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O RODOVIAS

USO DE RECICLAGEM DETRANSPORTE


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pavimentos como alternativa para


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o desenvolvimento sustentável em
obras rodoviárias no Brasil
CLAUBER COSTA* E SALOMÃO PINTO**

A necessidade da implantação de
empreendimentos na área de
engenharia e a constatação de sua
viabilidade, segundo critérios técnicos e
econômicos, sempre foram suficientes
para a tomada de decisões nessa área.
Neste sentido, os danos ambientais
decorrentes dessas atividades foram
considerados por muitos anos uma
consequência natural, compensados
pelos benefícios oriundos da oferta de
bens e serviços. Contudo, o crescente
impacto ambiental dessas atividades
levou à sua regulamentação,
destacando-se a obrigatoriedade do
desenvolvimento de estudos de
impacto ambiental (EIA) e o respectivo
relatório de impacto ambiental (RIMA),
em atendimento à Resolução Conama
nº 001/86, de 23 de janeiro de 1986.
Desta forma, o gerenciamento
ambiental em obras rodoviárias
federais brasileiras, tomou grande
impulso nas últimas décadas.
Este trabalho tem como objetivo
identificar as vantagens da aplicação de
técnicas de reciclagem de
pavimentos, como forma de minimizar
os impactos ambientais causados por
obras de restauração e/ou recuperação
de rodovias federais brasileiras
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A escolha brasileira pelo transporte rodoviá- deterioração extrema do pavimento.

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rio traz embutidas diversas consequências Segundo Miranda e Silva (2000) a recicla-
ambientais. Além do grande efeito polui- gem de pavimentos tem se mostrado um bom
dor dos gases liberados pelos escapamentos dos caminho não apenas pela rapidez executiva,
automóveis, há o impacto da construção das mas também pelo aspecto da preservação
estradas que implica em retirada e transferên- ambiental.
cia de enormes quantidades de terra, desmata- A técnica de reciclagem de revestimentos
mento, alterações na forma de escoamento das asfálticos traz vantagens em relação ao meio
águas, assoreamento de rios e expansão urbana ambiente, pois faz uso total ou parcial dos ma-
associada e os impactos advindos da manuten- teriais do pavimento existente, com seu devido
ção das vias. beneficiamento. Também diminui a quantidade
De acordo com o Banco Mundial, existem de resíduos gerados pelo método tradicional de
mais de 15 milhões de quilômetros de estradas recuperação rodoviária, que em geral consta de
pavimentadas e rodovias no mundo inteiro. adição de nova camada asfáltica – ou mesmo
Cada ano, centenas de milhares de quilôme- pode ter bota-fora da antiga.
tros das mesmas requerem grandes restau-
rações. Os governos e as autoridades locais IMPACTOS AMBIENTAIS
no mundo inteiro gastam anualmente uma Entende-se por Impacto Ambiental qual-
quantia estimada em 100 bilhões de dólares quer alteração nas propriedades físicas e/ou
americanos no empenho de manter as rodo- químicas e/ou biológicas do meio ambiente,
vias funcionais e seguras. Entretanto, devido provocadas por ações humanas. Estes impactos
a orçamentos inadequados para o setor de podem ser classificados segundo uma série de
transporte e ao custo elevado da restauração características como as colocadas na tabela 1
convencional, o acúmulo global de estradas (DNIT, 2005).
deterioradas é significante.
Pavimentos deteriorados têm como carac- Impactos ambientais decorrentes
terísticas superfícies de baixa qualidade e de- de empreendimentos rodoviários
feitos, como trincas, panelas e desagregação. Tradicionalmente os programas rodoviários
A deterioração do pavimento é influenciada, são divididos em quatro etapas ou fases, cada
em grande parte, por condições climáticas se- qual com características e estudos específicos
veras, volume intenso de tráfego e excesso de com potencialidades distintas de impactar o
cargas, assim como pela qualidade da cons- meio ambiente (DNIT, 2005). Essas fases são:
trução e manutenção da estrada. Essa dete- viabilidade, planejamento e projeto, construção
rioração tende a acelerar-se após vários anos e operação.
de serviço, mas a recuperação oportuna com A fase de viabilidade consiste do processo
recapeamento ou reciclagem pode restaurar a de avaliação de uma rodovia sob o aspecto téc-
serventia do pavimento e aumentar a vida útil nico-econômico, com base em um conjunto de
da rodovia. estudos, conceituações e avaliações que permi-
A camada da superfície dos pavimentos tem caracterizar o volume de tráfego anual e
asfálticos é composta de asfalto, um subpro- futuro, as alternativas de traçado e a definição
duto do petróleo, e agregado mineral, mistu- técnica das alternativas, quanto à capacidade,
ra de rocha de qualidade e areia. Em diversas quantificação do conjunto de obras e à interfe-
regiões do mundo, estes materiais estão es- rência com outros planos e programas, objeti-
cassos, tornando-os mais caros. Durante dé- vando a avaliação dos benefícios resultantes da
cadas, os responsáveis pela pavimentação têm implantação comparados com os custos reque-
tentado diversos métodos e/ou tecnologias de ridos pela obra.
restauração e conservação rodoviária, a fim Segundo Fogliatti (2004), “na fase de plane-
de fazer a melhor utilização do agregado e as- jamento de um sistema de transporte, devem-se
falto presentes nos pavimentos asfálticos de- incluir estudos de localização do projeto (no caso
teriorados. Um dos métodos mais promissores de projetos rodoviários, estudos de alternativas de
é a reciclagem de pavimentos, para a qual há traçado), determinado pelo artigo 5º da Resolu-
uma variedade de equipamentos e processos ção 001/86 do Conama, respeitando e observan-
consagrados. Estudos do Banco Mundial têm do a compatibilidade do projeto com os planos
demonstrado que a reciclagem de pavimen- e programas do governo propostos na área de
tos asfálticos é particularmente efetiva em influência, além das análises de pré-viabilidade
termos de custo, quando realizada antes da técnica e econômica do empreendimento”.

