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A doutrina clássica recusa a ideia dominante de uma hierarquia das fontes e até das normas do DI, precisamente porque assumia
esse Direito como um bloco normativo único, não aceitando qualquer distinção gradativa entre as fontes e/ou entre as várias
normas jurídico-internacionais. A tese dominante era, assim, a da absoluta igualdade entre as fontes ou entre as normas de
Direito Internacional. Para além disso, o artigo 38.º do Estatuto do TIJ enumera as fontes de DI mas não as hierarquiza.
Logo a seguir, o esforço continua no Pacto da Sociedade das Nações cujo artigo 20.º previa a hierarquização das normas ao
sancionar a abrogação automática todos os Tratados que lhe fossem contrários.
Depois, na Carta das Nações Unidas, que consagra, no artigo 103.º, a inoponibilidade aos Estados terceiros e à ONU dos Tratados
que não sejam conformes com as disposições da Carta.
Por último, o reconhecimento pela CVDT da existência de normas imperativas (ius cogens) (artigos 53.º e 64.º), introduzindo no
direito positivo da figura do ius cogens, a questão da hierarquia adquiriu nova dimensão que passou a exigir como condição do
seu estudo a prévia abordagem dessa figura, em que a Convenção procura assentar a construção de uma ordem pública
internacional.
A equidade só funciona como fonte de Direito quando prevista nos tratados e aceite expressamente pelas partes.
Os atos unilaterais estão em posição subordinada aos Costumes e aos Tratados só produzindo efeitos quando estes sejam
consentidos por uma norma consuetudinária ou convencional.
Os Costumes gerais fazem parte do DI comum ou geral, por isso, só podem ser extintos ou alterados por Costumes ou Tratados
com a mesma extensão. Como não há tratados universais, os costumes gerais estão, de facto, numa posição superior aos
tratados.
Mas, bem vistas as coisas, este artigo não pretende estabelecer qualquer hierarquia das fontes, mas apenas consagrar regra de
prioridade ou de primazia na utilização de cada grupo de fontes pelo Tribunal.
Costumes gerais ou Há uma nota de discordância: não admitem o mesmo lugar para os PGD.
universais
Para Silva Cunha, “os princípios gerais de Direito, embora quando entendidos como
Direito natural, desempenham função importantíssima como fonte material de
Tratados universais Direito Internacional, não são fonte formal, desempenhando a função meramente
subsidiaria de suprir as lacunas dos tratados e dos costumes internacionais”.
Atos unilaterais Já A. Gonçalves Pereira e Fausto Quadros proclamam a sua fidelidade à atribuição
de uma fundamentação jusnaturalista ao DI, tais princípios se situam acima do
costume e do tratado, salvo quando aqueles e estes forem ius cogens, então
estarão todos ao mesmo nível.
Assim, os princípios gerais devem ser colocados não acima das normas, como fazem A. Gonçalves Pereira e Fausto Quadros, mas
na mesma posição que as normas ocupam, visto que tais princípios são também normas, uma espécie particular de normas. Deste
modo, sempre que se refere a normas, nelas integra-se os princípios gerais de Direito, cujo lugar na cadeira hierárquica é aquele
que a norma ocupa.
CONCEITO
Conjunto de normas imperativas de DI geral que à partida são universais e inderrogáveis, mas estabelecem como as situações se
irão realizar.
Verifica-se que estas regras imperativas se distinguem das normas obrigatórias, posto que aquelas geram a nulidade dos atos que
lhes são contrários, e estas – as obrigatórias – geram simplesmente, no caso de serem violadas, responsabilidade internacional do
Estado.
Mas o preceito é ambíguo, podendo levar a pensar que se exige a aceitação e o reconhecimento unânime. Assim, a generalidade
da doutrina aceita que, para a formação do ius cogens, o artigo 53.º não exige a unanimidade. Se tal fosse necessário, a oposição
de apenas um Estado impediria a sua formação.
Faz-se notar que as normas imperativas têm uma natureza evolutiva, dado que, nos termos do artigo 64.º da CVDT, é possível a
emergência de novas normas imperativas. Disto resulta o caráter dinâmico dessas normas que, na opinião de Quoc Dihn, Patrick
Daillier Alain Pellet, é ditado pela necessidade de adaptação contínua do direito às condições variáveis da coexistência pacífica e
às variadas aspirações de novos Estados.
