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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6

Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE


NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
MOODLE NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA:
uma plataforma para extensão de uma escola nas nuvens

Érica Joana Pereira de Lacerda1


Leonardo Neves Correa2

RESUMO

Este projeto teve como escopo o desenvolvimento de um plano de estudos do conteúdo de língua
inglesa baseado na pedagogia do Multiletramento. Foi desenvolvido com alunos do segundo ano do
Ensino Médio do Colégio Estadual Olavo Bilac, do município de Ibiporã, PR, com a criação de um
espaço virtual de aprendizagem que estendia o conteúdo desenvolvido em sala de aula ao mundo
virtual hospedado na plataforma Moodle. A ação foi amparado pela teoria pedagógica do
Multiletramento, para incentivar o aluno a desenvolver prática autônoma de aprendizagem. As
chamadas gerações Y e Z, que se referem aos nascidos a partir do final da década de 1980,
caracterizam-se pela forma dinâmica com que se comunicam e interagem com o mundo. Nascidas
em um tempo dominado por diversas tecnologias, essas gerações apresentam um alto grau de
afinidade com as chamadas TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) e são capazes de
desenvolver diversas atividades de uma única vez. Neste sentido, abordagens de ensino mais
tradicionais deixam de ser compatíveis com o sistema multimodal com que essas gerações se
comunicam e, por consequência, aprendem. Com a utilização de atividades interativas desenvolvidas
no Moodle, foi possível potencializar o processo de ensino-aprendizado dada a possibilidade de
extensão das aulas de língua inglesa para o espaço virtual.

Palavras-chave: Multiletramento. Moodle. Língua Inglesa. Ensino-aprendizagem.

1 INTRODUÇÃO

No contexto atual, as mudanças decorrentes da globalização interferem


diretamente na vida, nas escolhas, na maneira de ler e relacionar-se com o mundo.
É imprescindível que as pessoas dominem as informações e conhecimentos
gerados pela humanidade de maneira mais efetiva para que possam interagir,
preparar-se e atuar frente às rápidas e grandes mudanças sociais que vivenciamos.
A escola precisa estreitar os laços com o contemporâneo, por isso é tão importante
que o professor explore as possibilidades de inserção das TICs (Tecnologias da
Informação e Comunicação) em sala de aula. No caso de Língua Inglesa (LI) nos
últimos anos as possibilidades oferecidas por tais tecnologias potencializaram
extremamente as possibilidades de ensino-aprendizagem. Paiva (2008, p. 3) afirma

1
Graduada em Letras, pós-graduada em Gestão Escolar e Língua e Literatura Portuguesas;
professora de Língua Estrangeira Moderna-Inglês, na rede de ensino do Paraná.
2
Professor Orientador, Mestre em Estudos da Linguagem, pela Universidade Estadual de Londrina,
instituição onde atua como professor colaborador no Departamento de Letras Estrangeiras Modernas.
que a grande revolução no uso da Internet foi o aparecimento da Web que permitiu
que professores e alunos de línguas estrangeiras passassem a ter acesso à
produção cultural de outros países e a falantes dos diversos idiomas. Uma língua é a
expressão direta da cultura de um povo. Antes do atual intercâmbio cultural, as
socializações do conhecimento faziam parte de um processo lento, limitado pelas
distâncias geográficas e pelas fronteiras. J. M. Esteve (ESTEVE, 2004, p. 183)
retrata a contemporaneidade como a sociedade do conhecimento, fenômeno que
ocorre decorrente da democratização do conhecimento pela Internet.

Pensando em novos desdobramentos da aprendizagem eletrônica, tanto


pela possibilidade de acesso direto à informação via Internet como pela
apresentação informatizada dos conteúdos científicos, creio firmemente
que, nos próximos anos, as implicações das novas Tecnologias da
Informação e Comunicação (ICT) completarão as profundas mudanças da
terceira Revolução Educacional, concluindo o processo já iniciado de dar
prioridade à aprendizagem sobre o ensino, e trazendo novas soluções para
os problemas da diversificação curricular.

A globalização proporcionou então que vislumbrássemos a promessa de uma


educação universal, se aceitarmos que o mundo é inevitavelmente desigual, a
educação é uma das chaves para argumentarmos que esta desigualdade não é
justa, através da educação todos tem oportunidade de acesso às pesquisas, há a
partir dela um plano simbólico de pertencimento em forma de cidadania. A educação
é a melhor parte do argumento que, embora desigual, todos têm a mesma chance
(COPE; KALANTIZS, 2012, p.122).
O aluno contemporâneo a este contexto é mais receptivo e interage
naturalmente com a linguagem tecnológica/digital. As tecnologias, a internet, a
linguagem contemporânea e a Língua Inglesa estão intimamente ligadas; elas
coexistem em uma relação de dependência e colaboração coesas. Portanto, parece
impossível para o professor que precisa ensinar de maneira multidisciplinar não
trabalhar as tecnologias e não trabalhar com suporte das tecnologias, assim como
parece insólito para o professor de tecnologia não trabalhar com a língua que serviu
de suporte e base para toda a criação da mesma, bem como com um aluno que
transita tão naturalmente entre a Língua Inglesa e a tecnologia.

