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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA


Comarca de Salvador
8ª Vara da Fazenda Pública
Fórum Ruy Barbosa, sala 301, Praça D.Pedro II s/n, Largo do
Campo da Pólvora, Nazare - CEP 40040-380, Fone: 3320-6504,
Salvador-BA - E-mail: vrg@tjba.jus.br
vrg@tjba.jus.br

DECISÃO INTERLOCUTÓRIA

Processo nº: 0576901-41.2017.8.05.0001


Classe Assunto: Procedimento Comum - Anulação
Autor: OI MOVEL S/A
Réu: 'Estado da Bahia

Se impresso, para conferência acesse o site http://esaj.tjba.jus.br/esaj, informe o processo 0576901-41.2017.8.05.0001 e o código 401009B.
Vistos, etc.
Trata-se de ação ordinária com pedido de tutela de urgência
promovida pela parte autora, de nome em epígrafe, em face do Estado da Bahia ao
fundamento de que foi autuada pela Superintendência de Proteção e Defesa do
Consumidor por meio do Auto de Infração nº 6.164. A parte autora demonstra que
apresentou defesa ao Procedimento Administrativo que foi julgada improcedente, sendo
proferida uma decisão sancionatória aplicando multa à autora no importe de R$
1.104.000,00. Afirma, ainda, que interpôs recurso administrativo, ao qual fora negado o

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provimento, sendo mantidas as exigências do Auto de Infração. A autora alega que é
cabível o controle jurisdicional no caso referido e que não invasão, no caso de censura, do
mérito do ato administrativo. Fundamenta o pedido no art. 151, V do CTN. Por fim, foi
pedido tutela de urgência para que seja suspensa a exigibilidade da multa administartiva
que lhe fora aplicada, assim como impedir que ela seja usada para a inscrição do autor
em cadastrados negativos, com acesso a certidões negativas.
DECIDO.
Consoante o documento de fl. 69 a autora foi autuada regularmente
pelo PROCON do descumprimento das determinações do Decreto nº 2181/97 e LF
8.078/90.
Ora, os atos administrativos gozam de presunção de legitimidade, de
modo que a alegação do autor de que ele não descumpriu o que o auto de infração diz
que ele fez é algo demasiadamente frágil para que se possa deduzir que o ato
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administrativo sancionador encontra-se maculado por vício.


Deve ser mencionado, ainda, que o auto em questão apresenta-se,
em um exame superficial, válido, eis que fora produzido por autoridade competente, está
amparado em lei que é mencionada no documento, possui forma regular e foi dada a
publicidade adequada do mesmo ao notificado.
Não custa esclarecer que apesar da autora negar que descumpriu as
determinações legais do serviço que presta, não se pode reputar nulo o ato administrativo
por falta de motivo, ou seja, por falta de ato jurídico empreendido no mundo dos fatos

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que possa ter sido destacado como antecedente lógico, pela autoridade administrativa,
para a desencadear a relação jurídica sancionatória que está sendo aqui questionada.
Por outro lado, verifica-se que fora aplicada ao demandante uma
penalidade administrativa no importe de mais de um milhão de Reais que, segundo indica
a referida parte, é excessiva.
Dispõe o art. 57, caput do CDC que:

A pena de multa, graduada de acordo com a gravidade da infração, a


vantagem auferida e a condição econômica do fornecedor, será aplicada
mediante procedimento administrativo [...].

O parágrafo único do mesmo dispositivo estabelece que a multa será


em montante nunca inferior a duzentas e não superior a três milhões de vezes o valor da
Unidade Fiscal de Referência (UFIR), ou índice equivalente que venha substituí-lo.

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O Decreto Presidencial 2.181/97 estabelece, em seu artigo 28:

Observado o disposto no art. 24 deste Decreto pela autoridade


competente, a pena de multa será fixada considerando-se a gravidade da
prática infrativa, a extensão do dano causado aos consumidores, a
vantagem auferida com o ato infrativo e a condição econômica do infrator
respeitados os parâmetros estabelecidos no parágrafo único do art. 57 da
Lei nº 8.078, de 1990.

