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Tecnologias sociais
para adequação
de imóveis rurais
REALIZAÇÃO
PATROCÍNIO Esta cartilha é uma das
publicações do Plantando Águas, um projeto
da organização Iniciativa Verde, patrocinado
pela Petrobras por meio do Programa
Socioambiental, que tem como objetivo
proteger e preservar os recursos hídricos, em
benefício de toda a sociedade. Durante dois
anos, irá promover a adequação ambiental
de diversos imóveis rurais do Estado de
São Paulo, envolvendo grupos de agricultura
familiar, assentamentos e áreas protegidas
(Áreas de Proteção Ambiental e Reservas de
Desenvolvimento Sustentável). Entre as ações
programadas estão a restauração de áreas
degradadas com Sistemas Agroflorestais
(SAFs), atividades de educação ambiental e
implantação de sistemas de saneamento rural
para tratamento de água e esgoto.
Sumário
REALIZAÇÃO
Apresentação......................................................................................................................................2
Tecnologias sociais .............................................................................................................................................. 2
PATROCÍNIO
Saneamento.........................................................................................................................................3
Fossa séptica biodigestora................................................................................................................................... 3
Jardim filtrante............................................................................................................................................................... 7
Clorador............................................................................................................................................................................. 9
Monitoramento.......................................................................................................................................................... 10
Cisternas para coleta de águas de chuva................................................................................................. 11
EXPEDIENTE Adequação ambiental......................................................................................................................14
Um pouco sobre as leis ambientais.............................................................................................................. 14
PAUTA TEXTO Aline Zaffani e Roberto Resende EDIÇÃO DE TEXTO Marina Vieira
CAR: Cadastro Ambiental Rural....................................................................................................................... 15
REVISÃO TÉCNICA Jaqueline Souza e Roberto Resende REVISÃO DE TEXTO ID 3611 PRA: Programa de Regularização Ambiental........................................................................................... 15
Bruna Martins Fontes SELEÇÃO DE IMAGENS Jaqueline Souza e Marina Vieira
Recomposição florestal........................................................................................................................................ 16
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Cyntia Fonseca FOTOS Isis Nóbile Diniz,
Mudas......................................................................................................................................................................... 17
Jaqueline Souza, Marina Vieira, Pedro Barral e Roberto Resende ILUSTRAÇÕES
Espécies florestais............................................................................................................................................. 17
Patrícia Yamamoto
Conclusão...................................................................................................................................................................... 20
2 3
adubar plantações com os efluentes trata- para diversas publicações, que estão dis-
dos; e a recuperação de florestas protege poníveis para download gratuito no site
os mananciais e melhora a água disponível. www.iniciativaverde.org.br/plantandoaguas.
Essas ações também acabam fortalecendo Entre essas publicações da primeira fase
a ação coletiva da comunidade, unindo to- estão três cartilhas temáticas – uma sobre
dos sob um mesmo propósito. adequação e legislação ambiental, outra
sobre manejo da água, e uma terceira so-
A primeira fase do Plantando Águas, que
bre agroecologia e sistemas agroflorestais.
aconteceu de 2013 a 2015, trouxe muitos
Esta publicação agora traz um resumo des-
resultados. Foram desenvolvidas ativida-
sas cartilhas, com o intuito de apresentar
des em 163 imóveis rurais, contemplando
as tecnologias e ajudar na implantação de
sete assentamentos da reforma agrária,
novas ações do Plantando Águas.
uma comunidade quilombola e 47 sítios de
Apresentação
pequenos agricultores. Foram implantados Nesta nova etapa, o projeto vai continuar
75 hectares de SAFs e matas ciliares, 145 implantando as tecnologias aqui descritas,
sistemas de saneamento e 18 pontos de oferecendo oficinas e acompanhamen-
monitoramento da água. to técnico, mas deve também desenvolver
Atividades de educação ambiental foram outras tecnologias, adaptando-se às con-
feitas com agricultores e estudantes, to- dições das comunidades participantes e
Q
talizando 1.712 participantes em oficinas incorporando novos conhecimentos. Nossa
uando se fala em meio ambiente, es- O Projeto Plantando Águas busca o desen-
e intercâmbios e 3.964 visitas monitora- visão é que esses processos são orgânicos,
tamos tratando não só da natureza, volvimento sustentável no meio rural consi-
das ao CEA. Além disso, as atividades e e vão se definindo de acordo com as neces-
mas também de todos nós, pois tudo derando todas as suas dimensões: ambien-
técnicas desenvolvidas geraram conteúdo sidades e ideias das pessoas envolvidas.