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volve todas as atividades preventivas e correti-
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Tabela 1 - Características dos impactos ambientais


vas de controle e de manutenção das rodovias.
Caracterização do I.A. Ocorrência Podem ser citados como impactos decorrentes
Positivo ou Benéfico Quando a ação resulta na melhoria da qualidade de um fator ou parâmetro ambiental desta fase, a poluição atmosférica, a poluição
das águas, os ruídos e vibrações entre outros. Na
Negativo ou Adverso Quando a ação resulta em danos a um fator ou parâmetro ambiental. tabela 2 são mostradas as principais fontes de
Direto Resultante de relação causa efeito (terraplenagem x alteração de relevo e paisagem) ruído nesta fase. Na tabela 3 são apresentados
exemplos de desconfortos causados por exposi-
Resultante de reação secundária (terraplenagem x alteração de relevo e paisagem x alteração da drenagem natural x surgimento de
Indireto ção a níveis de som em excesso.
processos erosivos x surgimento de processo de assoreamento).
Nesta fase também os padrões de qualidade
Local Quando a ação afeta apenas o próprio sítio e suas imediações
do ar adotados no Brasil têm seus valores-limite
Regional Quando um efeito se propaga por área além do sítio de ocorrência determinados pela Resolução Conama nº 03/90
de 28 de junho de 1990, conforme apresentado
Estratégico Quando afeta um componente ou recurso ambiental de importância coletiva ou nacional na tabela 4.
Imediato Quando o efeito surge no instante em que se dá a ação (obras de implantação de uma rodovia x geração de empregos na região).
Uma vez instalada a rodovia e iniciada a
sua operação, começa sua deterioração e, por-
Médio Prazo Quando o efeito se manifesta depois de certo tempo após a ação tanto, se faz necessária obra de recuperação.
Assim a restauração de rodovias representa um
Temporário Quando o efeito permanece por um tempo determinado.
conjunto de intervenções que visam o resta-
Permanente Quando, uma vez executada a ação, os efeitos não cessam de se manifestar, num horizonte temporal conhecido. belecimento/ recuperação total ou parcial de
Fonte: DNIT, 2005 uma edificação a uma fase anterior. Dentre os
Segundo Gourdad (2000), na fase de pla- basicamente: a mobilização, a instalação do impactos ambientais associados a esta fase,
nejamento e projeto, não são observados im- canteiro, a implantação da obra e a desmo- pode-se destacar: a fixação temporária de mão
pactos ambientais significativos nos meios bilização (Sá, 1996). Assim segundo estudos de obra, a emissão de poeira e gases, alterando
físicos e bióticos decorrentes das atividades do Geipot (1995), tem-se como principais im- a qualidade do ar, a incidência de focos de in-
apresentadas, porém esta fase pode ocasionar pactos observados na fase de implantação de cêndio entre outros.
algumas expectativas, gerando impactos no um projeto rodoviário aqueles decorrentes do
meio antrópico. canteiro de obras, dos desmatamentos e lim- MÉTODOS TRADICIONAIS DE RESTAURAÇÃO
Segundo Bella e Bidone (1993), “à medida peza dos caminhos de serviço, da terraplena- E/OU RECUPERAÇÃO RODOVIÁRIA
que se iniciam os trabalhos visando o projeto gem, empréstimos e bota-fora, da drenagem Métodos tradicionais para o revestimento de
de engenharia é muito comum um processo in- e da exploração de materiais de construção pavimentos asfálticos deteriorados são a aplica-
tenso de valorização do preço da terra, tanto – como, por exemplo, a indução de processos ção de novas misturas asfálticas a quente no re-
nas áreas rurais, como nas áreas urbanas que erosivos, os assoreamentos e a evasão da fau- capeamento, com ou sem fresagem a frio, com
passarão a ser servidas. Tal valorização tem na, entre outros. equipamentos mostrados nas figuras 1 e 2 como
como consequência as alterações de uso do Após a implantação da rodovia seguem-se exemplo, e/ou a remoção dos materiais existen-
solo e até mudança do público-alvo, que pode as atividades relacionadas à sua operação que tes do pavimento com equipamento pesado tipo
não resistir às ofertas de compra com valores são iniciadas após a conclusão das obras de trator de esteira equipado com escarificador
crescentes, além de ocasionar impedimentos à desmobilização de canteiros e usinas, mais pre- (figuras 3 e 6 ). Recapeamentos (adequada so-
construção e à operação, e a potencialização de cisamente quando for efetivada a liberação do breposição ao pavimento existente de uma ou
problemas sociais devido a interfaces com áre- corpo estradal aos diversos usuários, de modo mais camadas constituídas de misturas betumi-
as de conflito social ou já degradadas ambien- que estes possam utilizá-lo com condições de nosas e/ou concreto de cimento portland) são
talmente”. Com isso, pode-se destacar como conforto e segurança. tipicamente utilizados sobre toda a superfície da
impacto ambiental na fase de planejamento e Assim, a fase de operação engloba ativida-
projeto a grande especulação quanto ao uso do des de conservação e de restauração. Podem Tabela 3 - Níveis de ruídos
solo, ou seja, a especulação imobiliária. ser destacadas: a conservação de rotina, a de
e suas consequências
Durante a fase de implantação (constru- emergência, a especial e o reordenamento do
ção) da rodovia, as principais atividades são tráfego. Portanto, a conservação da rodovia en- Nível de ruído Consequências

Até 50 dB Leve Perturbação


Tabela 2 - Origem dos ruídos na fase de operação de uma rodovia
Maiores que 55 dB Estresse leve, desconforto
Grupo de Ruídos Fontes
Desequilíbrio bioquímico, risco de
Maiores que 65 dB
Funcionamento dos maquinismos Funcionamento do motor; entrada de ar e escapamento; sistema de arrefecimento e ventilação etc. enfarte e derrame cerebral

Ruídos de movimento Pneus em contato com o pavimento; atritos das rodas com os eixos; ruídos da transmissão; ruídos aerodinâmicos etc. Maiores que 80 dB Liberação de morf ina biológica

Ruídos ocasionais Buzinas; frenagens; ruídos da troca de marchas (reduções e acelerações); cargas soltas; fechamento de portas etc. Maiores que 100 dB Perda imediata da audição
Fonte: DNIT, 2000 Fonte: SOUZA, 1992 apud PEREIRA, 2000

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Tabela 4 - Padrões primários de qualidade do ar ambiente
80 ug/m3 Média aritmética anual
Dióxido de Enxofre SO2
365 ug/m Concentração máxima diária que não deve ser excedida mais que uma vez por ano.

