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Gabriel Perissé *
Um fenômeno que chama a atenção dos especialistas em EeP são as conversas paralelas,
entrecruzadas e simultâneas numa sala de aula presencial, o que permite a manifestação
de uma incrível pluralidade de opiniões sobre os mais diversos temas. O que parece, à
primeira vista, ser a reprodução moderna da Torre de Babel, analisada com atenção revela-
se um retrato vivo da nossa condição de seres loquentes.
Improvisar é humano
Como as aulas de EeP não foram gravadas anteriormente, todos os alunos terão acesso à
capacidade de improvisação dos professores e de seus colegas. A ausência de roteiros
rígidos e o fato de todas as cenas reais acontecerem segundo a lógica de um sofisticado
sistema real-time, predomina a sensação de que cada minuto é precioso: sua riqueza está
enraizada na criatividade de cada pessoa envolvida.
Na improvisação, o mestre pode vincular as ideias que surgirem naquele momento a outras
que, de modo geral, encontram-se arquivadas em sua memória (falível e limitada). O que
poderia ser visto como precariedade possui uma força de convencimento inusitada. A
espontaneidade só pode ser adquirida depois de longa experiência.
Dizia um escritor (cujo nome esqueci...) que é preciso treinar muito para chegar à maestria
da improvisação. Improvisar é humano. O improviso, que é por definição o não previsto,
tem o condão de maravilhar ouvintes. Ficamos impressionados com alguém que, expondo
o que sabe, sabe também reconhecer o muito que não sabe. Aulas perfeitas só existem no
cinema...
Uma espertíssima onça ficou sabendo que o gato estava ministrando um curso sobre pulos.
A ementa era maravilhosa. Diversos tipos de pulos seriam ensinados ao longo de dez aulas
particulares. O discípulo iria aprender todos os pulos necessários para sobreviver na selva.
O gato, conhecido por suas sete vidas de experiência, tinha um currículo invejável, além de
ser um felino adorado por muitos povos desde o tempo dos egípcios.
Durante dez intensas aulas, teóricas e práticas, a onça pulou de tudo quanto foi jeito. O
gato era um professor severo, mas não cruel. Toda vez que a onça se atrapalhava, o gato,
com paciência inigualável, mostrava o quanto era possível ganhar em agilidade e eficácia.
Finalmente, na última aula, o gato deu por encerrado o curso. Na breve cerimônia de
formatura, disse ele à aluna:
— Muito bem, dona Onça, a senhora concluiu o curso com nota máxima! Aqui está o seu
diploma!
— Quanta emoção, professor! Mas, me diga uma coisinha: o senhor realmente me ensinou
todos os pulos?
— Todos, dona Onça! A senhora pode considerar-se já uma expert em pulos. Não haverá,
em todo reino animal, onça com maior habilidade para executar os mais primorosos pulos!
E tão logo recebeu das mãos do gato o seu diploma, a onça investiu contra o professor,
com a evidente intenção de devorá-lo!
A onça deu com os burros n’água! Pálida, gaguejante, perguntou então ao mestre gato:
— Como? Como foi? Mas... mas este salto o senhor não me ensinou?
— Pois é, dona Onça! Este eu não ensinei, porque este é exatamente o pulo do gato!
O pulo do aluno
As redes sociais que se criam entre os alunos permitem que, para além da sala de aula, e
para além do período em que transcorre o seu curso, continuem eles em contato, inclusive
virtualmente, graças aos recursos da mais avançada tecnologia.
O que faz da EeP uma ocasião insubstituível de aprendizado é que possamos assistir, no
calor da hora docente, aquele momento em que os professores nos deixam aprender com
total liberdade. Quando a performance de um professor, ao vivo e em cores, entusiasma os
alunos, a EeP demonstra todo o seu grande potencial.
Há e haverá sempre uma distância entre quem ensina e quem aprende.