A decisão proferida no procedimento administrativo (fl. 222/231)


que confirmou a decisão administrativa punitiva descreve o fato ilícito, o direito violado,
indica o dispositivo do CDC afrontado porém nada disse quanto ao valor da multa, e onde
é que se achou texto de lei para sustentar o arbitramento feito pela autoridade
administrativa inferior.
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A decisão de piso, por sua vez (fls. 150/158), também é bastante


minuciosa em descrever o fato ilícito porém não justifica, de maneira adequada, o motivo
pelo qual a multa foi arbitrada em montante superior ao que permite o ordenamento
pátrio.
Isso porquê o texto do artigo 57 é claro ao asserir que a autoridade
administrativa, ao fixar a multa, deve graduá-la “de acordo com a gravidade da infração,
a vantagem auferida e a condição econômica do fornecedor”.
A vantagem aferida não foi demonstrada na decisão administrativa.

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No corpo desta decisão tampouco consta qualquer referência ao
suposto dano, efetivo ou presumido, provocado pela infração ao direito consumerista.
Sobre a possibilidade do Poder Judiciário aferir o mérito do ato
administrativo, é importante mencionar a conclusão a que chega Edimur Ferreira de Faria
na obra Controle do Mérito do Ato Administrativo pelo Poder Judiciário:

[...] o Poder Judiciário está legitimado a examinar a conveniência e a


oportunidade do ato decorrente do poder discricionário, com a finalidade
de verificar-lhe o acerto ou o desacerto.
A discricionariedade é poder conferido ao agente público para atuar, na
ocorrência de fato, nos estritos limites da lei. Por isso, do feixe de
alternativas apresentadas na situação fática, apenas uma satisfaz a
vontade da lei. O entendimento doutrinário e jurisprudencial de que o
poder discricionário oferece ao administrador um leque de opções para
que ele, ante ao caso concreto, adote a solução que julgar mais
conveniente está, há muito, superado. (fl. 273)

O Judiciário tem missão de dissolver conflitos, por força do disposto


no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal e para isso não pode se furtar a cumprir a sua

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missão constitucional, nem mesmo onde haja discricionariedade administrativa.
Se no caso concreto a autoridade administrativa não conseguiu
evidenciar grave lesão pecuniária aos consumidores, e se não havia reiteração na infração
ou outro motivo que pudesse justificar o arbitramento da multa acima do mínimo, então
qualquer outro parâmetro é nulo.
O piso referido no CDC para a multa administrativa é de 200 UFIRs.
O último valor fixado para a UFIR, antes de ser extinta pela MP 1.973-67, art. 29, §3º,
era de R$ 1,0641, o que totaliza R$ 212,82. Ora, ainda que se levasse em conta a
necessidade de atualizar essa soma, em virtude da depreciação da moeda, desde 2001,
ainda assim verifica-se que o valor fixado como pena pela Administração foi muito
superior ao piso mínimo.
Ora, como se vê, a imposição de uma multa por descumprimento
das normais gerais sobre o SAC, de uma empresa que nunca fora autuada antes, por esse
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fato, e que não pesa contra si qualquer circunstância agravante, não poderia ser feita nos
moldes aqui ponderados.
Pelo exposto verifica-se que o valor arbitrado pela autoridade
administrativa a título de multa aparentemente não se coaduna com o dever de
fundamentação razoável da mesma, ou com parâmetros legais máximos de seu
arbitramento, de modo que acolho o pedido de tutela de urgência para impedir que sejam
praticados atos de cobrança pela Ré em face da autora, suspendendo-se a exigibilidade
do débito, para o que determino que o demandante promova o depósito judicial no

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importe de R$ 1.000,00, em 5 dias. Além disso, determino que a parte ré não constitua
impedimentos à expedição de Certidão Positiva de Débitos Fiscais com Efeitos de
Negativa em relação à dívida aqui discutida e, ainda, que não seja efetuada a inclusão do
nome do autor nos órgãos ou cadastros de inadimplência enquanto não julgada a
presente ação, também em relação ao débito que está sendo objeto desta ação, apenas.
Cite-se o réu, para que ofereça defesa, em 30 dias, bem como, no
mesmo ato, intime-se-o desta decisão, para que a cumpra, sob pena de arcar com o
pagamento de multa no importe de R$ 200,00 por dia de descumprimento.
Intime-se.
Salvador(BA), 13 de dezembro de 2017.

Mário Soares Caymmi Gomes


Juiz de Direito

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