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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E


CONTÁBEIS

O PRÍNCIPE
Nicolau Maquiavel

São João Del Rei / MG


Maio / 2008
Trabalho realizado para obtenção de créditos
Na disciplina de Disciplina Política, Trabalho e Sociedade,

Profª. Manuel Jauará

Alunos: Fabíola Alves


Jesmar Neves
Juliana Barros
Lucas Alves
Maria Eugenia
Wagner Oliveira

São João Del Rei / MG


Maio / 2008
Organização, Pesquisa e Apresentação.

Fabiola Alves, Juliana Barros, Maria Eugenia, Jesmar Neves, Lucas Alves, Wagner Oliveira

Turma: 1º Período de Administração – Noturno / Ano 2008


UFSJ - Universidade Federal de São João del Rei.
Introdução

De nada importa nosso comentário simplório sobre esta obra, ela por si se faz
grandiosa e atua o presente, dado a Lourenço de Médici é sobremaneira ímpar e
salutar, nos remete a pontos de vistas diversos, nos faz viajar pelos séculos a
entender o que irremediavelmente Nicolau Maquiavel pretendia, contudo, ao fim, na
luz deixada pelo homem Maquiavel encontramos a resposta, doce e sutil. O amor pela
Itália, faz de Maquiavel, o Pai da Ciência política e o coloca como um dos grandes
pensadores da História.

Esperamos que este trabalho de pesquisas “.... se diligentemente considerado e lido,


encontrará nosso extremo desejo de que lhe advenha aquela grandeza que a fortuna e
as outras qualidades lhe prometem...” Nicolau Maquiavel.
Renascimento

Período da história do mundo ocidental com um movimento cultural marcante na


Europa, considerado como um marco final da idade média e início da idade moderna,
caracterizando a transição do feudalismo para o capitalismo. O homem que era antes
submisso aos senhores feudais e a igreja deu lugar a um homem consciente de sua
importância como ser racional, livre e individual. Como presta mais atenção em si
mesmo, o renascimento é tido como um movimento intelectual e cultural. Começou no
séc. XIII na Itália e definiu-se pela Europa no decorrer dos séc. XV e XVI. Atingiu a
filosofia, as artes e as ciências. Fez parte das transformações culturais, sócias,
econômicas, políticas e religiosas. Atingindo as camadas urbanas da Europa ocidental.

A Itália foi o berço do renascimento porque possuía características propícias para essa
mudança:

• Desenvolveram graças aos contatos comerciais com o oriente e suas idéias


• Comerciantes ricos financiavam e a protegiam os artigos (burguesia já implantada)

A invenção da imprensa, no séc. XV que contribuiu para a concretização das idéias


renascentistas na Europa.
Itália do Século XVI

No início do séc. XVI a Itália já estava dividida em pequenos principados. Governada


por uma casta de homens sem escrupulosos sem tradição dinástica, a crise do poder
era resultado da instabilidade política com origem na ilegitimidade do poder.

Essa instabilidade gera situações de crise, onde somente o cálculo político, a astúcia e
a ação política são capazes de manter o príncipe no poder. Com o tratado de Lodi
Itália vive um momento de relativa paz, menos enfraquecida a Itália prospera e lidera o
movimento renascentista.
Os Médici

Florença era governada pela dinastia Médici. Em 1469 com a morte do pai, Lourenço e
Juliano Médici tornam-se príncipes de Estado. No mesmo ano nasce Maquiavel.

Nesse período a Itália encontra-se dividida em pequenos principados, a crise do poder


era resultado da instabilidade política com origem na ilegitimidade do poder, enquanto
outros países como Espanha, Inglaterra e França eram nações unificadas.

Em 1478 acontece uma conspiração promovida pelos Pazzi, e incentivados pelo Papa
Sixto VI, inimigos da família Médici. O plano era matar os irmãos Médicis e tomar o
poder.

Em 26 de abril Juliano morre e Lourenço consegue escapar. Nesse período Maquiavel


já estava com seus nove anos e a tudo assistiu. Em 1480 Lourenço vai para Nápoles,
permanece lá durante 3 meses.

Lourenço consegue convencer o rei de Nápoles restaurar a paz, pois o Papa também
poderia voltar-se contra ele (se caso obtivesse sucesso no norte), colocando
condições favoráveis tanto para o rei de Nápoles quanto para o Papa. Lourenço
governa em clima de prosperidade pública, aumentando a influência de sua família por
toda a Itália.

Lourenço utilizava-se de meios de espionagens para interferir na vida privada dos


cidadãos, mas conseguiu levar o comércio e a indústria de Florença a um nível
superior ao de qualquer outra cidade européia.

Lourenço era protetor de escritores, sábios e artistas, foi o impulsor das primeiras
imprensas italianas e iniciou o movimento renascentista.
Após sua morte, seu filho e sucessor Pedro II é expulso de Florença por uma revolta
instigada por Savoranola, em 1494. O equilíbrio político é rompido e as rivalidades
entre os estados italianos acabaram por dar espaço ao envolvimento de potências
estrangeiras nas disputas.

Em 1501 César Bórgia, filho do Papa Alexandre VI, invade Florença exigindo o retorno
dos Médicis. Aliados Franceses para socorrer Florença e a república ameaçada envia
Maquiavel junto com Soderini para ganhar tempo com invasor.

Esse episódio tem grande importância para Maquiavel, porque foi o primeiro encontro
com aquele que viria ser o modelo de o Príncipe. Nessas situações fortalece o poder
executivo e Maquiavel deixa de ter tanta importância após a designação de Soderini
para o cargo mais alto.
Pensamento Clássico x Medieval

Pensamento Clássico Construir o Reino de Deus na Terra

Gregos: idéia da sociedade natural: Conduzir à salvação, corrigindo, como


homem é ser político: realiza-se pela vida castigo e remédio, a natureza decaída do
na “polis“-vida em sociedade; o homem é homem.
um animal político. Pólis: componente
social e político. Como por exemplo, em Instituir e fortalecer a fé e a moral cristã.
Aristóteles.
Obediência: é obrigação civil de ordem
Não há conceito de indivíduo: o cidadão divina. Soberanos também têm limites de
grego representa a síntese do social e do poder.
político: concepção holística, perfeição
física, moral e estética.
Homem medieval: deve obedecer ao
governo terreno até o limite do governo
Perspectiva dinâmica: movimento cíclico divino, através da idéias de justiça. Define-
de dois termos. se, assim, a diferença entre um suserano e
um tirano.
Pensamento dualista: mundo das formas
idéais X mundo real (um pálido reflexo do Suseranos também têm obrigações: seu
mundo ideal) Em Platão e no platonismo. poder não é ilimitado: são responsáveis
perante Deus pela tarefa de instaurar o
Helênicos: mantém a idéia da sociabilidade reinado da justiça e da piedade.
natural, mas a referência já não é a pólis,
mas a sociedade. Justiça é o que distingue tiranos dos
suseranos legítimos.
Surge a concepção de indivíduo: homem
como unidade distinta, dotada de valor Suserano medieval: é um juiz e não um
próprio no seio da universalidade humana. legislador.

