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Universidade Estadual do Pará

Centro de Ciências Sociais – CCSE


Campus XVII – Vigia de Nazaré
Curso: Licenciatura Plena em História
Disciplina: História Antiga
Docente: Msc. Renato A. de Oliveira Gimenes
Discente: Jhonatan

Questão 1: A religiosidade é um elemento fundamental da vida cultura e


política dos povos da antiguidade. Tendo isso em mente, explique como os
faraós da dinastia ptolomaica estabeleceram com êxito seu governo no Egito, a
partir das estratégias de produção de novas celebrações em torno da figura do
faraó.

Durante a expansão macedônica, por volta do séc. IV a.C. Alexandre


Magno e suas tropas chegam ao Egito e são recebidos como libertadores em
relação a conquista do império Persa, Magno foi levado até um oraculo, onde
ele foi de chamado de filho de Amun-Ra, rei dos deuses, e seria o faraó, então
ele decide que seu império não deveria ser por meio da dominação, e sim pela
fusão de culturas, o helenismo para ele. E depois dá a ordem para construir
uma capital para reinar, uma metrópole, com aproximados 500.000 habitantes,
cidade nomeada de Alexandria, em 330 a.C. praticamente uma cidade grega
no Egito.
Alexandre, o Grande, levava com ele toda a cultura helênica,
influenciando nos costumes, arquitetura, modo de governa, mesmo assim não
pretendia ficar no Egito, era um guerreiro, e ia sempre atrás de novas batalhas
e reinos a conquistar. Lá haviam egípcios, gregos, macedônios, hebreus,
populações do oriente próximo, África meridional, e do Mediterrâneo. Após a
morte de Magno, seu império começou a se degradar, intrigas entre seus
principais generais, houveram recortes do poder, divisão entre os lugares
conquistados por o império macedônico. Logo Claudio Ptolomeu, um dos
generais mais próximos dele, afim de continuar o legado de Alexandre, tomou o
Egito, sendo coroado faraó em 07 de novembro de 305 a.C. mas com o passar
do tempo, levando o governo de basileu-faraó, com ênfase sendo basileu. Ao
longo de sua dinastia, por vários fatores, percebem que não conseguiriam
seguir com sua linhagem somente com a cultura helênica, diante das elites e
sua cultura egípcia, a maneira como ele governava sofre uma certa
modificação, assim, também, afirma

[...] De fato, com o passar do tempo o papel do basileu-faraó — com


primazia no basileu — parece se modificar ou se acomodar frente as
elites e segmentos sociais egípcios uma vez que dinastia ptolomaica
não sobreviveria somente pela cultura helenizada. Ainda no primeiro
século desta linhagens de reis foi necessário adotar a monarquia
divina egípcia; títulos reais egípcios; casamento entre irmãos (algo
não bem visto pelos gregos); culto aos monarcas divinos em vida e
após a morte. [...]. (GRALHA, Júlio, 2009, p. 68).

Após a rebelião Tebana, do Alto Egito, que por mais de 20 anos, entre
206 – 186 a.C. pressionou, encurralando a dinastia ptolomaica, houveram
construções de templos, afim de pacificar sua relação com o Alto Egito,
segundo Gralha (2009) destaca que durante o reinado de Ptolomeu II, ele
ordenou a construção de um templo de Isis em uma ilha chamada Philae, e
com Ptolomeu III, há a construção do templo em adoração a Hórus em Edfu e
Ptolomeu IV fez adendos em Edfu e Philae. Os ptolomeus viram que era
necessária uma nova mudança em sua maneira de governa, percebem que
precisariam aprender mais sobre os costumes e cultura egípcia para sua
dinastia continuar ao decorrer do tempo, e estabelecer a paz com o Alto Egito,
e legitimar seu poder e manutenção do estado. Então foi adotado,
intensamente, a cultura egípcia.
De forma curiosa, a dinastia de Ptolomeu, diferente de outras de
estrangeiros que tentaram ficar no poder do Egito, permaneceu por muito
tempo, logo, percebemos que, umas das estratégias usadas para essa
legitimação como faraó, se dá, através do sincretismo, tanto religioso quanto
estrutural e cultural, um helenismos, para os gregos, a construção dos
templos, e a continuação dos cultos aos deuses egípcios, ou seja, pelo uso do
mágico, mítico e religioso dos templos, conseguindo aproximar a relação entre
dois povos distintos e costumes diferentes.
Não poderíamos esquecer que a arquitetura grega é uma fonte rica de
conhecimento, durante a dinastia ptolomaica, foram construídas diversos
monumentos, juntando os conhecimentos e técnicas de ambos os povos,
dentre eles a famosa, biblioteca de Alexandria, que tinha como objetivo traduzir
e levar o idioma grego para aqueles povos, a maior do mundo antigo, e
também as intensas construções de templos durante sua dinastia, que era a
forma como conseguiu estabelecer todo o reinado de sua geração, de forma
que passa a representar a legitimação do poder ptolomaico, tendo assim, um
olhar de aprovação dos egípcios, vendo que era autêntica herdeira das
tradições de faraó, debaixo da benção dos deuses. Afirma

