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Instituto Superior de Educação do Vale do Juruena

Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão, Supervisão e Orientação Escolar


Prof. LUCIANE MARA DA SILVA MENEGAZ

DISCIPLINA: NOÇÕES FUNDAMENTAIS DE DIREITO E


CIDADANIA
PROF. LUCIANE MARA DA SILVA MENEGAZ

1 Av. Integração Jaime Campos n 145 – Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000


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Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático.
De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98.
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NOÇÕES FUNDAMENTAIS DE DIREITO E CIDADANIA

1. Apresentação da disciplina:

1.2 Introdução:

A história da cidadania confunde-se com a história dos direitos


humanos, a história das lutas das gentes para a afirmação de valores éticos,
como a liberdade, a dignidade e a igualdade de todos os humanos
indistintamente; existe um relacionamento estreito entre cidadania e luta por
justiça, por democracia e outros direitos fundamentais asseguradores de
condições dignas de sobrevivência.
A cidadania esteve e está em permanente construção; é um
referencial de conquista da humanidade, através daqueles que sempre lutam
por mais direitos, maior liberdade, melhores garantias individuais e coletivas, e
não se conformam frente às dominações arrogantes, seja do próprio Estado ou
de outras instituições ou pessoas que não desistem de privilégios, de opressão
e de injustiças contra uma maioria desassistida e que não se consegue fazer
ouvir, exatamente por que se lhe nega a cidadania plena, cuja conquista, ainda
que tardia, não será obstada. Ser cidadão é ter consciência de que é sujeito de
direitos. Direitos à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade, enfim, direitos
civis, políticos e sociais. Mas este é um dos lados da moeda. Cidadania
pressupõe também deveres. O cidadão tem de ser cônscio das suas
responsabilidades enquanto parte integrante de um grande e complexo
organismo que é a coletividade, a nação, o Estado, para cujo bom
funcionamento todos têm de dar sua parcela de contribuição. Somente assim
se chega ao objetivo final, coletivo: a justiça em seu sentido mais amplo, ou
seja, o bem comum.

2. Noções Gerais acerca dos temas:

2.3. O que é cidadania

Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira,


“cidadania é a qualidade ou estado do cidadão”, entende-se por cidadão “o
indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado, ou no
desempenho de seus deveres para com este”.

No sentido etimológico da palavra, cidadão deriva da palavra civita,


que em latim significa cidade, e que tem seu correlato grego na palavra
politikos – aquele que habita na cidade.

“A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a


possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem
não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada

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de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social”.


(DALLARI, Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. p.14)

2.4 O que é democracia

Segundo o Dicionário Aurélio, ela significa "governo do povo,


soberania popular". Democracia é um sistema de governo onde o poder de
tomar decisões políticas está com o povo. É o sistema político em que o povo
tem o direito de escolher seus governantes e de influenciar nas suas decisões.
A Democracia pode ser direta ou representativa. O sistema político que se
opõe à democracia chama-se ditadura.

2.4. O que é direito

Direito é uma ciência que estabelece regras necessárias e


obrigatórias para assegurar o equilíbrio de uma sociedade. É ele quem
organiza e possibilita o convívio pacífico entre os indivíduos e, quando
necessário, se utiliza de instrumentos coercitivos para conduzi-los à
obediência restrita de suas regras. Esses mecanismos de coerção são
exclusivos do Estado e são válidos para normas jurídicas. É por isso que o
direito pressupõe a existência de um poder hegemônico que estabelece
condutas lícitas e evita o caos ao estabelecer uma ordem social.

2.4.1 Direitos Humanos

A expressão “direitos humanos” é uma forma abreviada de


mencionar os direitos fundamentais da pessoa humana. Esses direitos são
considerados fundamentais porque sem eles a pessoa humana não consegue
existir ou não é capaz de se desenvolver e de participar plenamente da vida.
Todos os seres humanos devem ter asseguradas, desde o nascimento, as
mínimas condições necessárias para se tornarem úteis à humanidade, como
também devem ter a possibilidade de receber os benefícios que a vida em
sociedade pode proporcionar. Esse conjunto de condições e de possibilidades
associa as características naturais dos seres humanos, a capacidade natural
de cada pessoa pode valer-se como resultado da organização social. É a esse
conjunto que se dá o nome de direitos humanos.

As principais características doutrinárias atribuídas aos Direitos


Humanos fundamentais são:
Historicidade. São históricos como qualquer direito. Nascem,
modificam-se e desaparecem. Eles apareceram com a revolução burguesa e
evoluem, ampliam-se, com o correr dos tempos;
Inalienabilidade. São direitos intransferíveis, inegociáveis, porque
não são de conteúdo econômico-patrimonial. Se a ordem constitucional os
confere a todos, deles não se pode desfazer, porque são indisponíveis;
Imprescritibilidade. O exercício de boa parte dos direitos
fundamentais ocorre só no fato de existirem reconhecidos na ordem jurídica
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(...). Se são sempre exercíveis e exercidos, não há intercorrência temporal de


não exercício que fundamente a perda da exigibilidade pela prescrição;
Irrenunciabilidade. Não se renunciam direitos fundamentais.
Alguns deles podem até não ser exercidos, pode-se deixar de exercê-los, mas
não se admite sejam renunciados.” (José Afonso da Silva — Curso de Direito
Constitucional Positivo)

2.5. Justiça

De acordo com o Novo Dicionário Aurélio, a Justiça pode ser


definida como virtude que consiste em dar a cada um, em conformidade com o
direito, o que por direito lhe pertence.

Do ponto de vista filosófico, o sentimento de Justiça é intrínseco à


consciência humana, isto é, no homem normal dotado de discernimento do
bem e do mal, do certo e do errado, do que é justo e injusto.

A quebra desses princípios, norteadores da vida humana,


provocam o desequilíbrio, a discórdia, o conflito, a ausência da paz social,
trazendo como conseqüência, a indignação, o inconformismo, a busca da
restauração através do amparo jurisdicional, do bem jurídico lesado, a quem de
direito].

Para Kelsen], a justiça é como a felicidade social. Uma explicação


que seria quase matemática se o sentido da palavra felicidade não fosse tão
complexo quanto o de justiça. Desta maneira, deve-se, portanto, perquirir o
sentido da palavra felicidade, pois, o que pode ser a felicidade de alguns, pode,
também, ser a infelicidade de muitos outros, o que torna o termo felicidade um
tanto quanto subjetivo.
Kelsen afirma, ainda, que o conceito de felicidade deverá sofrer
radical transformação para tornar-se uma categoria social: a felicidade da
justiça. É que a felicidade individual deve transfigurar-se em satisfação das
necessidades sociais. Como acontece no conceito de democracia, que deve
significar o governo pela maioria e, se necessário, contra a minoria.

