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AULA
Os investimentos
e as taxas de juros
Meta da aula
Explicar a influência das taxas de juros
e da inflação sobre os investimentos
realizados pelas empresas.

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:


objetivos

1 listar os fatores macroeconômicos que afetam


os investimentos;
2 identificar a importância dos investimentos como
fator de aumento na produção agregada;
3 distinguir taxa nominal e real de juros.

Pré-requisito
Ajuda a compreender esta aula uma
breve revisão da tabela que mostra o PIB
brasileiro desmembrado (Aula 3) e o modelo
keynesiano, apresentado na Aula 4.
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros

INTRODUÇÃO

Henning Buchholz (www.sxc.hu)


INVESTIMENTO
(PRODUTIVO)
É o acréscimo de
bens de capital à
empresa, como
novas máquinas
ou a construção Figura 5.1: Investir em uma empresa pode ser
de uma planta uma operação de risco. Diante do cenário macro-
industrial (a fábrica). econômico em que esteja inserida, no entanto, há
O investimento certos fatores que podem ser observados a fim de
proporciona aumento que se diminuam as incertezas sobre o futuro.
da capacidade
produtiva do país
gerando o que se No final do século passado, a publicidade resumiu em uma frase o que
denomina Taxa
de Acumulação podemos entender como quase uma revolução na área de administração: “a
de Capital. Os
propaganda é a alma do negócio”. Podemos nos aproveitar dessa máxima e
investimentos podem
ser desdobrados afirmar: “O investimento é a alma do crescimento econômico”. Você verá, ao
em investimentos
em bens de capital longo desta aula, que esta nossa máxima se justifica: enquanto a propaganda
(Formação Bruta de
Capital Fixo) e em estimula a preferência pelo produto e gera a prosperidade nos negócios, os
variação de estoques. investimentos representam a possibilidade de maior capacidade produtiva e
Lembre-se de que
tratamos disso maior prosperidade na economia. Quando há investimento, há a expansão da
rapidamente quando
desmembramos o PIB empresa, o que gera mais emprego, renda e produção.
brasileiro (Aula 3).
Nesta aula, vamos analisar o papel dos investimentos na economia de um
país. Para isso, precisamos, entre outras coisas, identificar os elementos que
os estimulam. É o que vamos desenvolver a seguir.
BENS DE CAPITAL

São os bens cujo


destino é a produção
POR QUE INVESTIR?
de outros bens. O
capital pode ser
físico (máquinas Em primeiro lugar, você sabe definir o que é I N V E S T I M E N T O ?
e equipamentos)
ou financeiro Em Macroeconomia, investir significa adquirir capital novo.
(aplicações em ações, Capital é o bem cujo destino é a produção de outro bem. São exemplos
títulos públicos
ou financeiros de BENS DE CAPITAL o maquinário, as edificações, os equipamentos etc.
etc.). Quando os
investimentos são Quando uma empresa resolve aumentar o tamanho de sua fábrica, ela
em capital físico,
está investindo.
denominam-se
investimento Os investimentos têm dupla função na economia: são um
produtivo. Quando
são em capital importante elemento de demanda agregada (como visto na aula anterior)
financeiro, costuma-
se denominá-los
e proporcionam incremento na capacidade produtiva. Esta última função
investimento dos investimentos se dá por conta de se aumentarem os recursos disponíveis
financeiro.
– estoque de capital – destinados à produção de bens e serviços.

98 CEDERJ
Podemos dividir os investimentos em duas fases:

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A primeira ocorre quando há despesas com a compra de capital,

AULA
o que impulsiona a demanda agregada (ainda não há o resultado dos
investimentos em termos de aumento da produção). A segunda se nota
após a maturação dos investimentos, o que resulta em aumento da
produção (oferta agregada) e da capacidade produtiva da economia.
Ou seja, você pode entender o investimento também como a ação
que eleva a oferta agregada e o estoque de capital no sistema econômico.
São exemplos disso os gastos com instalações industriais, aquisições de
máquinas ou equipamentos, variações de estoques etc.
Saiba ainda que o investimento pode ter duas dimensões: pode
ser bruto ou líquido. Considerando que o estoque de capital também
se deprecia, a diferença entre investimento bruto e líquido é dada pelo
montante de investimento destinado a cobrir o que se desgasta ao longo
do tempo, ou seja, a depreciação.
A equação a seguir mostra a relação entre investimento bruto e
líquido.

