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Leonardo Andrade de Souza et al.

Geociências

Aplicação da geologia de engenharia na


redução de risco geológico urbano em
Itapecerica da Serra - SP: estudo de caso
(Application of the geology of engineering in the reduction of
urban geologic risk in Itapecerica da Serra - SP: study of case)

Leonardo Andrade de Souza


Engenheiro Geólogo - Doutorando do PPECRN/DEGEO/UFOP. E-mail: geolsouza@yahoo.com.br

Fernando Rocha Nogueira


Geólogo, Dr., Autônomo. E-mail: fernandorn@uol.com.br

Leandro Eugenio da Silva Cerri


Geólogo, Prof. Adjunto - IGCE/Unesp-Rio Claro (SP). E-mail: lescerri@rc.unesp.br

Resumo Abstract
O município de Itapecerica da Serra, Região Metro- The municipality of Itapecerica da Serra is part of
politana de São Paulo (RMSP), possui uma população de the metropolitan area of São Paulo, Brazil. It has about
162 mil habitantes e cerca de 150 km² de área. As caracte- 162.000 inhabitants and a territorial extension of
rísticas geológicas e geomorfológicas do seu território e 150km². Most of its territory is included in an
o fato de localizar-se quase inteiramente em área de pro- environmentally protected area. The diagnosis of areas
teção aos mananciais que abastecem a RMSP implicam with geological risk was implemented in order to
restrições ao uso do solo e à expansão da ocupação nos
increment the elaboration of a Local Risk Reduction
moldes em que vem ocorrendo. O diagnóstico das áreas
Plan (PMRR). Besides the identification and analysis
de risco geológico do município foi uma das atividades
implementadas para a execução do Plano Municipal de of geological and geo-morphological risk situations,
Redução de Riscos (PMRR) do município. O PMRR tem the PMRR includes propositions for structural
por objetivo apresentar os resultados da identificação e intervention aiming to eliminate or reduce risks, as well
da análise das situações de risco geológico-geotécnico, as cost estimates and general strategies for risk
criando propostas de intervenções estruturais para a sua management. The diagnosis was implemented in 35
eliminação e/ou redução, estimativas de custo e estraté- areas, in which 66 risk sectors were identified. These
gias para a gestão de risco no município. O mapeamento sectors involved 419 residences and, among them, 175
do risco geológico foi realizado em 35 áreas, onde foram are located in sectors with high or very high risk. The
identificados 66 setores de risco englobando, 419 mora- proposals for structural intervention required coherence
dias, sendo 175 moradias em setores cujo grau de risco between active geodynamical processes and the kind of
foi classificado como alto ou muito alto. As propostas de intervention proposed for stabilization and control. The
intervenção estrutural buscaram a aderência entre o pro- definition of priority criteria for the proposed
cesso geodinâmico atuante e a tipologia de intervenção
interventions contributed for the insertion of PMRR
sugerida para estabilização e controle. A definição de cri-
proposals into the pluri-annual plan of action
térios para a hierarquização das intervenções propostas
contribuiu para a inserção das propostas do PMRR no established by the local government.
planejamento plurianual do município de Itapecerica da Keywords: Cartography of risk, urban planning, local
Serra. risk reduction plan, Itapecerica da Serra, São Paulo.
Palavras-chave: Cartografia de risco, planejamento urbano,
Plano Municipal de Redução de Riscos, Itapecerica da
Serra, São Paulo.

REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 61(2): 121-128, abr. jun. 2008 121
Aplicação da geologia de engenharia na redução de risco geológico urbano em Itapecerica da Serra...

