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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO - UFOP

INSTITUTO DE FILOSOFIA, ARTE E CULTURA - IFAC


DEPARTAMENTO DE ARTES CÊNICAS - DEART

MACBETH 22: RELATÓRIO CENOGRÁFICO

Trabalho apresentado à Profa. Dra.


Bruna Christófaro Matosinhos como
requisito de avaliação da disciplina
de Cenografia (ART 067).

Júlia Maria Rodrigues Lana - 21.1.1017


Júlia Risse de Carvalho - 22.1.5036

Ouro Preto - MG
Fevereiro, 2023
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
A PEÇA E SUAS ADAPTAÇÕES CONTEMPORÂNEAS
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
INTRODUÇÃO

Considerada uma das principais tragédias shakespearianas, Macbeth — ou a


famigerada “peça escocesa” — recorrentemente ganha novas faces em suas
profusas adaptações; sejam elas dedicadas ao teatro, ao cinema e até mesmo às
paráfrases literárias, que a endossaram como o clássico atemporal e exponencial na
representação da ação descomedida e irrefletida na busca para atingir os fins, da
corrupção pela ambição da autocracia tirânica e, por fim, da construção de um anti-
herói degradado não somente pela ruptura em relação à moral que pretendia
subjugar-se na guarda pelo Estado, mas também pela jornada decrescente de sua
psique ao contaminar-se cognitivamente por um suposto destino inexorável —
propagado pelas três irmãs sinistras — e pelas influências de Lady Macbeth em
seus atos.

“Tudo é perdido, quando o desejo fica repartido. Toca ao morto decerto


melhor sorte que a de alegrar-se assim quem lhe deu a morte. [Entra
Macbeth.] Então, marido, por que só ficardes, tendo por companhia as
fantasias mais desconsoladoras e ocupando-vos com pensamentos que já
deveriam ter morrido com quem se relacionam? O que não tem remédio, não
deverá ser pensado sequer. O que está feito, não está por fazer.”
(SHAKESPEARE, 2021)

Assim, o presente trabalho visa correlacionar as insinuações do aspecto


soturno e sanguinolento da ambiência retratada no roteiro da peça às decisões
táticas na potencial construção cenográfica do texto de Shakespeare, além de
analisar os recursos plásticos e estéticos recorridos na apresentação de Macbeth 22
— releitura realizada por Mariana Muniz e Maurílio Rosa — no intento de aferir
como se dá o impacto da montagem cênica na experiência visual perceptiva do
espectador e como esse artifício atua no aguçamento da análise crítica da peça
como um todo.
Figura 1: “O oráculo de Delfos”, por Heinrich Leutemann. Shakespeare retratou as três irmãs
sinistras — ou as três bruxas — à imagem de Pítia, oraculista dedicada ao Templo de Apolo. Fonte:
Google Imagens.

A PEÇA E SUA REPRESENTAÇÃO CÊNICA

Promovendo uma crítica ironizada da situação política brasileira — outrora —


vigente através da analogia ao retrato de um líder carismático profetizado como
futuro rei da Escócia — que acaba recorrendo a ações nefastas para catalisar sua
subida ao trono, assassinando desde o Rei Duncan, a quem jurara zelar e
salvaguardar a vida, até seu melhor amigo, o capitão de exército Banquo —,
Macbeth 22 tornou-se notável pelo uso engenhoso da metalinguagem tanto em sua
prosa quanto em seu universo cênico, transitando dinamicamente entre o texto
elisabetano e o paradigma atual — e, por muitas vezes, direcionando-se e se
aproximando contundentemente ao público ao atualizar aquele em conformidade à
expressão comunicativa empregada recorrentemente.

Dessa forma, foram exigidas novas soluções cênicas que não apartassem o
emissor e o receptor na relação ator-espectador — uma vez que estes permeiam e
se identificam na mesma conjuntura em que a peça se insere —, priorizando, ora
por recursos técnicos de iluminação, de sonoplastia e de orientação espacial dentro
da caixa cênica, ora por recursos de prosa e de expressão, o enfoque desses
corpos atuantes e participantes através de um cenário ponderado e
intencionalmente minimalista — permitindo a ambivalência e a multifuncionalidade
dos elementos usados em palco.
Quanto à experiência subjetiva ante a encenação da peça de Macbeth 22, foi
possível depreender que se tratava de uma ambientação em uma espacialidade
contida, mas bem aproveitada, com uma iluminação que seguia sempre os passos
da protagonista ou de suas ações. A peça fora contada pelos dois atores
supracitados — que eventualmente assumiam as personas dos demais
personagens da peça original, em uma espécie de solilóquio de identidades
fragmentadas e intertravadas —, estando Maurílio Rosa na mesa de som, cuidando
da parte sonora — mas que também teve sua participação em momentos
específicos —, e Mariana Muniz narrando a peça, usando algumas citações atuais,
principalmente concernentes ao governo, e relacionando o ano em que se passa a
peça parafraseada com o ano em que estamos. Quebrando a quarta parede e
garantindo a aproximação com a realidade do público, a atriz utilizava de recursos
metalinguísticos em seu próprio texto ao inserir resumos assim que concluía uma
parte da história, conferindo um maior entendimento aos espectadores das ações
frenéticas que se passavam ali.

Além disso, a cenografia se fazia presente de acordo com o ambiente a ser


apresentado: haviam árvores ao fundo que entravam e saíam, e o microfone que ali
estava era usado como um cabideiro, de forma a pendurar o casaco para a troca de
personagens. Dentre outros recursos que assumem múltiplas funcionalidades
naquele universo representado, havia uma mesa de som, alguns banquinhos que
eram recorridos e ajustados espacialmente conforme as demandas dos atos e, ao
final, também houve a presença de uma escada, onde a atriz finaliza seu
espetáculo.
Figura 2: complexo cênico da peça de Macbeth 22, destacando o tom sóbrio e
soturno, ainda que em expressão minimalista, que entornava as personas em palco.
Foto: Guto Muniz.

CONCLUSÃO

Portanto, depreende-se que a cenografia teve forte influência no


entendimento da peça — até mesmo na compreensão dos figurinos utilizados.
Porém, com o fato da apresentação do texto ter sido indissociada do roteiro
exaustivamente descrito e narrado, a peça poderia facilmente ser somente contada
de forma neutra, sem cenários e a parte sonora — por outro lado, dificultando o
discernimento pleno e a compreensão da encenação como manifestação
independente. Outrossim, vale destacar o valor adaptativo da cenografia em
questão, uma vez que, mesmo embasando-se em uma ambientação mais
atualizada e contemporânea, poderia compor facilmente parte do espaço cênico em
uma encenação da peça original.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GUIMARÃES, Julia. Teatro como gesto de aproximação. Horizonte da Cena, 2023.


Disponível em: <https://www.horizontedacena.com/teatro-como-gesto-de-
aproximacao/#_ftnref2>. Acesso em: 23 fev. 2023.
MACBETH (Shakespeare). Gravação de Tatiana Feltrin. São Paulo: 24 jan. 2021.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=rv8zKS3cyNg. Acesso em: 23
fev. 2023.

SHAKESPEARE, William. Macbeth. 1. ed. São Paulo: Principis, 2021. 128 p. ISBN
9786555522099.

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