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1 - o Verbo Da Vida PDF
1 - o Verbo Da Vida PDF
1 João 1:1-4
1 O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que
contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida
2 ( e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a
qual estava com o Pai e nos foi manifestada,
3 o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão
conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo.
4 Estas coisas, pois, vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa.
INTRODUÇÃO
I – UM PANORAMA DA EPÍSTOLA
1
LOPES, Augustus Nicodemus. Interpretando o Novo Testamento: Primeira Carta de João. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
2
Idem. p. 11.
Primeiro, expor os erros doutrinários dos falsos mestres que estavam disseminando
essas doutrinas, conforme ele mesmo afirma: "Isto que vos acabo de escrever é acerca
dos que vos procuram enganar’' (2.26). Segundo, confirmar os verdadeiros crentes na
doutrina dos apóstolos e na certeza de salvação: "Estas coisas, pois, vos escrevemos
para que a nossa alegria seja completa” (1.4). “Estas coisas vos escreví, a fim de saberdes
que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus” (5.13).
Nesse contexto é que o apóstolo escreve sua epístola visando fortalecer a igreja do
Senhor. Evidentemente, tal carta, apesar dos objetivos imediatos, tem muita serventia à
igreja do Senhor em toda parte e tempo, uma vez que os problemas, mesmo com formato
diferentes, ainda podem vir com a mesma essência: heresias que tentam negar o Soberano
Senhor Jesus Cristo!
É muito perigoso um falso ensino sobre a encarnação. Qualquer que seja a direção que
ele leve, conduzirá para distante da realidade salvífica da obra de Jesus Cristo. Vejamos
alguns sérios problemas.
3
Idem. p. 22-23.
4
LOPES, Hernandes Dias. 1, 2 e 3 João: como ter garantia da salvação. São Paulo: Hagnos, 2010. p. 44.
1- Negar a encarnação. Não aceitar a encarnação é dizer não à toda obra realizada por
Jesus Cristo. Ele mesmo se considera aquele que fora enviado por Deus, que entrou
no mundo para salvá-lo. Ele é o Emanuel, o Deus conosco! Negar a encarnação é
admitir, na melhor das hipóteses, um evangelho apenas social, terreno. É esvaziar o
sentido sobrenatural da ação, tirar a obra do Deus-homem de cena! Sem a encarnação,
não haveria nenhuma identificação real de Jesus Cristo com o homem. Não seria
possível o pagamento do pecado, a redenção, a obra substitutiva. O Senhor não levaria
sobre si “nossas dores”, o “castigo que nos traz a paz” não poderia estar sobre ele.
Quem pecou e transgrediu a lei de Deus foi um homem, logo somente um homem
poderia pagá-la. “Não foi alguém estranho à raça humana que morreu na cruz. Ele era
um dos nossos e, portanto, poderia realmente oferecer um sacrifício em nosso favor”5.
2- Desprezar a encarnação. O evangelho não é apenas falar do nascimento de Jesus, de
sua obra em vida, de seu sofrimento e sua morte. Somente essa mensagem está
distante do padrão de alcance da mensagem bíblica. É preciso considerar a
encarnação. O evangelho não é apenas a narrativa de um nascimento, é o fato da
encarnação de Deus, o nascimento do Deus-homem. A vinda de Deus à terra em forma
humana. A visita do Soberano a nossa terra. A entrada do Criador no espaço/tempo.
É fácil para muito aceitar o nascimento do belo bebê em datas como o natal, por
exemplo, contudo, isso não é a essência do evangelho! O evangelho clama para que se
aceite, além do nascimento, a encarnação do Deus-homem. Além da vida do menino
Jesus, a realidade do Deus-homem.
3- Negar a humanidade. Sem a encarnação de Cristo não teríamos a realidade do Deus-
homem, não teríamos a humanidade de Cristo. Isso poderia causar algumas
dificuldades. Concordando com Erickson, a humanidade de Cristo é essencial, pois
assim: a) Jesus pode realmente ter empatia para conosco e interceder por nós. Ele
experimentou tudo o que podemos sofrer. Quando sentimos fome, cansaço, solidão,
ele compreende plenamente, pois ele mesmo passou por tudo isso (Hb 4.15); b) Jesus
pode ser nosso exemplo. Ele não é algum superastro celestial, mas alguém que viveu
onde vivemos. Podemos, portanto, voltar-nos para ele como a um modelo da vida cristã.
Nele, vê-se que os padrões bíblicos de comportamento humano, que nos parecem tão
difíceis de atingir, estão dentro da possibilidade humana; c) a natureza humana é boa.