Idéia do individualismo helênico: diferente Justiça: definida pela lei


do conceito de individualismo possessivo
do pensamento moderno.
Lei: conjunto de costumes baseados no
direito natural: inscritos pela fé no coração
Individualismo associado ao universalismo. dos homens: consciência coletiva

Cristianismo primitivo: individualismo e Ordem medieval: holística, tem natureza


universalismo se compõem na realização moral e religiosa. O conceito que melhor a
do projeto teológico: a construção do reino define é o de comunidade e não de
de Deus, a salvação do homem e da sociedade.
humanidade.
Fragmentação do poder: não há Estado
Homem: acentua-se a idéia das nacional com poder centralizado, mas
contradições; dualidade: humano X divino; grandes constelações de poderes locais
material X espiritual; pecado X graça autônomos, articulados em redes de
suserania e vassalagem.
Pensamento Medieval
Sociedade hierárquica: papéis sociais são
Dualismo das concepções cristãs: a definidos por origem.
Cidade dos Homens (autoridade política) e
a Cidade de Deus (poder divino). Estamentos: códigos distintos de direitos e
deveres: relações contratuais: contratos
Autoridade política: instrumento de Deus comunitários que obrigam mutuamente
para a promoção da justiça e do bem: o cada categoria social conforme o seu
seu exercício é humano, mas a sua origem estatuto específico.
e a sua finalidade são divinos.
Nicolau Maquiavel

Maquiavel nasceu em Florença no ano de 1469. Sua família não era de aristocratas nem
rica. Seu pai um advogado, era estudioso das humanidades se empenhou em transmitir
uma aprimorada educação clássica para seu filho, que desde pequeno aprendeu a
conviver com os livros, principalmente os clássicos, na biblioteca de casa.

Aos nove anos assiste ao assassinato de Juliano Médici na catedral de Florença, e vê


Lourenço que escapar com vida.

Já aos vinte e nove anos exerce seu primeiro cargo na vida pública, como segundo
chanceler. Nessa atividade, cumpriu uma série de missões, tanto fora da Itália como
internamente.

Em 1500 foi enviado a França onde se encontrou com Luís XII e com o Cardeal de
Orleães.

Em 1502 sua missão mais memorável, acontecida quando visitou César Bórgia
estabelecido na Romagna, foi objeto de um relatório em 1503 intitulado “Descrição da
Maneira empregue pelo Duque Valentino (César Bórgia) para Matar Vitellozzo Vitelli,
Oliverotto da Fermo, Signor Pagolo e o Duque de Gravina, Orsini”, no qual descreveu com
uma precisão cirúrgica os assassinatos políticos do filho do Papa Alexandre VI Bórgia,
explicando sub-repticiamente a arte política ao principal dirigente de Florença, o indeciso e
timorato Pier Soderini.

Neste mesmo ano, Maquiavel casa-se com Marieta Corsini, com quem teve quatro filhos e
duas filhas.
Em 1504 regressa a França, e no regresso, inspirado nas suas leituras sobre a História
Romana, apresenta um plano para a reorganização das forças militares de Florença, que
é aceito.

Em 1509 dirigiu o pequeno exército miliciano de Florença para ajudar a libertar Pisa,
missão que foi coroada de sucesso.

Em 1510 Maquiavel, inspirado por sua leitura sobre historia romana, organizou uma
milícia civil da República de Florença.

Em 1512 cai o governo de Soverini, E os Médici voltam ao poder.

Em 1513 Maquiavel torna-se suspeito de envolvimento numa conspiração contra o novo


governo, foi preso e torturado por ter supostamente colaborado contra a família Médici.

Lourenço de Médici retoma o poder como Papa Leão X.

É permitido a Maquiavel que se mude para São Cassiano, cidade próxima a Florença.
Sem perspectiva de conseguir uma nomeação para um novo governo Maquiavel se
dedicou a escrever livros.

Sua vida é rotineira e simples assim como descreve em uma carta enviada ao amigo
Francisco Vetor, a quem confia vários pedidos de intercessão junto aos Médici para voltar
a vida pública. A obra então dedicada aos Médici na esperança de ser reconduzido a um
emprego público.

Em Maio de 1527, tendo os Médici sido expulsos de Florença novamente, Maquiavel


tentou reocupar o seu lugar na Chancelaria, mas o posto foi-lhe recusado devido à
reputação que “O Príncipe” já lhe tinha granjeado.

Duas das obras de Maquiavel foram publicadas em vida, La Mandragola (A Mandrágora),


de 1515, publicada em 1524, um grande sucesso na época, ainda hoje considerada uma
das mais brilhantes comédias italianas e o tratado Arte della guerra ( A Arte da Guerra),
de 1519-1520, que tem como cenário as reuniões intelectuais dos Ortii Oricellari (Jardins
de Rucellai), local onde se reunia a Academia Florentina e onde tinha sido colocada a
estatuária retirada aos Médici.
Foi neste cenáculo que Nicolau Maquiavel leu uma versão Discursos sobra a primeira
década de Tito Lívio, escritos em 1517 e publicados em 1531. As suas outras obras incluem
a Vita di Castruccio Castracani (1520), um condottieri (comandante de homens) que
governou Lucca de 1316 a 1328, uma Istorie Fiorentine (escrita entre 1520 e 1525), as
comédias Clizia (escrita por volta de 1524) e Andria, o conto Belfagor.

Maquiavel é identificado como alguém que tinha ligações com os tiranos, os Médici, assim a
república considerou-o inimigo, desgostoso adoece e morre em junho do mesmo ano.

