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Daury Cesar Fabriz; Claudio Fernandes Ferreira, O
Municipio na Estrutura Federativa Brasileira: Um Estudo
Comparado, 41 Rev. Faculdade Direito Universidade
Federal Minas Gerais 103 (2002)
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1. INTRODUÇÃO
Resta claro que o constituinte brasileiro de 1987/88 teve por espírito elevar o
Município brasileiro à uma entidade estatal dotada de autonomia, integrante da
estrutura federativa brasileira. Para tanto concedeu aos Municípios autonomia
política, administrativa e financeira.
Mestre e Doutor em Direito (onistittcional pela Facuildade de Direito da 1II:NI( Piofessor nas disciplinas Teoria ( Jeial do Estado, Teoria da
Constituição e Direito ('onstitucional Ad.,do ado e Socwloýo
Graduando em Direito pela Faculdade de I)ii eto da LT.\(i, moritor de Direito ('oristituctional. pesquisado, bolsista pelo CNP1j
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Revista da [acuildade de I)ireito da Universidade [ederal de Minas Gerais
"sua inclusão como entidade federativa teria que vir acompanhada de con-
Mas o que realmente chama a atenção nesse novo aspecto municipal brasileiro
é a grande autonomia que essas entidades estatais conquistaram com o advento
da Constituição de 1988.
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J)aurN César I:ahrí/
Tomando o caso brasileiro como referência, visto que o mesmo adota uma
estrutura federativa que comporta três esferas de governo e, principalmente, pelo
fato de os Municípios serem dotados de autonomia política, administrativa e eco-
nômica, buscar-se-á no Direito Constitucional Comparado, através da confronta-
ção com outros modelos, melhor conhecer ou sugerir alguns pontos que possam
demonstrar a real amplitude jurídica que alcançaram os Municípios brasileiros,
com o advento da Constituição de 1988, no que tange a sua autonomia.
"o direito constitucional comparado tem por objetivo o estudo teórico, com-
parado e crítico das normas jurídico-constitucionais de vários Estados
particulares, para destacar as semelhanças e contrastes ente elas."
(1995, p. 05)
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Revista da Faculdade de )ireito da U/niversidade Iederal de Minas (ierais
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I)aury (ésar I:abril
prias Constituições (leis orgânicas)', o que veremos com mais cuidado e apuro a
seguir.
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que os NIuIlIcirIos brasIleIros são dotados de ('oIsttu1çao plopras
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Re i.sta da I-acuildade de I)ireito da Universidade Federal de Minas Gerais
político-administrativa brasileira.
Vale notar que a Constituição de 1988 outorgou, ainda, aos Municípios, além
da competência privativa (art. 30), a competência comum com a União, os Esta-
dos-membros e o Distrito Federal para as matérias relacionadas no art. 23, como,
por exemplo, legislar sobre assuntos de interesse local.
Nota-se que a autonomia municipal foi uma das grandes modificações inseridas
pela Carta Política de 1988. A autonomia municipal constitui-se em direitos asse-
gurados pela Constituição Federal, para dispor livremente, na conformidade de
suas próprias leis, sobre assuntos de interesse local, sempre em sintonia com a
divisão de competências preconizada pelo Texto constitucional do Estado brasilei-
ro.
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IXjurý (iêsar Iahrii
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Revista da Faculdade de Direilo da Universidade [ederal de Minas (1eraís
Muitos autores, entre eles JOSÉ AFONSO DA SILVA (1994, p. 346), levantam
objeções quanto à consideração do município como ente federado, argumentan-
do que os Municípios não possuem representação no Senado Federal e que tais
entes não podem sofrer intervenção federal, a título exemplificativo.
Mas, como muito bem entende QUADROS MAGALHÃES (1997, p. 119), ne-
nhuma das objeções levantadas são suficientes
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i)aur, César I"abri/
Dessa forma, dado que a noção de Município e sua autonomia está intimamen-
te ligada à compreensão da Federação, podemos afirmar que a efetivação do
processo democrático descentralizado só irá ocorrer de fato com a implementação
das liberdades e autonomias municipais. Nesse sentido, nossa Constituição avan-
çou ao considerar o Município como ente federado, mas é necessário uma
reformulação nas disposições referentes às competências dos entes federados,
no sentido de se conferir maior autonomia aos municípios, que, por sua vez, atu-
almente é pequena. Assim, a autonomia dos Municípios brasileiros será melhor
compreendida quando analisada a estrutura a qual se insere, o que faremos no
capítulo seguinte.
Vale ressaltar que o Estado Federal têm um duplo caráter, determinado pela
necessidade de realizar a união e não a unidade (MOUSKHELI, in BARACHO, op.
ct., p. 29).