80ug/m3 Média geométrica anual


Partículas Totais em suspensão
240 ug/m3 Concentração máxima diária que não deve ser excedida mais que uma vez por ano.

Fumaça
60 ug/m3 Média geométrica anual Figura 1 - Máquina fresadora
150 ug/m3 Concentração máxima diária que não deve ser excedida mais que uma vez por ano.

Concentração máxima em amostras de 8 horas,


10 mg/m3 (ou 9 p.p.m.)
que não deve ser excedida mais do que uma vez por ano.
Monóxido de Carbono 40 mg/m3 (ou 35 p.p.m.)
Concentração máxima em amostras de 1 hora,
que não deve ser excedida mais do que uma vez por ano.
Fonte: DNIT, 2000

rodovia, incluindo os acostamentos. mitigadora mais adequada para o impacto de


Entretanto, essas soluções convencionais acidentes com pessoas e equipamentos envol-
utilizam grandes quantidades de recursos na- vidos direta ou indiretamente no serviço, é a
turais, como material betuminoso e materiais adoção de programas de esclarecimento junto
agregados (material graúdo e miúdo) de alta aos operários envolvidos na obra e/ou contro-
qualidade. O processo de recapeamento de pavi- lar a velocidade de veículos e equipamentos na Figura 2 - Máquina fresadora
mentos asfálticos, além de apresentar um custo obra. Já o impacto relativo ao excesso de ruídos
relativamente alto, alterar a geometria da pista e vibrações, uma medida mitigadora adequada
e sua cota, também consome muito tempo, in- seria realizar manutenção regular das máquinas
terrompe o tráfego e é potencialmente perigoso e equipamentos.
para os motoristas e mão de obra envolvida no De forma geral, o entulho proveniente dos
trabalho, como mostram os exemplos das figu- métodos tradicionais de restauração e/ou recu-
ras 4 e 5. peração rodoviária muitas vezes é gerado por
deficiências de implantação de novas tecnolo-
Impactos ambientais associados aos gias no processo de construção rodoviária. A
métodos tradicionais de restauração melhoria no gerenciamento e controle de obras
e/ou recuperação rodoviária públicas e também trabalhos conjuntos com
Durante os serviços de restauração e/ou empresas, universidades e pesquisadores ligados Figura 3 - Restauração rodoviária
recuperação rodoviária, sobretudo para os mé- à construção rodoviária, podem contribuir para
todos tradicionais, identificam-se possíveis im- atenuar este desperdício.
pactos ambientais listados na tabela 5.
No impacto ambiental identificado com RECICLAGEM DE PAVIMENTOS
o surgimento de erosões, deslizamentos, as- Aspectos Gerais
soreamento, desertificação que normalmente Segundo Momm e Domingues (1995): “En-
ocorrem em caixas de empréstimo, nos locais tende-se por reciclagem de pavimentos, a reuti-
de bota-foras e de disposição do material resul- lização total ou parcial dos materiais existentes
tante da fresagem do pavimento, a medida miti- no revestimento e/ou da base e/ou da sub-base,
gadora mais adequada é a execução de obras de em que os materiais são remisturados no esta-
drenagem complementares e de substituição de do em que se encontram após a desagregação
dispositivos. ou tratados por energia térmica e/ou aditivados Figura 4 - Restauração rodoviária
Ainda sobre o meio biofísico, o impacto am- com ligantes novos ou rejuvenescedores, com
biental identificado com a aceleração do pro- ou sem recomposição granulométrica”.
cesso de extinção regional de animais silvestres, Inicialmente a reciclagem era realizada com
ocasionado por atropelamento, a medida miti- equipamentos manuais com dispositivos de lâ-
gadora mais adequada é a execução de “passa- minas e escarificadores ( exemplo: figura 7),
gem seca” para os referidos animais. Para o im- para a retirada do material da pista. Atualmente,
pacto ambiental causado pela elevada emissão utilizam-se máquinas fresadoras, (figuras 1 e 2).
de poeira e gases, alterando a qualidade do ar Contudo, o princípio básico ainda é o mesmo:
(figura 3) a medida mitigadora mais adequada fragmentar, triturar e retirar a camada antiga do
seria aspergir água nas áreas poeirentas e/ou pavimento e assim reutilizá-la através da com-
usar máscaras. binação com materiais novos obtendo-se uma
Com relação ao meio antrópico, a medida nova camada, com o emprego de modernas má- Figura 5 - Restauração rodoviária
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Tabela 5 - Impactos associados aos métodos tradicionais de reciclagem de pavimentos


