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APÊNDICE D – Exemplos de cálculo

D.1 Determinação do TRRF – tempo requerido de resistência ao fogo


Para exemplo de cálculo, o edifício é residencial (Figura D.1)1, possui 19 pavimentos (2
apartamentos por andar) e foi projetado na região metropolitana de São Paulo, no ano 2000.

As medidas do pé-direito do térreo e dos pavimentos-tipo são, respectivamente, 3,30 m e 2,80


m. Optou-se pelo sistema de lajes lisas de espessura h = 180 mm.

Para o método do tempo equivalente, são necessários os seguintes dados adicionais do projeto
arquitetônico: a área total do pavimento, excluindo-se a área de antecâmaras e recintos
fechados de escadas e rampas é igual a Af = 253,8 m²; a área total de aberturas verticais
(portas, janelas e quaisquer aberturas para o exterior) é igual Av = 48,8 m²; a área total de
aberturas horizontais (lanternim, shed, passagens, etc.) é igual a Ah = 0.

O hall social e hall de serviço não possuem portas corta-fogo e, portanto, não é garantida a
compartimentação entre os dois apartamentos. Assim, será considerado todo o pavimento
como sendo um único compartimento de incêndio no dimensionamento.

Para os cálculos, são necessárias as normas NBR 14432:2001 e IT 08/04 do Corpo de


Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo e o decreto-lei nº 46.076/2001 do
Estado de São Paulo.

D.1.1 Método tabular (NBR 14432:2001)


O método tabular da NBR 14432:2001 estabelece o TRRF em função do uso e das dimensões
da edificação, i.e, da altura da edificação.

A altura da edificação é medida entre as cotas do piso térreo e do piso do último pavimento
(eq. D.1); portanto, exclui-se desse cálculo a altura do último pavimento até o telhado.

1
Este edifício-exemplo foi apresentado para ilustrar o dimensionamento de estruturas de concreto em situação de
incêndio conforme a legislação em São Paulo, em palestra proferida pela Enga Wanda Vaz, na ABECE
(Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural), São Paulo capital, em 03 abr. 2007.
700 Dimensionamento de elementos de concreto armado em situação de incêndio

Figura D.1: Planta de arquitetura do pavimento-tipo do edifício-exemplo (sem escala definida).

h = pé − direito térreo + (n °pt − 1) ⋅ pé − direito pavimentos (D.1)


h = 3,3 + (18 − 1) ⋅ 2,8
∴ h = 50,9 m > 30 m

onde: pé-direitotérreo = 3,30 m;

pé-direitopavimentos = 2,80 m;
APÊNDICE D – Exemplos de cálculo 701

n° pt = n° pavimentos-tipo = 18.

Da tabela B1 da NBR 14432:2001 (vide Tabela 3.2, Cap. 3), o edifício pertence ao grupo “A”
(residencial), subgrupo “A2” (habitações multifamiliares). Da tabela A1 da NBR 14432:2001
ou da tabela A do Anexo A da IT 08/04 (vide Cap. 3, Tabela 3.1), os edifícios do grupo “A”
com altura h ≥ 30 m pertencem à classe “P5” de resistência ao fogo e devem atender ao
TRRF = 120 min.

Ressalta-se que método tabular da NBR 14432:2001 foi idealizado para cobrir a pior situação,
i.e., o elemento submetido ao incêndio padronizado, desprezando-se a presença de algum
meio de proteção ativa (sprinklers, brigadas de incêndio) ou passiva (características térmicas
da compartimentação).

D.1.2 Tempo equivalente


A IT 08/04 permite calcular o TRRF por meio do método do tempo equivalente para
edificações de altura h > 6,00 m2. Se o método fornecer resultados inferiores ao TRRF
estabelecido pelo método tabular da NBR 14432:2001, a redução é limitada até 30 min. (vide
Anexo C da IT 08/04).

O valor do tempo equivalente é calculado por:

t e = q fi,k ⋅ γ n ⋅ γ s ⋅ κ ⋅ W ⋅ M (D.2)

onde: te = tempo equivalente (min);

qfi,k = valor característico da carga de incêndio especifica (MJ/m²);

γn = coeficiente que leva em conta a presença de medidas de proteção ativa da


edificação (eq. D.3);

γs = coeficiente de segurança que depende do risco de incêndio e das conseqüências do


colapso da edificação (eq. D.4);

κ = fator relacionado às características térmicas dos elementos de vedação (Tabela C1

2
COSTA (2007) apresenta exemplos de cálculo do TRRF via método do tempo equivalente para edifícios
comerciais, residenciais e hotéis, com uma aplicação ao projeto de lajes nervuradas de concreto em situação de
incêndio conforme o método tabular da NBR 15200:2004.
702 Dimensionamento de elementos de concreto armado em situação de incêndio

da IT 08/04);

W = fator relacionado à ventilação do ambiente (eq. D.5);

M = fator de correção que depende do material da estrutura (tabela C5 da IT 08/04).

γ n = γ n1 ⋅ γ n2 ⋅ γ n3 (D.3)

onde: γn1, γn2 e γn3 = coeficientes relacionados às medidas de segurança contra incêndio
(tabela C2 da IT 08/04).

γ s = γ s1 ⋅ γ s2 (D.4)

onde: γs1 = coeficiente relacionado à área de piso do compartimento e à altura da edificação


(Tabela C3 da IT 08/04);

γs2 = coeficiente relacionado ao risco de ativação do incêndio (Tabela C4 da IT 08/04).

⎡ ⎛ Av ⎞
4

⎢ 90 ⋅⎜⎜ 0,4 − ⎟ ⎥
⎛6⎞
0,3
⎢ ⎝ A f ⎟⎠ ⎥ (D.5)
W= ⎜ ⎟ ⋅ ⎢0,62 + ⎥ ≥ 0,5
⎝H⎠ ⎢ ⎛ A ⎞ A ⎥
1 + 12,5 ⋅ ⎜⎜1 + 10 ⋅ v ⎟⎟ ⋅ h
⎢ ⎝ Af ⎠ Af ⎥
⎣ ⎦

onde: H = altura do compartimento [m];

Av = área de ventilação vertical (janelas, portas e similares) [m²];

Af = área de piso do compartimento [m²].

Para os edifícios residenciais, a carga de incêndio qfi,k = 300 MJ/m² (tabela C1 da NBR
14432:2001).