Sociedade de Maquiavel (1469-1527)

 Cristandade em decadência: conflitos entre o poder divino (Igreja) e o poder


temporal (Estado);
 Processo de ascensão do capitalismo: mercantilismo;
 Desenvolvimento do Estado Nacional: soberanos locais são absorvidos pelo
fortalecimento das monarquias e pela crescente centralização das
instituições políticas (cortes de justiça, burocracias e exércitos);
 Estado absoluto: preserva a ordem de privilégios aristocráticos (mantendo
sob controle as populações rurais), incorpora a burguesia e subordina o
proletariado incipiente;
 Inglaterra e França: consolidam poder central;
 Itália não realiza unificação nacional: é um conglomerado de pequenas
cidades- estado rivais, disputados pelo Papa, Alemanha, França e Espanha.

Concepção de homem em Maquiavel

 Racionalidade instrumental: busca o êxito, sem se importar com valores


éticos;
 Cálculo de custo/benefício: teme o castigo;
 Natureza humana:
 Homem possui capacidades: força, astúcia e coragem;
 Homem é vil, mas é capaz de atos de virtude;
 Mas não se trata da virtude cristã;
 Não incorpora a idéia da sociabilidade natural dos antigos;
 O homem não muda: não incorpora o dogma do pecado original: natureza
decaída que pode se regenerar pela salvação divina.

Concepção da História em Maquiavel


 Perspectiva cíclica, pessimista, de inspiração platônica;
 Tudo se degenera, se sucede e se repete fatalmente;
 Todo princípio corrompe-se e degenera-se;
 Isto só pode ser corrigido por acidente externo (fortuna) ou por sabedoria
intrínseca (virtu);
 Não manifesta perspectiva teológica humanidade não tem um objetivo a ser
atingido;
 A política não admite a teologia cristã: o caminho da salvação, a construção
do Reino de Deus entre os homens;
 Também não pensa a história sob a perspectiva dos modernos: não
menciona a idéia do progresso à estrutura cíclica.

Concepção de Política em Maquiavel

 Política: pela primeira vez é mostrada como esfera autônoma da vida social
 Não é pensada a partir da ética nem da religião: rompe com os antigos e
com os cristãos;
 Não é pensada no contexto da filosofia: passa a ser campo de estudo
independente;
 Vida política: tem regras e dinâmica independentes de considerações
privadas, morais, filosóficas ou religiosas;
 Política: é a esfera do poder por excelência;
 Política: é a atividade constitutiva da existência coletiva: tem prioridade
sobre todas as demais esferas;
 Política é a forma de conciliar a natureza humana com a marcha inevitável
da história: envolve fortuna e virtu;
 Fortuna: contingência própria das coisas políticas: não é manifestação de
Deus ou Providência Divina;
 Há no mundo, a todo momento, igual massa de bem e de mal: do seu jogo
resultam os eventos (e a sorte);
 Virtu: qualidades como a força de caráter, a coragem militar, a habilidade no
cálculo, a astúcia, a inflexibilidade no trato dos adversários;
 Pode desafiar e mudar a fortuna: papel do homem na história.

Concepção de Estado em Maquiavel


 Não define Estado: infere-se que percebe o Estado como poder central
soberano que se exerce com exclusividade e plenitude sobre as questões
internas externa de uma coletividade;
 Estado: regulariza as relações entre os homens: utiliza-os nos que eles têm
de bom e os contém no que eles têm de mal;
 Sua única finalidade é a sua própria grandeza e prosperidade;
 Daí a idéia de “razão de Estado”: existem motivos mais elevados que se
sobrepõem a quaisquer outras considerações, inclusive à própria lei;
 Tanto na política interna quanto nas relações externas, o Estado é o fim: e
os fins justificam os meios.

O Príncipe - não se destina aos governos legais ou constitucionais

 Questão: como constituir e manter a Itália como um Estado livre, coeso e


duradouro? Ou como adquirir e manter principados?
 A tirania é uma resposta prática a um problema prático;
 “O Príncipe”: não há considerações de direito, mas apenas de poder: são
estratégias para lidar com criações de força;
 Teoria das relações públicas: cuidados com a imagem pública do
governante;
 Teoria da cultura política: religião nacional, costumes e ethos social como
instrumentos de fortalecimento do poder do governante;
 Teoria da administração pública: probidade administrativa, limites à
tributação e respeito à propriedade privada;
 Teoria das relações internacionais:
 Exércitos nacionais permanentes, em lugar de mercenários;
 Conquista, defesa externa e ordem interna;

A guerra é a verdadeira profissão de todo governante e odiá-la só traz desvantagens.


Bibliografia de N icolau M aquiavel

• Discorso sopra le cose di Pisa, 1499


• Del modo di trattare i popoli della Valdichiana ribellati, 1502
• Descrizione Del modo tenuto dal duca Valentino nell' ammazzare Vitellozzo
Vitelli, Oliverotto da Fermo, il Signor Paolo e il Duca di Gravina Orsini" 1502
• Discorso sopra la provisione del danaro, 1502
• Decennale primo (poema em "terza rima"), 1506
• Ritratti delle cose dell'Alemagna, 1508-1512
• Decennale secondo, 1509
• Ritratti delle cose di Francia, 1510
• Discorsi sopra la prima deca di Tito Livio, 3 volumes, 1512-1517
• Il Principe, O Príncipe 1513
• Andria, Terence, 1517
• Della lingua (diálogo), 1514
• Belfagor arcidiavolo (romance), 1515
• Mandragola,, A Mandrágora 1518
• Clizia, comédia em prosa, 1525
• Asino d'oro, 1517
• Dell'arte della guerra, A Arte da Guerra, 1519-1520
• Discorso sopra il riformare lo stato di Firenze, 1520
• Sommario delle cose della citta di Lucca, 1520
• Vita di Castruccio Castracani da Lucca, 1520
• Istorie fiorentine oito volumes, 1520-1525
• Frammenti storici, 1525.
RESUMO DA OBRA

Capítulo I

Os Estados, os domínios todos que existiram e existem sobre os homens, foram e são
repúblicas ou principados. Eles são: Hereditários. e seu senhor é príncipe pelo
sangue, ou são Novos. Estes principados ou são habituados a sucessão de um
príncipe, seja livre, ou são adquiridos com tropas alheias ou próprias, graças à fortuna
ou à virtú.

