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Fichamento : Não vá se perder por aí: A trajetória dos Mutantes

Disponível em: http://wwws.fclar.unesp.br/agenda-pos/ciencias_sociais/1539.pdf

-Mutantes aparecem na Tv por intermédio dos tropicalistas, principalmente Gil, no III


Festival com Domingo no Parque, de 1967
- A relação com o Tropicalismo é esvaziada a partir do AI-5 mas guardam parte da
estética. (P.11)
- Vínculo de Técnica, criatividade e alegria. Não obtiveram o mesmo sucesso que os
tropicalistas (Gil, Caetano) p.11
- Mutantes são a representação da contracultura no Brasil (p.12)
- O que é contracultura? Propõe-se a combater a cultura hegemônica, produzida pelas
classes dominantes.
- Tropicalismo: duas fases.
Fase intensa e Fase extensa.

Intensa: experimentalismo, desejo de romper com a estética dominante da MPB da


década de 1960. Mistura de gêneros e instrumentos.
Extensa: fazer a música de rádio. (p. 13)

Música como documento histórico. Para isso temos que levar em conta: “a linguagem
da canção, a visão de mundo que ela incorpora e traduz e a perspectiva social e histórica
que ela demonstra e constrói.”
Papel da performance na análise das músicas também deve ser levado em conta. Como
também a receptividade do público.

- Conceito de Indústria Cultural


Adorno: a música popular estandardizada é padronizada.

-Apesar de serem um grupo de Rock, resgatam uma vertente popular no contato com o
tropicalismo.(p.19): “Nós fazemos música brasileira, mesmo. Se gostamos do que se faz
nos Estados Unidos, na Inglaterra, isso não quer dizer que somos menos brasileiros.
Aceitamos a influência da cultura dos outros, procuramos incorporá-la à nossa”
OBS: Clara influência do manifesto antropofágico.

-Nesse viés, é preciso analisar com atenção a trajetória dos Mutantes. Três jovens
paulistanos de classe média que com a intenção de “fazer uma música, acima de tudo,
bela e alegre” 13, subverteram alguns padrões não só sociais, ou melhor,
comportamentais, como também da própria música produzida no país, numa época em
que o Brasil estava “irreconhecivelmente inteligente” (SCHWARZ, 1978, p.69).

- Após 64 a hegemonia da cultura nacional-popular é posta em xeque. (p.22)


- Segundo a autora, os festivais de música, a partir de 1965, são o meio de os artistas
mostrarem sua insatisfação com o novo regime vigente. Festival era a maneira de
resistência.

-Dentro do panorama musical desses anos, os Mutantes apresentam uma especificidade


sócio-histórica no contexto geral da década de 60 e 70, a qual pretendemos demonstrar.
Inseridos no contexto de reestruturação e institucionalização da MPB, a grande aparição
dos Mutantes ao público ocorreu em 1967 no III Festival de Música Popular Brasileira,
acompanhando Gilberto Gil em “Domingo no Parque” p.25
-Interessante a entrevista de Gil sobre os Mutantes, de como eles mostraram na prática
uma liberdade de criação que o Gil teorizava mais ainda sentia receio em praticar. P.25

-Década de 60: Impasse estético-ideológico articulado à reestruturação da indústria


cultural.
Impasse estético-ideológico; pois havia se esgotado o modelo de canção nacional-
popular de conscientização e de tentativa de encontrar a real cultura brasileira.
Reestruturação da indústria cultural é o início da mercantilização da cultura, e,
particularmente, da música.
OBS: a entrevista do Gil realça a contribuição dos Mutantes para o Tropicalismo.
A liberdade de criação, de certa forma, pelo menos na relação com o Gil evidencia
a contribuição dos Mutantes para o Tropicalismo.

- A grande mudança propiciada pela Tv e pelos festivais: “Os Festivais, notadamente os


de 1966 a 1968, deslocaram o lugar social da canção, o ambiente musical, assim como o
canal de circulação pelo qual as músicas eram veiculadas. Se nos anos 50 o grande
veículo de circulação das músicas foi o rádio, nos anos 60 passa a ser a TV, seja através
dos festivais ou com os programas de música que emergiram nessa década.”(p.26) o
alcance da TV aliada a busca pelo reconhecimento com a massificação da mensagem.

- Mutantes não foram aceitos no Programa da Jovem Guarda.