A doutrina tem vindo a aceitar como regras do ius cogens as seguintes: a proibição do uso ou ameaça da força nas relações
internacionais, a proibição do trafego de escravos, do genocídio e da pirataria, as normas relativas aos direitos do Homem e às
liberdades fundamentais, o princípio da igualdade dos Estados. Quanto às regras relativas à coexistência pacífica, ainda não é
líquido que elas constituam um verdadeiro ius cogens, embora hoje muitas e importantes vozes comecem a defender a natureza
imperativa dessas regras.
Grande parte dessas regras imperativas estão presentes na Carta da ONU. Outras, tendo em conta o caráter evolutivo e dinâmico
dessas normas, podem surgir de Tratados ou de Costumes. Em qualquer caso, tais regras, enquanto normas imperativas, estão
todas hierarquicamente ao mesmo nível, qualquer que seja a fonte donde emergem (Costume ou Tratado) e, no caso de emergirem
de Tratado, qualquer que seja a natureza deste. Esta paridade deixa de existir quando tais normas imperativas ,sejam de origem
costumeiras, sejam de origem pactícia, tenham natureza distintas, sendo umas de caráter universal e outras de caráter regional;
nesses casos o ius cogens universal deve ser colocado numa posição hierárquica superior à do ius cogens regional.
Relativamente às normas convencionais, começaremos por dizer que nesta parte do estudo só se tratará do ius dispositivum, dado
que já tratamos a questão do ius cogens atribuindo-lhe o lugar cimeiro na escala hierárquicas das normas, e que iremos proceder
à distinção entre as normas dispositivas da CNU e as mesmas normas contidas nos demais Tratados, visto que entendemos que elas
ocupam distintas posições.
Posto isto, podemos concluir dizendo que relativamente ao direito convencional a hierarquia das normas deve ser estruturada da
seguinte forma:
Normas do ius cogens universal contidas na CNU ou em qualquer Tratado universal ou para-universal:
Normas do ius cogens regional
Normas dispositivas da CNU
Normas dos Tratados gerais
Normas dos Tratados regionais
Normas dos Tratados bilaterais
PROPOSTA DE HIERARQUIZAÇÃO
Numa visão conjunta do direito convencional e do direito costumeiro, e tendo em conta os argumentos aqui aduzidos, a hierarquia
das normas deve ser a seguinte:
Normas do ius cogens universal de origem costumeira, contidas na CNU, ou em qualquer T universal ou para-universal:
Atos unilaterais
Nesta hierarquização fica em pé de igualdade os Tratados Gerais e os Costumes Universais, o mesmo acontecendo com os Tratados
Regionais ou Particulares e os Costumes Regionais ou Particulares, dado que em cada uma daquelas categorias – Tratados
Gerais/Costumes Gerais, Tratados Particulares/Costumes particulares – aqueles Tratados podem ser revogados por estes Costumes
e vice-versa.
VI. OS SUJEITOS
DO DIREITO INTERNACIONAL
ESTADO
O Estado deve ser visto como um fenómeno politico e jurídico. Existem várias conceções sobre o Estado,
O Estado é uma superestrutura específica – jurídico-política – determinada pelas relações sociais e de produção, com a principal
função de assegurar a coesão e a unidade de uma formação social, para garantir as condições de reprodução daquelas relações.
A relação do Estado com todos os níveis de uma formação social é uma relação de interioridade – produz-se no interior das relações
sociais e de produção, o Estado não pode ser colocado fora e acima da formação social para entrar em contacto com a sociedade
civil.
Por outro lado, a interioridade implica que a extensão do campo de ação do Estado dependa das formas de articulação desta
superestrutura com as outras instâncias regionais de uma dada formação social – trata-se de um campo cujos limites constituem e
especificam o Estado como instância regional e condicionam as formas e os graus de intervenção dessa instância nos outros níveis
de formação social.
Não existe uma linha rígida de separação entre o Estado e os demais níveis de uma formação social, que demarca e isola os espaços
específicos de cada um desses níveis, que os obriga a agirem no interior dos respetivos espaços e a não penetrarem na esfera
própria dos outros. No entanto, existem diferentes planos que cada nível ocupa, que devem ser articulados, condicionando a
extensão dos respetivos campos de ação. Todos têm o mesmo lugar de constituição – as relações sociais e de produção – o que
determina o grau de autonomia de cada um deles, bem como as formas específicas como se articulam.