Capítulo II

Os principados hereditários podem ser governados e conservados, pois nesta


qualidade de Estados ligados à família de seu príncipe menores serão os problemas
para conservá-los. Será suficiente que se não abandone o que antes era feito pelos
seus antecessores e também se use de contemporização com as situações novas.

O Príncipe sempre se preservará no seu Estado, desde que não sobrevenha sobre ele
fora extraordinária e excessiva que o prive dele e caso aconteça pode retomá-lo por
pior que seja o ocupante.

Um Príncipe terá pouca oportunidade e pouquíssima necessidade de ofender, isso o


tornará querido. Se acaso ocorra algo que o torne odiado, será razoável.

Capítulo III

Os principados novos ou mistos (membro unido a um Estado) encontram dificuldades


as quais podem nascer da expectativa do povo esperar melhorias que podem não se
tornarem real e transformarem-se em ofensas aos súditos.
Para garantir o domínio dos Estados conquistados e anexados a um Estado antigo,
quando da mesma província e da mesma língua, basta aniquilar a linhagem do
príncipe que antes o dominava facilitando assim que os homens vivam em paz.

É de extrema necessidade a presença do príncipe, para que seja possível identificar


inícios de desordem e assim contê-las e ainda os súditos estarão mais satisfeitos com
o mais fácil recurso ao príncipe, tendo maior motivo para amá-lo ou temê-lo, se for o
caso.
“...Os homens devem ser ou dizimados ou exterminados, pois, se podem
vingar-se de ofensas leves, das graves não conseguem fazê-lo. Dessa maneira, a
ofensa deve ser de tal ordem que não se tema a vingança....”

Deve-se ainda cuidar contra a entrada de um estrangeiro tão poderoso quanto o ele,
pois sempre sucederá que os habitantes da província, movidos por ambição ou temor,
chamem estrangeiro poderoso e quando da chegada destes os que se acham
enfraquecidos lhe dão apoio ocasionando risco de fortalecê-lo e facilitando que se
venha tornar árbitro da província.

Capítulo IV

Não haverá rebelião se a linha política for mantida, no que diz respeito a conquistas, o
Estado dirigido por um único soberano é difícil de conquistar e fácil de manter.

Já o Estado governado por muitas pessoas é fácil de conquistar e difícil de conservar.


No primeiro tipo citado, para conquistar o Estado, basta aniquilar o príncipe e sua
família, ao passo que no outro não basta apenas estes, mas também os nobres.

Capítulo V

Existem 3 maneiras de se preservar a posse de Estados acostumados a governar por


leis próprias:

1 – devastá-los;
2 – morar neles;
3 – permitir que vivam com suas leis;
Os súditos têm ciência de que é necessário viver com a amizade do príncipe, assim
fará para conservá-la. Em uma cidade antes habituada a ser livre, o governo será
mantido com mais facilidade com o apoio dos cidadãos.

Por mais que se faça, e sejam quais forem os cuidados, sem promover desavença e
desagregação entre os habitantes, continuarão eles a recordar aqueles principados e
a estes irão recorrer em quaisquer oportunidades e situações, entretanto, não sabem
ser livres as cidades ou províncias acostumadas à sujeição a um príncipe, uma vez
extinta a linhagem dele. Nessas circunstâncias será mais fácil conquistar-lhe a estima
e garantir-lhes a lealdade.

Capítulo VI

“...Os problemas relacionados à luta pela preservação do domínio estão na razão


direta da capacidade daquele que se tomou....”

Mais facilmente os menos afortunados se conservam mais tempo no poder.

Os homens que se tornam príncipes por mérito, apesar de dominar o principado com
dificuldade, mais facilmente se preservam no mesmo.

Ao incluir mudanças no principado é mais prudente que se faça sem depender de


outros.

Capítulo VII

Aos príncipes que assim o torna somente pela fortuna pouco se esforçam, mas após a
chegada é que acontecem as dificuldades, pois não sabem ou não podem conservar
seu principado.

Os Estados criados subitamente não têm raízes sólidas, por isso são facilmente
derrubados, a menos que o príncipe tenha virtudes, a solução é preparar os alicerces
do poder antes de alcançá-lo, pois, representará grande esforço e perigo.
Capítulo VIII

Existem dois modos de tornar-se príncipe que não são atribuídos à fortuna, são eles:
ascender ao principado pela perversidade, por meios criminosos, contrários às leis
humanas e divinas; e vir a ser príncipe pelo favor dos compatriotas.

Aquele que conquista o Estado deve definir as ofensas a executar e fazê-lo de uma só
vez, inspirando assim confiança, do contrário deverá sempre se cuidar para a provável
injúria dos súditos.

Capítulo IX

Um principado civil é quando um cidadão chega a ser príncipe através de seus


concidadãos não precisando usar de perversidade nem extrema violência. É preciso
sim muita astúcia e o favor ou do povo ou dos poderosos.

Os poderosos fortalecem um de seus elementos para que este se faça príncipe, pois
teme não resistir ao povo. Já o povo por sua cria a reputação de um cidadão o elege
príncipe, para se manter seguro através da autoridade deste. Após a conquista do
poder o príncipe que foi apoiado pelos poderosos tem mais dificuldade para se manter
no poder do que o que teve o apoio popular. Afinal, segundo Maquiavel: “o primeiro
terá muita gente a cercá-lo, que lhe parece igual e por esse motivo não a pode
comandar nem manejar como bem quiser. Mas o que se torna príncipe pelo favor
popular está sozinho; a cercá-lo, ou não há ninguém, ou há muitos poucos, ainda não
preparados para obedecê-lo”.

É mais fácil do príncipe se manter seguro diante dos poderosos do que diante do
povo, pois os primeiros são poucos já os segundos são muitos. Porém “da inimizade
dos poderosos, no entanto, ele não deve temer apenas o abandono, mas também o
ataque, porque estes possuem visão mais ampla e mais astúcia, e sempre tem tempo
de se salvar, aproximando-se dos prováveis vitoriosos”.

Por isso o conselho para que o príncipe viva sempre com o povo já que é mais fácil
fazer e desfazer de suas ações. O príncipe que chegou ao poder apoiado pelo povo
deve permanecer amigo, fato este não muito difícil haja vista que eles simplesmente
não querem ser oprimidos. Para o príncipe “é necessário que o povo devote amizade;
senão, irá fracassar nas adversidades.” E para que seus súditos não o abandonem em
tempos difíceis deve sempre fazer com que o povo necessite do Estado, afim lhe
serão fieis.