Exemplos de causas
Meio Biofísico Possíveis impactos ambientais
prováveis e/ou sinérgicas

1. Degradação do solo por ações inadequadas quando da


Componente Ambiental: 1. Abandono da área de acampamento sem recuperação do
desmobilização dos canteiros de obra e outras áreas de apoio às
SOLO uso original;
obras de implantação do empreendimento;
Figura 6 - Restauração rodoviária 2. Má disposição de bota-fora.
2. Erosões, deslizamentos, assoreamento, desertificação.

1. Aceleração do processo de extinção regional de animais


Componente Ambiental: silvestres, ocasionado por atropelamento; 2. Depósito de lixo e de materiais inservíveis
FLORA E FAUNA 2. Degradação paisagística dentro da faixa de domínio. ao longo da rodovia.
3. Evasão da Fauna e Flora

1. Alteração da paisagem natural motivada pela deposição de


material de descarte;
3. Poeira oriunda da exploração de pedreiras e de ocorrências
Componente Ambiental: 2. Degradação paisagística do interior da faixa de domínio,
de materiais de construção;
VISUAL; PAISAGEM; agredindo aos usuários e moradores lindeiros;
4. Acúmulo de lixo e resto de vegetação;
RUIDOS e AR 3. Emissão de poeira e gases, alterando a qualidade do ar;
5. Operação de máquinas e equipamentos mal regulados.
4. Incidência de focos de incêndios
5. Incidência de ruídos e vibrações.

Componente Ambiental: 1. Modificação do fluxo d´água de superfície. 2.Disposição de lixo, graxas e óleos e de materiais removidos
Figura 7 - Trator pesado equipado com RECURSOS HIDRICOS 2. Modificações da qualidade das águas superficiais e subterrâneas para locais de forma inadequada.
escarificador (Ripper)
Exemplos de causas
Meio Antrópico Possíveis Impactos ambientais
prováveis e/ou sinérgicas

1. Acidentes envolvendo pessoas;


2. Doenças e intoxicações causadas pela poluição da água e, 1. Velocidade excessiva dos equipamentos de obras;
Componente Ambiental:
ou do ar; 4. Caixas de empréstimo e outras áreas exploradas sem
SAUDE E SEGURANÇA
3. Excesso de ruídos e vibrações e drenagem.
4. Veiculação de doenças contagiosas

1. Fixação temporária de mão-de-obra;


2. Modif icação do uso e ocupação do solo na área de inf luência
Componente Ambiental: 3. Vazamento de tanques de combustível, de lubrificantes,
direta;
COMUNIDADE E ATIVIDADE de asfalto, etc;
3. Possibilidade de inviabilização do uso dos recursos hídricos
ECONOMICA 4. Falta de critérios no projeto.
para recreação;
Figura 8 - Esquema de reciclagem a 4. Valorização ou Desvalorização Imobiliária.