se relaciona. É como a água, um recurso fun- tal, social e econômica. Seu objetivo maior é a
damental para as plantas, os animais, a pro- conservação dos recursos hídricos a partir da
dução de alimentos e as pessoas. adequação ambiental de imóveis rurais. Para
isso, promovem-se o saneamento rural com
No meio rural, pensar a questão ambiental tecnologias sociais, a adequação ambiental
se torna mais e mais relevante. Além da im- atendendo à legislação, a recuperação e a
portância do bom uso dos recursos naturais conservação das florestas nativas, a produ- TECNOLOGIAS SOCIAIS
para as atividades agrícolas, as políticas am- ção sustentável e a educação ambiental de
São produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis desenvolvidas na interação com
bientais estão cada vez mais presentes. Mais estudantes e trabalhadores.
a comunidade e que representam efetivas soluções de transformação social. Reúnem
do que um desafio, ela representa uma opor- saber popular, organização social e conhecimento técnico e científico.
No final, essas ações se completam, me-
tunidade para os agricultores. Podem ser aplicadas em diversas condições, como alimentação, educação, energia,
lhorando, além do ambiente, a renda e o
habitação, renda, recursos hídricos, saúde e meio ambiente. Alguns dos exemplos são
A melhoria das condições ambientais, o bem-estar das pessoas. Ter saneamento
as tecnologias desenvolvidas no Centro de Instrumentação da Empresa Brasileira de
cumprimento da legislação e a oferta de no sítio, por exemplo, facilita conseguir a Pesquisa Agropecuária (Embrapa): o jardim filtrante (tratamento de águas cinzas), a
produtos e serviços de boa qualidade po- certificação orgânica; os Sistemas Agroflo- fossa séptica biodigestora (para tratar águas negras) e o clorador.
dem contribuir para o aumento da renda e restais incrementam a renda com o plantio
melhorar a qualidade de vida. de árvores; o cuidado com o esgoto ajuda a
4 5
Não deve ser usado em hortaliças; apesar de o
tratamento ser bastante eficaz, é mais seguro
não usar esse biofertilizante em alimentos que fi-
cam perto do solo e que vão ser consumidos crus.
Saneamento
do, deve ser feito o reabastecimento da mistura
de esterco fresco e água. Se continuar, deve-se
procurar assistência técnica.
Fossa montada em quintal de sítio em Iperó
O gás produzido por fossas desse tipo é mui-
Fossa Séptica Biodigestora que atende uma casa com até cinco pessoas, é
composto por duas caixas de biodigestão (que
to pouco para ser aproveitado para queima. A
produção de gás por biodigestão pode produzir
As caixas de biodigestão são vedadas, mas não
devem ficar cobertas pelo solo. Deve-se deixar
devem ficar sempre fechadas) e uma última bastante gás no caso de criação de porcos, que
aproximadamente 15 cm para fora da terra;
Este é um sistema desenvolvido pela Embra- para depósito do esgoto tratado. Se o número produzem muitos dejetos.
pa para o tratamento das águas negras, que de moradores for maior do que cinco, o núme- As tampas devem ficar expostas ao sol. Assim
transforma o esgoto doméstico em adubo or- ro de caixas de fermentação deve aumentar na é melhor, para garantir a temperatura interna e
gânico pelo processo de biodigestão. proporção de 1 caixa para cada 2,5 moradores. MONTAGEM facilitar o processo de biodigestão;
Primeiro, deve ser escolhido o melhor local, de
Na Fossa Séptica deve ser colocado apenas o Para instalar esse tipo de fossa, deve-se ter es- Se for preciso aquecer mais, uma opção é pintar
acordo com o tamanho das caixas e do desnível
esgoto dos vasos sanitários. Ela não deve re- terco fresco (de vacas, búfalos, cabras e ove- a tampa das caixas de biodigestão de preto.
do terreno. Este local:
ceber as águas das pias, dos chuveiros e de ou- lhas), para garantir a fermentação do material.