IL = IB – D
sendo:
IL = investimento líquido
IB = investimento bruto
D = taxa do estoque de capital depreciado no período.

Em termos concretos: se, por exemplo, os investimentos totais


de um país forem da ordem de 10 bilhões de dólares e, em média, 10%
dos investimentos servirem apenas para cobrir o desgaste do capital,
teremos:

IL = 10 – 0,1 (10) = 90

Caso você se sinta mais à vontade com um raciocínio baseado em


equações, pode-se dizer que a definição de investimentos é dada por:
It = Kt – Kt-1 (1)

onde:
Kt = o estoque de capital no período t
Kt-1 = o estoque de capital no período t-1 (período anterior a t)

CEDERJ 99
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros

Como o estoque de capital aumenta na proporção do montante


dos investimentos líquidos realizados, o papel dos investimentos se torna
claro pelo fato de permitir uma elevação na capacidade produtiva da
economia ao longo do tempo.

O ACELERADOR DOS INVESTIMENTOS

O que leva um empresário a desejar ampliar seu estoque de


capital?
A verificação ou expectativa de que a demanda pelo seu produto
está em elevação torna-se um estímulo para ampliação de seus recursos
produtivos; entre estes, o estoque de capital necessário para essa
ampliação. Uma vez identificado o nível adequado de estoque de capital,
os investimentos são realizados em função de alcançar tal nível.

Em geral, o estoque de capital desejado pelo empresário guarda


relação com o nível de produto:
(2)
onde:
= estoque desejado de capital no período t;
= coeficiente da relação entre capital e produto e α > 0;
Yt = nível de produto no período t.

Supondo que, no período anterior, o estoque de capital tenha


seguido o mesmo comportamento em relação a seu respectivo nível de
produto:
(3)

Agora veja: se utilizarmos as equações (2) e (3) na equação (1),


temos:

(4)

Analisando a equação (4), percebemos que os gastos com


investimentos são feitos em função de uma taxa de variação do produto.
Se o produto (ou PIB), em um determinado período, cresce 10 unidades
monetárias (u.m) e a razão capital produto (α) é 3, os gastos com
investimentos serão, portanto, de 30 u.m.

100 C E D E R J
Você deve observar que, quando há um gasto com investimentos, a

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renda e o produto deverão aumentar por conta do multiplicador dos gastos

AULA
(lembre-se do que vimos na aula anterior sobre o modelo keynesiano). Agora
estamos falando que, quando o produto aumenta, os investimentos também
aumentam. Ou seja, desencadeia-se um processo de aceleração, já que, ao
elevar o estoque de capital, a oferta de produto aumenta também.
O princípio acelerador dos investimentos estabelece que uma taxa
de crescimento do produto (PIB) causa uma elevação nos investimentos,
o que, por sua vez, aumenta os níveis de produto, o que acelera os
investimentos mais uma vez, como mostra a equação (4).
O gráfico a seguir apresenta a taxa média dos investimentos no
Brasil entre os anos de 1980 e 2000. Repare que, quanto mais alta a
taxa de investimentos, mais o Brasil esteve ampliando o seu potencial
de crescimento econômico.

Taxa média de investimento (% do PIB)


30
Taxa média de investimento

25

20

15

10

0
1980 1985 1990 1995 2000
Fonte: Froyen (2001) Anos

Atividade 1
Invista em Marte 1 2

Observe os dados a seguir:

1. A Aço Marciano S.A. é uma empresa que se dedica a atender dois


mercados consumidores de aço: o dos fabricantes de satélites e o dos
fabricantes de naves espaciais.

2. De 2055 a 2056, a demanda por satélites cresceu 3%. Já a demanda


por naves aumentou 1%.

C E D E R J 101
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros

3. O coeficiente da relação entre capital e produto para as naves é de 2.


Para os satélites, é de 4.

4. Uma nave espacial tem depreciação anual estimada em 50%. Um


satélite tem depreciação anual estimada em 10%.

5. Em 2055, cada um desses dois setores respondeu por 100 reais


marcianos (100 RM$) do PIB daquele planeta.

Agora que você está a par do cenário macroeconômico de Marte, responda:

Qual produto dependerá de maior investimento bruto a fim de que sua demanda seja
atendida? De quanto deverá ser esse montante?