[A geração Y] abrange os nascidos nos anos 80 e 90. Os mais velhos estão


chegando aos 25; os mais jovens acabam de sair da adolescência. Trata-se
de uma geração de filhos desejados e protegidos por uma sociedade
preocupada com sua segurança. As crianças Y são alegres, seguras de si e
cheias de energia. É a geração dos Power Rangers e da internet, da
variedade, das tecnologias que mudam contínua e vertiginosamente.
(LOMBARDÍA, 2008, p. 6)
As gerações Y e Z interagem com o mundo contemporâneo de maneira
extremamente ágil e multimodal, ouvem uma música enquanto estudam, veem
televisão enquanto conversam, respondem às mensagens de celular e redes sociais
simultaneamente.

Geração X- pessoas que nasceram entre 1960 e 1979. No Brasil são a


Geração que pintou a cara para derrubar o presidente Color. Testemunhou
a disseminação da AIDS e viu o desenvolvimento da tecnologia, pagou com
cruzeiros, cruzado e cruzado novo. Esta geração é ligada a títulos,
posições, mérito e esforço, e é preocupada com estabilidade. Eles também
permanecem resistentes à tecnologia, não procuram inovação no trabalho,
mas são mais dedicados ao trabalho.
Geração Y - Eles são nascidos entre 1980 e 1995. A internet abriu a porta
para a geração Y. De acordo com SECOND, a pessoa da geração Y é um
profissional mais inclinado ao prazer, impacientes ―alpinista‖ nas carreiras. A
geração Y não se diverte em um trabalho fechado e não dá muita atenção à
hierarquia, nunca está satisfeita, porque sua visão de tempo não para, as
coisas estão constantemente envolvidas e a vida deveria ser como isto.
Geração Z – eles nasceram depois de 1996 e são a geração mais recente,
também definidos como nativos digitais, essas pessoas nasceram em um
mundo preenchido pela tecnologia e por causa dela têm hábitos e atitudes
distintas das gerações anteriores. (LISBOA; COUTINHO, 2012, p. 2-3)

Por esta razão, o uso da plataforma Moodle como recurso de suporte para o
ensino de Língua Inglesa veio ao encontro da necessidade de atualização e
modernização metodológica do ambiente escolar, ao passo que a plataforma
oferece formas multimodais de interação, como fóruns, wikis, questionários, etc.
O Moodle, criado pelo australiano Martin Dougiamas em 1998, é o um
Sistema Open Source de Gerenciamento de Cursos — Course Management System
(CMS), também conhecido como Learning Management System (LMS) ou um
Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). A plataforma, gratuita para fins
educativos, tornou-se muito popular entre os educadores como uma ferramenta
dinâmica para o ensino virtual. O Moodle possui características que lhe permitem a
usabilidade de um grande número de cursos, professores e de alunos
simultaneamente, de qualquer equipamento e lugar com acesso à internet (o Moodle
fica hospedado em um servidor on-line), para construir comunidades amplamente
colaborativas de aprendizagem (como fóruns, wikis e bancos de dados) em torno de
seu tema (na tradição construcionista social). Segundo Dougiamas (1999), o
professor também exerce outras atividades durante um curso no Moodle, por
exemplo, monitorar alunos, estimular e engajar-se em discussões, dar suporte e
reformular o conteúdo do curso, a partir da resposta dos alunos.
Dougiamas (1999) explica que muitos usuários utilizam os módulos de
atividade, enquanto outros preferem utilizar o Moodle como um meio de fornecer
conteúdo aos alunos, potencializar e avaliar a aprendizagem, utilizando tarefas,
testes, diários, fóruns etc.

A plataforma Moodle foi desenvolvida com base em quatro conceitos


pedagógicos: (1) o construtivismo, segundo o qual as pessoas constroem,
ativamente, novos conhecimentos ao interagirem com o meio; (2) o
construcionismo, que defende que a aprendizagem é, particularmente,
efetiva quando algo é construído para os outros utilizarem; (3) o
construtivismo social, conceito que engloba a ideia de colaboração dentro
de um grupo social, construindo e compartilhando significados; e (4) o
comportamento conectado e separado, conceitos que estão relacionados à
participação dos indivíduos em discussões. Quando alguém é objetivo e
defende suas ideias, assume um comportamento separado. Já quando a
abordagem de alguém é subjetiva, tentando compreender o ponto de vista
do outro, o comportamento é caracterizado como conectado. (FRANCO,
2009, p. 96)

Por meio de curso no Moodle, propõe-se estender às nuvens os conteúdos de


LI. Esclarece-se que o termo Cloud Computing (Computação em Nuvem) surgiu em
2006, em uma palestra de Eric Schmidt, do Google. Segundo Cezar Taurion (2009),
o Cloud Computing apresenta-se como o cerne de um movimento de profundas
transformações do mundo da tecnologia. Atenta o autor, assim como Esteve (2004),
para o fato de estarmos vivenciando uma revolução baseada no conhecimento com
a Computação em Nuvem. A Internet passa a ser o repositório de arquivos digitais, à
medida que as pessoas podem criar seus documentos, fotos e arquivos sem
precisar instalar qualquer software em sua máquina. Dessa forma, vídeos e
atividades estarão disponibilizados nestas ―nuvens‖, para que o aluno da Geração Y,
pertencente ―à sociedade do conhecimento‖, tenha uma maior autonomia através do
acesso de qualquer lugar e a qualquer hora. A partir dessa autonomia, estes alunos
poderão compartilhar, rever, desenvolver conceitos e construir o próprio
aprendizado, para atender às necessidades imediatas de multicomunicação e
domínio da Língua Global (LI) que este aluno possui. Este estudo pretende contribuir
no que diz respeito à atualização do fazer didático no contexto da escola pública.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A extrema integração dos alunos com a tecnologia tornou-se um problema