tros usos, pois o grande volume de água e os O terreno deve ser firme e as caixas devem ficar
O esterco deve ser fresco para que as bactérias Deve ser seco, distante de cursos de água e do
produtos de limpeza interferem na biodigestão. niveladas, para que não se mexam, prejudicando
das fezes desses animais ainda estejam vivas lençol freático (pelo menos um metro);
a vedação ou mesmo acarretando vazamento
quando forem adicionadas à fossa. Se o ester-
O sistema imita o funcionamento do estôma- Deve ficar no mínimo 40 cm abaixo do nível do dos efluentes.
co for velho, as bactérias já terão morrido.
go de animais ruminantes, como, boi, búfalo e vaso sanitário;
cabra. As bactérias fazem um processo de fer- Na fossa deve ser ligado apenas o esgoto do
A cada mês deve ser colocada uma mistura de 5
mentação que gera calor e elimina boa parte Deve ser instalado perto da casa (a no máximo vaso; o restante deve ir para outros sistemas
litros de água e 5 litros de esterco fresco.
dos micróbios. 30 m de distância) para facilitar a manutenção (como o jardim filtrante). O esgoto de pias, tan-
O produto gerado no final do processo é um (lembre-se de que, se estiver funcionando cor- ques, chuveiro e outros prejudica a biodigestão,
Dentro da fossa, os resíduos são transforma- adubo rico em nitrogênio, fósforo e potássio, retamente, não terá cheiro ruim); pois tem sabão, detergente e outras substân-
dos em gás metano, que é eliminado pelos res- que pode ser usado puro no solo ou misturado cias, além da grande quantidade de água.
piros, e em esgoto tratado, que vira o adubo A posição da última caixa deve facilitar a retira-
com outros adubos orgânicos.
chamado biofertilizante. da do esgoto tratado por meio de baldes, bom- O prazo para a última caixa encher é de 20 dias.
Ele deve ser colocado no solo para que este faça bas ou permitir que ele escorra para áreas onde Se encher em menos tempo, deve-se instalar
O sistema é dimensionado de acordo com o nú- o filtro final. O ideal é o uso em pomares, em pés o adubo será usado; mais uma caixa ou, então, colocar um pouco de
mero de moradores da casa. O sistema básico, de frutas como banana, limão, goiaba e outros. cloro na última, para completar o tratamento.
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ESQUEMA DE MONTAGEM
MATERIAIS As caixas (5) são ligadas por canos de PVC,
As caixas devem ter forma arredondada, Item Quantidade Descrição com curvas de 90° longas (3) e conexão “T”
para melhor biodigestão; devem ser de fi- para inspeção (4). O sistema de alívio dos
bra de vidro ou de manilha de concreto. tubos cola de silicone
12 2
de 300g
gases é feito com tubos colocados nas
Caixas d’água de plástico (PVC) podem tampas das caixas de biodigestão (apenas
deformar e não funcionar direito. Adesivo para PVC –
13 1 a última fica sem tampa), com CAPs (tam-
100g
Os materiais e as ferramentas são facil- pas de PVC) nas pontas (2). Os CAPs devem
litro Neutrol (se usar caixa
mente encontrados em lojas de material de 14 1 de concreto, para passar ter quatro pequenos furos (de 2 mm cada)
construção. do lado de fora) para o gás sair.
As tabelas abaixo listam o necessário para 15 1 Aplicador de silicone O esterco é colocado no início do processo
um sistema com três caixas. para facilitar a biodigestão. Depois, deve
Arco de Serra
ser reposto uma vez por mês, usando-se a
16 1 com lâmina
Se for preciso, deve-se aumentar os itens de 24 dentes válvula retenção (1).
para uma caixa de biodigestão extra.
17 1 Pincel de 3/4” Na saída pode ser instalado um registro
de esfera (6) para facilitar a retirada do
Item Quantidade Descrição 18 1 Pincel de 4” adubo líquido, se houver desnível. Senão,
podem ser usados baldes ou outro siste-
19 1 Estilete ma para escoar.
01 3 Caixa de 1.000 litros
5 6
8 9
Jardim Filtrante calculado dependendo da quantidade de pes-
soas: dois metros quadrados para cada mora-
dor. O tanque precisa ser mais comprido do que
O Jardim Filtrante é uma alternativa para largo para que o sistema seja mais eficiente.
dar destino adequado ao esgoto rico em sa-
bões e detergentes, proveniente de pias, tan-
ques e chuveiros.
