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UMA MINISTRA FORA DA REALIDADE

A futura ministra da mulher, Família e Direitos Humanos, Damares


Alves, fala a jornalistas após ser indicada por Jair Bolsonaro
- Sergio Lima - 6.dez.18/AFP

A cabeça da futura ministra Damares Alves (da Mulher? da


Família? dos Direitos Humanos?) pensa ao avesso: a solução
para menos aborto é educação sexual nas escolas! A legalização,
até o terceiro mês, evitaria milhares de mortes, como tem
ocorrido em outros países.

Quanto ao estupro, quem decide se tem condição de ter a criança


é a mulher estuprada, e não a pastora Damares. Bolsa estupro!
Ficou louca? É isso? Um dinheiro resolve o futuro e os
sentimentos?

A ministra indicada, pastora da Igreja Quadrangular, nos brinda


agora com mais essas sandices, tais como meninas devem ser
tratadas como "princesas", e meninos como "príncipes"...
Infelizmente, já ouvimos que gravidez é um "problema" que dura
só nove meses... e que "o aborto dura uma vida inteira da
mulher".
Outras pérolas: "...gostaria de estar em casa toda tarde, numa
rede, e meu marido ralando, muito, muito, para me sustentar e
me encher de joias e presentes. Esse seria o padrão ideal da
sociedade". Não dá para falar isso, hoje em dia, nem mesmo por
brincadeira, e foi dito por Damares logo no Dia Internacional da
Mulher deste ano.

Essa frase diz muito sobre a visão dela de mundo, de gênero, dos
sonhos, das aspirações e da percepção da mulher na organização
familiar e na posição em sociedade.

Duas coisas: gravidez é bênção e alegria para a maior parte das


mulheres. Quando uma mulher decide pelo aborto, qual seja o
motivo, é uma decisão difícil, mas, na maioria das vezes, não
provoca arrependimento. O sentimento maior é de alívio.

Constatei isso em inúmeros casos de consultório e de pessoas


amigas. Deixemos de hipocrisia. A prova está no gigantesco
número de mulheres que provocam o aborto arriscando suas
vidas. É o quarto índice de morte materna no Brasil.

Entretanto, o investimento na prevenção, que tem na escola seu


lugar com melhor resultado, Damares é contra.

São tantas as barbaridades e a falta de compreensão, de


informação, de quais sejam as principais reivindicações das
mulheres no século 21, que acabei ficando indignada com a
irresponsabilidade da indicação.

Se o presidente eleito fala sério, quando disse, no dia de sua


diplomação, que seria o presidente de todos, certamente, poderia
ter encontrado uma senhora evangélica que não produzisse
tantos vexames e reação tão adversa nos movimentos de
mulheres e nas que pensam e atuam nessa área há décadas.

Uma ministra ou um ministro tem de escutar, aprender, estudar


e estar conectado com a realidade do país. A pastora não está.
Quando muito, tem o apoio dos 118 grupos que subscreveram a
sua candidatura e que, provavelmente, são o núcleo duro do
pensamento dos eleitores de Bolsonaro.
A última aberração é transformar o aborto em crime hediondo.
Damares não acredita que o aborto clandestino seja um problema
de saúde pública. Desconhece que nos países onde o aborto foi
legalizado ocorreu uma diminuição de casos.

Ela veio para converter os índios e a nós também. Bonde errado.


O mundo e a maioria dos brasileiros não almejam aculturar
índios, e nossa Constituição preserva suas terras.

Quanto às suas ideias para mulheres, que fale com qualquer


menina de 15 anos e saberá, de imediato, que a maioria quer
estudar, trabalhar e ter independência financeira. Em algum
momento poderá casar e ter filhos. Mas não é essa a preocupação
maior nem delas nem das mulheres adultas.

A arrogância e certezas caracterizam suas falas: "...nenhum


homem vai ganhar mais que uma mulher, nesta nação,
desenvolvendo a mesma função"... "vou para a porta da
empresa"... "acabou isso no Brasil"... Palmas para ela.

Em 2016, disse à sua congregação "é a hora de a igreja dizer à


nação que chegamos ...é a hora de a igreja governar".

Deus nos proteja.

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