Mas, a justiça também depende de uma hierarquia de valores,


como, por exemplo, os valores vida e liberdade. Qual seria o valor
hierarquicamente maior? Uns diriam ser a vida o bem supremo; outros
argumentariam ser a liberdade o maior bem, posto que de nada valeria a vida
sem liberdade. Neste sentido, poder-se-ia enumerar vários casos em que as
hierarquias dos valores seriam diferentes, chegando-se a conclusão de Kelsen:
"é nosso sentimento, nossa vontade e não nossa razão, é o elemento
emocional e não o racional de nossa atividade consciente que soluciona o
conflito".

Já em Aristóteles, encontramos sua célebre frase que diz: “A


justiça tem pouco valor”. Este era um dito corrente entre os gregos, para os
quais ela se baseava mais na aparência das coisas que na realidade ou na
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verdade]. Será que hoje, o conceito e o valor de justiça mudaram muito?


Certamente as oscilações foram grandes – não importando se para pior ou
melhor –, portanto, em tempos modernos, não podemos falar em justiça sem
pensarmos nas conseqüências que ela acarretará, isto é, nas sanções
positivas ou negativas impostas pela justiça.

As sanções tomam a natureza do direito a que servem, falando-se


então de sanções penais, administrativas, tributárias, civis, trabalhistas,
constitucionais, internacionais, processuais, comerciais etc. No entanto,
modernamente, a palavra sanção é mais usada no sentido de pena, punição,
castigo, para a inobservância de uma lei. Mas os dicionários definem também
como sanção a recompensa ou prêmio para quem observa a lei. Sanção seria
assim, em sentido genérico, toda conseqüência ou resultado de uma conduta,
podendo ser de caráter premial ou penal.

Por fim, deve-se dizer que no âmbito da justiça, dentro dos


parâmetros e paradigmas do direito e em conformidade com a lei, todo o tipo
de sanção é legal... até que se prove o contrário. Será? (fonte:
http://www.mundodosfilosofos.com.br/rosana5.htm

1.6 Moral

É a aplicação da ética às relações humanas. Parte da filosofia que


trata do bem, dos bons costumes e dos deveres do homem social, e entra
como elemento principal na formação do Direito. Conjunto de normas de
conduta em harmonia com a virtude. Conformidade com o que é lícito e
honesto; prática do bem e do justo: princípio moral. Que se opõe ao físico e ao
natural: pessoa moral – pública – é o estado de observância, pela sociedade,
dos preceitos da ética”. (NUNES, Pedro dos Reis. Dicionário de tecnologia
jurídica. 12. ed., Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1990).

CIDADANIA NA ESCOLA:
DESAFIO E COMPROMISSO
João Reis*
1. Introdução
A educação para a cidadania constitui, no nosso tempo, um desafio e um
compromisso para todos os responsáveis na formação dos públicos escolares.
Um desafio, que embora apareça como uma questão consensual na sociedade
portuguesa, está longe de se tornar uma realidade. A considerável
unanimidade em torno da importância da educação para a cidadania e do
reconhecimento da escola como lugar privilegiado para o seu desenrolar,
parece não ter ainda equivalência nas práticas de trabalho e de relação que se
estabelecem nas comunidades escolares. Estamos perante um desafio que
consiste em tornar realidade uma questão que surge como consensual na
sociedade portuguesa. Justifica-se assim, a centralidade que a educação para
a cidadania assume no diploma legal da reorganização curricular, em curso,
nos diferentes ciclos do ensino básico (Decreto-lei 6/2001). Esta situação
comporta novas exigências, em particular, ao trabalho dos professores.
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Trata-se de construir práticas de trabalho escolar capazes de desenvolver


competências para o exercício da cidadania. O assumir dessas exigências
deve traduzir-se num verdadeiro compromisso com a cidadania nas escolas.
A centralidade da educação para a cidadania é, em grande medida,
determinada pelas perplexidades e desafios do nosso tempo que exigem a
revitalização dos laços de cidadania, no sentido da maior participação na vida
social e política, num contexto de abertura pessoal aos valores cívicos.
Como refere Naval (1995), a ideia de educar para a cidadania num mundo
complexo, não corresponde nem ao pitoresco aparato do currículo de formação
moral e cívica de outros tempos, nem a um complemento da educação geral,
ideologicamente necessário, mas carente de validade cognitiva e afectiva.
Trata-se de uma tarefa essencial nas sociedades livres que associa as
diferentes dimensões da cidadania: responsabilidade social e moral,
participação na comunidade e literacia política (Crick Report, 1998).

A introdução das questões de cidadania de forma transversal nos programas


escolares e a criação de áreas curriculares próprias para o seu
desenvolvimento torna necessária uma clarificação conceptual e uma atenção
renovada na formação dos professores. Importa clarificar o sentido e o
conteúdo da educação para a cidadania, para que os professores possam
desempenhar melhor o seu papel de formadores das competências,
capacidades e atitudes implicadas nesta matéria.
Embora esta problemática implique todos os professores e áreas de ensino,
interessa aqui sublinhar que os professores de Geografia podem
encontrar nas questões de cidadania um sentido renovado para o seu ofício.
Com efeito, o compromisso de cidadania inscreve-se na vocação cultural e
política da geografia escolar e encontra eco nos princípios estabelecidos pela
Carta Internacional sobre a Educação Geográfica (UGI, 1992). Deste modo,
quer os novos planos de estudo do ensino básico, quer o trabalho nas áreas
curriculares não disciplinares permitem ao professor de geografia desenvolver
práticas onde as questões de cidadania têm um papel incontornável.
Neste contexto, procura-se em primeiro lugar clarificar o conceito de cidadania
e apontar alguns dos principais aspectos que justificam a sua presença
na agenda escolar. Em segundo lugar, são apresentadas as dimensões e
conceitos que atravessam a educação para a cidadania, apontando uma
perspectiva pedagógica e uma linguagem facilitadora do entendimento e das
exigências que se colocam ao trabalho escolar. Em terceiro lugar, são
identificadas as competências de cidadania que devem ser tomadas como
referência na operacionalização dos projectos curriculares de escola e de
turma. Por fim, apresentam-se algumas considerações que o ensino e a
aprendizagem da Geografia devem observar para responder eficazmente ao
compromisso de cidadania da educação geográfica do nosso tempo.

