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Conselho Editorial
Profª Msc. Neli Góes Ribeiro
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
Prof. Dr. Paulino de Jesus Francisco Cardoso
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
Prof. Dr. Wilson Roberto de Mattos
Pró-Reitoria de Pesquisa e Ensino de Pós-Graduação -
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Prof. Dr. Ahyas Siss
Vice-Diretor do Instituto Multidis-ciplinar - Campus da UFRRJ em
Nova Iguaçu -Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ
Prof. Dr. Paulo Vinicius Baptista da Silva
Coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros - NEAB/UFPR -
Universidade Federal do Paraná - UFPR
Profª Msc. Claudia Rocha
Coordenadora do Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio-Americanos -
Cepaia - Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Colaboração
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
1a edição
Itajaí - 2008
4
Caderno Pedagógico - Criciúma
Editores
José Isaías Venera
José Roberto Severino
Comercial
Ivana Bittencourt dos Santos Severino
CDD – 981.642
Revisão
Débora Michels Mattos
Sumário
Apresentação 7
Introdução 11
Promovendo a igualdade racial da
população negra nas escolas munici-
pais de Criciúma
Panôs de sobrevivência: 17
pedaços de vidas enlaçados pela
moradia e pelo trabalho
Apresentação
Introdução
Promovendo a igualdade
racial da população negra
nas escolas municipais de
Criciúma
Iolanda R. Lima Manoel*
Notas:
*
Iolanda R. Lima Manoel é graduada em Pedagogia pela
Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC;
especialista em Tecnologia Aplicada à Educação, pela
Faculdade Bagozzi; e coordenadora do Programa Municipal
de Educação para Diversidade Étnica Cultural – PMEDEC.
16
Caderno Pedagógico - Criciúma
17
Caderno Pedagógico - Criciúma
Panôs de sobrevivência:
pedaços de vidas enlaçados pela moradia e
pelo trabalho
para casa com 500 réis. A casa dos meus pais era feita
de ripas, cipó e barro. A cobertura era feita de palha do
mato. Era feita pelos vizinhos que ajudavam. Tinha
apenas uma repartição. O chão era batido, o fogão tinha
quatro pés e só cozinhava com lenha. Tinha um arame
pendurado na cumeeira da casa, até em cima do fogão,
com uma trempe na ponta para pendurar a panela ou a
chaleira. Os banquinhos eram feitos de madeira, a cama
(tarimba) era de bambu (alambrado), colchão de palha
de milho e a coberta e travesseiro eram feitos do algodão
que sua mãe, às vezes, plantava.
Hoje com 80 anos, mora próximo à E.E.B. Irmã
Edviges, no bairro Mina União. Casado com a Senhora
Sartira de Oliveira dos Passos, com quem vive junto há
50 anos, tiveram nove filhos. Atualmente, está
aposentado por invalidez, pois adquiriu uma hérnia pelo
esforço que fazia, empurrando os carrinhos de carvão
(vagões) e no trabalho com as picaretas. Seu Zé foi
enfático: “Era tudo muito pesado. Tinha que trabalhar
muito tempo deitado. Era tudo no muque!” E mesmo
tendo dedicado horas, dias e noites no trabalho
exaustivo da mina, o que ganha do aposento é muito
pouco, não dá para se manter e, por isso, ainda trabalha
com compra e venda de ferro velho.
Atraídas pelo emprego nas minas, a exemplo de Zé do
Norte, muitas famílias afrodescendentes vão formando,
junto com famílias italianas, um mosaico de vilarejos no
entorno da Rua do Pé Sujo. Os italianos ficaram na parte
alta do Morro da Miséria, atual Mina União, pois num
primeiro momento se dedicaram ao plantio e à criação de
animais, sendo os proprietários da maioria das terras.
Porém, a parte baixa da vila foi sendo habitada por
famílias vindas para trabalhar na mineração.
22
Caderno Pedagógico - Criciúma
Notas
1
Mestra em História pela UFSC, professora dos
Departamentos de História e Pedagogia da UNESC, membro
do NEGRA (Núcleo de Estudos de Gênero e Raça).
2
Formada em Letras, professora da Escola Municipal Adolfo
Back.
3
Pedagoga, uma das coordenadoras de ensino da Secretaria
de Educação Municipal de Criciúma.
4
Orientadora escolar da Escola Municipal Adolfo Back.
5
Maria Leda da Silva Cardoso, 54 anos, negra, reside no
bairro Jardim União. Entrevista concedida à Lucy Cristina
Ostetto, Rosimari Gorete Joaquim e aos alunos(as) da 7ª e
8ª séries, em 05 de junho de 2006.
