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Resumo
Abstract
To turn Physics into a more popular subject has been a one of the goals of
the Brasilian National Science and Technology Week (Semana Nacional de Ciência
e Tecnologia, SNCT). This work examines the impact that the SNCT has had, in
2007, on the interest and motivation of secondary students who have planned and
constructed exhibits to be presented during the event. It also discusses whether
students’ participation has promoted physics’ popularization in their school as a
whole. Individual interviews and focus group interviews have show n that these
students were encouraged to study physics. Data analisis has shown that they end
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up motivated to learn physics. The reasons that have lead to it were the need to: (a)
reply the questions asked by the public during the exhibitions; (b) organize the
exhibits to ilustrate physical phenomena; (c) provide proper explanations about the
exhibits to their peers. Other reasons to enhance students’ motivating to study
physics were: (a) the intense and constant support of their supervising teachers; and
(e) the increase in students’ self-esteem with regard to their ability to explain physics’
concepts and phenomena. This way it has strengthened students’ interest in making
deeper studies of physics. The SNCT did not have the same impact on other
students of the school who did not participate during the week.
Introdução
Popularizar a ciência tem sido uma das metas da política brasileira para
promover a inclusão social. A expectativa é de que a aquisição de conhecimentos
básicos sobre ciência e tecnologia, através de atividades educacionais não-formais,
aumente a capacidade das pessoas entenderem seu entorno. Outra meta a ser
alcançada através de atividades de popularização da ciência (PC) é a de fomentar o
interesse pelo conhecimento científico e tecnológico, principalmente entre os jovens,
levando-os a seguir carreiras científicas (MOREIRA, 2006, p. 11). Atualmente, a PC tem
sido interpretada como um instrumento para tornar disponíveis conhecimentos e
tecnologias que ajudem a melhorar a vida das pessoas, dando suporte a
desenvolvimentos econômicos e sociais sustentáveis (KEMPER; ZIMMERMANN;
GASTAL, 2007).
Ações de PC podem apoiar as atividades escolares, no entanto, não podem ser
entendidas apenas pelo seu caráter complementar ao ensino formal. Defendemos que
elas devem desempenhar o papel de conexão ativa entre a ciência e a sociedade, para
ampliar a possibilidade de entendimento que as pessoas têm dos resultados e dos
processos de trabalho da ciência. A PC pode contribuir para que o conhecimento
científico e tecnológico, que é parte da cultura, seja reconhecido como tal e como
componente da ciência social, em efetiva integração cultural, lingüística, social e
econômica. Para que isso ocorra, é fundamental ampliar os cenários da ciência e da
tecnologia, promover a integração entre educação formal e não-formal e aproximar o
conhecimento científico e tecnológico dos cidadãos (MERINO, 2003). Além disso, a
escola não tem como levar, rapidamente, tanto conhecimento para os cidadãos. Como
escreve Gaspar (1993):
Mesmo que a escola fosse, por hipótese, uma instituição eficiente, fiel a
seus objetivos, livre das críticas e queixas que atualmente se voltam contra
ela até nos países desenvolvidos, ser-lhe-ia impossível abarcar todo esse
conhecimento. Não há tempo, não há espaço em seus limitados currículos e
programas e, mais ainda, não há como acompanhar o vertiginoso progresso
científico e tecnológico dos nossos dias (p. 32).
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O que no Brasil denomina-se de educação não-formal, em outros países é denominado de educação informal.
Mesmo no Brasil há discordâncias sobre a melhor maneira de denominar processos educativos que acontecem
fora da escola.
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Segundo Moreira (2007), a SNCT é uma iniciativa para que agentes da esfera
pública compartilhem conhecimentos científicos com o público visitante e as escolas
possam ter acesso a essa informação. Desde que foi instituída, em junho de 2004,
centenas de atividades, promovidas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, já
aconteceram em diversas cidades brasileiras. Essas atividades buscam aproximar
crianças e jovens estudantes da Educação Básica das instituições de pesquisa com o
objetivo de estimular o interesse e aumentar o conhecimento da população sobre idéias
científicas e artefatos tecnológicos. Participam dessas atividades universidades,
institutos de pesquisa, centros e museus de ciência e tecnologia, parques e jardins
botânicos, fundações de amparo à pesquisa, entidades científicas e tecnológicas,
órgãos governamentais, empresas públicas e privadas, entidades da sociedade civil
escolas públicas e privadas etc. As atividades são variadas e incluem experimentos,
filmes, exposições, palestras, oficinas, jogos, teatro e música com o objetivo de explorar
a curiosidade, estimulando o interesse pela ciência e a tecnologia. A cada ano cresce o
número de municípios que promovem o evento, o de instituições que dele participam e
de visitantes. O quadro a seguir fornece uma idéia do crescimento desse evento.
