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PATRICIA GONÇALVES DE OLIVEIRA

HIPERTENSÃO ARTERIAL E PERCEPÇÃO


DO CONHECIMENTO ENTRE IDOSOS DO
MUNICÍPIO DE JABORANDI-SP, 2005

Araraquara
2005
PATRICIA GONÇALVES DE OLIVEIRA

HIPERTENSÃO ARTERIAL E PERCEPÇÃO DO


CONHECIMENTO ENTRE IDOSOS DO MUNICÍPIO DE
JABORANDI-SP, 2005

Monografia apresentada ao
Curso de Especialização em
Saúde Pública da Faculdade de
Ciências Farmacêuticas da
Universidade Estadual Paulista
“Julio de Mesquita Filho” -
Campus de Araraquara para
obtenção do título de
Especialista em Saúde Pública.

ORIENTADORA: PROF. DRA. MARIA JACIRA SILVA SIMÕES

Araraquara
2005

Aos que têm fé e esperança, tudo é possível.


DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Jairo e Ana Lídia, que me deram a vida e formaram meu
caráter e personalidade.

A Isabela, minha filha, uma das grandes razões do meu viver.

A Karine, minha irmã, que o destino nos fez irmãs e a confiança nos fez
amigas.

Ao Rodrigo, meu amor, pelo auxílio, dedicação e carinho com que me faz
feliz.

Aos idosos, motivo do meu trabalho, que muito me ensinam a respeito da


vida.
AGRADECIMENTO ESPECIAL

A professora Maria Jacira. Obrigada pela compreensão e pelo auxílio que deu
qualidade ao trabalho.

Ao professor Adalberto. Obrigada pela paciência, apoio e amizade.

A funcionária Joselma. Eternamente grata por ter sido uma mãe para mim.
AGRADECIMENTOS

A Deus, por me iluminar em todos os meus caminhos.

A minha querida família. Eterna gratidão pela paciência, carinho, suporte e


espera.

A Secretaria de Saúde e Prefeitura Municipal de Jaborandi. Obrigada pela


compreensão para que eu pudesse fazer este curso.

Aos professores. Muito obrigada pelo carinho e conhecimento que nos foi
destinado.

Aos colegas e amigos. Agradeço a Deus por tê-los conhecido.


SUMÁRIO

Página

Lista de Ilustrações------------------------------------------------------------------------08
Lista de Tabelas----------------------------------------------------------------------------09
Resumo--------------------------------------------------------------------------------------10
Abstract--------------------------------------------------------------------------------------11
Apresentação--------------------------------------------------------------------------------12
1.Introdução---------------------------------------------------------------------------------15
1.1. Fisiopatologia------------------------------------------------------------------------18
1.2. Classificação da Hipertensão Arterial---------------------------------------------20

1.3. Diagnóstico---------------------------------------------------------------------------22
1.4. Prognóstico---------------------------------------------------------------------------24
1.5. Terapêutica Anti-hipertensiva------------------------------------------------------24

2. Objetivos----------------------------------------------------------------------------------29
3. Metodologia------------------------------------------------------------------------------30
3.1. Local do Estudo---------------------------------------------------------------------30
3.2. População e Período do Estudo---------------------------------------------------30
3.3. Medidas de Pressão Arterial e Antropometria-----------------------------------30

3.4. Levantamento dos Dados----------------------------------------------------------31


4. Resultados e Discussão-----------------------------------------------------------------32
5. Conclusão---------------------------------------------------------------------------------41
6. Referências ------------------------------------------------------------------------------ 43
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Página

QUADRO 1-----------------------------------------------------------------------------20
GRÁFICO 1-----------------------------------------------------------------------------32
GRÁFICO 2-----------------------------------------------------------------------------33
GRÁFICO 3-----------------------------------------------------------------------------34
GRÁFICO 4-----------------------------------------------------------------------------35
GRÁFICO 5-----------------------------------------------------------------------------36
LISTA DE TABELAS

Página

TABELA 1------------------------------------------------------------------------------37
TABELA 2------------------------------------------------------------------------------38
TABELA 3------------------------------------------------------------------------------39
TABELA 4------------------------------------------------------------------------------40
RESUMO

A Hipertensão Arterial é uma doença de elevada prevalência em nosso país, atingindo cerca de
20% da população adulta jovem e 50% da população idosa. O objetivo deste estudo foi
determinar a prevalência da Hipertensão Arterial e a percepção do conhecimento da condição de
hipertenso entre os idosos que participam do Programa de saúde da família do município de
Jaborandi, S.P. Participaram do estudo 33 idosos (> 60 anos). Entre eles, 63,6% foram
classificados como hipertensos, sendo que destes, 72,2% sabiam ter hipertensão. Dos hipertensos,
66,7% não apresentaram controle eficaz dos níveis pressóricos e 38,1 % não estavam sendo
tratados. As variáveis que apresentaram associações positivas com o saber ter hipertensão foram:
gênero feminino (75%), percepção da saúde como ruim (93,7%), maior número de consultas
médicas (93,8%), medir a pressão arterial com mais frequencia (87,5%), não fumar (87,5), não
beber (75%), não ter deixado de realizar alguma atividade habitual por problemas de saúde
(75%), não ter diagnóstico médico anterior de Diabetes (87,5%) e de Angina e/ou Infarto
(81,3%)], história familiar de doenças cardiovasculares antes dos 50 anos de idade (56,2%),
menor número de internações hospitalares nos últimos 12 meses (75%). Encontrou-se associação
negativa entre o saber ter hipertensão com: maior faixa etária (7,3%), obesidade (18,8%), falta de
atividade física (25%), morar só (19,7%), maior número internações hospitalares nos últimos 12
meses (75%) e ter plano privado de saúde (81,3%). Concluiu-se que é importante o acesso dos
idosos aos serviços de saúde para que a sua condição de hipertenso possa ser diagnosticada e
tratada e tenha informação sobre a hipertensão, fazendo com o idoso possa aderir
satisfatoriamente ao tratamento.

Palavras chaves: Hipertensão Arterial; Idosos; Serviço de saúde.


ABSTRACT

The Arterial Hypertension is an illness of high prevalence in our country, reaching about 20% of
adult young population e 50% of the aged population. The objective of this study was to
determine the prevalence of the Arterial Hipertension and the perception of the awareness of
hypertension between aged residents in the community. They had participated of the study 33
aged (≥ 60 years) of the city of Jaborandi, São Paulo. Between them, 63.6% had been classified
as hypertensive, being that of these, 72.2% only knew to be hypertensive. Of the aged
hipertensive, 66.7% had not presented efficient control of the pressuric levels and 38.1 % was not
being treated. The following variables have presented positive associations with knowing to be
hypertensive: feminine sex (75%), perception of the health as bad (93,7%), number of medical
consultations (93,8%), minor time of the last measure of the arterial pressure (87,5%), not to
smoke (87,5), not to drink (75%), not to have left to carry through some habitual activity for
health problems (75%), not to have previous medical diagnosis of Diabetes (87,5%) and Angina
and/or Stroke (81,3%), familiar history of cardiovascular illnesses before the 50 years of age
(56,2%), minor number of hospital internments in last the 12 months (75%) Negative association
between knowing met to be hypertensive with: bigger age band (7,3%), obesity (18,8%), physical
activity (25%), to live alone (19,7%), greater number hospital internments in last the 12 months
(75%) and have private plan of health (81,3%). Was concluded that is very important the access
to health services by senior citizens, so that their hypertension is diagnosed and treated and
information provided by the health care service, so that individuals are aware of being
hypertensive and can receive satisfactory treatment.

Key words: Arterial hypertension; Elderly; Health service.


