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Modernidade e Pós-Modernidade:

A arte e o consumo em massa – Uma


perspectiva teórica

Pedro Manuel Rodrigues Linhares


27, de Abril de 2011
Paisagem, Natureza e Representação
Departamento de Ciência da Vida

A Arte, mais precisamente a sua produção é uma das poucas características que
distingue o ser Humano dos demais seres. A produção desta faz-se desde a Pré-História,
sendo primeiros vestígios encontrados em Chauvet, França, datam do Paleolítico
Superior, há cerca de 32000 anos. Estes foram denominados mais tarde por Arte
Rupestre. Esta foi a primeira expressão do que chamamos hoje de Arte, contudo esta foi
evoluindo, transformando-se, revolucionando-se ao longo da História da Humanidade.
Desde então são vários os períodos que foram afectados e influenciados, pelas
mudanças introduzidas pelos movimentos artísticos, uma dos mais conhecidos o
movimento Renascentista ou da Renascença. De um modo mais explícito, Alois Riegle
definiu isto de Kunstwollen, ou seja, é a projecção artística da intenção colectiva [(a
vontade artística)], […] a maneira como uma cultura específica procura dar forma, cor e
linhas à sua arte. Para ele este conceito de vontade artística procurou mostrar como a
Arte efectua grandes mudanças na estrutura e actividades dos colectivos. (Benjamin,
1936: pág. 10). Dentro desta perspectiva, é impossível falar de Arte sem incluir,
provavelmente, os dois grandes períodos da História onde todo o conceito e as esferas
que gravitam em volta da Arte foram afectas pela vontade artística, falamos, então, do
Modernismo e do Pós-Modernismo.
Os movimentos da Arte podem ser vistos como evolução ou uma ruptura com seu
anterior, mas quando abordamos o Modernismo e Pós-Modernismo, será
contraproducente não os abordar como uma sucessão do anterior em alguns aspectos e,
ao mesmo tempo uma ruptura noutros. Isto para se entender sociologicamente as
mudanças na luta de poderes e as interdependências envolvendo especialista culturais e
outros grupos que ajudam a produzir teorias pós-modernas, artefactos culturais e
sensibilidades. Estes dois períodos devem ser vistos como um processo de longa
duração, de desenvolvimento cultural, que teve repercussões grandes ao nível das lutas
pela independência, em especial nas esferas económicas. Além disto está também
associado a estes períodos uma expansão significativa no potencial do poder cultural, e
dos seus especialistas. (Featherstone in Scott Lash, 1992: pág. 265 - 266).
Modernismo. Quando falamos deste é importante, como se tratasse de um exercício
de cálculo aritmético, associar de imediato um tempo Histórico, um país e uma cidade.
Falar de Modernismo é falar do século XIX, de França e mais concretamente de Paris, a
cidade Luz. Para compreender como o movimento, é necessário entender como

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funcionava Paris neste tempo, e quais eram a linhas mestras que sustentavam o
quotidiano de uma sociedade estratificada, entre a Burguesia em ascensão e o Povo, que
vinha em massa do campo, trabalhar para a metrópole. A cidade a partir da década de
1750, ainda antes da Revolução Francesa de 1789, já era modelada pelos princípios
ingleses e chineses para conseguir um efeito natural da paisagem. Esta modelagem e
aproximação ao natural, serviu de ponto de partida para que a partir do início de 1800, a
França fosse redescoberta nos seus locais campestres e históricos. (Green, 1990: pág.
95). Este apetite voraz pela Natureza transformou por completo Paris, tornando mercado
de todo o tipo de representações da Natureza, desde os livros de viajem até às paisagens.
Contudo, tudo isto obedecia a um modo próprio de expor estas representações, o
chamado Pitoresco. Uma representação da Natureza só seria Natural (a chamada
Naturas Naturans) se fosse representada de determinada maneira. Mais tarde com o
advento de novas técnicas, o significado do dinheiro e do trabalho, atravessam polos
mutuamente excludentes. Isto porque a circulação de representações da natureza
potenciada pelos novos métodos, como a litografia, impressora, entre outros, ajudaram a
mercantilizar essas representações, sobre as mais variadas formas a natureza.
A partir destas novas formas de reprodução que se entra na era da mercantilização e
do consumo em massa, e é nesta que pela primeira vez as ditas obras de arte, deixam de
ser vistas como tal e passam a ser um objecto de consumo. Como Adorno nos diz, é
neste momento em que a Arte se torna consumo em massa, que o carácter comercial da
cultura faz com que as diferenças entre esta e a vida prática desapareçam. Assim sendo
ambas se vão influenciar mutuamente, mas em última análise é a Arte que transforma o
quotidiano das pessoas, por tudo aquilo que produz. Logo perde-se no processo de
reprodução o momento de independência que é consagrado à obra de arte (Adorno,
1991: pág. 1 – 29) o aqui e agora deixa de existir (Benjamin, 2008: pág. 21), perde-se a
barreira entre a cultura e a realidade empírica. Podemos então interpretar A Fonte, de
Marcel Duchamp, como um exemplo desta problemática. Á luz do aqui e agora, isto é
de quando a obra de arte foi produzida, era de facto uma obra de arte. Contudo tendo em
vista a dessacralização da obra em si, e vista como objecto de reprodução em massa é
um simples urinol. Isto porque a reprodução em massa retirou a parte do aqui e agora,
passando a ser visto pelo leigos como um urinol que tem uns riscos a mais, e também
associando os urinóis à Fonte de Duchamp. E porque é que o aqui e o agora são
importantes para explicar a passagem de obra de arte a objecto de consumo em massa?

