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Testamento vital e a Eutanasia

Introdução – Neste tema pretendo defender a minha perspectiva relativamente ao testamento


vital no sentido de saber se este põe em causa a vigência da Eutanasia em Portugal, tendo em
conta os Direitos Fundamentais.

Ora, esta questão surge na fase final da nossa vida, em que estando perante uma situação de
doença incurável, quais são as soluções que temos ao nosso dispor ?
Uma vez que apesar do desenvolvimento da medicina são inumeros os casos que ainda nao há
resposta e que a solução passa por manter vivas ou em estado de sobrevivencia, por anos,
pessoas, que antigamente não teriam essa possibilidade.
No entanto, este caminho pode acarretar mais sofrimento tanto fisico como psicologico.
Neste sentido, surge a questão de a pessoa pretender acabar ou evitar o seu sofrimento que
advém da doença, seja por ORTOTANÁSIA no caso de pedir para desligar a máquina em que se
trata de não fazer procedimentos invasivos para prolongar artificialmente a vida, ou pela
administração de um fármico letal, por terceiro, que conceda a seu pedido, ou seja EUTANÁSIA.
Pelo que, á luz do direito constitucional os direitos fundamentais subjacentes a esta
problemática são relativos ao principio da dignidade humana, o direito à vida e o principio da
autonomia privada.
Relativamente aos direitos fundamentais, Gomes Canotilho define estes como os direitos do
homem, jurídico-institucionalmente garantidos e limitados espácio-temporalmente. Os direitos
do homem arrancariam da própria natureza humana e daí o seu carácter inviolável, intemporal
e universal; os direitos fundamentais seriam os direitos objetivamente vigentes numa ordem
jurídica concreta”. Contudo, eles não se dissociam, pois, os direitos fundamentais tratam de
situações jurídicas sem as quais a pessoa humana dificilmente se realiza, convive socialmente
e, por vezes, não consegue sequer sobreviver; e, quando qualificamos os direitos fundamentais
do homem, estes devem entender-se no sentido de que todos, sem exceção e por igual, devem
ser, não apenas formalmente, mas também concreta e materialmente, efetivados.

Quanto ao direito à vida este significa também o direito à sobrevivência, ou seja, direito a viver
com dignidade. O princípio da dignidade da pessoa humana traduz-se no direito a dispor das
condições de subsistência, integrando designadamente o direito ao trabalho, à proteção da
saúde, à habitação, implicando o dever do Estado contribuir para a realização das prestações
existenciais indispensáveis a uma vida minimamente digna (opinião Gomes Canotilho e Vital
Moreira).

Estamos, portanto, perante o momento terminal da vida, numa decisão entre a omissão de
tratamentos escusados ou desproporcionados, ou, por outro lado, a de evitar a morte a todo e
qualquer preço, com sofrimento, estando em causa um conflito de deveres ou de direitos,
estando em causa o valor da dignidade humana que é, aliás, o princípio que fundamenta a
República soberana Portuguesa e do qual decorrem todos os demais direitos fundamentais
(opinião Stella Barbas).

Assim, relativamente á eutanasia esta é uma prática ilegal no regime juridico português,
todavia, não se encontra expressamente previsto na lei, no entanto o nosso Codigo Penal nos
art 134 e 135 pune o auxilio ao suicidio e o homicidio a pedido da vitima. Esta é uma
problemática que colide directamente com o direito á vida e, a falta de regulamentação conduz
à sua prática na forma clandestina. A Holanda e Bélgica são países que permitem a Eutanásia.

O ordenamento português não o permite, no entanto em 2012 foi aprovado um mecanismo em


que se pode tipificar quais os tratamentos a que nos queremos sujeitar aquando dispostos a
uma situação de doença incurável que implique assistência a procedimentos invasivos para
prolongar a vida artificialmente.
Sendo este o Testamento Vital, ou seja, trata-se de um documento juridicamente eficaz, escrito
por uma pessoa dotada das suas capacidades mentais, no qual apresenta limitações quanto à
acção médica. Quando o suscritor se encontre incapaz e não tenha capacidades para se exprimir
quanto à sua vontade. Para tal é necessário requisitos e limites para a validade juridica deste
documento.