para professores, diretores e pais. É indissociável a imagem dos alunos das
gerações Y e Z dos aparelhos eletrônicos. No entanto, a postura das escolas diante
de tal conjectura é paradoxal: algumas proíbem veementemente, outras começaram
a explorar as potencialidades de tantos equipamentos e ferramentas a favor do
ensino-aprendizado.
Este aluno da geração Y, Z apresenta diferentes formas de aprender. Por esta
razão, é preciso uma maneira multifacetada para que o mesmo se sinta mais atraído
e motivado à aprendizagem. Portanto, a utilização da plataforma virtual Moodle
como ferramenta de suporte ao aprendizado proporcionará um multiletramento no
contexto de uma aprendizagem mais dinâmica e construtivista, tornando as aulas
mais atrativas e o aprendizado mais efetivo. Além disso, pode potencializar o ensino-
aprendizado de Língua Inglesa no mundo tecnológico em que o aluno está inserido.
Em decorrência do enorme crescimento da tecnologia, o homem moderno
vive uma grande mudança cultural, econômica, social que transformou o mundo.
(RYAN, 2010). Os países que possuem intenção de se modernizar investem na
quebra de barreiras de comunicação e tecnologia. É o caso dos Emirados Árabes
que, há aproximadamente 30 anos, tomou a decisão de quebrar as fronteiras
econômicas e tecnológicas e investiu no ensino da LI e na apropriação da
tecnologia. (RYAN,2010). A resistência ou a não acessibilidade da escola na
apropriação e no uso da tecnologia coloca a educação na contramão do ponto de
vista evolutivo. Este processo trará transformações nem sempre previsíveis. Ainda
hoje observamos muitos alunos compartilhando o que é produzido cultural e
comercialmente por países que falam ou não o inglês, mas sem fundamentalmente
entenderem a ―letra da música‖.
A difusão das plataformas de ensino é uma ferramenta extra para que
escolas, alunos e professores possam acelerar, dinamizar, potencializar o ensino e
aproximar a escola pública da cidadania global. Por outro lado, há iniciativas
fantásticas no Brasil que tratam do letramento digital. Por isso, é importante que
estas sejam amplamente divulgadas entre os professores, para que façam parte da
rotina escolar da escola pública.

Hoje começamos a ter acesso a programas que facilitam a criação de


ambientes virtuais, que colocam alunos e professores juntos na Internet.
Programas como o Eureka da PUC de Curitiba, o Learning Space da Lotus-
IBM, o WEBCT, o Aulanet da PUC do Rio de Janeiro, o FirstClass, o
Blackboard e outros semelhantes permitem que o Professor disponibilize o
seu curso, oriente as atividades dos alunos, e que estes criem suas
páginas, participem de pesquisa em grupos, discutam assuntos em fóruns
ou chats. O curso pode ser construído aos poucos, as interações ficam
registradas, as entradas e saídas dos alunos monitoradas. O papel do
professor se amplia significativamente. Do informador, que dita conteúdo, se
transforma em orientador de aprendizagem, em gerenciador de pesquisa e
comunicação, dentro e fora da sala de aula, de um processo que caminha
para ser semi-presencial, aproveitando o melhor do que podemos fazer na
sala de aula e no ambiente virtual. (MORAN, 2009, p. 4)

O letramento digital e linguístico é fundamental para que o Brasil e brasileiros


não fiquem à margem do desenvolvimento global. É preciso capacitar professores,
desde as séries iniciais da educação, tanto no letramento digital quanto no
letramento do World English, para que o país se torne mais competitivo, tenha um
desenvolvimento tecnológico, social e participe efetivamente da cidadania global.
A LI passa a representar não apenas países onde é língua materna, mas
também as demais nações do mundo. Pode-se falar em ―desapropriação‖ da língua,
passando esta a ser uma língua com origem, mas sem pátria. Há várias sugestões,
ou previsões, para que a mesma seja rebatizada como Globlish (globe + English) ou
World English. É importante que haja uma discussão acerca da importância e da
abordagem do ensino da LI no contexto atual, visto que o não letramento virtual,
tecnológico, e o não letramento na Língua Inglesa são as maiores formas de excluir-
se uma pessoa de sua cidadania global (BRASIL, 2006). Segundo os PCN (BRASIL,
1997), a escola é responsável pela formação do cidadão, assim como sua
integração à sociedade. Assim, seria fundamental que tais constatações fossem
rediscutidas e transformadas em metas a curto prazo, de acordo com os
documentos oficiais no Brasil.

2.1 A pedagogia do Multiletramento

A pedagogia do Multiletramento salienta que linguagem precisa fazer


significado, pois está radicalmente mudando em três esferas, na vida para o
trabalho, na vida pública (cidadania) e na vida pessoal (COPE; KALANTIZS, 2012, p.
10). A pedagogia do Multiletramento procura responder a algumas questões
modernas entre elas: ―Como diminuir as diferenças de cultura, linguagem, gênero
para superarmos as barreiras para uma educação de sucesso?‖ (COPE;
KALANTIZS, 2012, p. 10). A sala de aula, nos dias atuais, ampliou suas fronteiras,
não há como se manter num espaço físico limitado ignorando as mudanças
externas. O intercambio cultural, a proximidade da globalização, a quebra de
barreiras linguísticas são fatores que não devem ser desprezados. Para isso a
inserção das TICs precisam também fazer parte da rotina do contexto educacional.