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Re, isia da Iacuildade de )ireito da 1,1inersidade Iederal de Minas Gerais
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I)aury C'sar Fabril
Com relação aos aspectos unitários, o Estado federal é uno, seja considerado
externa ou internamente. No âmbito externo, significa dizer que só o Estado Fede-
ral é pessoa jurídica de Direito Internacional Público, o que não ocorre com os
Estados-membros. No plano interno, segundo FERREIRA FILHO, a unidade da
Federação está na existência de um ordenamento jurídico federal, válido em todo
o território nacional, ao lado de diversos ordenamentos jurídicos estaduais, e,
também, pela existência de um tribunal federal competente para resolver os con-
flitos de competência entre o todo e as partes.
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I is.ta da 1acuildade de )ireito da 1Jnivlesidade 1ederal de Ninas (I ais
agir eficientemente.
constitucional do ato local, mas não sobre sua oportunidade política. Con-
vém lembrar que no Estado federal, o Estado membro participa sempre na
elaboração das leis federais". (op. ct., p. 51).
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I)aury C'sar I"abri/
O Estado Regionalista tem sido motivo de atenção por parte dos estudiosos do
Direito Público, devido a sua composição em regiões autônomas que concede ao
Estado italiano características próprias.
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RenIsta da [ aci Idade de Irei to da( i nI vers idade I-ederaI de NIna.s (ferais
De acordo com a atual Carta Política italiana, existem hoje 20 (vinte) regiões,
sendo 05 (cinco) com autonomia especial: Sicília, Sardenha, Valle dAostra, Trentino-
Alto Adige, Friuli-Venezia e Giulia, que são caracterizadas formalmente por um
Estatuto adotado por lei constitucional do Estado, e substancialmente pelo amplo
poder concebido, principalmente no campo legislativo.
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DatirN C6aí Fabril
O governo local é constituído pelo prefeito, pela junta municipal e pelo Conse-
lho Comunal. A administração local é realizada sob a supervisão e controle direto
do governador da Província. Como podemos notar, as Comunas e as Províncias
não atingem a mesma autonomia concedida para as Regiões, limitando-se à ad-
ministração local, não tendo maiores implicações políticas.
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Rev ia da I:acuidaide de D)ireito dIa LJiiversidade 1ederal de Minas (jerais%
Mas, apesar de sua posição excepcional, essas regiões não podem desprezar
a unidade política do Estado italiano.
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I)atir César Fabril
A expressão Estado Autonômico teve boa aceitação por parte dos publicistas,
uma vez que a Constituição espanhola de 1978 definiu uma nova forma de orga-
nização de Estado, denominado de Autonômico, visto que o mesmo se organiza
territorialmente entre municípios, em Províncias e nas Comunidades autônomas
que venham a se constituir. O art. 137 preceitua que todas estas entidades que
participam da estrutura do Estado gozam de autonomia para a gestão de seus
particulares interesses.
SÀNCHES AGESTA informa que o título VIII da lei fundamental espanhola de-
fine nova forma de organização do Estado - o Estado Autonômico: o Estado é
organizado territorialmente em Municípios, em Províncias e nas comunidades
autônomas que se constituam. Todas essas entidades gozam de autonomia para
a gestão de seus respectivos interesses, conforme art. 137 (1980, p. 344).
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Re, ista da Faculdade de l)ireilo da Jniversidade Iederal de Minas (jerais
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[)aurN Uésar I-abril
2) Competências administrativas;
Seja como for, os Municípios das Regiões espanholas não têm maiores com-
petências na esfera política, visto que a Região tornou-se ente essencial e princi-
pal na constituição do Estado espanhol, devendo ser compreendida nos termos
restritos à extensão sugerida pelo vocábulo Região.
Revista da [aculdade de I)ireilo da Universidade Federal de Minas (erais
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao fim desse sucinto exame comparativo, podemos levantar alguns pontos fun-
damentais que caracterizam as formas de Estado e a autonomia local, como uma
maneira democrática de descentralização, levando em conta as necessidades
prementes das comunidades locais, que encontram razão de existência a partir
de suas próprias necessidades quotidianas, apoiadas no sentimento histórico-
cultural.
Regiões ainda contam com Municípios e Províncias, que têm grande atribuições
no campo das administrações locais. No entanto, esses entes são governados por
representantes diretos do Estado Nacional.
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Reý ista da [acuildade de l)ireito da [Jniversidade Federal de \lInas (iera1s
espanhol.
7. BIBLIOGRAFIA
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Revista da Faculdade de )ireito da Universidade Federal de Minas Gerais
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10. ed. São Paulo: Malheiros Editores,
1997.
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1954.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Municipal brasileiro. 5. ed. São Paulo: RT, 1991.
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I)atir\ Cesar luhrli
NETO, Silveira. Teoria do Estado. 5. ed., São Paulo: Max Limonad, 1972.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 8. ed. São
Paulo: Malheiros editores, 1994.
8. RESUMO
9. ABSTRACT
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