Quando tendemos para o ascetismo, considerando a natureza humana e, em especial,
a natureza física, algo inerentemente mau ou, pelo menos, inferior ao espiritual e
imaterial, o fato de Jesus ter assumido sobre si toda a nossa natureza humana é um
lembrete de que ser homem não é mau, é bom; d) Deus não é totalmente
transcendente. Ele não está tão distante da raça humana. Se pôde realmente viver
entre nós por um tempo como uma verdadeira pessoa humana, não é de surpreender
que possa atuar e de fato atue no âmbito humano também hoje6.
Se por um lado é errado negar a humanidade de Jesus Cristo, por outro lado é
igualmente ruim negar sua divindade. A heresia de Basílides ia nesse sentido. Ele afirmava
que Jesus não era divino, que “o Cristo” somente havia descido sobre ele após o batismo
para usá-lo em sua obra; quando da crucificação “o Cristo” se retirara, deixando Jesus
sozinho na cruz!
Nesse sentido, corrigindo as deturpações quanto à divindade de Jesus Cristo, João
trabalha a deidade do Senhor.
O primeiro versículo dispara: “O que era desde o princípio” (v. 1) em alusão à
eternidade de Jesus Cristo. O mesmo apóstolo escreveu em seu evangelho: “No princípio era
o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus”.
(João 1.1-2).
5
ERICKSON, Millard J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 297.
6
Idem.
O princípio está relacionado ao começo absoluto de todas as coisas, aquele mesmo
começo do evangelho de João. Assim, o autor está afirmando que antes mesmo da criação,
Jesus Cristo já existia. Ele é o eterno. O atributo da eternidade é divino. Ninguém é eterno a
não ser o próprio Deus. Não se pode dizer de mais nada nem ninguém que existia desde o
princípio! “O Filho Eterno era antes de sua manifestação histórica. Ele nunca passou a
existir, porque ele sempre existiu em comunhão perfeita com o Pai, na harmonia do amor da
trindade divina” (5.7; Jo 17.24)7.
Assim, claramente João já postula a divindade do Senhor Jesus Cristo. Tal
reconhecimento é extremamente importante para a igreja, na verdade, indispensável.
Quando João utiliza o termo “Verbo” também está apontando para a divindade. O
Verbo, ou Logos, já era uma expressão conhecida no mundo grego. “A filosofia grega daquela
época afirmava a existência do Logos, um princípio racional e impessoal que governava o
universo e o destino dos homens, e que interpenetrava todas as coisas”8. Contudo, João faz
uso diferenciado, com novo sentido. O Logos não era impessoal, mas o próprio Jesus Cristo!
Assim, ele está falando que Jesus Cristo é o princípio racional, pessoal que governa o
universo e o destino dos homens, descrição que cabe perfeitamente com Deus. Augustus
Nicodemus ainda arrisca a dizer:
É possível também que João se refira a Jesus como a palavra de Deus, pensando no
relato da criação em Gênesis, onde se diz que Deus criou todas as coisas meramente
com a sua palavra. Assim, este título aponta para a plena divindade de Cristo,
enfatizando em especial seu papel como agente de Deus, aquele que executa os planos
divinos (veja Jo 1.3) e traz vida e luz aos homens (Jo 1.4) 9.
Cristo como a palavra de Deus evidencia ainda mais outros atributos da divindade
como a onipotência. Ele esteve participando da criação, formando todas as coisas com seu
poder, o que, está em consonância com outras afirmações das Escrituras, como: “Tudo foi
criado por meio dele e para ele” (Colossenses 1.16).
João ainda diz que Jesus Cristo é a vida eterna. Novamente a eternidade sendo
mencionada. O Senhor Jesus além de ser a vida eterna, trouxe a vida eterna aos homens.
Vida eterna não apenas no sentido de infinidade, mas no sentido de uma vida em abundância
para sempre. Vida eterna traz o sentido ideal de toda aquela existência perfeita com Deus.
“Em Jesus e nele somente o homem pode vencer a morte e viver abundantemente tanto agora
como na eternidade. Em Jesus a própria vida de Deus jorra dentro de nós como uma fonte
que salta para a vida eterna. Em Jesus temos vida maiúscula, superlativa, abundante e
eterna”10. Somente Deus pode ser a vida eterna e trazer a vida eterna!
Em outro momento o apóstolo irá reafirmar, com outros argumentos, que Jesus Cristo
é inquestionavelmente Deus! Ele é o Deus-Filho.
