Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Apoio
Capa Seções Colunistas Blogs Anuários Anuncie Apoio Cultural
OPINIÃO
A BBC define bem: “[P]rofessor de filosofia sem jamais ter concluído um curso
universitário e adepto da teoria de que a ‘a entidade chamada Inquisição é
uma invenção ficcional de protestantes’, Carvalho acumula desafetos com a LEIA TAMBÉM
mesma intensidade com que é defendido por seus admiradores”. SENSO INCOMUM
O motim hermenêutico e os mitos do
Ame-o ou ridicularize-o, é impossível ignorá-lo: sua influência sobre os
"bom" e do "mau" ativismo
atuais rumos da política nacional é inegável. “Fez” dois ministros e gente do
segundo escalão do governo Bolsonaro. DIÁRIO DE CLASSE
Algumas outras considerações sobre
Vejamos: Filipe Martins, assessor internacional de Bolsonaro — para quem o Direito e as fake news
“[o] feminismo é só um instrumento de poder de esquerda” —, é seu fã
declarado. DIÁRIO DE CLASSE
Eleições e(m) diálogo: travessia entre
Ernesto Araújo, novo chanceler — para quem o filósofo austríaco Ludwig o autoritarismo e a democracia
Wittgenstein seria um precursor das teorias desconstrucionistas pós-
modernas —, diz que a “providência divina” uniu as ideias de Olavo de DIÁRIO DE CLASSE
Carvalho ao patriotismo de Jair Bolsonaro. É preciso enfrentar as dificuldades no
debate jurídico
Ricardo Vélez Rodríguez, novo ministro da Educação — para quem os
DIÁRIO DE CLASSE
brasileiros têm sofrido, por meio do MEC, uma “doutrinação de índole
Faz sentido divergir sobre questões
cientificista e enquistada na ideologia marxista” —, foi indicação direta de
(jurídicas) controversas?
Carvalho.
DIÁRIO DE CLASSE
Não pretendemos, aqui, afirmar uma falsa neutralidade. Não vemos o
Qual é (e qual deve ser) o papel da
feminismo como um instrumento de poder da esquerda, além de parecer-
Teoria do Direito?
nos bizarro alguém dizer que Wittgenstein é um pós-moderno avant la
lettre. Também não acreditamos que o MEC seja um órgão de doutrinação
marxista de “índole cientificista” (?). Seja como for, não é disso que se trata.
https://www.conjur.com.br/2019-jan-13/opiniao-olavo-carvalho-faz-leitura-absolutamente-errada-dworkin 1/7
13/01/2019 ConJur - Opinião: Olavo de Carvalho faz leitura errada de Dworkin
Somos críticos ferrenhos do ativismo judicial e, por isso, tal “aula” nos diz
respeito. Haveria em Olavo um aliado? Porém, ao colocar a culpa na conta
de Dworkin, logo vimos que algum jurista mal informado havia informado
mal a Olavo, um não jurista. Ao que parece, se Olavo estudou Dworkin,
assim o fez lendo alguns autores brasileiros que cometem erros muito
parecidos ao que vamos relatar.
https://www.conjur.com.br/2019-jan-13/opiniao-olavo-carvalho-faz-leitura-absolutamente-errada-dworkin 2/7
13/01/2019 ConJur - Opinião: Olavo de Carvalho faz leitura errada de Dworkin
Segundo Olavo, Dworkin diz que a Suprema Corte assim decidiu com base
na ideia segundo a qual “a existência de um deus pessoal não pode, por si
própria, fazer diferença à verdade de valores religiosos”[1].
“É assim que ele justifica a sentença da Suprema Corte”, diz Olavo, que segue
dizendo que Dworkin “vira o negócio de cabeça pra baixo”.
O problema é que Dworkin jamais disse ter sido essa a razão de decidir da
corte. Não é isso que ele fala no livro. Dworkin afirma, sim, que o valor é
independente e anterior à existência de Deus; mas esse é um argumento
dele, e ele não o atribui em nenhum momento à Suprema Corte. Os trechos
estão separados por 20 páginas. O que Olavo diz é, simplesmente, falso.
