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Música como documento histórico. Para isso temos que levar em conta: “a linguagem
da canção, a visão de mundo que ela incorpora e traduz e a perspectiva social e histórica
que ela demonstra e constrói.”
Papel da performance na análise das músicas também deve ser levado em conta. Como
também a receptividade do público.
-Apesar de serem um grupo de Rock, resgatam uma vertente popular no contato com o
tropicalismo.(p.19): “Nós fazemos música brasileira, mesmo. Se gostamos do que se faz
nos Estados Unidos, na Inglaterra, isso não quer dizer que somos menos brasileiros.
Aceitamos a influência da cultura dos outros, procuramos incorporá-la à nossa”
OBS: Clara influência do manifesto antropofágico.
-Nesse viés, é preciso analisar com atenção a trajetória dos Mutantes. Três jovens
paulistanos de classe média que com a intenção de “fazer uma música, acima de tudo,
bela e alegre” 13, subverteram alguns padrões não só sociais, ou melhor,
comportamentais, como também da própria música produzida no país, numa época em
que o Brasil estava “irreconhecivelmente inteligente” (SCHWARZ, 1978, p.69).
Obs: citação interessante para evidenciar que a lógica de criação dos Mutantes
antecede o tropicalismo e, somente é potencializada pelo tropicalismo Com o
tropicalismo é que eles podem adentrar o cenário da MPB(devido a influência de
Gil e Caetano): E abusando da paródia os Mutantes contribuíram para ressignificação
da música popular. Entretanto, isso só se legitimou após a ligação deles com Gilberto
Gil. Como descrito numa entrevista com Rita Lee: “antes, música popular brasileira não
era nada, não se sentia atraída. Só depois de ‘Domingo no Parque’, de Gil, só depois de
‘Alegria, Alegria’, de Caetano Veloso: ‘ai então, a nossa música ficou bacana’”
-“O que estava em jogo era a perspectiva de uma inovação musical no Brasil, tal como a
que se formatava na Inglaterra com os Beatles; e a legitimação desse sentimento de
mudança, para os Mutantes, encontrou subsídios na vanguarda erudita (via Rogério
Duprat) e na MPB (via Gilberto Gil), como poderemos analisar no próximo capítulo
com mais precisão.” Isso era o que importava para os Mutantes. P.38
- O mercado como potencializador de uma busca de novos padrões criativos: Podemos
dizer que o vínculo indissociável entre canção e mercado, que marca todo o processo de
constituição da MPB renovada, permitiu até certo ponto realizar a busca por “novos
paradigmas criativos”.
- Estética do choque. P. 46
- A arte como mercadoria apropriada pelo discurso tropicalista: Esse entendimento da
arte como mercadoria (objeto de consumo) foi bastante explorada pelo Tropicalismo
musical, principalmente. Gilberto Gil ressaltou a necessidade de se entender a música
popular como um meio da cultura de massa, pois, numa sociedade dominada pela
cultura de massas a música também tinha se transformado em uma mercadoria para um
consumo mais rápido e fácil; como declarou: “nossa relação com a arte é uma relação
comercial” 56
- O por que dos mutantes terem tanta liberdade diante da censura e do regime: Ao que
tudo indica, a agressão causada pelos Mutantes à moral e aos bons costumes da
sociedade da época não atingiam diretamente a preocupação da censura, embora
algumas das suas letras tenham sido censuradas. Ainda que o grupo tenha chocado
alguns preceitos sociais e morais, a forma de intervenção política (desejo de liberdade,
deboche, ironia etc.) deles não se vinculava ao tradicional engajamento de esquerda;
porém, segundo algumas declarações os militares perceberam que o “perigo” estava
nesse tipo de intervenção e não numa forma mais direta de engajamento político. De
qualquer modo, os Mutantes eram vistos como jovens alienados e fáceis de serem
manipulados, sobretudo, mediante a postura hegemônica que a Indústria Cultural estava
assumindo no país; mesmo afirmando não gostarem do ambiente da televisão,
apareciam como garotos propagandas e continuaram participando dos Festivais.
- Legimitidade dada por Gil para os Mutantes: Não posso ter preconceito contra as
coisas que representam a realidade do mundo em que vivo. Os problemas das guerras,
das violências e de tantas outras coisas que acontecem no Brasil e em outros países me
interessam de perto. Na música ou em qualquer outra atividade ou arte, as
manifestações verdadeiras que existam devem me interessar, devem enriquecer minha
visão do mundo e minha cultura. Por isso, não tenho preconceito contra nada. Posso
gostar ou não gostar, encontrar ou não valor em alguma coisa, mas simplesmente não
posso, preconceitualmente, ignorar de maneira deliberada nada que ocorra no mundo
em que tenha a felicidade de existir. Daí se explica, talvez, porque acho que cabe uma
guitarra elétrica na minha música, da mesma forma que caberia um cello ou uma trompa
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