Qual produto apresentará investimento líquido mais próximo do bruto? Explicite ambos
os valores.

Resposta Comentada
Partindo do pressuposto de que tanto os satélites quanto as naves espaciais responderam
por RM$100 do PIB de Marte em 2055, podemos depreender que a demanda por satélites,
em 2056, passou a RM$ 103, enquanto a demanda por naves chegou a RM$ 101. Já vimos
que, no cálculo dos investimentos, há um importante fator chamado coeficiente da relação
entre capital e produto. Este índice visa a estipular quanto deve ser investido para que se
alcance uma unidade de produto. No caso dos satélites, é preciso que se invistam RM$ 412
para atender a uma demanda de RM$ 103. No caso das naves, basta que se invistam RM$
202 para que se atenda à demanda de RM$ 101. Logo, as naves dependem de menor
investimento bruto para que sua demanda seja atendida. No entanto, vimos que satélites
depreciam 10% ao ano, enquanto naves perdem 50% de seu valor no mesmo período. Logo,
se já aprendemos que o investimento líquido é o bruto descontado da taxa de depreciação,
chegamos ao resultado que diz que RM$ 412 investidos em satélites geram RM$ 370,8 de
investimento líquido. No caso das naves, RM$ 202 investidos (investimento bruto) geram
RM$ 101 de investimento líquido. Logo, os satélites apresentam uma relação mais
próxima entre investimento bruto e líquido.

102 C E D E R J
A TAXA DE JUROS

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AULA
Já vimos que investir requer um desembolso financeiro inicial.
Uma empresa pode investir com recursos próprios ou de terceiros. Em
ambos os casos, a taxa de juros exerce um papel importante na decisão
de investir ou não. Veja como: se a empresa precisar recorrer aos bancos
para financiar a aquisição do nível de capital desejado, ela precisará
pagar os juros de tais empréstimos. Nesse caso, a taxa de juros será um
importante indicador dos custos de investir. Bastante claro, concorda?
Existe, no entanto, uma outra forma de fazer investimentos. Ela
ocorre quando a empresa dispõe de lucros do período anterior retidos em
nível suficiente para bancar seus gastos com investimentos. Ainda assim, a
taxa de juros afetará a decisão de investir. Isso ocorre porque

Neil Gould (www.sxc.hu)


o empresário irá avaliar a possibilidade de aplicar esses lucros
retidos em títulos que rendam em ritmo igual ao das taxas de
juros. Se esses títulos tiverem uma rentabilidade com os juros
maior do que a rentabilidade esperada com a maturação dos
investimentos na produção, o empresário pode decidir por não
investir na produção e sim nesses títulos. Sendo assim, com
recursos próprios (lucros retidos) ou de terceiros (empréstimos), Figura 5.2: É nas Bolsas de Valores que se
acompanha o desempenho dos títulos e
a taxa de juros representa o custo de investir. das ações das empresas.

Agora guarde: o conceito de taxa de juros recai sobre duas


vertentes: a taxa nominal e a taxa real.
A primeira é definida como aquela expressa em termos de quantas
unidades monetárias são pagas como juros. Um empréstimo de 100 u.m.
com taxa de juros de 10% representa juros de 10 u.m. Estes últimos são
os juros nominais, aqueles pagos no mercado.
A taxa real de juros, por sua vez, mede o quanto realmente se
paga, levando em consideração o poder aquisitivo do dinheiro antes
e depois de pago o empréstimo. Isto é, considera-se a perda do poder
aquisitivo do dinheiro dada a inflação entre o momento em que se pegou
e o momento em que se pagou pelo empréstimo. Se aquele empréstimo
de 100 u.m., com taxa de juros (nominal) de 10%, tivesse sido realizado
em um ambiente de inflação de 10%, o valor real do que se emprestou
seria 110 u.m. (pois os preços aumentaram em 10%).
Entendido isso, repare: ao se pagar 110 u.m. (100 u.m. da parcela
principal e 10 u.m. de juros nominais) não se estaria na realidade pagando
juro real nenhum.