5m
Essas águas, chamadas de cinza, são
separadas das águas negras (dos vasos
sanitários) e levadas para um pequeno tanque,
2m
forrado por uma membrana e preenchido
com brita, areia e plantas, que agem como
absorventes de nutrientes e de contaminan-
tes. As plantas que ajudam nesse sistema de-
vem gostar de solo encharcado e ser resisten-
0.5 m
tes à presença de poluentes.
10 11
Essas plantas limpam a água, retirando nutrientes. Cuidado com plantas de alto poder de disper-
são, como o lírio-do-brejo. Suas raízes brotam
Monitoramento
As plantas escolhidas devem ser preferencial-
com facilidade e, por isso, não devem ser joga-
mente nativas da região.
das em qualquer lugar. Monitorar é acompanhar, medir a quanti-
Podem ser plantas que produzam flores e folha- dade e a qualidade das águas, para po-
De vez em quando, verificar e limpar as caixas
gens para formar um jardim ornamental, que tam- der entender os problemas e as soluções
de retenção de sólidos e de gordura.
bém podem ser produzidas para corte e venda. que couberem.
FOTO: Embrapa
Volume = 1 m2 x 0,01 m de altura (ou 10 mm)
Casa = 0,01 m3.
Monge
Esse volume pode ser determinado em li-
tros, lembrando que 1 m3 é igual a 1.000 li-
tros. Assim, uma chuva de 10 mm equivale
a um volume de 10 litros a cada metro qua-
drado: V = 0,01 x 1000 = 10 litros.
Resíduos saída
Geomembrana
sólidos de água
A qualidade da água é avaliada por um con-
Gordura Camada Nível junto de características físicas, químicas e
Entrada de água de brita da água tratada
de uso geral da casa biológicas, que podem mudar por ações do
(menos do vaso sanitário) homem ou por causas naturais.
Clorador montado
12 13
Cisternas para coleta
CARACTERIZAÇÃO DA ÁGUA de águas de chuva
As principais características da água que são analisadas são:
14 15
centes, entre outros. Nesse tipo de reserva,
são permitidas poucas atividades, que devem
CAR: Cadastro
ser de utilidade pública, interesse social ou de Ambiental Rural
baixo impacto.
16 17
PRA: Programa de Hídricos e de Mudanças Climáticas, a outras,
18 19
• Fazer a manutenção das cercas e dos aceiros;
• O plantio de mudas pode ser feito em • Em algumas situações, também pode
linhas, se isso facilitar a manutenção, ser feito o plantio com sementes de • Adubação de cobertura: o ideal é fazer pelo
principalmente das roçadas; espécies nativas, como quando a in- menos duas vezes durante o crescimento das
tenção é aumentar a diversidade em árvores, para acelerar o crescimento das mu-
• Atentar-se à conservação do solo.
áreas que já têm algumas árvores se das, plantadas ou mesmo as regenerantes;
desenvolvendo;
• Irrigação, se necessária;
CONTROLE DOS FATORES DE DEGRADAÇÃO • Adubação inicial: apesar de não existir
• Por exemplo: cercar a área, fazer aceiros, uma referência exata de adubação para • Controlar as formigas;
controlar as formigas, se necessário. espécies nativas, é importante fazer uma
• Replantio de mudas mortas.
análise de solo antes de começar o projeto.
PREPARO DA ÁREA E IMPLANTAÇÃO Quando a análise não está disponível, em
• Se necessário, controlar as competido- geral são usados adubos com mais fósforo.
MUDAS
ras (roçada e coroamento); Podem ser usados adubos químicos, orga-
As mudas de árvores podem ser produzidas em
nominerais ou orgânicos, e calcário.
• No plantio de mudas, o preparo do solo diferentes formas:
normalmente é feito em sulcos (com sul-
cador ou com subsolador) ou fazendo MANUTENÇÃO
apenas a abertura das covas (ou ber- São os cuidados após a implantação, que po- TUBETES
ços), com ferramentas manuais ou me- dem durar meses ou alguns anos, até que a São embalagens reaproveitáveis. Podem ter di-
Mudas em condição ideal
canizadas; área se desenvolva por si. As principais ativi- ferentes tamanhos. Os mais comuns são o “tu-
dades são: betinho” (com volume de 50 cm3) e o “tubetão”
• Na condução da regeneração natural
(280 cm3).
das nativas, deve-se fazer o coroamen- ESPÉCIES FLORESTAIS
• Controlar as plantas competidoras, com
to das mudas e a roçada entre elas; São menores, mais baratas e mais fáceis de Devem ser usadas mudas de arvores nativas da
roçadas e coroamento;
transportar e de plantar. região, adequadas aos locais (por exemplo, se
são mais úmidos ou secos).
