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LUCIANO CASTRO DA SILVA

SISTEMAS DE DRENAGEM URBANA


NÃO-CONVENCIONAIS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Universidade
Anhembi Morumbi no âmbito do
Curso de Engenharia Civil com
ênfase Ambiental.

SÃO PAULO
2004
LUCIANO CASTRO DA SILVA

SISTEMAS DE DRENAGEM URBANA


NÃO-CONVENCIONAIS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Universidade
Anhembi Morumbi no âmbito do
Curso de Engenharia Civil com
ênfase Ambiental.

Orientador:
Prof. MSc. Sidney Lazaro Martins

SÃO PAULO
2004
i

AGRADECIMENTOS

A todo corpo docente do curso de Engenharia Civil da Universidade Anhembi


Morumbi, pelos ensinamentos transmitidos durante o curso, principalmente ao
professor Sidney Lazaro Martins, que me orientou e auxiliou na execução deste
trabalho.

Agradecimento especial à minha esposa pelo incentivo e apoio, além de paciência e


compreensão durante todos os anos de estudos; à minha família pela formação,
educação e pelo apoio dados durante a vida que foram importantes para a
concretização desta importante conquista; e a Deus por ter me agraciado com saúde
para que eu fosse capaz de atingir meus objetivos e continuar progredindo cada dia
mais na esperança de poder contribuir para um dia vivermos em um mundo melhor.
ii

RESUMO

Os grandes centros urbanos sofrem uma constante expansão, que agravado pela
falta de planejamento prévio, sobrecarregam os sistemas de drenagem existentes.
As obras de ampliações ou adequações destes sistemas, diversas vezes tornam-se
inviáveis de serem executadas devido aos altos custos econômicos, sociais e
ambientais envolvidos. Dessa forma, algumas técnicas de drenagem tidas como
não-convencionais, por se opor aos conceitos convencionais de drenagem, que
visam às canalizações e rápido escoamento das águas, surgem como soluções
viáveis a serem implantadas para a adequação dos sistemas de drenagem
existentes. Esses sistemas de drenagem não-convencionais objetivam
principalmente o retardamento dos escoamentos, através de melhorias nas
condições de infiltração da água no solo, retenções em reservatórios, dentre outras
técnicas. Portanto, este trabalho apresenta um breve relato sobre os principais
conceitos de drenagem urbana, e descreve sobre diversas técnicas de drenagem
não-convencionais, tratando ainda sobre o reuso de água, focalizado para o
reaproveitamento de águas de chuva.

Palavras Chave: Drenagem Urbana; Drenagem Urbana Não-Convencional;


Retenção; Reaproveitamento de água de chuva.
iii

ABSTRACT

The large urban centers suffer a continued expansion, which aggravated by the lack
of early planning, overload the existing drainage systems. The projects for
amplification or adequacy of such systems become unfeasible to be built due to the
high economical, social and environmental costs involved. Therefore, some drainage
techniques deemed as non-conventional for being opposed to the conventional
drainage concepts aimed at channeling and quick flow of waters, arise as feasible
solutions to be implemented for adequacy of existing drainage systems. These non-
conventional drainage systems are mostly intended to delay the flow, through
enhancing water infiltration into the soil, retention into reservoirs, among other
techniques. Therefore, this paper presents a brief report on the major concepts of
urban drainage, and describes several non-conventional drainage techniques, also
addressing water reuse focused on reuse of rainfall waters.

Key-words: Urban Drainage; Non-Conventional Urban Drainage; Retention; Rainfall


Water Reuse.
iv

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 5.1: Ciclo Hidrológico .......................................................................................6


Figura 5.2: Montante e Jusante...................................................................................8
Figura 5.3: Hidrograma ...............................................................................................9
Figura 5.4: Hidrograma de áreas urbanizadas ..........................................................11
Figura 5.5: Características do balanço hídrico numa bacia urbana...........................12
Figura 5.6: Fases da degradação da drenagem natural............................................13
Figura 5.7: Estrutura do Plano Diretor de Drenagem Urbana....................................14
Figura 6.1: Alternativas não-convencionais em drenagem Urbana ...........................17
Figura 6.2: Hidrograma: Canalização x Natural.........................................................20
Figura 6.3: Superfície de Infiltração com Trincheira de Infiltração.............................25
Figura 6.4: Valeta Aberta com Dispositivo de Percolação.........................................26
Figura 6.5: Detalhe de uma Bacia de Percolação .....................................................27
Figura 6.6: Detalhe de Trincheira de Infiltração.........................................................28
Figura 6.7: Vala de Infiltração....................................................................................29
Figura 6.8: Detalhes de Pavimentos Permeáveis......................................................31
Figura 6.9: Esquema do MR proposto por Schilling para condutores de telhados ....33
Figura 6.10: Técnicas utilizadas para a melhoria dos MR.........................................33
Figura 6.11: Efeito da Retenção dos picos de enchentes .........................................36
Figura 6.12: Bacia de Detenção ................................................................................37
Figura 6.13: Bacia de Retenção ................................................................................38
Figura 6.14: Bacia de Sedimentação ........................................................................39
Figura 6.15: Reservatório “in line” .............................................................................39
Figura 6.16: Reservatório “off line” ............................................................................40
Figura 6.17: Potencialização das Enchentes Urbanas em Canal Fechado...............42
Figura 6.18: Impacto da construção do dique ...........................................................43
Figura 6.19: Dique: Drenagem da Bacia Lateral .......................................................44
Figura 7.1: Sistema Dual de Água Fria: água potável e água não-potável ...............47
Figura 8.1: Rio Paraibuna .........................................................................................51
v

LISTA DE TABELAS

Tabela 6.1: Conceito de Canalização x Conceito de Reservação .......................19


Tabela 6.2: Porosidade efetiva de solos / pavimentos.........................................24
vi

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABRH Associação Brasileira de Recursos Hídricos


CESAMA Companhia de Saneamento Municipal de Juiz de Fora - MG
Centro de Estudos Tecnológicos de Equipamentos de Paris -
CETE
França
CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
DAEE Departamento de Águas e Energia Elétrica
MR Micro-reservatório
N.A. Nível de Água
OMS Organização Mundial da Saúde
PDDU Plano Diretor de Drenagem Urbana
PVC Polivinil Carbono
Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e
SUDERHSA
Saneamento Ambiental do Governo do Estado do Paraná
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
vii

LISTA DE SÍMBOLOS

A Área
C Coeficiente de escoamento
I Intensidade de precipitação
P Probabilidade
T Período de retorno de chuvas
Q Vazão
viii

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................1

2 OBJETIVOS.........................................................................................................2

2.1 Objetivo Geral............................................................................................................. 2

2.2 Objetivo Específico ................................................................................................... 2

3 METODOLOGIA DA PESQUISA ........................................................................3

4 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................4

5 DRENAGEM URBANA........................................................................................5

5.1 Conceitos Hidrológicos ........................................................................................... 6


5.1.1 Variáveis Hidrológicas......................................................................................... 7

5.2 Conceitos de Drenagem Urbana ......................................................................... 10

5.3 Conseqüências da Urbanização na Drenagem ............................................... 10

5.4 Planos Diretores de Drenagem Urbana ............................................................. 14

6 SISTEMAS DE DRENAGEM URBANA NÃO-CONVENCIONAIS ....................17

6.1 Retardamento dos Escoamentos........................................................................ 20

6.2 Detenção / Retenção de Escoamentos.............................................................. 21

6.3 Dispositivos de Contenção na Fonte com Infiltração ................................... 23


6.3.1 Superfície de Infiltração .................................................................................... 25
6.3.2 Valetas Abertas .................................................................................................. 26
6.3.3 Bacias de Percolação ....................................................................................... 27
6.3.4 Trincheiras de Infiltração .................................................................................. 28
6.3.5 Vala de Infiltração .............................................................................................. 28
ix

6.3.6 Poço de Infiltração ............................................................................................. 29


6.3.7 Pavimentos Permeáveis ................................................................................... 30

6.4 Dispositivos de Contenção na Fonte com Detenção..................................... 32


6.4.1 Micro-reservatório .............................................................................................. 32
6.4.2 Telhado Reservatório ........................................................................................ 34
6.4.3 Controle em Áreas Impermeabilizadas .......................................................... 34
6.4.4 Reservatório de Detenção de Águas Pluviais (Piscininha)......................... 35

6.5 Reservatórios de Contenção / Retenção a Jusante ....................................... 36

6.6 Canais Abertos......................................................................................................... 41

6.7 “Polders” ................................................................................................................... 42

7 REUSO DE ÁGUA .............................................................................................45

7.1 Reaproveitamento de Águas de Chuvas........................................................... 46

7.2 Componentes Principais para Captação de Água de Chuva....................... 48

8 ESTUDO DE CASO ...........................................................................................50

8.1 Cidade de Juiz de Fora - MG................................................................................. 50


8.1.1 Histórico............................................................................................................... 50
8.1.2 Apresentação de Problemas............................................................................ 52
8.1.3 Metodologia ........................................................................................................ 53
8.1.4 Resultados .......................................................................................................... 54
8.1.5 Análise Crítica .................................................................................................... 55

9 CONCLUSÕES..................................................................................................57

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................58
1

1 INTRODUÇÃO

Drenagem é o termo utilizado para definir as instalações destinadas ao escoamento


do excesso de água, seja em rodovias, na zona rural ou na malha urbana, sendo
que este estudo será focado apenas em drenagem urbana.

É importante salientar que a drenagem urbana não está restrita aos aspectos
técnicos impostos pelos limites da engenharia, pois a mesma compreende o
conjunto de todas as medidas a serem tomadas visando-se à atenuação dos riscos e
prejuízos decorrentes de inundações aos quais a sociedade está sujeita.