Assim, a relação do Estado com outras instâncias regionais não é arbitrária e a intervenção ou a não intervenção do Estado nas
outras instâncias não é fruto do acaso ou do voluntarismo dos detentores do poder → é uma relação bem definida e caracterizada
por graus e formas específicas de intervenção ou de não intervenção de uns nas esferas próprias dos outros.
OSSATURA MATERIAL DA SUPERESTRUTURA JURÍDICO-POLÍTICA – ESTRUTURA INTERNA
A estrutura interna é produto da combinação dos diversos modos de produção coexistentes, sob a dominância de um deles, numa
dada formação social e da evolução do modo de produção dominante. Assim, a organização interna dessa estrutura e o papel que
cada elemento que a compõe exerce em cada momento varia com a variação daquela combinação e da evolução do modo de
produção dominante, o que gera formas diferentes de articulação desses elementos e do Estado com a sociedade civil.
O Estado não pode ser concebido como entidade historicamente imutável com campo de ação invariável, com uma relação sempre
igual com os outros níveis de formação e com uma estrutura cuja organização interna é sempre a mesma → o Estado deve ser visto
como um fenómeno que reveste formas necessariamente diferenciadas nas diversas fases da evolução histórica das sociedades.
• Ponto de vista estrutural: o Estado é constituído por conjunto de aparelhos, que são instituições onde o poder se materializa e
se concentra para nelas prosseguir os objetivos que propõem realizar ou, para nelas exercer o seu domínio.
Estas instituições são centros de poder, concentram o poder (relação de força entre detentores do poder e entre estes e os
destinatários do poder), mas não são meros instrumentos que os detentores do poder podem utilizar a seu belo prazer. Os
centros são atravessados pelos conflitos entre esses grupos gerados pela luta pela conquista do poder ou pela luta pela
hegemonia no seio do poder.
Estas instituições estão dotadas de autonomia e encontram-se organizadas hierarquicamente, hierarquia que reflete o poder
dos grupos que constituem o bloco no poder e que pode caracterizar-se por uma maior ou menor centralização.
Há duas séries de aparelhos que existiram sempre em todos os Estados e constituem a verdadeira estrutura política desta
superestrutura. O Estado no sentido político (que nos aparece na cena política internacional) é exatamente esta superestrutura que
acabamos de descrever: não deixa nem pode deixar, mesmo na sociedade internacional, de usar, conjunta ou isoladamente, aqueles
aparelhos.
Na sociedade internacional o Estado aparece como ordem política unitária, que visa assegurar e garantir a coesão de uma dada
sociedade, a unidade de uma dada formação social. A sua expressão política não se limita ao caráter coercivo, mas também abrange
a relação de poder entre os diversos grupos sociais, que reconduz à relação de domínio e de hegemonia. Nessa relação não está
apenas presente a coerção como também a ideologia, pelo que o Estado não pode deixar de ser visto como uma ordem
(organização) política global, na qual a ideologia e a repressão se articulam.
Melhor conceção política do Estado para compreender o papel político-ideológico deste na sociedade internacional, que pode ter
natureza dominantemente repressiva ou ideológica: dupla dimensão – repressiva e de domínio / ideológica e de hegemonia; a
superestrutura do Estado funciona tanto pela ideológica como pela coação.
Considera que a natureza e função da superestrutura do Estado não pode ser entendida apenas através da instância jurídica,
introduzindo um ponto de vista sociológico, para ultrapassar a visão estritamente jurídica.
Tem sido elaborada com base em três elementos: território, população e poder político.
CORRENTE SOCIOLÓGICA
Encabeçada por Leon Duguit, que defende que o Estado é um facto social que diferencia os governantes e os governados. Defende
o abandono do Estado como pessoa coletiva pois é apenas indivíduos e indivíduos no poder. Define o Estado: individuo ou indivíduos
de facto no poder, defendendo que este é a força que se impõe pelo constrangimento material.
CORRENTE JURIDICISTA
Apenas se pode definir o estado depois de tomar conhecimento das suas instituições de Direito Público.
Para combater o exagero sociológico radicaliza o formalismo da teoria jurídica do Estado. A natureza sociológica do Estado deve ser
tarefa dos sociólogos e historiadores, o campo jurídico não deve abranger essa análise.
O Estado é uma ordem de coerção, o povo é o conjunto de indivíduos submetidos a essa ordem coerciva. O território é o espaço
onde esta se desenrola e o poder politico é quem assume o domínio.
