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O princípio da demanda efetiva é o ponto de interseção entre oferta e demanda

agregada, a oferta agregada Z = f(N) é o preço que os empresários esperam receber com o
emprego de uma mão-de-obra N, a demanda agregada D = g(N) é o quanto será demandado
com a renda gerada a partir do emprego de uma mão-de-obra N. Não há muito que discutir
sobre a curva de oferta agregada além do que ela se assemelha bastante com uma curva de
oferta de curto prazo, isto é, o custo marginal igual ao preço. A demanda agregada é o foco do
estudo de Keynes, as forças que governam o nível de demanda agregada são a propensão a
consumir, a escala da eficiência marginal do capital e a taxa de juros, em última instância
essas variáveis estão suscetíveis a mudanças de caráter puramente psicológico dado a
incerteza no qual é envolta toda Teoria Geral.

A demanda agregada é dividida em dois componentes, D1 são os componentes dos


gastos que dependem da renda e D2 são os gastos que tem como determinantes fatores que
excluem a renda como fator preponderante. Dito de outra forma, D1 são os gastos com
consumo e D2 são os gastos com investimento, como o consumo posto dessa forma reage
passivamente no mesmo sentido mas não na mesma magnitude do aumento da renda, o que
determina verdadeiramente o nível de renda e emprego são os gastos com investimento.

Ao longo da Teoria Geral Keynes mede suas unidades de renda e consumo em


unidades salários nominais, ele o fez porque medir toda a produção em quantidades físicas é
uma tarefa impossível de se realizar, a heterogeneidade das unidades de mensuração entre
várias mercadorias só da a possibilidade de gerar resultados desagregados. Outro problema
aparece logo que considere a possibilidade de mensurar toda a produção em termos
monetários e dimensiona-la pelo nível geral de preços, segundo Keynes o nível geral de
preços é apenas uma questão teórica e dispensável para alcançar o que ele se propunha. A
respeito disso Keynes diz que:

“Não esqueçamos que em todos os casos concretos um empresário preocupa-


se com decisões a respeito da escala em que usará certo equipamento de
capital; e quando afirmamos que a expectativa de um acréscimo de demanda,
ou seja, de um deslocamento da função de demanda agregada, conduz a um
aumento na produção agregada, o que realmente queremos dizer é que as
empresas proprietárias do equipamento de capital se verão induzidas a
associar-lhe um volume maior de emprego de mão-de-obra agregada.”
(KEYNES, J.M., 1983, p. 39).

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Então as únicas unidades que são levadas em conta ao longo da Teoria geral são nível
de salários nominais e nível de emprego.

Convém nesse ponto da discussão dar mais um passo atrás e discorrer de dois
postulados da teoria clássica que Keynes se opôs. São eles: a Lei de Say e o equilíbrio do
mercado de trabalho. De forma resumida a Lei de Say implica que tudo que é produzido é
vendido, ou seja, a oferta agregada é sempre igual à demanda agregada, produtos são pagos
com produtos em ultima instância e a moeda é só um meio de troca. Dentro dessa perspectiva
o pleno emprego dos fatores será sempre garantido por indução lógica, veja, se a oferta é
sempre igual à demanda, o aumento da produção por maior empregos dos fatores se
transforma em renda, renda essa que é destinada a consumir os produtos que produziu.
Keynes foi de encontro a esse argumento afirmando que nem tudo que é produzido é
consumido, Paul Davidson argumenta o seguinte para ilustrar esse ponto:

“Under Say’s Law, goods always exchange for goods. Money is only a ‘veil’
behind which the real economy operates unhampered by financial
considerations. The notion that money is merely used as an intermediary in
the exchange of goods for goods is encompassed, in the lexicon of
economists, by the classical neutral money axiom. If money is neutral, then
there is no inherent obstacle in a competitive economic system to prevent
output and employment from being at the maximum flow possible given the
size of the population and the technology available to producers. If
unemployment is observed, classical economists argued, it is because idle
workers refuse to accept a job at a wage rate low enough to equate the
demand for labor with the available supply of labor. In other words it is the
truculence of labor resisting job offers at a market equilibrium wage that
creates the perception of large numbers of unemployed. The logic of
classical theory implies that unemployed workers are not to be pitied (as
bleeding heart liberals would like us to believe) for it is the workers’ market-
defiant behavior of refusing to accept lower wages that cause them to remain
idle.” (DAVIDSON, P. 2002, p. 19-20)

Tendo destacado a não neutralidade da moeda, assunto que será tratado mais adiante,
que impede o fluxo circular da economia de modo completo e ininterrupto. Keynes também
não concordou que o que impedia o ajuste necessário entre oferta e demanda conforme dito na
citação acima era resistência dos trabalhadores em aceitar um corte no salário nominal que
refletisse a sua produtividade marginal, se isso acontecesse, segundo os clássicos pregavam,
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os custos de produção baixariam e os preços da oferta poderiam se igualar novamente a
quantidade demandada. Keynes argumentou que se um corte nos salários nominais ocorresse
tal evento deprimiria mais ainda a demanda agregada, com isso as expectativas de vendas
prospectiva dos empresários e finalmente a um aumento do desemprego. Isso mostra que não
é necessário levar em conta salários e preços rígidos ao se analisar e teoria keynesiana,
mesmo que os salários e preços sejam completamente flexíveis, eles sozinhos não garantem o
pleno emprego.

