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NAVEGAÇÃO:

A CIÊNCIA E A ARTE

VOLUME I

NAVEGAÇÃO COSTEIRA, ESTIMADA


E EM ÁGUAS RESTRITAS

DIRETORIA DE HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO

BRASIL

1996
© Diretoria de Hidrografia e Navegação – Marinha do Brasil. 1996

M 636 Miguens, Altineu Pires


1996
Navegação: a Ciência e a Arte (DN3-I) / por Altineu
Pires Miguens. – Niterói (RJ) : Diretoria de Hidrografia e
Navegação, 2005.

v. 1 : il.: graf., tabelas.

conteúdo: v.1 – Navegação Costeira, Estimada e em Águas


Restritas.

ISBN – 85-7293-017-5

1. Navegação. 2. Auxílio à Navegação. I. Brasil. Diretoria


de Hidrografia e Navegação.

CDD 623.89
Apresentação

APRESENTAÇÃO

Há muito que a nossa Marinha ressente-se da falta de um Manual de Navegação, para uso
a bordo dos nossos navios, nos órgãos de ensino e adestramento e, também, para atender ao
público externo, isto é, aos navegantes da nossa Marinha Mercante, de Longo Curso, Cabotagem
e de Apoio Marítimo, e aos navegantes de pesca, esporte e recreio, que, cada vez mais, buscam
na MB fontes de consulta sobre navegação.

Depois do livro do Comandante Evandro Santos, “Navegação Estimada” (1924) e dos


trabalhos posteriores do Almirante Guilhobel (1930) e do Comandante Newton Tornaghi (1945),
pouco se editou sobre navegação em nossa Marinha.

Na Escola Naval, os instrutores que se sucederam prepararam várias apostilas, quase


sempre de conteúdo muito bom, porém com uma notória deficiência de forma, de apresentação
gráfica e com todos os inconvenientes que apresentam as publicações avulsas.

No final da década de 60 e início da década de 70, as folhas de informações sobre navegação


astronômica foram consolidadas no livro “Navegação Astronômica”, editado conjuntamente
pela Escola Naval e DPC. Posteriormente, a própria EN publicou, em edições provisórias, os
trabalhos NAV-1 e NAV-2, de autoria do CMG(RRm) Renato Tarquínio Bittencourt abrangendo,
respectivamente, os conceitos básicos de navegação e navegação costeira, estimada e em águas
restritas. Para navegação eletrônica (NAV-3), em 1983 foi obtida autorização para reproduzir
um trecho do livro “A Prática da Navegação”, do CLC Carlos R. Caminha Gomes, publicado
pelo Sindicato de Oficiais de Náutica da Marinha Mercante. Entretanto, permaneceram as
deficiências de impressão, de falta de unidade, de padronização e de coordenação entre os
trabalhos supracitados. Além disso, tais trabalhos dificilmente são acessíveis ao público externo.

Todos estes fatores levaram ao consenso de que se fazia necessário para a Marinha dispor de um
“Manual de Navegação”, a exemplo do que fizeram outras nações, de igual ou menor porte que a nossa.

A Organização Hidrográfica Internacional (OHI) recomenda que os Serviços Hidrográficos


dos Estados-membros publiquem Manuais Nacionais de Navegação, como mais uma medida
para aumento da segurança da navegação. Ademais, o Regulamento da Diretoria de Hidrografia
e Navegação prevê que cabem à DHN as tarefas de estabelecer normas e procedimentos para a
navegação e produzir informações de interesse para a segurança da navegação. Assim sendo,
não restam dúvidas de que a responsabilidade pela publicação do Manual de Navegação, no
âmbito da MB, é da Diretoria de Hidrografia e Navegação.

Desta forma, submeti ao Diretor de Hidrografia e Navegação, em junho de 1993, a idéia de a DHN
publicar um Manual de Navegação, que me propus a organizar. O Manual consistiria, basicamente,
na compilação dos trabalhos anteriormente mencionados, atualizados e enriquecidos com elementos
obtidos das últimas edições das melhores obras disponíveis, como o AMERICAN PRACTICAL
NAVIGATOR (BOWDITCH), o DUTTON’S NAVIGATION AND PILOTING, o ADMIRALTY
MANUAL OF NAVIGATION, o MANUAL DE NAVEGAÇÃO DO INSTITUTO
HIDROGRÁFICO DE PORTUGAL, o COURS D’ASTRONOMIE–NAVIGATION DE L’ÉCOLE
NAVALE e o MANUAL DE NAVEGACIÓN DEL INSTITUTO HIDROGRÁFICO DE LA
ARMADA DE CHILE, além de outros compêndios e publicações, alguns já editados pela própria DHN.