quente “in situ”, super recicladora AR2000 Fonte: Do Autor

quinas fresadoras-recicladoras, ou recicladoras- demanda de novos materiais e das respectivas


estabilizadoras (figuras 9 e 10 ). distâncias de transporte, prolongando o tempo
A reciclagem de pavimento apresenta-se de exploração das ocorrências existentes, além
como uma solução para muitos problemas e disso, o ligante remanescente pode ter suas pro-
oferece inúmeras vantagens em relação à utili- priedades restabelecidas pela adição de asfalto
zação convencional de materiais virgens. Podem novo ou agente rejuvenescedor. O consumo de
ser citadas as seguintes (DNIT, 2006): energia também pode ser favorecido através de
a) Conservação de agregados, de ligantes e de sua redução durante a usinagem da mistura.
Figura 9 - Usina móvel para misturas frias energia, ou seja, a reutilização dos agregados do b) Preservação do meio ambiente, ou seja, evitar
pavimento degradado propicia uma redução na a exploração excessiva de jazidas minerais (cai-
xas de empréstimos), evitando assim o acúmulo
e/ou geração do passivo ambiental.
c) Conservação das condições geométricas exis-
tentes, ou seja, a adoção das técnicas de recicla-
gem permite que as condições geométricas da
pista sejam mantidas ou modificadas facilmente,
evitando-se problemas, como por exemplo, as
alturas em túneis (gabarito vertical) e o acrésci-
mo de carga permanente em pontes e viadutos.
A partir da crise do petróleo, na década de
1970, com a escassez de materiais asfálticos e
Figura 10 - Reciclagem a frio “in situ” Figura 11 - “Trem de reciclagem” com a crise econômica internacional, os técni-

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cos rodoviários em conjunto com os organismos de defeitos de superfície, através do corte e sas, com a adição de estabilizantes químicos (cal,