6
O bairro Jardim União possui atualmente 873 habitantes,
supermercado, posto de saúde, ginásio de esportes, creche
(CAIC), escola, conjunto habitacional, mercearias, padaria,
fábrica, borracharia, ruas lajotadas e asfaltadas, água
encanada, coleta de lixo, energia elétrica, telefone público,
ônibus, asilo e conselho de segurança.
7
Cf.: ALMEIDA, Gergilda. Bruna e a galinha d’Angola.
Rio de Janeiro: Pallas, 2000.
8
Dalziza Sebastião Bazílio, negra, 73 anos, moradora do
bairro Jardim União. Entrevista concedida à Lucy Cristina
Ostetto e Rosimari Joaquim, em 24 de agosto de 2006.
9
Depoimento oral de Maria Leda da Silva Cardoso.
10
Conforme nos falou Vitório Benincá, em conversa informal,
no dia 20 de julho de 2006 (falecido em 01 de janeiro de
2007).
40
Caderno Pedagógico - Criciúma
11
Carmela Milanese, 80 anos, moradora do bairro Milanese.
Entrevista concedida à Lucy Cristina Ostetto, Marisa
Cardoso da Cunha e Rosimeri Goreti Joaquim, em 02 de
setembro de 2006.
12
Dona Carmela conta-nos que, na década de 1900 a 1910,
a sua família chegou no “Morro da Miséria” e que “este
local foi assim chamado, porque os homens saíam para
caçar, mas não encontravam nada. Então, começaram a
dizer que aquele lugar era um morro da miséria”.
13
Depoimento oral de Carmela Milaneze.
14
Conversa informal com Rosimari Goreti Joaquim, em 19
de outubro de 2006.
15
Margarida Vargas Cardoso, 73 anos, negra, moradora do
bairro Mina União. Entrevista concedida à Lucy Cristina
Ostetto, Mariza Cardoso da Cunha e Rosemari Goreti
Joaquim, em 12 de agosto de 2006.
16
Idem.
17
Idem.
18
Milton Alves Silvino, 54 anos, negro, morador do bairro
Jardim União. Entrevista concedida à Rosimeri Goreti
Joaquim, em 11 de junho de 2006.
19
Depoimento oral de Maria Leda da Silva Cardoso.
20
Idem.
21
Depoimento oral de Dalziza Sebastião Bazílio.
22
Depoimento oral de Maria Leda da Silva Cardoso.
23
Depoimento oral de Milton Alves Silvino.
24
Depoimento oral de Dalziza Sebastião Bazílio.
25
Depoimento oral de Margarida Vargas Cardoso.
26
Idem.
27
Depoimento oral de Maria Leda da Silva Cardoso.
28
Depoimento oral de Dalziza Sebastião Bazílio.
29
Depoimento oral de Milton Alves Silvino.
41
Caderno Pedagógico - Criciúma
30
Anoirte Damázio Agostinho, 60 anos, negra, moradora do
bairro Jardim União. Entrevista concedida à Lucy Cristina
Ostetto e Rosimeri Goreti Joaquim, em 24 de agosto de
2006.
31
Idem.
32
Idem.
33
Idem.
34
Idem.
Fontes orais:
Anoirte Damázio Agostinho
Carmela Milaneze
Dalziza Sebastião Bazílio
José Passos
Margarida Vargas Cardoso
Maria Leda da Silva Cardoso
Milton Alves Silvino
Vitório Beninca
Referências:
ALMEIDA, Gergilda. Bruna e a galinha d’Angola.
Rio de Janeiro: Pallas, 2000.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de
velhos. São Paulo: EDUSP, 1987.
42
Caderno Pedagógico - Criciúma
Adiles Lima1
Geórgia dos Passos Hilário2
Iolanda Romeli Lima Manoel3
Sonia Regina Trichez44
Introdução
Iniciamos este registro por meio de uma reflexão do
poeta moçambicano José Craveirinha (1922-2003),
uma das vozes literárias mais influentes de Moçambique
que participou da resistência anti-colonial, mas não
atuou na luta armada. Sua poesia expressa as múltiplas
faces culturais de seu país.
O poema que escolhemos se refere à exploração do
carvão no continente africano, rico em jazidas minerais
e pedras preciosas. Além disso, a poesia evoca a reflexão
de pátria à luz das relações entre patrão e escravizado,
pois o autor viveu a colonização em Moçambique, como
um dos impérios de Portugal: país que descolonizou sua
terra natal em 1974.