Obs: talvez seja um dado importante. Pode mostrar que a pegada dos Mutantes,
apesar de parecer rock alienado, não estava em consonância com as propostas da
Jovem Guarda.

- A investida do produtor nos Mutantes e a aposta na vendagem do grupo: o produtor


Manoel Barenbein viu nos Mutantes a possibilidade de fazerem um rock diferente
daquele que era produzido no Brasil, além de acreditar que através deles a música
jovem ficaria mais próxima de uma “configuração de vanguarda”. Como já foi dito,
desde 1966 discutia-se no país uma música que pudesse atrair os jovens e que tivesse
qualidade. Nesse quadro, podemos dizer que o produtor da Philips vislumbrou nos
Mutantes essa possiblidade de criação e inovação.(p.31)

- Os mutantes como conjunto jovem.(p.32)

- Importante: estética letra e forma: Os Mutantes trouxeram para o cenário mais


conservador da música popular a ironia, o bom humor e o deboche, que tanto
detectavam raízes na tradição da música popular brasileira (basta lembrarmos nomes
como Noel Rosa e Lamartine Babo) quanto no Rock’n’Roll angloamericano do período.
Além disso, e ao contrário do rock tupiniquim produzido na época, as inovações
trazidas pelo grupo jovem, proveniente das garagens do bairro paulistano da Pompéia,
demonstram certas peculiaridades sonoras. Segundo declarou Arnaldo, a prioridade na
hora de fazer música consiste na pesquisa de sons: “a pesquisa de sons é muito
importante. Vale tanto ou mais que letras e melodias”. Já para Sérgio Dias, “queremos
dizer tudo em nossa música, dizer no tema e no som. Nosso desejo é figurar cada som;
os ruídos; as vozes; o canto de um pássaro”. E para Rita Lee: “nossos temas? O mundo
em volta de nós, um dia de sol em plena rua, um sorriso, muito amor nas pessoas, banca
de jornais, gente”. Portanto, não importava apenas o conteúdo das letras – bastante
significativo à canção de protesto -, porém, a possibilidade da descoberta de novas
formas musicais. E isso denota uma diferença substancial para entendermos o motivo
pelo qual a tentativa de enquadrar os Mutantes na Jovem Guarda não se realizou. Isto é,
o trio, como analisaremos, insere-se numa outra vertente musical, cujas preocupações
estão para além da melodia. Segundo Sérgio Dias, “em nossas mãos, a guitarra não
produz apenas sons metálicos, irritantes. Levamos muito a sério os arranjos de nossas
músicas”

-Jovem Guarda fundamental para introdução da guitarra elétrica. No entanto: A Jovem


Guarda, contudo, ficou restrita a um rock pasteurizado e despolitizado; os seus
integrantes não apresentavam capital cultural que possibilitasse uma incursão mais ativa
das suas músicas no Brasil dos anos 60 e, por isso, foram desvalorizados dentro do
tenso campo da MPB que se instituía. P.34
-Enquanto os integrantes do iê-iê-iê são considerados a versão brasileira da beatlemania
(ou seja, os Beatles do início da década de 60), os Mutantes podem ser vistos como a
representação brasileira daquilo que os Beatles pós Sgt. Pepper propuseram
internacionalmente. P.35
Interessante a comparação para situar qual a posição ocupada pela Jovem Guarda
e qual posição ocupa os Mutantes na definição do campo da música brasileira.
Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band é um álbum chave para os Beatles passarem
dessa fase ie ie ie para assim experimentarem a fusão de culturas ocidental e oriental;
alta cultura e cultura de massas.( Assim, ao explorarem a criatividade e levarem o
experimentalismo a níveis antes nunca sonhados no campo da canção popular, os
Beatles contribuíram para o amadurecimento do rock, trazendo a esse gênero musical
algumas complexidades harmônicas, rítmicas e, principalmente timbrísticas,
expressando o ambiente 35Cf. BAHIANA, 1980, p. 79. 36 contracultural da época”

- Conclusão sobre a influência dos Mutantes no Rock Brasileiro: Portanto, ao contrário


do Rock and Roll produzido pela Jovem Guarda os Mutantes deslocaram o lugar social
do rock, trazendo ao gênero um novo status dada a sua ligação com a MPB (através do
Tropicalismo). P. 37

