir outras linhas
de pesquisa e análise que se coloquem para além da necessidade de
estabelecimento de marcos históricos. Neste sentido, um quadro teórico-
metodológico interessante para pensar a história recente do cinema brasileiro
(dos anos 1980 até hoje, pelo menos, se não toda ela), seria analisar, além
das rupturas, as continuidades entre os períodos que são considerados “ciclos”,
de forma a escrever uma história não apenas de filmes e de diretores
(BERNARDET, 1995), mas também de idéias e de formações discursivas
(FOUCAULT, 2004).
A “Retomada” pode ser um momento histórico rico para este tipo de análise,
caso tenhamos interesse em olhá-la nem tanto como um período isolado entre
marcos mais ou menos precisos (no entanto, onde se localiza o seu fim?), mas
como uma etapa em que diversas questões e debates ganham novo relevo em
suas relações simultaneamente de ruptura e de continuidade com momentos e
movimentos anteriores. Neste sentido, é sintomático que, apesar do termo
“retomada” indicar semanticamente uma idéia de continuidade, não foi este o
aspecto destacado pela maior parte dos críticos e historiadores que se
dedicaram a tratar dos anos 1990. Ao contrário, o que encontramos mais
frequentemente é uma busca e uma ênfase nos aspectos que apontariam para
o “ineditismo” do período. Não há muitas referências a linhas de continuidade
com a década imediatamente anterior, por exemplo. No máximo, aponta-se a
“recomposição de certos núcleos temáticos” ou o “retorno a espaços
emblemáticos do Cinema Novo”, como a favela e o sertão (XAVIER, 2001: 45).
Mas me parece que, neste caso, encontramos justamente uma ruptura e não
uma continuidade.
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... pequeno número de filmes lançados em um momento de crise, uma safra de
“qualidade duvidosa”, estratégias de lançamento inexistentes, etc. De fato, os
historiadores apontam outras razões, mais estruturais, para esta queda. A crise
econômica, o encarecimento dos ingressos, a disseminação do videocassete, a
concorrência da TV, o fechamento de muitas salas no interior, nos centros e
nos subúrbios das grandes cidades já vinham afetando o público dos filmes
brasileiros desde meados dos anos 1980, pelo menos. Mas o que esta nova
situação de mercado implica é o início de um processo de mudança do perfil
sócio-econômico e cultural dos públicos de cinema no Brasil. O que significa
que, ao longo da década de 1980, passaremos de um público eminentemente
popular, a um público em que predominam as classes médias e altas.
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dos anos 1970, no discurso de um diretor como Cacá Diegues, por exemplo.
Diegues já mostrava preocupação em alcançar padrões técnicos internacionais
de qualidade (de som, fotografia e produção), e continuará reiterando essa
posição até os anos 1990. Ortiz Ramos (2004: 26-41) aponta diversos outros
exemplos que refletem essa preocupação durante os anos 1980, assim como
Ismail Xavier. Ao falar em “enterro da estética da fome”, Xavier aponta a
necessidade de afirmação da técnica e da “mentalidade profissional” como um
dado importante dessa década (XAVIER, 2001: 40). A preocupação com a
qualidade técnica e com a eficiência da narrativa, como reflexo de uma
tentativa de conquista de um certo público, não é, portanto, um dado novo da
“Retomada”.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAETANO, M.R. “Os anos 1990: da crise à Retomada”, in Alceu v.8 nº15,
jul/dez 2007.
Recebido em 14/05/2008
Aceito em 27/05/2008 .
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