É importante fazer este relato de um dos países
africanos para contextualizar os fatos que ocorreram
45
Caderno Pedagógico - Criciúma
Considerações finais
Discutir e analisar, com professores e professoras, a
história do Brasil numa perspectiva racial, é fundamental
para que se construam novas formas de postura e
intervenção, em favor de um olhar mais amplo sobre a
diversidade.
A implementação da Lei Federal 10.639/03, na ação
pedagógica das escolas da Rede Municipal de Criciúma,
parece uma tarefa difícil, mas não impossível, pois
requer determinação, vontade e resistência: herança essa
adquirida de nossos ancestrais.
Para que a escola intervenha no processo de
aprendizagem significativa dos alunos, é necessário
conhecer a realidade do mesmo. A história do
afrodescendente em Criciúma precisa ser conhecida e
ressignificada. Foi com esse intuito que a EMEF Pe. José
Francisco Bertero contribuiu, para que o estudo da
história local em que a escola está inserida possa trazer
informações acerca das questões raciais, subsidiando
professores e professoras na desconstrução de séculos
de omissão da verdadeira história.
O nosso trabalho iniciou com uma sensibilização aos
docentes da escola em que pautamos o histórico da Lei
10.639/03, seu objetivo e importância, resultando no
PMEDEC (Programa Municipal de Educação para
Diversidade Étnica Cultural). Alguns professores e
professoras não se sentiam seguros ainda em iniciar a
pesquisa no bairro.
Então, assumimos o compromisso de apoiá-los, indo
a campo com alguns alunos do 8º e 9º ano. Houve
muitas dificuldades e enfrentamentos ao longo do
processo. Procuramos resolvê-las da melhor forma
62
Caderno Pedagógico - Criciúma
Notas
1
Professora graduada em Pedagogia pela Universidade do
Extremo Sul Catarinense - UNESC, especialista em
Educação Infantil e mestre em Educação e Cultura pela
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC,
professora do Curso de Pedagogia e Coordenadora do NEAB
na UNESC, membro do NEGRA (Núcleo de Estudos de
Gênero e Raça).
2
Professora graduada em Letras pela UNESC, especialista
em Práticas Pedagógicas Multidisciplinares pela AUPEX,
mestranda em Teoria Literária pela UFSC, membro do
NEGRA, coordenadora pedagógica do 6º ao 9º período na
Secretaria Municipal de Ensino.
3
Professora graduada em Pedagogia pela UNESC,
especialista em Tecnologia Aplicada à Educação pela
Faculdade Bagozzi, Coordenadora do PMEDEC (Programa
Municipal de Educação para a Diversidade Étnico-Cultural),
na SME.
4
Orientadora educacional, graduada em Pedagogia e pós-
graduada em Psicopedagogia na UNESC.
5
As fontes orais utilizadas para a realização deste trabalho
terão seus nomes substituídos por outros de caráter fictício,
de forma a preservar a identidade dos depoentes.
63
Caderno Pedagógico - Criciúma
6
DIRETRIZES Curriculares Nacionais para a educação das
relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura
afro-brasileira e africana. Distrito Federal, 2005.
7
Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, 2001.
Referências
Introdução
Tal qual pontuou Nora (2003), os locais de memória
se constituem por meio de laços de afetividade, de
reconhecimento, de pertencimento e de grupo. São,
portanto, suportes que possibilitam um diálogo com
66
Caderno Pedagógico - Criciúma
Notas
1
Coordenadora de Arte da Secretaria Municipal de Educação
de Criciúma, assistente técnica pedagógica da E.E.B.
Natalio Vassoler, graduada em Arte pela UDESC e em
História pela UFSC, especialista em Educação Artística
Aplicada.
2
Professor de História da E.M.E.F. Dionízio Milioli e E.E.B.
Antônio Milanez Neto, graduado em História pela UNESC,
especialista em História Social pela UDESC, membro do
NEGRA (Núcleo de Estudos Gênero e Raça).
3
Coordenadora do Programa Municipal de Educação e
Diversidade Étnico-cultural, desenvolvido pela Rede
Municipal de Educação, graduada em Pedagogia pela
UNESC, especialista em Tecnologia Aplicada à Educação.
4
Professora da Escola Clotildes Maria Martins Lalau,
multiplicadora do PMEDEC, graduada em Educação Física
pela UNESC.
5
Diretora da Escola Clotildes Maria Martins Lalau, graduada
em Pedagogia pela UNESC.