APRESENTAÇÃO

“É bom, quando se é jovem. Depois que fica velho, as doenças aparecem”


(J.S.S. - 87 anos; portadora de hipertensão arterial, diabetes mellitus e deficiência física;
parcialmente dependente; viúva; aposentada; mora sozinha)

“Nunca tive doença nenhuma. Depois de velho, a pressão começou a ficar alta”
(N.C. – 70 anos; portador de hipertensão arterial; totalmente independente; casado; aposentado)

“Às vezes sinto dor de cabeça e tontura. Tomo o remédio todos os dias. O que sinto medo
mesmo, é de ficar na cama e depender dos outros”
(A.C.L. - 72 anos; portadora de hipertensão arterial; totalmente independente; casada; dona-de-
casa)

“Eu só tomo o remédio, quando a pressão está alta. E me sinto bem melhor”
(A.F.L. - 76 anos; portador de hipertensão arterial e deficiência visual; independente; casado;
aposentado)

“Descobri por acaso quando fui ao médico. Ele falou, que minha pressão estava um pouco
alta, mas eu não sinto nada não”
(E.R.C. - 61 anos; portadora de hipertensão arterial; totalmente independente; casada; do lar.

“Eles falam que infarto e derrame, dá por causa de pressão alta”


(T.P.C. - 68 anos; portadora de hipertensão arterial; totalmente independente; viúva; aposentada;
mora com o filho)
“Com pressão alta não se brinca não. Vê quantas pessoas que a pressão sobe e elas morrem
de repente!”
(J.B.G. - 74 anos; portador de hipertensão arterial; totalmente dependente; casado; aposentado)
“A vida é boa, quando se tem saúde. Com a minha idade, tomo remédio pra pressão todo
dia”
(A.G. - 79 anos; portador de hipertensão arterial; totalmente independente; viúvo; aposentado;
mora com a filha)

Em nossa sociedade, os idosos, sendo considerados os indivíduos com idade igual ou


superior a 60 anos, têm possibilidades menores de vida digna, visto, não apenas, a imagem social
da velhice entre nós, vista como época de perdas, incapacidades, decrepitudes, mas pela situação
objetiva de aposentadoria insuficiente, oportunidades negadas, exclusão social, pelo menos, da
maior parte dessa população.

O envelhecimento é um fator de risco em várias doenças crônico-degenerativas, fazendo


da velhice uma época em que as doenças se apresentam de formas variáveis e com maior
intensidade.

As doenças do aparelho circulatório constituem a principal causa de morte entre os idosos,


correspondendo a cerca de 40% dos óbitos desta população. A Hipertensão Arterial Sistêmica
(HAS), sendo o mais comum e importante fator de risco para a doença cardiovascular tem, com
esta, uma relação contínua e progressiva. (FUCHS, 2004).

Trabalhando numa Unidade de Saúde da Família, durante uma campanha de


cadastramento de pessoas portadoras de hipertensão arterial, iniciada no ano de 2004, pude
perceber o elevado número de idosos que foram cadastrados. O que mais despertou minha
atenção, foi a constatação de que muitos deles não sabiam que seus níveis de pressão arterial
eram elevados, uns não apresentavam boa adesão ao tratamento e outros, tinham dificuldades, em
manter o controle adequado dos níveis de pressão arterial, mesmo seguindo a terapêutica
prescrita pelo médico.
Foi então, que em 2005, durante o Curso de Especialização em Saúde Pública, realizado
na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da UNESP, tive a oportunidade de investigar a
prevalência da hipertensão arterial e a percepção da morbidade entre os idosos usuários do
serviço de saúde, onde trabalho como enfermeira, no município de Jaborandi-SP.

Entender os motivos de sensações e posturas tão díspares, frente à morbidade é


fundamental, se o motivo for o de propor condutas e políticas que favoreçam terapêutica eficaz,
adesão ao tratamento, um caminho feliz para a velhice, para que seja uma etapa de vida repleta de
significado.
1. INTRODUÇÃO

Hipertensão Arterial é uma síndrome clínica, caracterizada pela elevação da pressão


arterial a níveis iguais ou superiores a 140 mmHg de pressão sistólica e/ ou 90 mmHg de
diastólica – em pelo menos duas aferições subseqüentes – obtidas em dias diferentes, ou em
condições de repouso e ambiente tranqüilo. Quase sempre, acompanham esses achados de forma
progressiva, lesões nos vasos sanguíneos com subseqüentes alterações de órgãos alvos como
cérebro, coração, rins e retina. Geralmente, é uma doença silenciosa: não dói, não provoca
sintomas, entretanto, pode matar. Quando ocorrem sintomas, já decorrem de complicações.
(SILVA; SOUZA, 2004).

A pressão ideal é aquela menor que 120 sistólica e 80 diastólica. O Ministério da Saúde
(MS), considera este valor ideal, porque há menos riscos para o aparelho cardiovascular. (SILVA;
SOUZA, 2004).

A Hipertensão Arterial é uma doença de alta prevalência em nosso país, atingindo cerca de
20% da população adulta jovem e 50% da população idosa. Dos casos de hipertensão,
aproximadamente, 90% são do tipo primário, cuja etiologia é desconhecida. Se não detectada
precocemente, poderá ocasionar uma série de distúrbios, levando a lesões de órgãos vitais como
coração, cérebro e rins. (OLIVEIRA; ARAÚJO; MELO et al., 2002).

A Hipertensão Arterial Sistêmica é o principal fator de risco para doenças decorrentes de


aterosclerose e trombose, que se exteriorizam, predominantemente, por acometimento isquêmico
cardíaco, cerebral, vascular periférico e renal, sendo a causa modificável mais importante para a
morbidade e a mortalidade cardiovascular. Permanece como um dos grandes desafios
contemporâneos e vem se transformando, progressivamente, num dos mais graves problemas de
saúde pública, atingindo em especial, os mais idosos. (FUCHS, 2004).
A Hipertensão Arterial é responsável por aproximadamente, 25% da etiologia multifatorial
da cardiopatia isquêmica e por 40% da etiologia dos acidentes vasculares cerebrais, sendo a causa
da cardiopatia hipertensiva. Como fator de risco para cardiopatia isquêmica e fator etiológico da
cardiopatia hipertensiva, a HAS está freqüentemente na linha causal de insuficiência cardíaca. De
forma similar, o acometimento isquêmico e as alterações glomerulares diretas tornam a
hipertensão arterial uma das mais freqüentes causas de insuficiência renal crônica. Essa
multiplicidade de conseqüências, coloca a hipertensão arterial na origem das doenças crônico-
degenerativas e, portanto, a caracteriza como uma das causas de maior redução da expectativa e
da qualidade de vida dos indivíduos. (FUCHS, 2004).

A prevalência da hipertensão aumenta com a idade e sua magnitude, depende dos


atributos biológicos/demográficos das populações, do estilo de vida predominante em cada uma
delas, do ambiente físico e psicossocial, das características da organização dos serviços e das
respectivas interações entre esses vários elementos. (BARRETO; CARMO, 1998).

A Hipertensão Arterial exige tratamento contínuo e controle durante toda a vida e a baixa
adesão ao seu tratamento, representa um importante problema de saúde pública. (KOHLMANN
JR; PLAVNIK, 2002).

O conhecimento sobre a doença e o tratamento é uma variável a ser considerada no


contexto da adesão ao tratamento. De um modo geral os hipertensos possuem a informação sobre
sua problemática de saúde, porém não estão devidamente controlados. A discrepância entre ter
informação a respeito da doença e o tratamento e conseguir controlar a pressão arterial, aponta
para a diferença essencial entre o conhecimento e a adesão. Enquanto o conhecimento é racional,
a adesão é um processo complexo, que envolve fatores emocionais e barreiras concretas, de
ordem prática e logística. (PIERIN; GUSMÃO; CARVALHO, 2003).