Não é obrigatório os edifícios residenciais possuírem chuveiros automáticos (sprinklers), nem


equipamentos de detecção automática; portanto, γn1 = 1 e γn3 = 1. Do decreto-lei nº
46.076/2001 do Estado de São Paulo, para edifícios com área de piso Af > 750 m² ou altura h
APÊNDICE D – Exemplos de cálculo 703

> 12 m, é obrigatória a presença de brigada contra-incêndio (não-profissional); portanto, γn2 =


0,9. Logo:

γ n = 1 ⋅ 0,9 ⋅ 1∴ γ n = 0,9 (D.6)

onde: γn1, γn2 e γn3 = coeficientes relacionados às medidas de segurança contra incêndio
(tabela C2 da IT 08/04).

O coeficiente γs1 é função da área de piso do compartimento e da altura da edificação. A área


de piso do compartimento é área do espaço compreendido pelo perímetro interno das paredes
externas e paredes corta-fogo, excluindo-se a área de antecâmaras e recintos fechados de
escadas e rampas. Deste edifício-exemplo, a área é Af = 253,8 m² e a altura é h = 50,9 m. Para
Af ≤ 750 m² e 30 m < h ≤ 80 m, γs1 = 1,45 (tabela C3 da IT 08/04). Para edifícios residenciais,
o risco de ativação do incêndio é classificado como “normal” e, portanto, γs2 = 1 (tabela C4 da
IT 08/04). Logo:

γ s = 1,45 ⋅ 1∴ γ s = 1,45 (D.7)

Para elementos de compartimentação – paredes, pisos, tetos – de concreto ou de alvenaria, a


inércia térmica desses materiais está compreendida pela faixa 720 J/m²/s½/°C ≤ b ≤ 2500
J/m²/s½/°C; portanto, o correspondente κ = 0,055 min.m²/MJ (tabela C1 da IT 08/04).

Para o cálculo da ventilação do ambiente W (eq. D.5), os dados do projeto arquitetônico são:
Ah = 0 (aberturas horizontais), Av = 48,8 m² (aberturas verticais), Af = 253,8 m² (área do
pavimento, assumido como o compartimento) e a altura do compartimento H = 2,64 m,
medida entre a superfície do piso e a superfície inferior do teto, i.e, o pé-direito “líquido” (eq.
D.8), desprezando-se as espessuras das lajes.

H = pé-direito (bruto) – espessura da laje (D.8)

H = 2,80 – 0,16 ∴ H = 2,64 m

A ventilação W é calculada:
704 Dimensionamento de elementos de concreto armado em situação de incêndio

⎡ ⎛ 48,8 ⎞
4

0,3 ⎢ 90 ⋅⎜ 0,4 − ⎟ ⎥
⎛ 6 ⎞ ⎢ ⎝ 253,8 ⎠ ⎥ ≥ 0,5 (D.9)
W= ⎜ ⎟ ⋅ 0,62 +
⎝ 2,64 ⎠ ⎢ ⎛ 48,8 ⎞ 0 ⎥
⎢ 1 + 12,5 ⋅ ⎜1 + 10 ⋅ ⎟⋅ ⎥
⎣⎢ ⎝ 253,8 ⎠ 253,8 ⎦⎥
∴ W = 1,01

Para estruturas de concreto armado, o fator M = 1 (tabela C5 da IT 08/04). Substituindo os


valores da carga de incêndio qfi,k = 300 MJ/m², κ = 0,055 min.m²/MJ, M = 1 e os resultados
das eqs. (D.6), (D.7) e (D.9) na eq. (D.2), o tempo equivalente é igual a:

t e = 300 ⋅ 0,9 ⋅ 1,45 ⋅ 0,055 ⋅ 1,01 ⋅ 1∴ t e = 22 min (D.10)

Usando-se a eq. (D.11) proposta nesta tese (Cap. 3, item 3.4.10), o valor do coeficiente γs1 é
1,14 (eq. D.12) e, por conseguinte, γs = 1,14.

A ⋅ (h + 3)
γ s1 = 1 +
10 5 (D.11)
1 ≤ γ s1 ≤ 3

onde: A = área de piso do compartimento [m²];

h = altura da edificação (cota do piso mais elevado) [m].

253,8 ⋅ (50,9 + 3)
γ s1 = 1 + ∴ γ s1 = 1,14
10 5 (D.12)
1 ≤ γ s1 ≤3

O tempo equivalente para γs = 1,14 é igual a:

t e = 300 ⋅ 0,9 ⋅ 1,14 ⋅ 0,055 ⋅ 1,01 ⋅ 1∴ t e = 17 min (D.13)

Comparando-se o TRRF via método tabular e via eq. (D.10) ou eq. (D.14), é notável a
influência dos meios de proteção ativa ou passiva sobre a redução das exigências de
APÊNDICE D – Exemplos de cálculo 705

resistência ao fogo dos elementos estruturais (Tabela D.1).

A primeira vista, poder-se-ía assumir o TRRF = 22 min (do cálculo indicado na legislação
vigente); mas, a IT 08/04 (item 5.3.2) limita a redução do TRRF tabular ao máximo de 30
min, i.e.:

t e ≥ TRRF( tabular) − 30 min (D.14)

Tabela D.1: Comparação entre os métodos de determinação do TRRF das estruturas de concreto.
TRRF (min)
Método do tempo equivalente
Método tabular IT 08/04 com γs1 calculado pela
IT 08/04
proposta desta tese
120 22 (90) 17 (90)

Portanto, os elementos estruturais devem atender ao TRRF = 90 min.

D.2 Dimensionamento de elementos de concreto armado em situação de


incêndio

D.2.1 Método tabular (NBR 15200:2004)


Do edifício-exemplo do item D.1, os cobrimentos adotados para as armaduras são: c ≥ 25 mm
(lajes) e c ≥ 30 mm (vigas e pilares), conforme a prescrição da NBR 6118:2003 para classe de
agressividade ambiental II (edifícios em zonas urbanas).

A NBR 15200:2004 prescreve as dimensões mínimas da espessura e da distância entre o CG


da armadura e a superfície aquecida mais próxima (eq. D.15).

c1 ≈ c + Δc (D.15)

onde: c1 = distância entre o CG da armadura e a superfície aquecida mais próxima [mm];

c = cobrimento das armaduras [mm];

∆c = 5 mm (lajes) ou 10 mm (vigas).