Navegação costeira, estimada e em águas restritas


Apresentação

A forma proposta para o livro foi a de um Manual, isto é, uma obra contendo apenas as
noções essenciais acerca dos assuntos, sem profundas considerações teóricas. Ademais, pretende-
se que o Manual seja, tal como o BOWDITCH, um “epítome da navegação”, ou seja, um resumo
da doutrina e do saber acumulado de navegação na nossa Marinha.

A estrutura proposta para o Manual de Navegação divide-o em dois volumes, publicados,


sob o título geral de NAVEGAÇÃO: A CIÊNCIA E A ARTE, sendo:

VOLUME I : NAVEGAÇÃO COSTEIRA, ESTIMADA E EM ÁGUAS RESTRITAS.

VOLUME II: NAVEGAÇÃO ASTRONÔMICA, ELETRÔNICA E EM CONDIÇÕES


ESPECIAIS (NAVEGAÇÃO FLUVIAL, NAVEGAÇÃO EM ÁREAS POLARES,
NAVEGAÇÃO COM MAU TEMPO, NAVEGAÇÃO EM BALSAS SALVA-VIDAS),
DERROTAS, NOÇÕES DE METEOROLOGIA E OCEANOGRAFIA PARA NAVEGANTES.

Espero o 1º volume Manual, ora editado, cobrindo as áreas de navegação costeira,


estimada e em águas restritas, já possa ajudar os nossos navegantes, civis e militares, a
conduzirem com segurança seus navios e embarcações, desde o ponto de partida até o destino.
O 2º volume, a ser em breve publicado, completará a estrutura deste que pretende ser, tal como
os nosso faróis, cartas e publicações náuticas, um auxílio à navegação preciso e confiável.
Agradeço a todos que contribuiram para tornar esta obra uma realidade.

ALTINEU PIRES MIGUENS

Navegação costeira, estimada e em águas restritas


Prefácio

PREFÁCIO

Há uma passagem no Livro de Isaías, em que o profeta faz referência ao povo que
habita uma terra onde há o roçar de muitas asas de insetos, que está muito além dos rios da
Etiópia e “que envia embaixadores por mar navegando em navios de papiro”.*

Este pode ser o registro mais remoto de viagem do homem pelo mar; provavelmente
ocorreu há uns cinco mil anos. Até hoje historiadores discutem, sem concordar, sobre a
época da la edição da Bíblia. De qualquer modo, este parece ser, pelo menos, o primeiro
relato de navegação que conhecemos, porque o homem mal havia começado a aprender a
linguagem escrita. Não há dúvidas de que ele vinha viajando pelos mares, muito antes
disso.

A história das viagens do homem pelo mar é realmente muito antiga. O tema em si
não se inclui no escopo deste livro e tem sido objeto de muitas obras. Mas a evolução do
ensino de navegação é, obviamente, parte da história da navegação marítima.

Durante milênios, a aquisição de conhecimentos sobre técnicas de navegação foi ex-


clusivamente um processo penoso. Era fruto de uma lenta acumulação de experiências em
viagens e de muito sofrimento. Como disse o avô de Nimitz, quando o neto resolveu ingressar
na Marinha: “O mar – como a vida ela própria - é um mestre-escola rigoroso. A melhor
maneira de conviver com ele é aprender tudo que você pode; depois, dar o máximo de si e
não se preocupar, especialmente com as coisas sobre as quais você não tem controle”.

Há um fato que os historiadores consideram um dos grandes marcos na evolução na


história da humanidade: foi o primeiro grande esforço do homem para sistematizar, de
forma organizada e científica, a aquisição de conhecimentos sobre a arte de navegar.

No correr da primeira metade do Século XV, uma idéia tomava forma na mente de
um jovem príncipe, Infante de Portugal, terceiro filho do rei D. João I. Ele entrou para a
história como Henrique, o Navegante.

Depois de participar com distinção na guerra de conquista de Ceuta e, poucos anos


mais tarde, livrar essa cidade de outra investida dos mouros, Henrique voltou a Portugal.
Recusou a dignidade de grão-mestre da Ordem de Cristo. A honraria vinha acompanhada
do voto de pobreza, que, por sua vez, significava abrir mão de sua renda. Preferiu aceitar o
cargo de Governador e Administrador da Ordem. Construiu uma vila na Ponta de Sagres,
na província meridional do Algarve, perto do Cabo de São Vicente, e pôs-se a refletir sobre
sua época. Tinha 25 anos, curiosidade científica e uma aguda percepção dos fatos em sua
volta.