Diversas razões podem ser implicadas nas baixas taxas de controle da pressão arterial. A
primeira delas é o indivíduo desconhecer sua condição de hipertenso, o que certamente, retrata o
caráter assintomático da doença. A segunda, está relacionada ao paciente que não adere ao
tratamento: vários levantamentos têm mostrado que 25% a 50% dos pacientes hipertensos,
abandonam o tratamento, após um ano. A terceira, refere-se ao médico, que não prescreve
modificações no estilo de vida, doses adequadas ou combinadas apropriadas das medicações anti-
hipertensivas. Em diversos países, tais como Estados Unidos, França e Inglaterra, esta realidade
tem sido flagrada, especialmente, entre os médicos do atendimento primário de saúde. (POZZAN
et al., 2002).

A dificuldade, está em conscientizar o indivíduo de que o tratamento é para a vida inteira,


uma vez que, na maioria dos casos, a hipertensão arterial não tem cura. Às vezes o medicamento
pode apresentar algum efeito colateral, fazendo com que a pessoa abandone o tratamento. Outras
vezes, ela começa o tratamento e após certo tempo, acha que se curou e o abandona. Isso
acontece se o paciente não for orientado adequadamente. Então, a maior dificuldade é estimular
esse paciente, a aderir ao tratamento. Existem maneiras diferentes de se tratar o indivíduo
hipertenso, como uma grande quantidade de medicamentos e de medidas a serem feitas, mas é
preciso que ele seja orientado nesse sentido. (KOHLMANN JR, 2002).

Para haver adesão ao tratamento, o paciente deve conhecer a sua condição de saúde, a
importância do controle da pressão arterial, ter acesso aos serviços de saúde e esses serviços
devem ser capazes de manter o tratamento por toda a vida do paciente. Os idosos abandonam o
tratamento mais frequentemente e, entre as causas, o uso de um grande número de medicações
está relacionado à menor adesão ao tratamento (analgésicos, anti-anginosos, anti-hipertensivos
etc), além da dificuldade em conseguir os medicamentos e atender às consultas já agendadas.
(GIORGI, 2001).

Os fatores psicossociais, como percepção individual ou crenças, auto-eficácia,


automotivação, autoestima, sentimento de bem-estar, ansiedade e depressão, também interferem
no processo. Dentro do suporte social, a participação da família do idoso é altamente relevante na
aquisição de hábitos e mudanças no estilo de vida, bem como a ajuda, no seguimento da proposta
medicamentosa. (PIERIN; GUSMÃO; CARVALHO, 2003).

Sendo a Hipertensão Arterial a doença mais frequentemente observada entre os idosos e o


principal fator de risco para a morbidade e mortalidade cardiovascular, justifica-se a importância
deste estudo, que pretende identificar a percepção dos idosos sobre a morbidade e os fatores
associados ao seu tratamento.

1.1 FISIOPATOLOGIA

Alterações cardiovasculares

A sobrecarga do sistema cardiovascular causada pelo aumento da pressão arterial e pela


ativação de fatores de crescimento, leva a alterações estruturais de adaptação, com estreitamento
do lúmen arteriolar e aumento da relação entre a espessura da média e da parede arterial. Isso,
aumenta a resistência ao fluxo e a resposta aos estímulos vasoconstrictores. A adaptação vascular,
instala-se rapidamente. Adaptações estruturais cardíacas, consistem na hipertrofia da parede
ventricular esquerda, em resposta ao aumento na pós-carga (hipertrofia concêntrica), e no
aumento do diâmetro da cavidade ventricular com o aumento, correspondente na espessura da
parede ventricular (hipertrofia excêntrica), em resposta ao aumento da pré-carga. Tanto as
adaptações vasculares, quanto às cardíacas, atuam como amplificadores das alterações
hemodinâmicas da hipertensão e como início de várias das complicações dela decorrentes.
(BATLOUNI; FREITAS, 2002).

Na presença de hipertensão ou aterosclerose, a função endotelial está alterada e as


respostas pressóricas aos estímulos locais e endógenos, passam a se tornar dominantes. Ainda é
muito cedo para determinar se a hipertensão de uma forma geral, está associada à disfunção
endotelial. Também, ainda não está claro se a disfunção endotelial seria secundária à hipertensão
arterial ou se seria uma expressão primária de uma predisposição genética. Estudos recentes,
identificaram de forma mais clara, vários mecanismos fisiopatológicos envolvidos na hipertensão
arterial, no entanto, ainda não está claro quais os fatores são iniciadores da hipertensão e quais
são seus perpetuadores. (BATLOUNI; FREITAS, 2002).

Alterações renais e hidroeletrolíticas


Mecanismos renais estão envolvidos na patogênese da hipertensão, tanto através de uma
natriurese alterada, levando à retenção de sódio e água, quanto pela liberação alterada de fatores
que aumentam a pressão arterial como a renina ou de fatores depressores da pressão arterial como
prostaglandinas. O sistema renina-angiotensina está envolvido no controle fisiológico da pressão
arterial e no controle do sódio. Tem importantes implicações, no desenvolvimento da hipertensão
renal e deve estar envolvido, na patogênese da hipertensão arterial essencial. O papel do sistema
renina-angiotensina-aldosterona a nível cardíaco, vascular e renal é mediado pela produção ou
ativação de diversos fatores de crescimento e substâncias vaso-ativas, induzindo vasoconstricção
e hipertrofia celular. A lesão mais característica, é a endoteliose capilar glomerular, causando o
espessamento das membranas glomerulares, que reduz a taxa de filtração de líquido dos
glomérulos para os túbulos renais. Assim, o nível de pressão arterial para produzir uma formação
normal de urina apresenta-se elevado, e o nível de pressão arterial a longo prazo, torna-se
correspondentemente elevado. (GUYTON; HALL, 1997).

A função renal, em pacientes idosos, deve receber especial atenção, tendo-se em conta que
com a idade a taxa de filtração glomerular diminui, interferindo na eliminação de certos
fármacos. A redução da massa muscular corporal, em cerca de 30%, se reflete em uma menor
produção de creatinina sérica, que assim, não expressa a real filtração glomerular, determinando a
necessidade de ajuste na dose dos fármacos através do clearence creatinina (BRANDÃO et al.,
2002).

Alterações pulmonares

Frequentemente, a redução do compliance ventricular leva a sintoma de dispnéia, mesmo


aos pequenos e médios esforços. A alta incidência de processos infecciosos pulmonares em
idosos, principalmente em curso de doenças crônicas como a insuficiência cardíaca, indica a
vacinação contra o pneumococo e a antigripal, principalmente, nos locais de clima mais frio.
(BATLOUNI; FREITAS, 2002).
1.2. CLASSIFICAÇÃO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL

A classificação utilizada, mais recente, é preconizada pela Sociedade Brasileira de


Cardiologia, baseada em parâmetros norte-americanos. Houve uma simplificação das faixas
pressóricas e a categorização de uma situação dita “pré-hipertensão”, onde as modificações no
estilo de vida devem ser mais incentivadas, tendo em vista, a grande possibilidade de evolução
futura para o estado de hipertensão arterial com o avançar da idade. Nesta classificação atual, a
pressão ideal é aquela menor que 120 sistólica e 80 diastólica. (SILVA; SOUZA, 2004).

QUADRO 1: CLASSIFICAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL

Classificação PAS (mmHg) PAD (mmHg)


Ótima < 120 < 80
Normal < 130 < 85
Limítrofe 130-139 85-89

Hipertensão
Estágio I (leve) 140-159 90-99
Estágio II (moderado) 160-179 100-109
Estágio III (grave) > 180 > 110
Sistólica isolada > 140 > 90

O valor mais alto de sistólica ou diastólica estabelece o estágio do quadro hipertensivo.


Quando as pressões sistólica e diastólica, situam-se em categorias diferentes, a maior deve ser
utilizada para a classificação do estágio.

Fonte: www.sbh.org.br IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, 2002.