2. Sobre o conceito de cidadania


A ideia de cidadania nasce da transformação do súbdito em cidadão, em
resposta aos desafios do contexto histórico e social. Essa transformação

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constitui um património de valor inquestionável para as sociedades


democráticas do nosso tempo. O desenvolvimento da cidadania, ancorado na
liberdade e na democracia, permitiu alargar as possibilidades de participação
cívica e a construção de sociedades mais justas.
A cidadania é, portanto, uma qualidade de todos os membros de uma
sociedade, conferindo-lhes direitos e deveres de participação na vida pública.
Daí resulta uma capacidade integradora traduzida, não apenas numa
igualização
de direitos formais, mas também num sentimento de pertença a uma
comunidade de cidadãos. Os deveres numa sociedade democrática constituem
a outra face dos direitos e são encarados como responsabilidades, formando
uma rede de obrigações horizontais numa comunidade. Fora da comunidade
não é possível atingir o pleno desenvolvimento da personalidade, os nossos
deveres perante aquela são elemento constitutivo desta.
Este modelo de cidadania que se desenvolveu nas sociedades democráticas
reclama actualmente um alargamento e um aprofundamento, de forma a
encontrar respostas para os novos problemas que se colocam aos cidadãos.
As mudanças a que assistimos em todos os sectores da nossa sociedade não
invalidam as formas tradicionais de cidadania: associadas à identidade, ao
território nacional e ao exercício dos direitos civis e políticos. Contudo, essas
formas tornaram-se insuficientes, o modelo de cidadania tem de evoluir para
formas mais especializadas capazes de responder a filiações mais locais ou
mais transnacionais e integrar os grupos que têm permanecido excluídos de
uma cidadania efectiva. O aprofundamento da cidadania está cada vez mais
ligado à acção face a problemas como: o ambiente, o urbanismo, a qualidade
de vida, a exclusão social, o emprego e o desemprego, os direitos das
minorias, a transparência na administração e, naturalmente, a utilização das
tecnologias de informação e comunicação.
Uma cidadania renovada exige mais responsabilidade dos cidadãos que somos
todos nós (os jovens não estão à parte). Falamos das responsabilidades que
cada um tem perante a sua comunidade, o que inclui a responsabilidade de
exigir que aqueles que ocupam cargos públicos prestem contas do seu
desempenho. A concretização deste modelo de cidadania implica: sentido da
identidade, cultura cívica, formação e autodeterminação para a participação.
Como salienta uma publicação oficial recente (ME-DES,2001), uma vez que a
vitalidade da democracia exige autonomia individual e capacidade
pessoal de cuidar dos interesses próprios, as chamadas “virtudes sociais” e as
competências cívicas são indispensáveis para a constituição e manutenção da
sociedade.

3. A cidadania na agenda escolar


Superado o ambiente relativista de décadas anteriores assistimos, nos anos
oitenta e noventa, a uma sucessão de declarações de intenções, da parte de
responsáveis da educação, sobre a importância da formação moral e cívica dos
públicos escolares. Surgem recomendações de organismos internacionais,
consagram-se suportes legais no âmbito dos sistemas educativos, multiplicam-
se os programas de acção que, um pouco por todo o lado, visam promover a
educação para a cidadania nas escolas. Muito elucidativa deste movimento é a
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compilação de textos internacionais sobre educação para a cidadania feita por


Reis Monteiro (2001).
A importância que o problema da formação dos cidadãos tem vindo aassumir,
inscreve-se no alargamento do campo de intervenção da escola e na
redefinição do seu papel social. Com efeito, nos sistemas educativos das
sociedades democráticas, os modelos de abordagem da educação para a
cidadania revelam um claro avanço no processo de explicitação das intenções
em domínios como a educação para os valores, o desenvolvimento do
raciocínio moral e das atitudes democráticas. O desenvolvimento destes
domínios está implícito na formação para o exercício de uma cidadania
responsável. Como defende Chokni (1995), preparar as novas gerações para
uma intervenção mais activa e responsável na sociedade civil implica ajudá--las
a viver uma cidadania no espaço escolar, tarefa que não pode dispensar uma
estratégia global de educação para a cidadania As estratégias de
reestruturação da educação, ensaiadas nas últimas décadas, procuram
oferecer uma resposta satisfatória aos desafios e transformações da ordem
política, económica e social. Na Europa Ocidental, muitos dos sistemas
educativos do pós-guerra foram criados na convicção de que as pessoas eram
politicamente educadas. Entretanto, as mudanças na ordem política e social
deram origem a gerações em que isso já não se verifica.
Em paralelo, assistimos ao acesso, praticamente generalizado, a uma
escolaridade básica obrigatória que se estende, em muitos casos, por cerca de
dez anos. Entre outros, estes dois factores vieram reforçar as expectativas da
sociedade relativamente ao papel da escola e ao peso efectivo desta na
educação global dos seus públicos.
Concorrem também, para colocar a educação para a cidadania na agenda
escolar, as condições de formação e socialização das novas gerações, onde a
escola ocupa o lugar de intermediário entre a família e a vida pública (social e
política). Face às transformações sociais rápidas, interessa salientar alguns
obstáculos e dificuldades que se colocam à família e à escola no exercício das
suas responsabilidades educativas.
O processo de modernização das estruturas familiares parece produzir
um vazio de espaços iniciáticos para os jovens, dada a dificuldade em
encontrar adultos significativos que sejam suporte para os seus processos de
identificação. Enquanto os próprios adultos vivem um fascínio pelo mito da
juventude e tomam os jovens como modelo, estes encontram-se
frequentemente
isolados e condenados a voltarem-se sobre o agrupamento monogeracional
vivendo, por vezes, trajectos sem projecto. Conjuntamente com esta
confusão de papéis apontam-se outros factores, tais como a falta de
disponibilidade
interior ou mesmo a falta de tempo real, por parte dos pais, que oscilam
entre o autoritarismo e o desinvestimento (Pais, 1993). Também a composição
do quadro familiar tem vindo a ser alterada: a relação quotidiana
entre gerações tornou-se mais rara, as famílias monoparentais proliferam, o
número de irmãos é reduzido.
Com a proliferação de instituições de formação não familiares, os problemas
familiares dos jovens tornaram-se também sociais e a sua integração e
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socialização faz-se cada vez mais pela escola e pelos meios de comunicação
de massas. Neste quadro, deve ainda acentuar-se que os jovens de hoje estão
sujeitos a um processo de crescente marginalização das estruturas produtivas
e simultaneamente a uma forte integração através dos mecanismos de
consumo, fomentadores da passividade receptiva e da evasão diversiva (Cruz,
1995).
Assim se justifica a importância de uma educação para a cidadania que
mobilize os mais jovens, para a tarefa de encontro de sentido, num mundo livre
e com as maiores possibilidades, mas que reclama, para se aperfeiçoar,
solidariedades voluntárias e responsabilidades individuais (Martins, 1991).
Trata-se de enfrentar o declínio da coesão social ditado pelo individualismo
crescente e pela fragmentação da sociedade que ameaçam a cooperação e
confiança que estão na base de qualquer comunidade.