A drenagem urbana pode ser subdividida basicamente em dois níveis, sendo a


microdrenagem, constituída basicamente pelas instalações nos traçados das vias
públicas, e a macrodrenagem caracterizada principalmente pelos escoamentos de
fundos de vale e várzeas de inundação. Porém deve-se ressaltar que cada um
desses níveis é composto por uma elevada gama de elementos que atuam de forma
integrada constituindo o sistema de drenagem.

Nas áreas urbanas, simultaneamente à expansão das cidades, o sistema de


drenagem, principalmente de macrodrenagem, tende a tornar-se insuficiente, devido
principalmente ao aumento da impermeabilização da bacia.

Como normalmente nas “áreas de fundo de vale” estão localizadas importantes


artérias viárias, cercadas de intensa ocupação, a expansão ou adequação do
sistema de macro-drenagem através de técnicas convencionais, muitas vezes, torna-
se inviável devido aos altos custos sociais, econômicos e ambientais envolvidos.

Dessa forma, a aplicação de novas soluções estruturais, tidas como sistemas de


drenagem não-convencionais, vêm sendo gradativamente incorporadas aos
sistemas de drenagem existentes, visando a adequação desses sistemas, através
do retardamento dos escoamentos, retenções em reservatórios, melhoria das
condições de infiltração de água, dentre outras soluções.
2

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

A constante expansão ocorrida nos grandes centros urbanos, aliada a falta de


planejamento para uma ocupação ordenada, geram uma maior impermeabilização
das bacias e conseqüentemente, sobrecarregam os sistemas de drenagens
existentes, principalmente os sistemas de macrodrenagem.

A adequação do sistema de drenagem através de técnicas convencionais torna-se,


muitas vezes, inviável devido aos altos custos sociais, econômicos e ambientais
envolvidos. Sendo assim, as soluções através de sistemas de drenagem não-
convencionais surgem como uma importante alternativa para o controle dos
deflúvios em drenagem urbana, possibilitando maior controle sobre a qualidade
d’água, além da adequação com sistemas existentes.

2.2 Objetivo Específico

No Brasil, os sistemas de drenagens não-convencionais vêm sendo incorporados


aos sistemas existentes, porém muitos princípios ainda precisam ser adotados,
principalmente através de medidas de controle não-estruturais. Sendo assim, este
trabalho tem por objetivo abordar as possibilidades de controle de deflúvios, através
de alternativas de drenagem não-convencionais, seus conceitos e suas formas de
aplicações.
3

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

O trabalho foi baseado em uma revisão bibliográfica referente aos conceitos de


drenagem urbana, suas definições, variáveis e características hidrológicas. Além de
bibliografias, normas técnicas, teses e artigos disponíveis relacionados aos assuntos
de planos diretores, controle e sistemas de drenagem urbana não-convencionais e
reuso de água, focalizado para o reaproveitamento de água de chuva.

São apresentados métodos de contenção, através de dispositivos na fonte com


infiltração ou detenção, dispositivos à jusante; além de demonstrações sobre a
importância da manutenção de canais abertos.

Um estudo de caso foi utilizado para demonstrar as aplicações destes métodos de


drenagem nas cidades brasileiras, diminuindo assim seus picos de cheias e
adequando os sistemas de drenagem existentes ao crescimento urbano.
4

4 JUSTIFICATIVA

A constante expansão à que são submetidos os grandes centros urbanos, gera entre
outros fatores, uma grande impermeabilização da bacia e conseqüentemente uma
diminuição nos tempos de concentração, ocasionando assim um aumento
progressivo nas vazões afluentes.

Como essa expansão geralmente ocorre sem um planejamento prévio, os sistemas


de drenagens existentes ficam sobrecarregados, principalmente os sistemas de
macrodrenagem, tornando-se assim insuficientes e fazendo-se necessário que
sejam feitas obras de ampliações ou adequações, às quais podem tornar-se
inviáveis devido aos altos custos econômicos, sociais e ambientais a serem
observados.

Tendo em vista tal fato, novos sistemas de drenagens foram elaborados a fim de
auxiliar os sistemas de drenagens existentes. Estes novos sistemas acabaram
sendo denominados de sistemas não-convencionais, pois eles se opõem às técnicas
tradicionais de drenagem que induzem a aceleração dos escoamentos através de
canalizações.

Os sistemas de drenagem não-convencionais diferem do conceito tradicional de


drenagem ou estão associadas a elas, para sua adequação ou otimização. Estes
sistemas visam soluções para problemas existentes e a possibilidade de um melhor
planejamento em áreas futuramente urbanizadas, através de técnicas de
retardamento de escoamentos, detenção ou retenção em reservatórios, melhoria das
condições de infiltração de água, dentre outras soluções.

Os sistemas de drenagem não-convencionais permitem também um maior controle


sobre a qualidade das águas drenadas, evitando-se que grande parte da poluição
conduzida pelos escoamentos cheguem aos corpos hídricos, fator este de grande
importância devido à utilização destas águas em sistemas de abastecimento à
jusante, além de auxiliar na recarga de aqüíferos.
5

5 DRENAGEM URBANA

De acordo com Cardoso Neto (2004), drenagem é o termo utilizado para definir as
instalações destinadas ao escoamento do excesso de água, seja em rodovias, na
zona rural ou na malha urbana. Desta forma, pode-se definir drenagem urbana como
um conjunto de sistemas destinado ao escoamento das águas de chuva no meio
urbano, visando a atenuação dos riscos e dos prejuízos decorrentes de inundações
aos quais a sociedade está sujeita.

No Brasil, muitas cidades sofrem com contínuos problemas relacionados com a


drenagem das águas durante o período chuvoso. Problemas estes que acarretam
elevados prejuízos sócio-econômicos à população local, tais como inundações e
proliferação de doenças, além de por em risco a vida de pessoas que vivem em
áreas de risco ambiental.

Deve-se ressaltar que o lançamento inadequado das águas de chuva pode causar
um aumento da poluição dos rios locais e que devido à impermeabilização da bacia,
a infiltração natural da água no solo fica reduzida, impedindo desta forma que os
lençóis subterrâneos sejam recarregados.

Diversas estratégias são necessárias para solucionar estes problemas que não
podem ser resolvidos simplesmente através da construção de grandes obras de
drenagem, pois devem ser consideradas as conseqüências causadas pelo impacto
dessas obras a jusante, evitando-se que o problema seja transferido de local.

De acordo com Canholi (1995), diversos estudos realizados, principalmente por


países desenvolvidos, têm apresentado um novo conceito sobre projetos de
drenagem urbana. Este novo modelo incorpora técnicas inovadoras da engenharia
como retenções em reservatórios, manutenção de canais abertos e de áreas
permeáveis em locais como estacionamentos, dentre outros, visando atenuar as
vazões de pico e possibilitando um maior controle sobre a concentração de
poluentes das águas de chuva nas áreas urbanas.
6

Outra técnica desenvolvida, a qual é apropriada para países como o Brasil, é a


armazenagem das águas de chuva em reservatórios de acumulação para posterior
reuso em aguamento de jardins e praças.

Existem diversas técnicas para a elaboração de um sistema de drenagem urbana,


porém a escolha de um sistema de drenagem urbana adequado deve seguir
diversos conceitos e critérios técnicos e econômicos, que requerem uma análise
detalhada e criteriosa para se determinar o sistema de drenagem mais eficiente em
cada caso estudado.

Desta forma, alguns conceitos fundamentais sobre hidrologia e sistemas de


drenagem fazem-se necessários para um maior embasamento teórico e melhor
compreensão sobre os sistemas de drenagem não-convencionais.

5.1 Conceitos Hidrológicos

O ciclo hidrológico da água possui fluxo em duas direções predominantes: vertical e


longitudinal, conforme esquematizado na Figura 5.1.

Figura 5.1: Ciclo Hidrológico

(BRAGA, 2002)
7

O fluxo vertical caracteriza-se pelos processos de precipitação e evapotranspiração,


enquanto o fluxo longitudinal é caracterizado pelo escoamento na direção dos
gradientes da superfície, quando dos escoamentos superficiais e em canais, e do
subsolo quando o escoamento for subterrâneo.

Durante a precipitação, a água que atinge o solo pode infiltrar ou escoar


superficialmente dependendo da capacidade do solo em infiltrar. Essa capacidade
depende de condições variáveis, como a quantidade de umidade já existente, das
características do solo e principalmente do uso e ocupação deste solo.

A água que infiltra, pode percolar para o aqüífero ou gerar um escoamento sub-
superficial ao longo dos canais internos do solo, desaguando na superfície ou em
um curso d’água. E a água que escoa superficialmente converge para os rios que
formam a drenagem principal das bacias hidrográficas.

O escoamento em rios depende de várias características físicas tais como


declividade, rugosidade, seção de escoamento e obstruções ao fluxo. Os rios
tendem a moldar dois leitos, sendo um leito menor, por onde escoa na maior parte
do ano, e outro maior que o rio ocupa durante épocas de cheias e em algumas
enchentes.

Paralelamente aos processos naturais descritos, deve-se considerar a interferência


do homem que conforme aumenta a ocupação da bacia, altera esses processos
naturais causando diversas alterações nos fenômenos naturais.

