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Inventário' Informal de Trocadilhos Da Cidade Mostra Vocação Do Carioca para A Piada Pronta
Inventário' Informal de Trocadilhos Da Cidade Mostra Vocação Do Carioca para A Piada Pronta
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RIO - O sujeito chega do Ceará para tentar uma vida melhor no Rio de Janeiro. Isso lá
nos anos 70. Começa carregando madeira, passa a comprá-las para revenda, o negócio
vai indo bem, obrigado, e ele abre uma loja em Copacabana. Na hora de batizar o local,
pensa: “Eu sou do Ceará... Vim de pau de arara. E a loja é de madeira. Pronto. É Pau de
Arara o nome da loja.”
Mas a mulher faz um muxoxo. E como é ela quem manda, o nome da loja fica sendo
Pau Mandado.
Parece piada, mas é a história por trás do letreiro de uma madeireira na Rua Barata
Ribeiro, em Copacabana.
— Para o marketing é uma beleza, porque ninguém esquece o nome da loja — justifica
o proprietário brincalhão, Augusto Sarmento, de 63 anos.
Foi o que fez a Revista O GLOBO: um inventário informal dos trocadilhos cariocas. Só
em Copacabana, além da Pau Mandado, há a clínica veterinária Cãopacabana, o
botequim BomBARdeio, a loja de bolsas Mala Amada, a livraria Baratos da Ribeiro, a
“croassanteria” Croasonho e a creperia Crepe Diem.
Ao ouvir o nome, o acadêmico Antônio Carlos Secchin o achou tão legal que fez uma
sugestão a Celso: abrir ao lado da academia o botequim Habeas Copus.
— Antes de abrirmos o bar, este ponto era considerado uma caveira de burro. Mas só
podia ser. Quem viria para um lugar chamado Espelunca Chic? Ou o camarada sai de
casa para beber numa espelunca ou num lugar chique — espeta o empresário Rafael
Sampaio, que escolheu o nome com a mulher, Tatiana Abramante.
O ramo dos bares poderia ter até um concurso informal de trocadilhos, tantos são os
exemplos. No Vidigal, há o Barlacubacu. No Anil, o Barbudo. No Flamengo, o
Zanzibar. Em Del Castilho, o Zombar. Em Madureira, o Bar Bosa. No Catete, o
Bartman.
— Sou fã de quadrinhos e cultura pop desde menino. Quando abri o bar, queria que a
decoração fosse inspirada em filmes, mas não sabia o nome que queria dar. Pensei em
alguns ruins, como Perdizes no Espaço, e decidi fazer uma votação entre os clientes.
Bartman ganhou, com 250 votos — relembra Rogério Cardoso, o proprietário.
Foi a largada para surgirem concorrentes como a Pelo Sim, Pelo Não, presente também
em vários lugares do Rio.
— Tive a ideia tomando banho. Ia abrir uma empresa com um sócio que já tinha um
nome caretinha para ela, mas ele saiu, e eu quis um mais criativo — conta a publicitária
Márcia Amorim, de 42 anos.
Foi passando de carro em frente à filial de Botafogo que o humorista Cláudio Torres
Gonzaga, um dos redatores do programa “A Grande Família”, da TV Globo, teve a ideia
de uma piada para um stand up comedy que faz com o grupo Comédia em Pé.
— Fiquei pensando: “O que quer dizer Pelo Sim, Pelo Não? Será que eles tiram um pelo
sim e um pelo não? E a mulher sai de lá parecendo um código de barras?” — brinca
Cláudio. — E aí juntei com outros nomes curiosos de lojas que já tinha visto e montei
uma esquete do espetáculo. Tem uma loja de artigos de pesca em Jacarepaguá que se
chama Minhoca Feliz. E se tem alguém que não é feliz na pescaria é a minhoca... Em
Nova Friburgo, vi uma loja de plotagem chamada Harry Plotter. Deu vontade de abrir
uma concorrente, a Senhor dos Painéis!
Quando soube da esquete, a dona da rede de depilação correu para o teatro. Achou tão
divertida a propaganda involuntária que propôs uma parceria: em troca da logomarca
exposta no cartaz do espetáculo, os humoristas fariam depilação de graça.
— Mas nenhum de nós tinha o hábito de depilar as pernas — lamenta Cláudio,
lembrando que as únicas beneficiadas com o patrocínio foram as mulheres dos
integrantes.
— Esta loja existe com este nome há 17 anos, mas os novos donos vão mudar em breve
para Animaleria — antecipa o gerente, Vinícius Molinaro.
O que é uma pena, como observa o diretor de criação e sócio da empresa de publicidade
DM9 Rio, Álvaro Rodrigues. Para ele, o humor “baixa a guarda” do cliente, seja de uma
pet shop ou de uma multinacional. Na última campanha que fez, para uma marca de
cachaça, pôs o ator John Travolta fingindo ser brasileiro, tentando jogar bola e sambar
na praia, no Recreio.
— Na propaganda, o humor tem que ser visto como meio, não como fim. A piada pela
piada não funciona. Se eu rio e esqueço o nome da marca, não adianta. Por isso, o
recurso da piada, do trocadilho, tem que ter uma estratégia por trás — analisa o
publicitário, falando de grandes campanhas.
No comércio de bairro, como os citados nesta reportagem, ele diz que o humor traz
muitas vantagens:
Na Barra, o restaurante Filo Porque Quilo também fechou as portas, levando com ele a
referência à célebre frase dita pelo ex-presidente Jânio Quadros quando de sua renúncia
ao cargo. No Humaitá, quem morreu foi o boi do nome do restaurante Boi Vivant, que
há dois meses ganhou nova mobília e letreiros, transformando-se em Espaço Vivant.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/inventario-informal-de-
trocadilhos-da-cidade-mostra-vocacao-do-carioca-para-piada-pronta-
9683838#ixzz2d7yLwq00
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