First, we want to extend the idea scope of literacy pedagogy to account for
the context of our culturally and linguistically diverse and increasingly
globalized societies; to account for the multifarious cultures that interrelate
and plurality of texts that circulate. Second, we argue that literacy pedagogy
now must account for burgeoning variety of text forms associated with
3
information and multimedia technologies. (COPE; KALANTIZS, 2012, p. 9)

A pedagogia do Multiletramento tem como objetivo e desafio oferecer maiores


possibilidades de acesso a um ―capital simbólico‖4 que dê ao indivíduo maior
autonomia e uma valência real para as realidades emergentes de nosso tempo. Ao
justificar o porquê de uma pedagogia do Multiletramento, o New London Group
levanta questões como ―o que o aluno precisa aprender?‖ e como uma pedagogia
pode levá-lo a se apropriar desse aprendizado em uma gama de relacionamentos
(COPE; KALANTIZS, 2012, p.18-9). Quando apresenta o método de aprendizagem,
o Multiletramento destaca o design (Figura 1) como ambiente das inovações e
também que é preciso discutir de que modo a pesquisa educacional deveria se
tornar uma ciência do design.
O currículo é um projeto para futuros sociais.

In addressing the question of ―what‖ of literacy pedagogy, we propose a


metalanguage of Multiliteracies based on concept of ―Design‖. Design has
become central to workplace innovations, as well as to school reforms for
the contemporary world. Teachers and managers are seen as designers of
learning processes and environments, not as bosses dictating what those in
their charge should think and do. Further, some have argued that
educational research should become a design science, studying how
different curricular, pedagogical, and classroom designs motivate and
achieve different sorts of learning. Similarly, managers have their own
design science, studying how management and business theories can be
5
put into practice and continually adjusted and reflected on in practice.
(COPE; KALANTIZS, 2012, p.19)

Figura 1 – Design Elements

3
―Em primeiro lugar, queremos ampliar o âmbito da ideia da pedagogia da alfabetização para explicar
o contexto de nossas sociedades culturalmente e linguisticamente diversificadas e cada vez mais
globalizadas; para dar conta das múltiplas culturas que se inter-relacionam e da pluralidade de textos
que circulam. Em segundo lugar, nós argumentamos que a pedagogia de alfabetização agora deva
levar em conta a crescente variedade de formas de textos associados às tecnologias de informação e
multimídias.‖ (tradução nossa)
4
Fazendo analogia com o conceito de capital econômico, capital simbólico é o o conjunto de saberes
e conhecimentos reconhecidos por diplomas e títulos, e de relações sociais, que podem ser
convertidas em recursos de dominação.
5
―Ao abordar a questão do ‗o quê‘ da pedagogia de letramento, propomos uma metalinguagem do
Multiletramento baseado no conceito de Design. O Design se tornou o foco para inovações no local
de trabalho, assim como reformas escolares para o mundo contemporâneo. Professores e gestores
são vistos como criadores de processos de aprendizagem e ambientes, e não como patrões dizendo
o que seus subordinados devem pensar e fazer. Além disso, alguns têm argumentado que a pesquisa
educacional deve se tornar uma ciência do design, estudando como diferentes currículos, projetos
pedagógicos, e estilos de sala de aula podem motivar e alcançar diferentes tipos de aprendizagem.
Da mesma forma, os gestores têm a sua própria ciência do design, estudando como as teorias de
gestão e de negócio podem ser colocadas em prática e continuamente ajustadas e refletidas sobre a
prática.
Fonte: COPE, Bill.; KALANTIZIS, Mary. Multiliteracies: Literacy learning and design of social
futures. 2. ed. London: Routledge, 2012. p. 26.

O discurso é uma configuração do conhecimento e de suas habituais formas


de expressão; os gêneros são formas de organização textual com particularidades
que atendem à configurações sociais específicas. A proposta dos designs de
significação é agir semioticamente, usando a linguagem para produzir e consumir
textos através do processo de Available Designs, Designing e Redesigned6 (COPE;
KALANTIZS, 2012, p.32-3).
Um esquema de quatro elementos é proposto pela pedagogia do
Multiletramento: Prática Situada, Instrução Ostensiva, Enquadramento Crítico e
Prática Transformada.7. Partindo do conceito de que o conhecimento humano é
incorporado em contextos sociais, culturais e materiais. A Prática Situada seria a
6
Modelos disponíveis, projetando e redesenhado.
7
Prática Situada, Instrução Ostensiva, Enquadramento Crítico e Pratica Transformada.
imersão na experiência e a utilização dos designs de significação, incluindo o modo
de vida do aluno e simulando o relacionamento que deve ser utilizado em locais de
trabalho ou espaços públicos. Instrução Ostensiva é um processo sistemático,
analítico e consciente dos Designs de Significação e processos de Design. No caso
do Multiletramento, ele requer a instrução explícita de metalinguagens que
descrevem e interpretam os elementos de Design de diferentes modos de
significado. O Enquadramento Crítico é a interpretação dos contextos sociais e
culturais particulares dos Designs de significado. Ele implica ao aluno reanalisar e
avaliar criticamente o que foi estudado para que possa interpretar o valor nas
relações particulares dos sistemas de conhecimento em relação ao contexto social e
cultural na prática social. Na Prática Transformada, deve transferir a construção de
significado prático, que traz a transformação de significado (Redesigned) para atuar
em outros contextos ou ambientes culturais, levando em conta que este panorama
deve partir de um contexto inicial e retornar como uma versão recontextualizada do
mesmo. (COPE; KALANTIZS, 2012, p. 32-5).
No projeto internacional, a ideia de Design reconhece as diferenças culturais
e de contexto que a metalinguagem do Multiletramento descreve. Os elementos de
design não são regras e padrões, mas uma maneira heurística de análise, que leva
em conta uma infinidade de variedades de construções de sentido em relação às
culturas, subculturas, identidades individuais a que estas formas atendem. Como
trabalhadores, cidadãos, membros de uma comunidade, é preciso dominar tais
habilidades para negociar as diferenças. (COPE; KALANTIZS, 2012. p. 36-7).
Na unidade didática desenvolvida a partir dessa pedagogia, levamos o aluno
a refletir sobre a importância da inserção ao mundo multiletrado.