5.1.1 Variáveis Hidrológicas

Montante e Jusante

A denominação montante refere-se à seção de rio correspondente ao trecho de


onde vem o escoamento, enquanto que jusante corresponde o trecho por onde o
fluxo escoa, conforme exemplificado na Figura 5.2.
8

Figura 5.2: Montante e Jusante

(TUCCI; SILVEIRA, 2001, p. 17)

Probabilidade e período de retorno

Através de dados históricos sobre vazões ou níveis coletados ao longo de vários


anos num determinado local, estima-se a probabilidade de que uma determinada
vazão ou nível seja igualado ou superado em um ano qualquer.
O período de retorno constitui-se do inverso dessa probabilidade, calculado por:
1
T= , onde T é o período de retorno e P é probabilidade.
P

Tempo de concentração

É definido como o tempo gasto por uma gota de água para escoar superficialmente
do ponto mais distante da bacia até a seção principal da mesma.

Escoamento

Segundo Tucci e Silveira (2001), os processos de escoamento num rio, canal ou


reservatório, variam de acordo com o tempo e o espaço. Para dimensionar ou
conhecer uma situação limite, muitas vezes admite-se que o escoamento ocorre em
regime permanente, ou seja, admite-se que não existe variação no tempo.
9

Ainda segundo os autores, os escoamentos em rios dependem de dois conjuntos


principais de fatores:

a) controle de jusante: definem a declividade da linha de água.


Os controles de jusante podem ser estrangulamentos do rio devido a pontes,
aterros, mudança de seção, reservatórios, oceano. Esses controles reduzem
a vazão de um rio independentemente da capacidade local de escoamento;

b) controles locais: definem a capacidade de cada seção do rio de transportar


uma quantidade de água. A capacidade local de escoamento depende da
área da seção, da largura, do perímetro e da rugosidade das paredes. Quanto
maior a capacidade de escoamento, menor o nível de água.

Hidrograma

É o gráfico composto pela variação da vazão na seção de saída de uma bacia


hidrográfica ao longo do tempo devido à precipitação sobre esta bacia.

Figura 5.3: Hidrograma

(TUCCI; SILVEIRA, 2001, p. 20)


10

Conforme observa-se na Figura 5.3, durante a precipitação o escoamento superficial


concentra a maior parte do escoamento e esgota-se rapidamente ao final desse
período, enquanto o escoamento subterrâneo contribui com uma vazão menor,
porém durante um período muito mais longo, o que garante a vazão no rio durante o
período de estiagem.

5.2 Conceitos de Drenagem Urbana

A drenagem urbana tradicional surge da necessidade de se direcionar as águas


provenientes de precipitações em áreas urbanas aos seus efluentes naturais. Desta
forma, devido à grande impermeabilização gerada pela urbanização da bacia aliada
às obstruções dos percursos naturais, torna-se necessário um sistema de drenagem
para conduzir esses deflúvios aos seus efluentes.

Assim a drenagem urbana pode ser subdividida basicamente em dois níveis, sendo
a microdrenagem, constituída basicamente pelas instalações nos traçados das vias
públicas, e a macrodrenagem caracterizada principalmente pelos escoamentos de
fundos de vale e várzeas de inundação.

Segundo Martins (1995), as estruturas de macrodrenagem são destinadas à


condução final das águas captadas pela microdrenagem (ruas, sarjetas, valas e
galerias), sendo na zona urbana correspondente à rede de drenagem natural pré-
existente à ocupação, composta anteriormente pelos córregos, riachos e rios
localizados nos talvegues e vales.

5.3 Conseqüências da Urbanização na Drenagem

Segundo Pompêo (2000), enchentes são fenômenos naturais que ocorrem


periodicamente em cursos d’água devido a chuvas de grande intensidade.
11

Em áreas urbanas, as enchentes podem ser ocasionadas por estas chuvas intensas
de grande período de retorno, ou devido a transbordamentos de cursos d’água
provocados por mudanças no equilíbrio no ciclo hidrológico em regiões a montante
das áreas urbanas, ou devido à própria urbanização da bacia.

De acordo com Martins (1995), a medida que as áreas são urbanizadas e


conseqüentemente executam-se obras de microdrenagem, as vazões afluentes aos
receptores aumentam devido à redução dos tempos de concentração, conforme
observa-se na Figura 5.4.

Figura 5.4: Hidrograma de áreas urbanizadas

(TUCCI et al., 1995, p. 18)

Dessa forma, o balanço hídrico da bacia se altera devido ao aumento significativo do


escoamento superficial e pela redução da recarga natural dos aqüíferos e da
evapotranspiração.

De acordo com Tucci et al. (1995), o balanço hídrico de uma área urbana,
considerando-se apenas a entrada da água da precipitação, pode ser representado
conforme a Figura 5.5.
12

Figura 5.5: Características do balanço hídrico numa bacia urbana

(OECD, 1986 apud TUCCI et al., 1995, p. 284)

Além dos fatores apresentados, segundo Martins (1995), existem ainda outras
razões que levam a necessidade da implantação ou ampliação das vias de
macrodrenagem, que devem ser destacadas:

• A ocupação dos leitos secundários de córregos, cuja utilização dá-se apenas


por ocasião das cheias;

• O aumento da taxa de aporte de sedimentos, devido ao desmatamento e


manejo inadequado dos terrenos, e a detritos, como rejeitos industriais e lixo,
lançados diretamente sobre os leitos;
13

• A necessidade de ampliação da malha viária em vales ocupados;

• Saneamento de áreas alagadiças.

Assim, observa-se que a degradação da drenagem natural ocorre geralmente devido


a um gerenciamento inadequado, tanto na ocupação da bacia como na conservação
de sua qualidade ambiental, ocasionadas pela falta de controle sobre a
impermeabilização dos solos, pela disposição inadequada de lixo e outros rejeitos,
ausência de planejamento de expansão viária, além de outros aspectos relativos à
manutenção e conservação de leitos.

A Figura 5.6 ilustra a degradação da drenagem natural pela ocupação urbana,


primeiramente através da ocupação do leito secundário, seguido pela instalação da
malha viária.

Figura 5.6: Fases da degradação da drenagem natural

(MARTINS, 1995, p. 170)


14

5.4 Planos Diretores de Drenagem Urbana

De acordo com Tucci (2001), a estrutura básica de um PDDU (Plano Diretor de


Drenagem Urbana) é composta por um conjunto básico de informações de entrada,
e a interface com os demais Planos da cidade, legislação vigente e regulamentação
da cidade, conforme apresentado na Figura 5.7.

Figura 5.7: Estrutura do Plano Diretor de Drenagem Urbana

(TUCCI, 2001, p. 17)

É importante ressaltar que o PDDU deve incluir restrições sobre vazões à jusante,
isto é, introduzir o critério de “impacto zero” em drenagem, de forma que as vazões
ocorrentes não sejam majoradas.
15

O PDDU deve ser desenvolvido com base num conjunto de informações


relacionadas a seguir:

• Cadastro da rede pluvial, bacias hidrográficas, uso e tipo de solo das bacias,
entre outros dados físicos;

• Planos que apresentam interface importante com a Drenagem Urbana. Plano


de Desenvolvimento Urbano da cidade, Plano de Saneamento ou
esgotamento sanitário, Plano de Controle de Resíduos Sólidos e Plano Viário;

• Aspectos institucionais: Legislação municipal relacionada com o Plano Diretor


Urbano e meio ambiente; Legislação estadual de recursos hídricos e
Legislação federal; Gestão da drenagem dentro do município;

• Dados hidrológicos: precipitação, vazão, sedimentos e qualidade da água do


sistema de drenagem.

Conhecendo-se esse conjunto de dados básicos necessários, tem início o


desenvolvimento do PDDU, através das seguintes etapas:

Fundamentos: são os elementos definidores do Plano e constituídos dos objetivos,


conceitos, princípios, estratégias, cenários e riscos a serem observados;

Desenvolvimento do Plano: etapa onde são realizados os estudos de alternativas


do Plano, baseando-se no seguinte:

a) Medidas não-estruturais, representadas pela proposta da legislação municipal


para conter o aumento do impacto da urbanização sobre a rede de drenagem.

b) Medidas estruturais de controle para as áreas que apresentam problemas de


inundação com a ocupação atual.
16

Produtos do Plano: são os resultados obtidos para a cidade do estudo realizado,


ou seja, Legislação e/ou Regulamentação que compõem as medidas não-
estruturais, Proposta de gestão da drenagem urbana dentro da estrutura municipal
de administração, Plano de controle das bacias hidrográficas urbanas e Plano de
Ações contendo as medidas a serem tomadas ao longo do tempo.

Programas: são os estudos complementares de médio e longo prazo para a cidade


recomendados no Plano, visando melhorar as deficiências encontradas na
elaboração do mesmo.
17

6 SISTEMAS DE DRENAGEM URBANA NÃO-CONVENCIONAIS

Conforme Canholi (1995), as soluções “não-convencionais” em drenagem urbana


podem ser entendidas como estruturas, obras, dispositivos ou ainda conceitos
diferenciados de projetos. São soluções que diferem do conceito tradicional de
canalização, ou estão associadas a elas, para sua adequação ou otimização do
sistema de drenagem.

A Figura 6.2 apresenta uma comparação esquematizada entre os sistemas de


drenagem não-convencionais e os sistemas de drenagens tradicionais.

Figura 6.1: Alternativas não-convencionais em drenagem Urbana

(CANHOLI, 1995)
18

Walesh (1989) apud Canholi (1995), classifica as diretrizes gerais de projeto de


drenagem urbana em “conceito de canalização” e “conceito de reservação”. A partir
dessa classificação, uma comparação entre as características dos dois conceitos é
apresentada na Tabela 6.1.

É importante ressaltar a necessidade de restringir às vazões à jusante, introduzindo


o critério de “impacto zero” em drenagem, de forma que as vazões ocorrentes não
sejam majoradas. Essa é uma das vantagens do conceito de reservação citado por
Walesh, que possibilita uma adequação dos sistemas de drenagem existentes e
permite um maior controle sobre a qualidade das águas drenadas.