D.2.1.1 Lajes

Para TRRF = 90 min, as lajes lisas devem ter espessura h ≥ 200 mm e c1 ≥ 25 mm (Tabela 5
706 Dimensionamento de elementos de concreto armado em situação de incêndio

da NBR 15200:2004).

Pode-se incluir o revestimento no cálculo da espessura. Para fins de proteção térmica, a


espessura do revestimento de argamassa de cimento Portland & areia equivale à mesma
espessura de concreto.

A espessura h = 180 mm definida no projeto à temperatura ambiente atende às exigências de


resistência ao fogo se a laje for provida de revestimento de espessura total hrev = 20 mm de
argamassa de cimento Portland & areia. Essa condição deverá ser incluída nas especificações
de projeto. Assim, h = 180 + 20 = 200 mm → Ok!

A distância c1 pode ser estimada: c1 ≈ 25 + 5 ∴ c1 ≈ 30 mm > 25 mm → Ok!

D.2.1.2 Vigas

Para TRRF = 90 min, as vigas contínuas ou de pórticos de concreto armado devem a largura
e a distância c1 dentro da combinação possível da Tabela D.2.

Tabela D.2: Combinações possíveis de dimensões mínimas de vigas contínuas ou de pórticos (Tabela 9 da NBR
15200:2004).
TRRF (min) Combinações entre bmín (mm) e c1 (mm)
bw,min (mm)
bmín (mm) c1 (mm) bmín (mm) c1 (mm) bmín (mm) c1 (mm)
90 140 35 250 25 400 25 100

Para vigas internas sem revestimento, é usual adotar bw = 140 mm no projeto à temperatura
ambiente. Para a classe de agressividade ambiental II, a distância c1 pode ser estimada:
c 1 ≈ 30 + 10 ∴ c 1 ≈ 40 mm → Ok! Portanto, bw = 140 mm e c1 = 40 mm → Ok!

Para vigas externas sem revestimento, é usual adotar bw = 140 mm no projeto à temperatura
ambiente. Portanto, bw = 190 mm (é maior que 140 mm) e c1 = 40 mm → Ok!

Apenas seguindo-se os critérios usuais de projeto à temperatura ambiente e sem a inclusão de


revestimentos, as dimensões mínimas de vigas internas atendem aos mínimos da NBR
15200:2004.
APÊNDICE D – Exemplos de cálculo 707

D.2.1.3 Pilares

Dimensionamento do pilar P4 do 1° pavimento. Dados do projeto à temperatura ambiente:

■ valor de cálculo do esforço normal atuante para a combinação normal de ações: NSd =
3300 kN;

■ dimensões da seção transversal: 100 cm x 30 cm

■ armadura: 20 ø16 mm.

Trata-se de um pilar de canto (Figura D.1), com apenas 1 face exposta ao calor. Para TRRF =
90 min, a largura, a distância c1 e o nível de carregamento (μfi) devem atender às
combinações da Tabela D.3.

Tabela D.3: Combinações possíveis de dimensões mínimas de pilares (Tabela 10 da NBR 15200:2004).
Mais de 1 face exposta 1 face exposta
TRRF (min) μfi = 0,2 μfi = 0,5 μfi = 0,7 μfi = 0,7
bmín bmín bmín bmín
c1 (mm) c1 (mm) c1 (mm) c1 (mm)
(mm) (mm) (mm) (mm)
90 190 30 300 45 450 40 155 25
Nota: μ = N Sd , fi , onde: NSd,fi = valor de cálculo do esforço normal atuante para a combinação excepcional de
fi
N Rd
ações;
NRd = valor de cálculo do esforço normal resistente do projeto à temperatura
ambiente, levando-se em conta os efeitos de 2ª ordem.

μfi = 0,7 corresponde à solicitação máxima possível dentro dos critérios de segurança
adotados no projeto à temperatura ambiente.

Para o pilar P4, a largura b = 30 cm = 300 mm > bmín = 155 mm → Ok!

A distância a distância c1 (classe de agressividade ambiental II) pode ser estimada


c1 ≈ 30 + 10 ∴ c1 ≈ 40 mm → Ok!

Apenas seguindo-se os critérios usuais de projeto à temperatura ambiente e sem a inclusão de


revestimentos, as dimensões mínimas de vigas internas atendem aos mínimos da NBR
15200:2004.

Dimensionamento do pilar P10 do 1° pavimento. Dados do projeto à temperatura ambiente:


708 Dimensionamento de elementos de concreto armado em situação de incêndio

■ valor de cálculo do esforço normal atuante para a combinação normal de ações: NSd =
8680 kN;

■ valor de cálculo do momento fletor atuante para a combinação normal de ações: MSd =
364 kN.m (incluindo-se o efeito do vento);

■ dimensões da seção transversal: 130 cm x 30 cm

■ armadura: 24 ø25 mm.

Trata-se de um pilar interno (Figura D.1), com as 4 faces expostas ao calor. Para TRRF = 90
min, a largura, a distância c1 e o nível de carregamento (μfi) devem atender às combinações da
Tabela D.3.

A distância a distância c1 (classe de agressividade ambiental II) é


c1 ≈ 30 + 10 ∴ c1 = 40 mm → Ok! Esta é a estimativa de c1 mínimo em função do cobrimento
preestabelecido pela NBR 6118:2003 conforme a classe de agressividade ambiental. O valor
φlong 25
preciso é c1 = c + φest + = 30 + 6,3 + ∴ c1 = 48,8mm ≥ 40 mm → Ok
2 2

Assumindo-se à solicitação máxima possível dentro dos critérios de segurança adotados no


projeto à temperatura ambiente, i.e., μfi = 0,7: a largura b = 30 cm = 300 mm < bmín = 450 mm
→ A segurança não se verifica!

Mesmo com a inclusão de revestimento de argamassa de cimento Portland & areia, a largura
“b” resultante continuará inferior aos mínimos da NBR 15200:2004.

As possíveis soluções são:

■ Considerar o cálculo mais preciso do nível de carregamento (μfi); mesmo assim, para 0,6 ≤
μfi ≤ 0,7, as dimensões finais continuarão inferiores aos mínimos da NBR 15200:2004,
após a interpolação dos valores da Tabela D.3. As dimensões adotadas no projeto à
temperatura ambiente podem atender aos mínimos da NBR 15200:2004 para 0,5 < μfi ≤
0,6, desde que incluso o revestimento.