Com o envelhecimento, ocorre a perda da elasticidade nos grandes vasos com tendência
ao aumento da pressão arterial sistólica, propiciando maior prevalência de pressão arterial
sistólica entre os idosos, constituindo um fator preditivo positivo, para o desenvolvimento de
eventos cardiovasculares. Por outro lado, a pressão diastólica, configura-se como um preditor
negativo, enquanto a pressão de pulso, a diferença da leitura da pressão arterial sistólica e
diastólica, assume um grande papel. (BATLOUNI; FREITAS, 2002).

Blacher et al. mostraram, em recente estudo de metanálise, com cerca de 8000 pacientes,
que a pressão de pulso é o índice de risco cardiovascular mais importante entre os idosos. Neste
estudo, foi observado que, com 10 mmHg acima do valor normal da pressão de pulso, situado ao
redor de 40 mmHg, há um aumento de 13% para eventos cardiovasculares e de 20%, para a
mortalidade cardiovascular. (FREITAS, 2003).

Métodos não-invasivos, têm possibilitado avaliação mais precisa da pressão de pulso, do


contorno e da velocidade da onda de pulso, que permitem a determinação de vários índices de
rigidez arterial. Em recentes estudos, o aumento da velocidade da onda de pulso, tem sido
relacionado com o envelhecimento, hipertensão arterial e aterosclerose, além de ter se mostrado
um marcador de doenças cardiovasculares. (FREITAS, 2003).

A insuficiência cardíaca, pode ser causada por disfunção sistólica, diastólica, ou pela
associação de ambas. O diagnóstico diferencial entre essas entidades clínicas, com a
determinação do predomínio de uma sobre a outra, é indispensável para o sucesso terapêutico.
Em 50% dos pacientes idosos, principalmente naqueles com 70 anos ou mais, a insuficiência
cardíaca é causada por alteração na função diastólica. Quando a insuficiência cardíaca é causada
por disfunção diastólica isolada, os sintomas congestivos, resultam de hipertensão venosa
pulmonar, sendo a função sistólica normal e sem ocorrência de aumento da área cardíaca. A taxa
de mortalidade nesses casos é acompanhada à da insuficiência cardíaca sistólica, alcançando
cerca de 50%, em cinco anos. A hipertensão arterial sistólica, tem importante papel no
desenvolvimento da insuficiência cardíaca diastólica, nos idosos. (FREITAS, 2003).

1.3. DIAGNÓSTICO

A medida da pressão arterial é comprovadamente, o elemento chave para estabelecer o


diagnóstico da hipertensão arterial. Alguns estudos têm mostrado que na prática clínica, nem
sempre a medida da pressão arterial é realizada de forma adequada. Os erros, no entanto, podem
ser evitados com o preparo apropriado do paciente, uso de técnica padronizada de medida da
pressão arterial e equipamento calibrado. O método mais utilizado é o indireto, com técnica
auscultatória, com esfigmomanômetro aneróide ou de coluna de mercúrio e estetoscópio (IV
DIRETRIZES, 2002a).

Na primeira avaliação, as medições devem ser obtidas em ambos os membros superiores.


A posição recomendada para a medida da pressão arterial, é a sentada. Em caso de diferença,
utilizar sempre o braço de maior pressão. Entretanto, a medida na posição ortostática deve ser
feita pelo menos, na primeira avaliação, especialmente em idosos, diabéticos, pacientes com
disautonomias, alcoólicos e/ou em uso de medicação anti-hipertensiva (IV DIRETRIZES,
2002a).

A medida ambulatorial da pressão arterial, (MAPA) é um método automático de medida


indireta e intermitente, da pressão arterial, durante 24 horas, enquanto o paciente realiza suas
atividades rotineiras, inclusive durante o sono. Afasta-se, portanto, a possibilidade de influência
do observador e do ambiente de consultório, na medida da pressão arterial. Além disso, tem sido
demonstrado que esse método apresenta uma melhor correlação com o risco cardiovascular, do
que a medida da pressão arterial de consultório. As principais indicações para esse método são:
hipertensão de consultório ou do avental branco; avaliação da hipertensão arterial resistente;
hipertensão arterial episódica; suspeita de episódios de hipertensão arterial sintomática; e
avaliação da eficácia da terapêutica anti-hipertensiva (IV DIRETRIZES, 2002a).

Segundo, Sgambatti; Pierin e Mion JR (2000), no idoso, há dois aspectos importantes:

• maior freqüência de hiato auscultatório, que consiste no desaparecimento dos sons, na


ausculta durante a deflação do manguito, geralmente entre o final da fase I e o início da fase II
dos sons de Korotkoff. Tal achado, pode subestimar a verdadeira pressão sistólica ou
superestimar, a pressão diastólica;
• pseudo-hipertensão, caracterizada por nível de pressão arterial falsamente elevado, em
decorrência do enrijecimento da parede da artéria. Pode ser detectada por meio da manobra de
Osler, que consiste na inflação do manguito no braço até o desaparecimento do pulso radial. Se a
artéria for palpável após esse procedimento, sugerindo enrijecimento, o paciente é considerado
Oster-positivo.

A avaliação complementar mínima, de um paciente hipertenso, inclui a glicemia, o


colesterol total, uréia, creatinina, potássio e eletrocardiograma. O objetivo dessa investigação, é
basicamente, a detecção de co-morbidades como: diabetes, alteração da função renal,
dislipidemia, hipertensão ventricular esquerda e doença coronariana associada. É importante ter
em mente, que o objetivo do seguimento do paciente hipertenso é impedir um aumento do risco
de redução da expectativa de vida ou de doenças de potencial mórbido elevado. Como existe uma
população hipertensa muito grande é inviável estudá-la na sua totalidade, sem uma elevação
muito grande do custo do tratamento. A população portadora de hipertensão sem outros fatores de
risco possui um risco muito menor de eventos, do que os portadores de outros fatores de risco.
(MION JR; PIERIN; NOBRE, 1998).

O uso rotineiro da ecocardiografia é extremamente discutível, tendo em vista, a limitação


técnica em relação à reprodutibilidade dos resultados, quanto à avaliação da massa ventricular e
hipertensão ventricular esquerda, em um mesmo paciente. Apesar de não ser um exame caro, a
relação custo benefício desse estudo, de forma rotineira, não tem base, no hipertenso não
complicado. Exames mais sofisticados, como para pesquisa de hipertensão secundária devem ser
reservados para pacientes com um potencial mórbido mais elevado e com indicação precisa,
através de sinais clínicos sugestivos (MION JR; PIERIN; NOBRE, 1998).

1.4. PROGNÓSTICO

A Hipertensão Arterial Sistêmica representa a doença tratável mais comum entre os


idosos, com expressivo aumento, após os 70 anos, atingindo mais de 50% desses indivíduos, em
ambos os sexos, com maior prevalência, no sexo feminino, após os 60 anos. Representa não
apenas, uma enfermidade por si só, mas um importante fator de risco para o aparecimento de
outras, como a doença arterial periférica, o acidente vascular cerebral, constituindo também,
importante causa de insuficiência cardíaca entre os idosos. (BRANDÃO et al., 2002).
O papel da Hipertensão Arterial, no desenvolvimento da insuficiência cardíaca encontra-
se bem estabelecido. Atualmente, há inúmeros dados disponíveis mostrando que a mortalidade
total por doenças cardiovasculares é bem maior entre os idosos hipertensos do que entre os
normotensos. A presença de hipertensão arterial, de acordo com os estudos de Framingham,
aumenta de duas a três vezes, o risco do desenvolvimento de insuficiência cardíaca. (FREITAS,
2003).

1.4. TERAPÊUTICA ANTI-HIPERTENSIVA

De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 1998 houve 1.500.000 internações por
doenças cardiovasculares, com custo de 475 milhões de reais, que na época equivalia a cerca de
400 milhões de dólares. (PIERIN; GUSMÃO; CARVALHO, 2004).