81
Caderno Pedagógico - Criciúma
6
Em assembléia realizada na Associação de Moradores,
resolve-se mudar o nome da comunidade para Bairro
Renascer, oficializado pelo Decreto Lei nº 3445, de 05 de
setembro de 1997.
7
Prefeito Municipal no período de 1983/1988.
8
Rubens Izaltino Prudêncio, negro, pedreiro, 63 anos, morador
do bairro desde 1986. Entrevista concedida às professoras
Nelma e Fátima e alunos/as, em 22 de junho de 2006.
9
Idem.
10
Entrevista concedida à professora Iolanda.
11
Francisco de Assis da Rosa Moreno, negro, babalorixá,
morador do bairro há 14 anos, em conversa informal com
o Professor Fábio Alexandre Belloli Zampoli, em 23 de
agosto de 2006.
12
Depoimento oral de Rubens Izaltino Prudêncio.
13
Olindina da Silva Domingos, 54 anos, branca, moradora
do bairro há 24 anos. Entrevista concedida às professoras
Nelma, Maria de Fátima Pícolo, e aos alunos Mateus e
Jaqueline, em 26 de junho de 2006.
14
Depoimento oral de Rubens Izaltino Prudêncio.
15
Prefeito Municipal, nos períodos de 1977 a 1983 e 1988 a
1992.
16
Depoimento oral de Rubens Izaltino Prudêncio.
17
Para mais informações ver o PPP da E.M.E.F. Clotildes Maria
Martins Lalau.
18
Mulher, negra, professora e diretora, nascida na cidade de
Tubarão, no ano de 1933. Proveniente de uma família com
16 irmãos, junto a seus pais, Antônio Paulo Martins e
Normélia de Souza Martins. Estudou no Colégio Hercílio
Luz em Tubarão e foi para Florianópolis morar com uma
tia. Lá permaneceu durante um ano, quando retornou a
Tubarão, onde começou a estudar no Colégio São José,
em que fez o ginásio e o curso normal, formando-se no ano
de 1954. Mais tarde, rumou a Bagé (Rio Grande do Sul),
onde ingressou e concluiu o curso superior de Letras, no
ano de 1975. Como professora, iniciou sua carreira no Grupo
82
Caderno Pedagógico - Criciúma
28
Idem.
29
Sobre as origens da Umbanda ver: GIUMBELLI, Émerson.
Zélio de Moraes e as Origens da Umbanda no Rio de janeiro.
In: SILVA, Vagner Gonçalvez da (Org.). Caminhos da
Alma: memória Afro-brasileira. São Paulo: Summus, 2002.
p. 182-217.
30
Depoimento oral de Francisco de Assis da Rosa Moreno.
31
Saudações aos Orixás; Bará, Ogum, Iansã, Xangô, Ode/
Otin, Obá, Ossanha, Xapanã, Oxum, Iemanjá e Oxalá.
Fontes orais:
Adiles Lima
Antônio Tomaz
Francisco de Assis da Rosa Moreno
Maria das Dores da Silva Colonetti
Maura Martins Vicêncio
Normélia Ondina Lalau de Farias
Olindina da Silva Domingos
Rubens Izaltino Prudêncio
Referências:
CORRÊA, Norton F. Mãe Moça da Oxum: cotidiano e
sociabilidade no Batuque gaúcho. In: SILVA, Vagner
Gonçalvez da (Org.). Caminhos da Alma: memória
Afro-brasileira. São Paulo: Summus, 2002.
84
Caderno Pedagógico - Criciúma
Adiles Lima1
Elisângela de Souza dos Santos2
Fábio Alexandre Belloli Zampoli3
Geórgia dos Passos Hilário4
Lucy Cristina Ostetto5
nunca nós, a gente brincava, ali a gente até tinha essa família
branca lá onde a gente morava era só sítio né? Era só nós
mesmo, mas nunca nos chamaro assim de negro não. Aqui
no Metropol, tinha bastante, hoje em dia não são todos
iguais.20
Conforme Bernaldo:
No Sul do Brasil, a política imigratória obteve excelentes
resultados no que tange a segregação do negro(a), pois
conseguiu surrupiar do mesmo (a) a sua condição plena de
cidadania. A importância dos diferentes grupos étnicos
existentes tanto no Sul do Brasil, quanto no restante do
país, passou pelo acesso à terra pelo seu reconhecimento e,
como território, pela sua inclusão no sistema direitos sociais.
