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Equações de Compatibilidade para Deformação - USP PDF
Equações de Compatibilidade para Deformação - USP PDF
9.1. Introdução
Nesta aula serão apresentadas as equações de compatibilidade de deformações para o caso geral
(referente ao estado triplo de deformações) e o significado físico destas equações. Na sequência,
particularizando os casos de estudo nas aplicações de estado plano de tensão ou de deformação,
veremos como podemos expressar a única equação de compatibilidade de deformações que resta para o
caso 2D em função das tensões no plano. Por fim, será introduzida a função de tensão de Airy e
mostraremos que, com a introdução desta função, as equações diferenciais de equilíbrio no plano ficam
automaticamente satisfeitas e que a equação de compatibilidade de deformações assume uma forma
bastante interessante na solução de problemas bidimensionais.
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Notas de Aula preparadas pelo Prof. Dr. Roberto Ramos Jr., email: rramosjr@usp.br
Em contra-partida, o oposto não se observa, ou seja, se forem arbitradas funções quaisquer para as
seis componentes de deformação na vizinhança de um ponto, não se pode assegurar que elas irão
garantir a existência das três componentes de deslocamento, ݑ, ݒe ݓ, univocamente determinadas, que
levem a deformações compatíveis. Isto pode ser melhor entendido utilizando a seguinte abstração:
imagine que na configuração de referência (não-deformada) de uma estrutura, ela seja dividida em
minúsculos elementos (à semelhança do que é feito no método dos elementos finitos), conforme ilustra
a Fig.1.a, e que, após esta divisão, sejam arbitrados livremente, e para cada elemento isoladamente,
componentes de deformação quaisquer (como na Fig.1.b). Neste caso, seria possível reunir as peças
deste “quebra-cabeças” de tal forma a se obter a configuração deformada da estrutura?
(Deformações
arbitrárias impostas a
cada elemento)
(a) (b)
(Divisão inicial do
sólido em elementos)
?
Montagem do sólido é
possível? (c)
A resposta é obviamente “Não!” e, do exposto, fica evidente que deve haver relações entre as
componentes de deformação que, uma vez satisfeitas, irão garantir a existência das componentes de
deslocamentos que estejam relacionadas às componentes de deformação através das Eqs.(1-6). Estas
relações recebem o nome de Equações de Compatibilidade de Deformações.
߲ ଶ ߝ௬ ߲ ଶ ߝ௭ ߲ ଶ ߛ௬௭
Eq.(8)
߲ ݖଶ ߲ ݕଶ ߲ݖ߲ݕ
+ =
߲ ଶ ߝ௭ ߲ ଶ ߝ௫ ߲ ଶ ߛ௫௭
Eq.(9)
߲ ݔଶ ߲ ݖଶ ߲ݖ߲ݔ
+ =
߲ ଶ ߝ௬ ߲ଷݒ
߲ ݔଶ ߲ݕ߲ ݔ
= ଶ
A prova de que as seis relações dadas por Eq.(7-12) são suficientes para garantir a existência de
deslocamentos correspondentes às funções de deformações dadas pode ser encontrada, por exemplo,
em Love [2].
ߝ௫ = ൣߪ − ߥߪ௬ ൧
1
ܧ௫
ߝ௬ = ൣߪ௬ − ߥߪ௫ ൧
1
ܧ
2(1 + ߥ)
ߛ௫௬ = ߬௫௬
ܧ
que, uma vez substituídas em Eq.(13), levam a seguinte equação de compatibilidade de deformações
(agora expressa em função das tensões):
߲ ଶ ߪ௫ ߲ ଶ ߪ௬ ߲ ଶ ߪ௫ ߲ ଶ ߪ௬ ߲ ଶ ߬௫௬
ቆ ଶ + ቇ−ߥቆ ଶ + ቇ = 2(1 + ߥ) Eq.(14)
߲ݕ ߲ ݔଶ ߲ݔ ߲ ݕଶ ߲ݕ߲ݔ