O principal objetivo do tratamento anti-hipertensivo é a redução dos níveis pressóricos


para valores inferiores a pelo menos, 140 mmHg de pressão sistólica e a 90 mmHg de pressão
diastólica, para diminuir a morbidade e mortalidade das doenças cardiovasculares, associadas ao
valores elevados de hipertensão arterial, respeitando-se as características individuais, a presença
de comorbidade e a qualidade de vida dos pacientes. (IV DIRETRIZES, 2002b).

No paciente idoso deve-se sempre usar doses menores das medicações, que na população,
não idosa. As reduções da pressão arterial devem ser leves e progressivas, com ajustes de doses
menores e mais graduais. (IV DIRETRIZES, 2002b).

As medicações preferenciais indicadas à terapia anti-hipertensiva, em pacientes idosos são


os antagonistas dos canais de cálcio, os diuréticos, em doses baixas (12,5mg de hidroclorotiazida
ou clortalidona) e os inibidores da enzima conversora de angiotensina. Os beta-bloqueadores e
simpatolíticos de ação central podem ser usados, conforme o caso e as co-morbidades associadas.
Deve ser evitado o uso de inibidores adrenérgicos centrais, alfa-bloqueadores e diuréticos em
altas doses. O tratamento deve ser iniciado com a metade da dose recomendada e aumentado
lentamente, até a dose terapêutica. (BRANDÃO et al. 2002).
A maioria dos estudos clínicos controlados com idosos, tem mostrado que a redução da
pressão arterial com diuréticos e betabloqueadores, diminui a incidência de eventos
cardiovasculares (acidente vascular encefálico e insuficiência cardíaca em particular) e a
mortalidade geral, mesmo em casos de hipertensão sistólica isolada e de pacientes com mais de
80 anos, portadores de cardiopatia. Estudo recente, utilizando o antagonista dos canais de cálcio -
nitrendipina e o inibidor da enzima conversora da angiotensina - enalapril para o tratamento da
hipertensão arterial sistólica isolada do idoso, também demonstrou uma diminuição da morbidade
e da mortalidade cardiovasculares. (IV DIRETRIZES, 2002b).

Drogas que exacerbam alterações posturais da pressão arterial (como bloqueadores


adrenérgicos periféricos, alfabloqueadores e diuréticos, em altas doses), ou que possam causar
alterações cognitivas (alfametildopa), devem ser utilizadas com cautela, no idoso. O risco de
interações medicamentosas deve ser sempre lembrado, devido à alta prevalência de co-morbidade
no idoso. (BRANDÃO et al. 2002).

Antagonistas dos canais de cálcio

A ação anti-hipertensiva desses fármacos decorre da redução da resistência vascular


periférica por diminuição da concentração de cálcio, nas células musculares lisas vasculares.
Apesar do mecanismo final comum, esse subgrupo é dividido em três subgrupos, com
características químicas e farmacológicas diferentes: fenilalquilaminas, benzotiazepinas e
diidropiridinas. São anti-hipertensivos eficazes e reduzem a morbidade e mortalidade
cardiovasculares, em idosos. Em comparação com outros antihipertensivos, levam a menor
redução nas taxas de hospitalização por insuficiência cardíaca e infarto do miocárdio (IV
DIRETRIZES, 2002b).

Os eventos adversos mais comuns são: cefaléia, rubor facial mais freqüentes, com
diidropiridínicos de ação de curta duração, e edema periférico. Os diidropiridínicos de ação de
curta duração, provocam importante estimulação simpática reflexa, sabidamente deletéria para o
sistema cardiovascular. Verapamil e diltiazem podem provocar depressão miocárdica e bloqueio
atrioventricular. Obstipação intestinal é observada, sobretudo, com o verapamil. (IV
DIRETRIZES, 2002b).

Diuréticos

O mecanismo anti-hipertensivo dos diuréticos está relacionado, numa primeira fase, à


depleção de volume e, a seguir, à redução da resistência vascular periférica decorrente de
mecanismos diversos. São eficazes na hipertensão arterial, tendo sido comprovada sua eficácia,
na redução da morbidade e da mortalidade cardiovasculares. (IV DIRETRIZES, 2002b).

Como anti-hipertensivos, são preferidos os diuréticos tiazídicos e similares, em baixas


doses. Os diuréticos de alça, são reservados para as situações de hipertensão associada a
insuficiências renal e cardíaca. Os diuréticos poupadores de potássio, apresentam pequena
potência diurética, mas quando associados a tiazídicos e a diuréticos de alça, são úteis na
prevenção e no tratamento de hipopotassemia. Seu uso em pacientes com redução da função
renal, pode acarretar hiperpotassemia. (IV DIRETRIZES, 2002b).

Entre os efeitos adversos dos diuréticos, destaca-se a hipopotassemia, por vezes


acompanhada de hipomagnesemia, que pode induzir arrítmias ventriculares, e a hiperuricemia. O
emprego de baixas doses, diminui o risco de efeitos adversos, sem prejuízo da eficácia
antihipertensiva. Os diuréticos também podem provocar intolerância à glicose, além de promover
aumento da trigliceridemia, em geral dependente da dose. Trata-se de um evento transitório e de
importância clínica ainda não comprovada. (IV DIRETRIZES, 2002b).

Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (ECA)

Agem fundalmentalmente, pela inibição da enzima conversora, bloqueando a


transformação da angiotensina I em II, no sangue e nos tecidos. Existem, no entanto, evidências
de que outros fatores podem estar envolvidos no mecanismo de ação dessas substâncias. (IV
DIRETRIZES, 2002b).
São eficazes no tratamento da hipertensão arterial e também reduzem a morbidade e a
mortalidade das doenças cardiovasculares entre os hipertensos, pacientes com insuficiência
cardíaca, com infarto agudo do miocárdio, em especial quando apresentam baixa fração de
ejeção, pacientes de alto risco para doença aterosclerótica e são úteis na prevenção secundária, do
acidente vascular cerebral. Quando administrados a longo prazo, os inibidores da enzima
conversora de angiotensina, retardam o declínio da função renal, em pacientes com nefropatia
diabética ou de outras etiologias (IV DIRETRIZES, 2002b).

Em indivíduos com insuficiência renal crônica, podem induzir hiperpotassemia. Em


pacientes com hipertensão renovascular bilateral ou com um rim único, podem promover redução
da filtração glomerular com aumento dos níveis séricos de uréia e creatinina. Em associação com
diurético, a ação anti-hipertensiva dos inibidores da enzima conversora de angiotensina é
magnificada, podendo ocorrer hipotensão postural. Entre as reações adversas, destacam-se: tosse
seca, alteração do paladar, e mais ramamente, reações de hipersensibilidade com erupção cutânea
e edema angioneurótico. (IV DIRETRIZES, 2002b).

Betabloqueadores

Seu mecanismo anti-hipertensivo, envolve diminuição inicial do débito cardíaco, redução


da secreção de renina, readaptação dos barorreceptores e diminuição das catecolaminas, nas
sinapses nervosas. São eficazes no tratamento da hipertensão arterial e têm eficácia também, na
redução da morbimortalidade cardiovascular. Constituem a primeira opção, na hipertensão
arterial associada à doença arterial coronária ou à arritmias cardíacas, mostrando-se igualmente
úteis, em pacientes com cefaléia de origem vascular. (IV DIRETRIZES, 2002b).

As principais reações adversas são: broncoespasmo, bradicardia excessiva (inferior a 50


bat/min), distúrbios da condução atrioventricular, vasoconstrição periférica, insônia, pesadelos,
depressão psíquica, astenia e disfunção sexual. A suspensão brusca de betabloqueadores pode
provocar hiperatividade simpática, com hipertensão rebote e/ou manifestações de isquemia
miocárdica, sobretudo em hipertensos com cifras pressóricas prévias muito elevadas (IV
DIRETRIZES, 2002b).
Os betabloqueadores são formalmente, contra-indicados para pacientes com asma, doença
pulmonar obstrutiva crônica e bloqueio atrioventricular de segundo e terceiro graus. Devem ser
utilizados com cautela em pacientes com doença vascular de extremidades (IV DIRETRIZES,
2002b).