■ Alterar a largura do pilar de 30 cm (=300 mm) para 45 cm (=450 mm).

■ Manter a largura e alterar a altura do pilar, transformando-o em pilar-parede. As


exigências de resistência ao fogo são menores para pilares-parede (tabela 11 da NBR
APÊNDICE D – Exemplos de cálculo 709

15200:2004); entretanto, será necessário considerar as exigências e restrições da NBR


6118:2003 para pilares-parede.

■ Manter as mesmas dimensões e usar os métodos simplificados de cálculo, por ex., o


Método das Faixas ou o Método dos 500 °C para justificar essas dimensões.

D.2.2 Métodos simplificados


As características dos materiais à temperatura elevada e os critérios de projeto da NBR
15200:2004 são adequadas apenas ao Método das Faixas e o Método dos 500 °C (Tabela D.4
e Tabela D.5).

Tabela D.4: Fatores de redução para a resistência κc,θ Tabela D.5: Coeficientes de minoração da resistência
(concreto) e κs,θ (aço) (NBR 15200:2004). dos materiais (NBR 8681:2003; NBR 15200:2004).
Materiais Materiais
concreto aço CA 50 Situação concreto aço
Temperatura
θ (°C) (agregado γc γs
compressão
silicoso) normal 1,4 1,15
κc,θ κs,θ excepcional 1,2 1,00
20 1 1,00
100 1 1,00
200 0,95 0,89
300 0,85 0,78
400 0,75 0,67
500 0,6 0,56
600 0,45 0,33
700 0,3 0,10
800 0,15 0,08
900 0,08 0,06
1000 0,04 0,04
1100 0,01 0,02
1200 0 0

D.2.2.1 Lajes maciças

Duas lajes de piso, contíguas, apoiadas sobre vigas de largura bw = 15 cm (Figura D.2), de
uma planta baixa de um edifício para fins escolares, de 8 pavimentos (incluindo o térreo) com
pé-direito igual a 3 m. A região possui classe de agressividade ambiental II. As características
do concreto estrutural e do aço estão apresentadas na Tabela D.6.

Para essas condições, o valor característico da ação acidental, para escolas, é 3 kN/m² (NBR
6120:1980); o cobrimento da armadura dos elementos internos é c = 25 mm; a altura do
edifício é h = 21 m (altura medida entre o pavimento térreo e a laje de piso do último
710 Dimensionamento de elementos de concreto armado em situação de incêndio

pavimento) e o TRRF = 90 min (NBR 14432:2001).

Os valores de combinações de ações usados para o projeto à situação normal e verificação em


situação de incêndio estão na Tabela D.7.

Tabela D.6: Características mecânicas dos materiais


utilizados para o concreto armado das lajes e vigas em
estudo.
Materiais Tipo Resistência
L1 4,8 m característica
Concreto Agregados silicosos; fck = 30 MPa
mistura usual sem
h = 9 cm adições; densidade
normal (γc = 25
kN/m³).
Aço CA 50 fyk = 500 MPa

h = 9 cm

L2 4,8 m

6m

sem escala

Figura D.2: Planta de fôrma do pavimento tipo de um


edifício comercial.

Tabela D.7: Combinação de ações e coeficientes de ponderação recomendados pelas normas européias e
brasileiras.
Combinação de ações Coeficientes de ponderação Situação Norma
Ações Materiais
Fd = γ g ⋅ Fgk + γ q ⋅ Fq1k γg = γq = 1,4 γc = 1,4 normal NBR 6118:2003 e
γs = 1,15 NBR 8681:2003
Fd ,i ≅ 0,7 ⋅ Fd = 0,7 ⋅ (γ g ⋅ Fgk + γ q ⋅ Fq1k ) γg = γq = 1,4 γc = 1,2 excepcional# NBR 15200:2004
γs = 1,0
∴ Fd ,i ≅ 0,98 ⋅ Fd
#
As ações excepcionais em situação de incêndio são estimadas em 70% das ações normais.

As lajes foram dimensionadas à flexão no ELU, com base na formulação de placas da Teoria
da Elasticidade para o cálculo dos momentos fletores solicitantes e nos procedimentos de
APÊNDICE D – Exemplos de cálculo 711

cálculo dos momentos fletores resistentes para a situação normal de uso da NBR 6118:2003.

Para a verificação em situação de incêndio, a temperatura no CG armaduras e no meio das


faixas da seção (Método das Faixas), foi obtida por aproximação, da Figura C.1 (Apêndice C).

As Tabela D.10 a Tabela D.11 apresentam o resumo dos cálculos.

D.2.2.1.1 Método das Faixas

Largura “w” para a laje com 1 face exposta ao calor é calculada por (Cap. 7, Tabela 7.16):

w = h = 10 mm = 0,1 m (D.16)

Quantidade de faixas das divisões da seção ao longo da largura efetiva “w”: n = 4. Quanto
mais divisões, maior é a precisão dos cálculos (n ≥ 3).

Metade da seção será dividida em 4 faixas de altura hi = 0,025 m para medição de


temperaturas no meio de cada uma delas (Tabela D.8).

Tabela D.8:Medição de temperaturas no meio das faixas da seção.


Faixa θi (°C) κc,θi Obs.:
1 734 0,25 faixa externa “quente”
2 415 0,73 faixa intermediária
3 234 0,95 faixa intermediária
4 131 1 faixa externa “fria”
Meio da seção < 200 1 κc,θM = 1

Cálculo do fator médio de redução da resistência do concreto (Cap. 7, eq. 7.68):

⎛ 0,2 ⎞ ⎛ 0,2 ⎞ (D.17)


⎜1 − ⎟ n ⎜1 − ⎟
⎝ n ⎠ ⎝ 4 ⎠
κ c,m = ⋅ ∑ κ c ,θi = ⋅ (0,25 + 0,73 + 0,95 + 1) = 0,7
n i =1 4

Cálculo da espessura desprezável “az” para pilares (Cap. 7, eq. 7.67):

⎛ κ c, m ⎞ (D.18)
a z = w ⋅ ⎜1 − ⎟ = 0,10 ⋅ ⎡1 − 0,7 ⎤ = 0,03 m = 30 mm
⎜ κ c ,θ ⎟ ⎢ 1 ⎥⎦
⎝ M ⎠ ⎣

Os resultados da análise térmica e a redução da resistência dos materiais estão apresentados


712 Dimensionamento de elementos de concreto armado em situação de incêndio

na Tabela D.9. As Tabela D.10 a Tabela D.12 apresentam o resumo dos cálculos.