O conceito de canalização, refere-se a pratica da canalização convencional adotada


durante muito tempo, baseada na implantação de galerias e canais em concreto, ao
tamponamento dos córregos, à retificação de traçados e demais intervenções
visando principalmente o afastamento rápido dos escoamentos, utilizando-se ainda
os “fundos-de-vale” como artérias de tráfego, tanto nas laterais dos canais como por
sobre os mesmos, ocasionando assim uma restrição da capacidade de escoamento
do corpo hídrico simultaneamente a diminuição do tempo de concentração e ao
aumento das vazões.

Dessa forma, em muitos casos, esse conceito torna-se ineficiente à medida que a
bacia é urbanizada, uma vez que a urbanização desenvolve-se normalmente de
jusante para montante. E à medida que a bacia se urbaniza, os picos de vazão nas
canalizações a jusante aumentam, e as obras para adequação das capacidades
torna-se difícil ou inviáveis de serem executadas devido à própria urbanização nas
áreas ribeirinhas aos córregos.

Assim o uso de soluções alternativas, tidas como sistemas de drenagem não-


convencionais, apresentam soluções para os problemas em sistemas de drenagem
existentes e possibilitam um melhor planejamento em áreas futuramente
urbanizadas, através de técnicas a serem apresentadas.
19

Tabela 6.1: Conceito de Canalização x Conceito de Reservação

(WALESH, 1989 apud CANHOLI, 1995, p. 3-2)


20

6.1 Retardamento dos Escoamentos

A aceleração dos escoamentos provocado pela impermeabilização das bacias e


pelas canalizações em canais, comuns nos sistemas de drenagem convencionais,
gera um aumento significativo nos picos de vazão da bacia, conforme observa-se na
Figura 6.2.

Figura 6.2: Hidrograma: Canalização x Natural

(Adaptado de TUCCI et al., 1995, p. 18)

Porém através de algumas técnicas de retardamento dos escoamentos, visando à


ampliação dos tempos de concentração, através do aumento do tempo de percurso
dos fluxos, consegue-se a redução destes picos de vazão.

De acordo com Canholi (1995) para se obter essa ampliação dos tempos de
concentração, as seguintes medidas podem ser tomadas:

• Maior manutenção possível dos traçados naturais, fixando-se as curvas e


eventuais alargamentos existentes, conseguindo-se a majoração da
capacidade através da ampliação das calhas;

• Redução das declividades a partir da introdução de degraus, ou quando


possível, manter as declividades naturais;
21

• Adoção de revestimentos rugosos como gabiões, enrocamentos ou naturais,


como vegetação e grama, compatíveis com as velocidades que se pretenda
manter;

• Dotar a seção hidráulica de patamares (seções mistas), mantendo-se os


escoamentos mais freqüentes no leito menor. No leito maior deve ser
incentivada a sua utilização como parques e áreas de lazer, implantando-se
vegetação arbustiva e gramados, adotando-se medidas de combate as cargas
difusas de poluentes;

• Para o escoamento de base, pode-se adotar uma canaleta no fundo da calha


em pedra argamassada ou revestida em concreto para proteção contra
erosão de pé, e facilitar os trabalhos de manutenção.

6.2 Detenção / Retenção de Escoamentos

Dentre as mais significativas técnicas não-convencionais de drenagem, está a


utilização de obras ou dispositivos que favoreçam a reservação de escoamentos,
através de detenção ou retenção dos mesmos.

A principal finalidade desta técnica é buscar a redução do pico das enchentes,


utilizando para isso o amortecimento das cheias, através do armazenamento dos
volumes escoados. Ressaltando que as estruturas utilizadas nesta técnica podem
também possuir outros usos, tais como recreação, lazer e melhoria à qualidade da
água armazenada.

Segundo Urbonas e Staher (1992) apud CANHOLI (1995), as obras e dispositivos de


reservação podem ser divididos em dois grupos principais, de acordo com sua
localização no sistema de drenagem. Estes grupos são classificados como
contenção na fonte e contenção a jusante.
22

a) Contenção na Fonte: são dispositivos de pequenas dimensões e localizados


próximos aos locais onde provem os escoamentos, possibilitando assim um
melhor aproveitamento do sistema de drenagem a jusante. As vantagens e
desvantagens deste método são:

• Compostos normalmente por pequenas unidades de reservação, podendo


assim haver uma padronização;

• Alocação de custos pode ser simplificada, devido a menor sobrecarga para


cada área controlada, e a relação direta entre área urbanizada e deflúvio que
pode ser estabelecida;

• Os custos com manutenção e operação podem ser elevados devido ao


grande número de unidades;

• Avaliação de desempenho global para dimensionamento e projeto, pode


tornar-se complexo e gerar incertezas.

A contenção na fonte pode ainda ser subdividida em três diferentes tipos:

• Disposição no local: constituídos por obras, estruturas e dispositivos que


favorecem a infiltração e a percolação;

• Controle de entrada: constituído por dispositivos que restringem a entrada na


rede de drenagem, como através de válvulas nos telhados e o controle nas
captações das áreas de estacionamento e pátios;

• Detenção no local: constituído por pequenos reservatórios ou bacias para


armazenamento temporário de escoamentos produzidos em áreas restritas e
próximas.
23

b) Contenção a jusante: são reservatórios que visam controlar os deflúvios


provenientes de partes significativas da bacia. De forma geral, podem ser
classificados de acordo com seu posicionamento e função nos sistemas de
drenagem como sendo “in line” ou “off line”.

Os reservatórios denominados “in line” localizam-se na linha principal do sistema ou


estão conectados em série com o sistema, enquanto que os reservatórios “off line”
ficam localizados em paralelo com a linha principal do sistema, sendo assim utilizado
para desvios dos escoamentos.

6.3 Dispositivos de Contenção na Fonte com Infiltração

Compõe-se de dispositivos estruturais voltados ao controle em lotes residenciais e


vias de circulação, que devolvem a bacia sua capacidade de infiltração e percolação
perdidas devido à impermeabilização. Tem como objetivo principal reduzir os picos
de vazões no sistema de drenagem, tendo também a finalidade de reduzir os
escoamentos superficiais, promover uma melhoria na qualidade da água, contribuir
com a recarga de aqüíferos e possibilitar a utilização das águas reservadas.

Segundo Agra (2001), as estruturas de infiltração podem ser projetadas de forma a


não ficarem expostas, estando descobertas ou cobertas com grama ou outro
revestimento permeável. O que permite uma boa integração com o espaço urbano,
podendo ser implantadas em praças, parques, ao longo de calçadas ou ruas.

Canholi (1995) ressalta que a capacidade de absorção de um solo depende de


inúmeros fatores, dentre os quais temos: cobertura vegetal, tipo de solo, condições
do lençol freático e a qualidade das águas de drenagem.

A quantidade de água que pode infiltrar em um determinado solo depende da


“porosidade efetiva” do mesmo, isto é, da quantidade de água que um solo saturado
pode drenar.
24

A Tabela 6.2 apresenta alguns valores de porosidade efetiva:

Tabela 6.2: Porosidade efetiva de solos / pavimentos

(URBONAS et al., 1992 apud CANHOLI, 1995, p. 3-7)

Ainda segundo o autor, para a obtenção da adequação do terreno para disposição


das águas drenadas, devem ser observadas as condições do lençol freático. Para
isso as seguintes informações devem ser verificadas:

• Distância entre a superfície do terreno e o lençol freático;

• Declividade da superfície freática;

• Profundidade e direção do fluxo subterrâneo, incluindo as zonas de entrada e


saída;

• Variação do N.A. (nível da água) durante o ano.


25

6.3.1 Superfície de Infiltração

Constitui-se na forma mais simples de dispositivos de drenagem de contenção na


fonte, onde as águas drenadas percorrem uma superfície coberta por vegetação
para que a mesma infiltre no solo.

Em áreas com subsolo argiloso ou pouco drenantes podem ser instalados sub-
drenos, evitando assim que surjam locais com água parada.

Segundo Tucci e Genz (1995), o dimensionamento desta superfície pode ser obtido
através da equação que estabelece a vazão em função da intensidade da
precipitação (I), do coeficiente de escoamento (C) e da área (A). O volume
correspondente à duração t da intensidade é obtido por:

V = 0,00125 . C . P . A

Onde: P = I . t, em mm; I em mm/h; t, a duração em h; A, em m² e V, em m³.

A Figura 6.3 esquematiza uma superfície de infiltração em conjunto com uma vala de
infiltração.

Figura 6.3: Superfície de Infiltração com Trincheira de Infiltração

(SIEKER, 1984 apud TUCCI e GENZ, 1995, p. 293)


26

6.3.2 Valetas Abertas

Segundo Canholi (1995), são valetas revestidas em grama, adjacentes a ruas e


estradas, bem como junto a áreas de estacionamento, que visam facilitar a
infiltração. Podem ainda ser complementadas com trincheiras de infiltração.

A proteção de tais valetas com vegetação é importante para a conservação da


superfície mais permeável do solo, que pode tornar-se impermeável devido a
decantação de partículas finas. Assim, pode ser necessário eventuais limpezas para
a retirada do material acumulado, restaurando-se a capacidade de infiltração.

A Figura 6.4 mostra um detalhe construtivo de vala aberta gramada em conjunto


com um dispositivo de percolação.

Figura 6.4: Valeta Aberta com Dispositivo de Percolação

(URBONAS e STAHRE, 1993 apud TUCCI e GENZ, 1995, p. 295)


27

6.3.3 Bacias de Percolação

A utilização de bacias de percolação para a disposição de drenagem iniciou-se nos


anos 70, conforme relata Urbonas (1992) apud Canholi (1995).