Antagonistas do Receptor AT da Angiotensina II

Antagonizam a ação da angiotensina II, por meio do bloqueio específico de seus


receptores AT. São eficazes no tratamento da hipertensão. Estudos recentes, comprovam seu
efeito benéfico em insuficiência cardíaca congestiva. (IV DIRETRIZES, 2002b).

Em hipertensos com hipertrofia ventricular esquerda, tanto de baixo (sem lesão vascular)
como de alto risco (diabete/lesão vascular), estudo recente demonstrou que o losartan
proporciona redução da morbimortalidade cardiovascular, superior à observada com o
betabloqueador atenolol, com eficácia especialmente maior, na incidência de redução de acidente
vascular cerebral. (IV DIRETRIZES, 2002b).

Os antagonistas do receptor AT da angiotensina II, apresentam bom perfil de


tolerabilidade. Seus efeitos adversos são representados por tontura e, raramente, por reação de
hipersensibilidade cutânea (“rash”). (IV DIRETRIZES, 2002b).
2 OBJETIVOS

- Determinar a prevalência da Hipertensão Arterial e a percepção do conhecimento da condição


de ser hipertenso, entre os idosos atendidos pela equipe 2 do Programa de Saúde da Família, do
município de Jaborandi – SP, no período de julho a dezembro de 2005.

- Verificar a associação da Hipertensão Arterial nos idosos, segundo as seguintes variáveis:

- Conhecimento da condição de ser hipertenso (Irá se considerar que sabe ser hipertenso,
aquele que responder afirmativamente à pergunta: "algum médico ou profissional de saúde, já
disse que o(a) senhor(a) tem pressão alta ou hipertensão?");

- Características sócio-demográficas (idade, sexo e viver só);

- Hábitos de vida (consumo atual de cigarros, freqüência de consumo atual de bebidas


alcoólicas e prática de atividades físicas frequentes);

- Indicadores da condição de saúde (relato de diagnóstico médico de diabetes, de infarto


do miocárdio, história familiar de doenças cardiovasculares, antes dos cinqüenta anos de idade,
ter deixado de realizar atividade habitual por problemas de saúde, nas últimas duas semanas e
percepção da própria saúde, nos últimos seis meses);

- Uso de medicamentos (número de medicamentos, prescritos e não prescritos utilizados


nos últimos 15 dias, excluindo-se os medicamentos para hipertensão);

- Uso dos serviços de saúde (tempo decorrido após a última medida de pressão arterial,
número de consultas médicas nos últimos 12 meses, número de internações hospitalares nos
últimos 12 meses);

- Outros (filiação a plano privado de saúde).


3. METODOLOGIA

3.1. Local do Estudo

A cidade de Jaborandi está localizada ao norte do Estado de São Paulo. O nome Jaborandi
se deve a enorme quantidade da planta Pilocarpus Jaborandi Holmes, popularmente conhecida
como jaborandi que existiam as margens do córrego, onde o minicípio teve origem. Em 26 de
dezembro de 1924, foi criado o Distrito de Paz de Jaborandi. Mais tarde, em 14 de dezembro de
1925, foi incorporado ao município de Colina e em 24 de dezembro de 1948, teve a sua
emancipação política e administrativa.
O município de Jaborandi possui duas Unidades Básicas de Saúde, sendo um Centro
Municipal de Saúde e outro composto por duas equipes de Programa de Saúde da Família.
No Programa de Saúde da Família, foi cadastrada toda a população do município (6243
pessoas), tanto a residente na zona urbana, quanto a da zona rural, totalizando 1837 famílias
atendidas, segundo dados obtidos do SIAB (Sistema de Informação da Atenção Básica).
O estudo foi realizado junto a equipe 2 do Programa de Saúde da Família, que abrange
apenas, a zona urbana e atende, 946 famílias.

3.2. População e Período do Estudo

O estudo foi realizado com 33 idosos, moradores na área de abrangência da equipe 2 do


Programa de Saúde da Família, no período de agosto a dezembro de 2005.

3.3. Medidas de Pressão Arterial e Antropometria

As medidas de pressão arterial foram realizadas com cada participante do estudo, durante
as visitas domiciliares, após cinco minutos de descanso, a intervalos de dois minutos, com o
indivíduo sentado e com o braço em repouso, na altura do coração. Estas medidas foram obtidas
em recinto isolado, silencioso e em ambiente arejado. A primeira medida, foi realizada após pelo
menos, trinta minutos sem ingestão de café e/ou uso de cigarro. A pressão arterial considerada foi
a média da primeira e segunda medidas. O método utilizado foi o indireto, com técnica
auscultatória, estetoscópio e esfigmomanômetro aneróide, periodicamente testado e devidamente
calibrado, a cada seis meses, seguindo as normas de aferição da pressão arterial segundo o III
Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial (BRASIL, 2001).

Foram considerados hipertensos, aqueles que: apresentaram pressão sistólica > 140
mmHg e/ou pressão diastólica > 90mmHg e/ou relataram o uso de medicamentos para
hipertensão, nos últimos noventa dias.

As medidas antropométricas foram realizadas na unidade de saúde da família pela


enfermeira, com os indivíduos usando roupas leves, utilizando-se balança e antropômetro
padronizados. Foram considerados o peso e a altura para a determinação do índice de massa
corporal (peso/altura2).

3.4 Levantamento dos Dados

Foi feito o levantamento dos dados através de entrevistas realizadas nos domicílios dos
idosos, fazendo-se perguntas estruturadas e pré-codificadas, baseadas nas variáveis citadas.
Quando o entrevistado estava impossibilitado de responder à entrevista, devido a déficit cognitivo
ou a algum problema de saúde, um respondente próximo adequado respondia por ele.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Temos a seguir, os dados apresentados sob forma de Gráficos e Tabelas de acordo com as
variáveis estudadas.

Podemos observar no Gráfico 1, que a ocorrência da Hipertensão Arterial entre os 33


idosos que participaram deste estudo foi de 63,6%.

Segundo a IV DIRETRIZES (2002a), pelo menos, 65% dos idosos brasileiros eramo
hipertensos, mostrando assim que os resultados estão de acordo com a literatura.

Estudos populacionais brasileiros, mostram uma prevalência de 11% de Hipertensão


Arterial Sistêmica, entre os adultos de Porto Alegre, RS e Volta Redonda, RJ e de 25%, nos de
Araraquara, SP. (SOUZA et al., 2005)

100%

80%
63, 6%
60%
36, 4%
40%

20%

0%
com H.A. sem H.A.

GRÁFICO 1: Distribuição dos idosos, segundo a prevalência da Hipertensão Arterial, PSF


II, Jaborandi, SP. 2005
A proporção dos idosos classificados como hipertensos, que desconheciam ter a doença
foi de 23,8%. (Gráfico 2)

Segundo os autores, FUCHS; CASTRO e FUCHS (2004), apesar dos esforços para
diagnosticar e tratar a doença, cerca de 35% a 83% dos portadores de hipertensão, desconheciam
sua condição.

100%

80% 76, 2%

60%

40%
23, 8%
20%

0%
Sabia ter hipertensão Não sabia ter hipertensão

GRÁFICO 2: Proporção dos idosos hipertensos, em relação ao conhecimento de sua doença,


PSF II, Jaborandi, SP. 2005
No Gráfico 3, pode-se observar que, 66,7% dos idosos com Hipertensão Arterial
apresentaram pressão sistólica >140mmHg e pressão diastólica > 90mmHg.

O percentual de pacientes hipertensos que sabe da sua condição, que estão tratados e que
estão com os níveis de pressão arterial controlados ainda é muito baixo, mesmo nos países
desenvolvidos (POZZAN et al., 2003).