4. A perspectiva pedagógica
A problemática da educação para a cidadania, mormente nas sociedades
democráticas ocidentais, coloca-nos perante uma matéria que, ao nível da
educação formal, tem sido objecto de designações e intencionalidades
diversas.
É frequente a utilização mais ou menos indiferenciada das designações:
“educação cívica” ou “formação cívica”. Sucede igualmente, nesta matéria, uma
natural conotação com as questões éticas e morais bem como com a formação
política e o desenvolvimento pessoal e social.
De facto, esta situação traduz bem a complexidade do universo conceptual da
educação para a cidadania e a intencionalidade, nem sempre convergente, das
propostas educativas por ela suscitada. Contudo, quer na literatura sobre esta
matéria, quer nas configurações escolares de diferentes contextos sobressaem
preocupações educativas que, no essencial, se situam em dois níveis
associados: o da formação ética ou moral e o da formação cívica ou
sociopolítica. Embora a formação cívica não seja o mesmo que formação
moral, torna-se fundamental superar a ideia de um civismo exterior ao sujeito e
desligado do sentimento de integração na comunidade. Sem uma componente
ética, a integração social e política resultaria em mera adaptação às tendências
dominantes.
Podemos afirmar que existe na expressão “educação para a cidadania” um
reconhecimento implícito do paralelismo, salientado por Renaud (1991), entre
formação ética e formação cívica, na medida em que os comportamentos
cívicos (sociopolíticos) implicam a interiorização de valores morais. Isto
significa uma abertura pessoal aos valores, de modo a que estes passem a
fazer parte da existência individual e, assim, estejamos dispostos a defendê--
los. Os valores da cidadania são aqueles que desencadeiam uma participação
responsável, ou seja, orientada para a procura do bem comum e da justiça.
A aceitação do desenvolvimento moral e cívico dos públicos escolares, como
horizonte da educação para a cidadania, justifica a associação com a
expressão “formação moral e cívica”. Com efeito, as expressões “educação
para a cidadania” e “formação moral e cívica” podem ser tomadas como
equivalentes, como sucede em grande parte da literatura sobre a matéria.

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Ambas as designações podem encerrar na sua intencionalidade a ideia de


formar cidadãos e promover o seu desenvolvimento moral e cívico com vista ao
exercício de uma cidadania responsável.
Nas sociedades democráticas, o acolhimento escolar da educação para a
cidadania está associado a três dimensões de aprendizagem: a
responsabilidade social e moral, a participação na comunidade e a literacia
política (Crick, 1998). A operacionalização pedagógica das diferentes
dimensões da educação para a cidadania resulta da conjugação dos três
domínios no chamado triângulo da cidadania (Fig.1). Na base do triângulo
encontramos os domínios cognitivo e afectivo entre os quais se estabelece
uma relação de interdependência.
No domínio cognitivo, podemos incluir metodologias pedagógicas ligadas
à compreensão do direitos e deveres, ao desenvolvimento do raciocínio
moral, à reflexão crítica, à transmissão e à consciência dos valores. No
domínio afectivo, podem incluir-se metodologias ligadas ao desenvolvimento da
auto-estima, dos sentimentos de identidade e lealdade, assim como as atitudes
perante os outros e as comunidades de pertença. Os dois domínios
considerados convergem para o domínio da acção ou, se quisermos, do
comportamento e da expressão. Este último domínio considera
especificamente a concretização de conhecimentos, capacidades, atitudes e
valores em comportamentos, traduz-se no exercício da responsabilidade
pessoal no confronto com as situações e problemas da vida social e política
ACÇÃO
AFECTIVO COGNITIVO
• Compreensão dos direitos e deveres
• Raciocinio moral
• Reflecção critica
• Transmissão e consciência dos valores
• Emoções
• Desenvolvimento da auto-estima
• Sentimentos de identidade e lealdade
• Sentimentos perante os outros
• Exercício da responsabilidade pessoal no âmbito social e político (cívico)
• Emoções
• Desenvolvimento da auto-estima
• Sentimentos de identidade e lealdade
• Sentimentos perante os outros
• Compreensão dos direitos e deveres
• Raciocínio moral
• Reflexão crítica
• Transmissão e consciência dos valores
Chegamos, assim, a uma perspectiva pedagógica que, tendo em vista a
formação moral e cívica dos públicos escolares, integra a aquisição de
conhecimentos, capacidades e valores, num contexto de desenvolvimento
cognitivo, afectivo e comportamental. A concretização de competências de
cidadania depende da operacionalização desta perspectiva pedagógica
integradora.

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5. As competências de cidadania
Na identificação e clarificação de competências de cidadania, é possível
considerar duas componentes – ético-moral e sociopolítica – que, embora
fortemente interligadas, aglutinam conhecimentos, capacidades e atitudes
essenciais ao acolhimento escolar da formação para a cidadania. Assim, na
componente ético-moral, consideram-se competências relacionadas com o
desenvolvimento da responsabilidade social e moral e que enfatizam a
formação do cidadão como agente moral. Na componente sociopolítica,
incluem-se competências relacionadas com a participação na comunidade e a
literacia política.
A ausência de um completo acordo, a variação consoante as culturas e as
novas situações com que as sociedades actuais se confrontam, justificam o
contínuo debate em torno dos valores nas sociedades democráticas. Esse
debate e a descoberta activa dos valores não pode deixar de constituir uma
metodologia essencial da componente ético-moral da educação para a
cidadania.
A dificuldade em inventariar os valores nas sociedades livres do nosso tempo
não invalida a possibilidade de apontar aqueles que surgem como
fundamentais numa formação para a cidadania democrática. Assim, Cunha
(1993) aponta como valores consensuais na comunidade portuguesa, os
seguintes: justiça, honestidade, lealdade, solidariedade, verdade nas relações
interpessoais e pluralismo entendido como tolerância e respeito pelas
diferenças.
Relativamente aos valores inerentes à própria educação, sobre os quais
reflecte Reboul (1992), podem apontar-se como fundamentais: a obediência, o
respeito pelos mais velhos, o espírito de disciplina, a iniciativa, a criatividade e
a cooperação. Resulta daí, que incluir nos conteúdos da educação para a
cidadania a transmissão dos valores nacionais constitui uma referência, não
uma crispação da identidade, que ganha sentido na exigência de
universalidade que os anima.
A componente ético-moral oferece igualmente uma ampla justificação para o
lugar que os Direitos Humanos devem ocupar na formação dos cidadãos.
Não apenas porque os Direitos Humanos constituem um dos temas maiores do
debate ético e político, mas porque fornecem um critério, quer para a
elaboração de programas políticos, quer para a organização da comunidade.
Os valores fundamentais do Estado moderno referem-se aos Direitos Humanos
consagrados nos documentos internacionais e considerados fontes de Direito
nas democracias modernas.
Os Direitos Humanos são os direitos fundamentais, que repousam na
universalidade de certos princípios éticos como a liberdade, a igualdade e o
respeito pela pessoa. Em termos educativos, estamos perante uma noção que
convoca a abertura a outras culturas e o respeito pelas diferenças, sem
conduzir à negação das identidades. Enquanto universais, os Direitos
Humanos, sem negar a riqueza da diversidade, definem princípios que
permitem julgar as culturas (começando pela nossa), funcionando como um
antídoto para o relativismo.
As bases éticas da convivência comunitária não podem também ser
negligenciadas na preparação das futuras gerações para o aperfeiçoamento
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das estruturas sociais e políticas que caracterizam a vida democrática. É


