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A CIÊNCIA E A ARTE
VOLUME I
BRASIL
1996
© Diretoria de Hidrografia e Navegação – Marinha do Brasil. 1996
ISBN – 85-7293-017-5
CDD 623.89
Apresentação
APRESENTAÇÃO
Há muito que a nossa Marinha ressente-se da falta de um Manual de Navegação, para uso
a bordo dos nossos navios, nos órgãos de ensino e adestramento e, também, para atender ao
público externo, isto é, aos navegantes da nossa Marinha Mercante, de Longo Curso, Cabotagem
e de Apoio Marítimo, e aos navegantes de pesca, esporte e recreio, que, cada vez mais, buscam
na MB fontes de consulta sobre navegação.
Todos estes fatores levaram ao consenso de que se fazia necessário para a Marinha dispor de um
“Manual de Navegação”, a exemplo do que fizeram outras nações, de igual ou menor porte que a nossa.
Desta forma, submeti ao Diretor de Hidrografia e Navegação, em junho de 1993, a idéia de a DHN
publicar um Manual de Navegação, que me propus a organizar. O Manual consistiria, basicamente,
na compilação dos trabalhos anteriormente mencionados, atualizados e enriquecidos com elementos
obtidos das últimas edições das melhores obras disponíveis, como o AMERICAN PRACTICAL
NAVIGATOR (BOWDITCH), o DUTTON’S NAVIGATION AND PILOTING, o ADMIRALTY
MANUAL OF NAVIGATION, o MANUAL DE NAVEGAÇÃO DO INSTITUTO
HIDROGRÁFICO DE PORTUGAL, o COURS D’ASTRONOMIE–NAVIGATION DE L’ÉCOLE
NAVALE e o MANUAL DE NAVEGACIÓN DEL INSTITUTO HIDROGRÁFICO DE LA
ARMADA DE CHILE, além de outros compêndios e publicações, alguns já editados pela própria DHN.
A forma proposta para o livro foi a de um Manual, isto é, uma obra contendo apenas as
noções essenciais acerca dos assuntos, sem profundas considerações teóricas. Ademais, pretende-
se que o Manual seja, tal como o BOWDITCH, um “epítome da navegação”, ou seja, um resumo
da doutrina e do saber acumulado de navegação na nossa Marinha.
PREFÁCIO
Há uma passagem no Livro de Isaías, em que o profeta faz referência ao povo que
habita uma terra onde há o roçar de muitas asas de insetos, que está muito além dos rios da
Etiópia e “que envia embaixadores por mar navegando em navios de papiro”.*
Este pode ser o registro mais remoto de viagem do homem pelo mar; provavelmente
ocorreu há uns cinco mil anos. Até hoje historiadores discutem, sem concordar, sobre a
época da la edição da Bíblia. De qualquer modo, este parece ser, pelo menos, o primeiro
relato de navegação que conhecemos, porque o homem mal havia começado a aprender a
linguagem escrita. Não há dúvidas de que ele vinha viajando pelos mares, muito antes
disso.
A história das viagens do homem pelo mar é realmente muito antiga. O tema em si
não se inclui no escopo deste livro e tem sido objeto de muitas obras. Mas a evolução do
ensino de navegação é, obviamente, parte da história da navegação marítima.
No correr da primeira metade do Século XV, uma idéia tomava forma na mente de
um jovem príncipe, Infante de Portugal, terceiro filho do rei D. João I. Ele entrou para a
história como Henrique, o Navegante.
Dois anos depois de fundado esse conjunto, que ficou conhecido como Escola de Sagres,
os portugueses descobriram a ilha de Porto Santo e, a seguir, Madeira, Açores, Rio de Ouro,
* COLLINDER, Per. A History of Marine Navigation. B.T. Batsford Ltd Publishers. 4 Fitzhardin Street,
London W1. Great Britain, 1954.
Serra Leoa, Gâmbia e o Arquipélago de Cabo Verde. Quando Henrique faleceu em l460, os
portugueses haviam chegado ao Cabo de Palmas. Estava aberto o amplo caminho para
expandir-se a civilização do Ocidente.
Diz Churchill que a velha ordem política, econômica e social da Europa foi abalada
em suas bases. Embora pareça uma surpreendente ocorrência no século XVI, o principal
flagelo foi uma desenfreada inflação. Era uma insaciável fome por dinheiro para custear
viagens, novos empreendimentos, construções e novos métodos de governar. Os Estados
tinham agora braços estendidos por cima dos oceanos.
Mas, da mesma forma que acontece em nossos dias, a gestão de finanças era uma
tarefa apenas vagamente compreendida por governantes e pela maioria das pessoas. O
caminho mais fácil, adotado pelos reis empobrecidos – como alguns governantes de hoje –
consistiu em degradar suas moedas.
Nós, marinheiros brasileiros, temos uma dívida antiga com nosso genial antepassado
português, Henrique, o Navegante. Até hoje não tínhamos em nosso País um compêndio
consolidando as experiências atualizadas da Arte de Navegar.
Tenho motivos para acreditar que o excelente Manual de Navegação, elaborado pelo
Comandante Altineu Pires Miguens – cujo primeiro volume “Navegação Costeira, Estimada
e em Águas Restritas”, ora é editado – constitui uma substancial amortização da dívida. Os
muitos de seus usuários vão conferir o fato, confirmá-lo e, certamente, contribuir para aper-
feiçoar novas edições. A vida é “quem” decide.
FERNANDO M. C. FREITAS
Vice-Almirante
Presidente da Fundação de Estudos do Mar