Evitam o enovelamento das raízes.
É importante ter mudas dos dois tipos, de
Têm um custo maior na implantação do sistema
preenchimento e de diversidade (ver quadro abai-
USO DE HIDROGEL no viveiro, mas a muda é mais barata.
xo), misturadas. Se o plantio for feito em linhas,
Sempre que possível é bom colocar um pouco de devem ser plantadas alternadas na mesma linha.
hidrogel, já com água, no momento do plantio junto
com a muda. Esse é um produto que retém água para SACOS PLÁSTICOS Para montar um projeto de recomposição de
o desenvolvimento da planta. Hidrogel O volume pode variar, sendo os mais comuns de floresta nativa, as espécies são divididas em
250 a 500 cm3; dois grupos:
Cuidados no uso de hidrogel:
As quantidades dependem do tamanho da muda, e Solo As vantagens são o baixo custo no viveiro e o
se ela é de tubete ou saquinho; melhor desenvolvimento das mudas;
PREENCHIMENTO
Ele deve ser aplicado já hidratado (molhado) no Adubo
Já as principais desvantagens são que pode ha- Plantas que possuem bom crescimento e boa
momento do plantio; cobertura de copa, para fechamento rápido da
ver o enovelamento das raízes e o maior tama-
Não aplicar junto com o adubo químico. nho e peso, tornando o transporte e o plantio área plantada. Em geral são espécies pioneiras,
mais complicados. que crescem melhor em lugares abertos, ao sol.
20 21
Nas áreas em recomposição também pode ser problemas. Além de aumentar a quantidade binando de árvores nativas e exóticas com espé-
feito o plantio consorciado de espécies nativas de cercas, podem aumentar as erosões e a cies agrícolas, conforme regulamento estadual. No
produtoras de frutos, sementes, castanhas e poluição da água. estado de São Paulo, essa regulamentação ainda
outros produtos vegetais, para depois fazer a está em discussão.
Além disso, para o gado sempre é melhor não
extração sustentável não madeireira.
beber água muito fria, direto do córrego. Esse manejo não deve descaracterizar a cobertura
vegetal nem prejudicar a função ambiental da área.
Sempre é bom pensar em bebedouros, para
USO DE AGROTÓXICOS Para isso, deve obedecer a alguns princípios, como:
onde a água chega por gravidade ou por bom-
O uso do herbicida para controlar as gramíneas bas (como as de roda d’água ou do tipo carnei- • Controlar a erosão;
no preparo e na manutenção de reflorestamen- ro, que não usam eletricidade).
to não tem proibição específica na legislação. É • Manter permanentemente a c
importante verificar antes se não existe alguma obertura do solo;
objeção dos órgãos ambientais competentes MANEJO AGROFLORESTAL
ou por parte do proprietário, como certifica- • Limitar o uso de insumos agroquímicos,
SUSTENTÁVEL NAS APPS
ções. Todo cuidado é pouco, até porque essas priorizando-se o uso de adubação verde;
Na pequena propriedade, posse rural familiar ou
Jatobá é uma dos exemplos de muda de diversidade áreas estão próximas da água. nas comunidades tradicionais, as APPs podem • Não usar exóticas invasoras;
ser usadas com o manejo agroflorestal susten-
Alguns exemplos de espécies: aroeira pimen- Muitas vezes também é necessário fazer o con-
tável. Este pode ser feito com o plantio de espé- • Não usar a área para pasto de animais
teira, babosa branca, canafístula, capixingui e trole de formigas. É importante acompanhar
cies lenhosas, perenes ou de ciclo longo, com- domésticos (apenas acesso à água).
sangra d’água bem a situação para evitar maiores danos e di-
minuir o uso de formicidas. Se forem usados, é
preferível usar iscas que são levadas pelas for-
DIVERSIDADE migas para dentro dos formigueiros.