preciso reconhecer a proeminência do bem, nem sempre inscrito nas normas
reguladoras da conduta individual (que no extremo permitem fazer tudo o que
não é proibido), nas condutas responsáveis de intervenção na comunidade.
O fundamento ético da realidade dos direitos e deveres que o estatuto de
cidadania encerra, abre um vasto campo de potencialidades no
desenvolvimento da autonomia, criatividade, iniciativa e ajuda interpessoal. A
educação para a cidadania deve aproveitar essas potencialidades de
desenvolvimento moral e reflectir sobre o respeito, a tolerância, a justiça, a
solidariedade, o amor ao trabalho e à liberdade, aspectos essenciais do
“aprender a viver juntos”.
As competências da componente sociopolítica da educação para a cidadania
estão relacionadas com a participação na vida pública, o que implica
participação na comunidade e literacia política. Trata-se de adquirir
competências de participação na sociedade civil e nas instituições políticas da
sociedade democrática.
Estamos em presença de competências de natureza cívica – a organização da
civitas – onde importa identificar papéis e formas de agrupamento humano,
discutir modos e possibilidades de participação característicos das
comunidades. Procura-se ainda responder ao alargamento da cidadania,
sublinhando a importância da distinção entre Estado e sociedade civil, cujos
contornos ganham cada vez mais força, nas sociedades abertas. Na verdade,
precisamos do Estado e das suas leis para conseguirmos que, para todos os
cidadãos, as fronteiras da sua liberdade sejam iguais. Contudo, precisamos de
espaços de liberdade, que permitam a expansão e organização autônoma dos
interesses e dos modos de vida, nos quais assenta a dinâmica da sociedade
civil. A associação entre o individualismo e a consciência da cidadania significa
educar esse individualismo no respeito pelo outro, desenvolvendo na
sociedade o hábito da negociação como meio privilegiado de atingir consensos.
Trata-se de contribuir para revitalizar e encontrar uma configuração da
sociedade civil que permita a concretização de certas exigências éticas, em
particular a exigência fundamental da liberdade e da dignidade humana.
Ao colaborar no reconhecimento das instituições humanas, a educação para a
cidadania deve procurar o desenvolvimento de um raciocínio crítico gerador de
contributos que melhorem o futuro, e a identificação cultural como suporte do
sentido de pertença comunitária. Numa sociedade aberta, que encontra os
seus elementos constitutivos na liberdade, justiça e igualdade perante a lei, as
instituições não são um produto perfeito e acabado. Se, por um lado, é
necessário evitar o conformismo que por vezes surge sob a candidez de que
vivemos no melhor dos mundos, por outro lado, não podemos cair na
ansiedade difusa do desenraizado, o que obriga a prestar mais atenção à
tradição e vivência comunitárias (Cunha, 1994; Naval, 1995).
Aceder aos princípios de organização política da sociedade, constitui também
uma competência indissociável da literacia política. Com efeito,
assegurar essa literacia abrange uma instrução sobre o sistema jurídico e as
instituições. Como salienta Rowe (1993), quem ignora os seus direitos está
quase na situação de quem não tem direitos. No entanto, essa cultura só
ganhará sentido se for impregnada por uma pedagogia do sentimento de
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identidade e pertença comunitária, dando lugar aos hábitos e aos símbolos,


àinformação plasmada nos lugares e nas memórias, que advém da freqüência
quotidiana de lugares públicos, das comemorações, das festas e dos actos
solenes. Estaremos, desta forma, a criar condições para um efectivo exercício
da cidadania, o que supõe conhecimento e vontade de participação – requisitos
fundamentais de uma cultura cívica. Uma participação mais activa na
comunidade deve afastar os mais jovens do conformismo dos papéis
aniquilador da mudança, bem como da atitude cínica de perpétuo observador
da realidade (Cunha, 1994).

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]
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]A VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS E O DESAFIO DA EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA.


Ione da Silva Cunha Nogueira

NOGUEIRA, Ione da Silva Cunha - UNESP/Araraquara

Uma educação conscientizadora e emancipadora, que garanta qualidade de ensino e


acesso a cidadania e a democracia, tem sido proposta tanto pela Nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (1996), quanto pela Constituição Federal do Brasil (1988). Conforme
a Lei Federal nº 9.394/96 (LDB), art. 2o: "a educação ... tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho."

A Constituição Federal (1988), no Cap. III, Seção I art. 205, estabelece que: "A
educação ... será promovida ... visando o ... preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho."

Educar para a cidadania tem sido a preocupação que tem centralizado as discussões
sobre os valores inerentes a essa formação. Porém pode permanecer a dúvida sobre o
que vem a ser educar para a cidadania.

Para FERREIRA (1993:19) existe uma grande dificuldade em se conceituar cidadania. Em


alguns momentos, cidadania é tratada como "nacionalidade", em outros, "traz para si
juízos de valor, aparecendo associada ao aspecto positivo da vida social do homem em
contraste com a negatividade da não-cidadania, a marginalidade." Um fato importante a
ser considerado é que, cidadania não pode ser pensada sem os pressupostos histórico-
filosóficos sobre os quais se fundamenta. Ela só adquire forma própria quando faz parte
de um indivíduo, o cidadão. "Ele (o indivíduo) realiza sua existência, enquanto ela (a
cidadania) lhe confere uma identidade." (FERREIRA, loc. cit.)

Sob esse ponto de vista a cidadania traz uma certa ambigüidade para a identidade do
homem, pois se na esfera individual cada um é único e inigualável, na esfera pública cada
um é cidadão e pelo menos em teoria, igual a todos os outros, quanto aos seus deveres,
direitos e privilégios decorrentes do correto exercício de sua cidadania.

E é exatamente a questão da igualdade que se mostra como valor básico para


fundamentar racionalmente os valores individuais. Nesse sentido, cidadania é o
instrumento institucional que tem a função de corrigir as diferenças impostas pela
sociedade de privilégios, nas quais prevalecem os antagonismos de classe.

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Conforme FERNANDES (1996), a concessão de direitos que tem ocorrido em nosso país,
configura uma cidadania passiva e excludente, predominante principalmente nas
sociedades autoritárias. Para a autora, o conceito mínimo de democracia pressupõe que
os cidadãos estejam preparados para usar as regras de participação democrática. É
necessário portanto, que os indivíduos tenham ao menos noções de cidadania para que
se tornem realmente cidadãos.

Fernandes demonstra não ser suficiente atribuir aos cidadãos o direito de participar direta
ou indiretamente das tomadas de decisões coletivas, mas antes, é indispensável que os
que são chamados a eleger, sejam colocados diante de alternativas reais e postos em
condição de escolher aqueles que realmente julguem ser os melhores.

Desse ponto de vista, ao se impedir real acesso à educação e cultura, restringe-se


também o acesso à vida pública e à cidadania, tornando a cidadania ativa, ou seja a que
realmente se concretiza, privilégio de uns poucos mais afortunados.