(BERNALDO, 2005, p. 15)
E é justamente neste ponto que permanece a
desvantagem dos negros na sociedade brasileira, no que
diz respeito aos seus direitos com relação aos não
negros: moradia, saúde, educação, a cultura ancestral
invisível entre outros aspectos. Sob essa perspectiva,
até mesmo no campo do lazer, através do qual o(a)
negro(a) tenta afirmar sua identidade, não apenas nas
décadas já citadas, como em nossa atualidade, percebe-
se a exclusão. Isso porque ainda existem restrições à
presença do(a) negro(a) em alguns clubes de nossa
sociedade, principalmente, na realização de alguns
bailes tidos como “tradicionais”, em que é possível
perceber diferenças e disputas no âmbito da condição
econômica e social. Neste cenário, o(a) negro(a)
criciumense não se inclui pois ele não tem visibilidade.
Segundo Dona Pedra, alguns papéis eram ocupados
por homens e mulheres, na manutenção do Clube: “[...]
As mulheres fiavam com a parte da limpeza e a diretoria
era só de homens. Uma vez, um homem passou a mão
em uma mulher casada, e não dançou mais no clube.”21
104
Caderno Pedagógico - Criciúma
Notas
1
Professora graduada em Pedagogia pela UNESC,
especialista em Educação Infantil e mestre em Educação e
cultura pela UDESC, Professora do Curso de Pedagogia e
Coordenadora do NEAB na UNESC, membro do NEGRA
(Núcleo de Estudos de Gênero e Raça).
2
Professora graduada em Ciências Biológicas pela UNESC,
especialista em Tecnologia Aplicada à Educação pela
Faculdade Bagozzi.
108
Caderno Pedagógico - Criciúma
3
Professor graduado em História pela UNESC, especialista
em História Social pela UDESC, membro do NEGRA.
4
Professora graduada em Letras pela UNESC, especialista
em Práticas Pedagógicas Multidisciplinares pela AUPEX,
mestranda em Teoria Literária pela UFSC, coordenadora
pedagógica do 6º ao 9º ano, membro do NEGRA.
5
Professora graduada em História pela UFSC, mestra em
História do Brasil pela UFSC, professora dos Departamentos
de História e Pedagogia e Arquitetura da UNESC, membro
do NEGRA.
6
Pedra Belmiro: 66 anos, concedeu entrevista à Elisangela
de Souza Santos em 28 de abril de 2006, no bairro Metropol.
7
Depoimento oral de Pedra Belmiro.
8
Dilma Paulo de Souza: 60 anos, concedeu entrevista à
Elisangela de Souza dos Santos, Fábio Alexandre Belloli
Zampoli e Geórgia dos Passos Hilário em 28 de agosto de
2006, no Bairro Metropol.
9
Depoimento oral de Pedra Belmiro
10
Idem.
11
Rosa Otília Alves: 71 anos, em entrevista concedida à
Elisangela de Souza Santos, no bairro Metropol. s.d.
12
Idem.
13
Idem.
14
Depoimento oral de Rosa Otília Alves.
15
Depoimento oral de Pedra Belmiro.
16
Depoimento oral de Dilma Paulo de Souza.
17
Idem.
18
Depoimento oral de Rosa Otília Alves.
19
Depoimento oral de Pedra Belmiro.
20
Depoimento oral de Pedra Belmiro.
21
Idem
22
Depoimento oral de Rosa Otília Alves.
109
Caderno Pedagógico - Criciúma
23
Idem.
24
Idem.
25
Depoimento oral de Pedra Belmiro.
Referências:
BERNALDO, Pedro Paulo. Sociedade Recreativa
União Operária: um espaço de luta, lazer, identidade
e resistência da comunidade negra criciumense (1950-
1970). Monografia (Especialização em História Social
e Cultural do Brasil) Universidade do Extremo Sul
Catarinense- UNESC, Criciúma 2005.
CAROLA, Carlos Renato. Dos subterrâneos da
história: as trabalhadoras das minas de carvão de
Santa Catarina (1937-1964). Florianópolis: UFSC,
2002.
MALUF, Marina. Ruídos da memória. São Paulo:
Siciliano, 1995.
MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem
no Brasil: identidades nacionais versus identidade
negra. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999..
SILVA JR, José da. Histórias que a bola esqueceu:
a trajetória do Esporte Clube do Metropol e de sua
torcida. Florianópolis: CCM Comunicação, 1996.