Obs: citação interessante para evidenciar que a lógica de criação dos Mutantes
antecede o tropicalismo e, somente é potencializada pelo tropicalismo Com o
tropicalismo é que eles podem adentrar o cenário da MPB(devido a influência de
Gil e Caetano): E abusando da paródia os Mutantes contribuíram para ressignificação
da música popular. Entretanto, isso só se legitimou após a ligação deles com Gilberto
Gil. Como descrito numa entrevista com Rita Lee: “antes, música popular brasileira não
era nada, não se sentia atraída. Só depois de ‘Domingo no Parque’, de Gil, só depois de
‘Alegria, Alegria’, de Caetano Veloso: ‘ai então, a nossa música ficou bacana’”

-“O que estava em jogo era a perspectiva de uma inovação musical no Brasil, tal como a
que se formatava na Inglaterra com os Beatles; e a legitimação desse sentimento de
mudança, para os Mutantes, encontrou subsídios na vanguarda erudita (via Rogério
Duprat) e na MPB (via Gilberto Gil), como poderemos analisar no próximo capítulo
com mais precisão.” Isso era o que importava para os Mutantes. P.38
- O mercado como potencializador de uma busca de novos padrões criativos: Podemos
dizer que o vínculo indissociável entre canção e mercado, que marca todo o processo de
constituição da MPB renovada, permitiu até certo ponto realizar a busca por “novos
paradigmas criativos”.
- Estética do choque. P. 46
- A arte como mercadoria apropriada pelo discurso tropicalista: Esse entendimento da
arte como mercadoria (objeto de consumo) foi bastante explorada pelo Tropicalismo
musical, principalmente. Gilberto Gil ressaltou a necessidade de se entender a música
popular como um meio da cultura de massa, pois, numa sociedade dominada pela
cultura de massas a música também tinha se transformado em uma mercadoria para um
consumo mais rápido e fácil; como declarou: “nossa relação com a arte é uma relação
comercial” 56
- O por que dos mutantes terem tanta liberdade diante da censura e do regime: Ao que
tudo indica, a agressão causada pelos Mutantes à moral e aos bons costumes da
sociedade da época não atingiam diretamente a preocupação da censura, embora
algumas das suas letras tenham sido censuradas. Ainda que o grupo tenha chocado
alguns preceitos sociais e morais, a forma de intervenção política (desejo de liberdade,
deboche, ironia etc.) deles não se vinculava ao tradicional engajamento de esquerda;
porém, segundo algumas declarações os militares perceberam que o “perigo” estava
nesse tipo de intervenção e não numa forma mais direta de engajamento político. De
qualquer modo, os Mutantes eram vistos como jovens alienados e fáceis de serem
manipulados, sobretudo, mediante a postura hegemônica que a Indústria Cultural estava
assumindo no país; mesmo afirmando não gostarem do ambiente da televisão,
apareciam como garotos propagandas e continuaram participando dos Festivais.

- Diferença da década de 60 para a década de 1970 com relação à indústria do disco:


Até meados dos anos 60, podemos dizer que a indústria do disco quase sempre apostava
em novos gêneros e movimentos que emergiam na década, uma vez que o mercado
ainda não contava com faixas de público definidas, fato que passa a ser determinante
nos anos 70.

- Tropicalismo como movimento heterogêneo: O movimento tropicalista não pode ser


analisado como um movimento homogêneo. Ou seja, embora tenha existido por algum
tempo uma simbiose de idéias e alguns interesses comuns entre os seus integrantes, o
tropicalismo continha várias propostas diferentes em seu seio78

- Legimitidade dada por Gil para os Mutantes: Não posso ter preconceito contra as
coisas que representam a realidade do mundo em que vivo. Os problemas das guerras,
das violências e de tantas outras coisas que acontecem no Brasil e em outros países me
interessam de perto. Na música ou em qualquer outra atividade ou arte, as
manifestações verdadeiras que existam devem me interessar, devem enriquecer minha
visão do mundo e minha cultura. Por isso, não tenho preconceito contra nada. Posso
gostar ou não gostar, encontrar ou não valor em alguma coisa, mas simplesmente não
posso, preconceitualmente, ignorar de maneira deliberada nada que ocorra no mundo
em que tenha a felicidade de existir. Daí se explica, talvez, porque acho que cabe uma
guitarra elétrica na minha música, da mesma forma que caberia um cello ou uma trompa
82.

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