Para DA MATTA (1983:189), a sociedade tem se tornado cada vez mais complexa e
dessa complexidade nascem as imposições arbitrárias, alienantes e autoritárias, gerando
nas pessoas uma crise de identidade, trazendo uma grande dificuldade de se
visualizarem internamente enquanto tais. A esse respeito o autor descreve que a violência
tem servido como um modo de reintegração ao sistema, pois é a possibilidade de
transformação do indivíduo, elemento indiferenciado, em pessoa, com nome, honra e
consideração. Também para CHAUI (1994:54) a sociedade brasileira é autoritária e isso
se deve ao fato da cidadania ser mantida como "privilégio de classe", e colocada numa
posição de concessão da classe dominante às demais. Nessa sociedade as diferenças e
assimetrias sociais e pessoais são transformadas em desigualdades e estas, em relações
de "hierarquia, mando e obediência". As relações acabam tornando-se uma forma de
dependência, tutela, concessão, autoridade e favor, "fazendo da violência simbólica a
regra de vida social e cultural. Violência tanto maior porque invisível sob o paternalismo e
o clientelismo, considerados naturais e por vezes, exaltados como qualidades positivas do
'caráter nacional'."

Poderíamos transferir esses conceitos para a esfera escolar e traçar um paralelo. A


política escolar também tem exercido um papel de "tutela e favor" e o espaço público
(mais especificamente a escola pública), deixando de ser o que deveria (um bem público),
tem sido um espaço oferecido como favor da classe política ao povo. A qualidade de
ensino vem sendo relegada à condição de não repetência, e diminuição da evasão,
desconsiderando-se os aspectos pedagógicos, seus valores, sua importância, seus
métodos, seus objetivos e o mais importante, a preocupação com a formação integral do
futuro cidadão.

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Percebemos que ainda hoje é fortemente valorizado um ensino elitista que privilegia o
aspecto formal da educação, à qual os pertencentes às classes menos favorecidas
têmum acesso apenas parcial.

É nesse momento que o jovem pode vir a se utilizar do que Chaui denomina de
"contraviolência" (assim considerada por ela como um tipo de reivindicação de direitos),
para garantir que seja considerado um sujeito, ou melhor, alguém dotado de direitos,
podendo no mínimo, desfrutar de certa condição que lhe deveria ser assegurada e não o
é. O cotidiano escolar tem sido marcado por todo tipo de atitudes chamadas de violentas.
Desde uma simples agressão verbal a um colega ou professor, passando pela
depredação do prédio público culminando muitas vezes em casos de assassinato de
aluno ou professor.

Áurea GUIMARÃES (1996:25), faz uma análise da violência escolar e relata o fato de que
tanto pobres, quanto ricos, depredam o patrimônio público, porém "cada classe social faz
uma apropriação diferente dessas ações".

Na percepção da autora, existem os que são vândalos, e depredam por simples diversão
e existem os que quebram, por não sentirem o público como algo que lhes pertença.

Nesse sentido, a escola é um dos alvos prediletos pois vai contra tudo o que diz defender.
"Se diz democrática, mas não o é; diz que prepara para a vida, mas não o faz; é lugar do
novo, mas propaga o velho." (GUIMARÃES, 1996:25)

As questões elementares que precisam ser transmitidas pela escola ao indivíduo para que
este se torne um cidadão consciente muitas vezes são deixadas de lado. A democracia
pressupõe que os indivíduos que dela participam tenham condições de fazê-lo
conscientemente e esse tem sido o grande desafio da escola.

Considerando tais fatos, realizamos uma pesquisa de campo em uma escola pública de
5a a 8a séries do Ensino Fundamental no período diurno. No referido estudo foram
aplicados questionários aos alunos, porém serviram também como fontes de dados as
informações fornecidas de maneira verbal por todos os envolvidos no cotidiano escolar
(professores, alunos, direção e funcionários da escola), por meio de entrevistas. Nosso
objetivo foi a princípio, compreender qual a relação que a instituição escolar mantém com
os alunos, se essa relação se dá por meio de repressão à suas reivindicações e
preocupações, ou por meio de negociação que pode vir a se concretizar por intermédio de
abertura ao diálogo e participação dos alunos na vida escolar. E ainda verificar, se este
modo de ação tem influenciado ou não o problema da violência na escola.

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Na referida pesquisa verificamos que entre 234 alunos entrevistados, 26,5% admitem ter
praticado algum ato violento, concentrando-se tal ato essencialmente em agressão física
à colega em primeiro lugar e danificação de equipamento da escola em segundo (Tabela
5).

Quando questionados sobre o que fazer para melhorar sua escola, a maioria acredita que
deveria participar mais das decisões, tanto individualmente enquanto aluno, quanto por
intermédio de seus pais. (Tabela 1)

Algumas atividades existentes na escola entendidas pela direção como meios de


participação (sistemas de representantes de classe e grêmio estudantil), não são
reconhecidas pelos alunos dessa forma e eles sequer demonstram interesse por elas.
Dos alunos entrevistados, 35.5% não tem conhecimento de tais atividades e 79.1% nunca
participou de nada (explicamos aos alunos que "participar" poderia significar ter se
envolvido de alguma forma, mesmo que fosse apenas candidatando-se). (Tabelas 2 e 3)
Grande parte dos alunos que declara ter praticado atos violentos, indica nunca ter se
envolvido com tais meios de participação. (Ver Tabela 6)

Porém é muito fácil perceber que as autoridades educacionais não se esforçam em


demonstrar aos alunos que esse espaço lhes pertence, bem como não têm investido na
conscientização dos indivíduos sobre seu dever e direito de participar tanto em decisões,
quanto em eventos culturais e esportivos. E estes últimos, embora pareçam muito mais
atraentes para a faixa etária em questão e sejam promovidos pela instituição, não se
encontram incluídos nos planos de grande parte dos alunos. (Tabela 4).

Conforme relato dos alunos, nunca houve nenhum tipo de debate na tentativa de lhes dar
oportunidade de expor suas opiniões a respeito de qualquer tipo de assunto referente à
escola, e eles se ressentem com isso.

Esses dados nos levam a pensar que o universo escolar não tem proporcionado
possibilidades de relações sociais significativas ou um espaço para construção de
identidades coletivas.

A educação para a cidadania requer muito mais do que a simples criação de


oportunidades de participação dos alunos em alguns eventos proporcionados pela escola,
porém este pode ser um começo. Pode ser um ponto de partida para um envolvimento
maior com o espaço público e uma possível identificação com o mesmo.

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Para que haja uma educação de cidadãos, é preciso que acima de tudo os indivíduos,
vistos como iguais, tenham a oportunidade de dialogar, expor seus anseios, necessidades
e opiniões para que a escola passe a ser vista como local de troca, de relacionamento
interativo, e não de imposições e regras, que muitas vezes não condizem com sua
realidade.

Uma vez que a cidadania só adquire forma própria quando provém do indivíduo, é
primordial a existência dele para que ela deixe de ser algo apenas teórico ou privilégio de
alguns, e passe a permear as relações sociais e políticas. O relacionamento que o
indivíduo mantém com o espaço público nos permite exatamente perceber se esse
espaço tem correspondido àquilo que se esperava dele ou não. Assim, existe a
possibilidade de que esta violência, compreendida simplesmente como agressividade,
seja um meio encontrado pelos indivíduos para reivindicar esse espaço público que lhes
vem sendo segregado.