C E D E R J 103
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros

Desprezando-se uma pequena imprecisão matemática (consulte o


boxe explicativo a seguir), considera-se a taxa real de juros como:

r=n-π (5)

onde:
r = taxa real de juros
n = taxa nominal de juros
π = taxa de inflação

Então, se são dados os juros nominais e se há uma taxa alta de


inflação, os gastos efetivamente realizados com os investimentos serão
menores. O que importa para o empresário são as taxas de juros reais,
pois ela mede o valor real dos juros que precisaram ser pagos. Lembre-se
de que os preços dos produtos que o empresário vende devem estar
acompanhando o ritmo inflacionário.

?
A equação das taxas
de juros nominal e real

A definição analítica de taxa de juros real (ρ) é:


1+ n
1+ ρ =
1 + π (6)
onde:
n = taxa de juros nominal
π = taxa de inflação
Como já foi dito, a taxa de juros nominal é a taxa divulgada no mercado, isto é,
aquela expressa em unidades monetárias.

Para extrairmos ρ vamos desenvolver a equação (6):


(1 + ρ ) (1 + π ) = (1 + n )
1 + n = 1 + π + ρ + ρπ
ρ + ρπ = n − π
n −π
ρ=
1+ π
Para baixos valores de inflação, a taxa de juros real pode ser
entendida como:
ρ ≈ n −π
A leitura da equação anterior é de que a taxa de
juros real é aproximadamente a taxa de
juros nominal descontada a taxa
de inflação.

104 C E D E R J
Por essa razão, os dispêndios com investimentos dependem da taxa

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real de juros. Observe que, se a economia do país apresenta baixa taxa

AULA
de inflação, a diferença entre juros reais e nominais deverá ser pequena;
sendo assim, nesse caso, tanto faria entender os investimentos a partir
da taxa real ou da nominal.
Note que quanto maior e mais instável for a taxa de juros, maior
será a importância de distinguir os efeitos do juro nominal e do real
sobre novos investimentos.

Atividade 2
Os juros e o mercado 1 2 3

IBGE anuncia queda na Cheque especial é a melhor


inflação opção para o consumidor

F oram divulgados na noite


de ontem os números
do Índice Nacional de
Preços ao Consumidor (INPC/
S egundo o opera-dor da Bolsa
de Valores Jorge Stressman,
“o mercado financeiro se
ressente das taxas atuais”. De
acordo com Stressman, os títulos
IBGE). Segundo o índice, a taxa
de inflação deste mês fica na casa que mais renderam no mês pas-
dos 2,68%. sado não conseguem competir
com uma taxa nominal de 7,79%
para o cheque especial.

A partir desses dois fragmentos de notícia, determine a taxa de juros real do cheque
especial e verifique a diferença entre os valores das taxas de juros, considerando todos
os termos que a compõem e a equação que a define como um valor aproximado.

C E D E R J 105
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros

Resposta Comentada
n −π
A taxa de juros real, como já vimos, é dada por ρ = .
1+ π
Ou seja, a partir dos dados que apresentamos, temos:

0, 0779 − 0, 0268
ρ= = 0, 049766 ,
1 + 0, 0268
o que, em termos percentuais, corresponde a 4,9%.
Considerando o valor aproximado (numerador da equação acima), a taxa de juros real seria
0,0511, ou ainda 5,11%. Ou seja, tratamos aqui de uma diferença pouco significativa.

OS DETERMINANTES DO INVESTIMENTO

Você deve ter notado que os investimentos são afetados por


algumas variáveis, descritas na seguinte função:
Davide Guglielmo (www.sxc.hu)

I = f ( Y , n, π, Kt-1) (7)
A equação (7) informa que o investimento depende das variáveis
nível de produto (Y), taxa de juros nominal (n), inflação (π) e estoque
de capital do período anterior (Kt-1).
A relação entre cada uma destas variáveis e o nível de investimento
é descrita a seguir:
• um aumento no nível do produto estimula os investimentos;
a elevação do produto se traduz em mais vendas e, assim, um estoque
adicional de capital é desejável;
• mantida fixa a taxa de inflação, quanto maior a taxa de juros,
maior será o custo de investir. Como efeito, será menor a motivação para
investir. Quanto menor a taxa de juros, menor será o custo de investir.
Como efeito, será maior a motivação para investir;
• mantida a taxa nominal de juros, uma elevação na taxa de
inflação diminui o valor real do que se pagará com os empréstimos para
investir. Como efeito, por estar mais barato investir, o nível desejado
de investimentos deve aumentar. E uma redução na taxa de inflação
aumenta o valor real do que se pagará com os empréstimos para investir;
conseqüentemente a tendência é de diminuir o nível de investimentos; e
• quanto menor o estoque de capital (no período anterior), maior
será a necessidade de investir para cada nível de produção desejada.