Quadro 1 - Participações na SNCT (Fonte: MCT, 2008)
Ano 2004 2005 2006 2007
Instituições participantes 257 844 1.014 1.400
Municípios participantes 252 332 400 400
Atividades realizadas 1.848 6.701 8.654 10.000
No caso particular de Brasília, a exposição montada, em 2007, no espaço ao
largo do Museu Nacional, na Esplanada dos Ministérios, ocupou quatro mil metros
quadrados com mais de 70 estandes e reuniu cerca de cinco a seis mil pessoas por dia
(MCT, 2008).
que o público adulto tem sobre temas científicos atuais e relevantes não advém das
experiências escolares e sim da ação da divulgação científica, da mídia eletrônica de
qualidade e da atuação dos museus de ciência, que trazem para as suas exposições
tanto os conhecimentos científico/tecnológicos clássicos, quanto temáticas atuais
e/ou polêmicas.
De acordo com Marandino et al. (2006), “os museus são considerados fontes
importantes de aprendizagem e contribuição para a aquisição, ampliação e
refinamentos da cultura da sociedade” (p. 161). Museus de ciência e instituições que
promovem práticas educativas, mesmo não tendo como fim único promover o
letramento científico, contribuem para ampliar o conhecimento das pessoas sobre a
ciência e a tecnologia. As atividades de educação não-formal realizadas por essas
instituições, geralmente na forma de eventos como exposições públicas, são maneiras
de atualizar o conhecimento científico da população em geral e popularizar a ciência.
A orientação curricular para a Educação Básica, por sua vez, é que “o aluno
compreenda as ciências e as tecnologias como um conjunto de conhecimentos
produzidos coletivamente pela humanidade” (BRASIL, 2006, p. 36). Esses
conhecimentos geram as técnicas e os procedimentos do trabalho produtivo, colocando
como exigência do processo educativo estimular o aluno a buscar o conhecimento por
iniciativa própria, mesmo fora da escola. A idéia é “expor o aluno à multiplicidade de
enfoques, informações e conhecimentos” (idem, p. 37), tornando-o capaz de perceber
as múltiplas interfaces de cada disciplina e de relacionar fenômenos, conceitos e
processos.
As investigações em relação à eficácia da aprendizagem escolar de visitantes
acentuaram -se nas últimas três décadas do século XX. Contudo, estudos mais recentes
têm mostrado que é necessário levar em conta vários parâmetros para “verificar a razão
do efeito positivo, mas às vezes indiferente, das visitas escolares” (MARANDINO, 2006,
p. 96). De acordo com Borun et al. (1983)2, o ganho cognitivo de uma visita a uma
exposição museológica é o mesmo de uma palestra, mas o aprendizado nesse espaço
está associado ao prazer e ao estímulo em aprender e não tanto na aquisição de
conceitos.
Quando se pensa no papel educativo que as exposições científicas podem
assumir é importante examinar como a aprendizagem pode acontecer nelas. Levando
em conta a experiência de exposições em museus, Cazelli, Marandino e Studart (2003,
p. 95) ressaltam que o processo de aprendizagem nesses espaços é freqüentemente
centrado nas exposições e o diálogo entre elas e o público resulta em diferentes estilos
e formas de interpretação. Contudo, de acordo com as autoras, as pesquisas têm
mostrado que os visitantes têm expectativas diferentes em relação à aprendizagem.
Alguns preferem uma experiência de aprendizagem informal, descrita na literatura como
“livre-aprendizagem”, enquanto outros preferem uma experiência educacional mais
direcionada sob a chancela de monitores, curadores ou professores.
De qualquer forma, a parceria museu-escola é importante para que o processo
de socialização do conhecimento aconteça de modo mais efetivo, pois “ações em
parceria possibilitam aos alunos experiências de aprendizagem diferentes daquelas
tradicionalmente privilegiadas em sala de aula” (KÖPTCKE, 2003, p. 112). A parceria
com a escola implica a abertura para um atendimento especialmente voltado para o
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BORUN, M. et al. Planets and Pulleys: studies of class visits to science museums . Phyladelphia: Franklin
Institute, 1983. Mencionado em Martins (2006).
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Estudo de caso: “estratégia de pesquisa” que “investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto
da vida real”(YIN, 2005, p. 32 e 33).
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Entrevista: técnica para obtenção de dados em profundidade acerca do comportamento humano e que oferece
flexibilidade para o entrevistador esclarecer o significado das perguntas e adaptá-las às pessoas e circunstâncias
(GIL, 1999, p. 118).
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Grupos Focais: conjunto de pessoas reunidas por pesquisadores para comentar a partir da sua experiência
pessoal um tema que é objeto de pesquisa (GATTI, 2005, p. 7)
6
Um desses alunos é atualmente ex- aluno.
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Os dados entre parênteses identificam a série do EM em que o aluno se encontra (1ª., 2ª. ou 3ª.), o sexo (M ou
F), o turno (M, de matutino e V, de vespertino) e a idade (de 14 a 17 anos).
