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Análise Matemática I-C

2007/2008
Exercícios resolvidos

1 Noções Topológicas

x2 − 4x + 3
1. Considere a função f , real de variável real, definida por f (x) = e seja A o
log(x + 2)
seu domínio. Considere o seguinte subconjunto de R:

B = {x ∈ R : |x − 1| < 3}.

(a) Apresentando todos os cálculos, escreva A e B na forma de intervalo ou união de


intervalos.
(b) Determine o conjunto dos pontos interiores e o derivado de B, e a fronteira de A ∩ B.

Resolução

(a) O domínio da função f , real de variável real, é definido por

A = x ∈ R : x2 − 4x + 3 ≥ 0 ∧ log(x + 2) 6= 0 ∧ x + 2 > 0 .
 

Para escrevermos o conjunto A na forma de intervalo ou união de intervalos temos


que escrever cada uma das condições presentes na definição do conjunto A na forma
de intervalo(s) de números reais e, após isso, intersectar os conjuntos obtidos.
Quanto à primeira desigualdade, começamos por notar que o gráfico da função qua-
drática g(x) = x2 − 4x + 3 é uma parábola com a concavidade voltada para cima
(porque o coeficiente de x2 é positivo), e com dois zeros que podemos obter resol-
vendo a equação g(x) = 0. Logo, aplicando a fórmula resolvente, obtemos
√ √
2 4 ± 16 − 4 × 3 4± 4 4±2
x − 4x + 3 = 0 ⇔ x = = = ⇔ x = 3 ∨ x = 1.
2 2 2
Assim, a desigualdade x2 − 4x + 3 ≥ 0 é satisfeita sempre que x ∈] − ∞, 1] ∪ [3, +∞[.
Quanto à segunda condição, basta notar que

log(x + 2) 6= 0 ∧ x + 2 > 0 ⇔ x + 2 6= 1 ∧ x > −2 ⇔ x 6= −1 ∧ x > −2.

Logo, esta condição é satisfeita para todo o x pertencente a ] − 2, −1[∪] − 1, +∞[.


Intersectando os subconjuntos de R acima obtidos, concluímos que

A =] − 2, −1[∪] − 1, 1] ∪ [3, +∞[.

1
Para escrevermos o conjunto B na forma de intervalo ou união de intervalos temos
de resolver a desigualdade |x − 1| < 3. Para isso, notamos que

|x − 1| < 3 ⇔ −3 < x − 1 < 3 ⇔ −2 < x < 4.

Logo, B =] − 2, 4[.
(b) O conjunto dos pontos interiores de B é int(B) =] − 2, 4[= B.
Por definição, o derivado de B é o conjunto dos pontos de acumulação de B. Assim,
B 0 = [−2, 4].
Calculando a intersecção dos conjuntos A e B, obtemos

A ∩ B =] − 2, −1[∪] − 1, 1] ∪ [3, 4[.

Donde, fr(A ∩ B) = {−2, −1, 1, 3, 4}.

arcsen(2x − 2)
2. Considere a função f real de variável real definida por f (x) = e designe
|x − 1| ex
por D o seu domínio. Considere o subconjunto de R:

A = {x ∈ R : x = (−1)n e−n ∧ n ∈ N}.

(a) Determine, justificando, o derivado e o conjunto dos minorantes de A.


(b) Determine, justificando, a aderência de D e a fronteira de D ∩ (R \ Q).

Resolução

(a) O conjunto A é constituído pelos termos da sucessão un = (−1)n e−n , n ∈ N. Esta


 o ponto x = 0, por ser o produto de um infinitésimo
sucessão é convergente para  por
1
uma sucessão limitada lim = 0 e − 1 ≤ (−1)n ≤ 1, ∀n ∈ N . O conjunto
n→+∞ en
A é constituído apenas por pontos isolados tendo, no entanto, x = 0 como ponto
de acumulação, uma vez que, pela definição de limite de uma sucessão, qualquer
vizinhança de centro em 0 conterá, a partir de certa ordem, todos os termos da
sucessão un . Portanto, A0 = {0}.

Para obter o conjunto dos minorantes de A começemos por notar que a subsuces-
são dos termos de ordem par, u2n = e−2n , n ∈ N, é monótona decrescente, e que
0 < u2n ≤ e12 , ∀n ∈ N. Por outro lado, a subsucessão dos termos de ordem ím-
par, u2n−1 = −e1−2n , n ∈ N, é monótona crescente e satisfaz as desigualdades
− 1e ≤ u2n−1 < 0, ∀n ∈ N. Sendo assim, como a união dos conjuntos dos termos
destas duas subsucessões é o conjunto dos termos da sucessão un , então todos os
termos da sucessão un (i.e., todos os elementos de A) são superiores ou iguais ao pri-
meiro termo, u1 . Portanto, o conjunto dos minorantes de A é ] − ∞, u1 ] =] − ∞, − 1e ].
(b) Começemos por escrever o domínio D de f , dado por