Valor de cálculo da resistência dos materiais para a situação de incêndio: concreto (eq. D.19)
e aço das armaduras positiva (eq. D.20) e negativa (eq. D.21).

κ cθ , M ⋅ f ck 1 ⋅ 30 (D.19)
f cd ,θM = κ c ,θM ⋅ f cd = = = 25 MPa
γc 1,2

Tabela D.9: Redução da resistência dos materiais para lajes maciças deste exemplo.
TRRF = 90 min.
Método das Faixas
Fatores de redução da resistência
Armaduras característica dos materiais Espessura desprezável
c1 (mm) θs (°C)
κc,θM
κs,θ (aço)* az (mm)
(concreto)
29 502 0,56 1 30
Positiva
37 420 0,65
Negativa 71 < 200 1
Nota: Usado o κs,θ definido pela tensão de prova estabelecida pela deformação residual 0,2%.

⎧ 0,56 ⋅ 500 (D.20)


⎪⎪ = 280 MPa → armadura na direção x
κ s ,θ ⋅ f yk 1
f yd,θ = κ s ,θ ⋅ f yk = =⎨
γs ⎪ 0,65 ⋅ 500 = 325 MPa → armadura na direção y
⎪⎩ 1

κ s ,θ ⋅ f yk 1 ⋅ 500 (D.21)
f yd,θ = κ s ,θ ⋅ f yk = = = 500 MPa
γs 1

Cálculo da profundidade do bloco comprimido das seções de momento positivo em situação


de incêndio:

⎧ 280 ⋅ 3,52 ⋅10 −4 (D.22)


⎪ = 4,64 ⋅10 −3 → armadura na direção x
f yd,θ ⋅ A s ⎪ 0,85 ⋅ 25 ⋅1
a fi = =⎨
α cc ⋅ f cd ,θM ⋅ b ⎪ 325 ⋅ 4,02 ⋅10 −4
= 6,15 ⋅10 −3 → armadura na direção y
⎪⎩ 0,85 ⋅ 25 ⋅1
Tabela D.10: Valor de cálculo dos momentos positivos nos vãos das lajes maciças.
vãos Carregamento Situação normal** (NBR 6118:2003) Situação de incêndio*** (NBR
15200:2004)
Permanente valor de cálculo das ações Armadura adotada
Fgk (kN/m²) mSd,fi = 0,7*md

Lajes
mRdx,fi mRdy,fi

h (mm)
ℓx ℓy Fd momento solicitante c1 dx Asx arranjo c1 dy Asy arranjo
(kN/m²) (kN.m/m) (kN.m/m)
(m) (m) mdx (mm) (mm) (mm) (cm)

Acidental
αx* αy* mdy (cm²/m) (cm²/m) mSdx,fi mSdy,fi

Peso
Fqk (kN/m²)

Total

própr
revest
(kN.m/m) (kN.m/m) (kN.m/m) (kN.m/m)
L1 100 4,8 6 2,5 1 3,5 3 9,1 21,4 9,80 35,2 9,3 29 71 3,52 ø8mm 37 63 4,02 ø8mm 6,86 6,51 6,77 6,83
c/17cm c/14cm
L2 100 4,8 6 2,5 1 3,5 3 9,1 21,4 9,80 35,2 9,3 29 71 3,52 ø8mm 37 63 4,02 ø8mm 6,86 6,51 6,77 6,83
c/17cm c/14cm
APÊNDICE D - Exemplos de cálculo

Notas: * αx, αy e α2 são coeficientes de Czerny para análise estrutural de placas com base na Teoria da Elasticidade.
4
Fd ⋅ l x
2
l x ; para α = 23,8, w = 5mm < 9,6mm → Ok!
máx
** verificação da flecha máxima: w = ≤
máx 3
E cs ⋅ h ⋅ α 2 500
*** TRRF = 90 min.

Tabela D.11: Valor de cálculo dos momentos resistentes positivos reais nos vãos das lajes maciças.
Lajes direção x direção y
Arranjo x (mm) mRdx (kN.m/m) Arranjo x (mm) mRdy (kN.m/m)
L1 ø8mm c/17cm 10,5 10,22 ø8mm c/14cm 12 10,18
L2 ø8mm c/17cm 10,5 10,22 ø8mm c/14cm 12 10,18

Tabela D.12: Valor de cálculo dos momentos fletores negativos na região dos apoios das lajes maciças.
Situação normal (NBR 6118:2003)
Situação de incêndio** (NBR 15200:2004)
NBR 6118:2003
x ℓ mRd,real
Aresta (m) momento solicitante Armadura adotada x (mm) momento resistente x_fi
(kN.m/m) md_,fi = 0,7*md_
mRd_,fi (kN*m/m) az (mm) d_fi (mm) (mm)***
βx* md_ (kN.m/m) c1 (mm) d_ (mm) As_ (cm²/m) arranjo
L1 – L1 4,8
9,9 21,18 29 mm 71 9,55 ø8mm c/7cm 28,5 21,47 14,83 14,21 30 41 28
Notas: * βx é o coeficiente de Czerny para análise estrutural de placas com base na Teoria da Elasticidade.
** TRRF = 90 min.
*** linha neutra em situação de incêndio da seção reduzida.
713
714 Dimensionamento de elementos de concreto armado em situação de incêndio

Cálculo da capacidade resistente das seções de momento positivo (não precisa reduzir a
espessura da seção):

⎧ (D.23)
3 ⎛ 4,64 ⋅10 −3 ⎞
⎪3 ,52 ⋅ 10 −4
⋅ 280 ⋅ 10 ⋅ ⎜
⎜ 71 ⋅ 10 −3
− ⎟
⎟ = 6, 77 kN ⋅ m/m
⎛ a fi ⎞ ⎪ ⎝ 2 ⎠
M R ,fi =A s ⋅f yd,θ ⋅⎜d − ⎟ = ⎨
⎝ 2 ⎠ ⎪ 3 ⎛ 6,15 ⋅ 10 −3 ⎞
4, 02 ⋅ 10 −4
⋅ 325 ⋅ 10 ⋅ ⎜⎜ 63 ⋅10 −3 − ⎟⎟ = 7,83 kN ⋅ m/m
⎪ 2
⎩ ⎝ ⎠

A segurança em situação de incêndio não se verifica nas seções de momento positivo para
TRRF = 90 min, pois:

⎧6,77 kN ⋅ m/m < 6,86 kN ⋅ m/m → direção x → a segurança não se verifica! (D.24)
∴ M R ,fi = ⎨
⎩6,83 kN ⋅ m/m > 4,17 kN ⋅ m/m → direção y → Ok!

