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Pontifica Università Gregoriana – Facultá di teologia

Corso: In Torno a Calcedonia: Problemi e prospettive di cristologia


dogmatica
Studente: Adão Carlos Pereira da Fonseca
Matricola: 165873

Hans Urs von Balthasar: A Missão de Cristo e o Conceito de Pessoa


O Concílio de Calcedônia apresentou de forma clara e sóbria que em
Cristo existe uma só pessoa e duas naturezas. Essa definição é válida ainda
hoje e deve ser compreendida sempre de novo pela comunidade cristã. O
conceito de pessoa não possui hoje o mesmo sentido que o Concílio
entendia quando o utilizava. Costuma-se pensar hoje que a pessoa é um
indivíduo separado, isolado em si mesmo, e este sentido não explica bem
aquilo que aconteceu no evento Cristo. Pensando pessoa como indivíduo
separado não se entende como é possível que em Jesus existam duas
consciências e uma só pessoa.
A ideia de analogia entis não resolve muita coisa nesta questão do que
seja pessoa em Jesus. Uma analogia entre os entes e Deus não significa
uma identidade perfeita entre o Criador e a criatura, pois entre os dois há
um abismo intransponível. A dessemelhança entre eles é infinitamente
maior que a semelhança. Por isso uma frase que agrada muito Balthasar é a
seguinte: “Procura compreender: Deus não é assim”1. Em Cristo, homem e
Deus verdadeiro acontece também essa dissemelhança entre Deus e criatura
continua a existir. Jesus não faz uma síntese identificadora que anule a
diferença entre Deus e os homens, nem é um modelo abstrato do que seja
uma pessoa.
Para entender melhor o mistério do que é pessoa em Jesus, se deve,
primeiramente, refletir sobre a sua consciência. Diferente de Karl Rahner
que fala da necessidade de uma ontologia do homem para se compreender a
encarnação, Balthasar se volta para consciência de Cristo (o que Rahner
não havia considerado como ponto importante).
Segundo Balthasar, se pode perceber biblicamente que o que guiava toda
a vida de Jesus era a consciência que ele tinha de sua missão. Jesus sabia
que foi enviado ao mundo pelo Pai, que dele havia recebido a missão de
salvar a humanidade. “[...] non per prodursi come l’esemplare supremo del
genere umano vive Gesù, ma unicamente per compiere la volontà del
Padre”2. O relacionamento de Jesus não é com a Trindade, mas com o Pai.
Ele era obediente ao Pai em tudo com a mais perfeita liberdade. Esse

1 “Cerca di capire: Dio non è Così” (GUERRIERO, Elio. Il Dramma di Dio: Letteratura
e teologia in Hans Urs von Balthasar. Milano: Jaca Book, 1999, p. 64).
2 BALTHASAR, Hans Urs von. Teodrammatica, vol. III, p. 211.
relacionamento é percebido na missão ad extra do Filho, mas tem a sua
base no relacionamento ad intra do Pai e do Filho na Trindade.
Jesus salva os homens ao assumir uma natureza humana completa e ao
realizar uma ação vicária em favor da humanidade. Na unidade que existe
entre a humanidade é possível a participação na redenção operada por
Cristo. Assumindo em sua pessoa a natureza completa (não só o corpo),
Jesus salva o homem porque ele é o Verbo eterno com o qual o Pai havia
criado o mundo. Jesus é o Verbo que ilumina todo homem e possui uma
ligação com a humanidade já mesmo antes de se encarnar.

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