1. Introdução e gia e quantitativos das obras sugeridas A equação mais simples e didática
e indicação de remoções e serviços quan- utilizada para representar risco é:
objetivos do necessários; 3) a estimativa de cus-
R=PxC
O mapeamento das áreas de risco tos para cada intervenção; 4) a hierar-
geológico do município de Itapecerica quização das intervenções propostas. Sendo: R = risco; P = probabilidade (ou
da Serra, São Paulo, foi objeto do con- Esse trabalho teve como foco as tipolo- possibilidade) de ocorrência de um de-
trato firmado entre a Prefeitura de Itape- gias de risco geológico relacionadas a terminado evento adverso (evento peri-
cerica da Serra (PMIS) e a Fundação de escorregamentos e solapamento de mar- goso); C = conseqüências sociais e/ou
Apoio à Pesquisa, Ensino e Extensão gens de córrego. Esses processos, em econômicas potencias.
(FUNEP), atendendo ao convênio firma- áreas urbanas, podem movimentar, além
do com a Caixa Econômica Federal/Mi- de rochas, solo e vegetação, depósitos
nistério das Cidades, por meio do Pro- artificiais (lixo, aterros, entulhos) ou ma- 2.1 Circunscrição do
grama de Urbanização, Regularização e teriais mistos, caracterizando processos problema
Integração de Assentamentos Precários/ geológicos, geomórficos ou geotécni-
A circunscrição da análise do risco
Ação de Apoio à Prevenção e Erradica- cos.
geológico ocorreu, inicialmente, através
ção de Riscos em Assentamentos Precá-
Diferentemente dos zoneamentos de uma pré-setorização do município de
rios.
de áreas de risco, esse trabalho de ca- Itapecerica da Serra subsidiada pela per-
O Plano Municipal de Redução de dastramento foi executado com um grau cepção dos profissionais envolvidos e
Riscos (PMRR) de Itapecerica da Serra de detalhe maior, sendo que os riscos por parâmetros básicos utilizados comu-
(SP) foi executado por meio de estudos são identificados e analisados na escala mente na caracterização do meio físico,
realizados no período de janeiro a maio referente a um lote, moradia por moradia, tais como declividade/inclinação, tipo-
de 2006 e teve como premissa fundamen- somando-se a isto proposições voltadas logia dos processos, posição da ocupa-
tal a análise detalhada do ambiente ur- ao estabelecimento de referenciais e di- ção em relação à encosta e qualidade da
bano, principalmente no que tange à retrizes para o desenvolvimento e implan- ocupação (vulnerabilidade). Essa análi-
compreensão de como se dá a gestão tação de ações para que o plano se tor- se preliminar abrangeu todas as áreas de
desse ambiente, a partir das políticas nasse público e apropriado pela popula- favelas e loteamentos precários do mu-
públicas voltadas para as áreas de as- ção envolvida, desenvolvendo-se, para nicípio de Itapecerica da Serra, onde, na
sentamento precário, a porção informal, tal, um trabalho educativo, informativo e cultura técnica dos agentes públicos,
vulnerável e, freqüentemente, degrada- de mobilização junto à população mora- houvesse moradias sujeitas a acidentes
da da cidade. dora de áreas de risco, através das lide- ou, ainda, registro de ocorrência de aci-
O PMRR propõe alguns referenci- ranças comunitárias e de entidades da dentes associado a escorregamentos de
ais técnicos e gerenciais que permitem sociedade civil. encostas, solapamento de margens de
aos Poderes Públicos a implementação córregos ou ação direta das águas plu-
de ações estruturais e não-estruturais, viais (enxurradas). O resultado dessa
em prazos adequados aos recursos or- 2. Material e métodos análise foi a seleção de 35 áreas para o
çamentários do município, do Estado e Adotou-se, como referenciais para mapeamento do risco geológico.
da União, para reduzir e controlar as si- esse trabalho, a metodologia indicada As 35 áreas definidas foram visita-
tuações de riscos associadas a escorre- pelo Ministério das Cidades (Brasil, 2006) das, preliminarmente, para uma avalia-
gamentos e solapamentos de margens e a proposta de Santos (2002), que esta- ção expedita de suas características e a
de córregos que ameaçam a segurança belece um roteiro de trabalho (Quadro 1) obtenção de coordenadas geográficas
dos moradores e dificultam a inclusão para as atividades do profissional das por meio de GPS (Global Position
dos assentamentos precários à cidade áreas de geologia de engenharia e geo- System). Tais ações visavam a delimitar
formal. tecnia frente a um determinado proble- as referidas áreas, aproximadamente, e a
A partir dos preceitos do Ministé- ma.
orientar, posteriormente, o plano de vôo
rio das Cidades, os estudos aqui apre- O tipo de mapeamento adotado para tomada de fotos oblíquas de baixa
sentados contemplaram: 1) a realização para as áreas de risco foi o heurístico, a altitude. Em 33 áreas, das 35 seleciona-
de identificação e análise de risco geoló- partir do mapeamento direto, baseado em das, foram obtidas fotos oblíquas, por
gico nas áreas de ocupação irregular do levantamentos de campo e mapa de de- meio de vôo de helicóptero a alturas
município, com delimitação de setores talhe, sendo risco geológico definido por médias entre 100 a 150 metros do solo.
de risco e quantificação das moradias Cerri (1990) como uma situação de peri- As cópias em papel das fotos obtidas
expostas à situação identificada de ris- go, perda ou dano, ao homem e a suas nesse vôo foram utilizadas em campo
co; 2) a definição das intervenções ne- propriedades, em razão da possibilidade para a delimitação dos setores de risco
cessárias para erradicação de risco em de ocorrência de processos geológicos, identificados durante os trabalhos de
cada setor mapeado, contendo a tipolo- induzidos ou não. campo.

