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Este texto não é para ser "os princípios que definem" um "movimento"
anarquista verde, nem mesmo um manifesto anti-civilização; é um olhar sobre
idéias e conceitos básicos de membros de coletivos que dividem consigo e
outros que se identificam com os anarquistas verdes. Nós entendemos e
celebramos a necessidade de manter nossas visões e estratégias abertas, e
discussões sempre são bem vindas.
Nós sentimos que cada aspecto do que pensamos e do que somos precisam
ser desafiados e permanecer flexíveis se nós quisermos crescer. Não estamos
interessados em desenvolver uma nova ideologia, perpetuar uma visão de
mundo única. Nós também entendemos que nem todos anarquistas verdes são
especificamente contra a civilização (mas custamos a entender como alguém
pode ser contra todo tipo de dominação sem pensar em suas raízes: a própria
civilização). Até aí, entretanto, muito dos que usam o termo "anarquista verde"
criticam a civilização e tudo que vem junto com ela (domesticação,
patriarquismo, divisão de trabalho, tecnologia, produção, representação,
alienação, controle, destruição da vida, etc.).
Um fator que nós achamos ser importante para começar este texto é a
distinção entre "anarquia" e "anarquismo". Alguns poderão entender isso como
uma pura questão trivial ou semântica, mas para muitos pós-esquerdistas e
anarquistas anti-civilização, esta diferenciação é importante. Enquanto o
anarquismo serve como um importante ponto de referência histórica do qual se
extrai inspirações e lições, ele tem se tornado muito sistemático, fixo e
ideológico - tudo o que a anarquia não é. Admitidamente, a anarquia tem muito
pouco a ver com a orientação social/política/filosófica do anarquismo e mais a
ver com aqueles que se identificam como anarquistas. Sem dúvida, muitos de
nossa “linhagem” anarquista ficariam desapontados por esta tendência em
solidificar algo que deveria estar sempre fluindo. Os primeiros que se
identificaram como anarquistas (Proudhon, Bakunin, Berkman, Goldman,
Malatesta e outros) respondiam a seus contextos específicos com suas
próprias motivações e desejos específicos. Muito frequentemente, os
anarquistas contemporâneos vêem estas pessoas como representantes e
fundadores da anarquia, e criam uma atitude do tipo "o que Bakunin faria" (ou
melhor, "pensaria") a respeito da anarquia, o que é trágico e potencialmente
perigoso. Hoje, os que se identificam como anarquistas "clássicos" se recusam
a aceitar qualquer realização em um território desconhecido dentro do
anarquismo (ex.: primitivismo, pós-esquerdismo, etc.) ou tendências que têm
estado frequentemente em desacordo com a aproximação com o movimento
de massa dos trabalhadores (ex.: Individualismo, Niilismo, etc.). Estes
anarquistas rígidos, dogmáticos e extremamente não-criativos foram muito
longe em declarar que o anarquismo é uma metodologia social/econômica de
organizar as classes trabalhadoras. Isso é obviamente um extremo absurdo,
mas tais tendências podem ser vistas nas idéias e projetos de muitos anarco-
esquerdistas contemporâneos (anarco-sindicalistas, anarco-comunistas,
plataformistas, federacionistas, etc.).
O que é Primitivismo?
O que é Civilização?
Um outro aspecto de que como nós vemos e relacionamos com o mundo que
pode ser problemático, no sentido de que somos separados de uma interação
direta com o mundo, é a nossa mudança em direção à uma quase que
exclusiva cultura simbólica. Muitas vezes a resposta a esse questionamento é
"Então vocês só querem reclamar?" o que talvez seja a intenção de alguns,
mas essa crítica é um olhar para os problemas inerentes com uma forma de
comunicação e compreensão que confia primordialmente no pensamento
simbólico ao custo (e exclusão) de outros meios sensuais e não mediados. A
ênfase no simbólico é um movimento da experiência direta para a experiência
mediada, na forma de linguagem, arte, número, tempo etc. A cultura simbólica
filtra toda a nossa percepção através de símbolos formais e informais. Está
além de simplesmente dar nome as coisas, mas ter uma relação inteira com o
mundo que é visto através das lentes da representação. É questionável se os
seres humanos são como “peças” do pensamento simbólico, ou se esse
pensamento se desenvolveu como uma mudança ou adaptação cultural, mas o
modo simbólico de expressão e compreensão é certamente limitado, e sua
dependência leva à objetivação, alienação e a uma cegueira da percepção.