Uma bacia de percolação é construída através da escavação de uma valeta que


posteriormente é preenchida com brita ou cascalho, sendo sua superfície
posteriormente reaterrada. O material granular promove a reservação temporária do
escoamento, enquanto a percolação se processa lentamente para o sub-solo.

Porém, este método necessita que o lençol freático seja baixo, criando-se assim
espaço para esse armazenamento de água. Em local com lençol freático alto, este
tipo de dispositivo não é recomendado.

Figura 6.5: Detalhe de uma Bacia de Percolação

(URBONAS e STAHRE, 1993 apud TUCCI e GENZ, 1995, p. 297)


28

6.3.4 Trincheiras de Infiltração

“As trincheiras de infiltração são dispositivos de drenagem do tipo controle na fonte e


tem seu princípio de funcionamento no armazenamento da água por tempo
suficiente para sua infiltração no solo.“ (AGRA, 2001)

São estruturas lineares, isto é, possui um comprimento muito superior a sua largura
e tem por função principal ser um reservatório de amortecimento de cheia,
possuindo um excelente desempenho devido ao favorecimento da infiltração e
conseqüentemente da redução dos volumes escoados.

São formadas por valetas preenchidas com material granular (seixo, brita ou outro
material similar), contém um filtro de geotêxtil que é colocado envolvendo o material
de enchimento, sendo recoberto por uma camada de seixos, formando assim uma
superfície drenante, conforme detalhe apresentado na Figura 6.6.

Figura 6.6: Detalhe de Trincheira de Infiltração

(FUJITA, 1984 apud TUCCI e GENZ, 1995, p. 299)

6.3.5 Vala de Infiltração

As valas de infiltração constituem um sistema de condução, formado por depressões


lineares, gramadas ou com solo nu, funcionando como um canal, promovendo uma
desaceleração do escoamento e possibilitando a infiltração parcial da água do
escoamento superficial. (SCHUELER et al., 1992 apud AGRA,2001)
29

Segundo os autores, é conveniente também a construção de pequenas barragens,


para favorecer assim a infiltração e possibilitar a remoção de poluentes por filtragem.
Ressaltando que o excesso de escoamento superficial, isto é, a parcela de água que
não infiltrou, seja direcionada à rede pluvial.

SUDERHSA (2000) apud AGRA (2001) recomenda a utilização destas valas em


lotes residenciais, loteamentos e parques, porém as valas devem ter uma
declividade máxima de 5%, evitando-se assim velocidades de escoamento
acentuadas. Desta forma as valas podem substituir a canalização convencional.

Figura 6.7: Vala de Infiltração

(URBONAS e STAHRE, 1993 apud TUCCI e GENZ, 1995, p. 295)

6.3.6 Poço de Infiltração

Poço de infiltração é uma estrutura destinada ao armazenamento e favorecimento da


infiltração de água proveniente do escoamento superficial. É semelhante a trincheira
de infiltração, porém não se trata de uma estrutura linear, mas de uma estrutura
pontual e vertical, que possibilita a infiltração na direção radial. (CETE, 1993 apud
AGRA, 2001)

O poço pode ser executado sem preenchimento, sendo necessário que as paredes
do poço sejam estabilizadas, ou preenchido com material poroso. A escolha do tipo
30

de preenchimento deve ser feita em função do volume projetado para o


armazenamento.

É importante ressaltar que embora a capacidade de armazenamento dos poços seja


pequena, existe a possibilidade dessa estrutura ser associada com outras, como
pavimentos permeáveis, trincheira e vala de infiltração, buscando assim camadas
mais profundas do solo e com maior capacidade de absorção.

6.3.7 Pavimentos Permeáveis

Urbonas (1993) apud Agra (2001) afirma que o pavimento permeável é um


dispositivo de infiltração onde o escoamento superficial é desviado através de uma
superfície permeável para dentro de um reservatório de pedras localizado sob a
superfície do terreno.

Segundo Schueller (1987) apud Araújo (1999), os pavimentos permeáveis são


compostos por duas camadas de agregados (uma de agregado fino ou médio e
outra de agregado graúdo) mais a camada do pavimento permeável propriamente
dito.

O escoamento infiltra rapidamente na capa ou revestimento poroso (espessura de 5


a 10 cm), passa por um filtro de agregado de 1,25 cm de diâmetro e espessura de
aproximadamente 2,5 cm e vai para uma câmara ou reservatório de pedras mais
profundo com agregados de 3,8 a 7,6 cm de diâmetro.

A capa de revestimento permeável somente age como um conduto rápido para o


escoamento chegar ao reservatório de pedras. O escoamento, neste reservatório,
poderá então ser infiltrado para o subsolo ou ser coletado por tubos de drenagem e
transportado para uma saída. Assim, a capacidade de armazenamento dos
pavimentos porosos é determinada pela profundidade do reservatório de pedras
subterrâneo (mais o escoamento perdido por infiltração para o subsolo).
31

Urbonas (1993) apud Araújo (1999) classificam os pavimentos permeáveis


basicamente em três tipos:

• Pavimento de asfalto poroso;

• Pavimento de concreto poroso;

• Pavimento de blocos de concreto vazado preenchido com material granular,


como areia ou vegetação rasteira, como grama.

Figura 6.8: Detalhes de Pavimentos Permeáveis

(URBONAS e STAHRE, 1993 apud TUCCI e GENZ, 1995, p. 301)

Os autores mencionam ainda que não existem limitações para o uso do pavimento
permeável, exceto quando a água não pode infiltrar para dentro do subsolo devido à
baixa permeabilidade do solo ou nível alto do lençol freático for alto, ou ainda se
houver uma camada impermeável que não permita a infiltração.
32

A utilização dos pavimentos permeáveis, pode gerar uma redução dos volumes
escoados e do tempo de concentração similares às condições de pré-urbanização,
ou ainda, dependendo das características do subsolo, condições melhores que as
naturais, desde que utilizado racionalmente, respeitando seus limites físicos, e desde
que seja conservado periodicamente (trimestralmente) com uma manutenção
preventiva. (ARAÚJO, 1999)

6.4 Dispositivos de Contenção na Fonte com Detenção

“São estruturas compensatórias que se propõem a restituir à bacia o


armazenamento natural perdido após o processo de urbanização“. (AGRA, 2001)

Em alguns casos, estas estruturas podem funcionar como estruturas mistas,


permitindo também a infiltração de parte da água armazenada no solo. Podendo ser
projetados tanto nos sistemas de macrodrenagem como na detenção na fonte.

Agra (2001) ressalta ainda um arranjo paisagístico urbano que aproveite as áreas
destinadas a detenção como áreas de lazer, tais como quadra de esporte, pista de
patinação, entre outros usos.

6.4.1 Micro-reservatório

Constitui-se de uma estrutura de detenção para controle na fonte, atuando no local


onde o escoamento é gerado. Este dispositivo pode captar a água proveniente de
todo um lote ou apenas de telhados. (GENZ, 1994 apud AGRA, 2001).

De forma geral, os MR (micro-reservatórios) são estruturas simples com formato de


caixas, podendo ser executada em diversos tipos de materiais, tais como concreto,
alvenaria, PVC, etc.
33

Encontram-se normalmente enterrados, porém podem ser aparentes, caso haja


limitação de altura devido à rede de drenagem. E possuem uma estrutura de
descarga como orifício.

Suas grandes vantagens encontram-se na grande eficiência e os pequenos volumes


necessários para o amortecimento dos hidrogramas de cheia.

Figura 6.9: Esquema do MR proposto por Schilling para condutores de telhados

(SCHILLING, 1982 apud AGRA, 2001, p. 34)

Figura 6.10: Técnicas utilizadas para a melhoria dos MR

(NICHOLAS, 1995 apud AGRA, 2001, p. 36)


34

6.4.2 Telhado Reservatório

Trata-se de um dispositivo que objetiva a compensação do efeito da


impermeabilização, através da própria estrutura impactante, que no caso é o
telhado.

Podem ser obtidos através da previsão de um sistema de calhas e condutores com


capacidade de armazenamento, que é controlado através de válvulas especiais.
Telhas ou mesmo estruturas de cobertura em concreto, com capacidade de
armazenar água de chuva também podem ser utilizados com tal objetivo.

Segundo Azzout (1994) apud Agra (2001), o telhado reservatório funciona como um
reservatório que armazena provisoriamente as águas da chuva e a libera
gradualmente à rede pluvial, através de um dispositivo de regulação específico.

Ainda segundo esse autor, as vantagens da utilização deste método num controle
local de escoamento encontram-se na economia da rede pluvial, na diminuição de
risco de inundação e uma conveniente adequação nas áreas urbanizadas, pois
agrega mais uma função a uma estrutura já necessária.

Porém deve-se ressaltar as desvantagens existente neste método, que incluem o


aumento de manutenção no telhado, restrição de inclinação (devendo ter no máximo
2%), grande dificuldade de adaptação em telhados existentes, custo elevado e
necessidade profissionais especializados.

6.4.3 Controle em Áreas Impermeabilizadas

Locais com grandes áreas impermeabilizadas, tais como estacionamentos, pátios de


manobra, praças públicas e centros esportivos, tendem a gerar elevados picos de
deflúvios.
35

Segundo Canholi (1995), além da introdução da prática de ampliarem-se ás áreas


permeáveis nestes locais, tais áreas também podem conter dispositivos ou
estruturas que reservem estes escoamentos, tanto através da inundação controlada
em certos pontos das mesmas como da implantação de reservatórios.