Capítulo XI

Na primeira parte do capítulo Maquiavel falará sobre o que considera um principado


eclesiástico e de como este funciona. O resto do capítulo é dedicado a mostrar como o
papado se fortaleceu e detêm o poder. Segue um resumo da primeira parte.

São conquistados ou por mérito ou por fortuna. São conservados facilmente mesmo
que o príncipe não tenha estas virtudes, pois são sustentados pela própria religião. “...
suas instituições fazem-se tão poderosas e de tal natureza que suportam seus
príncipes no poder, vivam e atuem como bem desejarem. Apenas este possue
Estados e não o defendem; têm súditos e não os governam.” Os súditos não rebelam
contra o príncipe, pois não são governados.

Para Maquiavel este tipo de Estado é o único que é seguro e feliz por natureza. Afinal,
“como são dirigidos por poderes superiores, que a razão do homem não alcança,
evitarei falar a respeito; uma vez que esses Estados são instituídos e mantidos por
Deus, seria, da parte do homem, presunçoso e temerário proceder de outro modo.”

Capítulo XII

Este capítulo se inicia com a afirmação da necessidade de meios ofensivos e


defensivos que um principado deve ter para constituir alicerces fortes e duradouros
que o sustentarão em tempos difíceis. Maquiavel diz que os fundamentos dos Estados
são “boas leis e boas armas”. Nessa parte do livro tratará apenas das armas:
“... E, como não é possível haver boas leis onde não há armas boas e onde
existem boas armas é conveniente que existam boas leis, falarei apenas das armas...”.

É feita uma divisão dos tipos de forças que um príncipe pode se valer para conquistar
e manter um principado são elas:
 próprias: constituída de súditos ou cidadãos (no caso de repúblicas);
 mercenárias: mão-de-obra paga com a finalidade de guerrear a favor
do príncipe;
 auxiliares: enviadas por terceiros a favor do príncipe;
 mistas: a união de mercenárias e auxiliares.

Neste momento será estudado apenas sobre as tropas mercenárias e mistas.

Para Maquiavel estas tropas são inúteis e perigosas, pois são ambiciosas,
indisciplinadas, desleais, insolentes, covardes e não possuem temor a Deus. Essas
tropas “Querem muito ser teus soldados enquanto não há guerra; porém, caso esta
venha, fogem ou se despedem”.

No comando destas tropas estão capitães de dois tipos:


a) grandes militares: neles não se pode confiar pois aspiram a posição do
príncipe;
b) ou “não são nada”: capitães desprezíveis que não ajudarão o príncipe em
nada.
Ou seja, o príncipe não deve se valer destes capitães e sim seguir o conselho
de que:
“...O príncipe em pessoa deve fazer-se capitão...”.

Ele atuando pessoalmente é capaz de grandes resultados e conquistas, já com os


capitães à frente das tropas mercenárias ou mistas o fracasso será certo, seja na
guerra ou depois destas. Foi à ação destes capitães que escravizou e desonrou a
Itália.

Um ponto importante que merece ser citado é que para Maquiavel é possível conciliar
arma e liberdade, e para exemplificar esta posição ele cita a Suíça, Tebas, Cartago,
Macedônia, Florença e Veneza.

Capítulo XIII

Neste capitulo Maquiavel tratará das tropas auxiliares visto que já tratou no anterior
das mercenárias. Mas antes disto ele faz a distinção entre as duas. A principal
diferença entre as tropas mercenárias e as auxiliares é que essas “são reunidas e
devotadas totalmente à obediência a outros” e aquelas “depois de vitoriosas, têm
necessidade de maior tempo e de maior chance de prejudicar-te, pois não são um
corpo unido à perfeição; ademais, por ti foram formadas e são pagas; se constituíres
chefe destas um terceiro, ele não terá, de imediato, muita autoridade, a ponto de
ofender-te seriamente.”

“...Não passam de armas inúteis as tropas auxiliares, enviadas em teu auxílio


por algum poderoso....”

Tal afirmação resume a idéia presente ao longo no capítulo, afinal estas tropas são
extremamente perigosas por dois motivos: caso percam a guerra à ruína do príncipe é
certa; e caso vençam o príncipe se verá prisioneiro dela. Daí as afirmações
categóricas:
“...Sirva-se dessas tropas aquele que não deseja vencer, pois são muito mais
perigosas do que as mercenárias...”.
“...As armas alheias ou caem por tuas costas, ou pesam sobre ti, ou te
sufocam...”

Para Maquiavel falsa é a vitória conquistada com o auxilio das tropas auxiliares, pois o
mérito delas é a futura desgraça do príncipe. Por isso que César Bórgia chegou a usar
destas tropas, mas logo passou a usar mercenários, pois são menos perigosos.

Enfim, para ter um principado seguro é estritamente necessário ter tropas próprias.
Deve ser seguido o conselho dos sábios: “Nada é tão instável quanto à fama de poder
de um príncipe quando não se encontra apoiada na própria força”.

Capítulo XIV

Neste momento é exposta a necessidade de o príncipe se ocupar e praticar a arte da


guerra.
“... Um príncipe não deve ter outro objetivo ou pensamento, ou manter qualquer
outra coisa como prática, a não ser a guerra, seu regulamento e sua disciplina, pois
essa é a única arte que se espera de quem comanda...”
O príncipe para ter sucesso nos seus empreendimentos deve se valer de forças
próprias constituídas por seus súditos, ou cidadãos ou servos. Deve se ocupar de
fortalecer seu exército e não preferir desfrutar do luxo advindo da sua posição. Deve-
se dedicar a arte da guerra para conseguir manter o seu Estado, pois sem uma tropa
forte e treinada estará desarmado perante os inimigos e com isso facilmente estará
derrotado. E principalmente deve se fazer capitão de seu exército.

“...Um príncipe que não entenda de milícias, além de outras infelicidades, como
se disse antes, não merece estimo de seus soldados nem se fia neles...”.

Mesmo em momentos de paz deve o príncipe cultivar e praticar a arte da guerra para
que mantenha suas tropas em forma e fortes. Isto é possível de dois modos: pela ação
e pelo pensamento.

Pela ação ao conservar seus soldados sob forte disciplina e sob constante treinamento
para que estejam acostumadas com a dureza advinda em tempos de guerra e para
que conheçam as dificuldades de uma batalha. O príncipe como capitão das tropas
deve ser o líder destes treinamentos assim conhecerá bem sua tropa e seu Estado,
conhecimento este que será de suma importância em caso de um conflito: já que ao
conhecer bem seu Estado terá ciência do relevo e clima dos arredores.