Nem sempre têm crescimento rápido ou boa co- O uso de agrotóxicos e demais produtos con-
bertura de copa, mas são importantes para con- trolados deverá obedecer aos procedimentos
tinuidade da floresta, substituindo depois as de técnicos e legais pertinentes, em especial: o
crescimento rápido. Em sua maioria são espécies Receituário Agronômico; a escolha das condi-
mais tardias, que crescem melhor na sombra. ções ambientais adequadas (dias sem vento e
Exemplos: canelas, cedro, embaúba, guanandi chuva, por exemplo); o uso dos Equipamentos
e ipês. de Proteção Individuais (EPIs) e Equipamentos
de Proteção Coletiva (EPCs) necessários e a
destinação correta das embalagens.
CULTIVO INTERCALAR
Para facilitar a manutenção e diminuir os custos,
pode ser feito o plantio em consórcio com espé- ACESSO AO GADO
cies agrícolas de cultivos anuais (horta, milho, etc.) Conforme a lei, é possível deixar corredores
por até cinco anos entre as árvores nativas. dentro das áreas de APP que estão sendo re-
compostas para o gado chegar até a água.
Nesse caso, o plantio não pode prejudicar a re-
cuperação da floresta e deve ser apresentado Entretanto, é importante planejar bem esses
um projeto ao órgão ambiental competente. corredores, pois eles podem trazer alguns Recomposição feita em APP de mata ciliar
22 23
Agroecologia • Enfoque sistêmico no planejamento e no
trabalho na propriedade rural;
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PRÁTICAS • Redução e eliminação do uso de insumos Na OCS, os produtos não têm um selo específi-
• Manejo racional da vegetação espontânea industriais sintéticos (adubos e agrotóxicos). co de orgânico.
e manutenção da cobertura do solo;
Dentro da agroecologia pode acontecer a tran-
• Preservação da estrutura do solo com a sição agroecológica, que é quando o agricultor
redução da aragem para manter a saúde deseja uma mudança em sua terra e em seu
dele e do cultivo; sistema produtivo dentro de uma visão mais
integrada e ecológica, com a racionalização do
• Valorização, resgate e troca de sementes uso de insumos externos, a gradual redução e
e de variedades adaptadas localmente (se- eliminação do uso de agrotóxicos e insumos
mentes crioulas); sintéticos, a aplicação de insumos orgânicos
• Rotação de culturas e adubação verde e, por fim, um replanejamento ou redesenho do SISTEMA PARTICIPATIVO
(plantas utilizadas para melhorar a fertili- agroecossistema. DE GARANTIA ( SPG )
dade da terra); No Sistema Participativo de Garantia (SPG),
a certificação é de responsabilidade coletiva
• Promoção da reciclagem de nutrientes dos membros. Produtores, consumidores, téc-
dentro da propriedade com adubação ver- Produção orgânica nicos e demais interessados formam uma Or-
de, reúso e compostagem de resíduos; ganização Participativa de Avaliação da Con-
• Foco na saúde dos cultivares (variedade de Atualmente, o mercado de alimentos orgânicos formidade (Opac).
espécies vegetais) e das criações animais cresce no país. Em muitos casos, produtores Para ser considerado orgânico, o alimento deve Não há custo direto, e sim uma responsabilidade
a partir de ambientes menos estressantes que fizeram a transição e conseguem articular ser cultivado em um ambiente de produção com coletiva de seus membros, que devem fazer trocas
e de uma nutrição equilibrada; a venda têm tido retorno econômico, devido à o uso responsável do solo, da água, do ar e dos e vistorias mútuas nas propriedades envolvidas.
redução de custos externos e à agregação de demais recursos naturais, respeitando as rela-
• Uso de barreiras de vento, de policultivos e O agricultor pode vender para outros mercados
valor nos produtos. ções sociais e culturais. O sistema de garantia de
de Sistemas Agroflorestais; ou para intermediários se tiver o selo de certi-
produtos orgânicos do Brasil tem três categorias:
• • Produção local de insumos como compos- ficação para isso. Também pode participar dos
to, bokashi (um tipo de composto orgânico programas de compras do governo.