106 C E D E R J
Agora pense: um empresário percebe que a demanda pelos

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seus produtos está aumentando e, assim, considera que é uma boa

AULA
oportunidade para realizar novos investimentos em sua fábrica. Ele
precisa recorrer aos bancos para financiar seus investimentos. A taxa
de juros é de 100% ao ano. O empresário espera que os preços dos seus
produtos subam 80%. Quanto ele estará pagando de juros reais?
A resposta é simples: o cálculo da taxa de juros real será a taxa de
juros nominal decrescida do índice de preços dos produtos do empresário,
ou seja, 20%.
Saiba, no entanto, que essa taxa não é a que normalmente se
chegaria, visto que não está sendo considerada a taxa de inflação.
Todavia, essa conta é mais apropriada para aquele empresário como
indicação do custo de investir. Isso ocorre porque o índice de preços
de seus produtos reflete com mais precisão o que ele receberá por seus
produtos para abater na taxa de juros nominal.
Veja outro exemplo: um empresário vai financiar a compra de
uma máquina no valor de 100 reais, com taxa de juros de 100%. No
momento do empréstimo, o preço do produto que vende é de 10 reais.
Então, o empréstimo representa o faturamento de dez produtos.
Suponha então que os preços dos seus produtos subirão 150%.
O que o empresário no final vai pagar com o empréstimo, 200 reais,
equivalerá a oito produtos. Isso reflete mais precisamente o custo de
investir do que se o empresário utilizasse a taxa de inflação do período,
que poderia diferir do aumento de preço daquele produto específico.
Lembre-se de que a inflação é uma média, é uma variável agregada.

A TAXA DE JUROS E A ILUSÃO MONETÁRIA

Alguns meses antes do início do governo Collor, a taxa média


de inflação mensal era de cerca de 80%. Como a poupança no Brasil
rende correção monetária (calculda por uma taxa que visa referenciar
a correção) acrescida de 0,5% de juro real ao mês, os indivíduos que
tinham caderneta de poupança recebiam mensalmente cerca de 80,5%
(dos quais 80% devidos à inflação no período e 0,5% de juro real). Se,
por exemplo, um depositante tivesse naquela época, o equivalente a
1.000 reais de hoje, ao final de um mês de aplicação na poupança ele
verificaria que sua conta passou para 1.805 reais.

C E D E R J 107
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros

Quando o então presidente Collor assumiu o comando do país,


implementou uma controversa política antiinflacionária (bloqueou
todos os tipos de contas bancárias que excedessem determinado valor)
que reduziu, pelo menos nos primeiros meses daquele plano, a taxa de
inflação. A taxa mensal de inflação baixou então para cerca de 10%.
Dessa maneira, a remuneração da poupança passou a ser de 10,5%.
Grande parte dos aplicadores sentiu que a poupança estava rendendo
menos. Afinal, se antes, com 1.000 u.m. eles receberiam 1.805 u.m.,
agora eles receberiam apenas 1.105 u.m.
Mas você acha que eles estavam realmente recebendo menos?
O entendimento dessa questão é a distinção entre taxa de juros
real e nominal. Ou, em um nível mais abstrato, entre variável econômica
nominal e variável econômica real.
Veja como: se você depositou R$ 1.000 em uma caderneta de
poupança cuja taxa de juros de mercado, após um ano, foi de 10%, sua
poupança totalizou R$ 1.100.
Então, será que você ficou mais rico com o resultado da aplicação
na poupança?
Vamos pensar: imagine que, no mesmo período em que foi feita a
aplicação, a taxa da inflação foi de 100%. Com isso, fica fácil perceber
que os R$ 1.100 do final da aplicação valem menos do que os R$ 1.000
que você depositou, não é? Ou seja, apesar de ter mais em termos
nominais (valor expresso em unidades monetárias), o poder aquisitivo
do valor que você aplicou na poupança diminuiu (valor em termos
reais). Por que isso aconteceu? Isso aconteceu por conta da inflação,
que reflete o aumento médio dos preços dos produtos no período. Se a
inflação atingiu a casa dos 100%, isso indica que, em média, os preços
dobraram de valor.
Para que no final da história o valor do que você depositou tivesse
sido o mesmo com a aplicação a taxa de juros, ele teria que ser reajustado
em 100%. Em outras palavras, se a taxa de juros fosse de mais de 100%,
você teria aumentado o seu poder aquisitivo com a poupança. Caso
contrário, teria perdido com a aplicação.
Nesse exemplo dado, a taxa de juros de 10% paga pelo banco
é a taxa nominal. A taxa real será a taxa nominal deduzida da taxa de
inflação, como diz a equação (5) (r = n - π). Portanto, a taxa de juros real
foi de –90%. Isto é, com a aplicação na poupança, o poder aquisitivo
diminuiu em 90%.