100%

80%
66, 7%
60%

40% 33, 3%

20%

0%
PA ≥140/90 mmHg PA ≤140/90 mmHg

GRÁFICO 3: Prevalência dos idosos (hipertensos) com pressão arterial ≥ 140/90 mmHg,
PSF II, Jaborandi, SP. 2005
No Gráfico 4, têm-se a distribuição dos idosos hipertensos, segundo o tratamento da
Hipertensão Arterial. Observa-se que, 38,1% não estavam sendo tratados para Hipertensão
Arterial, ou seja, cerca de, aproximadamente, 1/3 deles.

A falta de adesão ao tratamento, constitui-se em um dos maiores problemas no controle da


hipertensão arterial, ocorrendo em até, 40% dos pacientes, por diversos motivos, entre eles temos:
característica assintomática da doença, tratamento prolongado, custo alto dos medicamentos e
seus efeitos colaterais, relação médico-paciente insatisfatória. (SIMONETTI; BATISTA;
CARVALHO, 2002; FUCHS; CASTRO; FUCHS, 2004).

Diminuir essa proporção, constitui-se em um dos maiores desafios, no tratamento do


hipertenso. (SIMONETTI; BATISTA; CARVALHO, 2002).

A ausência de sintomas e o fato da hipertensão ser uma doença crônica são dois aspectos
que contribuem fortemente, para a baixa adesão ao tratamento (FUCHS; CASTRO; FUCHS,
2004).

100%

80%
61, 9%
60%
38, 1%
40%

20%

0%

sem tratamento com tratamento

GRÁFICO 4: Distribuição dos idosos hipertensos, segundo o tratamento da Hipertensão


Arterial, PSF II, Jaborandi, SP. 2005
Dos idosos hipertensos que não estavam em tratamento para a doença, 41,7% sabiam ter
hipertensão e 58,3%, não sabiam ser esta a sua condição. (Gráfico, 5)

Segundo Simonetti; Batista; Carvalho, 2002 mesmo se evidenciando que a hipertensão


arterial constitui um dos principais problemas de saúde, o número de hipertensos tratados é
pequeno. Cerca de 50%, desconheciam sua condição. Dos que sabiam ter hipertensão, 50% não
se tratavam, e destes, 50% não tinham sua pressão sob controle. Portanto, apenas, 10% dos
hipertensos eram tratados, efetivamente.

100%
80%
58, 3%
60% 41, 7%
40%
20%
0%

Não sabia ter hipertensãp Sabia ter hipertensão

GRÁGICO 5: Distribuição dos idosos hipertensos, sem tratamento da Hipertensão Arterial,


segundo o conhecimento da doença, PSF II, Jaborandi, SP. 2005
A distribuição do conhecimento da condição de ter hipertensão entre os idosos, de acordo
com as características sócio-demográficas está apresentada na Tabela 1. Gênero feminino, menor
faixa etária e morar só apresentaram associações positivas com saber ter hipertensão.

TABELA 1 – Distribuição percentual do conhecimento da condição de ter hipertensão,


entre os idosos, segundo as características sócio-demográficas selecionadas, Jaborandi, PSF
II, SP. 2005

Variáveis Sabia ter hipertensão (%)


Sim (16) Não (05)

Gênero
Masculino 25,0 40,0
Feminino 75,0 60,0

Faixa etária (em anos)


60-69 50,0 40,0
70-79 43,7 40,0
≥ 80 07,3 20,0

Morar só
Não 81,3 20,0
Sim 18,7 80,0

Em relação a variável gênero, as mulheres, em comparação aos homens, apresentaram


maior probabilidade de estar em tratamento e de ter a sua pressão arterial melhor controlada, pois
75% dos idosos que sabiam ter hipertensão, eram do gênero feminino.

A hipertensão arterial, ocorreu com maior freqüência no gênero masculino, porém, devido
às mudanças de hábitos das mulheres, essa freqüência tem diminuído. As mulheres que fumam e
fazem uso de anticoncepcional, com mais de 30 anos, são as mais atingidas. No homem, aparece
depois dos 30 anos e na mulher, após a menopausa. Em ambos os gêneros, a freqüência da
hipertensão, cresce com o aumento da idade, sendo que, os homens jovens, têm pressão arterial
mais elevada que as mulheres, porém após a meia idade, este quadro se reverte. (PESSUTO;
CARVALHO, 1996)
Tratando-se da variável idade, vários trabalhos a consideram como um fator de risco
importante que contribui para o aparecimento da hipertensão arterial, devido a alterações na
musculatura lisa e no tecido conjuntivo dos vasos, como conseqüência do processo de
envelhecimento (PESSUTO; CARVALHO, 1996)

Duas hipóteses poderiam ser levantadas para explicar a menor freqüência (7,3%) de
conhecimento da condição de hipertenso entre idosos mais velhos: menor uso de serviços de
saúde e imprecisão da informação, principalmente os que necessitam de respondente próximo.
Geralmente, as consultas médicas diminuem com a idade, devido à diminuição da mobilidade
física e capacidade de locomoção entre os idosos.

A presença da família ou de um cuidador informal junto ao idoso, apresentou associação


positiva com o saber ter hipertensão, ou seja, 81,3% entre os idosos que não moravam sozinhos.
A rede de apoio familiar e social, além de auxiliar no cuidado à saúde do idoso, propicia uma
maior probabilidade de adesão ao tratamento e controle dos níveis pressóricos.
Com relação aos hábitos de vida, o saber ter hipertensão, teve relação positiva e elevada
com o hábito de fumar e com a freqüência de consumo de bebida alcoólica. (Tabela 2).

TABELA 2: Distribuição do conhecimento da condição de ter hipertensão, entre os idosos,


segundo os hábitos de vida selecionados, PSF II, Jaborandi, SP. 2005

Variáveis Sabia ter hipertensão (%)


Sim (16) Não (05)

Fuma atualmente
Não 87,5 80,0
Sim 12,5 20,0

Consumo ≥ 5 doses diárias de bebida alcoólica


nos últimos 12 meses
Não bebeu nos últimos 12 meses 75,0 40,0
< 1 vez/semestre - < 1 vez/mês 12,5 20,0
3 vezes/mês - 2 vezes/semana 6,25 20,0
≥ 3 vezes/semana 6,25 20,0

Prática de atividades físicas


Não 75,0 80,0
Sim 25,0 20,0

A nicotina é prejudicial ao organismo, pois promove a liberação de catecolaminas, que


aumentam a freqüência cardíaca, a pressão arterial e a resistência periférica. Aumenta também, a
capacidade orgânica em formar coágulos e diminui sua função de destruí-los. Há redução de
oxigênio nos glóbulos vermelhos, em cerca de 15 a 20%, pois o monóxido de carbono que resulta
da queima do fumo e do papel, se liga à hemoglobina. Este último, também lesa a parede interna
dos vasos, propiciando a deposição de gorduras. (PESSUTO; CARVALHO, 1996).

Entre os idosos hipertensos, não fumantes, o conhecimento da condição de hipertenso foi


de 87,5%.
O álcool é outro fator de risco, comentado na literatura, que contribui para o agravamento
da patologia. O aumento das taxas de álcool no sangue, eleva a pressão arterial lenta e
progressivamente, na proporção de 2 mmHg para cada 30 ml de álcool etílico ingeridos
diariamente, sendo que quando suspenso, as cifras revertem. (PESSUTO; CARVALHO, 1996).

O conhecimento da condição de ser um hipertenso entre os idosos que não consumiram


bebida alcoólica nos últimos 6 meses, foi de 75%.

Um dado interessante é que quando há redução no consumo de álcool, ocorre também


redução no abandono do tratamento farmacológico. (PESSUTO; CARVALHO, 1996).