110
Caderno Pedagógico - Criciúma
Palavras carregadas
de sentido:
reflexões sobre as relações
étnico-raciais na escola
Cristiana Francisco1
Ivana Beatriz dos Santos2
Lucy Cristina Ostetto3
Pedro Paulo Bernaldo4*
Fala 1:
“[...] sofremos muito na diferença de cor, mas eu sei que
um dia todos nós negros vamos dar a volta por cima.”
(Estudante da Uganda).8
Fala 2:
“[...] acontece (o racismo), porque os pais falam aos filhos:
você não pode brincar com negros. As crianças brancas,
desde pequenas, aprendem a ser racistas.” (Estudante da
Argélia).
Fala 3:
[...] Só que quando eu estudava ali, tinha algumas divisões
entre as alunas brancas e negras. Essa divisão tornava-se
preconceituosa entre vários alunos. Divisão de algumas
negras de um lado, brancas de outro. Porque tinha os
bolinhos, daí elas sabiam sambar, sabiam de tudo, elas
tinham ginga. [...] não era tão declarada a divisão. Às vezes,
conseguia conversar. [...] só que tinha essa coisa meio racial.
Elas chamavam a gente de branca e eu sendo morena, não
negra, já era considerada branca e, às vezes, do grupinho
dela, que era mais clara do que eu, era considerada negra,
mas cada um é cada um. (Ex-aluna do Congo)
Fala 4:
“Eu sou negra, não gosto de ser negra, porque tem
preconceito, só porque sou negra, me chamam de cabelo
de esponja, de negra preta e outras coisas.” (Estudante de
Mali).
Fala 5:
“Eu gostaria de ter o meu cabelo liso.” (Estudante do
Sudão).
116
Caderno Pedagógico - Criciúma
Fala 6:
“Eu me identifico como negra, porque meu pai é negro e
minha mãe também. Eu queria ter os olhos azuis e que
meus cabelos fossem mais lisos.” (Estudante de Gana).
Fala 7:
“Eu não gosto que me chame de negra, porque dói demais.
Se alguém me chamar de negra, vou ficar bem chateada.”
(Estudante de Zaire).
Fala 8:
“[...] tem branco que tem nojo de negro. Alguns dizem que
os negros são sujos, macacos. Esses brancos são idiotas,
pois, não sabem o que é ser negro.! (Estudante de
Moçambique).
Fala 9:
“Meu padrinho quer tirar meus primos do colégio, porque
têm muitos negros [...].” (Estudante de Gâmbia).
Fala 10:
“Negro, tira seu braço que é sujo de minha carteira!”
(Estudante de Huanda)
Fala 11:
“É um negócio muito chato, isso de apelido. É muito feio.
Já ouvi ‘macaco’, ‘beiçudo’[...].” (Funcionária da Costa do
Marfim).
117
Caderno Pedagógico - Criciúma
Fala 12:
“[...] eu acho muito feio, aqui no colégio tem vários alunos
que botam apelidos uns nos outros ‘seu cabelo de bombril’,
‘passou da validade’, ‘suco de pirita’.” (Estudante de
Angola)
Fala 13:
“Hoje eu adoro gente morena, porque a única pessoa que
me cuidou foi uma pretinha.” (Moradora do Zimbábue).
Fala 14:
“[...] porque a cor negra é igual a qualquer uma. A cor
negra é linda [...].” (Estudante de Togo).
Notas
1
Professora e coordenadora pedagógica do 6º ao 9º ano,
pós-graduada em Fundamentos Psicopedagógicos do Ensino
pela UNESC.
2
Professora de Língua Portuguesa que inspirou este artigo.
3
Mestre em História do Brasil pela UFSC, professora dos
Departamentos de História e Pedagogia e Arquitetura da
UNESC, membro do NEGRA.
121
Caderno Pedagógico - Criciúma
4
Professor formado e pós-graduado em História pela UNESC.
5
As entrevistas e os dados colhidos com moradores,
funcionários, alunos e ex-alunos, durante a pesquisa, não
terão seus nomes revelados no artigo.
6
O que nos leva também a refletir sobre a metodologia
utilizada para identificá-los, sendo dedutiva para a educação
infantil e de 1ª a 4ª séries; e a da auto-identificação de 5ª a
8ª séries.
7
Citamos como exemplo a criação da Fanfarra da escola
“Oswaldo Hülse”, um dos projetos que, a partir do contato
com a musicalidade, meninos e meninas podem vislumbrar
e vivenciar outras experiências e perspectivas. Seu João
Geraldo Lima, que veio morar aos sete anos no bairro São
Francisco, é mineiro aposentado e, hoje, é funcionário da
escola, reforça a importância desta atividade. Na sua
trajetória comunitária, atuou como vice-presidente da APP
da Escola Oswaldo Hülse, participou da Associação do
Campo de Futebol do Boa Vista e atua como delegado do
orçamento participativo. Colaborou com a construção do
Centro Comunitário do bairro, acompanha como voluntário,
a fanfarra da escola e trabalha nesta instituição, desde 1996.