Defendida por Hans Kelsen, reside na radicalização da última corrente: nega toda e qualquer possibilidade de uma teoria sociológica
do Estado. Kelsen esforça-se por libertar a teoria jurídica (e do Estado) de toda e qualquer influência de elementos estranhos ao
direito, para apresentar o Estado como uma ordem normativa. Define o Estado: ordem juridicamente centralizada que apenas pode
ser ordem de coerção – os elementos do Estado só podem ser definidos juridicamente, isto é, apenas podem ser apreendidos como
vigência e domínio de vigência (validade) de uma ordem jurídica, pelo que o povo é o conjunto de indivíduos submetidos a uma
determinada ordem coerciva relativamente centralizada, o território é o domínio espacial de vigência de uma ordem jurídica
estadual, e o poder político é o domínio de vigência de uma ordem jurídica estadual efetiva. Esta tese é criticada fortemente pela
generalidade da doutrina que a acusa de ser demasiado formalista e normativista.
Apesar das críticas à teoria de Jellinek e das divergências relativamente à conceção jurídica do Estado, a teoria jurídica acabou por
aceitar os três elementos – população, território e poder político – que constituem o Estado, embora se discuta se tais elementos
são ou não constitutivos do Estado. Alguns autores acrescentaram outros elementos para correta conceptualização jurídica do
Estado.
• Duguit entendia que o conceito de Estado só estaria completo se aos três elementos apontados por Jellinek fosse
acrescentado: serviços públicos. São o conjunto de atividades cuja realização deve ser regulada, assegurada e fiscalizada
pelos governantes, e são elementos fundamentais para a elaboração do conceito de Estado, uma vez que esta
superestrutura é “uma cooperação dos serviços públicos organizados e fiscalizados pelos governantes”.
• Cabral de Moncada defende que o elemento mais importante é a ideia de Estado: “não é preciso ser-se um grande idealista
para imediatamente reconhecer que o elemento ôntico mais importante do Estado é a ideia desse Estado e não a
população e o território” e, ainda, o “fim valioso a atingir” dado que “esses elementos ônticos mais não são senão
precisamente aqueles de que sempre se falou na teoria, uma população, um território, uma ideia, uma organização jurídica
e um fim valioso”.
• André Hariou acrescenta o elemento de uma ordem social, económica, política e jurídica que o poder se compromete a
realizar – organização estável de relações.
Independentemente do número dos elementos ou a sua importância para cada autor, o conceito jurídico de Estado
unanimemente defendido é próximo daquele proposto por Jellinek: comunidade de associação composta de homens
sedentários e dotada originariamente de um poder de dominação, caracterizada como uma unidade essencialmente
teleológica e como uma associação coercitiva de dominação, no interior da qual se inscrevem as relações interindividuais
de dominação/subordinação.
• Inócuo e neutro
A redução do Estado a um conceito puramente jurídico tem como objetivo escamotear a sua verdadeira natureza e leva a três
consequências fundamentais que poem em causa as justificações teóricas apresentadas para a aceitação do conceito Jellinekiano
do Estado:
As teorias jurídicas assentam na combinatória dos três elementos propostos por Jellinek e concebem o Estado como uma
superestrutura exterior à sociedade civil e colocada acima desta. Isto não consegue explicar satisfatoriamente o fenómeno Estado,
mesmo quando reconhecem a importância da análise sociológica e a introduzem na abordagem deste fenómeno.
É certo que os elementos povo, território e poder político são importantes em qualquer análise do fenómeno Estado, mas também
é certo que tais elementos não podem ser reduzidos a puros conceitos jurídicos desconexados com a realidade histórica. É esta
conexão com a dialética da história que dá vida e sentido a esses elementos, precisamente porque não permite uma combinação
sempre igual ao longo da evolução de cada sociedade e em cada tipo de Estado. É necessária uma análise diacrónica de cada
elemento e que se estabeleça uma relação direta de cada um deles e de todos com a realidade concreta de cada momento.
CONCLUSÃO
O Estado não pode ser visto exclusivamente como fenómeno jurídico, mas sim como superestrutura jurídico-política onde o poder
se organiza em aparelhos repressivos e ideológicos através dos quais é exercido com o objetivo de assegurar a coesão da unidade
de uma dada formação social.
POPULAÇÃO
Conceito bastante controverso. A variedade de aceções em que se usa o termo povo dá origem a perigosas confusões e erros
(Heller). No âmbito do DI, a ideia de povo está ligada à de cidadania e de nacionalidade (principais elementos jurídicos de conexão
entre o povo e o Estado).
