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Uribam Xavier1
A maioria das pessoas do planeta está excluída dos meios de existência, ou seja, elas
têm uma vida precária e ameaçada, elas não têm dinheiro porque não têm trabalho , outras
são submetidas a trabalhos degradantes, ganhando muito pouco e alguns ao trabalho escravo.
Paradoxalmente, globalização ou mundialização da economia, é, no mesmo processo,
produção de exclusão, produção da morte por vários meios, por isso estamos diante de tantos
conflitos, guerras, racismo, violência, pobreza e cadeias cheias de jovens pobres e pretos, na
sua grande maioria. E se temos pobreza, na realidade empobrecimento, é porque a produção
social de riqueza se concentra em poucas mãos. A revista Forbes, é uma revista estadunidense
de negócios e economia que faz um ranking das pessoas mais ricas do mundo, por meio dela
ficamos sabendo que em 2018, Jeff Bezos, fundador da Amazon, tinha uma fortuna estimada
em 112 bilhões de dólares. Portanto, o quadro de concentração de renda é um processo
escandaloso e nada ético.
No nosso Brasil, diante das duas tragédias criminosas provocadas pela Companhia Vale
do Rio Doce, uma ocorrida na Cidade de Marina, com 19 mortos, e a outra na Cidade de
Brumadinho, com mais de 300 mortos, muitos pensam que a causa foi a ganância dos seus
administradores, como se as causas estivessem apenas ou, em ultima instancia, nos interesses
e ações individuais dos capitalistas. Num olhar mais profundo, podemos identificar que a causa
está naquilo que não aparece de imediato, nas leis do movimento do capital financeiro. São
nas leis do movimento do mercado que encontramos a explicação para ganância dos seus
administradores, nelas encontraremos sua contradição inerente e inseparável, ou seja, que só
existe acumulação de riqueza com produção massiva de pobreza e de violência, não existe
desenvolvimento sustentável. Portanto, ter uma sociedade governada pelas leis do mercado,
ser normatizado pelos interesses do deus mercado, é conviver com a miséria, o
empobrecimento, a guerra e a destruição da maioria da humanidade. É cair na falácia do
É pela compreensão das leis do movimento do capital que podemos entender porque
o sofrimento da humanidade se naturaliza e as pessoas e o Estado são convidados, cada vez
mais, num ato individualista, a darem as costas para o sofrimento da humanidade e para
destruição do planeta. Portanto, não é por falta de Deus em seus corações. Aliás, algumas
igrejas, alguns dos que falam de Deus no mundo atualmente, correm de mãos dadas com o
mercado em busca de dinheiro e poder, elegem parte de seus semelhantes como inimigos,
julgam e condenam em nome de um deus que já não é amor, perdão e acolhimento de todos.
Certas igrejas, aliadas com a lógica do capital, falam de teologia da prosperidade ao mesmo
tempo em que amaldiçoam os povos indígenas, os negros, as mulheres que não se submentem
ao modelo patriarcal e ao machismo, são homofóbicas e defendem a heteronormatividade
para combater uma certa ideologia de gênero. Tudo isso, claro, a partir de uma interpretação
duvidosa e manipulatória da Bíblia, usada para camuflar os interesses reais dos lideres dessas
igrejas, que cada vez mais ocupam lugar na política partidária defendendo a ideologia
conservadora de extrema direita e acumulando patrimônios materiais.
O que perdeu a Vale? Ela perdeu a situação de ocultação de risco para vida das
pessoas, para o meio ambiente e a para a existência da cidade, que propositalmente mantinha
para que o processo de acumulação de riqueza fosse cada vez maior. O que ela perdeu foi
percentuais, números, entre os bilhões que manipula. Seus executivos e seus grandes
acionistas continuaram morados em seus luxuosos bangalôs, em suas mansões, continuarão
enviando seus filhos para passear e estudar na Europa e Estados Unidos, continuarão a usar
seus iates nas praias do caribe e continuaram a ter o apoio do Estado e dos governos, que são
eleitos para fazer a vontade do mercado. O que os executivos da Vale vão fazer é deixar o
tempo passar, esfriar a memória da população e depois subordinar o judiciário para não arcar
com as responsabilidade inerentes aos atentados criminosos provocados contra a população, o
meio ambiente e as cidades de Mariana e Brumadinho. Será mais barato gastar dinheiro
comprado a justiça e mantendo dinheiro em caixa dois para eleger políticos do que fazer os
devidos reparos.