Estender o horizonte de comunicação do aprendiz para além de sua


comunidade linguística restrita própria, ou seja, fazer com que ele entenda
que há uma heterogeneidade no uso de qualquer linguagem,
heterogeneidade esta contextual, social, cultural e histórica. Com isso, é
importante fazer com que o aluno entenda que, em determinados contextos
(formais, informais, oficiais, religiosos, orais, escritos, etc.), em
determinados momentos históricos (no passado longínquo, poucos anos
atrás, no presente), em outras comunidades (em seu próprio bairro, em sua
própria cidade, em seu país, como em outros países), pessoas pertencentes
a grupos diferentes em contextos diferentes comunicam-se de formas
variadas e diferentes. (BRASIL, 2006, p. 92)

3 METODOLOGIA

3.1 Contexto de atuação:


A intervenção pedagógica foi realizada no período de fevereiro a junho de
2014, com duração de 32 horas, sendo aulas presenciais e à distância. As
atividades de intervenção foram hospedadas no Ambiente Virtual de Aprendizagem
Moodle, no Colégio Estadual Olavo Bilac Ensino Médio Profissional e Normal –
Município de Ibiporã.
Os alunos alvo do projeto estavam regularmente matriculados no 2º ano A do
colégio Estadual Olavo Bilac de Ibiporã, são de uma região central do município e
têm entre 15 e 17 anos de idade. Entre os dados coletados, é pertinente observar
que, aproximadamente, 70% dos alunos da turma, possuem um smartfone, quase
todos esses aparelhos de telefones celulares conseguiram acessar a plataforma
Moodle em sala de aula; a rede wi-fi da escola, devido à inúmeros fatores, não está
funcionando e mesmo assim a grande maioria acessou a Internet 3G dos celulares
em sala de aula. Os smartfones mais modernos tem uma função de roteador e,
desse modo, os alunos que não possuíam créditos nos celulares, compartilhavam a
rede com outros, conectando não apenas telefones, mas tablets e notebooks, com a
Internet do celular.
Aqui cabe uma observação. Recentemente, no final de junho, foi homologada
uma lei (Lei nº 18.118/2014) que proíbe a utilização de qualquer equipamento
eletrônico dentro de salas de aula em todo o estado. Segundo o texto original do
Projeto de Lei nº 440/2013, os jovens do ensino fundamental e médio não possuem
ainda capacidade para controlar o uso destes aparelhos. A necessidade da
aprovação desta lei leva à reflexão sobre o uso das tecnologias sem
intencionalidade pedagógica.

Quando agimos com determinada intenção é sinal de que estamos


conscientes do que estamos fazendo. O mesmo se aplica nas questões
pedagógicas de sala de aula. Agir com intencionalidade pedagógica é
organizar a aula de maneira consciente, planejada, criativa e capaz de
produzir um efeito positivo na aprendizagem do aluno. (NEGRI, 2008, p. 6)

Negri (2008) salienta que é preciso lembrar que a intencionalidade


pedagógica vai além do "ritual" de planejamento de conteúdos, ela incide
principalmente na postura do professor, que busca o tempo todo um diálogo franco,
elucidativo, formativo e proativo com seus alunos. Para que o uso das tecnologias
em sala de aula seja pedagogicamente eficiente é preciso estabelecer com os
alunos um ―contrato pedagógico‖ e direcionar com competência o processo de
aprendizagem.
A intervenção foi planejada a partir dos estudos sobre o Multiletramento e, por
meio da metalinguagem, as atividades (Quadro 1) foram inseridas no Moodle.
Diversos recursos do ambiente virtual foram utilizados como questionários, fóruns,
tarefas, etc. As atividades levavam o aluno à discussão e aprendizagem de maneira
autônoma sobre o atual cenário das diversas tecnologias, aplicativos, programas,
redes sociais, às quais o aluno multiletrado deve dominar e atuar. Durante as
atividades os alunos descreveram seus anseios, expectativas e medos relacionados
às formas de comunicação tão diversificadas no contexto atual.