O “Menor Aprendiz” é outro projeto, que possibilita os(as)
estudantes a desenvolverem estágios, em parceria com
empresas da região, visando um aperfeiçoamento
profissional, que lhes propicie uma ascensão social por meio
deste trabalho.
8
Os depoimentos aqui reunidos foram colhidos a partir de
uma atividade desenvolvida pela professora Ivana, com
alunos da escola Oswaldo Hülse.
9
Cf.: GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos
presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma
breve discussão. In: Ricardo Henriques. (Org.). Educação
anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal 10.639/
03. Brasília: SECAD/MEC, 2005. p. 39-62.
122
Caderno Pedagógico - Criciúma
Referências Bibliográficas
Professoras negras do
bairro Pinheirinho:
o giz em movimento
Adiles Lima1
Andréia Guzzatti2
Geórgia dos Passos Hilário3
Iolanda Romeli Lima Manoel4
Vanilde Crispim de Jesus5
De Joelhos
Maria da Ilha
125
Caderno Pedagógico - Criciúma
Introdução
Identificando-se por este pseudônimo, Antonieta de
Barros foi a primeira deputada do Brasil, rompendo aí,
com preconceitos de gênero, classe e raça, tão presentes
na época, a terceira década do século XX.
Antonieta, educadora negra, transcendeu à época
em que vivia, constituindo uma referência para a
concretização do objetivo deste artigo: discutir a
constituição das identidades das mulheres negras
professoras nas escolas públicas do município de
Criciúma.
Nesse texto poético, a Professora Antonieta de Barros
nos remete então a alguns questionamentos: por qual
razão um grande número de mulheres negras, do Bairro
Pinheirinho, tornaram-se professoras? O que levou estas
mulheres à escolha desta profissão? Quais as trajetórias
percorridas para essa conquista? Quais os espaços
ocupados por essas mulheres negras professoras?
Nesse contexto, buscando respostas a estas
indagações, a Escola Municipal de Ensino Fundamental
Erico Nonnenmacher, durante o ano de 2006, propôs-
se a caminhar sob o prisma da diversidade étnico-racial,
em sua prática pedagógica escolar. O campo
pesquisado foi a própria localidade onde a escola se
situa: à Rua Artur Frederico de Andrade, nº 410, no
Bairro Pinheirinho, atendendo, segundo o seu Projeto
Político Pedagógico, a uma comunidade de nível sócio-
cultural e econômico baixo.
Dessa forma, a orientadora educacional Vanilde
Crispim de Jesus, atuando como multiplicadora do
Programa Municipal de Educação para a Diversidade
Étnico-Cultural proposto pela Prefeitura Municipal de
126
Caderno Pedagógico - Criciúma
Considerações finais
A situação da mulher negra, apesar da multiplicidade
recente de pesquisas sociológicas, educacionais e
antropológicas, não tem suscitado muito interesse nas
reflexões educacionais brasileiras, se considerarmos a
história da educação em nosso país e sua produção
teórica.
Torna-se fundamental darmos relevância às mulheres
negras, professoras de Criciúma e o modo de
constituição de suas identidades, enquanto sujeitos de
uma história, em que estas não aparecem como um
elemento capaz de contribuir com o desenvolvimento
sócio-econômico, cultural e político da sociedade
brasileira, mas na condição de subserviência ao status
quo vigente em nosso país.
Assim, é conhecida a precariedade de dados sobre
a trajetória escolar da mulher negra, desde a educação
infantil ao ensino superior. Nós, mulheres negras,
lutadoras, trabalhadoras, criativas, domésticas,
empreendedoras, mães, esposas e amantes, somos
ousadas, determinadas e com todas essas qualidades
enfrentamos uma sociedade cheia de preconceitos de
gênero, classe e raça.
Sob essa perspectiva, são muitos os fatores que
contribuem para que a sociedade brasileira tenha
consciência do desrespeito e pouco caso que fazem
especialmente com a cultura negra.
Como disse a nossa entrevistada, a professora Maria
Helena: “consciência de quem tem valor, buscar cultura,
do que tem valor desde o conhecimento dos orixás, até
os antepassados, os que fizeram a luta até chegar até
aqui e de que eles vão abrir caminho para continuar.”