O templo possui uma ligação com a terra, com o mundo inferior e


com o céu. Além disso, expressava elementos do mundo natural e
uma das suas principais funções era relativa ao ciclo solar o que
indicava um ciclo de renovação do cosmo. Ou seja, da natureza, dos
homens e neste sentido das forças vitais do monarca. Mesmo que um
determinado templo fosse construído para uma divindade principal
capelas para outras divindades eram erigidas e, por conseguinte, o
monarca também passaria por ritos de renovação das forças vitais
conferindo a ele a legitimidade para ser mediador entre a humanidade
e os deuses. Neste sentido, era importante para os ptolomeus que
templos fossem levados a efeito em locais significativos durante o
programa de construção no Alto Egito. (GRALHA, Júlio, 2009, p. 73).

De acordo com Gralha (2009) existe uma estrutura particular da maioria


dos templos ptolomaicos, chamada de mammisi, termo cunhado por
Champollion (WILKINSON, 2000, p. 73 apud GRALHA, Júlio, 2009, p. 74) tem
o significado de “sala do nascimento” ou “sala do parto”, que representava a
moita de papiro que, Hórus, filho de Isis e Osíris nasceu, neste local então
ocorreria o culto ao nascimento divino, com relação ao monarca, que era
relacionado como divindade, o Hórus vivo, segundo Gralha (2009) essa
estrutura ficava para fora do templo, a esquerda, próximo ao pilone (fachada do
tempo), com o intuito de que a maioria conseguiria ver, mas nem todo egípcio
tinha acesso a essa celebração. Com isso, os rituais executados pelos
sacerdotes, de uma forma que a ligação da dinastia de Ptolomeu estava
anexada diretamente com o panteão dos deuses, legitimando-a, a celebração
ao nascimento de Hórus, está ligada tanto a divindade quanto ao monarca.
Outro fato foi em relação ao “dia do seu nome”, que correspondia ao
aniversário monarca foi criada uma celebração, “[...] citado por exemplo na
pedra de Rosetta. Isto é interessante, pois não há indícios que egípcios
comemorassem o aniversário.” (GRALHA, Júlio, 2009, p. 75). Com a
aproximação, pela forma religiosa, criando celebrações para legitimar seu
poder, com muita inteligência, essa dinastia consegui se estender por um longo
tempo. Outra observação com relação aos templos da dinastia de Ptolomeu
seria o santuário central que há neles

O santuário central dos templos ptolomaicos — continuamos no


período romano — é considerado uma inovação pela egiptóloga
Finestad (1997, p. 186) e consiste de uma estrutura que pode ter uma
ou duas entradas (uma oposta a outra) e está montado numa sala
maior com diversas câmaras. Desta forma o santuário está localizado
no centro e cercado por um número significativo de salas (entre 10 e
12). (FINESTAD, 1997, p. 186 apud GRALHA, 2009, p. 75).

A arquitetura deste templo, tinha algo parecido com a arquitetura dos


gregos, como afirma Gralha (2009) referência simbólica aos naos e cela em
templos que também são cercados por colunas, que no caso egípcio, são as
câmaras que formam um círculo em volta do santuário. Assim ambos, egípcios
e gregos podem adorar a suas divindades. Há também a legitimação por meio
das festividades, uma chamada a coroação do falcão, feita em Edfu, traria
alusão ao faraó, associando a vitória sobre seus inimigos, sendo assim divino
governante, o Hórus vivo na terra.
Pela assimilação de algumas divindades egípcias com as gregas,
estabeleceram uma convivência de paz com as duas culturas diferentes, assim
os gregos poderiam adorar os mesmos deuses egípcios também. A
religiosidade foi a maneira de estabelecer e prosseguir com a dinastia de
Ptolomeu, um elemento indispensável ao analisarmos a antiguidade, sabendo
disso, os locais onde construíam os templos era estratégico, de forma que
existe uma grande significação, mística-religiosa, que tenta se aproximar do
que era ser faraó, isso seria uma coisa boa, ao ponto de que leva um certo
impacto político e social a todo o estado Egípcio.