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Quadro 1 - Roteiro e seqüência de atividades na Geologia de Engenharia (Santos, 2002).

Fases do
Objetivo Principais Cuidados
Trabalho

Identificação preliminar dos problemas Recolhimento de todos os registros


potenciais ou ocorridos. bibliográficos e técnicos e de testemunhos de
Circunscrição
Enquadramento geológico-geomorfológico do pessoal local.
do
local. Caracterização das feições e dos processos
problema
Delimitação e caracterização da área de geológico-geomorfológicos naturais locais e
trabalho. regionais presentes.

Pesquisa de situações semelhantes,


Caracterização dos parâmetros geológicos e
especialmente na região.
Análise e geotécnicos necessários ao entendimento
Identificação dos processos geológicos e
diagnóstico dos dos fenômenos envolvidos.
geotécnicos originalmente presentes.
fenômenos Diagnóstico final e descrição qualitativa e
Adoção de hipóteses fenomenológicas
presentes quantitativa dos fenômenos implicados nas
progressivas e esforço investigativo e
inter-relações solicitações / meio físico.
observativo para sua aferição.

Zelo especial pela perfeita aderência solução /


Formulação
Apoio à engenharia na formulação das fenômeno.
de
soluções adequadas. Busca do barateamento da solução
soluções
encontrada.

2.2 Análise e diagnóstico do tudada e dos setores delimitados no 2.3 Formulação de soluções
risco geológico interior das mesmas, com os resulta- e hierarquização das
dos das investigações geológico-ge-
Definidas as áreas e suas caracte- otécnicas realizadas na etapa 1. intervenções
rísticas principais, deu-se início aos tra- Na etapa de formulação e hierarqui-
3. Delimitação dos setores de risco, re-
balhos de campo, através do mapeamen- zação das intervenções, ocorreu a esti-
presentando-os nas cópias das fo-
to de detalhe e setorização do risco. Os mativa das conseqüências potenciais do
tografias de helicóptero (Figura 1 -
setores de risco indicam um espaço defi- processo de instabilização, por meio da
exemplo). Para a complementação
nido dentro do assentamento sujeito a avaliação das possíveis formas de de-
dos registros de indicativos de risco
sofrer um determinado processo destru-
observados em campo, além das fo- senvolvimento do processo destrutivo
tivo, cujas evidências ou indicadores tos de helicóptero, foram obtidas fo- atuante (por ex., volumes mobilizados,
predisponentes foram identificados em tografias “de chão” de detalhe, du- trajetórias dos detritos, áreas de alcan-
campo. rante os trabalhos de campo. ce, etc.) e do número de moradias amea-
Os seguintes procedimentos/eta- 4. Atribuição, para cada setor de risco, çadas, em cada setor de risco.
pas foram definidos: do grau de probabilidade de ocorrên- Posteriormente, e embasado no
1. Vistorias de campo em cada uma das cia de processo de instabilização (es- pressuposto anteriormente apresentado,
áreas estudadas, por meio da realiza- corregamento de encostas e solapa-
o próximo passo foi a indicação da(s)
ção de investigações geológico-geo- mento de margens de córregos), con-
alternativa(s) de intervenção adequada(s)
técnicas de superfície, visando a iden- siderando o período de um ano e com
para cada setor de risco, destacando-se:
tificar os setores de risco através dos base nos critérios propostos pelo
Ministério das Cidades. serviços de limpeza e recuperação, obras
condicionantes dos processos de ins-
de drenagem e proteção superficial, re-
tabilização, evidências de instabilida- R1 - Risco Baixo a Inexistente. taludamentos, desmonte de blocos e ma-
de e indícios do desenvolvimento de
R2 - Risco Médio. tacões, obras de drenagem de subsuper-
processos destrutivos (Quadro 2).
fície, estruturas de contenção de peque-
2. Registro em fichas de campo padrão R3 - Risco Alto.
no porte cujas alturas não ultrapassam
das características de cada área es- R4 - Risco Muito Alto. 3,0 m, estruturas de contenção de médio

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Quadro 2 - Check-list dos condicionantes dos processos de instabilização, evidências de instabilidade e indícios do desenvolvimento
de processos destrutivos observados no campo.

CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL EVIDÊNCIAS/INDÍCIOS DE MOVIMENTAÇÃO


Talude natural / corte Trincas moradia/aterro
Altura do talude Inclinação de árvores / postes / muros
Aterro compactado/lançado Degraus de abatimento
Distância da moradia Cicatrizes de escorregamentos
Declividade Feições erosivas
Estruturas em solo / rocha desfavoráveis Muros / paredes “embarrigados”
Presença de blocos de rocha/matacões / ÁGUA
paredões rochosos Concentração de água de chuva em superfície
Presença de lixo/entulho Lançamento de água servida em superfície
Aterro em anfiteatro Presença de fossas / rede de esgoto / rede de água
Ocupação de cabeceira de drenagem Nascentes d’água
Vazamentos

VEGETAÇÃO NO TALUDE OU PROXIMIDADES MARGENS DE CÓRREGO

Presença de árvores Tipo de canal (natural / sinuoso / retificado)


Vegetação rasteira Distância da margem
Área desmatada Altura do talude marginal
Área de cultivo Altura de cheias
Trincas na superfície do terreno

a grande porte cujas alturas são superi-


ores a 3,0 m, obras lineares de proteção
de margens de canais e remoção de mo-
radias.
Após a indicação e quantificação
das intervenções, bem como a estimati-
va de custos para cada setor de risco,
procedeu-se a elaboração de uma pro-
posta para hierarquização das obras de
redução de risco, considerando a priori-
dade das mesmas na gestão urbana como
um todo.

3. Aspectos da
geologia e
geomorfologia da área
Itapecerica da Serra localiza-se a Figura 1 - Delimitação do setor de risco mapeado a partir da foto oblíqua (ex - Jardim
sudoeste da bacia Sedimentar de São Paraíso, Setor 1).

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Paulo. A geologia do município é carac- cos onde predominam baixas declivi- de risco identificados, estes foram deli-
terizada pela presença predominante de dades, inferiores a 5% e nível freático mitados a partir das fotos oblíquas de
rochas cristalinas do embasamento Pré- pouco profundo. helicóptero e de “chão”. Entretanto, para
Cambriano (migmatitos, gnaisses graní- uma contextualização em nível munici-
• Morrotes: duas áreas com ocorrência
ticos e gnaisses miloníticos). Também pal, na Figura 3 está indicada, pontual-
de processos geodinâmicos onde pre-
ocorrem porções expressivas de mica xis- mente, a localização das áreas mapeadas
dominam amplitudes de 50m e declivi-
tos e metarenitos de médio grau meta- no município de Itapecerica da Serra,
dades de 20% mas com ocorrências
mórfico, incluindo xistos miloníticos e onde foram identificados setores com
restritas de áreas com declividades predisposição ao risco geológico, clas-
sedimentos quaternários depositados
maiores que 30%. sificados com alto e muito alto.
nas várzeas dos rios atuais. A ocorrên-
cia de sedimentos terciários associados • Morros baixos: 21 áreas com ocorrên-
à bacia Sedimentar de São Paulo é restri- cia de processos geodinâmicos, onde
predominam amplitudes de 100m e de-
5. Resultados
ta, limitando-se à porção leste do muni-
cípio (Figura 2). clividades de até 30%. Nas 35 áreas selecionadas, para o
mapeamento, foram delimitados 66 seto-
A geomorfologia do município ca- • Morros altos: sete áreas com ocorrên- res de risco geológico-geotécnico, sen-
racteriza-se pela presença de relevos cia de processos geodinâmicos, onde do 61 setores localizados em encostas e
suavizados, até porções com amplitude predominam amplitudes de 150 m e de- 5 setores em margem de córregos.
e declividade mais acentuadas, com alti- clividades elevadas, maiores que 30%.
tudes entre 800 e 900 metros. Nos 66 setores delimitados, um se-
• Áreas planas: uma área com ocorrên- tor foi descrito com grau de probabilida-
Nesse estudo, para o enquadramen- cia de processos geodinâmicos (topo de à deflagração de processos geodinâ-
to geomorfológico, foram adotadas as de morro). micos “muito alto”, 20 setores com grau
seguintes definições, que subsidiaram de probabilidade “alto”, 39 setores com
as descrições que compõem as fichas de grau de probabilidade “médio” e, final-
campo das áreas e setores de risco geo- 4. Áreas de risco mente, 6 setores com probabilidade “bai-
lógico: geológico-geotécnico xa” a “inexistente” (Figura 4).
• Planícies aluviais: quatro áreas com Em decorrência da escala de deta- Em termos dos processos geodinâ-
ocorrência de processos geodinâmi- lhe adotada no mapeamento dos setores micos identificados, 52% das situações