enriquecido com microrganismos benéfi- ORGANIZAÇÃO DE CONTROLE
cos), biofertilizantes e caldas naturais para SOCIAL ( OCS )
o controle de pragas e doenças; OCS é um grupo de agricultores que troca expe- CERTIFICAÇÃO
riências e visitas para verificar se cada membro POR AUDITORIA
• Uso racional dos recursos minerais como do grupo está cumprindo as normas de produ- Nesse sistema, a avaliação é feita por uma em-
pós de rochas (rico em fósforo e micronu- ção orgânica. Essa organização é cadastrada presa certificadora credenciada no Ministério
trientes); no Ministério da Agricultura, e os agricultores da Agricultura. Em geral, este é um serviço que
passam a fazer parte do Cadastro Nacional de é cobrado. Nesse sistema, o agricultor paga so-
• Integração da criação de animais no sistema;
Produtores Orgânicos. zinho ou forma um grupo para dividir os custos
• Preservação das matas e de áreas de re- do processo.
Serve como um reconhecimento que permite ao
fúgio próximas ao cultivo, favorecendo o
agricultor vender sua produção diretamente em Os produtos podem ser comercializados com
aparecimento e a manutenção de inimigos
feiras e nos programas de compras do gover- um intermediário ou via venda direta usando
naturais das pragas da lavoura;
no (Programa de Aquisição de Alimento, PAA, ou selo próprio. Também é possível participar dos
Venda de orgânicos deve ser certificada Política Nacional de Alimentação Escolar, PNAE). programas de compras do governo.
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COMO USAR Também é preciso analisar quais vão crescer
O planejamento é o primeiro e um dos mais primeiro e o espaço ocupado por suas copas.
importantes passos para o agricultor que pre- Espécies com a função de adubação podem ser
tende implantar uma agrofloresta. A prática do inseridas depois, já que serão podadas com al-
planejamento, ainda que para alguns seja um guma frequência e, assim, introduzidas na área
desafio no início, ajuda o agricultor a melhorar com maior densidade.
sua estratégia de instalação e, principalmente,
a evitar equívocos na distribuição das espécies O agricultor pode até reunir em um quadro as
– o que poderia gerar mais trabalho no futuro. características das plantas, para pensar como
elas deverão ser plantadas e em que época da-
Deve-se fazer um desenho mostrando o espa- rão frutos, entre outros aspectos.
çamento e a distribuição das diferentes espé-
cies no campo. Vale fazer símbolos com cores As características do terreno são cruciais, e o
ou com letras diferentes para identificar os agricultor sempre conhece melhor a sua área
distintos elementos. Comece o desenho pelas do que outra pessoa. Se optar por implantar
plantas de porte maior, ciclo mais longo e maior o SAF em um solo mais degradado, deve con-
interesse, pois no futuro o agricultor precisará siderar que demandará mais esforços e mais
Modelo de SAF com plantio em linhas
definir qual manterá na área se forem inseridas tempo para recuperar a fertilidade do local. Ou,
muito próximas. Depois, coloque as plantas de se o agricultor dispuser de mais recursos, pode
ciclos mais curtos e menor porte. utilizar insumos externos no momento da insta-
lação (como pó de rocha e composto, por exem-
Sistemas agroflorestais grupos funcionais e a sucessão ecológica (altera-
ções graduais na composição, na estrutura e no
É importante pensar em diferentes etapas para plo), deixando que o manejo do SAF dê conta da
sistemas sucessionais (aqueles que se modifi- melhoria do solo em médio e longo prazos.
funcionamento dos ecossistemas resultantes da
cam com o tempo). Desenhamos como o siste-
Os Sistemas Agroflorestais (SAFs) são formas interação contínua entre os organismos e destes As agroflorestas sucessionais biodiversas são
ma deverá estar com um, dois, quatro ou dez
de uso da terra e de produção que reúnem, no com o ambiente) são alguns dos princípios do SAF. sistemas com uma grande diversidade e densida-
anos. Isso porque, a cada etapa, haverá um con-
mesmo espaço, espécies agrícolas (agro), arbó- junto diferente de plantas ocupando o espaço
Os objetivos gerais do SAF são a recuperação do
reas (florestais) e animais. Todos são maneja- (estratos verticais e espaço horizontal) e po-
equilíbrio e da fertilidade dos agroecossistemas,
dos em conjunto em um mesmo local, de acordo demos pensar em quais serão favorecidas em
a diversificação de produtos, a geração de fonte
com os objetivos do agricultor. cada momento, ajudarão a criar as espécies do
de renda para a família e o melhor aproveitamen-
Os SAFs melhoram as condições socioeconô- to da mão de obra e dos recursos disponíveis. ciclo seguinte e poderão competir entre si den-
micas e contribuem significativamente para o tro de um mesmo ciclo.