3.2 Aplicando o Moodle em sala de aula


Todos os alunos da turma foram incluídos em um grupo no Facebook. Eles
não visitavam a plataforma Moodle com tanta frequência quanto visitavam sua
página pessoal no Facebook, então, estrategicamente, toda vez que era aberta uma
atividade no Moodle, eram avisados pelo Facebook, considerando que a maior parte
dos alunos se conectam diariamente nesta rede social. Assim se fazia o
acompanhamento dos acessos, pois o próprio Facebook avisava quantos haviam
visualizado a questão.
As orientações para a realização de cada uma das atividades era presencial,
em sala de aula, muitas vezes apoiada em slides copiados das páginas do Moodle,
que orientavam passo a passo como os alunos deveriam realizar as atividades,
considerando que esta era sua primeira experiência com a plataforma Moodle.
Os alunos que conseguiam compreender mais rapidamente como
desenvolver as atividades auxiliavam os demais na realização, de forma
espontânea.
Após a inscrição individual do aluno com preenchimento de dados pessoais,
conforme orientado pela plataforma, iniciaram-se as atividades. O Moodle oferece
um Fórum de notícias que é compartilhado por todos os membros do curso, em que
foi possível aos alunos fazerem perguntas para a professora tutora e para os demais
alunos inscritos. O curso foi batizado de ―Multiliteracy‖, no Tópico 1, os alunos
fizeram a apresentação pessoal em inglês, a partir de exemplos. Os resultados
foram interessantes e, mesmo apresentando alguns erros de construção, todos se
esforçaram. Outro recurso interessante é o feedback individual e para cada
atividade. Desta forma, a professora pôde apontar erros e os alunos os corrigiram.
Também foi apresentada a proposta e justificativa ao aluno dos objetivos
relacionados ao projeto. Ainda no tópico 1, uma imagem de um garoto confuso com
as diversas modalidades de comunicação deveria ser descrita e analisada conforme
os elementos de design do multiletramento. Os resultados das descrições foram
muito bons e os alunos identificaram-se com o garoto da imagem.
No tópico 2, os alunos foram questionado sobre seu conhecimento prévio da
Educação à Distância, suas expectativas, com atividades interativas nas quais
apresentaram bom desempenho.
O tópico 3 apresentava o conceito da ferramenta de aprendizagem gênero
Fórum, por meio de imagem, o design de um Fórum. Consequentemente, o aluno
era convidado a participação de fóruns, a partir de textos e vídeos em inglês. O
objetivo era levá-lo à reflexão sobre o letramento digital, apresentando uma
ferramenta de aprendizagem do universo da EAD – o Fórum. Todos os inscritos
participaram e interagiram, demonstrando intimidade com o gênero que já faz parte
do contexto dos ―nativos‖ digitais. Ainda no tópico 3, os alunos participaram de uma
avaliação virtual sobro os conteúdos gramaticais trabalhados na sala de aula física.
Tinham mais de uma chance para responder às questões, porém com tempo
preestabelecido. O resultado da avaliação era apresentado imediatamente após o
encerramento da atividade. O resultado de desempenho foi variado e dependia do
quanto o aluno havia estudado anteriormente os conteúdos. Após a realização desta
atividade, os alunos relataram que apreciaram muito sua dinâmica e, a grande
maioria, relatou que gostaria que mais avaliações rotineiras pudessem ser desta
forma.
No final do tópico 3, textos online sobre a criação do Moodle foram
apresentados ao aluno e uma abordagem de metalinguagem em que o aluno era
desafiado a descobrir informações e possibilidades na própria plataforma de
aprendizagem. Os resultados foram bons.
Nos resultados com a inserção das TICs nas aulas, há ainda fatores
observados na aplicação, além da unidade didática no Moodle, que merecem ser
destacados:

a) Não foi preciso carregar pilhas de dicionários de inglês-português para a


sala de aula: os alunos consultaram o significado das palavras no Google Translate
(Google Tradutor) e quando não encontraram no ―tradutor‖, recorrerem à busca no
Google Search (pesquisa), que apresenta a imagem e definição. O Google Tradutor
também fornece a pronúncia da palavra (nas atividades de ―speaking‖ em sala de
aula, percebeu-se alunos verificando a pronúncia antes de falarem);
b) Há vários recursos para smartfones que podem ser utilizados no ensino-
aprendizagem de inglês (ou mesmo de outras línguas), como o TudoCelular.com
(http://www.tudocelular.com/android/apps/melhores-apps-para-aprender-
ingles_t73.html), e informações extras podiam ser compartilhadas no grupo do
Facebook, como as obtidas em sites como Learn English, British Council e BBC.
Alguns fatores ajudaram os alunos, potencializando o aprendizado, pois,
embora muitos tenham dificuldade de comunicação em sala de aula, observa-se que
na internet existe um conforto maior para questionarem e interagirem com o
professor ou entre eles. Os vídeos e os textos ficavam disponíveis online e o aluno
podia rever quantas vezes fossem necessárias, já que cada um tem velocidade de
aprendizado diferente. Os alunos também enviaram alguns dos trabalhos por e-mail
e nas atividades de writing (produção de texto) a correção foi realizada com
marcadores coloridos, observações que manualmente não seriam viáveis, e
reenviadas rapidamente.
Alguns alunos relataram que, de qualquer forma, ficariam muito tempo do dia
conectados, mas que, quando havia tarefas no Moodle, passaram menos tempo em
páginas e ambientes de distração e gostaram de ser direcionados a algo produtivo.
A linguagem multimodal das plataformas e redes sociais prendem a atenção do
aluno. Para tarefas lançadas no Moodle existe o recurso de marcar data de
encerramento, as questões de prova são mostradas de forma aleatória, com tempo
determinado para cada questão dificultando a ―cola‖. Questões de múltipla escolha
de uma avaliação vêm corrigidas para o professor. Alguns alunos demonstraram
ansiedade e motivação para cumprir novos desafios na plataforma Moodle. Alguns
sentiram-se desafiados e estimulados a vencer ao encontrar dificuldades na
plataforma.
Porém alguns fatores dificultam o trabalho com a plataforma na rotina
escolar: a) é preciso muito tempo para o docente compreender e dominar as
ferramentas do Moodle e a instabilidade de sinal que pode ocorrer na internet
prejudica o trabalho algumas vezes; b) nem todos os alunos tem acesso constante à
internet e alguns smartfones não acessam o Moodle e c) a escola não oferece
suporte para a realização, com postagem de atividades no ambiente escolar, por
isso todo o trabalho foi realizado como extensão, tanto na residência do docente
quanto dos discentes.