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Walter Benjamin explica-nos isto de uma forma clara. A obra de arte baseia-se num
testemunho histórico desde o momento da sua produção (o aqui e o agora), que são o
contexto e o momento na História em que é produzida a obra de arte, bem como as
mudanças de propriedade. Isto tudo justificado pelo estado físico da própria obra, que
vai fundamentar o pressuposto anterior. Como o testemunho histórico é fundado na
condição física da obra de arte ao longo do tempo, se o primeiro é prejudicado pela
reprodução, e como esta não representa nada para a/as reprodução/reproduções, as
autoridades da obra de arte estarão em perigo. Convém ainda explicar que o objecto
reproduzido tecnologicamente é retirado da esfera da tradição. Assim ao se replicar uma
obra de arte, vezes sem conta, substitui-se uma existência de massa para uma existência
única. E, ao permitir que a reprodução chegue ao seu destino, a obra de arte como
objecto de consumo é novamente actualizada, todas as vezes que é reproduzida
(Benjamin, 2008: pág. 22).
Como continuidade do Modernismo, mas com bastantes rupturas à mistura chegou
o Pós-Modernismo. Este introduziu mudanças significativas na luta de poderes, e nas
interdependências envolvendo especialistas culturais e outros grupos que ajudaram a
produzir teorias, artefactos culturais e sensibilidades pós-modernistas. Segundo Mike
Featherstone, nos vários significados que o Pós-Modernismo tem, encontram-se os
seguintes denominadores comuns: a obliteração das fronteiras entre arte e o quotidiano;
o colapso da distinção entre cultura erudita e cultura popular; e uma promiscuidade
estilística e uma mistura de códigos lúdicos. No essencial há uma desclassificação
cultural (Featherstone in Scott Lash, 1992: pág. 265 – 268) e transformada como
objecto de consumo em massa, deixando de ser só feita em Paris (alusão à Europa que
estava presa ao pergaminhos da cultura francesa, e da sua relação com a arte), mas
agora por todo o mundo. No consumo há um momento importante, que é o momento da
compra, quer seja de uma obra de arte quer seja de um objecto de consumo, ou outra
coisa, que é o da compra. Para Daniel Miller, a compra é vista como um processo
secundário, do desenvolvimento da manufactura. Segundo este a industrialização
providenciou o pano de fundo para o estatuto da subsequente transformação da
sociedade económica moderna: a ascensão do colonialismo é explicada em termo da
procura de mercados, e as guerras em termos de competição económica. Ainda para
Miller, e como já antes vimos, a Arte tende a mudar o modo de pensar, de agir, ou seja,
tem a capacidade de introduzir profundas alterações na sociedade.

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O Pós-Modernismo potenciou a chamada cultura dos 3 minutos, ou seja, quase tudo


dura pouco tempo, e é logo substituído por outra coisa diferente. Esse ecletismo pós-
moderno e instantâneo, que naturalmente, dota de liberdade as pessoas e lugares,
escapando assim ao peso morto das múltiplas tradições, gerarando as suas proprias
sociações. Mas isto conduz a uma distopia, destruindo as pessoas e lugares,
especialmente porque os novos desenvolvimentos saem rapidamente de moda. Contudo
no século XXI poderá muito bem haver uma paisagem muito diferente da pensada
anteriormente, como era pensado o campo no século XIX e XX. Porém ainda é muito
duvidoso que o campo (e o seu modo como é pensado) permanecerão como um espaço
de representação, de memória, mistério e surpresa. Esses lugares podem muito bem ter
sido até então literalmente consumidos, usados, desperdiçadas, dissipados (Urry, 1995:
228 - 229).
Em conclusão podemos dizer que a Arte é um transformador sociol, económico e
cultural da sociedade. A sua influencia os modos de pensar nos diferentes periodos da
História, em especial, no Modernismo e Pós-Modernismo. Já que é entre estes periodos,
influenciado por vários movimentos que apareceram e desapareceram durante estes que
a Arte deixa de sê-lo e passa a ser objecto de consumo em massa. Dos vários pontos de
vista dos diferentes autores foi, em certa medida, possivel andar pelas principais
autroestradas das influencias e pensamentos que caracterizaram estes dois periodos.
Ambos os movimentos influenciaram varios campos da vida quotidiana, que até aos
dias de hoje são utilizadas técnicas reminescentes desses periodos e que possivelmente
irão continuar a influenciar o próximo periodo e todos os movimentos culturais, sociais
e económicos que surjam. O certo é que nada voltará a ser como dantes, ainda que possa
ter alguma semelhanças com o passado.

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Bibliografia:

Bell, Desmond; 1993, “Framing Nature: Frist Steps into the Wilderness for a Sociology
of the Landscape” in Irish Journal of Sociology, Vol.3;
Green, Nicholas; “The Spectacle of Nature. Landscape and Bourgeois culture in
Nineteenth.-Century France”, Manchester, Manchester University Press;
Adorno, Theodor; 1991, “The Culture Industry. Selected essays on mass culture”,
London, Routledge;
Benjamin, Walter; 2008 “The Work of Art in the Age of its Technological
Reproducibility and other Writings on Media”, The Belknap Press of Harvard
University Press, Cambridge, Massachusetts; London, England;
Urry, John; 1997, “Consuming Places” Londres, Routledge;
Featherstone, Mike; “Postmodernism and the aestheticization of everyday life” in
Modernity and Identity, Cambridge, Massachusetts; Oxford, England;

Imagens da capa:

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c0/Lautrec_la_troupe_de_mlle_egla
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