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Economia Urbana
Índice
Introdução .................................................................................................................................. 3
As funções do Governo local ...................................................................................................... 4
Provisão de Bens Públicos Locais............................................................................................ 5
Externalidades ........................................................................................................................ 7
A Escolha Pública ........................................................................................................................ 8
Conclusão.................................................................................................................................. 12
Referências Bibliográficas ......................................................................................................... 13
MANUEL PEDRO DOS SANTOS CARDOSO
Introdução
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O PAPEL DOS GOVERNOS LOCAIS NO DESENVOLVIMENTO DOS CENTROS URBANOS
As economias de mercado são por vezes afetadas por falhas de mercado, tais
como monopólios ou externalidades. Este tipo de economias incorre
tendencialmente em acessos de inflação e desemprego. Como podemos observar,
a insuficiente regulação dos mercados conduz à necessidade do Governo assumir
três funções económicas específicas: estabilização, equidade e eficiência. A função
de estabilização passa pelo uso de políticas monetárias e fiscais para controlar o
desemprego e inflação, promovendo o crescimento económico. Para a promoção
da equidade, os programas públicos recorrem a técnicas como a redistribuição dos
rendimentos, através da utilização de impostos e transferências para alterar a
distribuição de rendimentos e de riqueza. Por fim, como terceira função, a afetação
de recursos de forma eficiente, que implica a tomada de decisões sobre o que
produzir e como produzir (Musgrave & Musgrave, 1980; Samuelson & Nordhaus,
1988).
Este modelo tripartido, contudo, não é completamente aplicável à escala local
porque há certas funções que são desempenhadas pelo Estado de forma mais
eficiente (O'Sullivan, 2012).
A função de estabilização foi assumida pelo Estado por duas razões. Primeiro,
porque se cada governo local adotasse uma moeda e uma política monetária
próprias, o sistema seria caótico e impraticável. Em segundo lugar, as políticas
monetárias e fiscais locais seriam relativamente mais fracas e ineficazes, na medida
em que, grande parte dos rendimentos locais são alocados em bens produzidos
externamente. Assim, uma política fiscal é mais eficaz ao nível nacional devido à
relativa pequena fração dos rendimentos nacionais gastos nessas importações. A
função estabilizadora é considerada como competência primordial da esfera central
de governo, em razão dos requisitos necessários à obtenção de eficiência e eficácia
(Silva M. S., 2005).
Considerando agora a função redistribuição, pode observar-se que, no caso
português, a grande mobilidade entre cidades tornaria impraticável a execução de
medidas distributivas. Assim, um governo local que optasse por medidas fiscais
mais penalizantes para os contribuintes detentores de riqueza e/ou com
rendimentos elevados, tendo em vista a redistribuição das receitas para a população
mais desfavorecida, deparar-se-ia com a deslocação dessas famílias com mais
rendimentos para outras cidades com políticas fiscais mais brandas, enquanto
MANUEL PEDRO DOS SANTOS CARDOSO
Importa então refletir sobre a provisão de bens públicos, o que são bens
públicos, como se inserem no contexto dos governos locais, e de que forma a
quantidade dos bens fornecidos afeta a eficiência económica.
Um bem público tem duas características: é irrival e inexcluível. Irrival na
medida em que o benefício que alguém retira do bem não diminui o benefício para
outra pessoa, como acontece em bens como a Defesa Nacional ou a iluminação
pública. Há, contudo, bens que não são puramente irrivais por terem um certo nível
de congestionamento, ou seja, a partir de um número suficiente de utentes, o
benefício que uns retiram do bem diminui o benefício para outros, como acontece
por exemplo com as estradas que ficam congestionadas em horário de ponta
(Stiglitz, 2000). Inexcluível devido à impossibilidade ou impraticabilidade em
excluir o uso a quem não pagar pelo bem. Essa impossibilidade ou
impraticabilidade da exclusão pode dever-se a razões logísticas, de eficiência ou
até de justiça como é o caso de um parque público, no qual seria custoso fechar o
perímetro, instalar cancelas e manter um corpo de segurança, para além do facto
de que vedar o acesso gratuito a um espaço verde público traria consequências ao
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O PAPEL DOS GOVERNOS LOCAIS NO DESENVOLVIMENTO DOS CENTROS URBANOS
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Por vezes, os governos, perante bens excluíveis, ainda que irrivais, optam pela aplicação
de taxas aos utentes de determinados bens ou serviços. As taxas de utilização de um bem
ou serviço são vistas como uma forma equitativa de arrecadar receitas visto que quem usa
mais frequentemente um bem, paga mais na forma de taxas.
MANUEL PEDRO DOS SANTOS CARDOSO
Externalidades
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O PAPEL DOS GOVERNOS LOCAIS NO DESENVOLVIMENTO DOS CENTROS URBANOS
A Escolha Pública
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O PAPEL DOS GOVERNOS LOCAIS NO DESENVOLVIMENTO DOS CENTROS URBANOS
acordo com qualquer alteração, tendo, por isso, poder de veto. É possível que este
sistema de votação esteja sujeito a tantas negociações e atrasos que não se
conseguiria tomar nenhuma decisão nem aprovar nenhuma lei, conduzindo a uma
inalteração do status quo do Estado (Samuelson & Nordhaus, 1988).