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O que vem acontecendo no Brasil é que essa parte lúdica científica não
vem sendo trabalhada. As universidades condicionam ao conteudismo,
querendo ou não. A gente acaba deixando um pouco de lado [essa Física
lúdica] porque a gente tem um programa a cumprir, a gente é condicionado
a trabalhar em cima da UnB, a gente precisa de números (prof. de Física).
Para outros alunos, a participação no evento mostrou que a Física não é
apenas um campo de teorias interessantes, por vezes difíceis de aprender. Ela é
também um conhecimento aplicável no cotidiano.
Muitas vezes o aluno, ele tem uma visão assim... Ah, porque eu tô
aprendendo isso? Todas essas teorias... Por exemplo, os astronautas, não
só os astronautas... Astronauta porque é uma coisa que chama muita
atenção do pessoal, mas todos eles têm que ter o conhecimento da Física,
da Química. Então foi bom pra gente poder ter contato com essas ciências
aplicadas na vida real. Naquela feira8 você passa a ter uma noção da
importância daquelas ciências (1M/V14).
A proposta dos professores era apresentar uma Física para leigos, construindo
experimentos de caráter lúdico, confeccionados com material fácil de conseguir.
Conforme depoimento de um dos professores entrevistados, o sucesso obtido pelos
alunos em atrair o público residiu em terem apresentado uma Física lúdica e simples:
Um fato que chamou atenção foi que a UnB, mesmo com toda
Experimentoteca 9, ela não conseguiu chamar a ciência popular da forma
que a gente conseguiu. Ela estava voltada mais para a pessoa que já detém
certo conhecimento científico, não para os leigos. E a gente montou uma
ciência para os leigos, porque os recursos utilizados todo mundo conhecia.
O pessoal ficava intrigado. “Mas são só dois espelhos mesmo?” (professor
de Física).
(a) Perguntas - Os depoimentos dos alunos mostram que as perguntas feitas pelo
público os estimularam a aprender mais a Física envolvida nos experimentos da
exposição. Segundo eles, as perguntas os fizeram pensar a respeito de explicações
físicas que antes não haviam chamado sua atenção e pesquisar para reunir
conhecimento sobre o assunto para poder explicá-lo. De acordo com os alunos, as
perguntas do público eram “básicas”: Como é feito? Por que isso acontece?
O público visitante perguntava muito sobre o funcionamento dos
experimentos e isso fez com que a gente pensasse ainda mais (3F/M17).
Acho que aprendi mais lá com as perguntas das pessoa s. Dificuldades eu
tive e com essas dificuldades eu procurei pesquisar depois e aprofundar o
conhecimento (1F/M14).
(b) Experimentos – Para a apresentação, os alunos escolheram alguns experimentos
relacionados aos conteúdos que estavam estudando naquele período do ano letivo . Por
outro lado, montar, fazer funcionar e explicar experimentos levou-os a uma maior
compreensão d o conhecimento teórico desenvolvido durante as aulas.
A gente escolheu porque a gente, na época, tava trabalhando esse
conteúdo na escola, só que o experimento complementou e fez com que
entendesse melhor a matéria (3F/M17).
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É interessante observar que vários dos alunos entrevistados referiam-se à SNCT como uma feira, em que os
estandes são visitados para conhecer o que eles oferecem como “produto para distribuição pública”.
9
Experimentoteca – Laboratório com experimentos de Física do Instituto de Física da Universidade de Brasília
aberto à visitação de alunos da Educação Básica e população em geral.
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A gente soube lidar com cada pessoa que ia lá. Acho que isso foi um ponto
que fez com que o nosso estande teve (sic) esse sucesso. Demonstrou que
não só eles [UnB, Agência Espacial Ministério da Cultura] têm condições de
ir lá e demonstrar o que eles sabem e interagir, mas a gente também,
mesmo a gente não tendo um intelecto tão assim como eles, mas a gente
teve condições de ir lá, se esforçar, mostrar que a gente sabe. Pode ser
pouco, mas é essencial aquele pouco pra gente (2M/M15).
Repercussão na escola
O maior impacto da partic ipação da escola na SNCT foi, sem dúvida, sobre os
alunos expositores e os professores orientadores. No entanto, os depoimentos dos
professores mostram que também houve impacto sobre os demais docentes e alunos.
Alunos que não participaram, já estão querendo participar,
professores que não ficaram tão engajados no processo, este ano já estão
querendo se engajar mais. E a relação em sala de aula acaba mudando um
pouco. Eles encaram a ciência de outra forma, encaram os professores de
outra forma. Na verdade, não só o relacionamento [muda], mas o interesse
dos meninos por ciência e pelo trabalho extra-escola (Prof. de Física).
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Considerações Finais
Referências