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Excesso de CO2 no ar
intensifica a expiração ativa
durante o sono
09 de março de 2018
O estudo, apoiado pela FAPESP por meio do programa Jovens Pesquisadores em Centros
Emergentes e por duas bolsas de iniciação científica, foi publicado no The Journal of Physiology.
Ratos adultos machos expostos a condições de hipercapnia (7% de CO2 no ar ambiente) tiveram
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09/03/2018 Agência FAPESP | Excesso de CO2 no ar intensifica a expiração ativa durante o sono
Da Silva explica que os registros durante o sono foram feitos apenas durante a fase não REM. Isso
porque a característica do sono em ratos é diferente da apresentada por humanos.
“O rato tem maior atividade durante a noite e dorme mais durante o dia. Todos os experimentos
foram feitos no período diurno, lembrando que o sono do rato não é contínuo, como geralmente é o
de humanos. O rato passa pelos mesmos estágios pelos quais passamos, só que de forma mais
fragmentada, o que torna difícil, durante a hipercapnia, registrar o sono REM que ocorre em
episódios curtos”, disse.
De acordo com o estudo, a atividade do músculo abdominal foi ainda mais intensa e se tornou mais
variável durante o sono, se comparada aos períodos de hipercapnia na vigília. Da mesma forma, a
expiração ativa foi muito mais prevalente durante o sono, embora apresentando intermitência.
“É provável que isso ocorra com humanos também. Esse processo de recrutamento da musculatura
abdominal vem sendo estudado desde a década de 1980, só que nos últimos cinco anos houve um
reavivamento dessa área de estudo, pois foi descoberta uma região no sistema nervoso central, o
chamado grupo respiratório parafacial, que é responsável por originar essa atividade expiratória”,
explicou Da Silva.
Hipercapnia e obstrução
Situações de hipercapnia podem ser comuns em condições como as síndromes de obstrução das
vias aéreas, sendo a apneia obstrutiva do sono a mais conhecida delas. Nessas condições a
musculatura que é responsável por dilatar as vias aéreas superiores tem o tônus reduzido, fazendo
com que as vias aéreas entrem em colapso.
Durante a fase do sono esses indivíduos ficam em hipercapnia, a respiração para e o CO2 que
deveria ser liberado é acumulado no sangue. “Há relatos de humanos que recrutam a musculatura
abdominal em uma condição de hipercapnia durante o sono, que é justamente a condição a que
expusemos os animais durante o estudo”, disse Da Silva.
Segundo Da Silva, a descoberta é relativamente simples, mas traz alguns avanços importantes. “Um
primeiro aspecto é o da perspectiva de controle neural da respiração. Não fizemos nenhum tipo de
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abordagem para investigar os mecanismos neurais, entretanto foi utilizado um modelo e métodos
com alto valor integrativo em fisiologia do controle respiratório. Uma pergunta que fica é: uma vez
que neurônios estão gerando atividade abdominal durante o sono, algum mecanismo deve ser
responsável por ativar esses neurônios no sistema nervoso central. Entender esses mecanismos é
um desafio que ainda está posto na literatura. A continuação desse estudo parte da proposta de
investigar alguns possíveis mecanismos neurais que estão envolvidos nesse tipo de resposta”,
disse.
O estudo foi comentado na seção Perspectives da mesma edição de The Journal of Physiology.
“A descoberta do aumento da expiração ativa durante o sono não REM é intrigante no contexto de
uma diminuição generalizada da atividade muscular da via aérea superior, mas não do diafragma,
durante o sono com relevância para os eventos obstrutivos das vias aéreas características da
síndrome da apneia obstrutiva do sono”, escreveu Ken D. O’Halloran, do Departamento de Fisiologia
da Faculdade de Medicina da University College Cork (Irlanda), que não participou do estudo.
De acordo com O’Halloran, a hipoventilação pode fornecer um estímulo adicional mediado por
reflexo para recrutar a expiração ativa durante o sono, talvez defendendo-se contra a obstrução da
respiração.
“Estudos sobre a fase expiratória do ciclo respiratório têm retornado ao palco central e nunca foram
tão ativos. O estudo tecnicamente desafiador de Leirão e outros oferece uma perspectiva integrativa
dos osciladores respiratórios do tronco encefálico, desvendando o padrão de recrutamento da
musculatura abdominal durante desafios respiratórios, revelando as consequências mecânicas deste
recrutamento na ventilação pulmonar”, escreveu O’Halloran.
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