108 C E D E R J
No caso do período Collor, a taxa de juros nominal caiu, embora

5
tenha acompanhado a queda da taxa de inflação na mesma intensidade.

AULA
Isto quer dizer que a taxa de juros real (a que mede a variação do poder
aquisitivo) permaneceu a mesma.
Em termos reais, não houve qualquer vantagem ou desvantagem
em receber juros nominais mais elevados em ambiente de inflação mais
elevado. Diz-se que há uma ilusão monetária quando o individuo só
verifica a taxa de juros nominais e não percebe a taxa de juros real.

?
Variáveis reais e
nominais
Em economia, as variáveis podem
ser classificadas como nominais ou reais.
As variáveis nominais são aquelas expressas em
unidades monetárias. As reais são as expressas em
termos de poder aquisitivo ou poder de compra. As variáveis
reais são obtidas a partir das variáveis nominais. Para chegar à
variável real, basta dividi-la por um índice de preços (deflacionar)
e obtém-se a variável real. A tabela a seguir apresenta três das mais
conhecidas variáveis nominais/reais na economia.

Exemplos de variáveis nominais e reais

Nominal Real Forma da variável real


PIBn PIBr PIBr=PIBn
P
Juros (n) Juros (ρ) ρ = n−π ou ≈ n − π
1+π
Salário (W) 1Salário real (w) w=W
P

P (índice de preços no período) representa um índice


de preços como o INPC, IPC, IGP etc.

Saiba que salário real é o salário medido pelo poder de


compra. Em outras palavras, seu contracheque indica
o seu salário nominal (quanto em u.m. você esta
recebendo). O que você compra com o
salário que recebeu evidencia o seu
salário real.

C E D E R J 109
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros

Atividade 3
Não se iluda 1 2 3

Reflita e responda: o que você prefere, um salário nominal maior ou um salário real
menor? Justifique sua resposta.
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________

Resposta Comentada
Não é possível responder com precisão a essa questão sem que se tenha mais informações
sobre tais valores de salários. De qualquer forma, você pode argumentar o seguinte: o salário
nominal é apenas um número de unidades monetárias. O que vai dizer se esse número vale
muito ou pouco será o nível de preços. Afinal, de que adianta eu receber milhões de u.m.
se os preços das coisas são bem maiores? O salário real, por sua vez, refere-se justamente
ao poder de compra do meu salário. Assim, o salário real maior é garantia de maior poder
de compra do salário. Pode ocorrer uma situação de aumento de salário nominal de 40%
em período de 80% de taxa de inflação, ou redução do salário real em 10% sem qualquer
aumento de salário nominal, o que seria preferível à primeira, pois a redução do salário real
seria menor neste caso.

CONCLUSÃO

Os investimentos são uma importante variável macroeconômica,


pois se constituem em um elemento da demanda agregada, como também,
em um elemento da oferta agregada. Portanto, além de estarem presentes
no modelo keynesiano, os investimentos estão presentes em modelos
de crescimento e desenvolvimento econômico ainda não abordados em
nossas aulas.
Nesta aula, atribuímos à taxa real de juros e ao crescimento do
produto os fatores que afetam os investimentos. Entram nessa conta o
efeito multiplicador de gastos (o aumento de investimento eleva a renda)
e o efeito acelerador (o aumento da renda devido ao multiplicador leva a
novo aumento de investimentos) presentes na relação entre investimento
e nível de renda ou produto.