140
Caderno Pedagógico - Criciúma
Notas
1
Professora graduada em Pedagogia pela UNESC,
especialista em Educação Infantil e mestre em Educação e
cultura pela UDESC, professora do Curso de Pedagogia e
coordenadora do NEAB na UNESC, membro do NEGRA
(Núcleo de Estudos de Gênero e Raça)
2
Orientadora educacional e multiplicadora do PMDEC
3
Professora de Língua Portuguesa da EEB João Frasseto,
Coordenadora Pedagógica da Secretaria de Educação de
Criciúma.
4
Coordenadora do Programa Municipal de Educação e
Diversidade Étnico-cultural, desenvolvido pela Rede
Municipal de Educação, Graduada em Pedagogia pela
UNESC.
5
Orientadora educacional e multiplicadora do PMDEC.
Referências bibliográficas
Samba e sincretismo
religioso no Santo
Antônio:
um bairro carnavalesco e de resistência
Adiles Lima1
Anália José Lima2
Geórgia dos Passos Hilário3
Iolanda R. Lima Manoel4
Munique do Nascimento5
Sandra Helena Búrigo Rosso6
Introdução
No Brasil, o Carnaval principiou com as brincadeiras
que os portugueses trouxeram para o Rio de Janeiro,
144
Caderno Pedagógico - Criciúma
Movimentos de resistência e
o mercado de trabalho
Após a realização das entrevistas e das observações
realizadas durante a pesquisa, alguns dados foram
constatados sobre a população do bairro Santo Antônio.
Alguns temas relevantes foram levantados e aqui serão
expostos na tentativa de uma melhor compreensão do
contexto atual em que esta população está inserida.
Os primeiros moradores negros do bairro foram o
Senhor Manuel Esteves, o Senhor Otacílio, João Alípio
Braz e a família Enéias. Eles se alojaram no bairro,
atraídos por uma oportunidade de emprego nas minas
150
Caderno Pedagógico - Criciúma
Considerações finais
A omissão das verdadeiras informações acerca da
contribuição da população negra no currículo escolar
traz sérias seqüelas para a formação da identidade
negra, que não consegue perceber a si e seus
descendentes de forma positiva, fazendo com que muitas
vezes seus representantes deixem de reivindicar o direito
à sua própria história. Entretanto, podemos mudar essa
situação. E foi percebendo essa questão que alunos,
professores e muitas outras pessoas envolvidas e
cansadas de assistir a essa história, resolveram sair da
platéia e mudar o cenário de desigualdade, recontando
a história do bairro Santo Antônio e envolvendo outros
atores que, por muito tempo, permaneceram invisíveis
para o bairro e município.
Foi muito gratificante essa produção que, certamente,
servirá para que se consolide de forma sistemática a
Lei 10.639 e modifique a postura de cada escola,
juntamente com os profissionais da educação;
promovendo, de fato, a inclusão positiva de negros e
negras no conteúdo dos veículos que contribuirão para
161
Caderno Pedagógico - Criciúma
Notas
1
Pedagoga, professora da Universidade do Extremo Sul
Catarinense - UNESC.
2
Graduada pela UNESC, professora de arte e educação.
3
Graduada em Letras pela UNESC, mestranda em Teoria
Literária.
4
Graduada em Pedagogia pela UNESC, especialista em
Tecnologia Aplicada à Educação.
5
Graduada em Psicologia pela UNESC, com formação em
Análise Transacional.
6
Graduada em Arte pela UNESC, especialista em Arte e
Metodologias Alternativas.
7
Extração de carvão no subsolo.
8
Extração de carvão na superfície.
9
Serviço que geralmente era realizado por mulheres. Lavagem
de carvão.
Referências:
DIRETRIZES Curriculares Nacionais para a Educação
das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História
e Cultura Afro-brasileira. Brasília, DF: Ministério da
Educação, 2006. 35 p.
FANONN, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas.
2ª ed. Porto: Paisagem, 1975.
__________. Os Condenados da Terra. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1961.
NASCIMENTO, Munique. Ser negão deve ser legal:
identidade e auto-estima dos adolescentes negros do
bairro Santo Antônio. Criciúma, 2003. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia),
Universidade do Extremo Sul Catarinense.
ROMÃO, Jeruse; LIMA, Ivan Costa (Orgs.). Negros e
Currículo. Florianópolis: Núcleo de Estudos Negros,
1997.
163
Caderno Pedagógico - Criciúma
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Experiências de populações de origem africana em Florianópolis
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