“...Desse modo, ao conhecer a geografia de uma província, chega-se


facilmente ao conhecimento de outra...”.

Essa prática que o leva a ser um bom líder, conhecer seu inimigo, se impor diante de
suas tropas, planejar futuras batalhas e conquistar a admiração de seus súditos.

Já em relação ao pensamento, deve o príncipe procurar conhecer a história, ser sábio


em relação ao passado dos grandes Estados, estudar as grandes guerras e aprender
com os grandes lideres do passado: “verificar como se conduziram às guerras,
analisar os porquês de suas vitórias e derrotas, para ser capaz de escapar destas e
imitar aquelas”.

Estas duas ações se bem observadas farão com que o príncipe tenha como conquistar
mais terras ou resistir em uma possível tentativa de invasão.

Capítulo XV
Daquelas coisas pelas quais os homens, e especialmente os príncipes, são louvados
ou vituperados.

Apesar deste já ser um tema de grande abordagem de outros autores para os


príncipes, Maquiavel apresenta o seu baseado na realidade e não em principados
jamais existidos como os outros abordavam, pois acredita que a diferença do que se
vive e não no que se deveria viver. Se o príncipe sai de sua posição para fazer o que
se diz certo este esta fadado ao fracasso. O príncipe deve se fazer notar por alguns
atributos que acarretem ou reprovação ou louvor. Seria louvável um príncipe com bons
atributos, mas não deve deixar de ter vícios para evitar a perda do poder, pois sempre
se encontrará alguma coisa, que parecendo virtude, praticada acarretará em ruína e
com aparência de vício dará origem a segurança e bem-estar.

Capítulo XVI

Da liberdade e da parcimônia (pouco abundante; reduzido).

Maquiavel afirma que a liberdade usada de forma que se torne conhecida de todos é
prejudicial, pois ela não se torna conhecida trazendo fama ao contrário. Se o príncipe
quiser manter a fama de liberal entre os homens corre o grande risco de ser derrotado,
pois quando suas riquezas acabam precisam recorrer ao povo através de novos
impostos, e se estes estão perdendo riqueza ficam insatisfeitos. Um príncipe não
podendo usar a qualidade de liberal sem sofrer danos deve ser prudente, gastar pouco
para não precisar roubar de seus súditos, para poder defender-se, para não ficar
pobre e desesperado, para não ser forçado a se tornar ladrão, e não se importando
com a fama de miserável é mais sabedoria ter a fama de miserável que da origem ao
descrédito sem ódio, do que querer ser liberal e ter necessidade de explorar seus
súditos que cria má fama com ódio.

Capítulo XVII

Da crueldade e da piedade; se é melhor ser amado ou temido, ou antes, temido que


amado.

Cada príncipe deve desejar ser tido como piedoso e não como cruel, não obstante
disso deve ter o cuidado de não usar mal essa piedade e ser tomado como fraco. Um
príncipe não deve temer a má fama de cruel, desde que por ele mantenha seus
súditos unidos e leais.
Mas seria necessário ser amado e temido, mas como é difícil de reuni-las em uma
escolha é melhor ser temido, pois o amor se rompe fácil mente já o temor é durável
pelo medo de punição ou morte. Porém deve-se fazer-se temer de forma que se não
haja amor tão menos haja ódio.

Capítulo XVIII

De que modos os príncipes devem manter a fé da palavra dada

Existem dois modos de combater: com as leis que são próprias dos homens e com a
força própria dos animais, no entanto um sem o outro não é durável. Se todos os
homens fossem bons esse preceito seria mau, mas como não são jamais faltara
motivos a um príncipe para justificar a quebra de sua palavra. Não é necessário ser
piedoso, fiel, humano, íntegro e religioso, é necessário apenas parecer possuí-las,
pois precisando possas e saibas tornar o contrário. Um príncipe, portanto, deve ser
muito cuidadoso em não deixar escapar de sua boca nada que não seja repleto das
cinco qualidades, é que, os meios sempre serão julgados honrosos e por todos
honrados porque o povo sempre se deixa levar pelas aparências e pelos resultados.

Capítulo XIX

De como se deva evitar o ser desprezado e odiado

Odioso se torna àquele que usurpa os bens e mulheres de seus súditos. Não tirando
nem os bens e a honra destes homens terá de combater apenas a ambição de
poucos. Deve-se notar que o ódio se adquire tanto pelas boas como pelas más ações,
não há como agradar a todos pelas suas ações. O príncipe deve evitar ser odiado por
qualquer classe social, mas não conseguindo todas evite ser odiado pela mais forte. O
príncipe deve dar pouca importância às conspirações se o povo lhe é benévolo,
havendo conspirações esta não perdurara sem o apoio do povo.

Capítulo XX

Se as fortalezas e muitas outras coisas que dia a dia são feitas pelo príncipe são úteis
ou não
Príncipe Novo, nunca deve desarmar um súdito. Quando encontra um súdito
desarmado, deve armá-lo, os suspeitos se tornam fiéis, os fiéis são mantidos e, os
súditos se transformam em auxiliares.

Desarmando um súdito, o príncipe da princípios à ofendê-lo, mostrando que duvida ou


porque não confia. Criando assim, ódio contra o príncipe.
Como o príncipe não pode ficar desarmado, é vantagem voltar para a milícia
mercenária.

“ ... as mercenárias e auxiliares são inúteis e perigosas... o apoio em tal classe de


forças, não estará nunca seguro...” (Cap. XII), elas defendem por interesse próprio,
lutam em função de um pagamento e não por amor à Pátria

“Mesmo que fosse boa, não pode ter tanta força suficiente para te defender dos
inimigos e perigosos, e dos súditos suspeitos”.

Num principado novo, o príncipe sempre organizou a força armada. É perigoso ter e
confiar em tropas mercenárias. O príncipe deve ser o próprio defensor de suas tropas.

Quando um príncipe conquista um novo Estado que seja anexado em domínios, então
é necessário desarmar aquele Estado, menos os que contribuíram para a conquista. E
é necessário a esses, com o tempo torná-los indiferentes e amolecidos, onde todas as
armas desse Estado estejam com os teus próprios soldados, que viviam junto de ti no
Estado antigo.