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de fomento, voltaram-se para a ideia de repro- fragmentação do revestimento asfáltico antigo cimentos ou cinzas volantes), para produzir uma
cessar os materiais de pavimentação de pistas (geralmente por fresagem), mistura com agente base estabilizada quimicamente.
deterioradas, por meio da reciclagem, de forma rejuvenescedor, agregado virgem, material as- Como a reciclagem a quente, a reciclagem
a restaurar as condições de tráfego de vias em fáltico, e posterior distribuição da mistura reci- a frio pode ser feita em usinas apropriadas ou
níveis satisfatórios, tanto do ponto de vista téc- clada sobre o pavimento, sem remover do local in situ.
nico quanto financeiro (Bonfim, 2001). (DNIT, 2006). A reciclagem a frio em usina pode ser re-
No Brasil, a primeira utilização da técnica Na década de 1990, iniciou-se a reciclagem alizada em usinas estacionárias, valendo-se das
de reciclagem de revestimentos betuminosos a frio in situ, com o emprego das recicladoras usinas de solos, que recebe o material fresado e
aconteceu na cidade do Rio de Janeiro em 1960, móveis Caterpillar e Wirtgen, onde a operação o processa com a adição de material de enchi-
onde, na época, o revestimento era removido por se desenvolvia no local, com fresagem a frio do mento, caso necessário, e agente rejuvenescedor
meio de marteletes, transportado para a usina e revestimento, incorporação de emulsões rejuve- emulsionado (DNER, 1996).
remisturado. A primeira rodovia a ser reciclada nescedoras, homogeneização e espalhamento Essa técnica é muito utilizada em países eu-
foi a Via Anhanguera, trecho entre São Paulo e feito pelo próprio equipamento. No Brasil, o pri- ropeus e a porcentagem de reaproveitamento
Campinas, na década de 1980 (Pinto, 1989). meiro trecho em que foi utilizada a técnica de do material fresado pode atingir cerca de 90%
Simultaneamente foi desenvolvido no Ins- reciclagem à frio in situ, foi na rodovia BR-393/ (DNER, 1996).
tituto de Pesquisas Rodoviárias/Departamen- RJ, em novembro de 1993, segmento entre Além Também podem ser utilizadas usinas móveis
to Nacional de Infraestrutura Rodoviária (IPR/ Paraíba e Sapucaia, realizada pelo DNER atual (figura 9 ), que podem produzir misturas com
DNIT) uma pesquisa para adequar as tecnologias DNIT (Pinto et al., 1994). material virgem ou material proveniente de fre-
de reciclagem trazidas da Itália e da Suíça às Dois métodos de reciclagem in situ já foram sagem (figuras 1 e 2).
condições brasileiras. Foi com base nessas obras utilizados pelo Departamento Nacional de Estra- A reciclagem a frio in situ (figura 10 ) é exe-
que o Departamento Nacional de Infraestrutura das de Rodagem (DNER), atual DNIT, a saber: cutada com a utilização de equipamento do tipo
de Transporte, elaborou a especificação de ser- a) Método Marine – Com o emprego da reci- fresadora-recicladora, sendo comum no Brasil o
viço de concreto betuminoso reciclado a quente cladora Marine A.R.T. 220 de fabricação italiana, uso do modelo da Wirtgen Gmbh de fabricação
no local. onde a fresagem é realizada a frio. O equipa- alemã (figura 11).
mento processa a mistura do material a quente
Tipos de reciclagem e o posterior espalhamento. O DNER elaborou Vantagens ambientais associadas
De maneira geral, os especialistas do meio a especificação ES-188/87, que contempla este à técnica de reciclagem de pavimentos
rodoviário costumam classificar as técnicas de tipo de procedimento. Considerando-se as técnicas de reciclagem