110 C E D E R J
Atividades Finais

5
AULA
1. Em determinado país, um trabalhador recebia salários mensais de
1 2 3
R$ 1.000. Um ano depois, seu salário foi para R$ 2.000, enquanto a
inflação atingiu a taxa de 80%. O que aconteceu com o salário nominal e o salário
real nesse caso?

________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________

2. Economicamente, um empréstimo pode ter taxa de juros nominais negativa?

________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________

3. Por que a taxa de juros é o custo de investir, mesmo se a empresa tiver recursos
próprios para tal?

________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________

Respostas Comentadas
1. O salário nominal aumentou em 100%. O salário real aumentou em 20%.

2. Sim, embora essa situação se refira a um equívoco da parte de quem empresta. Se a taxa real
de juros foi negativa, então o valor real do que se emprestou foi menor do que o valor do que se
recebeu com o fim do empréstimo. Sendo assim, quem emprestou perdeu. Isso ocorre quando
quem empresta não percebe ou erra na previsão da inflação que deve ocorrer no período de
vigência do empréstimo. Economicamente, ninguém estaria disposto a emprestar, digamos, a uma
taxa nominal de 10% se estiver imaginando que a taxa de inflação no mesmo período deverá ser
maior do que 10%.

3. Porque o empresário leva em consideração o que poderia receber se aplicasse no mercado


financeiro o dinheiro destinado a investir. Por exemplo, se o mercado financeiro estiver remunerando
as aplicações com uma taxa mais alta do que a taxa de lucratividade que ele espera receber como
resultado dos seus investimentos, ele pode preferir aplicar no mercado financeiro, ao invés de
se voltar para o mercado produtivo.

C E D E R J 111
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros

RESUMO

Os
Os investimentos
investimentos são
são importantes
importantes para
para o
o sistema
sistema econômico
econômico porque
porque são
são
um
um componente
componente de
de demanda
demanda agregada
agregada (estimulam
(estimulam oo crescimento
crescimento do
do PIB
PIB
pelo
pelo lado
lado da
da demanda)
demanda) ee porque,
porque, por
por outro
outro lado,
lado, aumentam
aumentam a a capacidade
capacidade
produtiva da economia devido à elevação do seu estoque de capital.
produtiva da economia devido à elevação do seu estoque de capital.
Quando
Quando háhá aumento
aumento na
na produção,
produção, os
os empresários
empresários procuram
procuram manter
manter uma
uma
relação
relação entre
entre a
a produção
produção e
e seu
seu estoque
estoque de
de capital.
capital. Quando
Quando a
a produção
produção
aumenta,
aumenta, o
o estoque
estoque de
de capital
capital desejado
desejado tende
tende a
a aumentar.
aumentar. Tal
Tal mudança
mudança
de estoque de capital é justamente o investimento.
de estoque de capital é justamente o investimento.
Os
Os mais
mais importantes
importantes fatores
fatores que
que influenciam
influenciam o
o nível
nível de
de investimentos
investimentos são:
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a
taxa
taxa real
real de
de juros
juros –– que
que por
por sua
sua vez
vez depende
depende da
da taxa
taxa nominal
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da inflação
inflação

—e eoo crescimento
crescimento do
do produto.
produto.
A
A existência da inflação faz
existência da inflação faz nascer
nascer dois
dois conceitos
conceitos de
de taxas
taxas de
de juros:
juros: a
a
primeira é a taxa nominal, que nada mais é do que aquela divulgada pelo
primeira é a taxa nominal, que nada mais é do que aquela divulgada pelo
comércio
comércio e e pelos
pelos bancos.
bancos. A
A segunda
segunda é
éaa taxa
taxa real,
real, que
que considera
considera o
o poder
poder
aquisitivo
aquisitivo da moeda ao longo do período dos empréstimos. A taxa real
da moeda ao longo do período dos empréstimos. A taxa real
é
é aproximadamente
aproximadamente igual
igual àà taxa
taxa nominal
nominal decrescida
decrescida da
da taxa
taxa de
de inflação.
inflação.
Quanto
Quanto mais elevada for a taxa de investimento, mais o país poderá crescer.
mais elevada for a taxa de investimento, mais o país poderá crescer.
Sem
Sem investimento,
investimento, não
não há
há como
como obter
obter crescimento
crescimento econômico
econômico durável.
durável. Em
Em
outras palavras, “o investimento é a alma do crescimento econômico”.
outras palavras, “o investimento é a alma do crescimento econômico”.

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