Para obter-se o retardamento do acesso de deflúvio à rede de drenagem podem ser


instaladas obstruções especialmente projetadas nas caixas de coleta, de forma que
próximo às captações se mantenha um alagamento controlado.

Através da previsão de depressões em praças públicas, estacionamentos e outros


locais, pode-se obter tal retardamento de forma ainda mais controlada. Além destes
locais terem condições de dispor de um espelho d’água permanente com um volume
de espera.

6.4.4 Reservatório de Detenção de Águas Pluviais (Piscininha)

Em 04/01/02 foi promulgada a Lei Municipal 13.276/01, que tornou obrigatória a


construção de reservatórios de retenção de águas pluviais (piscininhas) em obras a
serem executadas que causem a impermeabilização de áreas maiores que 500 m²
na cidade de São Paulo.

Com essa lei, novas edificações que forem construídas no município de São Paulo,
devem ser providas de um reservatório para detenção de águas pluviais durante o
pico das chuvas, para posteriormente ser esvaziado lançando suas águas no
sistema de micro-drenagem.

O sistema de esvaziamento pode ser feito por meio de bombas, o que não é muito
seguro, visto que pode haver queda de energia, ou mesmo falhar as bombas, o que
implica no não esvaziamento do reservatório, ou por gravidade, se essa solução for
possível.
36

Para a construção do reservatório em edifícios novos, pode-se executar o


reservatório em concreto armado, porém necessita-se de uma área considerável
para sua disposição, ou pode ser executado através de reservatórios longitudinais.

Os reservatórios longitudinais podem ser executados de diferentes maneiras, tais


como sendo compostos por tubos de concreto justapostos; a partir de uma vala no
chão, posteriormente revestida por alvenaria e tampada com lajes pré-moldadas de
concreto; abaixo do nível do subsolo; ou até mesmo com a utilização de tubos de
PVC moldados no próprio canteiro de obra, que são denominados Rib-Loc.

Deve ser feito um estudo particular para cada caso, buscando a melhor solução
através da viabilidade técnica e econômica, considerando vantagens e
desvantagens de alternativa.

6.5 Reservatórios de Contenção / Retenção a Jusante

De acordo com Canholi (1995), as estruturas de contenção ou retenção dos


deflúvios a jusante visam controlar os escoamentos de bacia ou sub-bacias de
drenagem, constituindo-se assim em obras de maior importância e significado na
intervenção urbana, pois é através desta reservação dos volumes escoados que
obtem-se o amortecimento dos picos das enchentes. (ver Figura 6.12).

Figura 6.11: Efeito da Retenção dos picos de enchentes

(CANHOLI, 1995)
37

A detenção de escoamentos é importante tanto para o controle da quantidade


quanto da qualidade das águas drenadas nas vias urbanas. A filosofia atual do
gerenciamento de sistemas de drenagem urbana inclui obrigatoriamente o controle
de qualidade das águas coletadas, nos países do primeiro mundo.

Dentro desta nova condicionante, diversas obras de detenção já implantadas foram


modificadas ou adaptadas para atenderem a este requisito complementar.
Destaque-se que nos locais onde os esgotos sanitários e industriais recebem
conveniente tratamento, a contaminação pelas águas de chuva e lavagem das ruas
responde pelo maior porcentual de poluição dos corpos hídricos.

De acordo com Walesh (1989) apud Canholi (1995), as obras de reservação podem
ser diferenciadas como bacias de detenção e bacias de retenção. Assim, de forma
geral, tal conceituação pode ser entendida como:

• Bacias de Detenção: são obras destinadas a armazenar os escoamentos de


drenagem, normalmente secas durante as estiagens, mas projetadas para
reter as águas superficiais apenas durante e imediatamente após as chuvas.
O tempo de detenção guarda relação apenas com os picos máximos de
vazão requeridos à jusante e dos volumes armazenados (ver Figura 6.12).

Figura 6.12: Bacia de Detenção

(Departamento de Águas e Energia Elétrica - DAEE, 2004)


38

• Bacias de Retenção: reservatórios de superfície que sempre contém um


volume substancial de água permanente para servir as finalidades
recreativas, paisagísticas, ou próprio abastecimento de água ou outras
funções. O N.A. é mantido temporariamente acima dos níveis normais durante
ou imediatamente após as cheias (ver Figura 6.13).

Figura 6.13: Bacia de Retenção

(Departamento de Águas e Energia Elétrica - DAEE, 2004)

• Bacia de Sedimentação (Alagadiços): reservatório que possui a função


principal de reter sólidos em suspensão, detritos ou absorver poluentes que
são carreados pelos escoamentos superficiais. Esta bacia de sedimentação
pode ser parte de um reservatório com múltiplos usos, incluindo o de controle
de cheias.
39

Figura 6.14: Bacia de Sedimentação

(Urban Drainage and Flood Control District, 1992 apud TUCCI, 1995, p. 425)

Segundo Canholi (1995), estes reservatórios podem ser divididos em dois tipos
principais, que podem ser "in line" e "off line". Os reservatórios “in line” são aqueles
que se encontram na linha principal do sistema e restituem os escoamentos de
forma atenuada e retardada ao sistema de drenagem de maneira contínua,
normalmente por gravidade, conforme exemplo de funcionamento na Figura 6.15.

Figura 6.15: Reservatório “in line”

(Departamento de Águas e Energia Elétrica - DAEE, 2004)


40

Os reservatórios "off line" são aqueles que retém volumes de escoamento que são
desviados da rede de drenagem principal quando do excesso de demanda e restitui
para o sistema, geralmente por bombeamento, ou válvulas controladas quando se
produz o alívio nos picos de vazão, conforme Figura 6.16.

Figura 6.16: Reservatório “off line”

(Departamento de Águas e Energia Elétrica - DAEE, 2004)

Comparando-se este tipo de solução através de reservatórios de Contenção /


Retenção a Jusante com os dispositivos de contenção na fonte, pode-se citar que:

• em certos casos o custo de implantação referentes às estruturas de


reservação a jusante se mostraram mais vantajosos que os relativos ao
controle na fonte (HARTINGAN, 1986 apud CANHOLI, 1995);

• os custos de operação e manutenção, dado o menor número de locais, são


normalmente mais baixos;
41

• há necessidade de utilizarem-se maiores área para sua implantação, e


portanto as dificuldades para obtenção destas áreas e mesmo os custos de
aquisição dos terrenos podem se tornar elevados.

• pode haver maior resistência das comunidades locais à sua implantação,


muitas vezes devido ao porte das obras. Esta questão pode ser amenizada
com a introdução dos aspectos de múltiplos usos, agregando-se a questão
paisagística, de lazer e recreação.

6.6 Canais Abertos

Na drenagem das águas pluviais, Chernicharo e Costa (1995) citam a existência de


três tipos de concepção para os canais de macrodrenagem urbana: Fechados;
Abertos e de Leito Preservado.

Entre as soluções, a melhor concepção seria de leito preservado, pois gera uma
menor intervenção nos cursos naturais e evita o emprego de soluções estruturais,
através da criação de parques lineares ao longo do canal. Porém, esta concepção
deve ser adotada em áreas de pouca ocupação urbana ou áreas de preservação.

Ainda segundo os autores, existe no Brasil uma cultura de privilegiar as intervenções


em fundos de vale, com obras de canalização em estruturas de concreto,
constituídas de canais fechados, margeados por interceptores de esgotos sanitários
de ambos os lados. As pistas, destinadas ao trânsito de veículos, são executadas
sobre os canais, descaracterizando totalmente o ambiente natural.

Porém, em casos de ocorrência de chuvas com período de retorno (T) superior ao


da vazão (Q) de projeto, utilizada para o dimensionamento do canal, resulta-se na
extravasão do mesmo. Mas, se o canal em questão for um canal fechado ocorrerá o
afogamento da seção transversal, fazendo com que o mesmo deixe de atuar como
42

um conduto livre passando a atuar como conduto forçado, gerando assim pressões
internas e induzindo o refluxo pelas galerias, bocas de lobo, etc. (ver Figura 6.17).

Figura 6.17: Potencialização das Enchentes Urbanas em Canal Fechado

(FENDRICH e MALUCELLI, 2004)

Desta forma, acarreta-se uma potencialização da situação de enchente,


caracterizada pelo represamento e propagação do remanso para montante,
afogando todas as saídas dos emissários ou de exutórios de tributários que
descarregam águas pluviais no canal de macrodrenagem.

Conclui-se assim que os canais de macrodrenagem urbana deverão ser


prioritariamente construídos abertos e, somente na impossibilidade total, serem
fechados, sob o risco hidrológico de se tornarem forçados e potencializarem as
enchentes urbanas.

6.7 “Polders”

De acordo com Canholi (1995), os “polders” são sistemas compostos por diques de
proteção e equipamentos de bombeamento, visando proteger áreas ribeirinhas que
situam-se em cotas inferiores aos níveis d’água do talvegue, durante os períodos de
enchentes. Dessa forma, a área é totalmente isolada por diques com cota de
coroamento estabelecidas a partir dos riscos assumidos.
43

Segundo Tucci e Genz (1995), embora o dique possibilite uma proteção localizada
para uma região ribeirinha, deve-se evitar a construção de diques com grandes
alturas, pois existe risco de rompimento para uma enchente maior que a de projeto,
o que causaria grandes danos à população.

O dique produz uma redução na seção de escoamento, conforme observamos na


Figura 6.18, e assim pode gerar um aumento da velocidade e dos níveis de
inundação. Para que esses problemas sejam evitados, as condições de fluxo não
devem ser alteradas após a construção do dique.