Ora, assim sendo, a questão prende-se com a vontade de não querer seguir um tratamento ou
um prolongamento da vida de forma indigna e com sofrimento. O que conduz à morte. Sendo
este aspecto que colide com a Eutanasia e com os direitos fundamentais.

Em resposta ao meu tema, de saber se o testamento vital conduz à prática de Eutanásia, penso
que estes não se confundem. Uma vez que o testamento vital é uma diretiva antecipada de
vontade que surge como expressão máxima da autonomia do indivíduo (Prof. José Gonzaléz),
do qual este pode, de forma prospetiva, estabelecer a sua vontade em termos de cuidados de
saúde, no caso de se encontrar incapaz de expressar a sua vontade pessoal e autonomamente.

Pelo que não se confunde nem se desencadeia um caminho para a Eutanasia ou em prol da
morte, mas sim de opções que podem ser licitamente tomadas para efeitos de testamento vital.
Este é então a expressão máxima da autonomia do individuo e que, assim sendo, consagra “um
direito de escolha (entre ser ou não ser objecto de certa terapia) e não um direito a morrer”

O testamento vital trata-se então de um ato jurídico unilateral e unipessoal, na medida em que
“a produção dos efeitos visados pelo seu autor depende de a vontade a eles se ter dirigido”
Ora sendo uma declaração de vontade de caráter pessoal, nela participa apenas um
interveniente, o seu outorgante, trata-se do exercício de um direito pessoal a respeito de bens
jurídicos como a vida e a integridade física, a vontade real será, em última instância, o ponto
determinante para verificar e justificar a eficácia vinculativa de uma diretiva antecipada de
vontade e, daí derivando, o consequente dever de a cumprir.
Em termos de capacidade, pode outorgar um documento de diretivas antecipadas de vontade
as pessoas que, cumulativamente, preencham os seguintes requisitos: sejam maiores de idade,
não se encontrem interditas ou inabilitadas por anomalia psíquica e, por fim, se encontrem
capazes de dar o seu consentimento consciente, livre e esclarecido(artigo 4º da Lei nº 25/2012).

CAPÍTULO II
Diretivas antecipadas de vontade
Artigo 2.º
Definição e conteúdo do documento
1 - As diretivas antecipadas de vontade, designadamente sob a forma de testamento vital, são
o documento unilateral e livremente revogável a qualquer momento pelo próprio, no qual uma
pessoa maior de idade e capaz, que não se encontre interdita ou inabilitada por anomalia
psíquica, manifesta antecipadamente a sua vontade consciente, livre e esclarecida, no que
concerne aos cuidados de saúde que deseja receber, ou não deseja receber, no caso de, por
qualquer razão, se encontrar incapaz de expressar a sua vontade pessoal e autonomamente.
2 - Podem constar do documento de diretivas antecipadas de vontade as disposições que
expressem a vontade clara e inequívoca do outorgante, nomeadamente:
a) Não ser submetido a tratamento de suporte artificial das funções vitais;
b) Não ser submetido a tratamento fútil, inútil ou desproporcionado no seu quadro clínico e de
acordo com as boas práticas profissionais, nomeadamente no que concerne às medidas de
suporte básico de vida e às medidas de alimentação e hidratação artificiais que apenas visem
retardar o processo natural de morte;
c) Receber os cuidados paliativos adequados ao respeito pelo seu direito a uma intervenção
global no sofrimento determinado por doença grave ou irreversível, em fase avançada,
incluindo uma terapêutica sintomática apropriada;
d) Não ser submetido a tratamentos que se encontrem em fase experimental;
e) Autorizar ou recusar a participação em programas de investigação científica ou ensaios
clínicos

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