É possível, ainda, rescrever a Eq.(14) numa forma mais simples, utilizando as equações diferenciais
de equilíbrio para eliminar a derivada segunda da tensão de cisalhamento. Lembrando, então, que nos
problemas de estado plano (EPT ou EPD) as equações diferenciais de equilíbrio têm a forma:
߲ߪ௫ ߲߬௬௫
+ ܾ௫ = 0 Eq.(15)
߲ݔ ߲ݕ
+
߲߬௫௬ ߲ߪ௬
+ ܾ௬ = 0 Eq.(16)
߲ݔ ߲ݕ
+
Então, derivando a Eq.(15) com relação a x, a Eq.(16) com relação a y, e somando as relações
obtidas, encontramos:
߲ ଶ ߬௫௬ ߲ ଶ ߪ௫ ߲ ଶ ߪ௬ ߲ܾ௫ ߲ܾ௬
Eq.(17)
߲ݕ߲ݔ ߲ ݔଶ ߲ ݕଶ ߲ݔ ߲ݕ
2 =− − − −
E, no caso em que as únicas forças distribuídas no volume são as forças gravitacionais, teremos
(admitindo que ܾ௫ = 0 e ܾ௬ = −ߤ݃), a seguinte forma final para a equação de compatibilidade de
deformações (expressa em função das tensões):
∇ଶ ൫ߪ௫ + ߪ௬ ൯ = 0 Eq.(19)
E, no caso em que as únicas forças distribuídas no volume são as forças gravitacionais, mostra-se
novamente que a forma final da equação de compatibilidade de deformações (expressa em função das
tensões) fica:
∇ଶ ൫ߪ௫ + ߪ௬ ൯ = 0 Eq.(21)
Desta forma, o uso das duas equações diferenciais de equilíbrio, na forma das Eqs.(15-16),
juntamente com a equação de compatibilidade de deformações, expressa em função das tensões, na
forma da Eq.(18) (ou Eq.(20), ou ainda Eq.(21)) permite a determinação das três componentes de
߲߬௫௬ ߲ߪ௬
Eq.(23)
߲ݔ ߲ݕ
+ =0
∇ଶ ൫ߪ௫ + ߪ௬ ൯ = 0 Eq.(24)
Introduzindo, porém, uma nova função, ߶(ݔ, )ݕ, ao problema de tal forma que as tensões planas
fiquem automaticamente determinadas por esta função através das relações:
߲ ଶ ߶(ݔ, )ݕ
ߪ௫ = Eq.(25)
߲ ݕଶ
߲ ଶ ߶(ݔ, )ݕ
ߪ௬ = Eq.(26)
߲ ݔଶ
߲ ଶ ߶(ݔ, )ݕ
߬௫௬ Eq.(27)
߲ݕ߲ݔ
=−
Pode-se verificar, por substituição direta, que as duas equações diferenciais de equilíbrio ficam
imediatamente satisfeitas, restando apenas satisfazer a equação de compatibilidade de deformações,
(Eq.(24)) que, com o uso das relações dadas por Eq.(25-26), assume a forma dada por:
∇ଶ ሺ∇ଶ ߶(ݔ, )ݕሻ = ∇ସ ߶ሺݔ, ݕሻ = 0 Eq.(28)
∇ଶ ሺߪ + ߪఏ ሻ = 0 Eq.(32)
Neste caso, as novas relações entre a função de tensão, ߶(ݎ, ߠ), e as componentes de tensão planas
ficam dadas por:
1 ߲߶(ݎ, ߠ) 1 ߲ ଶ ߶(ݎ, ߠ)
ߪ = Eq.(33)
ݎ߲ ݎ ݎ ߲ߠ ଶ
+ ଶ
߲ ଶ ߶(ݎ, ߠ)
ߪఏ = Eq.(34)
߲ ݎଶ
߲ 1 ߲߶(ݎ, ߠ)
߬ఏ = − ൬ ൰ Eq.(35)
߲ߠ߲ ݎ ݎ
A substituição das relações dadas pelas Eqs.(33-35) nas equações diferenciais de equilíbrio dadas
pelas Eqs.(30-31) mostra que ambas ficam automaticamente satisfeitas, enquanto a equação de
compatibilidade de deformações fica (de forma análoga ao encontrado em coordenadas cartesianas):
∇ଶ ሺ∇ଶ ߶(ݎ, ߠ)ሻ = ∇ସ ߶ሺݎ, ߠ ሻ = 0 Eq.(36)
9.6. Referências
[1] Timoshenko, S.P.; Goodier, J.N., Theory of Elasticity, 3rd ed., Mc-Graw-Hill, Inc., 1970, 567p.
[2] Love, A.E.H.; “A Treatise on the Mathematical Theory of Elasticity”, 4th ed., Cambridge University
Press, New York, 1927.
[3] Ramos Jr., R. “PME-2350 – Mecânica dos Sólidos II. Aula #8: Estado Plano de Tensão & Estado
Plano de Deformação”. Notas de aula da disciplina PME-2350. 7p.
[4] Sadd, M.H., Elasticity: theory, applications, and numerics, 2nd ed., Elsevier, Inc., 2009, 536p.