Devido aos grandes problemas a que está sujeita a regra da votação unânime,
a maioria dos regimes baseia-se no princípio da regra da maioria. Assim, uma lei é
aprovada quando reúne a seu favor mais de metade dos votantes. Importa refletir
sobre o facto desta modalidade de votação não garantir a melhoria no sentido de
Pareto, uma vez que certas decisões possam favorecer unicamente a maioria,
prejudicando minorias (Samuelson & Nordhaus, 1988). No entanto, através da
tomada de decisões assentes na vontade da maioria evitam-se as supramencionadas
falhas de mercado, na medida em que nunca piorará a situação de todos os eleitores.
Condorcet teceu de forma sistemática reflexões a propósito do princípio da
maioria. Kenneth Arrow, seguindo os passos de Condorcet, caracteriza a regra da
maioria como um processo decisional de natureza cíclica (Pereira, 1997).
Condorcet mostrou que indivíduos racionais que tenham preferências transitivas
sobre três opções (A, B e C) podem não conseguir escolher coletivamente sobre
qual a melhor alternativa, se elas forem votadas sucessivamente aos pares,
utilizando a regra da maioria (Samuelson & Nordhaus, 1988; Pereira, 1997). É
possível que a proposta A ganhe a B e B a C e C a A. A esta intransitividade da
escolha coletiva é dada o nome de “ciclo de votação” e a existência de ciclos
introduz a possibilidade de manipulação da agenda, ou seja, estabelecer a sequência
de duas votações de forma a que a proposta apoiada pelo manipulador da agenda
saia vencedora.
Arrow chegou à conclusão de que não existe nenhum sistema de votação
baseado no critério da maioria capaz de garantir a eficiência, de respeitar as
preferências individuais e não dependente da ordem pela qual se fazem as votações
(Pereira, 1997). O teorema da im(possibilidade) de Arrow introduziu, desta forma,
grande pessimismo na capacidade de se obterem escolhas coletivas a partir das
preferências de indivíduos sobre propostas alternativas.
Contudo, se as escolhas coletivas são de natureza unidimensional (ex.
montante da despesa pública em educação, ou número máximo de dias em que é
aceitável a interrupção voluntária da gravidez), torna-se possível prever a decisão
que irá resultar da regra da maioria, isto quando as preferências dos sujeitos têm
uma configuração normal (de acordo com a Curva Normal de Gauss). A proposta
apoiada pelo votante mediano, ou seja, aquele que divide a população de eleitores
em dois grupos de dimensão idêntica, nunca perde (Pereira, 1997).
MANUEL PEDRO DOS SANTOS CARDOSO
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Pela ótica da ciência da administração, Bilhim (2004) refere que os governos locais
podem ser classificados em três tipos: o modelo patrocinador, o modelo de crescimento
económico e o modelo de Estado-Providência. No modelo patrocinador (Sul Europeu), os
eleitos locais fazem uso das suas já estabelecidas “máquinas” para realizar trocas entre estes
e os seus eleitores. Assim, distribuem certos favores aos seus apoiantes, tais como empregos
ou outros benefícios e como retorno recebem destes apoiantes os seus votos. No modelo de
crescimento económico (América do Norte) é identificada como principal tarefa da
administração local para os governos locais a promoção do crescimento da riqueza nos
locais onde se encontram. Já no modelo Estado-Providência (Europa do Norte), cabe aos
governos locais o fornecimento de um vasto leque de bens públicos neste âmbito e ainda o
controlo do ordenamento do território. Esta classificação não é rígida, pelo que o modo em
que um governo local opera pode ter características de cada um dos modelos. No caso
português, Bilhim (2004) sugere que os governos locais operam em primeiro lugar como o
modelo patrocinador, em segundo lugar como o modelo de Estado-Providência e em
terceiro lugar sem características ainda, mas a caminho de um modelo de crescimento
económico.
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O PAPEL DOS GOVERNOS LOCAIS NO DESENVOLVIMENTO DOS CENTROS URBANOS
Conclusão
Referências Bibliográficas
Bilhim, J. (2004). A Governação Nas Autarquias Locais. Porto: SPI - Sociedade
Portuguesa de Inovação.
Borges, A. (2001). Democracia Vs. Eficiência: A Teoria da Escolha Pública. Lua Nova
nº53, pp. 159-179.
Downs, A. (1957). An Economic Theory of Democracy. New York: Harper and Row.
Musgrave, R. A., & Musgrave, P. B. (1980). Public Finance in Theory and Practice.
New York: McGraw-Hill.
Schumpeter, J. A. (1943). Capitalism, Socialism & Democracy. New York: Harper and
Row.
Stiglitz, J. E. (2000). Economics of the Public Sector. New York: W. W. Norton &
Company.
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