Quem “vira o negócio de cabeça pra baixo” não é Dworkin.
Olavo diz que, para Dworkin, “o fato de a Suprema Corte ter reconhecido o
valor da religiosidade ateística tem valor cognitivo” (?) e que “ela afirma que
há valores iguais ou superiores aos da religião”.
“Mas ela nunca disse isso”, diz Olavo. É verdade. Mas Dworkin também não.
Dworkin nunca disse isso, muito menos atribuiu a afirmação à Suprema
Corte.
Olavo diz que, para Dworkin, “a função fundamental do juiz não é aplicar a
lei, mas interpretá-la”. Com expressão de deboche, Olavo diz que “um texto
só requer interpretação se ele não tem um sentido óbvio imediato”. Para ele,
quando a lei não é “ambígua” ou “obscura”, só aí o juiz teria de interpretar.
https://www.conjur.com.br/2019-jan-13/opiniao-olavo-carvalho-faz-leitura-absolutamente-errada-dworkin 3/7
13/01/2019 ConJur - Opinião: Olavo de Carvalho faz leitura errada de Dworkin
É o que parece fazer Olavo, que diz que, “se tudo requer interpretação, nada
tem sentido em si mesmo”; e, se for assim, “você pode entender o que quiser”.
É por essa razão que, sobre Dworkin, Olavo diz o seguinte:
“Não sei em que sentido Foucault e Derrida influenciaram esse cara, mas
parece a mesma coisa”.
Ou seja, isso pode ser tudo, menos Dworkin. Se há algo que perpassa toda
sua obra, todos seus escritos, é precisamente a ideia de objetividade e
verdade na interpretação; a ideia de uma resposta correta (é possível ver
aqui e aqui, e em qualquer índice sistemático de qualquer um de seus livros).
Mais: autores do CLS, escola jurídica crítica norte-americana — essa, sim,
influenciada por Foucault e Derrida —, foram adversários ferrenhos da
teoria dworkiniana.
Vamos lá.
Segundo: Olavo diz que, para o positivismo, “só existe aquilo que está na lei
escrita”. Falso. Derivar de “direito positivo” a ideia de que o positivismo só
reconhece a “lei escrita” é ignorar (i) que, desde Austin, no século XIX, o
direito judiciário era considerado legítimo; (ii) que, desde Hart, o direito
consuetudinário é direito válido e não pressupõe, necessariamente, o
reconhecimento judicial para que seja considerado efetivamente jurídico;
(iii) que há positivistas contemporâneos que reconhecem a validade jurídica
de padrões outros que ultrapassam a “lei escrita”.
https://www.conjur.com.br/2019-jan-13/opiniao-olavo-carvalho-faz-leitura-absolutamente-errada-dworkin 4/7
13/01/2019 ConJur - Opinião: Olavo de Carvalho faz leitura errada de Dworkin
Quarto: ao início de sua obra, Dworkin fazia uma distinção estrutural entre
regras e princípios. Contudo, (i) isso não está em Law’s Empire, mas em
Taking Rights Seriously; (ii) Dworkin nunca disse que, “acima da lei, existem
os princípios”; os princípios seriam padrões que, ao lado das regras,
compõem um sistema jurídico. Finalmente, (iii) a distinção
regras/princípios, em dois sistemas, é abandonada pelo próprio Dworkin, em
uma visão já antecipada em Justice em Robes e articulada mais claramente
em Justice for Hedgehogs.
4. Considerações finais
A “aula” de Olavo de Carvalho parte de dois truísmos: (i) a esquerda quer
tomar o poder por meio do ativismo judicial no STF e (ii) Ronald Dworkin é o
teórico que dá sustentação aos ministros do Supremo. Olavo, contudo, não
esclarece os fundamentos de sua alegação principal, ignora que o ativismo
judicial não é necessariamente de esquerda, nem diz de onde tirou a ideia
de que Dworkin é o “guru do STF”.