Divisões de partidos: Em um principado poderoso jamais se permitirão, essas divisões


são proveitosas apenas nos tempos de guerra, onde se governa os súditos com mais
facilidade.

Os príncipes, e principalmente os recentes encontram mais fé e utilidade nos homens


que lhe eram suspeitos no início do governo, do que aqueles que lhe haviam inspirado
confiança. Os suspeitos precisam de apoio para serem mantidos e o príncipe poderá
conquistá-lo com grande facilidade; eles servem com mais lealdade.

Os príncipes que tomaram a direção de um Estado recentemente, mediante o favor da


população, o que o favoreceu foi o descontentamento com o antigo governo, ao
príncipe só muito dificilmente será possível conservar a amizade daqueles, pois será
impossível satisfazê-los.

Ao príncipe é muito mais fácil conquistar a amizade daqueles homens que estavam
contentes com o regime antigo, sendo seus inimigos; do que a daqueles que, por
descontentes, fizeram-se amigos e aliados, ajudando-o na conquista do Estado.

Fortalezas:

Manter seguramente o seu Estado serve como refúgio seguro no caso de sofrer um
ataque inesperado.

“... o príncipe que tiver mais medo do seu povo do que dos estrangeiros deve construir
fortificações, mas aquele que tiver mais temor dos estranhos do que do povo não deve
preocupar-se com isso...”.

A melhor fortaleza: não ser odiado pelo povo.

- “... louvarei os que construírem fortalezas e também os que não as construírem, e


lamentarei aqueles que, fiando-se em tais meios de o fato de serem odiados pela
defesa, não se preocuparem com o povo...”.

Capítulo XXI

O que faz estimar um príncipe: Grandes empreendimentos e o dar de si raros


exemplos. É muito útil a um príncipe dar raros exemplos quanto ao seu governo
quando alguém realiza atos extraordinários na vida civil:
- de mal: Punindo-o
- de bem: Premiá-lo

Um príncipe deve agir sempre de modo que dê margem a largos comentários, e,


sobretudo trabalhar no sentido de, em cada ação, conquistar fama de grande homem.

Ser verdadeiro Amigo e verdadeiro inimigo: sem qualquer preocupação age


abertamente em favor de alguém contra um terceiro. Será mais útil conservar-se
neutro.
Um príncipe deve ter o cuidado de não fazer aliança com um príncipe que seja mais
poderoso, pois quando vencendo, ficará à mercê ou prisioneiro do aliado.

Um príncipe deve mostrar-se amante das virtudes e honrar os homens que se revelam
grandes em uma arte qualquer, deve animar os cidadãos a exercer livremente as suas
atividades, instituir prêmios para os realizarem coisas e para todos que pensarem em
ampliar a sua cidade ou Estado, proporcionar festas e espetáculos ao povo, deve ir ao
encontro das corporações ou artes sendo generoso cortês; mantendo a majestade.

Capítulo XXII

“Não é de pequena importância para um príncipe à escolha dos seus ministros, os


quais são bons ou não segundo a prudência daquele...”.

Pra que um príncipe escolha bem seu ministro, há um método que não falha: Quando
o ministro pensa mais em si do que em ti, tentando nas ações tirar proveito pessoal,
ele não é bom e nunca poderá confiar nele.

Aquele que tem nas mãos os negócios do Estado deve pensar no príncipe, e nunca
lembrar-lhe coisas que estejam fora da esfera do Estado. Está para assessorar o
príncipe.

Para se assegurar do ministro, o príncipe deve pensar nele, honrando-o, fazendo-o


rico, obrigando-o para consigo, fazendo-o participar de honrarias e cargos, de modo
que não deseja ascensões.

Quando a relação é positiva podem confiar uns nos outros, de outra forma o fim será
mal para todos.

“... um príncipe prudente deve, portanto, escolher no seu Estado homens sábios...”,
que possuem conhecimento e só a estes deve dar o direito de falar-lhe a verdade a
respeito, porém apenas das coisas que lhes perguntar.
Deve consultá-los a respeito de tudo e ouvir a opinião e deliberar depois como bem
entender e com conselhos daqueles, conduzir-se de tal modo que eles percebam que
com quanto mais liberdade falarem. Mais facilmente as suas opiniões serão seguidas.

Deve aconselhar-se sempre, mas quando ele entender e não quando os outros
quiserem; antes, deve tirar a vontade dos outros de aconselhar alguma coisa sem que
ele solicite. Perguntando muito e ouvindo pacientemente a verdade acerca das coisas
perguntadas.

“... os bons conselhos, de onde quer que provenham, nascem da prudência do


príncipe e não da prudência do príncipe dos bons conselhos.”.

Capítulo XXIII

Uma maneira de proteger-se das adulações não existe, se não fazer com que os
homens compreendam que não te fazem ofensa em dizer a verdade; quando, porém,
todos podem dizer-te a verdade, faltar-te-ão ao respeito.

Um príncipe prudente deve se portar de uma terceira maneira, escolhendo em seu


Estado homens sábios e apenas a estes conceder o direito de dizer-lhe a verdade a
respeito somente das coisas que ele lhes inquirir.

Um príncipe deve aconselhar-se sempre, mas quando ele julgar que o deve e não
quando os outros desejam. Mesmo, julgando que alguém, por medo, não lhe diga a
verdade, não deve o príncipe deixar de mostrar o seu desprazer. Conclui-se daí, é que
os bons conselhos, venham de onde vierem, nascem da prudência do príncipe e não a
prudência do príncipe dos bons conselhos.

Capítulo XXIV

As coisas já referidas e observadas por um Príncipe novo o tornam mais seguro e


mais firme porque um príncipe novo será mais observado do que um antigo, e se
reconhecidas neste príncipe virtude, atrairá mais fortemente os homens que estarão
ligados a ele pelos feitos presentes e satisfeitos assumirão toda sua defesa desde que
não falte com a palavra nas outras coisas.
Terá com isso duas glorias: Ter iniciado um principado novo; e tê-lo ornado e
fortalecido com boas leis, boas armas e bons exemplos.

E aqueles que na Itália perderam seus estados nos nossos tempos, achar-se-á neles
um defeito comum quanto às armas, depois a inimizada do povo, ou sendo amigos
não lhes garantiram a defesa contra os grandes.

Novos Príncipes não podem acusar a sorte, mas sim sua própria insolência, pois não
pensaram que em tempos normais, algo poderia lhes acontecer.