Cálculo da profundidade do bloco comprimido das seções de momento negativo em situação


de incêndio:

f yd,θ ⋅ A s 500 ⋅ 9,55 ⋅10 −4 (D.25)


a fi = = = 2,25 ⋅10 −2 m
α cc ⋅ f cd ,θM ⋅ b 0,85 ⋅ 25 ⋅1

Altura efetiva em situação de incêndio:

d fi = d − a z = 71 − 30 = 41 mm = 41 ⋅10 -3 m (D.26)

Cálculo da capacidade resistente das seções de momento negativo:

⎛ a ⎞ ⎛ 2,25 ⋅10 −2 ⎞ (D.27)


M R ,fi =A s ⋅f yd,θ ⋅ ⎜ d fi − fi ⎟ = 9,55 ⋅ 10 −4 ⋅ 500 ⋅10 3 ⋅ ⎜⎜ 41 ⋅10 −3 − ⎟⎟ = 14,21 kN ⋅ m/m
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠

MRd,fi = 14,21 kN*m/m < MSd,fi = 14,83 kN*m/m; portanto, a segurança em situação de
incêndio não se verifica!
APÊNDICE D – Exemplos de cálculo 715

Possíveis soluções:

■ se não houver restrições às deformações excessivas, usar o coeficiente redutor do aço


(κs,θ) definido pela tensão de prova estabelecida pela deformação residual 2% e
redistribuir os momentos em função da reserva estrutural apresentada pela seção de
momento positivo;

■ aumentar a espessura da laje para h = 120 mm e recalcular as seções;

■ trocar o método por outro mais preciso, por ex., o método gráfico proposto nesta tese.

D.2.2.1.2 Método dos 500 °C

Espessura na isoterma 500 °C (Figura C.1, Apêndice C): a500 = 30 mm.

f ck 30
Sendo f cd = = = 25 MPa e a500 = az = 30 mm, o Método dos 500 °C apresenta o
γc 1,2
mesmo resultado do Método das Faixas (fcd = fcd, θM) para este exemplo.

D.2.2.1.3 Método simplificado proposto nesta tese

Para o cálculo do momento fletor resistente relativo em situação de incêndio, é necessária a


resistência real da seção a partir da armadura adotada (Tabela D.11).

Para as seções de momento positivo, valor do momento fletor resistente relativo é:

⎧ 6,86 (D.28)
M Rd ,fi M Sd ,fi ⎪⎪10,22 = 0,67 → direção x
μ fi = = =⎨
M Rd M Rd ⎪ 6,51 = 0,64 → direção y
⎪⎩10,18

Da Figura C.1 (Apêndice C) para κs,θ (coeficiente redutor do aço) definido pela tensão de
prova estabelecida pela deformação residual à temperatura elevada εs,θ = 2%:

■ Classe de agressividade ambiental II: µfi = 0,67 (direção x) → TRF = 114 min > TRRF =
90 min. Ok!

■ Classe de agressividade ambiental II: µfi = 0,64 (direção y) → TRF = 117 min > TRRF =
90 min. Ok!
716 Dimensionamento de elementos de concreto armado em situação de incêndio

Da Figura C.22 (Apêndice C) para o aço com tensão de prova definida a εs,θ = 0,2% à
temperatura elevada:

■ Classe de agressividade ambiental II: µfi = 0,67 (direção x) → TRF = 88 min < TRRF =
90 min. A segurança não se verifica!

■ Classe de agressividade ambiental II: µfi = 0,64 (direção y) → TRF = 93 min > TRRF =
90 min. Ok!

Para as seções de momento negativo, cálculo de µfi (eq. E) e taxa de armadura ρs (eq. E)

M Rd ,fi M Sd ,fi 14,83 (D.29)


μ fi = = = = 0,69
M Rd M Rd 21,43

A s 8,04 ⋅ 10 −4 (D.30)
ρs = = = 0,8%
Ac 0,1 ⋅ 1

Da Figura C.24 (Apêndice C) para o aço com tensão de prova definida a εs,θ = 2% à
temperatura elevada:

■ Classe de agressividade ambiental II, ρs = 0,8%: µfi = 0,69 → TRF = 70 min < TRRF = 90
min. Portanto, a segurança não se verifica!

Da Figura C.25 (Apêndice C) para o aço com tensão de prova definida a εs,θ = 0,2% à
temperatura elevada:

■ Classe de agressividade ambiental II ρs = 0,8%: µfi = 0,69 → TRF = 70 min < TRRF = 90
min. Portanto, a segurança não se verifica!

Possível solução: redistribuir os momentos, aproveitando-se a reserva estrutural resistente da


seção de momentos positivo se apropriado usar o aço com tensão de prova definida a εs,θ =
2% à temperatura elevada.
APÊNDICE D – Exemplos de cálculo 717

Para o cálculo da capacidade resistente que a seção de momentos negativos deve ter, é
necessário calcular o carregamento total em situação de incêndio, com base na combinação
excepcional de ações:

Fd ,fi = γ g ⋅ Fg + γ q ⋅F Q = 1,2 ⋅ 3,5 + 1 ⋅ 3 = 7,7 kN / m (D.31)

Para a seção de momentos positivos, o TRF = 90 min corresponde ao µfi = 0,92 da seção de
momentos positivos. Para esse TRF, a capacidade resistente total da seção de momentos
positivos é calculada com base no equilíbrio do corpo livre (Figura D.3):

x2 (D.32)
M (x ) = 15,39 ⋅ x − 7,7 ⋅
2
V(x ) = 15,39 − 7,7 ⋅ x

Fd,fi = 3,5*1,2 + 3 = 7,7 kN/m MRd,fi = µfi*MRd_


MRd,fi = 0,69*21,47=14,81 kN*m/m

RA = 15,39 kN RB = 21,57 kN
ℓ = 4,80 m

Figura D.3: Esquema do corpo livre, i.e., do vão em análise para a redistribuição de momentos.