APLICAÇÃO
Tão pernicioso quanto negar a humanidade de Cristo é negar sua divindade. Não
reconhecer que Cristo é o próprio Deus igualmente impossibilita a aplicação de sua obra na
vida do homem. Infelizmente, ainda temos muito pseudocristianismo insistindo nessa torpe
heresia, negando a divindade do Senhor Jesus Cristo. A igreja deve manter-se sempre alerta
e renegar tais ensinos. De fato, nosso brado deve expressar: Jesus Cristo é Deus!
Vejamos algumas implicações de se considerar a divindade de Cristo, de acordo com
Erickson.
1) Podemos ter conhecimento real de Deus. Jesus disse: “Quem me vê a mim vê o Pai”
(Jo 14.9). Enquanto os profetas vinham trazendo uma mensagem de Deus, Jesus
era Deus. Se quisermos saber como é o amor de Deus, a santidade de Deus, o poder
de Deus, só precisamos olhar para Cristo.
7
LOPES, Hernandes Dias. 1, 2 e 3 João: como ter garantia da salvação. São Paulo: Hagnos, 2010. p. 38.
8
LOPES, Augustus Nicodemus. Interpretando o Novo Testamento: Primeira Carta de João. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
8
Idem. p. 29.
9
Idem.
10
LOPES, Hernandes Dias. 1, 2 e 3 João: como ter garantia da salvação. São Paulo: Hagnos, 2010. p. 41.
2) A redenção está à nossa disposição. A morte de Cristo é suficiente para todos os
pecadores de todos os tempos, pois quem morreu não foi um mero homem finito,
mas um Deus infinito. Ele, a Vida, o Doador e o Mantenedor da vida, que não
precisava morrer, morreu.
3) Deus e a humanidade foram religados. Não foi um anjo ou um homem que veio da
parte de Deus para nós, mas o próprio Deus cruzou o abismo criado pelo pecado.
4) É correto adorar a Cristo. Ele não é apenas o mais elevado das criaturas, mas é
Deus no mesmo sentido e no mesmo grau que o Pai. Ele merece, tanto quanto o
Pai, nosso louvor, nossa adoração e nossa obediência11.
APLICAÇÃO
A comunhão na igreja e entre as igrejas é um tema precioso, porém difícil. Muitas vezes
tomamos iniciativas num caminho equivocado em busca de promover a comunhão.
A doutrina apostólica é a base para verdadeira comunhão. Boa parte dos esforços
modernos para a unidade entre os cristãos tem ignorado esse princípio fundamental e
tentado promover uma “unidade” que se baseia primariamente em trabalhos conjuntos
11
ERICKSON, Millard J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 284.
12
LOPES, Hernandes Dias. 1, 2 e 3 João: como ter garantia da salvação. São Paulo: Hagnos, 2010. p. 51.
de evangelização, obras de caridade, show gospel, marchas para Jesus ou luta em defesa
dos direitos humanos13.
Nossa comunhão não deve prescindir de fundamento doutrinário. De fato, o que faz os
irmãos imediatamente terem um tesouro em comum é o Senhor Jesus Cristo. Temos o
mesmo Senhor, a mesma fé, um só batismo, uma Palavra, um só Deus. A comunhão,
portanto, é estabelecida principalmente quando temos esses elementos espirituais em
comum.
V – A ALEGRIA COMPLETA
João escreve tais coisas, ainda, para que a sua alegria, e dos apóstolos, fosse
“completa”. Não que ele (ou eles) não se alegrassem com a obra, ou com as igrejas. Contudo,
somente com a certeza de que elas ouviriam a mensagem, expurgariam o erro e seguiriam a
sã doutrina, em comunhão com os apóstolos, em concordância doutrinária; somente assim,
e com tais demonstrações, os apóstolos poderiam dizer que sua alegria estaria completa.
APLICAÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
João tem muito mais a falar para a igreja, essa parte poderia ser considerada apenas
o “prefácio” da obra. Mas, sem titubeios o apóstolo começa a orientar, com firmeza e
segurança, as igrejas.
João fala sobre o Verbo da vida, a encarnação de Jesus Cristo. Indiretamente reafirma
a divindade do Senhor. Mostra a credibilidade da mensagem, uma vez que ele, e outros
apóstolos (“nós” explícito desde o primeiro versículo), foram testemunhas oculares dos fatos.
Por fim, conclui que a unidade no conhecimento doutrinário de Cristo traria comunhão à
igreja e alegria completa a ele.
13
LOPES, Augustus Nicodemus. Interpretando o Novo Testamento: Primeira Carta de João. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. p. 31.