Figura 6.18: Impacto da construção do dique

(TUCCI et al., 1995, p. 335)

Normalmente os diques são constituídos de terra com enrocamento ou de concreto,


dependendo dos espaços disponíveis, condições de fundação e custos. Os diques
de concreto são mais caros, mas são mais seguro, pois resistem ao galgamento de
uma cheia, enquanto que os diques de enrocamento dificilmente resistem ao
galgamento e se rompem.
44

Tucci e Genz (1995) alertam que quando a drenagem lateral apresentar vazão de
projeto muito alta, pode ser inviabilizado seu bombeamento. Nesse caso,
aconselham a utilização de uma bacia de detenção à montante ou junto a estação
de bombeamento para reduzir a capacidade nominal da bomba, tornando assim o
projeto mais econômico.

Figura 6.19: Dique: Drenagem da Bacia Lateral

(TUCCI et al., 1995, p. 335)


45

7 REUSO DE ÁGUA

Segundo Tomaz (2003), embora o Brasil possua uma das maiores bacias hídricas
do mundo, a severa escassez de água potável em diversas regiões surge devido ao
desequilíbrio entre a distribuição demográfica, industrial e agrícola, e a concentração
de água.

Assim, a conscientização sobre a importância de economia de água e de seu uso


racional, constituem a primeira medida para atenuar o problema, que devem ainda
contar com o apoio governamental. Porém outras medidas como o reuso de água
também podem ser utilizadas para proporcionar alternativas de recursos hídricos.

Existem diversos tipos de reuso de água possíveis de serem realizados, e de acordo


com sua finalidade eles podem ser classificados como:

• reuso potável direto – não recomendado pela OMS, somente sendo aceitável
caso seja imprescindível; neste caso o esgoto tratado é injetado diretamente
no sistema de abastecimento de água potável;

• reuso potável indireto – é a diluição dos esgotos, após tratamento, em um


corpo hídrico, onde após longos tempos de detenção, é efetuada a captação
seguida de tratamento adequado e posterior distribuição como água potável.

• reuso não potável doméstico – Utilizado em irrigação de áreas ajardinadas,


reserva de proteção contra incêndios, sistemas decorativos aquáticos
(chafariz, espelho d’água), descarga sanitária;

• reuso não potável recreativo e/ou público – reuso para irrigação de parques e
jardins públicos, centros esportivos, campos de esporte, arvores e arbustos
em avenidas e rodovias, lagos ornamentais e/ou recreativos, lavagem de
trens e ônibus públicos;
46

• reuso não potável industrial – utilizado em torres de resfriamento, caldeiras,


construção civil, lavagem de pisos e algumas peças (indústria mecânica),
processos industriais;

• reuso não potável agrícola – água utilizada na irrigação da agricultura ou para


a dessedentação de animais;

• reuso não potável na aqüicultura – alimentação de reservatórios destinados à


produção de peixes e plantas aquáticas objetivando a obtenção de alimentos
e/ ou energia da biomassa aquática;

• recarga de aqüíferos – recarga de aqüíferos potáveis, controle de intrusão


marinha, controle de recalques de subsolo;

• finalidades ambientais – aumento de vazão em cursos de água, aplicação em


pântanos, terras alagadas, industrias de pesca.

Embora as diversas alternativas de reuso de água apresentadas sejam de grande


importância para o desenvolvimento futuro deste país, neste trabalho será
enfatizado apenas o reuso não-potável doméstico através de águas provenientes de
chuvas.

7.1 Reaproveitamento de Águas de Chuvas

Segundo a CETESB (2004), as águas de chuva são encaradas pela legislação


brasileira como esgoto, pois ela usualmente vai dos telhados e pisos para as bocas
de lobo, por onde segue carreando todo tipo de impurezas, seja dissolvidas,
suspensas ou arrastadas mecanicamente, para um córrego que vai acabar
desaguando em um rio que por sua vez vai acabar suprindo uma captação para
Tratamento de Água Potável.
47

De acordo com Nogueira (2004), apenas a primeira água de chuva coletada em um


telhado, vem contaminada e lavando a poluição atmosférica e do próprio telhado,
inclusive de sua lixiviação, estando carregada de poeira, esporos de fungos, algas,
micro-organismos, acides, e os supracitados metais, etc.

Muito pouco tempo após o inicio da chuva, a água coletada já adquire muitas das
características de água potável, quando comparada com os parâmetros da OMS
(Organização Mundial da Saúde), superando em qualidade muitas águas que hoje
em dia é bebida.

Para uso humano, inclusive como água potável, a água captada e estocada é filtrada
em areia e carvão ativado, readicionados sais com posterior cloração, podendo esta
ser feita com equipamentos simples e de baixo custo, como por exemplo Clorador
Embrapa ou Clorador tipo Venturi automático.

Tomaz (2003) apresenta um modelo de aproveitamento de água de chuva que é


voltado à microbacias de telhados de áreas residenciais, comerciais e industriais.
Para ilustrar este modelo, observe na Figura 7.1.

Figura 7.1: Sistema Dual de Água Fria: água potável e água não-potável

(TOMAZ, 2003, p. 23)


48

Esse é um esquema de sistema dual, no qual existe um abastecimento de água


potável pela concessionária, e um sistema paralelo de água não-potável obtida
através do reaproveitamento da água de chuva.

Esse deve ser o sistema existente futuramente nas residências, onde a rede de
água não-potável deverá ser destinada principalmente a descargas de vasos
sanitários, podendo ser utilizada também para lavagem de roupas, irrigação de
jardins e plantas, lavagem de carro e pisos, entre outros.

Ainda segundo o autor, pesquisas realizadas no Japão demonstraram que com o


reuso da água (água de chuva ou água servida) para fins não-potáveis, consegui-se
reduzir o consumo de 30% da água potável.

Assim observa-se que o reuso da água é uma importante alternativa para atenuar
problemas como a escassez iminente que ocorre em grande parte do mundo. Porém
a solução ideal é que medidas sejam tomadas de maneira preventiva, ou seja, ações
como o reuso devem ser desenvolvidas antes que a situação atinja níveis críticos,
possibilitando a sociedade se adaptar as mudanças sem trauma ou risco a saúde
pública.

Dessa forma, medidas com o reuso da água devem ser incentivas, visando sempre o
bem estar da população, a preservação do meio ambiente e a adaptação a uma
realidade existente.

7.2 Componentes Principais para Captação de Água de Chuva

De acordo com Tomaz (2003), os principais componentes para a captação de água


de chuva são:

• Áreas de captação – composta geralmente por telhados ou através de


superfícies impermeabilizadas sobre o solo.
49

• Calhas e condutores – utilizados para captação das águas, podem ser


metálicos ou de PVC.

• By Pass – atua como um separador das primeiras águas de chuva que


contém muitas impurezas, podendo ser feito manualmente ou de forma
automática.

• Peneiras – com a finalidade de remover materiais em suspensão, dotadas de


tela de 0,2mm a 1,0mm.

• Reservatório – pode ser apoiado, enterrado ou suspenso, e de diferentes


materiais como concreto, alvenaria, plásticos, etc.

• Extravasor – instalado no reservatório para drenar o excesso de água, deverá


possuir um dispositivo que impeça a entrada de pequenos animais.
50

8 ESTUDO DE CASO

Como estudo de caso referente ao trabalho apresentado, foi elaborada uma analise
sobre o crescimento desordenado de uma cidade de médio porte (Juiz de Fora -
MG) e suas conseqüências. Demonstrando dessa forma, como a falta de
planejamento no desenvolvimento da cidade, aliada a grande impermeabilização da
bacia devido a sua urbanização, afetam os sistemas de drenagem existentes.

8.1 Cidade de Juiz de Fora - MG

Segundo Santos et al. (2004), a cidade de Juiz de Fora foi fundada em 1.850 e está
localizada no vale do rio Paraibuna na mesoregião da Zona da Mata em Minas
Gerais, a 43°20'40" de longitude oeste e a 21°41'20" de latitude sul.

A cidade possui uma área total de 1.429,875 km², com uma população de 471.693
habitantes no ano de 2002, sendo considerada uma cidade de porte médio.

8.1.1 Histórico

De acordo com Santos et al. (2004), a ocupação da cidade teve inicio no Vale do rio
Paraibuna, no período de expansão cafeeira, com a constituição de um mercado a
partir de 1830. Nesse período ocorreu uma aceleração no processo de urbanização,
pois associada às atividades mercantis, desenvolve-se a atividade industrial,
predominantemente ligada à produção de bens de consumo não duráveis, sobretudo
têxteis, alimentícias e vestuários. Entre as décadas de 50 e 70 do século XIX, a
população salta de 600 para 12.500 habitantes.
Entre 1916 até 1930, a cidade passa por um processo de modernização, ampliação
da malha urbana e de embelezamento dos espaços públicos. A cidade expande-se
51

para locais até então considerados periféricos e, assim, lentamente estabelecem-se


novas áreas de ocupação. Intensificam-se as obras de calçamentos, aterros e
arruamentos, que se estendem pelo fundo do vale principal e pelos afluentes do rio
Paraibuna. Nestas circunstâncias a população passa a ocupar as encostas e os
vales secundários que mais tarde se uniram ao núcleo central.

Desta maneira é acelerado o ritmo de crescimento da população na área urbana de


Juiz de Fora sendo que entre 1940 a 2000 a população é quadruplicada: Outro fator
que influenciou no crescimento urbano neste período foram os investimentos em
políticas habitacionais que valorizaram varias áreas periféricas devido à expansão
da infra-estrutura e serviços.

O processo de urbanização de Juiz de Fora ocorreu sem nenhum planejamento e a


ocupação do espaço estava ligada a manobras políticas e submetidas a
especulações imobiliárias. A população ocupa áreas periféricas geralmente
inadequadas, onde a vegetação é retirada, cortes e aterros tomam o lugar sem
nenhum controle técnico. Tais alterações do meio físico aumentam a vulnerabilidade
das populações, como é o caso de construções em áreas de risco, sujeitas a
escorregamentos e enchentes.