Carvalho passa o primeiro terço de sua aula falando sobre como derrotou o
“gramscismo” da esquerda brasileira. No segundo, fala sobre Religion
without God, um livro no qual Dworkin não aborda diretamente seu
pensamento jurídico; em meio a isso, recorta parágrafos da obra de forma a
atribuir ao autor argumentos que não estão lá.
https://www.conjur.com.br/2019-jan-13/opiniao-olavo-carvalho-faz-leitura-absolutamente-errada-dworkin 5/7
13/01/2019 ConJur - Opinião: Olavo de Carvalho faz leitura errada de Dworkin
Gilberto Morbach é mestrando em Direito Público pela Universidade do Vale do Rio dos
Sinos (Unisinos), bacharel em Direito pela Universidade Feevale, membro do Dasein –
Núcleo de Estudos Hermenêuticos e da Associação Brasileira de Direito Processual
(ABDPro).
COMENTÁRIOS DE LEITORES
3 comentários
ERRATA
Kurtz (Outros)
13 de janeiro de 2019, 18h55
Escrevem os colunistas:
"Subscrever à (sic) concepção de Dworkin é tão legítimo quanto rejeitá-la, desde que seja
pelo que ela realmente é, e pelas características que tanto ela quanto seu contexto
realmente apresentam."
Antes de ir à questão material, urge, para manter o debate nos padrões gramaticais mais
elevados, apontar que o verbo subscrever é transitivo direito, ou seja, não exige
preposição, sendo equivocada o uso da crase na frase destacada (vide sobre isso a
gramática luso-brasileiro de Celso Cunha).
Na parte do conteúdo, será que o colunista leva Dworkin pelo que ele é?
O colunista Streck tem um bordão, um estereótipo, ou segundo ele mesmo, uma lei (sic)
conforme a qual quem separa o direito da moral é o direito. E Dworkin o que pensava
sobre a relação direito e moral?
Ao definir princípio, assinala Dworkin: "Denomino ‘princípio’ um padrão que deve ser
obedecido, não porque vá promover ou assegurar uma situação econômica, política ou
social desejável, mas porque é uma exigência de justiça ou equidade ou alguma outra
dimensão da moralidade”
Marcelo Neves afirma que: " no contexto da teoria de Dworkin, não cabe falar de
fronteira clara entre direito e moral, pois a noção de princípios serve, a rigor, para
enfraquecer ou mesmo diluir essa fronteira" (Entre Hidra e Hercules, 2014, p. 55).
Ou seja, Olavo não ficou só. Eles tem seus aliados em suas leituras.
DEMOCRACIA
O IDEÓLOGO (Outros)
13 de janeiro de 2019, 9h01
Na Democracia cada um tem a sua concepção sobre os mais diversos assuntos. Olavo de
Carvalho não é exceção.
https://www.conjur.com.br/2019-jan-13/opiniao-olavo-carvalho-faz-leitura-absolutamente-errada-dworkin 6/7
13/01/2019 ConJur - Opinião: Olavo de Carvalho faz leitura errada de Dworkin
Mas, o artigo efetua a "desconstrução" do pensamento do "filósofo de algibeira",
campineiro convicto e branco por ausência de opção.
ÁREAS DO DIREITO
Administrativo Ambiental Comercial Consumidor Criminal Eleitoral Empresarial Família Financeiro Imprensa Internacional
Leis Previdência Propriedade Intelectual Responsabilidade Civil Tecnologia Trabalhista Tributário
COMUNIDADES
Advocacia Escritórios Judiciário Ministério Público Polícia Política
Consultor Jurídico
ISSN 1809-2829 www.conjur.com.br Política de uso Reprodução de notícias
https://www.conjur.com.br/2019-jan-13/opiniao-olavo-carvalho-faz-leitura-absolutamente-errada-dworkin 7/7