A escola pública e a cidadania

A educação, ao longo do tempo, sofreu modificações que, de alguma forma, a tornam


melhor, ao menos no que diz respeito ao aumento de vagas para crianças em idade
escolar. Se, originalmente, a escola foi pensada para poucos, hoje, o Ensino Fundamental
é, por lei, para todos. Saviani, reconstruindo as idéias de Luzuriaga, faz uma rápida leitura
das mudanças na educação pública através dos séculos, possibilitando uma visão geral
sobre essas transformações:
Luzuriaga situa as origens da instrução pública nos séculos XVI e XVII, de caráter
religioso. Já o século XVIII é caracterizado pelo surgimento da “educação pública estatal”
quando, sob o influxo do Iluminismo, se trava um combate contra as idéias religiosas,
fazendo prevalecer uma visão laica de mundo. Esse século culmina com a Revolução
Francesa quando se difunde a bandeira da escola pública universal, gratuita, obrigatória e
leiga firmando-se com clareza o dever do Estado em matéria de educação. [...] O século
XIX será o século da “educação pública nacional ” e o século XX corresponde ao advento
da “educação pública democrática”. (SAVIANI, 2004, p. 3).
Com efeito, o século XX, em que se afirmam os direitos sociais de cidadania, ao qual a
escola é um desses direitos, pode-se observar um crescente aumento de vagas
(quantitativo) e de um aumento de qualidade, tendo em vista os movimentos de
renovação pedagógica, como o da Escola Nova; estudos sobre os grandes teóricos da
Educação como Piaget, Vigotski, Paulo Freire. Esses e outros estudiosos trazem
inovações ao campo da Pedagogia, inserindo na escola o processo de motivação para o
conhecimento. Paralelamente a isso, os direitos sociais também crescem no final do
século, em virtude das mobilizações populares que, aos poucos, vão conseguindo
pequenas e importantes vitórias no campo da afirmação dos direitos sociais.

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Exemplo disso é o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto do Idoso, as 56


vagas para afro descendentes nas Universidades, as organizações não-governamentais
que trabalham em prol da saúde, do meio ambiente, dos indígenas, e muitos outros.
No entanto, podemos dizer que, embora se conseguisse instituir a escola pública
obrigatória e gratuita, não se conseguiu, de fato, uma educação pública nacional,
democrática e de qualidade no país, e nem que o benefício se estenda realmente a todos:
Para que esse grau de desenvolvimento atingido pelas forças produtivas possa produzir
todos os seus frutos, beneficiando toda a humanidade, é necessário que se preencha
uma condição: a apropriação coletiva de seus resultados. E isso é obstaculizado pelas
relações sociais vigentes que, dificultando a generalização da produção baseada na
incorporação maciça das tecnologias avançadas, dificultam também a universalização da
escola unitária. (SAVIANI, 2004, p. 233).
Da mesma forma, segundo Paro: “A escola estatal só será verdadeiramente pública no
momento em que a população escolarizável tiver acesso geral e indiferenciado a uma boa
educação escolar.” (1997, p. 17).
Nesse sentido, é verdade que os filhos dos trabalhadores vêm tendo maior acesso à
escola. Todavia, suas possibilidades de êxito permanecem menores que as dos filhos das
classes sociais mais abastadas, situação observável quando se realizam estatísticas
sobre
exclusão escolar, evasão, reprovação. O Censo do Ensino Superior de 2004 revela que
somente 10,4 % dos jovens entre 18 e 24 anos estão fazendo algum curso superior
(MEC/INEP, 2005). Isso significa que, mesmo que os jovens concluam o Ensino Médio, a
maioria não consegue cursar uma Faculdade, por muitas razões: precisam trabalhar antes
mesmo de concluírem o Ensino Médio, a família não consegue arcar com os gastos
decorrentes dos estudos, faltam políticas para implantação de educação pública e gratuita
nas universidades, entre outras.
O panorama atual é, pois, atravessado por esta contradição: estão já disponíveis as
condições tecnológicas capazes de produzir os bens necessários para manter todos os
homens num nível de vida altamente confortável; no entanto, o incremento da
produtividade produz o efeito contrário, provocando a exclusão e lançando na miséria um
número crescente de seres humanos. (SAVIANI, 2004, p. 234).
Uma das formas perversas do neoliberalismo diz respeito à sua inserção na imaginação
coletiva das pessoas, de maneira sutil, sem que se aperceba e, aos poucos, vão-se
incorporando a ela procedimentos pedagógicos e sociais que, gradativamente, tornam-se
senso comum. Um exemplo é a terceirização de serviços escolares, o que passa a ser
considerado normal. Aos poucos, o espaço pedagógico da escola vai-se fragmentando,
diluindo. Para um Estado mínimo, uma educação mínima.

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Para compreender criticamente as atuais políticas neoliberais, devemos prestar atenção


não apenas às mudanças que estão acontecendo na estrutura e funcionamento dos
sistemas escolares, mas também às transformações radicais que operam nas
subjetividades, nos sentidos construídos e atribuídos à educação como prática política. A
des-publicização da escola opera dialeticamente nessa dupla direção. (GENTILI, 1998, p.
9).

UMA ESCOLA PARA A CIDADANIA

‘Do que adiantam? Placas, bulas, instruções... Do que adiantam? Letras impressas das
anções... Do que adiantam? Gestos educados, convenções... Do que adiantam?
Emendas, constituições se o teto da escola caiu se a parede da escola sumiu.” Herbert
Vianna
O direito do cidadão vem ampliando-se ao longo dos anos, podemos exemplificar com a
criação do Estatuto da Criança e do Adolescente – o ECA e o Estatuto do Idoso e Leis
como a Lei Maria da Penha e outras conquistas almejadas.pela grande parcela da
sociedade brasileira.. esses direitos que antes não eram institucionalizados, hoje estão
amparados legalmente .

A palavra Cidadania já esta presente na sociedade desde o período Republicano e ao


longo dos anos os individuos vêm garantindo aos poucos o seu direito civil, social e
politico e chegando em pleno SEC. XXI, ainda há dúvidas sobre a efetiva garantia de
direitos de cidadania a todos cidadãos, já que não evidenciamos a presença de uma
educação baseada na busca de cidadania e de respeito.

Podemos conceituar a palavra “CIDADANIA”, como a consciência de direitos, e


precisamos acreditar em uma escola cidadã, reconhecendo, portanto, que ao
cristalizarmos posturas e valores não teremos medo de arriscar , pois cidadania é uma
pratica viva de respeito com o outro e consigo mesmo.

A cidadania é um elemento histórico que vai além do judiciário, é uma questão politíca
que implica a conquista da legitimidade social para um conjunto de direitos e de relações
sócio-culturais. Cidadania não se harmoniza com a exclusão social, ela esta sintonizada
com o respeito, com o acesso aos direitos sociais, materiais,culturais, aos valores. Diante
disso, o espaço da escola publica é uma dimensão importante, uma referência de prática
concreta da construção de uma escola democratica, participativa é consequentemente de
conquistas para a cidadania.

Moacir Gadotti, já firmava que “não há educação e aprendizagem sem sujeito da


educação e da aprendizagem. a participação pertence à propria natureza do ato
pedagogico.”