Figura 2 - Mapa geológico do município Itapecerica da Serra. Fonte: Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo.
Carta geológica da região metropolitana da Grande São Paulo. Escala 1:100.000. 1980.

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Aplicação da geologia de engenharia na redução de risco geológico urbano em Itapecerica da Serra...

Figura 3 - Localização das áreas do município de Itapecerica da Serra onde foram mapeadas situações de risco geológico.

de risco estão associadas a escorregamentos translacionais


rasos e rotacionais de solo, 32% a processos erosivos, 9% a
ação direta das águas superficiais (enxurradas), 4% a solapa-
mentos em margens de córregos e 3% a enchentes/inunda-
ção (Figura 5).
Nos 66 setores de risco delimitados, foram identificadas
419 moradias que se encontram ameaçadas, das quais quatro
foram classificadas com grau de probabilidade “muito alto”,
sendo estas indicadas para remoção imediata; 175 classifica-
das com grau de probabilidade “alto”; 209 com grau de pro- Figura 4 - Percentual do número de setores e os diferentes
babilidade “médio” e 31 com grau de probabilidade “baixo”. graus de probabilidade de ocorrência de processos perigosos.

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Os casos mais críticos observados
em campo receberam, por parte da equi-
pe técnica, atenção imediata com orien-
tação aos próprios moradores ou respon-
sáveis e indicação de medidas para a Pre-
feitura Municipal, conforme registrado
nas fichas de campo.

6. Critérios para
priorização das
intervenções
Visando ao estabelecimento de uma
ordem de prioridade entre as áreas e se-
tores a serem atendidos por intervenções
estruturais de redução de risco, foram
Figura 5 - Relação entre o número de setores mapeados e tipologia dos diferentes
adotados os critérios descritos a seguir. processos geodinâmicos, referentes às situações de risco identificadas.
1. O grau de risco (probabilidade de ocor-
rência de processos destrutivos). probabilidade “alto”, estas áreas fo- turais, demonstrou ser possível, a partir
ram priorizadas em razão de projetos de estudos dessa natureza, viabilizar a
Prioridade para os setores de risco de regularização da Prefeitura Munici- melhoria das condições de convivência
muito alto (R4), alto (R3), médio (R2) e, pal de Itapecerica da Serra). com o risco nesse município e em ou-
finalmente, baixo (R1). tros, a curto e médio prazo.
- Prioridade 4: setores de médio a gran-
2. O porte do setor (prioridade para os de portes com intervenções com cus- Especificamente, para Itapecerica
casos que resultem em maior número to por moradia atendida médio (entre da Serra, apontou a necessidade de in-
de moradias beneficiadas diretamente R$1.000,00 e R$5.000,00). tervenções imediatas para eliminação das
com a intervenção proposta), sendo: situações de risco alto e muito alto.
- Prioridade 5: setores de menor porte
- Setor de grande porte (>20 moradias com intervenções com custo por mo- Foram identificados, no município
em risco). radia atendida (entre R$1.000,00 e de Itapecerica da Serra, um setor de ris-
- Setor de médio porte (entre 10 e 20 R$5.000,00). co com grau de probabilidade MUITO
moradias). - Prioridade 6: setores com interven- ALTO, contendo quatro moradias amea-
ções com custo por moradia atendida çadas, e vinte setores de risco com grau
- Setor de pequeno porte (menos que de probabilidade ALTO, contendo 175
10 moradias em risco). alto (> R$5.000,00).
moradias ameaçadas.
3. A relação custo/moradia da interven- O Quadro 3 apresenta o resultado
da aplicação dos critérios de hierarqui- Para as moradias em risco das áre-
ção estrutural: prioridade para as situ- as Jardim do Carmo, Jardim Itapecerica,
ações que apresentam menor relação zação descritos, com as classes de prio-
ridades entre os setores de riscos alto e Parque Santa Amélia e Vila Geni, devem
custo/moradia. ser realizados monitoramentos perma-
muito alto (R3 e R4) mapeados, sendo
4. A inclusão da área ou setor em pro- que esse resultado deverá a partir do pre- nentes das situações de risco, até a com-
gramas municipais de urbanização, re- sente estudo servir como referência para pleta remoção prevista em projetos da
gularização fundiária ou saneamento. as ações de redução de riscos em Itape- Prefeitura e, eventualmente, implantadas
cerica da Serra. intervenções emergenciais, caso ocorra
- Prioridade 1: setor com risco geoló-
evolução das situações de risco descritas.
gico muito alto (R4).
As intervenções estruturais suge-
- Prioridade 2: setores com interven- 7. Conclusões ridas estão subordinadas, quase que ex-
ções com custo por moradia atendida
O Plano de Intervenções Estrutu- clusivamente, à avaliação das condições
baixo (< R$ 1.000,00).
rais para o município de Itapecerica da de risco (ao processo perigoso identifi-
- Prioridade 3: áreas com processo de Serra, que corresponde a uma das eta- cado, ao seu estágio de desenvolvimen-
regularização fundiária em andamento pas do Plano Municipal de Redução de to e à tipologia de obra adequada à elimi-
(embora nem todos os setores de ris- Risco - PMRR, que além das ações es- nação ou redução da possibilidade de
co das áreas 17 a 20 sejam de grau de truturais também prevê ações não estru- ocorrência do processo perigoso, ou pro-