É o conjunto de indivíduos, súbditos ou nacionais, de um Estado sobre o qual este exerce os seus poderes; são destinatários da
ordem jurídica estadual. Podem estar ligados pelo vínculo da nacionalidade ou pelo vinculo da submissão à ordem jurídica estadual
(Kelsen). A ideia de povo relaciona-se com o âmbito pessoal de aplicação do direito do Estado, porque o conjunto de indivíduos que
constitui o povo é o destinatário da ordem jurídica estadual. Assim, define o povo como o domínio pessoal da vigência da ordem
jurídica estadual – existe uma relação de pertença da população ao Estado, que se traduz na submissão de todos os indivíduos que
a constituem à ordem jurídica estadual. Não existe outro critério que ligue o povo ao Estado que não seja o da referida submissão
– a relação entre o individuo e o Estado é uma questão jurídica.
Para os que entendem que a nacionalidade explica a relação entre o povo e o Estado, é necessário distinguir o povo da população,
uma vez que a segunda recobre uma realidade mais ampla, por se referir a todas as pessoas, nacionais ou estrangeiras, que vivem
no território de um Estado. Assim, a população não constitui nem pode constituir um elemento definidor do Estado.
Qualquer que seja o conceito de povo, em todos eles há dois elementos fundamentais: o poder político e o território estatal. Em
todos os conceitos jurídicos de povo: os indivíduos que o integram vivem ou residem no espaço físico tridimensional rigorosamente
delimitado que é o território, no interior do qual do Estado exerce (sobre o povo) os seus poderes soberanos.
Quoc Dihn, Patrick Daillier e Alain Pellet dizem que a noção de povo não é suficiente para recobrir todas as realidades que devem
ser tomadas em conta pelo direito e pela politica internacional, tornando-se necessário privilegiar o fator sociológico e político que
é simbolizado pela nação. De facto, é frequente identificar e associar a ideia de povo com a de nação, da qual tem resultado um
esforço de elaboração doutrinal do conceito de nação do qual se procura extrair a ideia de povo. Mas como não existe nenhum
critério unanime aceite para definir essa realidade sociológica que é a nação, a doutrina tem deparado com enormes dificuldades
na elaboração deste conceito e entrado em desacordo quase total sobre essa matéria.
CONCEÇÃO OBJETIVISTA
A nação deve ser definida como um conjunto de fatores objetivos, historicamente comprovados, como a raça, língua, cultura.
A nação deve ser definida com base num conjunto de fatores materiais e objetivos tais como a raça, a língua, a cultura, a história
comum. A individualidade de uma nação não resulta de uma opção ou de um ato coletivo de vontade dos indivíduos que a
constituem, mas daquele conjunto de fatores objetivos, historicamente determinados e comprovados, que se produzem
independentemente da vontade da coletividade humana que constitui a nação. Esta conceção, nas suas manifestações extremas,
conduziu à proclamação da raça e da língua como os principais fatores determinantes da individualidade de cada nação e a tese
segundo a qual seria legitimo integrar num único Estado todos aqueles que fazem parte de uma mesma nação definida com base
naqueles dois fatores objetivos.
Teoria sofre grandes críticas, dado que se fosse levada à prática acabaria por introduzir um elemento destruidor da atual divisão do
mundo em Estados, obrigando a refazer o mapa-mundi, o que seria fator de destabilização das relações internacionais e só serviria
os Estados com ambições expansionistas, por justificar anexações territoriais.
A teoria tropeça com o conceito de raça e com a qualificação desta, que não tem sido possível clarificar na Antropologia e noutros
ramos do saber, tanto mais que a miscigenação verificada em todos os povos pôs fim à ideia de raça pura ou à que procura identificar
um povo com uma raça-
O DI não impõe a obrigatoriedade dos Estados serem constituídos por uma única nação, e assim não se vê utilidade em integrar o
povo numa única nação, ou em identificar nação com povo, pois a realidade internacional mostra Estados plurinacionais.
CORRENTE SUBJETIVISTA
Vontade dos indivíduos de viver em comum que constitui o principal critério de definição de uma nação. A nação é produto da
vontade dos indivíduos, para que haja nação é necessário que os indivíduos que a compõem manifestem a sua vontade de viver em
comum. É necessário consultar a vontade da população ou comprovar essa vontade, para formar a nação. Mas Ruibola Santana
defende que este consentimento não surge do nada; não é uma mera e arbitraria eleição, pelo que os subjetivistas defendem que
a nação é um princípio universal, uma alma, que resulta das complicações profundas da história, das tradições e recordações do
passado.