Questão 3: A nossa era moderna se define, em muitos sentidos, em relação à


uma noção de antiguidade e de história antiga. Discuta, a parti dos textos,
como esta noção de História Antiga foi produzida, bem como seus possíveis
usos políticos a partir do século XIX e XX.

A idade antiga é um período que, historicamente se define desde a


invenção da escrita, por volta de 4000 a.C. a 3500 a.C. e se estende até a
queda do império romano ocidental por volta de 476 d.C. Nesse período
diferentes povos se desenvolvem em diferentes partes do mundo antigo, dentre
estes se consta os egípcios, os fenícios, os persas, os romanos, os gregos,
dentre outros. Simplesmente não se pode medir a grandiosa influencia deste
período na idade moderna, tendo em vista que é da antiguidade que surge
vários legados que definem nossa era, apesar de acreditar-se por muito tempo
que tratavam-se de épocas distantes, é por exemplo no Egito que constitui-se
uma unidade de poder político e religioso centrado na figura de um
representante; na Grécia formula-se teorias sobre a democracia; Roma
constitui-se como uma grande potência militar demonstrando total controle
sobre o exército, aspectos essências para se pensar a modernidade.
O mundo antigo é um período onde grandes povos se organizam em
ideias de unidade, lealdade e bravura e constituem os mais devastadores
impérios, consequentemente fazendo deste período o palco de grandes
guerras sangrentas, como relatado nas 9 histórias de Heródoto.
O império romano, pode-se dizer que foi o ultimo império da antiguidade,
que com sua politica de expansão conquistou territórios das mais diversificadas
civilizações tais como a egípcia, a persa, e principalmente a cartaginense que
ficou conhecido na historia como as guerra púnicas, disputadas entre Roma e
Cartago, onde demonstrou-se o grande domínio da arte da guerra por parte
dos povos antigos e evidenciando também o período movimentado que foi a
antiguidade, essencial para se entender a ideia de estratégia militar na
modernidade.
Segundo Martin Bernal o mundo antigo exerce um grande influencia na
noção de politica moderna. A partir da colocação de Bernal, e uma vez feito o
comentário anterior sobre a bravura, sentimento de guerra e lealdade dos
grandes impérios, é válido investigar, como Napoleão Bonaparte afim de dar
uma nova “cara” a França, usa-se da antiguidade romana como um referencial
para legitimidade de seu governo em suas noções de táticas de guerra
baseadas em Júlio Cesar, Marco Antônio e Carlos Magno.
É válido ressaltar de início que essa noção de antiguidade surge durante
a época das luzes, pois para referir-se ao termo “antiguidade” dever-se-ia haver
um momento exato em que se define que existiu um mundo antigo. A definição
de um mundo antigo é construída por teóricos iluministas do século XII, onde,
apesar destes sempre buscarem referencia no passado para construir seu
presente, acreditou-se que o passado do mundo antigo e o presente do mundo
moderno, estariam desconectados, como afirma
[...] após a dissolução do império romano ocidental, a lembrança de
um passado pré-cristão foi aos poucos se dissolvendo. Os vestígios
matérias do império eram como ruinas na paisagem, espaços da vida
cotidiana, mas não lugres da memória. [...] (GUARINELLO, 2013, p.
17).

Havia essa ideia de que se tratava de épocas distantes, Guarinello, em


seu livro “história antiga”, discorre sobre os povos antigos do ocidente, em
particular dos gregos e romanos, que se constituem em volta do mar
mediterrâneo, durante o século X a.C. e V d.C., e destaca a projeção destes
para a compreensão do mundo atual. De forma análoga, e possível entender
essa relação de continuidade entre as épocas, na figura de Napoleão
Bonaparte que sustenta uma grande corrente que liga o passado antigo ao
presente francês: O uso da memoria e da historia.
Como dito, Napoleão Bonaparte e um personagem histórico chave para
a compreensão da ideia de exercito nacional moderno, expansão moderna e
guerra nacional francesa, e sobretudo por seu uso do politico do passado para
a legitimidade de seu governo e na construção de uma identidade nacional
francesa, pois o general francês se utiliza do passado romano e da
arqueologia francesa para definição e consolidação de sua imagem como
governador no pós-revolução francesa.
(Edward W. Said, 2001 apud GARRAFFONI, 2006, p. 70) menciona que
é por meio de estudos da antiguidade que napoleão consegue ocupar o Egito.
Na gloriosa campanha cientifica para o Egito em 1798-180, o qual sua relação
muito próxima com intelectuais de sua época e seu cargo no instituto nacional
Frances, são enviados uma serie de intelectuais para a conquista do Egito:
Artistas, cientistas arqueólogos com o intuito de justificar ideologicamente o
imperialismo de napoleão, como afirma