QUADRO 1 – QUADRO DAS ATIVIDADES


ATIVIDADE DESCRIÇÃO OBJETIVO MULTILETRAMENTO
1- Apresentação da Análise dos
proposta e elementos de
Tópico 1
justificativa ao aluno Design: Espacial,
1- Introduction
dos objetivos linguístico e Visual
Motivar os alunos
relacionados ao
e esclarecer os
projeto Prática Situada,
objetivos do curso.
Instrução
Ostensiva,
2- Look at the Através da
2- Publicação de uma Enquadramento
picture and produção de texto
imagem que Crítico e Prática
describe this em inglês levar o
demonstrava o aluno Transformada.
student. aluno a refletir
atual, frente aos
sobre o atual
diversos designs dos
contexto de
meios de
comunicação.
comunicação
multiletradas do
mundo moderno.

Análise dos
1- Questionava o
Tópico 2 elementos de
aluno sobre seu Preparar o aluno
1- What´s up? - Design: Espacial,
conhecimento prévio para o design do
Have you heard linguístico,
sobre a Educação à aprendizado à
about DL (distance Gestual, Auditivo e
Distância. distância e levá-lo
learning)? Visual
ao questionamento
sobre as novas
Prática Situada,
possibilidades de
Instrução
2- Atividade escrita ensino-
2- Write down a Ostensiva,
sobre suas aprendizagem que
list of words that Enquadramento
impressões sobre a a EAD
come to your mind Crítico e Prática
Educação à apresentam.
when you hear the Transformada.
Distância.
above.
Tópico 3 1- Apresentava o Levar o aluno ao Análise dos
1- On top of the conceito de da letramento digital elementos de
world ferramenta de apresentando uma Design: Espacial,
aprendizagem gênero ferramenta de linguístico,
2- Fórum - Have Fórum, apresentava aprendizagem do Gestual, Auditivo e
you heard about através de imagem o universo da EAD – Visual
Digital Forum? design de um Fórum. Fórum, levando a
o aluno a refletir Prática Situada,
3- On the top of 2- Participação em sobre a Instrução
the world um Fórum em inglês. importância do Ostensiva,
letramento digital e Enquadramento
4- Vídeo: "You 3- Vocabulários os novos designs Crítico e Prática
can‘t be my necessários para a da educação. Transformada
teacher‖ participação em
http://dangerouslyi fóruns, como
rrelevant.org/2010/ expressar sua
03/video-you-cant- opinião em LI.
be-my-
teacher.html - 4-Vídeo sobre o
Neste fórum você desafio para o
deverá emitir sua professor
opinião sobre o contemporâneo.
ensino/aprendizag
em de Inglês. 5- Foi trabalhado em
sala de aula física a
5- Comparison teoria gramatical
Test

Apresentar a Análise dos


origem e as elementos de
especificidades da Design: Espacial,
1- Texto sobre a
plataforma virtual linguístico e Visual
plataforma Moodle,
Moodle, levando o
6- World‘s seu idealizador, suas
aluno a refletir Prática Situada,
citizenship – propostas, sua
sobre as novas Instrução
Moodle origem. Questionário
possibilidades da Ostensiva,
online de
EAD, interpretar Enquadramento
interpretação do texto
texto através de Crítico e Prática
questionário Transformada
virtual.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com as diversas possibilidades pedagógicas oferecidas pelo surgimento da


tecnologia, tornaram-se necessárias mudanças nas práticas escolares, no processo
de ensino-aprendizagem que possa inserir e atualizar a escola no contexto da
globalização, da multimodalidade de textos, de discursos de culturas. Trabalhar com
a pedagogia do multiletramento veio de encontro às respostas para tal atualização.
Com a finalização do projeto de intervenção pedagógica trabalhando com os
alunos no Moodle, é possível afirmar que, com a carga horária dos professores, o
número de turmas e de alunos que os docentes da escola pública do Paraná
trabalham, seria impossível atender a todos usando a plataforma Moodle e o
Facebook sem um laboratório com acesso adequado, que comportasse todas as
turmas. Pode-se concluir que, se qualidade de trabalho for a prioridade, com os
alunos que realmente se empenharam, demonstrando maior motivação8 para a
aprendizagem e por consequência, desenvolveram um nível de aprendizado que
apenas com aulas presenciais levaria muito tempo para se alcançar.
Também foram enfrentados problemas com a estrutura inadequada dos
laboratórios de informática, conexão da Internet instável e número de alunos e de
máquinas incompatíveis. Os equipamentos raramente passam por manutenção e as
máquinas do laboratório não carregam a plataforma Moodle, o que inviabilizou seu
uso para a realização do projeto no laboratório de informática. Em sala de aula, com
os notebooks, tablets, e aparelhos celulares, também se enfrentou problemas e,
após algumas tentativas, foi descartada a possibilidade do uso da plataforma em
sala de aula, pois nem todos os alunos possuíam os equipamentos necessários. O
uso do projetor multimídia com a Internet também era instável e a solução foi
explicar e orientar em sala de aula como os alunos poderiam executar sozinhos, em
casa, as atividades.
Infelizmente, a SEED ainda não disponibiliza a plataforma Moodle para os
professores da rede usarem com seus alunos. A Universidade Estadual de Londrina
disponibilizou uma sala virtual com a plataforma para o desenvolvimento do projeto.
Há maneiras de se utilizar o Moodle em sala mesmo sem o auxílio da SEED, porém
seria preciso hospedar a plataforma em um provedor pago pelo docente.
A plataforma Moodle tem recursos fantásticos e, apesar de tê-la conhecido
antes da elaboração das atividades na produção didática, é possível afirmar que é
diferente o processo de elaboração no papel do da inserção dos conteúdos na
plataforma. No Moodle, o processo é mais dinâmico, tornando necessário realizar
algumas mudanças.
Dentro do 2º A, turma em que o projeto foi aplicado, havia alunos que
compreendiam uma aula expositiva toda em inglês, mas, por outro lado, havia outros
que não dominam os comandos básicos da língua. Muitas das atividades de ―writing‖
(escrita) foram totalmente ―passadas no Google Tradutor‖, e durante o feedback que
a plataforma oferece foi possível esclarecer erros de coerência, coesão e gramática.
Uma avaliação com os conteúdos gramaticais do bimestre foi elaborada e, além do
Moodle fornecer o resultado imediato da nota da avaliação, ainda possibilitou a
inserção de dicas, de explicações e de feedback adequado para cada tipo de