Crítica: pode levar a que pequena população manifeste a vontade de se constituir em nação, reclamando a sua independência ou
a sua integração num Estado diferente daquele a que pertence.
TEORIA ECLÉTICA
A nação é uma sociedade natural de homens que, pela unidade do território, da origem, dos costumes e do idioma, se conformam
numa comunidade de vida e de consciência nacional.
Para superar dificuldades das teorias anteriores. Na formulação do conceito de nação deve ter-se em conta os fatores objetivos e
subjetivos. A nação é uma sociedade natural de homens que, pela unidade do território, da origem, dos costumes e do idioma, se
conformam numa comunidade de vida e de consciência nacional.
CONCLUSÃO
As ideias de nação e nacionalidade não são pacíficas. A partir da ideia de nacionalidade estabeleceu-se o princípio segundo o qual
todas as nações têm o direito de se constituírem em Estados e conduziu-se à ideia de Estado Nacional. Modernamente, esta ideia
consubstancia o principio segundo o qual os povos têm o direito de disporem deles próprios, consagrado na CNU (nº2 do artigo 1.º
e artigo 55.º), principio que tem na sua base a teoria eclética.
É difícil elaborar o conceito de povo ou de nação. Apesar disso, não é possível conceber o Estado sem uma população, quer se
entenda por esta um conjunto de indivíduos juridicamente ligado ao Estado por um vinculo de nacionalidade, quer se entenda que
se trata de todos os habitantes – nacionais ou estrangeiros – que se encontram submetidos à ordem jurídica estadual.
TERRITÓRIO
Espaço geográfico concreto no interior do qual a ordem jurídica estatal é exercida, bem como as competências do Estado.
Andre Haurriou diz que os Estados são formações territoriais – não há Estado sem território. A doutrina e a prática jurídico-
internacional consagram o princípio segundo o qual a perda total do território estatal tem como consequência o desaparecimento
do Estado. O fenómeno Estado não é concebível sem território.
O território exerce uma importante função político-jurídica e sociológica: primeiro, George Bourdeau diz que ao determinar o
quadro territorial, o poder inscreve a nação na realidade permitindo a síntese do solo; segundo, o território é uma condição da
independência do Estado; terceiro, o território é o espaço geográfico concreto no interior do qual a ordem jurídica estatal é
exercida. Kelsen: o território do Estado apenas pode ser definido como o domínio espacial de vigência da ordem jurídica estadual.
Princípio da efetividade: a soberania territorial nasce do exercício efetivo dos poderes/funções estatais;
Princípio da relatividade da efetividade: as características do exercício das funções estatais devem ser apreciadas de acordo
com as circunstancias historias concretas;
Princípio Uti possidetis: os Estados devem respeitar e manter a fronteira colonial herdada, no momento da independência,
pelo novo Estado.
Tipos de aquisição:
Aquisição originaria: modo originário de aquisição; quando o território sobre o qual se estabelece a soberania não se
encontra submetido a nenhum outro Estado, sendo uma res nullius;
Aquisição derivada: quando o território se encontrava submetido a outro Estado; modos de aquisição que resultam do
exercício de competências sobre territórios que já se encontram submetidos à soberania de outro Estado no momento em
que se inicia aquele exercício de competências;
Cessão de administração ou de arrendamento: forma derivada de aquisição de território que tem na sua base um acordo
entre o Estado cedente e o cessionário, através do qual se transfere a supremacia territorial, conservando a soberania do
território cedido;
o Cessão de administração: transferência temporária dos poderes de um Estado sobre um território para outro
Estado, que passa a exercer sobre o território cedido a supremacia territorial, mantendo-se a soberania territorial
do Estado cedente;
o Cessão de arrendamento: transferência de supremacia territorial, mas mediante o pagamento de uma renda. O
Estado cedente, pela transferência feita por tempo indeterminado, passa a receber do cessionário uma renda,
mantendo a soberania territorial.
Protetorado: o protetor passa a exercer poderes sobre o protegido; relação entre dois Estados, protetor e protegido, nos
termos do qual o primeiro passa a exercer poderes sobre o segundo em sede da politica externa ou até mesmo interna
deste. Esta relação é estabelecida por tratado, no qual são indicados os poderes do Estado protetor e as limitações à
soberania do Estado protegido.