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cesso destrutivo). À municipalidade de Quadro 3 - Proposta de ordem de prioridade para a execução de intervenções
Itapecerica da Serra caberá optar por estruturais para redução dos riscos identificados.
solução diversa daquela indicada se,
porventura, às alternativas de interven- Ordem de
Número e nome da área Setor
ção para redução de risco se sobrepuse- prioridade
rem projetos de interesse coletivo, de
1 13. Jardim Paraíso I 3
proteção ambiental ou de desenvolvi-
mento urbano que requisitem a remoção 3. Jardim Analândia 4
de assentamentos ou de moradias. 2
07. Jardim Idemori 2
Sugere-se que o mapeamento de
3 17 a 20. Jardim Sampaio I, II, III e IV Todos (*)
risco aqui apresentado seja utilizado para
ações preventivas e monitoramento de 09. Jardim Jacira 1
campo durante os períodos críticos de 13. Jardim Paraíso I 1
pluviosidade, principalmente, a implan-
tação de Planos Preventivos de Defesa 4 15. Jardim Pelúcio 1
Civil nos períodos chuvosos, indispen- 16. Jardim Potuverá 1
sável para a garantia da segurança dos
moradores das áreas mais críticas, até 22. Jardim São Marcos I 1
que se execute a intervenção estrutural 12. Jardim Marilu III 2
planejada.
13. Jardim Paraíso I 2
25. Jardim São Pedro II 2
8. Referências 5
27. Jardim Tereza Maria / Centro 1
bibliográficas 28. Mirante da Lagoa 1
BRASIL, MINISTÉRIO DAS CIDADES.
Treinamentos de técnicos municipais para 33. Parque Paraíso / Guatemala 1
o mapeamento e gerenciamento de áreas
urbanas com risco de escorregamentos, 07. Jardim Idemori 1
6
de enchente e de áreas contaminadas. 14. Jardim Paraíso II 2
Programa de Prevenção e Erradicação
de Riscos, Secretaria de Programas
Urbanos, disponível no site http:/
www.cidades.gov.br, acessado em junho Anais... São Paulo: ABGE, 1990, p.457-468.
de 2006. PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAPECERICA DA SERRA. Plano municipal de redução
CERRI, L.E.S., AUGUSTO FILHO, O. de riscos. Itapecerica da Serra - SP, 2006.
Riscos geológicos associados à ocupação ROSS, J.L.S., MOROZ, I. C. Mapa geomorfológico do Estado de São Paulo. Escala
de encostas no Brasil: um roteiro 1:500.000. 1997.
metodológico para a ação da Defesa Civil SANTOS, A.R. Dos. Geologia de Engenharia: conceitos, método e prática. São Paulo:
e de urbanistas. In: SIMPÓSIO ABGE (Publicação IPT 2797), 2002. 222p.
LATINO-AMERICANO SOBRE
RISCO GEOLÓGICO URBANO, 1, Artigo recebido em 28/06/2007 e aprovado em 17/12/2007.

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