Figura 8.1: Rio Paraibuna

(CESAMA, 2004)
52

8.1.2 Apresentação de Problemas

Segundo Santos et. Al (2004), no dia 08 de janeiro de 2004 no bairro Olavo Costa,
localizado na região sudeste da cidade, ocorre grandes problemas devido a
enchentes. Esta área possui uma alta declividade e é ocupada por uma população
de baixo poder aquisitivo, com construções feitas por materiais de baixa qualidade
ou até mesmo impróprios, sem nenhuma orientação técnica. Nesse dia foi registrado
um elevado índice pluviométrico, 98.5 mm, o que causou grandes transtornos à
população local:

• a água invadiu a casa de diversos moradores;

• a lama trouxe inúmeras perdas materiais;

• houve queda de muros;

• deslizamentos de encostas.

Ainda nesse dia, na zona sul, a principal avenida de acesso ao bairro Ipiranga, ficou
completamente inundada devido ao transbordamento do córrego que corta a região.
Por possuir canais de concreto, houve rápida elevação da lâmina d'água em virtude
da intensa impermeabilização de seus arredores.

Para Sudo (2000) apud Santos et al. (2004), com a intensificação da urbanização
surge uma nova paisagem urbana: impermeabilização das ruas, de
estacionamentos, de áreas industriais; a drenagem se faz através de canais de
concreto, as encostas são ocupadas e a erosão acelerada; a rede de captação de
águas pluviais torna-se insuficiente e o assoreamento dos cursos d'água é cada vez
maior; as inundações se tornam cada vez mais freqüentes.

Devido a sazonalidade das chuvas, o fluxo d’água nos rios e nos córregos é
irregular. Durante as secas, os cursos d’água se transformam em um fio de água
53

poluído e mal cheiroso que persiste em correr entre o lixo estagnado e ilhas de
sedimentos. Devido a impermeabilização o escoamento superficial das águas faz
com que elas atinjam os cursos d'água rapidamente. Com o talvegue reduzido pelos
sedimentos e calha estreita, a capacidade dos rios e córregos fica comprometida e
como conseqüência transbordam provocando enchentes. E a população que vive
próxima a estas áreas acaba sendo afetada todos os anos no período do verão.

Segundo Motta (1997) apud Santos et al. (2004), a urbanização, com seus diversos
usos do solo, causa sempre grandes alterações na cobertura vegetal, na topografia,
nas características do solo e no movimento das águas, resultando em problemas de
erosão, comum nas grandes cidades, a ocupação de terrenos com grandes
declividades, nas margens de recursos hídricos e de áreas com solos
desagregáveis, o que contribui para o processo de erosão com graves
conseqüências, como por exemplo aterramentos de mananciais e as conseqüentes
inundações e os deslizamentos de encostas.

Assim sendo, a maior de todas as causas dos movimentos de massa não é


geológica, mais social: a favelização, as invasões, ocupação desordenada do solo.
O problema é intensificado de acordo com as condições socioeconômicas da
população.

8.1.3 Metodologia

De acordo com Santos et. al (2004), para a realização do presente estudo contou-se
com os dados da Estação Climatológica de Juiz de Fora (ECP), instalada no campus
da Universidade Federal de Juiz de Fora, gerenciada pelo Laboratório de
Climatologia e Análise Ambiental (LabCAA) do Departamento de Geociências da
UFJF.

O estudo teve como base os dados pluviométricos, relativos ao período de 1973 a


2002. Considerou-se como dia chuvoso o registro diário igual ou superior a 0,1 mm
de chuva. O equipamento empregado na coleta dos dados, na ECP, é o pluviômetro
54

do tipo Ville Paris, cuja leitura é feita de acordo com o padrão INMET, às 9h, 15h e
21h.

8.1.4 Resultados

A análise dos dados pluviométricos de Juiz de Fora referentes à precipitação pluvial


no período de 1973 a 2002 constatou que a precipitação total da cidade vem
diminuindo no decorrer da décadas. O período que corresponde aos anos de 1973 a
1982 contribuiu com 33,5% da pluviosidade. Na série seguinte, de 1983 a 1992,
esse índice saltou para 35,9%, resultando em um aumento de 7,2%. Porém, o
período que corresponde aos anos de 1993 à 2002 foi marcado por uma queda na
quantidade total de chuva, contribuindo com apenas 30,6%, caracterizando anos
tipicamente mais secos.

Rinco (2003) apud Santos et al. (2004), numa análise do mesmo período observou
uma tendência de maior ocorrência de desvios negativos com relação à média, isto
é, os últimos anos vêm se caracterizando por um déficit hídrico.

Os dados acima relatados constatam a vulnerabilidade de Juiz de Fora em múltiplas


questões: o crescimento demográfico acelerado, o problema habitacional, a
deficiência da infra-estrutura básica, as desigualdades sócio-econômicas e
conseqüente segregação espacial, que repercutem com grande intensidade na
estrutura da cidade. Estes problemas são típicos de uma urbanização que se fez de
modo rápido e desordenado.

Esta questão pôde ser mais uma vez observada no dia 14 de janeiro de 2004 numa
das principais vias de acesso ao distrito industrial da cidade. Representando o
principal eixo no fluxo de veículos cortando a cidade de norte a sul, a avenida teve
de ser interditada devido ao rompimento num dos sistemas de captação de águas
pluviais.
55

Na falta de políticas de planejamento para a infra-estrutura, o estudo dos dados


pluviométricos pode orientar o melhor gerenciamento das obras públicas, tendo
como objetivo a amenização dos impactos pluviais na área urbana.

8.1.5 Análise Crítica

Esta cidade teve um desenvolvimento típico das cidades de grande e médio porte no
Brasil, onde foram executas diversas obras de drenagem com conceito
convencional, isto é, onde se privilegiaram obras como retificações de canais,
implantações de galerias de concreto, tamponamento de canais para construções de
vias de tráfego sobre estes, dentre outras alterações executadas.

A falta de um planejamento para o crescimento da cidade foi outro fator de grande


contribuição para o colapso dos sistemas de drenagem existentes nos períodos de
grandes precipitações. A ocupação de forma desordenada, sem que sejam
executadas obras de infra-estrutura adequadas, aliadas a uma quase total
impermeabilização do solo da bacia nessas áreas, demonstram a omissão do
governo no gerenciamento e desenvolvimento da cidade em suas áreas periféricas.

Como primeira medida a ser tomada para a adequação dos sistemas de drenagem
urbana da cidade, deve ser adotado um PDDU (Plano Diretor de Drenagem Urbana),
caso ainda não tenha sido elaborado o mesmo, onde serão definidas as política de
desenvolvimento e alterações a serem executadas na cidade, através de soluções
para o sistema de drenagem existente e crescimento urbano.

Como medidas para melhorar a eficiência dos sistemas de drenagem existentes,


diversas técnicas abordadas ao longo deste trabalho podem ser adotadas, visando
um retardamento dos escoamentos, retenção dos deflúvios e melhorias nas
qualidades de infiltração do solo.
56

Soluções como manutenção de canais abertos e com seus traçados naturais,


auxiliam na redução da velocidade de escoamento, causador de inundações em
pontos de estrangulamento dos canais; incentivos à adoção de dispositivos de
contenção na fonte que melhorem as condições de infiltração no solo da cidade,
como o uso de pavimentos permeáveis, vala de infiltração, bacias de percolação,
dentre outras técnicas disponíveis.

De acordo com a necessidade, algumas leis obrigatórias de detenção de


precipitação na fonte, similares a lei municipal 13.276/01 adotada na cidade de São
Paulo, devem ser adotadas para reduzir os picos de cheias e assim tornar os
sistemas de drenagem existentes adequados.
57

9 CONCLUSÕES

Os sistemas de drenagem convencionais adotados por várias décadas em grandes


cidades brasileiras, que induzem uma aceleração dos escoamentos através de
canalizações, vêm sofrendo mudanças em seus conceitos devido à constatação de
sua ineficiência com a constante expansão das cidades.

Como a urbanização de uma bacia desenvolve-se de jusante para montante, os


sistemas de drenagem tendem a tornar-se insuficientes, pois os picos de vazões nas
canalizações a jusante aumentam devido a essa urbanização.

É importante ressaltar a necessidade de restringir às vazões à jusante, introduzindo


o critério de “impacto zero” em drenagem, de forma que as vazões ocorrentes não
sejam majoradas.

Assim o uso de alternativas, tidas como sistemas de drenagem não-convencionais,


apresentam soluções para os problemas em sistemas de drenagem existentes e
possibilitam um melhor planejamento em áreas futuramente urbanizadas, através de
técnicas de retardamento de escoamentos, detenção, retenção, favorecimento de
infiltração, dentre outras, conforme apresentado neste trabalho.

Estas soluções além de possibilitar a adequação dos sistemas de drenagem


existentes, permitem que em um próximo estágio, haja um maior controle sobre a
qualidade das águas armazenadas, pois à medida que as águas são retidas durante
as precipitações, estas podem sofrer um tratamento primário para sua utilização em
diversas aplicações como aguamento de praças e jardins, lazer, ou ainda em menor
escala, para lavagem de veículos e roupas em residências.

É importante ressaltar que devido à escassez de água potável disponível, medidas


de incentivo a conservação dos recursos hídricos e o favorecimento ao
reaproveitamento de águas, sejam estas servidas ou de chuvas, devem ser
analisadas e implantadas pelos órgãos responsáveis.
58

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