A Campanha do Egito (1798-1801) seria a primeira grande


demonstração da utilização do potencial dos membros do Instituto em
prol dos interesses napoleônicos. Entre os mineralogistas,
matemáticos, astrônomos, engenheiros (civis, de minas e de solos),
geógrafos, arquitetos, desenhistas, artistas, mecânicos, intérpretes,
homens de letras, tipógrafos, médicos, químicos, cartógrafos,
naturalistas e arqueólogos, incluindo-se até um pianista e um
escultor, encontravam-se Vivant-Denon (1747-1825), Monge (1746-
1818), Saint-Hilaire (1779- 1853) e Champollion (1790-1832) Embora
a Campanha do Egito não tenha sido um sucesso militar, a decisão
de Bonaparte de nela envolver uma série de artistas e cientistas a
tornaria um importante marco na construção de sua imagem pública.
Afinal, eles seriam os responsáveis por recriar e decodificar para os
franceses a Antiguidade egípcia em diferentes campos e utilizá-la
para a glorificação de Napoleão [...] (GARRAFFONI, 2006, p. 70 a
71).

Esse ato estratégico de napoleão, o fez ser visto positivamente pelos


olhares da classe burguesa de sua época. O que seria também fortalecido com
a descoberta da pedra de Rosetta que será traduzida em 1822 por Jean-
François Champollion, onde se definirá as bases para os estudos referentes a
egiptologia, e com a própria escavação de Pompeia impulsionada pelo seu
governo, onde se abrira caminhos para a consolidação de um estudo para a
arquitetura e moda, bem como o cotidiano daqueles povos antigos preservados
em Pompeia.
Napoleão sempre foi um aluno brilhante do instituto, dominava a
matemática e tinha um admirável conhecimento acerca de historia politica
militar antiga, estudava os as guerras gregas, persas, romanas e se encantava
com aquilo. E seus investimentos na escavação de pompeia, fez com ele
pudesse compreender o mundo antigo e ter um panorama mais preciso acerca
de táticas de guerras, arquitetura e moda na antiguidade. Essa influencia que
passado antigo exerce no cotidiano francês, fica evidente na arquitetura de
paris, onde grandes monumentos históricos fazem alusão a acontecimentos
romanos, o arco do trunfo por exemplo, construído em comemoração as
vitorias militares de napoleão, teve sua inspiração no arco de Tito. E a coluna
Vendume, que se consiste numa estética de napoleão Bonaparte vestido de
imperador romano, são demonstrações explicitas desse legado.
Ademais, essa referencia antiga também exerce influência na moda
francesa, num estilo da época, voltada aos luxos da classe burguesa
denominado de “Estilo Império” baseada na estética neoclássica.
Fica claro que para Napoleão não e suficiente ser um mestre nas táticas
de guerrear, mas o fascínio que este tem da idade antiga faz com que ele
almeje ser o próprio imperador romano Carlos Magno, esse anseio é
representado pelo pintor da corte francesa, Jacques-Loiuz David grande
responsável por fazer essa ligação do passado antigo ao presente francês visto
que a grande a totalidade de suas pinturas são referentes a antiguidade, a
exemplo disso tem-se a obra “Bonaparte atravessando os alpes pelo grande
São Bernardo”, onde busca-se igualar a imagem de napoleão a Aníbal, general
cartaginês e ao próprio imperador Carlos Magno. Portanto, Napoleão
Bonaparte faz uso do passado antigo por meio da arqueologia e de suas
estratégias politicas tanto na arte quanto na arquitetura francesa para a
construção de sua imagem comparada aos grandes imperadores,
estabelecendo uma conexão entre Bonaparte e o passado politico da
antiguidade, e nessas proporções tem sua imagem construída positivamente
na França, e uma vez posto em patamar de igualdade aos grandes imperados
do mundo antigo, consolida sua imagem como homem público e líder político.
Referências Bibliográficas:

GARRAFFONI, R. S.; STOIANI, R. Escavar o passado, (re) descobrir o presente: os


usos simbólicos da Antiguidade clássica por Napoleão Bonaparte. Revista de História
da Arte e Arqueologia, Campinas, n. 6, p. 69-82, 2006.
GUARINELLO, Noberto Luiz. História antiga. São Paulo: Contexto, 2013.
GRALHA, Júlio. Egito Ptolomaico: Arquitetura Sagrada e as relações de Poder. Hélade
- Volume 1,
Número 1 (julho de 2015).

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