Antes de Henrique, o Navegante, geógrafos e navegantes da Europa vinham procu-


rando um caminho marítimo para o Oriente. Henrique não gastou muito tempo apenas
refletindo. Construiu estaleiros, um arsenal de marinha, um observatório e reuniu em torno
de si alguns dos mais notáveis cartógrafos, astrônomos e navegadores da época.

Dois anos depois de fundado esse conjunto, que ficou conhecido como Escola de Sagres,
os portugueses descobriram a ilha de Porto Santo e, a seguir, Madeira, Açores, Rio de Ouro,

* COLLINDER, Per. A History of Marine Navigation. B.T. Batsford Ltd Publishers. 4 Fitzhardin Street,
London W1. Great Britain, 1954.

Navegação costeira, estimada e em águas restritas


Prefácio

Serra Leoa, Gâmbia e o Arquipélago de Cabo Verde. Quando Henrique faleceu em l460, os
portugueses haviam chegado ao Cabo de Palmas. Estava aberto o amplo caminho para
expandir-se a civilização do Ocidente.

Os portugueses prosseguiram em sua exploração para o Sul da costa atlântica da


África. Bartolomeu Dias contornou o Cabo das Tormentas, depois rebatizado de Boa Espe-
rança, e Vasco da Gama fundeou em Calicut em l498.

Segundo a tradição, Vasco da Gama e Colombo formaram-se em Sagres. Mas o fato é


que Cristóvão Colombo, um genovês, casou com a filha de um ex-marinheiro, Bartolomeu
Perestello, que havia navegado para o Infante Henrique nas viagens de exploração da costa
africana. Colombo estudou papéis, registros, roteiros e cartas náuticas de seu sogro e, a
serviço da Espanha, descobriu um novo continente.

Diz Churchill que a velha ordem política, econômica e social da Europa foi abalada
em suas bases. Embora pareça uma surpreendente ocorrência no século XVI, o principal
flagelo foi uma desenfreada inflação. Era uma insaciável fome por dinheiro para custear
viagens, novos empreendimentos, construções e novos métodos de governar. Os Estados
tinham agora braços estendidos por cima dos oceanos.

Mas, da mesma forma que acontece em nossos dias, a gestão de finanças era uma
tarefa apenas vagamente compreendida por governantes e pela maioria das pessoas. O
caminho mais fácil, adotado pelos reis empobrecidos – como alguns governantes de hoje –
consistiu em degradar suas moedas.

Entretanto, havia um novo e rico mundo a explorar e disso entendiam os comerciantes.


Mais ainda, na medida em que as novas terras iam sendo ocupadas, o solo mostrava-se
fértil para germinar sementes de liberdade econômica e política das futuras gerações.

Henrique, o Navegante, ao estabelecer o primeiro esforço organizado em bases cien-


tíficas e práticas para o ensino da navegação, detonou a expansão marítima dos povos da
Europa. A civilização ocidental, pela primeira vez na História, derramou-se para o sul e
para oeste, transpondo o oceano. Foi uma formidável transformação.

Nós, marinheiros brasileiros, temos uma dívida antiga com nosso genial antepassado
português, Henrique, o Navegante. Até hoje não tínhamos em nosso País um compêndio
consolidando as experiências atualizadas da Arte de Navegar.

Tenho motivos para acreditar que o excelente Manual de Navegação, elaborado pelo
Comandante Altineu Pires Miguens – cujo primeiro volume “Navegação Costeira, Estimada
e em Águas Restritas”, ora é editado – constitui uma substancial amortização da dívida. Os
muitos de seus usuários vão conferir o fato, confirmá-lo e, certamente, contribuir para aper-
feiçoar novas edições. A vida é “quem” decide.

A sgunda parcela do pagamento da dívida, o Volume II – “Navegação Astronômica


Eletrônica e em Condições Especiais (Navegação Fluvial, Navegação Polar, Navegação com
Mau Tempo e em Embarcações de Salvamento) – virão em breve.

FERNANDO M. C. FREITAS
Vice-Almirante
Presidente da Fundação de Estudos do Mar

Navegação costeira, estimada e em águas restritas

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