D = {x ∈ R : −1 ≤ 2x − 2 ≤ 1 ∧ |x − 1| ex 6= 0},

2
na forma de uma união de intervalos de números reais. Para isso, escrevemos cada
uma das condições presentes na definição do conjunto D na forma de intervalo(s) de
números reais e, após isso, intersectamos os conjuntos obtidos. Quanto ao primeiro
conjunto de desigualdades, basta ver que
1 3
−1 ≤ 2x − 2 ≤ 1 ⇔ 1 ≤ 2x ≤ 3 ⇔ ≤x≤ ,
2 2
donde −1 ≤ 2x − 2 ≤ 1 se e só se x ∈ 21 , 32 .
 

Quanto à segunda condição, basta notar que

|x − 1| ex = 0 ⇔ |x − 1| = 0 ∨ ex = 0.

Como ex > 0, ∀x ∈ R, e |x − 1| = 0 ⇔ x − 1 = 0 ⇔ x = 1, então x = 1 é solução da


equação |x − 1| ex = 0. Logo, |x − 1| ex 6= 0 se e só se x ∈ R \ {1}.
Intersectando os dois subconjuntos de R acima obtidos, concluímos que
   
1 3
D = , 1 ∪ 1, .
2 2

Logo, int(D) =] 12 , 1[∪]1, 32 [, fr(D) = { 21 , 1, 32 } e consequentemente, pela definição de


aderência, obtemos D = 12 , 32 .
 

Consideremos agora E = D ∩ (R \ Q) (i.e., E é o conjunto dos números irracionais


que pertencem ao conjunto D).
Começemos por notar que qualquer elemento de D é ponto fronteiro a E, dado
que qualquer vizinhança centrada num elemento de D contém números racionais e
números irracionais. Logo, D ⊆ fr(E). Por outro lado, visto que qualquer vizinhança
de centro em 1 contém números racionais e números irracionais, obtemos que x = 1
é também um ponto fronteiro a E, donde concluimos que fr(E) = D ∪ {1} = [ 21 , 32 ].
π
3. Considere a função f , real de variável real, definida por f (x) = + 3 arcsin(2x − 1).
2
Designe por A o seu domínio e por B o seu contradomínio. Considere o subconjunto de
R
C = {x ∈ R : x = earctan(n) ∧ n ∈ N}.

(a) Determine A e B.
(b) Determine o interior de B ∩ Q, o conjunto dos minorantes de C e o derivado de
A ∪ C.

Resolução

(a) O domínio da função f, real de variável real, é o conjunto A definido por

A = {x ∈ R : −1 ≤ 2x − 1 ≤ 1}.

Resolvendo o conjunto de inequações que define A, obtemos

−1 ≤ 2x − 1 ≤ 1 ⇔ 0 ≤ 2x ≤ 2 ⇔ 0 ≤ x ≤ 1.

3
Logo, A = [0, 1].
Para calcular o contradomínio da função f , notemos que é válido o seguinte conjunto
de desigualdadades:

− π2 ≤ arcsin(2x − 1) ≤ π
2

⇔ − 3π
2
≤ 3 arcsin(2x − 1) ≤ 3π
2
π 3π π π 3π
⇔ 2
− 2
≤ 2
+ 3 arcsin(2x − 1) ≤ 2
+ 2
π
⇔ −π ≤ 2
+ 3 arcsin(2x − 1) ≤ 2π.

Logo, B = [−π, 2π].


(b) Dado um qualquer ponto x0 de B, sabe-se que qualquer vizinhança de centro em
x0 conterá números racionais e números irracionais. Logo, não existe qualquer vi-
zinhança de centro em x0 contida em B ∩ Q, isto é, x0 ∈ / int(B ∩ Q). Portanto,
int(B ∩ Q) = ∅.

Os elementos do conjunto C são os termos da sucessão un = earctan(n) , n ∈ N. Uma


vez que ex e arctan(x) são funções reais de variável real estritamente crescentes, a
sucessão un é monótona crescente. Sendo assim, todos os termos de un são maiores ou
π
iguais que o primeiro termo u1 = earctan(1) = e 4 . Portanto, o conjunto dos minorantes
π
de C é ] − ∞, e 4 ].
π π
Uma vez que a sucessão un é convergente para e 2 lim earctan(n) = e 2 , obtemos
n→+∞
π π
que e 2 é um ponto de acumulação do conjunto C. Logo (A ∪ C)0 = [0, 1] ∪ {e 2 }.

4. Considere os subconjuntos de R
 
|x + 1| − 1
A = {x ∈ R : x = arctan(n) ∧ n ∈ N}, B = x∈R: ≤0 .
(x + 1)2

(a) Determine, justificando, o derivado, o conjunto dos minorantes e o conjunto dos


majorantes de A.
(b) Determine, justificando, a fronteira de B e a fronteira de B ∩ Q.