O momento positivo máximo do vão está localizado na coordenada “x” onde o esforço
cortante é zero. Para V(x) = 0 (eq. D.31), x = 2 m e M(2) = 15,38 kN*m/m. Portanto, o
momento positivo a ser suportado pela seção do vão após a redistribuição é M(2) = 15,38
kN*m/m; comparando-o à capacidade resistente disponível para a situação de incêndio (eq. D.
28), tem-se:

M (2) = 15,38 kN ⋅ m / m > M Rd ,fi = 6,86 kN ⋅ m / m → direção x (D.33)

O momento necessário a ser suportado é maior do que o momento resistente disponível; logo,
a laje não atende ao TRRF = 90 min.

Outra solução é aumentar a altura da laje e recalculá-la novamente.


718 Dimensionamento de elementos de concreto armado em situação de incêndio

D.2.2.2 Pilares

Aproveitando-se o 2° exemplo do item D.2.1.3, o pilar P4 terá a sua capacidade resistente


avaliada por meio do Método das Faixas e do Método dos 500 °C.

Dados do pilar para o cálculo em situação de incêndio:

■ valor de cálculo do esforço normal atuante para a combinação excepcional de ações: NSd,fi
= 5208 kN;

■ valor de cálculo do momento fletor atuante para a combinação excepcional de ações: MSd
= 220 kN.m (excluindo-se o efeito do vento);

218,4
■ excentricidade total de 1ª ordem: e1 = = 0,042 m (incluindo-se a excentricidade
5208
acidental e excluindo-se o efeito do vento);

■ dimensões da seção transversal: 130 cm x 30 cm;

■ armadura: 24 ø25 mm

■ materiais: aço CA 50 – fyk = 500 MPa, Es = 210 GPa; concreto fck = 30 MPa.

Para a seção armada, é necessário construir o diagrama de interação MRd x NRd para a situação
de incêndio, considerando os efeitos da temperatura elevada sobre os materiais. Para tanto, é
necessário conhecer a distribuição de temperaturas na seção para o TRRF = 90 min (Figura
D.4).

Para o concreto, a redução da resistência depende do método simplificado empregado; para o


aço, depende da temperatura das barras para reduzir-se a resistência do aço (Tabela D.4).

Adotaram-se os fatores de redução de resistência e deformações lineares específicas EN 1992-


1-2:2004 (Cap. 5, item 5.3.2.3) para considerar a região elasto-plástica do diagrama tensão-
deformação do aço à temperatura elevada (Figura D.5). Por simplicidade e à favor da
segurança, o κs,θ (compressão) foi usado para todas as armaduras, estejam tracionadas ou
comprimidas.

Para a posição da armadura principal na seção, i.e., distância entre o CG da barra e a face
exposta ao calor mais próxima, c1 = 48,8 mm → θs ≈ 500 °C (Figura D.4).
APÊNDICE D – Exemplos de cálculo 719

Valor de cálculo da resistência à tração do aço para θs = 500 °C:

κ s ,θ ⋅ f yk 0,56 ⋅ 500 (D.34)


f yd,θ = = = 280 MPa
γs 1

1.500 hours Tabela D.13: Temperatura das armaduras, fatores de redução de


resistência e deformações lineares em função da temperatura.
800500 6007900
900 80000 εsy,θ εst,θ εsu,θ
0.6 700 300 θs (°C) κs,θ κsp,θ κsE,θ
200 40 (%) (%) (%)
0
0

500 0,56 0,36 0,6 2 5 10


40
0
10

0.4
500

0.2
300

0
600
700
800

100
300

200

-0.2
900600

900
100

700
800

-0.4
400
500

2
40000 300
-0.6 600500
700
900
800
-0.1 0 0.1
Figura D.4: Isotermas na seção 30
cm x 130 cm aquecida nas 4 faces
para t = 90 min de aquecimento ISO
834:1975.

Módulo de elasticidade do aço para θs = 500 °C:

E s ,θ = κ sE ,θ ⋅ E s = 0,6 ⋅ 210 = 126 GPa (D.35)


720 Dimensionamento de elementos de concreto armado em situação de incêndio

D.2.2.2.1 Método dos 500 °C

Espessura na isoterma 500 °C (Figura D.4): a500 = 30 mm. Raio de giração da seção
retangular reduzida:

b fi 300 − 2 ⋅ 30 (D.36)
i= = = 69,28 mm
12 12

Para pilares do térreo e pavimentos intermediários, admite-se que os pavimentos frios sito
abaixo ou acima do compartimento de incêndio oferecem uma rigidez relativa similar ao
engastamento. Dessa forma, o pilar é considerado biengastado para a situação de incêndio.

Comprimento efetivo do pilar em situação de incêndio:

l 3300 (D.37)
l 0,fi = = = 1650 mm
2 2

Índice de esbeltez em situação de incêndio:

1650 (D.38)
λfi = = 22
69,28

Índice de esbeltez-limite calculado conforme a NBR 6118:2003 (eq. D.19). Por falta de dados,
foi admitida a pior situação de carregamento, i.e., αb = 1; na prática, αb < 1.

e1 25 + 12,5 ⋅ 0,042 (D.39)


25 + 12,5 ⋅
h = 0,24
λlim = = 27
αb 1

O pilar pode ser considerado curto para a situação de incêndio, pois: λfi = 22 < λlim = 27 . Não
é necessário considerar efeitos de 2ª ordem.

A construção do diagrama de interação MRd,fi x NRd,fi para a seção reduzida é similar ao


projeto à situação normal, exceto os coeficientes de segurança dos materiais que são menores
(Tabela D.5). As propriedades mecânicas do concreto são iguais à temperatura ambiente e, as
APÊNDICE D – Exemplos de cálculo 721

do aço, reduzidas em função da temperatura elevada. As relações tensão-deformação dos


materiais usadas estão apresentadas na Figura D.5.