Condomínio: 2 ou + estados exercem as funções num dado Estado, mas nenhum tem a sua soberania, apenas a “gestão”;
Servidão: limites impostos pelo DI à soberania territorial de um Estado a favor de outro, que no território do primeiro pode
exercer certos direitos territoriais. Pode ser positiva (quando um Estado exerce sobre o território de outro certos direitos
e este é obrigado a tolerar o exercício desses direitos) ou negativa (o Estado titular da soberania territorial é obrigado a
abster-se, total ou parcialmente, do exercício da sua soberania territorial).
O território é propriedade do Estado que sobre ele exerce um direito real (de propriedade). Laband defende que a relação entre o
Estado e o território é uma relação jurídica de direito real, idêntica àquela que o proprietário estabelece com os seus bens imoveis.
Para os defensores desta teoria, como Duguit, o território é o limite material dentro do qual o Estado exerce a sua competência.
Ligação direta entre o poder do Estado e o seu território.
Esta teoria, formulada por Radnitzky e por Kelsen, Verdross e Delbez, defende que o território é a esfera local de competências, o
espaço geográfico no interior do qual a ordem jurídica estatal vigora e é aplicável. Teoria mais acolhida.
A definição de limites do território estatal importa para saber qual o espaço geográfico no interior do qual o Estado pode exercer
as competências e poderes. A fronteira é a linha ideal que separa o território de dois Estados ou de um Estado do da terra nullius.
Para Silva Cunha, a linha ideal não é a fronteira, mas sim o limite. Contudo, a doutrina adota ambas as designações para o mesmo
efeito.
Para se determinar os limites do território de um Estado torna-se necessário proceder a duas operações que constituem o processo
de fixação ou determinação dos limites.
DELIMITAÇÃO DEMARCAÇÃO
Objetivo de fixar o âmbito espacial dos poderes e competências dos Processo puramente técnico, através do qual
Estados, mediante acordo entre estes. Fixa os limites dos territórios destes as partes executam o acordo estabelecido.
Estados. Fixam os limites e o traçado, bem como os critérios naturais Fixam materialmente, no terreno, os limites
(mediante acidentes geográficos do solo – rios e montanhas), artificiais ou previamente estabelecidos por acordo de
imaginários (linhas astronómicas ou geométricas) que devem ser adotados delimitação, não podendo ser feita qualquer
para a definição das linhas fronteiriças. Concluída esta fase, inicia-se a alteração.
demarcação.
PODER POLÍTICO
CONCEITO
Não existe unanimidade nas opiniões relativas ao conceito de poder político: uns autores identificam o poder com o Estado
(Bonaudi), outros entendem que o poder político é algo exterior ao Estado, mas que nele se institucionaliza (Bourdeau) e ainda há
quem entenda que o situem fora do Estado por entenderem que é um fenómeno relacional, e materializam-no nas instituições
estatais (Weber, Lowenstein, Poulantzas).
Entendemos segundo esta última conceção: o poder político é um fenómeno relacional entre grupos antagónicos/contraditórios
(dirigentes e dirigidos), que realizam os seus interesses numa relação simultânea de hegemonia e de domínio.
O poder politico tem tendência a materializar-se nas instituições estaduais, pois nelas existe maior capacidade para realizar os
seus interesses. Isso leva à identificação entre poder e Estado. Contudo, são realidades distintas e a sua identificação reduz a
conceção de poder político, porque nem todo este se encontra incorporado no Estado.
No DI, o poder político é um elemento do Estado, que só tem relevância jurídico-internacional enquanto organização institucional,
que efetivamente exerce domínio sobre população e território e defende os interesses do Estado no exterior. O poder só
interessa ao DI quando materializado em instituições.
O conjunto de órgãos, instituições e autoridades que exprimem a soberania do Estado e garantem o cumprimento das
obrigações internacionais. Por isso, o DI exige a efetividade do poder político, ou seja, a capacidade real de este exercer
todas as funções estatais, a de manter a ordem e segurança internas e a de fazer respeitar os compromissos
internacionais;
Fenómeno organizacional e de domínio efetivo
PRINCÍPIO DA SOBERANIA
A soberania é a fonte sociológico-política de onde brotam as competências do Estado. No âmbito do DI, a soberania reconduz à
ideia de independência do Estado na ordem jurídica internacional, que lhe confere direitos e lhe atribui obrigações. Kelsen
defende uma relação de subordinação, onde o Estado se submete à ordem jurídica internacional.