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Em princípio, toda escola pode ser cidadã, no momento em que possua uma educação
orientada para a formação da cidadania ativa. A educação básica é o bem muito precioso
e de maior valor para o desenvolvimento da cidadania , porém é necessária que seja de
qualidade, para podermos superar o nosso appartheid social, preparando os nossos
jovens para o trabalho.

Neste sentido é importante afirmar, que a educação para a cidadania constitui dimensões
fundamentais para a efetivaçõ dos direitos , tanto na educação formal, quanto na informal.
Não se trata só de “aprender” um conteúdo, de estudar uma “disciplina”, mas de promover
uma formação ética-politica que requer metodologia própria.

O Estado assume um compromisso de ser promotor do conjunto dos direitos


fundamentais, não interferindo na esfera das liberdades individuais dos cidadãos, mas
também implementando políticas que garantam a efetiva realização desses direitos para
todos.Uma dessas politicas institucionais no que tange a educação, onde a escola
enquanto instituição deve promover condições mínimas de dignidade e respeito, que
atingem desde insumos como prédios, mobiliários, até a melhoria do rendimento escolar.

Devemos ressaltar que na década de 80 ao setores da sociedade civil organizada


conseguem força e pressão, através de críticas e denúncias anteriormante sobre o
aparato legal específico à maioridade que era considerado de caráter conservador e
antidemocratico. Houve avanços, rompe-se a divisão entre “menor” e criança, assim como
população infanto-juvenil deixa de ser apresentada como simples objeto de tutela para
tornar-se sujeitos cujos direitos devem ser garantidos.

Com a Constituição Nacional de 1988 fica incorporada os princípios básicos da


Convenção Internacional dos Direitos da Criança e posterirmente na década de 90 entra
em vigor o Estatuto da Criança e do adolescente, em substituição do segundo Código
Penal.

A visão de infância e adolescência que fundamenta o Estatuto, destinava-se exatamentea


reverter às idealizações historicamente utilizadas para segregar e reprimir. A população
infanto-juvenil é vista, em sua totalidade, como pessoas em condições peculiar de
desenvolvimento, cujos direitos devem ser garantidos.

Romper com o mito simplificador “menor” é retornar o eixo democrático, buscando uma
modificação na correlação de forças atual. Trocar o estereótipo negativo por uma visão
positiva desse meninos e meninas significa tirá-los do campo impessoal das páginas
policiais e trazê-los para o cerne da discussão política enquanto pessoas cujos os direitos
fundamentais de existência não estão sendo garantidos. Nestas condições, a escola
deverá ser um dos mecanismo provedores desta socialização tomando como ponto de
partida o Estatuto, icluindo nos princípios e finalidades educacionais.

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Defender a Escola Cidadã é dever da sociedade, e de todos envolvidos no contexto


escolar, pois ela surge do inconformismo de muitos educadores pelo deteriorização em
que atualmente vem sofrendo o ensino público e da ousadia em enfrentar o discurso e as
propostas hegemônicas neoliberais, confrontando-lhes uma alternativas, a partir de uma
concepção democratica da educação e com base em experiências concretas de
renovação do ensino.

A Escola Cidadã está enraizada no movimento da educação popular e comunitária que,


na década de 80, se traduziu pela expressão escola pública popular com uma concepção
e uma prática da educação realizada em diversas regiões do País.

Pode-se assinalar o que afirmava Illich(1976), que a escola deve ser reavaliada e medida
para que não se acabe, sua realidade e o seu papel na sociedade. A mudança da
realidade brasileira segundo ele, passa pela compreensão dessa realidade, em
detrimento da ignorância, pelo exercício da cidadania, em lugar da alienação, pelo
planejamento solidário em oposição ao solitário, passa necessariamente, pelo exercício
da democracia.

Pois a prática da democracia despertará em todos uma consciência politica e de classe


que dentro e fora da escola, terá oportunidadede levantar objetivos e lutar por eles e terá,
nas mãos, o seu futuro e poderá, aí então, valorizar a vida.

Diante disso Vizzoto (1987), diz que a escola deve ter um objetivo principal, advertir as
crianças e seus jovens quanto à dominação, a opressão e a violência, provar-lhes que
podem através de seu comportamento crítico , participativo e sabedor de seus deveres e
direitos mudar a sua realidade com consciência, podendo, portanto, reinvidicar a
assunção ao papel que é seu por direito , o de cidadão.

E com isso mudar a sua história, mudar a sua vida, mudar a educação, contudo é
necessário que haja um projeto pedagogico que realmente atenda ao aluno,valorizando e
dando importância à cultura da comunidade em que ele esteja inserido com participação
de todos, para que a escola cidadã realmente aconteça.

Para Feinet, aproximando as crianças dos conhecimento da comunidade elas podem


trasformá-los e, assim, modificar a sociedade em que vivem. Considerando ele, que esse
é um trabalho de cidadania e de democratização do ensino.

Pois o que vemos atualmente sâo escolas (particulares) com currículos e uma proposta
pedagogica que são bem aplicadas, portanto, sempre classificadas como excelentes
pelos números de alunos aprovados em vestibulares para as melhores faculdades,
enquanto as esolas (públicas em sua maioria) nem seguer alfabetiza a grande parte de
seus alunos, contribuindo, portanto, para o fracasso escolar e tirando-os a oportunidade
de exercer a sua cidadania com segurança em uma sociedade tão preconceituosa.

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Instituto Superior de Educação do Vale do Juruena
Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão, Supervisão e Orientação Escolar
Prof. LUCIANE MARA DA SILVA MENEGAZ

Diante disso, devemos defender uma escola que leve o aluno a participar da sua
cidadania, a partir de uma visão crítica e consciente de seu papel social dentro e fora
dela. Porém esta participação só se constrói através do conhecimento, acumulado
historicamente, determinados pelas relações sociais. Como Paulo Freire sempre
defendeu, que os alunos não deveriam ter uma “educação bancária”, enchendo-os de
conteúdos de forma mecânica e de reprodução e sim de uma educação pautada no
diálogo, de incentivo, na humanização abrindo caminho que busque a construção de uma
vida social mais digna livre e justa partindo da realidade do aluno, levando-o a
ação/reflexão/ação através de um trabalho de forma consciente e de uma postura
dialógica e dialética do professor, permitindo ao aluno, não apenas conhecer as letras,
palavras e frases sem sentidos que não os levem a reflexão e sim, um trabalho que
contribua para a transformação da sua realidade, portanto, uma didática onde a
participação do aluno seja eficaz para a construção do conhecimento rumo a cidadania.

Termino com uma citação do nosso grande mestre, Paulo Freire (1987): “ Ninguém
caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando, sem
aprender a refazer, a retocar o sonho, por causa do qual a gente se pôs a caminhar”.

________________________________________
¹Pedagoga, especialista em Psicopedagogia, Gestão Educacional e Gestão Prisional
(http://vlj.spaceblog.com.br/58106/UMA-ESCOLA-PARA-A-CIDADANIA/)

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