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Sanjay Subrahmanyam
A viagem do Gama foi alvo de hostilidades ao longo da costa oriental de África, mas foi
relativamente bem recebida em Calecut. As fontes enfatizam bem o objectivo de,
através da chegada à Índia, D. Manuel afirmar o seu poder perante os outros monarcas
europeus.
1502 – Vasco da Gama, na sua segunda viagem, instala a primeira feitoria na Índia, em
Cochim.
Os feitores respondiam directamente perante o rei e não perante o governador, pelo que
Albuquerque encontrou algumas resistências, tendo procurado que fossem instalados
apoiantes seus nas feitorias. Os seus opositores pretendiam que houvesse uma ocupação
mais escassa na Índia e que houvesse maior liberdade para as actividades de corso e
outros empreendimentos privados, ao passo que Albuquerque levava a cabo uma
política de maior controlo por parte do poder régio ali representado por ele. Os seus
opositores conseguiram fazer valer a sua vontade junto da Corte e D. Manuel nomeou
Lopo Soares de Albergaria, sobrinho do Barão de Alvito, como seu sucessor no cargo
de governador após a sua morte em 1515.
No Índico Oriental, a presença portuguesa era feita por um número muito mais reduzido
de feitorias (sobretudo Malaca e as Molucas). A principal presença portuguesa era a de
mercadores privados que agiam muitas vezes à revelia da Coroa para proveito próprio,
convertendo-se ao Islão e agindo em nome dos monarcas locais. Esta situação era
problemática para o poder central sediado em Goa.
Por volta de 1525 estavam então estabelecidos dois padrões diferentes de ocupação e
exploração. No Índico Ocidental, uma presença militar mais forte e contínua e maior
capacidade de acção por parte dos representantes do poder régio (governador, capitães e
feitores). No Índico Oriental, decorria uma maior actividade de privados devido à
existência dum controlo mais ténue por parte das autoridades oficiais, contexto que
permitia a ascensão dos elementos mais marginais da sociedade.
Há que ter em conta que os valores das vendas da Casa da Índia em Lisboa não
traduzem a totalidade do comércio português no Oriente. Visto que o Médio Oriente era
também ele um mercado para a venda das especiarias e muito dificilmente se podia
abastecer em Lisboa, os portugueses começaram a comerciar as especiarias também em
Ormuz a fim de melhor explorar o mercado do Levante. É preciso conjugar não só o que
chegava a Portugal, mas também o que era comerciado na Ásia e em África para se ter
uma noção da dimensão do comércio português.