reciclagem de pavimentos asfálticos em duas b) Método Wirtgen – Com a utilização do re- comentadas anteriormente, o material removi-
modalidades, que são a reciclagem a quente e mixer da Wirtgen, onde a fresagem é realizada do, que antes era considerado um entulho pro-
a frio, que por sua vez podem ser processadas após o aquecimento da superfície do revesti- blemático, passa a ser um excelente produto
no próprio local, ou seja, in situ – ou em usina mento. Para este procedimento o DNER elaborou para a reciclagem, sem prejuízo da qualidade
apropriada. a especificação ES-187/87. final. A reciclagem permite, assim, ao pavimento
A reciclagem a quente pode ser feita em Quanto ao reprocessamento dos materiais primitivo um ciclo de vida maior, além de poupar
usina estacionária, ou seja, usinas de asfalto de pavimentação, quando este ocorre sem o os recursos naturais da região.
cujas instalações são fixas, ou pode ser in situ, dispêndio de energia para o aquecimento dos A reciclagem de pavimentos betuminosos
de acordo com as especificações de serviço ES mesmos, a técnica é designada de reciclagem em geral se constitui, em relação à solução
033/2005 e ES 034/2005 do DNIT, respectiva- a frio (Momm e Domingues, 1995). Podem ser tradicional de recapeamento(s) sucessivo(s) ou
mente. adicionados materiais betuminosos (emulsão as- outros métodos de restauração, em uma alter-
A reciclagem a quente em usina estacioná- fáltica), agregados, agentes rejuvenescedores ou nativa possivelmente mais econômica e mais
ria é um processo no qual uma parte ou toda estabilizantes químicos. A mistura final é utiliza- ecológica.
a estrutura é removida e reduzida, geralmente da como camada de base que deve ser revestida A seguir, serão apresentadas algumas vanta-
através de fresagem a frio, e posteriormente com um tratamento superficial ou uma mistura gens das técnicas de reciclagem em comparação
transportada para ser misturada e recuperada asfáltica nova a quente, antes de ser submetida à com o método tradicional de recuperação de
em usina de asfalto apropriada. ação direta do tráfego. A reciclagem a frio pode pavimentos, no que tange a geração de impac-
O processo inclui a adição de novos agrega- ser classificada em (DNIT, 2006): tos ambientais negativos nos meios antrópico e
dos, material de enchimento, cimento asfáltico Reciclagem com adição de material betu- biofísico.
de petróleo (CAP) e se necessário, um agente minoso – Consiste na mistura do revestimento Para o meio antrópico, podem ser destaca-
rejuvenescedor. O tipo de usina mais empregada e da base pulverizados no local, com adição de dos, como forma de otimização dos impactos
é a “Drum mix”, e o produto final deve atender material betuminoso para produzir uma base es- ambientais, de acordo com o componente am-
as especificações de misturas asfálticas a serem tabilizada com betume. biental saúde e segurança: a redução significa-
aplicadas nas camadas de base, de ligação ou de Reciclagem com adição de estabilizante quí- tiva dos ruídos e vibrações, e a redução de aci-
rolamento (DNIT, 2006). mico – Consiste na pulverização e mistura na dentes envolvendo pessoas e/ou equipamentos.
A reciclagem a quente in situ (regenera- pista da camada de revestimento, da base e da Com relação ao meio biofísico, destaca-se
ção – na figura 8 ), é um processo de correção sub-base, ou de qualquer combinação entre es- para a componente ambiental, solo, e a com-