“... é um defeito comum dos homens na bonança não se preocupar com a


tempestade...”.

Capítulo XXV

Não desconheço que muitos têm e tiveram a opinião de que as coisas do mundo são
dirigidas pela fortuna e por Deus, de modo que a prudência humana não pode corrigi-
las, e mesmo não lhes traz nenhum remédio. É o que acontece com rios impetuosos
que, quando se tornam encolerizados, alagam as planícies, destroem as árvores, os
edifícios, tudo cede ao seu ímpeto, sem poder obstar-lhe; mas não é menos verdade
que os homens podem, quando o rio se acalmar, providenciarem diques para que da
próxima cólera do rio, este passe por canais que certamente conterão parte dos
estragos. O mesmo acontece com a fortuna, o seu poder se manifesta aonde não há
resistência organizada.

Relativamente os caminhos que conduzem os homens às finalidades que buscam,


podem ser diversos.

Dois indivíduos para chegarem ao mesmo objetivo podem agir de maneiras totalmente
diversas; em contrapartida dois homens agindo da mesma maneira podem não chegar
aos mesmos resultados. Mas com toda certeza, de qualquer maneira que se porte o
homem, deve-o modificar seu modo de agir de acordo com o tempo e as coisas.

Por isso quero dizer que, modificando-se a fortuna, e conservando os homens, com
obstinação, o seu modo de proceder, são felizes, enquanto esse modo de agir e as
particularidades do tempo combinarem. Não combinando, serão infelizes.
Capítulo XXVI

Tendo ficado como sem vida, aguardam a Itália aquele que lhe possa curar as feridas
e dê fim ao saque da Lombardia, aos tributos do reino de Nápoles e da Toscana, e
que cure as suas chagas já há muito tempo apodrecidas.

Parece que a Itália pede a Deus que lhe mande alguém que a redima de tais
crueldades e insolências de estrangeiros. Vê-se mesmo, que se acha pronta e
disposta a seguir uma bandeira, desde que exista quem a levante.

Aqui há muito valor no povo, embora faltem chefes. Observai, nos duelos e torneios,
quantos são os italianos superiores em força, destreza e inteligência. Tratando-se,
porém, de exércitos, tais qualidades não chegam a mostrar-se. E tudo deriva da
fraqueza dos chefes, pois os que sabem não são obedecidos e todos acreditam saber
muito, não tendo surgido até o momento nenhum cujo valor ou sorte de tanto realce
que obrigue os demais a abrir-lhe caminho. É por este motivo que em tanto tempo, em
tantas guerras que se deram nestes últimos vinte anos, todo exército inteiramente
italiano sempre se saiu mal.

É preciso, portanto, preparar as armas, para poder defender-se dos estrangeiros com
a própria bravura italiana. E não obstante sejam considerados formidáveis as
infantarias suíças e espanholas, têm ambas defeitos, de maneira que uma terceira
potência, que viesse a ser criada, poderia não só opor-se mas ter confiança na vitória.
Pode-se, pois, conhecendo os defeitos dessas duas infantarias, organizarem uma
terceira que resista à cavalaria e não tema a sua rival. E daí virá formação de uma
geração de guerreiros e a alteração dos métodos. E são essas coisas que,
reorganizadas, dão reputação e grandeza a um príncipe novo.

Não se deve, pois, deixar escapar-se essa oportunidade, a fim de fazer com que a
Itália, após tanto tempo, encontre um redentor. Já fede, para todos este domínio de
bárbaros. Toma, portanto, a vossa ilustre casa esta tarefa com aquele ânimo e aquela
fé com que as boas causas são esposadas, a fim de que, sob o seu brasão, esta
pátria se enobreça, e sob os seus auspícios se verifique aquela expressão de
Petrarca.
CONCLUSÃO

Nossa intenção nesta breve pesquisa foi, evidentemente, tentar demonstrar e


esclarecer o principal significado da obra deste grande mestre das Ciências Políticas,
considerado como o pai da real política, demonstrando que o mesmo não era
maquiavélico, mas dotado de uma profunda compreensão do fenômeno político e
capaz de auxiliar na árdua tarefa de estabelecer um governo justo.

O papel do governo é assegurar a estabilidade, a liberdade e a autodeterminação do


Estado. Seja este governo um principado ou uma república, o governante nunca deve
agir segundo seu interesse particular. Tirania e corrupção são claramente contrárias
aos interesses do Estado. O Estado deve ser governado pela razão e,
consequentemente pelas leis, já que estas são produtos daquela (Montesquieu, 1748,
Livro I) sendo necessariamente o bem estar do povo o objetivo último do governo.

Com certeza Maquiavel jamais apoiaria o ditado segundo o qual o fim justificam os
meios. Pelo menos não com a conotação que é atualmente empregada. Ele não era
imoral, amoral ou sem escrúpulos, apenas acreditava que a moralidade individual é
perigosamente dogmática, pouco prática e irresponsável.
BIBLIOGRAFIA

MAQUIAVEL, Nicolau O Príncipe. Brasília, Ed. UnB, 1992, 2a ed, 102p.


______Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio. Brasília, Ed. UnB, 1994,
3a ed, 436p
WELFORT, Francisco C. Os Clássicos da Política, v. 1. Ed. Ática, 1980

Locke, J.An Essay Concerning Human Understanding.Press, 1975.

Montesquieu, C. S.The Spirit of Laws.1748. Londres:Pinguin, 1968

BIBLIOGRAFIA ELETRÔNICA

http://pessoal.onda.com.br/philosophia/pensadores/maquiavel.html
http://sites.uol.com.br/resenhas/maquiavel.html
http://www.culturabrasil.org/maquiavel.htm
http://www.brasilescola.com/sociologia/ciencia-politica-maquiavel.htm
http://www.10emtudo.com.br/artigos_1.asp?CodigoArtigo=39&Pagina=1&tipo=artigo
http://www.culturabrasil.org/maquiavel2b.htm
http://www.arqnet.pt/portal/teoria/principe.html
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/politica/2006/08/08/000.htm
http://www.constitution.org/cm/sol-02.htm (28 Setembro de 1999).

Para ler “O príncipe” em versão eletrônica:

http://www.culturabrasil.org/oprincipe.htm
http://www.arqnet.pt/portal/teoria/principe.html
http://www.ufrgs.br/proin/versao_1/principe/index01.html

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