Existem SAFs mais simples, com menor biodiver-
aumento da biodiversidade das unidades fami- É interessante avaliar o tamanho das copas e,
sidade e serviços ecológicos, e outros comple-
liares, colaborando também para a adequação consequentemente, colocar as plantas com co-
xos, mas todos trazem uma diversidade maior de
à legislação ambiental. pas muito parecidas distantes umas das outras
produtos e de benefícios ambientais. O mais im-
Existem várias formas de aplicar os Sistemas portante, afinal, é que o agricultor compreenda e para que não haja competição por luz entre elas.
Agroflorestais, atendendo a diferentes objeti- valorize alguns princípios e faça um bom planeja- É importante também lembrar sempre das ca-
vos e situações. mento. A ideia é seguir o que ele considera melhor racterísticas das plantas, seu porte e ritmo de
para si e avaliar como os Sistemas Agroflorestais crescimento, observando também as posições
O aumento da ciclagem de nutrientes, a produção podem ajudá-lo em curto, médio e longo prazos. delas em relação à trajetória do sol pela área.
de biomassa, a diversificação de espécies e de SAF na Fazenda Ipanema, Iperó
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SISTEMAS SILVIPASTORIS
de de espécies e de grupos funcionais. Por meio Espécies arbóreas, culturas agrícolas e animais
delas, busca-se uma similaridade com a dinâmica podem ser integradas nos sistemas silvipasto-
e com o funcionamento da floresta nativa local e ris (árvores e pasto) e agrossilvipastoris (agri-
uma grande diversidade de produtos. cultura, árvores e pasto).
Nela, cada planta ajuda a criar a outra que nas- Há diversas formas de fazer essa integração,
cerá a seguir (a chamada sucessão ecológica). que podem ser:
A evolução do sistema ocorre desde um estágio QUINTAIS
inicial, com plantas rústicas e de crescimento
AGROFLORESTAIS • o uso de árvores para a divisão de piquetes
POMARES
Estes visam diretamente o consumo no pasto, ou o plantio de faixas ou espalha-
rápido. Estas dão espaço a outras espécies de AGROFLORESTAIS
da família. Por isso, normalmente, o das no pasto, para dar sombra e alimento
ciclo mais longo, transformando gradualmente São sistemas de cultivos perenes seme-
grupo de plantas que faz parte dos aos animais e ajudar na recuperação do
a área em um sistema com porte maior e com lhantes a pomares. A diferença está em
quintais agroflorestais é diverso: er- solo;
mais complexidade. conterem espécies com funções produ-
vas usadas como temperos, plantas
• a integração da criação de animais em tivas e outras com funções ecológicas,
Cada planta ocupa um “andar” (estrato). Ou medicinais; plantas olerícolas (de hor-
áreas de cultivos perenes de porte grande fornecendo sombreamento e reciclagem
seja, plantas com tamanhos diferentes ocu- ta), como couve, taioba, milho e man-
e espaçamento largo; de nutrientes. Podem ter as espécies “car-
pam vários níveis de altura dentro do consórcio. dioca; e espécies tardias, como frutí-
ros-chefes”, ou seja, presentes em maior
Plantar árvores com alturas e ritmos de cresci- feras, palmito e lenha. Além disso, nos • o uso de algumas espécies de árvores quantidade, visando à produção comercial.
mento distintos estimula a cooperação por luz quintais muitas vezes existem espé- como alimento para os animais;
em vez da competição. Desse modo, um maior cies utilizadas unicamente com a fun-
número de plantas pode ocupar a mesma área. ção ornamental ou de gerar sombra. • o plantio de espécies que alimentam as
abelhas (o pasto apícola).
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QUEBRA-VENTOS
Mesmo com pouca mudança na forma de traba-
lhar a terra, traz vantagens para o agroecossiste-
ma por impedir a ação de ventos excessivos que
roubam a umidade do solo e das plantas e que
trazem doenças para a lavoura. Os quebra-ventos
podem incluir outros elementos produtivos, como
madeiras, frutas, forragem e pasto apícola.
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