Muitos anarquistas verdes promovem e praticam a aproximação e a
reanimação de métodos dormentes e inutilizados de interação e percepção,
como o toque, olfato, e telepatia, bem como desenvolver métodos únicos e
pessoais de compreensão e expressão.
A Domesticação da Vida
A domesticação não somente muda a ecologia de uma ordem livre para uma
ordem totalitária, como escraviza as espécies que são domesticadas. De modo
geral, quanto mais um ambiente é controlado, menos sustentável ele se torna.
A própria domesticação humana envolve vários tipos de posses e controles, em
comparação com o modo de vida nômade e coletor. Não é de se esperar que
muitas alterações feitas de uma vida nômade-coletora para vida domesticada
não foram feitas de forma autônoma, mas foram feitas através da lâmina da
espada e da mira das armas. Considerando que somente há 2.000 anos atrás
a maior parte da população do mundo era composta de coletores-caçadores,
agora não chega 0.01%. O caminho da domesticação é uma força colonizadora
que tem trazido uma grande quantidade de patologias para as populações
dominadas e para os criadores dessa prática. Vários exemplos incluem um
declínio na saúde nutricional devido ao uso de dietas não diversificadas, cerca
de 40 a 60 tipos de doenças foram integradas nas populações humanas
através de animais domesticados (como a influenza, gripe comum, tuberculose
e a gripe aviária), o aumento dos excedentes que poderiam ser usados para
alimentar a população desequilibrada, o que invariavelmente envolve a
propriedade e o fim da divisão incondicional.
A ciência não pára em nos colocar em um mundo de sonhos – ela vai além, e
faz desse mundo de sonhos o nosso pesadelo, onde seus conteúdos são
selecionados para a serem previsíveis, controláveis e uniformes. Toda a
surpresa , tudo relativo aos nossos sentidos são reprimidos. Por causa da
ciência, os estados de consciência que não podem ser seguramente
determinados são classificados como insanos, ou, na melhor das hipóteses,
“incomuns”, e excluídos. Experiências anormais, idéias anormais, e pessoas
anormais são rejeitadas ou destruídas como se fossem componentes
defeituosos de uma máquina. A ciência é somente uma manifestação, que está
presa a uma ânsia por um controle que nós temos desde que começamos a
cultivar terras e cercar animais ao invés de explorarmos o mais imprevisível
(mas mais abundante) mundo da realidade, ou “natureza”. E a partir daí, essa
ânsia conduziu cada decisão, do que se diz “progresso”, até e incluindo a
reestruturação genética da vida.
O Problema da Tecnologia
Todos os anarquistas verdes de alguma forma questionam a tecnologia.
Enquanto há aqueles que ainda propõem noções de tecnologias "verdes" ou
"apropriadas" e buscam análises racionais para se apegarem por formas de
domesticação, muitos rejeitam completamente a tecnologia. A tecnologia é
muito mais do que fios, silicone, plásticos e aço. Ela é um sistema complexo
que envolve divisão de trabalho, extração de recursos, e a exploração dos
outros para benefício daqueles que executaram seu processo. A interface e o
resultado da tecnologia sempre é uma realidade alienada, mediada e
distorcida. Apesar do que dizem os apologistas pós-modernos e outros
tecnófilos, a tecnologia não é neutra. Os valores e objetivos daqueles que
produzem e controlam a tecnologia estão sempre embutidos nela.
Produção e Industrialismo
Além do Esquerdismo
Influências e Solidariedade