Até agora, é possível perceber que Keynes muda o foco da análise econômica para os
fatores que determinam a demanda agregada e quebra a dicotomia clássica em que há uma
independência dos fatores monetários e dos fatores reais da economia. Um exame dos fatores
que determina D1 da economia é o passo seguinte que se deve levar em consideração.

O consumo é medido em unidades salário e é função do numero de trabalhadores N,


Keynes faz uma mudança nessa função relacionando à renda em unidades salários, isso
porque o consumo varia à medida que varia a renda. Por esse motivo a função consumo tem
um caráter passivo, embora uma mudança na propensão a consumir possa gerar efeitos
positivos sobre as expectativas dos empresários.

Os fatores que levam à uma mudança na propensão a consumir, segundo Keynes,


geralmente são: I) Uma variação na unidade de salário – se refere a uma mudança no padrão
de consumo logo que um agente econômico dispões de maior renda. II) Uma variação na
diferença entre renda e renda líquida – é o que o consumir realmente leva em conta quando
planeja o que vai gastar. III) Variações imprevistas nos valores de capital não considerados no
cálculo da renda líquida – Nesse ponto a taxa de juros tem um fator relevante, muito embora
no todo que defina o quando irá se consumir tenha importância secundária, porque a taxa de
juros muda o valor dos ativos financeiro que tem atrelado à ela o calculo das suas anuidades e
serve também como taxa de desconto para calcular o valor presente do ativo. IV) Variações
na taxa intertemporal de desconto – Referem-se à taxa que são comparados os bens futuros
com os bens presente. As pessoas normalmente tem um padrão de consumo estável e
relacionado com a renda, como já foi apontado, então dificilmente como diz Keynes: “Rara
são as pessoas que alteram seu modo de vida porque a taxa de juros baixou de 5 para 4%,
quando sua renda agregada permanece a mesma” ( KEYNES, 1983, p. 116). V) Variações na
política fiscal – Esse motivo pelo qual a propensão a consumir é bem óbvia, quando
aumentam os impostos diminuem a renda disponível, ou líquida se preferir, das pessoas. VI)
Modificações das expectativas acerca da relações entre os níveis presente e futuros da renda –
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Nesse ponto Keynes faz a ressalva que uma variações positiva na renda futura de uma agente
pode compensar-se por uma variação negativa na renda de outra pessoa.

É interessante notar a respeito dos fatores que influem na propensão a consumir, que
eles se assemelham muito com a hipótese da renda permanente, isto é, os agentes têm padrões
de consumo baseados na sua renda média e somente variações excepcionais tendem a influir
em como os agentes gastam sua renda.

A partir dos fatores acima relacionados é que Keynes formula sua lei psicológica
fundamental que diz “que os homens estão dispostos, de modo geral e em média, a aumentar
o seu consumo à medida que a sua renda cresce, embora não em quantia igual ao aumento de
sua renda” (KEYNES, 1983, p. 118). A propensão a consumir, hoje em dia, é o que se chama
de consumo médio, é definido pela formula C/Y, em que o C é o consumo e Y a renda; e a
propensão marginal a consumir é dado por dC/dY, que representa a variação no consumo
dado uma variação na renda, que se situa entre 0 e 1. A formula da função consumo pode ser
generalizada da seguinte forma: C = cY, o “c” minúsculo representa a propensão marginal a
consumir.

Além dos fatores que influem diretamente na renda líquidas dos agentes, fatores
psicológicos também influenciam nos gastos de consumo dos agentes. Keynes aponta oito
motivos para tal:

“(i) constituir uma reserva para fazer face a contingências imprevistas;

(ii) preparar-se para uma relação futura prevista entre a renda e as


necessidades do indivíduo e sua família, diferente da que existe no momento,
como por exemplo no que diz respeito à velhice, à educação dos filhos ou ao
sustento das pessoas dependentes;

(iii) beneficiar-se do juro e da valorização, isto é, porque um consumo real


maior em data futura é preferível a um consumo imediato mais reduzido;

(iv) desfrutar de um gasto progressivamente crescente, satisfazendo, assim,


um instinto normal que leva os homens a encarar a perspectiva de um nível
de vida que melhore gradualmente, de preferência ao contrário, mesmo que a
capacidade de satisfação tenda a diminuir;

(v) desfrutar de uma sensação de independência ou do poder de fazer algo,


mesmo sem ideia clara ou intenção definida da ação específica;

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(vi) garantir uma masse de manoeuvre para realizar projetos especulativos
ou econômicos;

(vii) legar uma fortuna;

(viii) satisfazer a pura avareza, isto é, inibir-se de modo irracional, mas


persistente, de realizar qualquer ato de despesa como tal.” (KEYNES, 1983,
p. 127-128).

Agora que já se estabeleceu que o consumo varia em relação a renda, substituindo-se


as variáveis renda por emprego (N), chegamos a conclusão que o consumo varia com o
emprego, o emprego por sua vez varia com o nível de investimento. Estabelece-se então, que
o consumo varia pari passu com o investimento, com a ressalva que Keynes mesmo aponta
que os gastos podem variar se houver uma mudança na propensão a consumir, o parâmetro
“c” na função consumo.

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