A prática do exercício físico, contribui na redução da obesidade e para a prevenção de


doenças coronárias. Também, auxilia na preservação da independência de pessoas idosas,
melhorando o funcionamento do organismo, reforçando o coração, músculos, pulmões, ossos e
articulação. A atividade física, realizada regularmente, melhora a condição física e a saúde do
coração, devendo o exercício ser realizado, no mínimo, três vezes por semana, com duração de
pelo menos vinte minutos, ser uma atividade regular, pois quando a mesma é interrompida a
condição física deteriora-se, rapidamente (PESSUTO; CARVALHO, 1996).

Neste estudo, foi constatado que, em relação aos hábitos de vida, apenas os idosos
hipertensos que não praticam atividade física tinham um conhecimento positivo da sua condição
de hipertenso (75%), pois a probabilidade deste conhecimento foi mais elevada entre os que
cuidavam de sua saúde.

A associação entre a distribuição do conhecimento da condição de hipertenso e alguns


indicadores da condição de saúde, pode ser observada na Tabela 3.

Todos os indicadores da condição de saúde apresentaram elevada associação com o saber


se tinha hipertensão.
TABELA 3: Distribuição do conhecimento da condição de hipertensos entre os
idosos, segundo alguns indicadores de condição de saúde, PSF II, Jaborandi, SP. 2005

Variáveis Sabia ter hipertensão (%)


Sim (16) Não (05)

Percepção da própria saúde


Muito boa/ boa 25,0 25,0
Razoável 31,3 50,0
Ruim/ muito ruim 43,7 25,0

Ter deixado de realizar alguma atividade habitual


por problemas de saúde nas 2 últimas semanas
Não 75,0 60,0
Sim 25,0 40,0

Diagnóstico médico anterior de Diabetes


Não 87,5 80,0
Sim 12,5 20,0

Diagnóstico médico anterior de Angina e/ou Infarto


Não 81,3 80,0
Sim 18,7 20,0

História familiar de doenças cardiovasculares antes


dos 50 anos de idade
Não 43,8 60,0
Sim 56,2 40,0

Índice de massa corporal (Kg/m²)


≤ 24 31,2 40,0
25-29 50,0 40,0
≥ 30 18,8 20,0

Os idosos hipertensos, que apresentaram a percepção da sua própria saúde como ruim
eram os que mais sabiam da sua condição (43,7%), pois são eles os clientes mais presentes nos
serviços de saúde, tendo maiores chances de terem sua pressão arterial aferida e diagnosticada.
Os idosos que apresentavam melhores condições de saúde (não ter deixado de realizar
alguma atividade habitual por problemas de saúde nas duas últimas semanas, não ter diagnóstico
médico anterior de Diabetes e não ter diagnóstico médico anterior de Angina e/ou Infarto) foram
os que tiveram maior conhecimento da hipertensão arterial, sendo, respectivamente, na proporção
de 75%, 87,5% e 81,3%.

O caráter hereditário da doença também pode ser constatado com a maior probabilidade
do conhecimento da condição de hipertenso entre os idosos que apresentaram história familiar
positiva de doenças cardiovasculares antes dos 50 anos de idade (56,2%).

A associação negativa encontrada no presente trabalho entre a obesidade e o


conhecimento da condição de hipertenso (18,8%) pode estar refletindo a adesão a métodos
complementares de tratamento da hipertensão, como dieta e prática de exercícios físicos.

A Tabela 4, apresenta a distribuição do conhecimento da condição de hipertenso entre os


idosos, segundo o uso de serviços de saúde, de medicamentos e filiação a plano privado de saúde.
O número de consultas médicas, nos últimos 12 meses, o número de medicamentos (exceto anti-
hipertensivos) usados nos últimos 15 dias, o tempo decorrido após a última medida de pressão
arterial e a filiação a plano privado de saúde, apresentaram associações positivas com o saber ser
um hipertenso.
TABELA 4: Distribuição do conhecimento da condição de hipertenso entre os idosos,
segundo o uso dos serviços de saúde, uso de medicamentos e uso de plano privado se saúde,
PSF II, Jaborandi, SP. 2005

Variáveis Sabia ser hipertenso (%)


Sim (16) Não (05)

Número de consultas médicas nos últimos 12 meses


nenhuma 06,2 60,0
1-3 56,3 20,0
≥4 37,5 20,0

Número de internações hospitalares nos últimos 12 meses


nenhuma 75,0 60,0
1 18,8 20,0
≥2 14,2 20,0

Número de medicamentos usados nos últimos 3 meses,


prescritos e não-prescritos (exceto anti-hipertensivos)
nenhum 18,8 40,0
1-2 37,5 20,0
3-4 31,3 20,0
≥5 12,4 20,0

Tempo decorrido após a última medida


de pressão arterial (em anos)
≥1 12,5 40,0
<1 87,5 60,0

Filiação a plano privado de saúde


Não 81,3 80,0
Sim 18,7 20,0

O conhecimento da condição de hipertenso foi mais freqüente, entre aqueles que usaram
mais, os serviços de saúde (mais consultas medicas (93,8%) e menor tempo decorrido, após a
última medida de pressão arterial (87,5%)], sendo o fator mais fortemente associado a este
conhecimento.

A proporção do conhecimento da condição de hipertenso foi positiva entre os idosos que


não tiveram internações hospitalares nos últimos 12 meses (75%) e entre os que fizeram uso de 1
a 4 medicamentos, nos últimos 15 dias, prescritos e não-prescritos (exceto anti-hipertensivos)
(68,8%).

A filiação a plano privado de saúde, apresentou associação negativa e elevada, com o


saber ser hipertenso, pois os idosos usuários do SUS apresentaram um maior conhecimento de
sua condição (81,3%) em relação aos usuários de planos privados de saúde.

Estes resultados chamam a atenção para a importância do acesso do idoso aos serviços de
saúde, para que a sua condição de hipertenso possa ser diagnosticada e tratada e da informação
prestada por este serviço, ao idoso para que este, sabendo ser um hipertenso, possa aderir
satisfatoriamente ao tratamento.
5. CONCLUSÃO

Baseado nos resultados obtidos este trabalho mostra uma elevada prevalência, da
hipertensão arterial entre os idosos, na comunidade estudada (63,6%), como também, daqueles
que não sabiam, ser hipertensos (23,8%).

O conhecimento da condição de hipertenso foi mais freqüente entre as mulheres (75%),


entre aqueles que usaram mais, os serviços de saúde (mais consultas médicas, (93,8%) e menor
tempo decorrido após a última medida de pressão arterial (87,5%), e entre os que percebiam a sua
saúde, como ruim (93,7%). Além desses, encontrou-se uma associação negativa, entre o saber ser
hipertenso com a obesidade (18,8%) e ter mais idade. (7,3%).

A presença da família ou de um cuidador informal, junto ao idoso, apresentou uma


associação positiva com o saber ser hipertenso, ou seja, encontrou-se, 81,3% de idosos que não
moravam sozinhos.

Entre os idosos hipertensos não fumantes, não alcoólicos, que praticavam atividades
físicas, o conhecimento da condição de hipertenso, foi mais elevado.

Os idosos que apresentam melhores condições de saúde, não tinham diagnóstico médico
anterior de Diabetes, Angina e/ou Infarto, tiveram maior conhecimento da hipertensão arterial.

Constatou-se maior probabilidade do conhecimento da condição de hipertenso entre os


idosos que apresentaram história familiar positiva de doenças cardiovasculares antes dos 50 anos
de idade (56,2%).

A proporção do conhecimento de ser um hipertenso, foi maior também entre os idosos que
não tiveram internações hospitalares nos últimos 12 meses.

A filiação ao plano privado de saúde, apresentou uma associação negativa e elevada, com
o saber ser hipertenso, pois os idosos usuários do SUS apresentaram um maior conhecimento de
sua condição (81,3%) em relação aos usuários de planos privados de saúde.
Na comunidade estudada, fazer uso de serviços públicos de saúde mostrou que aumenta a
chance de tratamento da hipertensão arterial.
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