O valor de cálculo da resistência do concreto é:

f ck 30 (D.40)
f cd = = = 25 MPa
γc 1,2

A verificação da resistência é feita, comparando-se o par de esforços aplicados (MSd,fi; NSd,fi)


com os valores limiares estabelecidos pela envoltória de esforços resistentes (MRd,fi; NRd,fi) da
seção armada para o ELU em situação de incêndio (Figura D.6).

relação tensão-deformação relação tensão-deformação


5 4
4 .10 3 .10
εsy θ εstθ εc1 εcu

( ) 4
2 .10
α cc⋅ fcd
tensão (kPa)

tensão (kPa)

σs εs , θ s

(
σsc εs , θ sc
.
) 2 10
5
( )
σc εc
4
aço tracionado 1 .10
aço comprimido concreto
0 0
0 0.05 0 0.001 0.002 0.003
εs εc

deformação linear específica deformação linear específica

Figura D.5: Relações tensão-deformação dos materiais para o Método dos 500 °C.

Para NRd,fi = NSd,fi = 5280 kN, o valor máximo do momento resistente é MRd,fi = 303 kN.m >
MSd,fi = 220 kN.m → Ok!

Logo, o pilar atende às exigências de resistência ao fogo para TRRF = 90 min.

D.2.2.2.2 Método das Faixas

Largura “w” para pilar com 4 faces expostas ao calor é calculada por (Cap. 7, Tabela 7.16):

b 0,3 (D.41)
w= = = 0,15 m
2 2

Quantidade de faixas das divisões da seção ao longo da largura efetiva “w”: n = 3. Quanto
mais divisões, maior é a precisão dos cálculos (n ≥ 3).

Metade da seção será dividida em 3 faixas de largura bi = 0,05 m para medição de


722 Dimensionamento de elementos de concreto armado em situação de incêndio

temperaturas no meio de cada uma delas (Tabela D.14).

Cálculo do fator médio de redução da resistência do concreto (Cap.7, eq. 7.68):

⎛ 0,2 ⎞ ⎛ 0,2 ⎞ (D.42)


⎜1 − ⎟ n ⎜1 − ⎟
⎝ n ⎠ ⎝ 3 ⎠
κ c, m = ⋅ ∑ κ c ,θi = ⋅ (0,48 + 0,95 + 1) = 0,756
n i =1 3

Tabela D.14: Medição de temperaturas no meio das faixas da seção.


faixa θi (°C) κc,θi Obs.:
1 580 0,48 faixa externa
2 200 0,95 faixa intermediária
3 ~ 75 1 faixa interna
Meio da seção ~ 50 1 κc,θM = 1

Cálculo da espessura desprezável “az” para pilares (Cap. 7, eq. 7.67):

⎡ ⎛κ 1, 3
⎞ ⎤ ⎡ 1, 3
⎤ (D.43)
a z = w ⋅ ⎢1 − ⎜ c , m ⎟ ⎥ = 0,15 ⋅ ⎢1 − ⎛⎜ 0,756 ⎞⎟ ⎥ = 0,0457 m = 45,7 mm
⎢ ⎜⎝ κ c ,θ M ⎟
⎠ ⎥ ⎣⎢ ⎝ 1 ⎠ ⎦⎥
⎣ ⎦

Raio de giração da seção retangular reduzida:

b fi 300 − 2 ⋅ 45,7 (D.44)


i= = = 60,2 mm
12 12

Índice de esbeltez em situação de incêndio:

1650 (D.45)
λfi = = 27,41
60,2

Índice de esbeltez-limite calculado conforme a NBR 6118:2003 (eq. D.19). Por falta de dados,
foi admitida a pior situação de carregamento, i.e., αb = 1; na prática, αb < 1.
APÊNDICE D – Exemplos de cálculo 723

e1 25 + 12,5 ⋅ 0,042 (D.46)


25 + 12,5 ⋅
h = 0,3 − 2 ⋅ 0,0457
λlim = = 27,52
αb 1

O pilar pode ser considerado curto para a situação de incêndio, pois:


λfi = 27,41 < λlim = 27,52 . Não é necessário considerar efeitos de 2ª ordem.

A construção do diagrama de interação MRd,fi x NRd,fi para a seção reduzida é análoga àquela
usando o Método dos 500 °C. Para o concreto, o valor de cálculo da resistência é:

κ c,θ ⋅ f ck 1 ⋅ 30 (D.47)
f cd ,θ M = κ c,θ M ⋅ f cd = M
= = 25 MPa
γc 1,2

O Método das Faixas considera a ductilidade do concreto a temperaturas elevadas, por meio
do aumento da deformação última do concreto para a relação tensão-deformação parábola-
retângulo. O valor da deformação última do concreto é calculado por:

ε cu 0,35% (D.48)
ε c,θM = = = 0,35%
κ c,θM 1

Da eq. (D.48), a relação tensão-deformação do concreto é a mesma usada no projeto à


temperatura ambiente (Figura D.5).

A construção do diagrama de interação MRd,fi x NRd,fi para a seção reduzida procedeu à


semelhança do Método dos 500 °C, diferenciando apenas o valor da espessura desprezada na
seção de concreto.

Comparando-se o par de esforços aplicados (MSd,fi; NSd,fi) com os valores limiares


estabelecidos pela envoltória de esforços resistentes (MRd,fi; NRd,fi) da seção armada para o
ELU em situação de incêndio (Figura D.6), o pilar atende às exigências de resistência ao
fogo para TRRF = 90 min.

Para NRd,fi = NSd,fi = 5280 kN, o valor máximo do momento resistente é MRd,fi = 228 kN.m >
MSd,fi = 220 kN.m → Ok!

Devido à espessura desprezável az ser maior que a500, o Método das Faixas mostrou-se mais
conservador que o Método dos 500 °C para este estudo de caso.
724 Dimensionamento de elementos de concreto armado em situação de incêndio

Em ambos os métodos simplificados, o efeito do carregamento de longa duração sobre a


resistência característica à compressão do concreto foi considerado por meio do coeficiente
αcc = 0,85, seguindo-se as sugestões do Eurocode 2 (EN 1992-1-2:2004) para o uso desses
métodos.

14000
20 °C - situação normal
(γc=1,4 e γs=1,15)
12000 Método dos 500 °C
(γc=1,2 e γs=1,0)
10000 Método das Faixas
(γc=1,2 e γs=1,0)
carregamento aplicado
8000
NRd (kN)

(MSd,fi; NSd,fi)

6000

4000

2000

0
0 200 400 600 800
MRd (kN.m)

MSd,fi = 220 kN*m; NSd,fi = 5208 kN

Figura D.6: Diagrama de iteração MRd,fi x NRd,fi da seção de concreto armado sob flexão composta normal.

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