Resolução

(a) Os elementos do conjunto A são os termos da sucessão un = arctan(n), n ∈ N. Uma


vez que a sucessão un é convergente para π2 , pela definição de limite de uma sucessão
concluimos que π2 é um ponto de acumulação do conjunto A. Notando ainda que o
conjunto A é constituído apenas por pontos isolados, obtemos que A0 = { π2 }.

Sendo arctan(x) é uma função real de variável real estritamente crescente, obtemos
que a sucessão un é monótona crescente e, portanto, para todo o número natural
n, verificam-se as desigualdades u1 ≤ un < lim un . Logo, para todo o n ∈ N,
π
4
≤ un < π2 . Concluímos então que o conjunto dos minorantes de A é o intervalo
] − ∞, π4 ] e o conjunto dos majorantes de A é [ π2 , +∞[.

4
(b) Começemos por escrever o conjunto B na forma de uma união de intervalos de
números reais. Para isso, temos que resolver a inequação que define o conjunto B.
|x + 1| − 1
Em primeiro lugar, observemos que o domínio de definição da função h(x) =
(x + 1)2
2
é D = {x ∈ R : (x + 1) 6= 0}.
Da desigualdade (x + 1)2 6= 0 obtemos x 6= −1, donde D = R\{−1}.
Notemos agora que o sinal da inequação (≤) que define o conjunto B, é completa-
mente determinado pelo sinal de |x + 1| − 1 visto que (x + 1)2 ≥ 0, para todo x ∈ R.
Observemos ainda que

|x + 1| − 1 ≤ 0 ⇔ |x + 1| ≤ 1 ⇔ −1 ≤ x + 1 ≤ 1 ⇔ −2 ≤ x ≤ 0,

e que

|x + 1| − 1 = 0 ⇔ |x + 1| = 1 ⇔ x + 1 = −1 ∨ x + 1 = 1 ⇔ x = −2 ∨ x = 0.

A tabela abaixo apresenta toda a informação acerca do sinal das diferentes expres-
sões:
−2 −1 0
|x + 1| − 1 + 0 − − − 0 +
(x + 1)2 + + + 0 + + +
|x + 1| − 1
+ 0 − \\\\\ − 0 +
(x + 1)2
Obtemos então B = [−2, 0]\{−1} e portanto fr(B) = {−2, −1, 0}. Seja x0 um ponto
qualquer de B. Qualquer vizinhança de centro em x0 conterá números racionais e nú-
meros irracionais. Logo, x0 é ponto fronteiro a B ∩ Q. Além disso, também qualquer
vizinhança de centro em −1 conterá números racionais e números irracionais, pelo
que x = −1 é um ponto fronteiro a B ∩Q. Portanto, fr(B ∩Q) = B ∪{−1} = [−2, 0].

arcsin(x2 − 1)
5. Considere a função f real de variável real definida por f (x) = e designe
log(x)
por D o seu domínio. Determine o interior de D e a fronteira de D ∩ Q.
Resolução
O domínio da função f , real de variável real, é o conjunto D definido por

D = x ∈ R : −1 ≤ x2 − 1 ≤ 1 ∧ x > 0 ∧ log(x) 6= 0 .
 

Para calcularmos o interior do conjunto D, começamos por escrever D na forma de uma


união de intervalos de números reais. Para isso, escrevemos cada uma das condições
presentes na definição do conjunto D na forma de intervalo(s) de números reais e, poste-
riormente, intersectamos os conjuntos obtidos.
2 2
Quanto às primeiras desigualdades, devemos observar
2 2
√ que x −√1 ≥ −1 ⇔ x ≥ 0 é uma
condição universal, e que x − 1 ≤ 1 ⇔ x ≤ 2 ⇔ − 2 ≤ x ≤ 2. √ Obtemos
√ então que o
primeiro conjunto de desigualdades é satisfeito para todo x ∈ [− 2, 2].

5
Relativamente à segunda condição, basta ver que

x > 0 ∧ log(x) 6= 0 ⇔ x > 0 ∧ x 6= 1.

Logo, esta condição é satisfeita para todo o x pertencente a R+ \ {1}.


Intersectando
√ os subconjuntos de R acima√obtidos, podemos então concluir que D =
]0, 1[∪]1, 2], e portanto int(D) =]0, 1[∪]1, 2[.
Para calcularmos a fronteira de D ∩ Q devemos começar por observar que todos os pontos
de D são fronteiros a D ∩ Q, uma vez que qualquer vizinhança centrada num ponto de
D conterá números racionais e números irracionais. Logo D ⊆ fr(D ∩ √ Q). Pelas mesmas
razões, 0 e 1 são pontos fronteiros a D ∩ Q. Portanto, fr(D ∩ Q) = [0, 2].

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