Você está na página 1de 7

1 Leis de Conservação

O Teorema do Transporte de Reynolds é um teorema fundamental na derivação


de várias leis de conservação, como lei de conservação de massa, carga, quan-
tidade de momento conservação de energia e outras. Portanto é essencial
entende-lo e utiliza-lo na derivação de inúmeras relações importantes que
permeiam todos os âmbitos da fı́sica.

2 Derivada Material
A taxa de variação de uma propriedade de um fluido em escoamento pode
ser analisada de duas maneiras. A primeira obtém a taxa de variação con-
siderando um ponto fixo no espaço, ou seja, a variação da propriedade do
fluido considerada é analisada a partir da propriedade das partı́culas que pas-
sam por esse ponto fixo. A segunda maneira obtém a variação seguindo uma
partı́cula do fluido ao longo do escoamento, ou seja, o referencial consider-
ado é móvel e tem velocidade ~υ no ponto e tempo considerados. A primeira
análise é chamada de abordagem Euleriana e a segunda de abordagem La-
grangiana. A derivada com relação à um ponto fixo é chamada de Derivada
Espacial enquanto a derivada considerando um ponto móvel é chamada de
Derivada Material. Analisando primeiramente a derivada de um campo es-
calar f (~x, t) teremos usando a regra da cadeia:
df ∂f dx ∂f dy ∂f dz ∂f
= + + +
dt ∂x dt ∂y dt ∂z dt ∂t

Considerando a velocidade do fluido ~υ = ( dx , dy , dz ):


dt dt dt

df ∂f
= + ~υ · ∇f
dt ∂t

Utilizando-se agora da operação em coordenadas cartesianas definida por:


D ∂
≡ + (~υ · ∇)
Dt ∂t

Teremos:

1
Df ∂f
= + (~υ · ∇)f
Dt ∂t

Que caracteriza a derivada material de f (~x, t). A operação (~υ · ∇) também


~ = (P, Q, R) teremos derivando com
vale para campos vetoriais então se φ
relação ao tempo:

~
dφ ∂P ∂Q ∂R
=( + ~υ · ∇P , + ~υ · ∇Q , + ~υ · ∇R ) ⇒
dt ∂t ∂t ∂t
dφ~ ~
∂φ
⇒ = (~υ · ∇)( P, Q, R ) +
dt ∂t

~
dφ ~
∂φ
⇒ = ~
+ (~υ · ∇)φ
dt ∂t

3 Teorema da Divergência de Gauss Modifi-


cado
Imaginemos dois campos vetoriais F~ e G
~ e consideremos a seguinte integral:

F~ (G ~
~ · dA)
RR
A

Assumindo que F~ = (P, Q, R) num sistema de coordenadas cartesianas vem:

~ =
~ · dA)
RR
A
( P , Q , R )(G

~ , Q(G
~ · dA) ~ , R(G
~ · dA) ~ )
~ · dA)
RR
A
( P (G

Aplicando o teorema da divergência de Gauss à cada componente de F~ :

~ , ∇(QG)
~ , ∇(RG)
~ ) dV =
RRR
V
( ∇(P G)

~ + P ∇· G
~ , ∇Q · G
~ + Q ∇· G
~ , ∇R · G
~ + R ∇· G
~ ) dV =
RRR
V
( ∇P · G

~ · ∇)( P, Q, R ) + ( P, Q, R )(∇ · G)
~ ]dV =
RRR
V
[ (G

2
~ · ∇)F~ + F~ (∇ · G)
~ ]dV ⇒
RRR
V
[ (G

ZZ ZZZ
F~ (G ~ =
~ · dA) ~ · ∇)F~ + F~ (∇ · G)
[ (G ~ ]dV (0)
A V

A partir daqui nos referiremos à esse teorema apenas como teorema de Gauss
em sua aplicação para campos escalares ou vetoriais.

4 Teorema de Transporte de Reynolds


Vamos admitir que a variação temporal de uma quantidade vetorial ou es-
calar ϕ ~ dentro de um volume de controle se deva a dois fatores que são a
~
variação de sua densidade volumétrica com relação ao tempo ∂∂tφ e a variação
provocada pelo escoamento da quantidade com velocidade ~υ através da su-
perfı́cie do volume de controle. Então a variação total com relação ao tempo
é:

d~
ϕ d
ZZZ ZZZ ~
∂φ
ZZ
= ~ dV =
φ dV + ~ υ · dA)
φ(~ ~ (1)
dt dt V ∂t A

Esta equação é conhecida como Teorema de Transporte de Reynolds. Pode-


mos simplificá-la utilizando o teorema da divergência de Gauss aplicado à
segunda parcela do lado direito da igualdade e unindo os integrandos:

∂φ~ ~
~ +φ(∇
~ · ~υ ) ]dV = Dφ ~ · ~υ ) ]dV ⇒
RRR RRR
V
[ + (~υ · ∇)φ V
[ Dt
+ φ(∇
|∂t {z }
~

Dt

d
ZZZ ZZZ ~

~ dV =
φ [ ~ · ~υ ) ]dV
+ φ(∇ (2)
dt V V Dt
~
Nesta última equação o termo DDtφ é chamado de derivada material de φ ~ com
relação ao tempo e ~υ é o campo de velocidades dentro do volume de controle.
Para os casos onde o fluido é incompressı́vel, ou seja, ∇ · ~υ = 0 a equação (2)