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ponente visual, paisagem, ruídos e ar: a sig- está sujeita ao tráfego pesado; diminuição
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pois o processo de reaproveitamento de mate-


nificativa redução de erosões, deslizamentos, riais que anteriormente seriam descartados e na dos problemas causados ao tráfego, e menor
assoreamento, desertificação que normalmente maioria das vezes se torna um “lixo” não desejá- deterioração das estradas secundárias adja-
ocorrem em caixas de empréstimo (jazidas), nos vel é visto com bons olhos por órgãos governa- centes, devido ao volume mais reduzido de
locais de bota-foras e de disposição do material mentais e principalmente ambientalistas. transporte de novos materiais; a redução do
resultante da fresagem (corte) do pavimento; A técnica de se reciclar pavimentos é re- prazo de execução da obra; o menor tempo
a redução da degradação da paisagem natural lativamente recente, porém não menos im- de interrupção do tráfego durante o trabalho;
motivada pela deposição de material de des- portante. O reaproveitamento dos materiais finalmente, pode permitir redução dos custos
carte; a redução da emissão de poeira e gases, existentes do pavimento antigo como fonte em relação à restauração convencional.
alterando a qualidade do ar e a diminuição da principal para a construção de pavimentos Pode-se citar como desvantagem da aplica-
incidência de ruídos e vibrações. novos, pode gerar benefícios como: evitar ção das soluções de reciclagem, o emprego de
Entretanto, faz-se necessário uma medi- a exploração excessiva de jazidas minerais, mão de obra especializada, o difícil acesso das
da de controle (monitoramento para a cada já tão escassas em algumas regiões do país; máquinas às obras distantes dos grandes centros
fase ou etapa) para comparação de ganhos ou a eliminação dos depósitos em aterro dos urbanos – como, por exemplo, a Amazônia –, e a
perdas, de acordo com os respectivos compo- materiais retirados do pavimento e diminui- necessidade da análise econômica para serviços
nentes ambientais, como por exemplo, a com- ção da extração de agregados das pedreiras realizados em diferentes regiões, observando-se
ponente visual, paisagem, ruídos e ar: avaliar existentes com todas as vantagens ambien- as devidas peculiaridades.
a qualidade do ar (medir os níveis de poeira e tais daí resultantes; o ligante asfáltico (CAP)
gases) e a avaliação de ruídos e vibrações às remanescente pode ter recuperadas algumas * Clauber Costa é engenheiro civil, MSc. com ênfase em
margens lindeiras da rodovia (medir os níveis Infraestrutura de Transporte pelo IME - Instituto Militar
de suas propriedades originais, que durante de Engenharia, Engenheiro Projetista da PACS - Plane-
de ruídos), conforme limites anteriormente ci- sua utilização foram perdidas por oxidação e jamento Assessoria Consultoria e Sistemas Ltda, sócio
tados nas tabelas 3 e 4. volatilização. Citam-se ainda como benefício efetivo da ABPv-RJ, possui grande experiência na área
do uso da técnica de reciclagem: possibilida- de Construção Civil Pesada e Obras de Arte.
CONCLUSÕES E-mail: clauber.costa@ibest.com.br
de de reabilitar uma só via de uma estrada, * Prof. Salomão Pinto é Doutor em Engenharia Civil com
O termo reciclagem vem sendo usado nos aspecto bastante importante em estradas de cursos de Especialização na Europa e Estados Unidos.
últimos anos em diversas áreas de produção, duas ou mais vias em que apenas uma delas E-mail: salomaopinto@ig.com.br

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