8
Vide anexo 1.
questão. Por esses, entre outros motivos, considero sua utilização uma grande
evolução quando falamos em processo avaliativo e material didático.
Foi uma enorme satisfação a oportunidade de direcionar os alunos, que
passam tanto do seu tempo conectados à Internet, para possibilidades de
aprendizado que eles não conheciam.

No primeiro bimestre, fomos avaliados através do Moodle e achei uma


ferramenta muito interessante. Além das aulas na sala, nós aprendíamos
em casa através das atividades propostas, não só a língua inglesa, mas
também pudemos expor nossas opiniões sobre a nova experiência: a
educação aliada à tecnologia. (P. H., anexo A)

Especificamente quanto ao ensino de línguas, as ferramentas que a Internet


oferece potencializam o aprendizado, pois apresentam vocabulário, pronúncia e
palavras no contexto, entre outros facilitadores que possibilitar quebrar a barreira
linguística.
O Multiletramento é uma teoria pedagógica utilizada em muitos países que
alfabetizam em inglês como língua materna e também em outros que ensinam Inglês
como segunda língua, ou língua franca (MULTILITERACIES, online). O objetivo
principal foi ampliar o letramento e oferecer ao aluno a possibilidade de exercer uma
cidadania global, sem fronteiras.
Quanto à atuação do professor, nas aulas presenciais foi necessário
direcionar os alunos com muito critério, pois os mesmos realizariam as atividades
sozinhos em casa, e também realizar a mediação usando o grupo do Facebook. É
interessante relatar que todas as orientações dadas pelo docente, tanto pelo
Facebook como no Moodle, ficam registradas, documentando suas atividades frente
a qualquer argumento que questione seu trabalho. Na finalização de atividade, a
mensuração dos resultados, por nota (Anexo B) é oferecida automaticamente pela
programação da plataforma. De um total de 33 alunos, 5 recusaram-se a fazer a
inscrição no curso, e foi preciso aplicar recuperação com avaliação física (não
virtual). Dentre os inscritos no projeto, 8 alunos tiveram dificuldade na realização das
atividades – porém sabemos que a falta de interesse também é agravante – e 13
tiveram desempenho excepcional. A tecnologia como recurso pedagógico não
solucionará todos os problemas enfrentados pelo professor na ação docente, mas é
possível afirmar que aqueles alunos que tem ―sede de saber‖ foram muito bem
contemplados e melhor atendidos por meio da plataforma, o que, muitas vezes pela
insuficiência de tempo ou pelos conflitos existentes em sala de aula, não é possível
realizar.
Foi uma experiência profissional ímpar, que modificou permanentemente
minha prática docente. Vislumbro o dia em que o investimento na Educação seja
maior, possibilitando que tais recursos estejam disponíveis aos professores e alunos
da escola pública.

REFERÊNCIAS

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mundo da tecnologia da informação. Rio de Janeiro: Brasport, 2009. 205 p.

The multiliteracy Project. What is The Multiliteracy Project? Vancouver, Canadá.


Disponível em: <http://multiliteracies.ca/index.php> Acesso em 15 de dezembro de
2014.
ANEXOS

Anexo A – Depoimentos de alguns alunos

Excertos retirados do Fórum de opinião dos alunos no Moodle.

―Foi muito bom aprender a matéria de formas diferentes e usando vários


métodos. [...] O Moodle era algo que não conhecíamos, foi uma experiência nova
onde experimentamos formas de resolver atividades e a prova bimestral de uma
maneira nunca utilizada, mas pela falta de materiais adequados para usar a
ferramenta ficamos impossibilitados de aproveitá-la mais dentro da sala de aula.‖ A.
P.
―No primeiro bimestre, fomos avaliados através do Moodle e achei uma
ferramenta muito interessante. Além das aulas na sala, nós aprendíamos em casa
através das atividades propostas, não só a língua inglesa, mas também pudemos
expor nossas opiniões sobre a nova experiência: a educação aliada à tecnologia‖. P.
H.

Anexo B – Bloco de notas de participação individual de aluno

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