3
fica:

d~
ϕ d
ZZZ ZZZ ~

= ~ dV =
φ dV (3)
dt dt V V Dt

5 Conservação de Massa
Se no lugar da quantidade vetorial ϕ ~ consideramos a massa m e sua densi-
dade ρ dentro do volume de controle e se além disso considerarmos o fluido
incompressı́vel então aplicando a equação (3):

dm d Dρ
RRR RRR
dt
= dt V
ρ dV = V Dt
dV ⇒

dm
( ∂ρ
RRR
⇒ dt
= V ∂t
+ ~υ · ∇ρ) dV

dm
Então se a massa se conserva dentro do volume de controle dt
= 0 vem:

( ∂ρ
RRR
0= V ∂t
+ ~υ · ∇ρ) dV ⇒
∂ρ
⇒ ∂t
+ ~υ · ∇ρ = 0

Como consideramos ∇ · ~υ = 0 então ~υ · ∇ρ = ∇ · ρ~υ :


∂ρ
+ ∇ · ρ~υ = 0 (4)
∂t
Conhecida como Equação de Continuidade da Massa.

6 Equação de Bernoulli
Ainda assumindo fluidos incompressı́veis com ϕ
~ =Q ~ = ρ~υ temos nova-
~ eφ
mente pela aplicação de (3):

~
dQ
ZZZ
Dρ~υ
= dV (5)
dt V Dt

4
Se considerarmos o fluido incompressı́vel e não viscoso, ou seja, livre de forças
tangenciais e que as únicas forças externas sejam a força peso F~g e a força
devido ao fluido circundante que exerce uma pressão no volume de controle
F~p teremos pela segunda lei de Newton:
~ (5)
dQ
= F~ext = F~g + F~p → Dρ~
υ
dV = F~g + F~p ⇒
RRR
dt V Dt

Dρ~
υ ~
RRR RRR RR
V Dt
dV = V
ρ~g dV − A
P dA

~=
RR RRR
Pelo teorema do gradiente A
P dA V
∇P dV :
Dρ~
υ
RRR RRR RRR
V Dt
dV = V
ρ~g dV − V
∇P dV ⇒

( Dρ~
υ
RRR
V Dt
− ρ~g + ∇P ) dV = 0 ⇒

Dρ~υ
− ρ~g + ∇P = 0 (6)
Dt

Essa relação é também conhecida como Equação de Euler uma das relações
mais fundamentais da Dinâmica dos Fluidos.
Como o fluido considerado é incompressı́vel temos ρ = cte e assim a equação
de Euler pode ser reescrita:

D~
υ
Dt
− ~g + ∇( Pρ ) = 0

Expandindo a derivada material:

∂~υ P
+ (~υ · ∇)~υ − ~g + ∇( ) = 0 (7)
∂t ρ

Considerando a seguinte identidade vetorial:

∇(F~ · G)
~ = F~ × (∇ × G)
~ +G
~ × (∇ × F~ ) + (F~ · ∇)G
~ + (G
~ · ∇)F~ (8)

Se fizermos F~ = G
~ = ~υ ficaremos com a seguinte relação:

υ2
∇( ) = ~υ × (∇ × ~υ ) + (~υ · ∇)~υ (9)
2
5
Que em (7) nos dá:

∂~υ υ2 P
+ ∇( ) − ~υ × (∇ × ~υ ) − ~g + ∇( ) = 0 (10)
∂t 2 ρ

Utilizando o sistema de coordenadas cartesianas padrão podemos fazer


~g = −∇(gz) e a equação anterior fica:

∂~υ υ2 P
+ ∇( ) − ~υ × (∇ × ~υ ) + ∇(gz) + ∇( ) = 0 (11)
∂t 2 ρ

Assumindo o escoamento em regime permanente ∂~ υ


∂t
= 0, irrotacional
∇ × ~υ = 0 e organizando os gradientes na fórmula anterior, chegamos à uma
importante relação:
2
∇( υ2 + gz + Pρ ) = 0 ⇒

υ2 P
2
+ gz + ρ
= cte ⇒
ρυ 2
+ ρgz + P = cte (12)
2

Conhecida como Equação de Bernoulli para fluidos irrotacionais em regime


permanente, não viscosos cuja a única força de campo é a força peso dev-
ido à ação do campo gravitacional. Apesar desta equação ser extremamente
útil para relacionar pressões e velocidades na posição vertical do fluido, ela
é válida apenas para fluidos irrotacionais que na prática não são muito fre-
quentes porém é possı́vel fazer uma formulação menos restrita abrangendo
fluidos rotacionais e para isso recorremos à equação (11) com ∂~ υ
∂t
=0:
2
∇( υ2 + gz + Pρ ) − ~υ × (∇ × ~υ ) = 0

Multiplicando escalarmente por um versor υb tangente à velocidade ~υ num


determinado ponto:
2
υb · [ ∇( υ2 + gz + Pρ ) − ~υ × (∇ × ~υ ) ] = 0

Como υb · [ ~υ × (∇ × ~υ ) ] = 0 ficamos com:

6
2
υb · [ ∇( υ2 + gz + Pρ ) = 0 ] ⇒
2
∇( υ2 + gz + Pρ ) = 0 ⇒
ρυ 2
2
+ ρgz + P = Constante ao longo de uma linha de corrente num fluido
rotacional, ou seja essa é a formulação, também creditada à Daniel Bernoulli,
para fluidos rotacionais porém vale ressaltar que ela é aplicável apenas ao
longo de uma linha de corrente. Os termos na equação de Bernoulli podem
ser identificados como:

υ2
1. 2
Chamada de pressão dinâmica.

2. ρgz Chamada de pressão hidrostática devido à ação da gravidade.

3. P Chamada de pressão termodinâmica ou estática.

Você também pode gostar