Exclusividade de competências: o Estado monopoliza, no interior do território, o exercício dos poderes (legislativo,
administrativo, jurisdicional e coercivo); dentro do seu território só o Estado exerce competências; Kelsen diz que esta
exclusividade só é absoluta no âmbito do poder coercivo, uma vez que nada impede a ordem jurídica internacional de exercer
no interior do território estatal competências;
Autonomia de competências: o Estado, no interior do seu território, pode e deve agir com independência, sem estar
dependente de ordens ou instruções de outros Estados ou outros entes jurídico-internacionais. O Estado pode e deve decidir
com plena liberdade sobre a sua organização político-constitucional, sem ser obrigado a respeitar comandos, direitos ou
indiretos, de outros Estados.
Plenitude de competências: no interior do seu território, a competência do Estado é ilimitada, no sentido que este pode
livremente determinar a extensão da sua competência material. A competência estatal é plena e tem como única limitação as
obrigações por ele assumidas internacionalmente. A sua competência é ilimitada dentro do seu território;
O princípio da soberania consagra a liberdade de ação do Estado, entendida como ausência de subordinação a outros Estados ou
outros sujeitos e como autonomia de organização das suas estruturas jurídico-constitucionais e de ação no interior do seu
território, e estabelece a presunção da regularidade de todos os atos praticados pelo Estado no interior do seu território.
PRINCÍPIO DA IGUALDADE
Com origem no pensamento jusnaturalista, os Estados são juridicamente iguais, ou seja, todos têm os mesmos direitos e
obrigações. Este princípio assinala a inexistência de autoridade superior aos Estados na cena internacional. Negação pelo DI de
concessão de tratamento diferenciado aos Estados.
Kelsen advoga que nem todos os Estados têm os mesmos direitos e obrigações. No entanto, qualquer que seja o sentido
atribuído, este princípio implica a reciprocidade de direitos e obrigações, a reciprocidade de vantagens, a não discriminação e a
igualdade perante a lei.
DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS ESTADOS
Da igualdade soberana decorrem direitos e deveres. A ordem jurídica internacional reconhece direitos fundamentais, que
decorrem da personalidade jurídica do Estado. A doutrina entende que existem os seguintes:
Direito à autoconservação;
Direito à igualdade;
Direito aos signos e símbolos nacionais;
Direito ao comércio.
Porém, como alguns direitos acima mencionados não têm como correlativos deveres fundamentais, autores como Verdross
entendem que só são fundamentais aqueles direitos que têm frente a eles deveres fundamentais, uma vez que só os direitos a
que correspondem deveres é que são direitos plenos. Verdross apenas considera os seguintes: direito à independência; direito à
supremacia territorial e o direito à honra.
DIREITO À INDEPENDÊNCIA
Direito que os Estados têm de, no interior do seu território, e com respeito pelo DI, decidir com plena autonomia a sua política
interna e externa e de ver respeitadas as suas decisões. A este direito corresponde o dever de não ingerência nos assuntos
internos, que é o respeito reciproco pela independência política e organização jurídico-constitucional interna de cada Estado.
Proíbe-se a intervenção nos assuntos internos dos outros.
Faculdade que o Estado tem de decidir autorizar ou não, no interior do território, a prática por outros Estados, de atos de caráter
oficial. Assim, só um Estado detentor da supremacia territorial pode exercer no espaço geográfico poderes e autorizar a prática de
atos por outros Estados. A este direito corresponde o dever de não ingerência na supremacia territorial dos Estados, que consiste
no dever imposto a cada Estado de não praticar atos que denunciem o exercício de poderes públicos no território do outro, sem o
consentimento deste.
DIREITO À HONRA
Direito que cada Estado tem de fazer respeitar a sua honra, isto é, o seu bom nome, a sua dignidade e a consideração de que goza
na sociedade internacional. Nenhum Estado tem de tolerar as ofensas à sua honra. A este direito corresponde o dever de os
Estados se absterem de praticar atos que atentem contra a honra de outros e de garantirem o respeito pela honra dos outros
Estados.
Do princípio da igualdade soberana dos Estados decorre o dever de cooperação internacional para a manutenção da paz e da
segurança internacional e o do respeito pelo DI.
ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS
Permanentes e autónomas, porque tal como os Estados podem assumir os comportamentos que quiserem.
Características: são dotadas de mecanismos de controlo da legalidade e validade dos atos (direito derivado – deriva de um Tratado).
2º decisões (UE)
3º recomendações (ONU)
4º pareceres (TIJ)
5º diretivas (UE)